HISTÓRIA DO BRASIL Prof. Rodrigo Simão AULA DE HISTÓRIA DO ESPÍRITO SANTO 1ª PARTE – ES COLÔNIA - menosprezo pelo trabalho braçal. - dificuldade na obtenção de escravos e no escoamento da produção. - investimentos insuficientes por parte do donatário e o constante atrito com os silvícolas. O IDEAL DA COLONIZAÇÃO Em 1534 o governo português decide dividir o território brasileiro em capitanias hereditárias e doar os lotes aos nobres portugueses. O lote correspondente ao atual Espírito Santo foi entregue a Vasco Fernandes Coutinho, um importante combatente durante o processo de conquista portuguesa na África e na Ásia. Vasco F. Coutinho acreditou nas possibilidades de adquirir riquezas na nova terra e vendeu suas propriedades, conseguiu empréstimos, um contingente de 60 pessoas e trocou uma pensão por uma caravela chamada “Glória”. Apostou em um sonho de enriquecimento e poder, cruzou o Oceano Atlântico e se estabeleceu no Brasil. 2 - Vasco Luta para Realizar seu Sonho Devido ao conjunto de entraves vivenciados pela capitania do Espírito Santo, Vasco F. Coutinho decide ir à Europa buscar apoio militar e financeiro para dar cabo a seu empreendimento colonizador. Em uma dessas viagens de Vasco à procura de ajuda, a Vila do Espírito Santo é atacada por grupos indígenas que se indignam com os devaneios dos europeus, e aproveitando a saída do donatário promovem uma violência jamais vista. Após a morte em combate de capitães como D. Jorge de Menezes, D. Simão de Castelo Branco e grandes perdas materiais, os colonos decidem dar uma trégua com a “gentilidade”. Depois do ataque, a vila foi abandonada e os sobreviventes fugiram para capitanias vizinhas (como a de Porto Seguro), para o norte da capitania do Espírito Santo, onde colaboraram com povoamentos às margens do rio Cricaré e para a Ilha de Santo Antônio de Duarte de Lemos, local da fundação da Vila de Nossa Senhora da Vitória em 1551. A Vila do Espírito Santo ficaria em grande abandono e passaria a ser chamada de Vila Velha, devido ao nome da nova capital, Vila Nova da Vitória (o nome Vila Nova da Vitória, para alguns historiadores, está ligado a uma provável vitória dos colonos sobre os índios, enquanto outros acreditam em uma postura de exaltação religiosa). 1 - A CHEGADA DE VASCO FERNANDES COUTINHO Imbuído do sonho de encontrar riquezas sem fim, chegou ao seu novo destino no dia 23 de maio de 1535 e batizou a nova terra como Espírito Santo, devido à coincidência da data da chegada com a comemoração do dia do divino Espírito Santo. O desembarque ocorreu próximo ao morro do Moreno (imediações da Prainha). As ordens imediatas foram a construção de uma paliçada para alojar os tripulantes e uma atenta defesa contra qualquer movimentação indígena, já que na chegada, Vasco F. Coutinho teve que utilizar os canhões para dispersar os índios que se aglomeravam na praia para impedir o desembarque. O primeiro núcleo foi batizado de Vila do Espírito Santo (a sesmaria do donatário foi batizada de Sítio do Ribeiro), porém Vasco Coutinho também doou sesmarias, que formariam outros núcleos, tais como: “Ilha do Bode” (futura Ilha do Boi) entregue a D. Jorge de Menezes, Ilha do Frade a Valentin Nunez e a Ilha de Santo Antônio a Duarte de Lemos. Apesar dos investimentos de Vasco Coutinho, a capitania do Espírito Santo não foi considerada uma próspera capitania durante a fase inicial de colonização. A cultura de cana-de-açúcar inicia-se aos arredores de Vitória e devia expandir-se pela faixa litorânea, facilitando o seu escoamento. Ao norte a agromanufatura da cana-de-açúcar chegou a atingir Nova Almeida e ao sul chegou até Itapemirim. Em São Mateus a lavoura ficou isolada do centro de irradiação, Vitória. Os principais motivos do relativo insucesso do processo colonizador do Espírito Santo foram: - a grande preocupação dos colonos em realizar o sonho de enriquecimento fácil e rápido encontrando ouro e pedras preciosas. 3 - O Massacre do Cricaré Vasco também pede ajuda às capitanias vizinhas e ao Governo-Geral para dar cabo ao gentio mais insubordinado. Os primeiros grupos a serem atacados são da região norte da capitania, no vale do Cricaré, ou Kiri-Kerê (o que é propenso a dormir, dorminhoco/ nome que davam os índios a uma planta mimosácea como a sensitiva/ é o nome indígena do rio São Mateus - Sampaio, O Tupi; 192). Mem de Sá envia seis caravelas e aproximadamente 200 homens sob a liderança de seu filho, Fernão de Sá, para eliminar a “gentilidade” mais agressiva - esta agressividade era, na maioria das vezes, uma resposta dos indígenas às atrocidades cometidas pelos colonizadores. Fernão de Sá ao chegar à capitania do Espírito Santo promove combates em que grande 1 quantidade de índios é morta e outra quantidade maior ainda é aprisionada. Durante os combates, Fernão de Sá é encurralado e morto pelos índios. Apesar da perda do primeiro capitão os portugueses confiantes em seu potencial bélico nomeiam Diogo de Morim como novo capitão e entram no rio Cricaré chegando à grande resistência indígena. A fortaleza conhecida como Mererique, era composta por paliçadas onde se concentravam as maiores forças indígenas da região. Após destruída a fortaleza os gentios da região são submetidos aos interesses portugueses. antropologia ainda relata traços da cultura Tupi nos vales dos rios Cricaré, Doce, Itapemirim e Itabapoana. Os índios que vivem atualmente no Espírito Santo estão distribuídos pelo município de Aracruz, nas proximidades do rio Piraqueaçu, sob a supervisão da FUNAI, nas seguintes aldeias: Caeiras Velha, Boa Esperança (Tekoa Porá), Comboios, Irajá, Pau Brasil, Piraquê Açu, Três Palmeiras (Boapy Pindo). Mashacali, Jê Patashó, Malali Agricultura da Agricultura da Caça, pesca e mandioca, caça, mandioca, algodão, coleta. pesca e coleta. caça, pesca e coleta. Tecelagem com fio de algodão. Puri-Coroado 4 - Principais Troncos Lingüísticos 4.1 - Puri-Coroado (Macro-Jê) Concentradas na região sul do Espírito Santo, região montanhosa de Castelo, Conceição de Castelo, Muniz Freire, Iúna, Alegre, Guaçuí, a Serra do Caparaó e o Vale do Itapemirim, estas comunidades desenvolveram a agricultura da mandioca e também dedicaram-se à caça, à pesca e à coleta de frutas, entre outros. Agricultura da mandioca, milho, caça, pesca e coleta. 5 - A MORTE DE VASCO FERNANDES COUTINHO Com a morte de Vasco Fernandes Coutinho, a capitania do Espírito Santo é entregue ao seu filho bastardo com a senhora Ana Vaz, Vasco Fernandes Coutinho Filho. Essa medida foi tomada pelo governador-geral Mem de Sá como alternativa pela ausência de filhos legítimos e caso o filho bastardo não se interessasse em assumir a administração seria confiada ao capitão Belchior de Azeredo. Entende-se, com base em documentação histórica, que na data da morte de Vasco F. Coutinho (pai) todos seus filhos legítimos já estavam mortos. 4.2 - Mashacali, Malali e Patashó Os estudos antropológicos revelam a existência dessas comunidades na região do vale do Cricaré, do vale do Rio Doce e de Itaúnas, basicamente na região norte do Espírito Santo. Porém, em um período que antecede a chegada dos botocudos naquela região. 4.3 - Jê (Aimorés, Goitacazes e Botocudos) OBS: Fatores do Fracasso da Capitania - o relevo acidentado e a grande quantidade manguezais, afastavam o sonho de encontrar a Serra das Esmeraldas. A agricultura não cresceu o suficiente para colocar a Capitania na rota do tráfico de escravos, tornando a mão-de-obra uma preocupação constante (também o ES estava fora do eixo econômico do ciclo da cana). O Número reduzido de colonos estabelecidos, a ausência aparente de metais preciosos frustrou os colonizadores, tornando a administração da Capitania um tormento. O grande volume de capitais consumido e não revertido, com os baixos lucros obtidos, e a grande extensão territorial da capitania, foram fatores geradores da crise. Esse grupo era considerado o mais violento. Os “Botocudos” (o tronco Jê ou Gê muitas vezes foi generalizado como Botocudo) estavam dispersos por todo o território do Espírito Santo. Eram os únicos que não praticavam a agricultura, pois eram nômades e inúmeras vezes foram acusados de “comer europeus”. Os rituais de “antropofagia” eram comuns entre os índios, que esperavam assimilar as virtudes do indivíduo que era sacrificado. Apesar das cartas dos jesuítas que sempre relatavam o risco de serem comidos pelos índios, esses rituais poucas vezes ocorreram com europeus. Como não tinham área definida, constantemente estavam em choque com outras tribos ou colonos. Contudo, o intenso fluxo de bandeirantes pela capitania do Espírito Santo, após a descoberta de ouro no interior, e a maciça exploração no século XVIII acabaram confinando o que sobrou dos Botocudos na região norte, entre o vale do rio Doce e o vale do rio Cricaré. 