1 CEFAC Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica VOZ TIPOS DE MANIFESTAÇÕES VOCAIS NAS DISFONIAS PSICOGÊNICAS ADEMIR GARCIA BAENA CURITIBA 2001 CEFAC Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica VOZ 2 TIPOS DE MANIFESTAÇÕES VOCAIS NAS DISFONIAS PSICOGÊNICAS Monografia apresentada ao CEFAC - Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica para a obtenção do Certificado de Conclusão do Curso de Especialização em Voz ORIENTADOR: DR. VICENTE JOSÉ ASSENCIO FERREIRA CO-ORIENTADORA: DRa. SILVIA MARIA REBELO PINHO ADEMIR GARCIA BAENA CURITIBA 2001 3 Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar.Coragem para modificar aquelas que eu posso, sabedoria para distinguir umas das outras. 4 A voz é como uma flor, se cuidada, floresce. (Baena,2001) 5 AGRADECIMENTOS EDNA MARA BAENA Esposa presente e compreensiva pela importante ajuda na realização deste trabalho. MARCIA R. S. MONFRONI Fonoaudióloga, pela cooperação, meus agradecimentos. FRANCISCO PLETSCH Colega e grande amigo, pelo incentivo constante, o meu imenso agradecimento. DRA SILVIA M.R.PINHO Meu eterno agradecimento pelo seu incentivo e ensinamentos. A TODOS aqueles que diretamente ou indiretamente de alguma forma auxiliaram na realização deste trabalho. 6 SUMÁRIO PÁGINA INTRODUÇÃO.................................................................................. 01 OBJETIVO......................................................................................... 05 . LITERATURA.................................................................................... 06 Definição....................................................................................... 07 Etiologia........................................................................................ 12 Comportamento vocal................................................................... 18 Padrões laríngeos.......................................................................... 24 DISCUSSÃO...................................................................................... 29 . CONCLUSÃO.................................................................................... 33 RESUMO............................................................................................ 35 SUMMARY........................................................................................ 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 37 FONTES CONSULTADAS............................................................... 41 7 INTRODUÇÃO 8 O homem é um ser social e necessita da comunicação do mesmo modo que o corpo requer água e alimento para um bom funcionamento. A voz é uma das extensões e expressões mais fortes da nossa personalidade, revela aquilo que somos, elementos de natureza biológica, sócio-educacional e psicológica, sendo o meio essencial de comunicação interpessoal. Comunicar emoções é um dos eventos mais importantes do ser humano, a base de nossa sobrevivência e, nossa voz é o seu principal portador (BEHLAU & PONTES, 1995; ROY et al., 1997). Pela voz expressamos nossas emoções, sentimentos, nossa própria personalidade. Ela identifica o indivíduo, tanto quanto sua fisionomia e impressão digital. A pessoa que não pode falar, mas conservou a própria voz, pode ainda assim manifestar seu estado afetivo e até necessidades imediatas. A voz enriquece a transmissão da mensagem articulada, acrescentando à palavra o conteúdo emocional, o colorido, a expressividade. Falar bem com boa voz é o melhor predicado de um ser humano, dentro do mundo em que vivemos, onde a comunicação é cada vez mais importante. É claro que falar bem com boa voz, não se refere a um problema puramente “mecânico”. Por detrás disso, está o pensar e o sentir bem, ser gente e ter personalidade. A voz carrega mensagens muito mais amplas que a própria palavra. Ela pode desmentir a palavra, emprestar-lhe nova significação, simplesmente através de uma inflexão, através do tom de voz que se utilize, ninguém fala com a própria voz, isto mostra claramente as implicações psicológicas implícitas no diagnóstico e tratamento da voz (BLOCH, 1986). A voz é alterada no decorrer do dia, dependendo do contexto da mensagem, do estado emocional e de acordo com o contexto da comunicação, sobretudo no que diz respeito aos nossos interlocutores. 