6 - A ADMINISTRAÇÃO DE FERNANDES COUTINHO FILHO VASCO Ansioso por desenvolver a capitania, Vasco Filho pediu à Ordem dos Franciscanos que enviassem frades para colaborarem com o processo de povoamento e integração do índio. Contou, também, com uma atuação decisiva dos jesuítas que tinham como foco irradiador da catequese, decisões políticas e econômicas, o Colégio de São 4.4 - Tupi Guarani (Tupiniquim, Tupinambá, Tmiminó) Os tupis foram europeus, mortos habitavam o litoral, primeiros contatos Tupi Guarani os primeiros aculturados pelos e expulsos de suas terras, justamente onde se fizeram os entre nativos e europeus. A 2 Tiago (Colégio dos Meninos), atualmente, o Palácio Anchieta – arquitetado pelo padre Afonso Brás. Além disso, é um período de intensificação de investimentos na produção de cana-de-açúcar, que ainda assim permaneceram pequenos quando comparados com São Vicente e Pernambuco, capitanias consideradas prósperas. Outras duas atividades, o algodão e o gado, também têm certo prestígio naquele período. com o recrutamento de índios e até foi prisioneiro. No cativeiro, escreveu o famoso De Beata Virgine Dei Matre Maria (Poema à Virgem Maria), composto por mais de 5.000 versos. Em determinado momento do conflito no Rio de Janeiro, na época colônia francesa batizada de França Antártica, Anchieta solicita ao governadorgeral, Mem de Sá, embarcações para retirar os índios maracajás da atual Ilha do Governador, pois estavam sendo constantemente atacados pelos tamoios. Como solução, Anchieta levá-os para a capitania do Espírito Santo, onde se estabelecem na Vila de Nossa Senhora da Conceição da Serra, atual município da Serra, em seguida, dirigem-se para a atual Itapemirim. Os caciques Gato Grande (Maracaiaguaçu) e seu irmão Cão Grande, líderes dos maracajás, ficaram muito gratos ao beato e como retribuição, decidem contribuir com homens para o conflito no Rio de Janeiro. Entre estes, ia o filho do cacique Cão Grande, Araribóia (“COBRA FEROZ”), um dos heróis do Espírito Santo. Seus feitos nos combates de Paranapicuí, Uruçumirim e nas campanhas de Cabo Frio foram imperativos na vitória portuguesa sobre os franceses estabelecidos no Brasil. Araribóia escalou um penhasco e incendiou o armazém de munição dos franceses, tornando-os despreparados para os constantes combates. “Cobra Feroz” acabou sendo batizado como cristão, recebendo o cargo de capitão-mor e assumindo a administração da vila que hoje é a cidade de Niterói. O padre Anchieta ainda assumiria o lugar de Manuel da Nóbrega, supremo líder dos jesuítas no Brasil, exercendo um cargo de tal responsabilidade teve que viver anos de intenso trabalho, porém quando é substituído por Marçal de Beliarte em 1587, escolhe a vila de Reritiba (ou Rerigtiba, atual cidade de Anchieta) para passar os últimos anos de sua vida. Tinha passado várias vezes por ali e desenvolvido profundo afeto pelo lugar e por seus habitantes. “ RERITIBA MEU RECANTO, RERITIBA SÍTIO AMENO, RERITIBA TERRA DE BOA GENTE”. (Padre José de Anchieta) 7 - Principais Religiosos 7.1 - Frei Pedro Palácios Em uma das viagens de Vasco Fernandes Coutinho até a Europa, a fim de conseguir ajuda no processo de colonização da capitania do Espírito Santo, chegou frei Pedro Palácios no ano de 1558. Trouxe consigo o quadro de Nossa Senhora dos Prazeres (ou Nossa Senhora e o Menino/ Nossa Senhora da Penha), que foi colocado onde está o pequeno oratório, construído próximo ao atual portão de entrada dos fiéis, na Prainha. Frei Pedro Palácios era espanhol, nascido na Vila de Medina do Rio Seco, próximo a cidade de Salamanca. Transferiuse para a província de Arrábida, em Portugal, de onde veio para o Brasil. Desembarcou na Bahia, lá auxiliou os jesuítas no processo de integração do índio e na construção da Igreja de São Francisco, mais tarde veio para a capitania do Espírito Santo e continuou seu trabalho com o nativo, mas também iniciou as obras de um dos cartões postais mais famosos do Espírito Santo, o Convento da Penha. 7.2 - Padre José de Anchieta Anchieta chega ao Brasil aos 19 anos juntamente com o segundo governador-geral, Duarte da Costa, no ano de 1553, tendo desembarcado primeiramente em Salvador. Logo em seguida, foi para capitania de São Vicente, no entanto, no percurso, já teve o primeiro contratempo, pois uma tempestade, na altura do arquipélago de Abrolhos, acabou danificando uma das embarcações que encalhou próximo à costa capixaba, enquanto a outra foi destroçada nos arrecifes. Apesar do susto, toda a tripulação sobreviveu. A única saída era consertar a embarcação danificada com os destroços da outra, mas para isso teriam que desembarcar e um grande número de índios já se aglomeravam na praia, próximo aos destroços. Esse foi o primeiro contato do jovem Anchieta com os “selvagens” brasileiros. Anchieta é reconhecido pelos seus inúmeros feitos em prol da catequese e dos interesses da Coroa portuguesa. Somente no Espírito Santo catequizou em torno de 12.000 índios. Seus métodos ficaram famosos por se utilizar dos mais variados meios para catequizar e se integrar com as comunidades, como por exemplo os “Teatros Anchietanos” e a primeira “Gramática da Língua Tupi”. Ressalta-se ainda a sua importante participação na luta contra os franceses e os índios tamoios na Baía da Guanabara, onde colaborou Residindo na capitania do Espírito Santo, Anchieta foi indicado por seus superiores para assumir os trabalhos no Colégio de São Tiago. Essa nova atribuição exigiu de Anchieta novas e constantes caminhadas entre Vitória e Reritiba, cumprindo algumas vezes por mês um percurso de 100 quilômetros. Hoje, esse percurso pode ser feito através de caminhadas organizadas que remontam à rotina de Anchieta. Após anos de trabalho em prol da catequese, o beato Anchieta morre em Reritiba e é levado por um cortejo de índios até Vitória, sendo sepultado no Colégio de São Tiago, atualmente Palácio Anchieta. O túmulo do beato Anchieta recebe inúmeros visitantes todos os anos, sendo parada obrigatória para romeiros e fiéis de todo Brasil que acreditam nos seus milagres. 3 8 - FAZENDAS JESUÍTICAS ESPECIALIZADAS Fazenda Itapoca (Carapina) Muribeca (Presidente Kennedy) Araçatiba (Viana) período que foi ordenada a segunda tentativa de invasão holandesa ao Espírito Santo, que contou com aproximadamente 800 soldados e sete navios. Mais uma vez foram expulsos, apesar dos árduos combates travados durante dois dias, inclusive nas proximidades do Convento da Penha. Devido ao recuo inesperado dos holandeses, surgiu uma lenda sobre o combate. Segundo essa lenda, os holandeses teriam recuado devido a visão de um grande exército descendo o Morro do Convento para enfrentá-los. Produção Farinha de mandioca e hortaliça. Pecuária (mais de 2000 cabeças de gado vacum e aproximadamente 200 cavalos). Engenho de açúcar e aguardente. Maior fazenda da costa brasileira. Para escoar sua produção abriu-se um canal de doze quilômetros de extensão, atualmente chamado de rio Marinho, ligando o Rio Jucu à Vitória, a fim de encurtar o itinerário. Aberto em 1740, foi o primeiro do país. 9 - TENTATIVAS DE INVASÕES 9.3 – Ingleses 9.1 - Franceses Os ingleses estiveram no Espírito Santo em dois momentos. No primeiro, entraram pela baía, dispararam alguns tiros e acabaram, sem motivos aparentes, desistindo da empreitada. Já na invasão liderada pelo corsário Tomas Cavendish, os combates aconteceram de forma intensa. No ano de 1592, a capitania era administrada pela viúva de Vasco Fernandes Coutinho Filho, senhora Luísa Grimald (ou Grimaldi ou Grinalda). As mobilizações em seu governo para expulsar Cavendish foram excepcionais. Contaram com a colaboração dos índios goitacazes, das proximidades de Vila Velha, tanto na luta quanto na construção de dois fortins de taipá, onde hoje é o forte São João. Derrotado e com seu exército reduzido (perde aproximadamente 80 homens), Cavendish foge. Luísa Grimald, no entanto, por ser mulher, não consegue continuar na liderança da capitania do Espírito Santo, um parente de Vasco F. Coutinho Filho exigiu a posse da administração e Luísa Grimald acabou indo para um convento em Portugal. Os franceses tentaram invadir a capitania do Espírito Santo em três momentos, mas em todas as tentativas foram repelidos, sempre com um esforço conjunto dos habitantes da capitania, independente de cor ou raça. A primeira tentativa acontece no ano de 1558, a segunda e a terceira, respectivamente em 1561 e 1581. 9.2 - Holandeses Durante 1580 a 1640, Portugal e Espanha estiveram unidos. A Espanha proíbe portugueses de manterem o comércio do açúcar com os holandeses, lesados, os holandeses fundam a WIC e invadem o Brasil. A primeira invasão foi na Bahia e teve curta duração, pois portugueses e espanhóis uniram forças para expulsá-los, a capitania do Espírito Santo, também, colaborou enviando um grupo de índios flecheiros. Após derrotados na Bahia, os holandeses constituíram um grupo de 28 navios e entraram na baía de Vitória sob o comando de Pieter Heyn. A intenção do grupo invasor era pegar os habitantes de surpresa, mas apesar da repentina chegada, os colonos tiveram tempo de organizar alguma defesa. Sem dúvida, o momento mais marcante do combate foi quando os holandeses chegaram até a antiga ladeira do Pelourinho e se preparavam para tomar a parte alta da Vila, onde estava o armazém de munição e armas. Na subida são surpreendidos por uma jovem que os ataca, jogando inúmeros baldes de água fervendo e detritos, também gritava, incitando os que se encontravam na parte alta da Vila a aproveitarem a oportunidade para expulsar definitivamente os invasores. A atitude desta jovem foi decisiva para o desfecho do conflito, pois sua ação forçou uma momentânea retirada holandesa. Com o repentino e temporário recuo holandês concedeu tempo suficiente para os habitantes da Vila comporem uma defesa mais bem estruturada e, por fim, ainda foram perseguidos por uma esquadra portuguesa que tinha saído do Rio de Janeiro para vistoriar a costa baiana. Essa jovem entrou para a História como uma heroína capixaba. Seu nome era Maria Ortiz. Apesar da primeira derrota na Bahia, a WIC ainda invadiu Pernambuco e durante vinte e quatro anos lá permaneceu. Foi durante esse 10 - O CICLO DA MINERAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO Segundo registros históricos, as primeiras minas que passaram a dar grandes lucros na exploração datam de 1694, porém em 1692 chegou em Vitória o bandeirante paulista Antônio Rodrigues Arzão, trazendo ouro encontrado no interior, com quase metade de sua expedição original. Famintos, feridos e sem munição, relataram que foram acossados por índios, provavelmente Botocudos, das serras até o litoral. Segundo Antônio Rodrigues, o ouro tinha sido encontrado ainda nos limites da capitania do Espírito Santo, no Rio Casca, atualmente as cidades mineiras de Caeté e Sabará. A corrida de migrantes das diversas regiões brasileiras e imigrantes para a região mineradora proporcionou um grande crescimento populacional no interior, aliado a profundas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. Chegaram a ser promulgados editos que proibiam o êxodo do litoral, mas nada adiantou. Os reflexos abateram-se de forma desoladora sobre a capitania do Espírito Santo, apesar de grande parte do ouro ter sido encontrado nos antigos limites da capitania. O Espírito Santo sofreu 4 2. Governo de Francisco Alberto Rubim (1813 – 1819) um êxodo tremendo, chegando a cerca de 5.000 habitantes residindo aqui, como consta no recenseamento de 1728. Só permaneceram no Espírito Santo, basicamente, religiosos, militares, funcionários públicos e escravos destes grupos. Vale ressaltar que ainda foi encontrado um núcleo aurífero no que sobrou da antiga capitania do Espírito Santo, estas eram as minas do “ALTO CASTELO”, atualmente Conceição do Castelo, Castelo e Venda Nova do Imigrante. Recebeu o governo de Albuquerque Tovar, sucessor de Silva Pontes. Rubim é reconhecido pelo incentivo da produção de café, trigo, linho, cana e algodão, além de fundar a Santa Casa de Misericórdia e elevar Itapemirim à categoria de Vila, no entanto, o seu maior feito foi a construção da primeira estrada ligando o Espírito Santo a Minas Gerais. Essa estrada começou a ser construída em 1814 e só terminou em 1820 com auxílio de D. João VI. Cada vez mais os interesses locais podiam ser consolidados e um fato que marca o caminho político e econômico do Espírito Santo é o parcial desligamento da tutela da Bahia em 1810, ou seja, os administradores capixabas passavam a ter mais autonomia, no entanto, a influência baiana marcaria a administração do Espírito Santo até a independência em 1822. A primeira estrada que promovia a integração do Espírito Santo obedecia um trajeto parecido com o da atual BR 262, que liga Vitória a Belo Horizonte. Saía de Itacibá, em Cariacica e ia até Vila Rica, atual Ouro Preto. A cada três léguas foram montados postos militares para dar proteção, aos viajantes e comerciantes, dos ataques dos índios botocudos, inúmeros na região. Apesar dos esforços de Rubim a primeira estrada não integrou o Espírito Santo ao quadro econômico da região Sudeste, pois as rotas comerciais já estavam bem estabelecidas naquele momento entre as cidades mais importantes. Dez anos após o término da estrada as guarnições militares são retiradas, a receita da estrada não cobria os gastos com as tropas e, portanto, deixando os viajantes entregues à própria sorte. 10.1 - Barreira Verde A Coroa portuguesa acreditava que se algum país tentasse invadir o Brasil para conquistar a região mineradora esta invasão aconteceria pelo litoral capixaba, região pouco fortificada e mais próxima do núcleo mineiro. Com base em tais perspectivas, a Coroa portuguesa estabeleceu ordens de proibir a construção de estradas que ligassem o litoral do Espírito Santo ao interior, proibiu a navegação no Rio Doce, ordenou que fossem reformados os fortes já existentes, e que outros fossem construídos e que o contingente militar fosse aumentado. Como se não bastasse, a capitania do Espírito Santo tornou-se uma estreita faixa litorânea, após sua redução oficial, com a criação da capitania das Minas Gerais. Afastada da vida mineira pela densa Mata Atlântica, um relevo recortado, um grandioso número de índios que não raro acossavam aventureiros e pelas ordens de isolamento da região emitidas pelo rei de Portugal. Essa área acabou sendo considerada uma verdadeira “BARREIRA VERDE” ou “ESTADO TAMPÃO”. A Coroa portuguesa, para garantir os seus interesses, compra a capitania do Espírito Santo de Cosme Rolim de Moura, cunhado e primo do herdeiro direto, Manuel Garcia Pimentel, que nunca esteve na capitania. Este, era filho de Francisco Gil de Araújo. OBS.: Vale ressaltar a presença de dois estrangeiros de importância na província do Espírito Santo: o príncipe Maximiliano que esteve aqui em 1816, acompanhado de uma comitiva de botânicos e desenhistas e o cientista Saint Hilaire que documentou a fauna e flora do Espírito Santo, ainda na administração de Francisco Alberto Rubim. Fase Imperial 1. Auto de 1800 IMPORTANTE: O governo baiano aproveita a fragilidade do ES durante a mineração e assume o gerenciamento do norte do ES, até o vale do Rio Doce. Estavam interessados em São Mateus, grande produtor de farinha. Em represália aos baianos, no contexto das guerras do pós-independência, D. Pedro I restitui o norte do ES à administração capixaba. Era uma forma de premiar os capixabas pelo apoio imediato à Independência do Brasil e castigar os baianos pelo apoio às Cortes Portuguesas. O governador Antônio Pires da Silva Pontes foi nomeado em 1798, no entanto, só tomou posse em 1800 (até o início do século XX o cargo de governador tinha o nome de Presidente de Província). Nesses dois anos que antecedem sua posse, estudou toda história do Espírito Santo, seus aspectos econômicos, políticos e sociais. Empossado, mesmo sendo subalterno ao governador da Bahia, tomou providências para mudar a política de isolamento que vigorou no Espírito Santo por todo o século XVIII. O primeiro grande passo foi a assinatura de um acordo com Minas Gerais para demarcar os limites territoriais com o Espírito Santo. O acordo ficou conhecido como “AUTO DE 1800”, que em suma, impediu a expansão de Minas Gerais rumo ao mar e preservou o território do Espírito Santo. 3. Heróis da Fase Imperial 2.1 – Domingos Martins Domingos José Martins nasceu em Itapemirim, estudou na Bahia e complementou seus estudos na Europa. Retornando ao Brasil, passou a residir em 5 5. Imigração Destaque para a forte presença de imigrantes italianos e alemães devido, principalmente, ao processo de unificação desses países e o interesse no plantio de café – possibilidade de enriquecimento. Recife - Pernambuco, onde participou ativamente de um movimento contrário ao domínio português e favorável ao desligamento de Pernambuco. Essa revolta ficou famosa e foi batizada como “REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817”. A revolta acabou abafada por D. João e Domingos Martins, que seria o líder das relações comerciais de Pernambuco independente, acaba fuzilado em 12 de junho de 1817. Modelos de Imigração: 5.1 - Colonato – Proposta de imigração subsidiada pelo governo, com doação de terras e financiamento do imigrante. No Espírito Santo o destaque é para o “Sertão de Santo Agostinho”, atualmente é o município de Viana, formada por açorianos. Tinha o propósito de promover o branqueamento da população brasileira. 2.2 – Caboclo Bernardo O Caboclo Bernardo é considerado um herói do império, devido ao salvamento de 128 homens de um total de 142, tripulantes do cruzador Imperial Marinheiro, um dos mais novos barcos da marinha de guerra brasileira. O Caboclo Bernardo tentou exaustivamente ligar um cabo da praia ao navio, para que pudesse trazer a tripulação em segurança. Vale ressaltar que a presença de possíveis tubarões e das ondas gerava grande pânico. Na quinta tentativa o Caboclo Bernardo consegue ligar o cabo e com o auxílio de uma chalana ajuda os sobreviventes chegarem à praia. O pescador de regência foi trazido ao Rio de Janeiro e recebeu uma medalha pelo seu heroísmo, diretamente das mãos da princesa imperial regente. 