9 A comprovação da influência das emoções em nossa voz é uma observação simples, embora o processo de interferência seja bastante complexo (ROY et al., 1997). A voz é um produto de interação dinâmica complexa de fonação, respiração, ressonância e articulação que não pode ser tratada em segmentos. Assim as alterações em altura, intensidade e timbre não podem ser isolados. Desta forma devemos nos preocupar com o aspecto global da voz, pois ela revela saúde, cultura, região e o grau de segurança e confiança do ser humano. Os problemas vocais afetam a vida pessoal, social e sobretudo a profissional. Toda alteração é vivida com angústia e ansiedade (BEHLAU & PONTES, 1995). A voz humana é considerada por muitos como a válvula de emoção e uma janela para a personalidade, significando que é um canal de emoções e temperamento. Conseqüentemente, quando a voz é desordenada, processos psicológicos anormais são freqüentemente vistos como potencial mecanismos causais, como é muita vezes o caso na disfonia funcional, onde não existe nenhuma patologia estrutural ou neurológica visível para explicar a perturbação vocal (ROY et al., 1997). Desta maneira, variáveis psicológicas tem sido consideradas importantes na formação de padrões de comunicação de um indivíduo, o que envolve opções de tipo de voz, articulação, fluência da fala e linguagem. É fácil compreender a participação dos fatores psico-emocionais nas disfonias e, neste sentido, tem especial importância à integração corpo-voz e voz-personalidade (ROY et al., 1997). O indivíduo portador de uma disfonia, se vê privado da comunicação, há uma ruptura com sua vida profissional e social, pois sua performance está seriamente afetada, afastando-o de suas atividades, acarretando alterações 10 emocionais, levando-o a uma desestruturação de personalidade, comprometendo sua qualidade de vida. CASE (1995), ressaltou que embora a laringe seja uma estrutura biológica bem organizada e estável com complexo controle neurológico, vulnerabilidade para mudanças no estado emocional ou psicológico do individuo é um indicativo de estabilidade mental e psicológico. Se o estado emocional é causado pelo medo, raiva ou felicidade, a voz humana geralmente revela esta condição. Realmente é quase impossível para uma pessoa mascarar suas emoções através da voz. PINHO (1998) apud TARNEAUD (1941) definiu as disfonias como sendo uma “dificuldade na emissão da voz com suas características naturais” e podem ser classificadas em três categorias: disfonias funcionais, orgânicas primárias e secundárias. É importante ressaltar que nem todas as disfonias tem sua gênese em fatores psicológicos, mas provavelmente o estresse emocional é um denominador comum da maior parte das desordens vocais hipercinéticas, podendo afetar a tensão músculo-esquelética e induzir a um comportamento aberrante no uso da voz, o que, por sua vez, pode gerar uma laringopatologia funcional (BEHLAU & PONTES, 1995). As disfonias podem ter várias causas, entre elas as alterações psicoemocionais, as quais são responsáveis pelo aparecimento de um grande contigente de disfonias. Esse importante contigente de disfonias funcionais recebe o nome de disfonias psicogênicas e, embora a dinâmica psicofisiológica da emoção possa ser explicada por teorias, as relações entre esses processos e a voz ainda não estão bem esclarecidas. Assim variáveis psicológicas deverão ser analisadas, tanto no processo diagnóstico como na reabilitação (BEHLAU & PONTES, 1995). 11 OBJETIVO Obter informações sobre as características vocais, nas desordens de voz psicogênica, para possibilitar uma conduta mais adequada. 12 LITERATURA 13 DEFINIÇÃO KOUFMAN & BLALOCK, (1982), referiram que as disfonias psicogênicas apresentam um quadro clínico homogêneo, embora fatores intrínsecos (aspectos de estrutura de personalidade) e extrínsecos (situações de conflito) se apresentam de forma heterogênea HOUSE & ANDREWS (1987), definiram afonia psicogênica como uma condição que ocorre principalmente em mulheres, geralmente transitória e para a qual não há explicação física adequada. É freqüentemente considerada psicogênica por apresentar características peculiares, como, fonação sussurrada, movimentos característicos das pregas vocais no momento de tentativa de fonação e comportamento bizarro ou atípico. ANDREWS (1988), relatou haver um estímulo psicológico antecedendo as disfonias psicogênicas e não como sendo uma conseqüência das mesmas. O fator psicogênico como etiologia da disfonia psicogênica é atribuída a ausência de adequada exploração física, a incidência maior em 14 mulheres e quadro clínico transitório. De acordo com a visão psicanalítica, os sintomas das disfonias psicogênicas decorrem de conflitos nas relações interpessoais. Neste contexto incluem-se os indivíduos que apresentam dificuldades em expressar sentimentos de raiva e ódio. ARONSON (1990), utilizou o termo psicogênico para descrever aqueles transtornos da voz que se apresentam associados com estresse emocional agudo ou crônico, problemas de ajuste vital, utilização de sintomas vocais para benefício pessoal, neurose ou depressão. MILUTINOVIC (1990), concluiu que afonia e disfonia psicogênica são classificadas como fononeuroses devido ao fator psicogênico dominante na sua etiologia. Quando o fator estressante excede certo limite de duração, freqüência ou intensidade, ocorrerá prejuízo à saúde. Fatores psicossomáticos são considerados significativos no aparecimento das alterações laringológicas. GERRITSMA (1991), investigando a interferência dos aspectos de fragilidade e ansiedade social na disfonia psicogênica concluiu que o sintoma da disfonia pode ser visto como um sinal de uma reação extrema de introversão. Entende-se por disfonia uma deterioração da produção da voz, na ausência de enfermidade visível da mucosa, existindo movimento total das cordas vocais e completa conclusão da fonação. Atualmente, acredita-se que a terminologia mais adequada a ser empregada é afonia e/ou disfonia psicogênica, por ser o termo mais específico na classificação das disfonias e por não estigmatizar o paciente. O termo funcional tem sido utilizado para denominar todas aquelas disfonias em que não se pode determinar uma causa concreta, porém não existe um consenso 15 na terminologia empregada. A afonia e disfonia psicogênicas são geralmente consideradas como sintomas de conversão . GERRITSMA, (1991); ANDERSSON et al., (1992), definiram que a afonia e disfonia psicogênicas são geralmente consideradas como sintomas de conversão. A desordem vocal psicogênica é uma simulação inconsciente que resulta de uma inabilidade de confrontar conflito emocional, estresse ou insucesso pessoal. SCHALÉN et al., (1992), definiram disfonia psicogênica como sendo uma desordem vocal, onde observaram laringe normal, combinada com voz anormal (mutação, afonia ou disfonia) uma vez que sons laríngeos sem relação com o comportamento comunicativo, isto é, tosse, são normais. BEHLAU & PONTES, (1995), comprovaram a influência de nossas emoções em nossa voz, embora o processo de interferência seja bastante complexo. Da mesma forma é fácil compreendermos a participação dos fatores psicoemocionais na produção de uma disfonia, quando lembramos que a voz é o principal meio de comunicação interpessoal em todas as sociedades e um desvio nesse processo repercute na estrutura psicológica do indivíduo e vice-versa. A influência das emoções na voz ocorre em todos os falantes, mas torna-se de certa forma exacerbada no paciente disfônico, pois a alteração vocal ou expressa uma dificuldade de inter-relacionamento, ou acaba por gerar uma comunicação insatisfatória. FEIJÓ & KRIMBERG, (1996), relataram que afonia psicogênica é um dos mais intrigantes distúrbios vocais e uma das primeiras alterações vocais a ser descrita. No decorrer da história tal patologia recebeu várias denominações como afonia histérica, afonia de conversão, disfonia funcional e afonia funcional entre outros . 16 SARRIEGUI et al. (1996) apud LE LUCHE (1990), definiu que disfonia psicogênica é a alteração da voz de uma ou várias de suas características acústicas em relação com um processo de inibição psicológica. SARRIEGUI et al. (1996), observaram que por ser um caso de caráter psicológico, necessariamente não tem que corresponder a uma deficiência orgânica histérica da personalidade. Assim o termo mais adequado para definir esta entidade seria afonia de conversão, disfonia psicogênica é a alteração da voz de uma ou várias de suas características acústicas em relação com um processo de inibição psicológica. O termo utilizado, psicogênico, descreve adequadamente as deficiências orgânicas que se apresentam junto com estresse emocional agudo ou crônico, problemas de ajuste vital, utilização dos sintomas vocais para benefício pessoal, neuroses ou depressão. (BAKER, 1998), relatou que nos de casos de disfonia psicogênica utiliza-se um termo amplo para referir uma desordem vocal, o qual tem surgido como uma manifestação do desequilíbrio psicológico semelhante à ansiedade, depressão e desordem de personalidade . Atualmente, acredita-se que a terminologia mais adequada a ser empregada