5.2 - Sistema de Parceria – após a aprovação da “Lei de Terras em 1850”, a doação de terras fica proibida e o imigrante passa a ser financiado pela iniciativa privada – fato que vai gerar grande exploração do imigrante e até, em certos casos, a suspensão da imigração. Nesse sistema podemos destacar a proposta de Pietro Tabacchi, italiano responsável por uma colônia de “parceria” em Santa Cruz que só gerou exploração sobre o imigrante – a colônia ficou conhecida como “Nova Trento”. 4. O Café no Espírito Santo A introdução do café na economia capixaba foi responsável por um aquecimento econômico nunca visto. A balança comercial capixaba ficou favorável e o governo passou a ter dinheiro para investir em infraestrutura. O café chegou ao Espírito Santo vindo pelo sul, do Vale do Paraíba, aproveitando a baixa ocupação territorial ao longo do Rio Itabapoana e Itapemirim. A região sul do Espírito Santo foi a mais beneficiada inicialmente pela produção de café e esteve ligada durante muito tempo à economia fluminense. A produção cafeicultora capixaba assumiu características peculiares. A principal foi a pequena propriedade que se manifestou em larga escala, em um momento em que o latifúndio monocultor ainda era o perfil da economia brasileira. Os motivos para essa condição podem ser explicados pelo fato de alguns proprietários lotearem parte de suas terras para venda e outros terem suas terras invadidas por serem consideradas abandonadas ou improdutivas. (Vale ressaltar que estes proprietários receberam boas indenizações por parte do governo em grande parte dos casos). As vantagens da pequena propriedade para a província estão ligadas ao processo de intensificação do povoamento, arrecadação de impostos, divisão da renda e certa diversificação produtiva. Dossiê Nagar Carlos Nagar (diplomata italiano) relatou ao rei Victório Emmanuel as humilhações e penalidades aos quais seus patrícios estavam submetidos aqui no Espírito Santo, especificando o Vale do Rio Doce, a exploração dos fazendeiros e uma epidemia de malária, em 1895. Essa carta ficou conhecida como “Dossiê Nagar” e levou uma má fama do Espírito Santo para vários países da Europa, levando-os a suspenderem temporariamente a emigração. Um outro fator foi o interesse na mãode-obra. Já em 1871, o responsável pela unificação alemã, Otto Von Bismarck, após a consolidação da união alfandegária (ZOLLVEREIN) na Confederação Germânica, criou inúmeras restrições à emigração de alemães para o Brasil. Sua intenção era a ampliação da “massa” disponível ao processo de industrialização do Reich, mas as desculpa para tal decisão eram as péssimas condições oferecidas aos imigrantes no Brasil. 5.3 - Imigração Subordinada ou Subvencionada – Com as restrições externas, o governo acabou intervindo na imigração e criando um modelo de menor exploração para o imigrante. Esse novo modelo era fundamentado em uma aliança entre iniciativa privada e governo – essa medida viabilizou a continuidade do processo de imigração. OBS.: O Barão de Aymorés foi o responsável por implantar uma cultura modelar de café. Era conhecido como café capitania; produzido à sombra, gerava grãos que produziam um café mais suave e um valor de mercado mais interessante para os produtores no mercado internacional. OBS.: CAIXAS BENEFICENTES: era uma tentativa de amenizar as dificuldades. Consistia em uma cooperação mútua entre os componentes do núcleo imigrante, com o objetivo de criar recursos para compra de remédios, garantias de segurança e abertura de vias. 6 6 - Colônias Importantes abandonando os casarões coloniais em que viviam. Essa região também foi marcada pelos quilombos. O comércio de farinha de mandioca entre os quilombos do norte e São Mateus, exemplificam uma relação tensa e lucrativa. O caso de Dona Rita Maria da Conceição Cunha, esposa do Barão de Aymorés*, que enriqueceu com a produção de farinha do quilombo do negro Rugério, é um exemplo dessa relação entre os negros fugidos e os brancos da região. Outros nomes também surgiram na região. Benedito Meia-Légua conhecido ladrão de cavalos no norte do Espírito Santo morreu queimado dentro do tronco de uma árvore – seu esconderijo - abraçado a uma estátua de São Benedito. Entre outros, como a princesa cabinda (angolana) Zacimba Gaba, que, segundo relatos, fundou quilombos e tentou organizar motins na região, usando seu título de nobreza africano, Viriato Canção-de-Fogo e Constância de Angola. Todos negros que fizeram História no norte do Espírito Santo e receberam algum tipo de reconhecimento pela forma que viveram. 6.1 – Colônia de Santa Izabel A colônia de Santa Izabel foi fundada no ano de 1847 às margens da Estrada do Rubim, no vale do rio Santa Maria da Vitória. Contou com um contingente de 163 prussianos vindos do Hunsruck e do Hesse, na região central do rio Reno. Dez anos mais tarde sua população já era de 286 moradores que produziam 1.200 alqueires de farinha e 10.000 arrobas de café, além de uma produção diversificada entre milho, feijão e a criação de gado. Em 1858 a colônia foi dividida devido aos conflitos entre católicos e protestantes. O resultado foi a fundação de um novo núcleo na região de Campinho, atualmente Domingos Martins. Durante muito tempo existiu uma grande rivalidade entre esses núcleos, porém com o passar do tempo, políticas de aproximação foram desenvolvidas tanto em Domingos Martins (protestantes), quanto em Santa Izabel (católicos). 6.2 – Colônia de Santa Leopoldina A colônia de Santa Leopoldina foi fundada em 1857 e contou com uma fusão de 140 colonos suíços transferidos de Ubatuba, litoral paulista, com 222 alemães, ampliando o seu contingente populacional e automaticamente a produção. Na década de 1870 possuía um contingente de 3.881 habitantes e uma produção que ultrapassava os 7000 kg de café anuais. Essa colônia foi uma das que recebeu atenção especial de Dom Pedro pelo seu potencial produtivo e importância estratégica no campo do povoamento de zonas interioranas. 8 - A Revolta de São José do Queimado Entre as revoltas escravas ocorridas no Espírito Santo, a mais famosa foi a “REVOLTA DE QUEIMADOS”, no atual município da serra, em 19 de março de 1849. O palco dessa revolta chamava-se São José do Queimado e toda história gira em torna da construção de uma igreja para a região. Determinado dia surge um boato de que o frade italiano, Gregório de Bene, havia prometido que o negro que ajudasse a edificar uma igreja naquela região teria como recompensa a alforria no dia da inauguração da igreja. O resultado foi que durante um ano, escravos trocaram dias santos e domingos (folgas do trabalho) pela empreitada na igreja. Ao término da obra os escravos cobram do padre a sua promessa, ele não podia cumpri-la, pois não tinha autoridade para tanto. Então os escravos iniciam uma revolta pela liberdade e destroem a igreja. De Vitória sai um destacamento militar para abafar o levante, aproximadamente 200 (duzentos) negros estavam envolvidos, dos quais só seriam capturados 41 (quarenta e um). Cinco destes conseguem fugir, os outros foram processados, seis foram absolvidos, vinte cinco condenados a açoites, e cinco foram condenados à morte, considerados os líderes do movimento. Eram eles: Chico Prego, João, Elisiário, Carlos e João Pequeno. (Apenas Chico Prego e João foram mortos, os demais fugiram ou se mataram). 7 - A Escravidão no Espírito Santo Os escravos negros estavam concentrados no Espírito Santo, basicamente, ao norte em São Mateus, ao sul em Cachoeiro de Itapemirim e no centro, em Vitória. Os principais pontos de compra e venda de negros em Vitória eram o Forte São João, onde hoje é o Saldanha da Gama, o mercado do porto e o Parque Moscoso, antigamente chamado de “Campinho”. Devido aos maus tratos e ao grande número de escravos nas áreas de concentração, as revoltas eram constantes. 7.1 - São Mateus e o Porto São Mateus foi a região que recebeu as primeiras levas de escravos que vieram para o Espírito Santo e foi a referência portuária capixaba quanto ao tráfico negreiro por muito tempo. O desenvolvimento do porto ocorreu mediante o interesse dos senhores, proprietários rurais, em estabelecer pontos comerciais, armazéns e escritórios na região beira-rio, no atual local do porto. Os portos fluviais, como o de São Mateus, entraram em decadência com a construção de rodovias, a partir das décadas de 30 e 40 do século XX. É nesse período que as ricas famílias de São Mateus instalam-se na parte alta da cidade e passam a viver “de costas” para o porto. Literalmente essas famílias “sobem a ladeira”, OBS.: CAIXAS DE EMANCIPAÇÃO: arrecadação financeira feita pelos movimentos abolicionistas em prol da compra da carta de alforria de cativos. 