é afonia ou disfonia psicogênica, por ser o termo mais específico na classificação das disfonias e por não estigmatizar o paciente. Um termo mais específico de disfonia de conversão é usado para referir a desordem psicogênica vocal, que tem como critério psiquiátrico a verdadeira reação de conversão. Desordens vocais que existe na ausência de patologias orgânicas na laringe são referidas como funcional (uma desordem existe apesar da estrutura normal e função do sistema neuropsicológico), disfonias por tensão 17 muscular (produzido por ansiedade, estresse, depressão ou conflito interpessoal), disfonias histéricas, reação de conversão (ação que permite evitar um conflito interpessoal e/ou libertar-se de uma situação desconfortável) e disfonias psicogênicas. Assim, as ações da reação de conversão funcionam como defensiva e expressiva. 18 ETIOLOGIA ARONSON et al (1968), descreveu que uma alta porcentagem de pacientes com desordens vocais psicogênicas descrevem um inicio bastante rápido da disfonia,variando de algumas horas a alguns dias e acontecem depois de um resfriado, laringite ou gripe. A desordem vocal pode seguir enfermidades mais sérias como pneumonia ou cirurgias, particularmente aquelas da região da cabeça e pescoço. Estes eventos somáticos que antecedem inícios das desordens psicogênicas foram interpretados como causas adequadas ou razões físicas que a mente usa para justificar a desordem. ARONSON (1969), referiu que causas psicogênicas ou psicossomáticas de afonia ou disfonia podem ser subdivididas em extrema fadiga crônica geral, abuso vocal prolongado e estresse emocional agudo ou crônico. MILUTINOVIC (1980), citou como um fator causal da disfonia psicogênica os fatores iatrogênicos (após cirurgia laríngea) e causas orgânicas (após violento processo inflamatório da laringe) 19 TABITH (1980), relatou que as disfonias psicogênicas se originam a partir de distúrbios emocionais; reconheceu a importância das condições psicogênicas para a fisiologia vocal. Estas disfonias foram chamadas no passado de disfonias histéricas, por refletirem, em geral a conversão somática de um distúrbio psíquico, o termo histérico deve ser evitado pela conotação negativa que ele encerra. A disfunção da musculatura de origem psicogênica, pode se manifestar por excesso ou falta. Assim, as disfonias psicogênicas podem ser hipercinéticas ou hipocinéticas. BRANDI (1984), observou que a intima relação entre voz e as emoções são confirmadas pela afonia súbita que se segue a certos traumas psíquicos. Essa mudez emocional já era conhecida na antiguidade. O individuo cuja voz se deteriora é um indivíduo emocionalmente afetado, quer o distúrbio vocal seja a causa ou a conseqüência de seu estado psicológico. A voz é o primeiro elemento da profilaxia mental, pois evita que nos voltemos excessivamente para um mundo interior, para a alienação da realidade. SERRANO (1985), descreveu manifestações psicológicas presentes nas disfonias como, depressão, ansiedade e sintomas psicossomáticos. GREENE (1986), relatou que um distúrbio real ou estado psicológico real é reconhecido quando o indivíduo não se recupera após um certo período de tempo, permanecendo porém num estado prolongado de desequilíbrio que ameaça se tornar permanente. Persiste um clima que prejudica a saúde e a felicidade, a eficiência do trabalho e contatos pessoais. Com pacientes de distúrbios de voz de origem psicológica, freqüentemente encontrado, o problema se constata que tem raízes no distúrbio de relacionamentos pessoais. A falha no veículo da comunicação, a laringe, reflete a falha na comunicação com uma pessoa ou pessoas em particular. 20 Ansiedade, com falta de confiança e personalidade um tanto indeciso, depressão, desencadeariam os distúrbios vocais psicogênicos. ANDREWS (1988), acredita haver um estímulo psicológico antecedendo as disfonias psicogênicas e não como sendo uma conseqüência das mesmas. A ausência de adequada exploração física, a incidência maior em mulheres e quadro clínico transitório são as justificativas do autor para atribuir o fator psicogênico como etiologia da disfonia psicogênica. HOUSE et al (1988), relataram freqüente situação de estresse intenso e conflitos emocionais e determinaram a presença de certo grau de conflito ou preocupação quando compararam pacientes com disfonia psicogência frente a um grupo normal. KINZL et al. (1988), referiu que as disfonias psicogênicas são causadas devido a uma transformação de energia afetiva em detrimento