7 8.1 - Comunidades Negras e Brecha Camponesa As comunidades de Cacimbinha (Atual São Jorge) e Boa Esperança, situadas no município de Presidente Kennedy são referências para entendermos o surgimento de comunidades negras após a abolição. Apesar de surgirem de formas diferentes, marcam caminhos de maior autonomia para comunidades negras. Essas comunidades basicamente poderiam surgir por doações dos seus ex-senhores em vida ou após a morte, por herança. Cacimbinha surgiu através de doações de terras feitas ao negro Manoel da Batalha, nome que herdou do fazendeiro dono de sua mãe. O exemplo de brecha camponesa de Cacimbinha implica na concessão de terras ao escravo, permitindo-lhe tirar folga semanal para trabalhá-la, promovendo sua subsistência. Esse era um mecanismo de controle e manutenção do escravismo, que barateava seu custo à medida que ele criava sua subsistência, diversificava a produção, e servia como “válvula de escape” para as pressões da escravidão, pois distraía a atenção da brutalidade escravista e prendia o escravo à fazenda. Já a comunidade de Boa Esperança teve sua origem através da aquisição de terras por um negro chamado Manuel João Ferreira, proveniente, até onde se sabe, de Campo dos Goitacazes/RJ. No Espírito Santo trabalhou como madeireiro e na Usina Paineiras (produção de açúcar em Itapemirim), assumiu quatro companheiras que ocupavam terrenos que são basicamente o território de Boa Esperança, legalizados na década de 20. Com a morte de Manuel João em 1963 seus descendentes dividiram o território, o que acabou com a condição de sobrevivência em comunidade camponesa, gerando a necessidade de busca de trabalho e êxodo rural. Afonso Cláudio de Freitas Rosa, historiador e advogado, acabou não ficando nem um ano no poder. Por questões administrativas transferiu o cargo para Constante Gomes Sodré, que dois meses depois passou a Henrique da Silva Coutinho, que em quatro meses transferiu a administração para Antônio Gomes Aguirre. A República teve certa dificuldade de se estabelecer, tanto na esfera federal, quanto nas esferas estaduais, o conflito de interesses era enorme. Nesse período foi promulgada a Constituição Estadual de 20 de julho de 1891 e foi eleito o Barão de Monjardim, que governou até dezembro e entregou o cargo ao vice, Antônio Gomes Aguirre. A posse do “Marechal de Ferro”, Floriano Peixoto, também chamado de “Consolidador da República”, por ter desenvolvido uma política de eliminação da instabilidade republicana, muitas vezes sem o uso da democracia, acabou por trazer reflexos diretos ao Espírito Santo. Caiu o situacionismo capixaba. Para acabar com a instabilidade estadual e garantir os seus interesses, o governo federal indicou uma junta governamental constituída pelos coronéis Inácio Henrique de Gouveia, Graciano dos Santos Neves e Galdino Teixeira Lins de Barros Loreto. Administraram do final de 1891 até 1892. Espírito Santo República Professor: Rodrigo Simão. A República no Espírito Santo Segundo registros oficiais, a notícia da Proclamação da República, chegou à Vitória na tarde do mesmo dia (15 de novembro de 1889) e não contou com qualquer tipo de manifestação popular. Já em Cachoeiro de Itapemirim, os republicanos promoveram passeatas em comemoração, pois ali o movimento republicano havia sido muito mais intenso do que em Vitória. O jornal A Província do Espírito Santo noticiou a escolha do novo governador no Espírito Santo da seguinte forma: OBS.: Os descendentes dos escravos negros se dizem donos, “por direito”, do antigo território de Sapê do Norte, formado por grande parte dos municípios de Conceição da Barra e São Mateus. 9 - A Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889 Segundos registros oficiais, a notícia da Proclamação da República, chegou à Vitória na tarde do mesmo dia (15 de novembro de 1889) e não contou com qualquer tipo de manifestação popular. Já em Cachoeiro de Itapemirim os republicanos promoveram passeatas em comemoração, pois ali o movimento republicano havia sido muito mais intenso do que em Vitória. O jornal A Província do Espírito Santo noticiou a escolha do novo governador no Espírito Santo da seguinte forma: “No Espírito Santo, dissolvida a Assembléia Legislativa no dia 16, os principais líderes republicanos reúnem-se para escolher o novo chefe do Governo Provisório; a opção foi o nome de Afonso Cláudio.” Afonso Cláudio de Freitas Rosa, historiador e advogado, acabou não ficando nem um ano no poder. Por questões administrativas transferiu o cargo para Constante Gomes Sodré, que dois meses depois passou a Henrique da Silva Coutinho, que em quatro meses transferiu a administração para Antônio Gomes Aguirre. A República teve certa dificuldade de se estabelecer, tanto na esfera federal, quanto nas esferas estaduais. O conflito de interesses era enorme. Nesse período foi promulgada a Constituição Estadual de 20 de julho de 1891 e foi eleito o Barão de Monjardim, que governou até dezembro e entregou o cargo ao vice, Antônio Gomes Aguirre. “No Espírito Santo, dissolvida a Assembléia Legislativa no dia 16, os principais líderes republicanos reúnem-se para escolher o novo chefe do Governo Provisório; a opção foi o nome de Afonso Cláudio.” 8 A posse do “Marechal de Ferro”, Floriano Peixoto, acabou por trazer reflexos diretos ao Espírito Santo. Caiu o situacionismo capixaba. Para acabar com a instabilidade estadual e garantir os seus interesses, o governo federal indicou uma junta governamental constituída pelos coronéis Inácio Henrique de Gouveia, Graciano dos Santos Neves e Galdino Teixeira Lins de Barros Loreto. Administraram do final de 1891 até 1892. solucionar a crise, decide renunciar em 16 de setembro de 1897. Assumindo o vice-presidente Constante Gomes Sodré, que convocou novas eleições, segundo exigia a constituição, sendo eleito José Marcelino Pessoa de Vasconcelos. 3 - Henrique da Silva Coutinho (1904-1908) Muniz Freire, em seu segundo mandato, apóia Henrique Coutinho para o cargo de Governador e por motivos de divergências políticas acabam rompendo após a eleição. Outro caso que chamou atenção foi quando Coutinho autorizou Jerônimo Monteiro a negociar a venda da Estrada de Ferro Sul Espírito Santo, vendida a Leopoldina Railway. Segundo denúncias, Jerônimo Monteiro havia emitido mais títulos do que seriam necessários, criando um enorme escândalo no governo. 1 - O Projeto Modernizante de Muniz Freire 1º Mandato (1892-1896) / 2º Mandato (1900-1904) O Dr. José Carvalho Muniz Freire é uma das maiores referências políticas do Espírito Santo. As metas prioritárias do seu governo eram: investimentos nas ferrovias, no povoamento e na produção agrícola. O seu primeiro mandato marcou o início da fase política de estabilidade administrativa. Iniciou as obras da Estrada de Ferro Sul Espírito Santo, construindo o trecho Argolas – Viana. Seu objetivo era dinamizar o escoamento do café da região sul do estado para os portos de Vitória, já que havia uma maior facilidade de escoar aquela produção para os portos do Rio de Janeiro, coisa que não interessava ao estado, porque deixava uma boa soma dos impostos do nosso café para os cariocas. A Estrada de Ferro Vitória Minas (1903) foi outro grande investimento ferroviário e colaborou decisivamente para o desenvolvimento do Espírito Santo, principalmente no setor norte. Com base no seu projeto de povoamento, introduziu cerca de vinte mil colonos italianos sob o regime de pequena propriedade. Através de um projeto de urbanização desenvolveu, pelas mãos do engenheiro-sanitarista Saturnino de Brito, o NOVO ARRABALDE DE VITÓRIA (Praia do Canto/Praia Comprida). Muniz Freire ainda se empenhou na reorganização da Escola Normal, construiu o teatro Melpômene (onde ocorreu um incêndio em 1923 e o local virou o teatro Carlos Gomes) e criou a Diocese do Espírito Santo com sede em Vitória. Na sua segunda administração enfrentou uma terrível crise do café, pois o preço do produto entrou em uma queda vertiginosa, enfrentando uma prolongada seca que gerou a falência econômica do estado e forçou o governo a decretar uma moratória, junto aos nossos banqueiros credores. Essas crises geradas pelo café tinham um reflexo direto na economia capixaba, principalmente, devido a dependência da nossa nascente indústria da receita desse produto. Mas ainda assim, o crescimento continuava em todos os sentidos, somente da primeira administração de Muniz Freire para a segunda, a população do estado havia passado de 110.000 para 209.783. 4 Jerônimo Republicana (1908-1912) Monteiro/Construção Jerônimo Monteiro cuidou de uma crise política criando uma nova agremiação: o Partido Republicano Espírito Santense. Investiu no sul do estado, mais precisamente em Cachoeiro de Itapemirim, onde foi implantado o primeiro grande projeto industrial do Espírito Santo: COMPANHIA INDUSTRIAL DO ESPÍRITO SANTO, cujos empréstimos e grande endividamento permitiram criar: Fábrica de tecidos para aproveitamento de fibras têxteis (TECISA) Usina de açúcar no baixo Vale do Itapemirim (Usina Paineiras) Fábrica de cimento Fábrica de papel Fábrica de óleo vegetal lubrificante Serraria industrial Usina hidrelétrica do rio Fruteiras Apesar das grandes perspectivas de crescimento industrial e dos extraordinários investimentos, os resultados esperados não foram alcançados, por não terem levado em conta o diminuto mercado consumidor interno e as precárias ou inexistentes vias de escoamento de produção. O governo foi assim forçado a vender as unidades industriais para pagar as dívidas adquiridas. 5 - Questões de Limites entre Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia A primeira questão de limites da Era Republicana entre Espírito Santo e Minas Gerais ocorreu em 1912, em virtude de um incidente fiscal. Os dois estados passaram a disputar as regiões de Lajinha, Mutum, São Manuel do Mutum, Chalé, Conceição do Ipanema, São Sebastião do Ocidente e Bom Jardim, essa região acabou sendo chamada de CONTESTADO. A decisão foi parar na justiça e o laudo pericial acabou favorecendo Minas. Mesmo contando com o 2 - Graciano dos Santos Neves (1897) Assume o governo em um contexto de crise, devido a falta de disponibilidade em levantar recursos e a uma forte decadência do café. Sofre forte oposição e, em meio a impossibilidade de 9 7 - Bernardino de Souza Monteiro (1916-1920) A administração de Bernardino Monteiro passou por momentos que marcaram a história capixaba e brasileira, como por exemplo, a declaração de guerra do Brasil à Alemanha, em 26 de outubro de 1917, na Primeira Guerra Mundial e a Revolta do “Xandoca”, que eclodiu em Colatina, onde seus opositores, inconformados com a derrota política no estado, proclamaram um governo paralelo. Liderados pelo coronel Alexandre Calmon, que emprestou seu apelido para a revolta, resistiram por algum tempo rompendo relações com a capital, até o levante ser abafado. apoio do excelentíssimo senhor Rui Barbosa o Espírito Santo perde os territórios. A segunda questão territorial com Minas Gerais acabou conhecida como “GUERRA DO CONTESTADO”. O laudo pericial do Serviço Geográfico do Exército acabou sendo favorável ao Espírito Santo e concordou que a região a noroeste, mais precisamente na serra dos Aimorés, seria o limite natural entre os dois estados. Os representantes mineiros recorreram e alegaram que a serra dos Aimorés legalmente não existia e acabaram conseguindo a impugnação do laudo. Por final, em 15/09/1963 sai um acordo (Acordo de Bananal) em que o Espírito Santo perdia Mantena, mas garantia Mantenópolis e Barra de São Francisco. 8 - Florentino Avidos (1924-1928) Florentino Avidos buscou privatizar todos os investimentos industriais que estavam sob administração estatal. Em seu histórico administrativo destaca-se a geração de infraestrutura, principalmente na construção de importantíssimas pontes, tais como: a ponte sobre o rio Doce em Colatina (ponte Florentino Avidos), sobre o rio Itabapoana ligando o Espírito Santo ao Rio de Janeiro, a ponte Florentino Avidos de Vitória, a ponte sobre o rio São Mateus em Nova Venécia e sobre o rio Itabapoana, na estação Bananal. Entre outros feitos inaugurou o teatro Carlos Gomes, abriu estradas entre Colatina e Nova Venécia, eram os chamados “caminhos de penetração” (vitais para o escoamento e integração) cortando a “zona desconhecida” (referência para essa região que ainda era timidamente povoada). Florentino Avidos como um administrador solidário ao governo federal, enviou 321 homens da força pública do estado para São Paulo, com o objetivo de colaborar no apaziguamento da Revolução Paulista de 1924, contexto do Movimento Tenentista. OBS.: entre o período de assinatura do acordo definitivo, a região citada viveu um longo período de dupla jurisdição e atritos entre as polícias mineira e capixaba, chegando até a serem registrados conflitos armados. As questões territoriais capixabas que envolvem a Bahia, estão relacionadas à bacia do rio Mucuri e do rio São Mateus. Como divisas naturais, cada estado tentou estender ao máximo suas fronteiras. O Espírito Santo reivindicando a fronteira no vale do Mucuri e a Bahia o vale do São Mateus. Com o impasse, foi estabelecida uma jurisdição temporária sobre a região durante a administração de Florentino Avidos em 1926, até que ocorra uma demarcação definitiva dos limites. 6 - O Conflito na Região do Contestado Na década de quarenta, chega à Cotaxé (noroeste do Espírito Santo – Ecoporanga) um jovem baiano chamado Udelino Alves de Matos. Com inspirações messiânicas, como as de Antônio Conselheiro, Udelino propõe aos camponeses a criação de um Estado alternativo, um “paraíso terreno”, com terra para todos. Esse seria o Estado União de Jeováh, com capital em Cotaxé. Depois de uma suposta audiência com Getúlio Vargas, Udelino consegue atuar com mais audácia, liderando camponeses na apropriação das terras da região e intensificando as tensões do lugar. Depois do suicídio de Vargas suas “garantias” acabam e sua milícia que chegou a contar com aproximadamente 800 pessoas, foi desbaratada pelas forças oficiais de MG e ES, que se uniram, apesar da indecisão da jurisdição sobre a região. Udelino consegue fugir, mas não volta a liderar os posseiros, e depois desse fato não se ouve mais falar dele. 9 - Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930) Seu governo foi marcado pela perseguição aos partidários da Aliança Liberal no estado (movimento de oposição à situação) e acabou sofrendo grande oposição quando um comício promovido pelos aliancistas nas escadarias do Colégio do Carmo foi duramente reprimido, fato ocorrido em 13 de fevereiro de 1930 e acabou entrando para a história como o MASSACRE DE 13 DE FEVEREIRO. O saldo ficou em quatro mortos e onze feridos à bala e a patadas de cavalos. Ainda em 1930, tropas revolucionárias invadiram o Espírito Santo em três frentes: uma ao sul que ocupou Cachoeiro de Itapemirim e duas pelo oeste, uma com destino à Afonso Cláudio e outra à Vitória. Com medo, Aristeu Borges fugiu no cargueiro italiano Atlanta. Punaro Bley dominou a capital e estabeleceu a 19 de outubro uma Junta Governativa composta por Punaro Bley, João Manuel de Carvalho e Afonso Lírio. A revolução estava concluída, era o início de uma nova fase da história do Espírito Santo. OBS.: foi estabelecida pela Assembléia Legislativa de Vitória uma CPI para apurar as atrocidades cometidas por policiais na região/ essa CPI chamou o movimento de “Nova Canudos”. 10 10 - João Bunaro Bley (1930-1943) Divisão Administrativa: Primeira Interventoria 1930 - 1935 Fase Constitucional 1935 - 1937 Segunda Interventoria 1937 – 1943 Assumindo a administração em um momento turbulento e se comprometendo em sanar as dívidas assumidas pelo estado no seu projeto político, Punaro Bley iniciou uma política de redução dos gastos públicos, que chegou em alguns setores, a um corte de 67% do orçamento do governo, desenvolvendo um conjunto maciço de demissões de “apadrinhados” das oligarquias cafeicultoras. Sob um novo estigma político, dois novos partidos se destacam: PARTIDO DA LAVOURA (PL), integrado por pessoas de destaque de momentos anteriores da política capixaba, como a família Monteiro e o PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO DO ESPÍRITO SANTO (PSD), integrado por Punaro Bley, Jones dos Santos Neves, Carlos Lindemberg, Fernando de Abreu e outros. Bley defendeu um projeto de diversificação da economia capixaba e investiu em cacau, feijão, milho, mandioca, criando a Escola Prática de Agricultura de Santa Teresa e o Instituto de Crédito Agrícola do Espírito Santo, que tinha por finalidade subsidiar as plantações. Essa instituição futuramente se transformaria no “BANESTES”. Isso confirma uma iniciativa voltada exclusivamente para o campo, ainda sem uma política decisiva de investimentos na indústria. 11 - Governos de Carlos Linderberg (1947-1951 e 1959-1962) Primeiro Mandato 1947-1951 desenvolveu uma política de equilíbrio das finanças do tesouro estadual concluiu a ligação rodoviária entre Vitória e o Rio de Janeiro colaborando com a integração interestadual. planejou e iniciou as obras de construção da ponte sobre o rio Doce na cidade de Linhares. criou a Faculdade de Medicina do Espírito Santo. construiu estradas de Colatina à Vitória, São Domingos e Barra de São Francisco para promover uma maior integração do norte do estado e facilitar o escoamento da produção, principalmente de café. Segundo Mandato 1959–1962 ampliação da rede escolar principalmente nas zonas rurais. construiu um hospital para tuberculosos em Colatina. forte geração de infraestrutura, como: serviços sanitários, abastecimento e eletrificação. influências da política federal - PLANO DE METAS DE JK. Dividida em três fases: A. Expansão da Companhia Ferro e Aço de Vitória em 1959. (COFAVI / Belgo Mineira). B. Privatização da Fábrica de Cimento Portland, a “Barbará” S/A, de Cachoeiro e isenção de impostos por um prazo de 20 anos, através da Lei 1.531 de 24 de outubro de 1960. C. Programa Nacional de Erradicação dos Cafezais Improdutivos: desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) e gerenciado pelo GERCA (Grupo Executivo de Recuperação Econômica). Erradicaram aproximadamente 54% dos cafezais capixabas. Repercussões da Segunda Guerra Mundial no Espírito Santo Grande parte dos imigrantes vindos para o Espírito Santo tinham fortes influências do fascismo italiano, do nazismo alemão, do salazarismo português e do franquismo espanhol. No Espírito Santo, o movimento integralista se desenvolveu maciçamente na região colonizada pelos europeus como: Castelo, Conceição do Castelo, Santa Teresa, Ibiraçu, Colatina, Marilândia e Rio Bananal. Após o torpedeamento do navio Tamandaré em 30 de julho de 1942 e o Itajubá em 15 de agosto (saiu de Vitória com destino à Salvador e teve 31 desaparecidos dos 121 embarcados), supostamente pelos submarinos alemães, são iniciadas manifestações contra o Eixo e são levantados supostos traidores da pátria. Muitos imigrantes foram presos e por um decreto as propriedades dos “QUINTA COLUNAS” (imigrantes perseguidos acusados de espionagem) foram confiscadas para pagar os danos causados pelos seus respectivos países ao nosso governo. 12 - Jones dos Santos Neves (1951-1954) Jones dos Santos Neves investiu maciçamente no campo industrial e a articulação habitual com os produtores de café foi relegada a segundo plano. Essa administração teve uma inspiração muito forte nas propostas capitalistas do século XX, tais como a política do “ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL” (welfare state). Isso já demonstrava parte dos ideais propostos por Jones, que ainda passariam pelo aumento da arrecadação e nesse período o Espírito Santo chegou a ser o sétimo estado em volume de receita arrecadado no Brasil. Com esse capital e mais ajuda do governo federal e setores externos, puderam ser desenvolvidos projetos marcantes na história do Espírito Santo. 11 Plano de Valorização Espírito Santo Econômica do Principais feitos segundo mandato: administrativos do REFLEXOS DO PLANO TRIENAL DO PRESIDENTE JOÃO GOULART: os projetos do Porto de Tubarão começaram ainda na segunda administração de Lindemberg, mas tiveram grande prioridade na administração de Chiquinho em 1963. conclusão das obras das BR 101 e BR 262, agilizando a economia e diversificando o mercado capixaba. Eletrificação: construção de usinas (EX:Rio Bonito); criação da Espírito Santo Centrais Elétricas S.A, que na administração seguinte seria posta em atividade e ficaria mais conhecida por ESCELSA. Obras Portuárias: criação de infraestrutura para reforma de embarcações; Transportes: grandes investimentos em vias rodoviárias em Baixo Guandu, Colatina, Vitória, São Mateus, Cachoeiro do Itapemirim, Alegre e Guaçuí. Em um depoimento do próprio Chiquinho ele pergunta a um coronel o motivo dele ser um indivíduo nocivo à revolução; a resposta foi surpreende: “ – O senhor é muito ligado ao povo.” Saúde: criação do hospital colônia Adalto Botelho. O Golpe Militar de 1964 Os Novos Rumos da Política Capixaba Educação: Criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) e grande ampliação da rede de ensino pública. O prédio da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras(FAFI) foi cercado pelos militares e invadida. Surgiram denúncias da existência de contrarevolucionários no corpo de alunos e a instituição passou a ser constantemente fiscalizada depois disso, assim como outras entidades intelectuais que poderiam questionar o Regime Militar. Era o início de uma fase marcada pela industrialização, repressão e políticas de reconstrução econômica. Os “GOVERNOS BIÔNICOS” marcaram essa nova etapa da história do Espírito Santo. Os governadores Biônicos capixabas foram: 13 - Francisco Lacerda de Aguiar (1955-1958 e 1963-1966) Chiquinho desenvolveu um estilo próprio de governo que foi chamado por alguns de AGROPOPULISMO, devido aos investimentos no setor AGROPECUÁRIO e na sua POLÍTICA POPULISTA. Principais feitos administrativos do Primeiro Mandato: usina Hidrelétrica Mascarenhas no rio Doce construção da rodovia Guaçuí-AlegreCachoeiro e início das obras das rodovias BR 101 E BR 262, como proposta do PLANO DE METAS DE JK., para integrar o mercado brasileiro. Alargamento da ponte sobre o rio Doce em Colatina com o objetivo de ampliar o escoamento e acesso da região noroeste do Espírito Santo. criação oficial da ESCELSA em 06 de setembro de 1956. fundação da Fábrica de Chocolates Garoto criação de um Estaleiro Naval e uma política de valorização portuária. 15 - Governo de Christiano Dias Lopes Filho (1967-1971) Após a renúncia de chiquinho, uma lista com quatro nomes foi apresentada ao então Presidente da República, general Humberto Castello Branco. Na lista, constavam os seguintes nomes: João Calmon, João Gilberti, Jeferson de Aguiar e Christiano Dias Lopes. Palavras do governador Christiano na tentativa de desvencilhar seu nome dos populistas: “Meus adversários tentaram me descartar dizendo que eu era cria do Getúlio, devido ao meu relacionamento com Jones, que fora amigo do ex-presidente...”. Christiano Dias Lopes foi eleito pelo voto indireto e empossado em 31 de janeiro de 1967. Segundo o próprio Christiano, o Presidente só lhe fez um pedido: harmonizar a política do estado. No dia 15 de Agosto de 1967 jorrou petróleo no poço pioneiro da Petrobrás em São Mateus, o governador se encaminhou à região para ver de perto a boa nova, era uma excelente oportunidade econômica que se concretizava para o estado do Espírito Santo. OBS.: a questão fundiária era muito polêmica no período, pois desde a eliminação do Estado União de Jeováh, no final do governo Jones dos Santos Neves, em 1954, a atenção às instabilidades no campo cresceu – com destaque para a criação da SUPRA (Superintendência de Política Agrária) em 1962 e o Estatuto do Trabalhador Rural em 1963, pelo presidente João Goulart. 12 Destaque para a Expansão do Complexo Portuário 1º. 2º. 3º. 4º. governador propôs a demissão de 3000 funcionários públicos, o que gerou uma forte oposição ao seu governo, coincidindo com os movimentos que lutavam pela redemocratização do país. Podemos destacar como principais grupos de luta no processo de redemocratização no Espírito Santo: Porto de Tubarão Porto da Barra do Riacho Porto de Ubu Cais de Capuaba / melhorias IGREJA: a Comissão Justiça e Paz (CJP) “Só o povo salva o povo” / frase símbolo do movimento, Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), Comissão de Direito a Moradia (CDM), Comissão de Educação Popular (CEP), Comissão Popular de Saúde (CPS). 16 - Arthur Carlos Gerhardt dos Santos (1971-1974) Grandes empreendimentos como o PROJETO PILOTO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO (CST) e o CENTRO INDUSTRIAL DE VITÓRIA (CIVIT) são desenvolvidos nesse período e contam com recursos gerados pelo Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) e o Milagre Econômico Brasileiro. Incentivo à exploração de petróleo no norte do Espírito Santo (São Mateus) Plantio do café Conillon e incentivo à fixação do homem ao campo. Incentivo à exploração do mármore (granito e calcário), em Cachoeiro de Itapemirim no sul do estado. Grandes investimentos em eletrificação rural Investimentos em educação / escolas de ensino médio, chamadas na época de Escolas Polivalentes. Obras na Rodovia do Sol, já visando o mercado turístico litorâneo capixaba. Início das obras da Segunda Ponte, ligando Vitória ao continente. MOVIMENTO ESTUDANTIL: começou a ter grande expressão no Espírito Santo após a eleição do DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES (DCE) em 1978, que teve como vencedora a chapa presidida por Paulo Hartung. Desenvolvendo uma política de ação social cada vez mais forte, incluindo o socorro às populações afetadas pelas enchentes em 1979, o movimento estudantil ganhava cada vez mais influência política. MOVIMENTO SINDICAL: à medida que os militares “afrouxavam o regime” os trabalhadores ganhavam espaço para reivindicar seus direitos e nesse contexto surgiram importantes órgãos representantes dessas classes: Sindicato dos Jornalistas com Rogério Medeiros à frente, Sindicato dos Médicos com Vitor Buaiz na liderança e a Associação dos Docentes da UFES (ADUFES). 17 - Élcio Álvares (1975-1978) Defendeu intensamente a construção de uma terceira ponte entre Vitória e Vila Velha, já que a Segunda Ponte tinha uma função básica de desafogar a ponte Florentino Avidos e o centro de Vitória do fluxo que nesse momento já trazia as mazelas do progresso ao Espírito Santo. Os estudos para a construção da ponte começaram em 1975, mas só foi iniciada em 1979, sendo concluída em 1989. O próprio Presidente Geisel visitou o Espírito Santo sete vezes e foi parceiro no projeto de construção da Terceira Ponte, inserindo o Espírito Santo no Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) do Regime Militar. Outros projetos: finalização das obras da Segunda Ponte (Ponte do Príncipe) criação do transporte aquaviário projetos habitacionais construção do terminal rodoviário da Ilha do Príncipe criação de uma estrutura mais organizada para a distribuição do Hortifrutigranjeiro – CEASA (Centrais de Abastecimento / SA). 19 Governos da Fase de RedemocratizaçãoGerson Camata (1983-1986) A administração de Camata é marcada pelo contexto do período de sua eleição. A possibilidade de escolha de governadores trouxe uma esperança de melhoria mais efetiva para as sociedades capixabas e de todo Brasil. Principais feitos: além da eletrificação rural e das vias que interligaram o interior, garantiu recursos financeiros às prefeituras; criou linhas de crédito em diversos setores (proporcionaram crescimento, mas as custas de grande endividamento); conseguiu recursos da União e do BNDE para dar vazão às obras da Terceira Ponte; início da operação da CST em 1983 abandonando a condição de projeto piloto.. 20 - Max Mauro (1986-1990) A administração de Max Mauro é marcada por uma forte contenção de despesas que acaba promovendo um gasto de apenas 53% na folha de pagamento, fator que marcou seu governo. Nesse período é concluída a Terceira Ponte, fonte de orgulho capixaba e lindo cartão postal. Outros feitos administrativos: Início do TRANSCOL Acordos ambientais com CST e CVRD 18 - Eurico Rezende (1979-1983) Eurico Rezende foi o último governador indireto do Espírito Santo e arcou com a enorme responsabilidade de garantir o pagamento dos empréstimos feitos por seus antecessores. Marcado pela necessidade de ajuste das finanças, o então 13 Governos da Era Neoliberal e Globalização 21 - Albuíno Azeredo (1990-1994) A administração de Albuíno está inserida no processo de globalização desencadeado a partir de 1990 com a administração do presidente Fernando Collor. Entre inúmeras propostas de privatização destacamos a CST e a Escelsa, ambas contaram com protestos contrários à desestatização. Outros fatos importantes: Grande número de emancipações políticas (fragmentação do território / surgimento de inúmeros municípios novos) Grandes avanços na política de implementação do CORREDOR CENTRO LESTE. (Integração de portos capixabas com rodovias e ferrovias, visando principalmente, escoar a produção agrícola de GO, TO, MT, MG, MS e DF.) a) Explique o motivo que levou Portugal a escolher o sistema de Capitanias Hereditárias. b) Explique o motivo da escolha de Vasco Fernandes Coutinho como donatário da Capitania do Espírito Santo. c) Quais as motivações de Vasco Fernandes Coutinho ao aceitar a missão de colonização? 2. Sobre o nativo que vivia na região em que foi implantada a capitania do Espírito Santo: a) Indique um diferencial. b) Qual a relevância histórica dos botocudos? 3. “O Espírito Santo é a melhor e a mais rica capitania que há na costa do Brasil, porém, está tão perdida como o capitão dela, que é Vasco Fernandes Coutinho (...)” (Tomé de Souza – Carta ao rei D. João III). Corredor Centro-Leste Responda: a) Descreva os motivos do fracasso da Capitania do Espírito Santo: b) Que medidas foram tomadas por Tomé de Souza, então governador geral, em sua visita a Capitania do Espírito Santo para tentar contornar a situação? O Corredor Centro-Leste compreende a integração de vários estados com a finalidade de facilitar e dinamizar o processo de importação e exportação. Através da utilização de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Espera-se ampliar as relações da região CentroOeste e Sudeste com outros países, gerando empregos e aumentando a arrecadação governamental. A Logística de Transportes garantirá o sucesso dessa integração comercial. Nesse setor o Espírito Santo é privilegiado, pois contamos com duas grandes rodovias, a BR 101, que faz a ligação norte-sul e a BR262, que faz a ligação leste-oeste, sendo a mais importante via rodoviária do Corredor CentroLeste para o Espírito Santo. Com os novos interesses de ampliação do Corredor CentroLeste ao MERCOSUL, criando o CORREDOR ATLÂNTICO MERCOSUL, surgiram propostas de privatização das estradas brasileiras e no Espírito Santo já existe um projeto (atualmente estagnado) de venda da Br 101 Sul. Esse projeto, assim como outros, está paralisado, em parte, pelas atuais incertezas políticas e econômicas sobre o MERCOSUL. No ramo ferroviário o Espírito Santo conta com a Estrada de Ferro Vitória-Minas e com a Ferrovia CentroAtlântica S/A, que liga Vitória ao Rio de Janeiro. Ainda existem projetos para futuras ferrovias ligando o Espírito Santo de norte a sul (Litorânea-Norte e Litorânea-Sul). Finalmente a estrutura portuária, que atualmente é referência na América Latina. 4. Sobre a atuação dos jesuítas no Espírito Santo: a) Cite os principais feitos do padre Anchieta. b) Aponte características das principais fazendas especializadas no Espírito Santo. 5. Destaque a atuação da Igreja, em especial da figura do Frei Pedro Palácios e do Padre José de Anchieta no processo de pacificação do indígena na Capitania do Espírito Santo: 6. Defina “civilização carangueja”. 7. “As fases seguintes serão para o Espírito Santo um tempo de estagnação, sobretudo a partir do século XVIII, com a exploração do ouro do vasto sertão da capitania, que se estende para lá da muralha das montanhas. A partir daí, o Espírito Santo perde seu rico quintal, transformado em território das Minas Gerais ...” (Espírito Santo Impressões) Responda: a) Quais as medidas tomadas pela coroa que levaram o Espírito Santo ser conhecido como “BARREIRA VERDE” ou “ESTADO TAMPÃO”? b) Quais as consequências do êxodo do ciclo da mineração para o Espírito Santo? 1. A partir de 1530, Portugal inicia a efetiva colonização do Brasil, sendo dividido em 14 capitanias hereditárias e entregue a 12 donatários. A capitania que corresponde ao atual Espírito Santo foi entregue a Vasco Fernandes Coutinho, um importante combatente durante o processo de conquista portuguesa na África e Ásia. 8. Explique a relação entre a produção de café e o desenvolvimento do Espírito Santo? 9. Em que consistiam as Caixa de Emancipação? 10. Leia o texto abaixo, que foi retirado do livro Cotaxé, de Adilson Vilaça: 14 SECRETARIA DA AGRICULTURA, TERRAS E COLONIZAÇÃO SATC/53/131 13. O governo de Arthur Gerhardt durou de 15 de março de 1971 até 15 de março de 1974 e foi marcada pela alocação de recursos externos e a concretização de propostas estruturais para atrair projetos industriais. Cite, pelo menos, três fatores que servem como justificativa para a implantação dos Grandes Projetos Industriais: Vitória, 24 de fevereiro de 1953 Senhor Secretário: O Senhor Diretor da Divisão de Terras e Colonização acaba de me dar conhecimento dos expedientes que faço anexar por cópia, nos quais relata que grupos de homens armados, sob a chefia ou orientação de UDELINO ALVES DE MATOS – nas regiões de PEDRA DA VIÚVA, RONCO, 2 DE SETEMBRO, JABOTI e adjacências do município de Barra de São Francisco, procuram despejar posseiros das terras que ocupam e trabalham, sob o pretexto de que estão a mando do Presidente Getúlio Vargas e que são eles as únicas autoridades com atribuições de repartirem as terras. Um Agrimensor desta Secretaria, pelo menos, já foi forçado a suspender os trabalhos, o que denota a gravidade do acontecimento. Solicito a Vossa Excelência as medidas urgentes que o assunto reclama, apresento-lhe os mais. Atenciosos cumprimentos As) HERMES CURRY CARNEIRO – Secretário de Agricultura, Terras e Colonização em exercício. Responda: a) O que assemelhava o Estado União de Jeováh com o movimento de Canudos liderado por Antônio Conselheiro? b) Como terminam o sonho de Udelino Alves de Matos, em se criar o “paraíso terreno”? c) Por que os posseiros, que chegaram junto com Antônio Genuíno da Silva, foram considerados comunistas? 11. A política desenvolvimentista de Jones dos Santos Neves está baseada no projeto do Plano de Valorização Econômica do Espírito Santo, que podemos destacar como resultados: 12. Existe uma tendência no Espírito Santo: a concentração de investimentos na Grande Vitória. Os problemas da Grande Vitória estão ligados historicamente ao processo contemporâneo de industrialização no Espírito Santo (décadas de 1960 e 1970), o qual ocorreu num momento de crise na economia agrícola que contribuiu para uma política governamental favorável à industrialização e para mudanças na cidade de Vitória. Correlacione a política de industrialização com a crise na agricultura e com a acelerada urbanização de Vitória. 15