de um enfraquecimento físico. E que danos à saúde ocorrerá em pessoas expostas ao estresse quando excede um certo limite, em duração, freqüência ou intensidade, desencadeando desordens vocais psicogênicas. KINZL (1988), relatou que os pacientes usam a afonia como expressão de sua ansiedade. A explicação sustenta que, o paciente ante uma situação de estresse crônico o conflito psicodinâmico inconsciente, vê sobrepassada sua capacidade para manter a estabilidade psíquica e somatiza seu transtorno no lugar de menor resistência física, revelando um transtorno de fundo psicológico. MILUTINOVIC (1990), afirmou que disfonia e afonia psicogênica são classificadas como fononeurose devido ao fator psicológico dominante na sua etiologia. GERRITSMA (1991), relatou aspectos de fragilidade e ansiedade social em pacientes com disfonia psicogênica, bem como os traços 21 de personalidade entre eles. Concluiu, entre os pacientes avaliados, que a maioria deles eram introvertidos e o sintoma da disfonia pode ser visto como um sinal de uma reação extrema de introversão. As causas de afonia e disfonia psicogênica são usualmente difíceis para descobrir. Os aspectos de fragilidade e ansiedade social em portadores de disfonia psicogênicas estavam presentes. No caso de muito tempo e de freqüentes recaídas sintomáticas torna-se difícil especificar as causas, o que facilitaria uma terapia mais eficaz. SCHALÉM & ANDERSON (1992), citaram como causas das disfonias psicogênicas, problemas envolvendo dificuldades nas relações pessoais, dentro da família ou com colegas de trabalho, estresse, problemas existenciais como ansiedade, medo do desemprego, ou relações pessoais insatisfatórias, problemas de identidade. SARRIEGUI (1994), observou que os transtornos seriam unicamente aqueles em que existe um fundo psicológico evidente como etiologia das disfonias psicogênicas, na sua forma mais representativa. BEHLAU & PONTES (1995), relatou que as alterações psicoemocionais são responsáveis pelo aparecimento de um contigente bastante grande de disfonias. É uma observação simples, comprovarmos a influência de nossas emoções em nossa voz, embora o processo de interferência seja bastante complexo. Da mesma forma, é fácil compreendermos a participação dos fatores psicoemocionais na produção de uma disfonia. CASE (1995), relatou que as desordens vocais ocorrem quando o controle vocal do tom, altura, qualidade ou ressonância é interrompido suficientemente para impedir a comunicação, devido ao desequilíbrio psicológico. Tal desequilíbrio pode ser o resultado de medo irreal, 22 ansiedade, depressão, indefinição sexual, conflito interpessoal, falta de autoconfiança. URRUTIKOETXEA (1996) apud PERELLÓ (1962), propôs o termo fonoponose para as disfonias originadas por um emprego inadequado dos órgãos fonatórios. A disfonia hipercinética e a hipocinética pertencem a este grupo. O termo fononeurose se reservaria para aquelas disfonias em que predominam os fatores psicológicos em sua gênesis e inclui a afonia e disfonia psicológica, assim como o falsete mutacional. ROY et al. (1997), considerou que processos psicológicos anormais são freqüentemente vistos como potencial mecanismos causais da disfonia psicogênica e muitas vezes precedidos por sintomas de infecção das vias aéreas respiratória superiores. Estresse e conflitos psicológicos são causas eminentes. ANDERSSON (1998), observou que o estresse social nas relações interpessoal na família, trabalho, frustrações externas associadas, foram interpretadas como uma reação somática por problemas emocionais, embora os mecanismos patológicos estão ainda longe de serem entendidos. BAKER (1998), relatou que tipicamente as disfonias de conversão originam-se de reações positivas ou traumas. Muitas vezes estão associadas com fadiga vocal extrema ou apresenta-se como um fenômeno de reação a um evento significante como aniversário, um choque ou uma profunda perda como a morte. 23 COMPORTAMENTOS VOCAIS A influência das emoções na voz ocorre em todos os falantes, mas torna-se de certa forma exacerbada no paciente disfônico, pois a alteração vocal ou expressa uma dificuldade de inter-relacionamento, ou acaba por gerar uma comunicação insatisfatória. Variáveis psicológicas têm sido considerados importantes na formação de padrões de comunicação de um indivíduo, o que envolve opções de tipo de voz, articulação, fluência da fala e linguagem. Particularmente quanto à voz, existem algumas relações básicas entre os ajustes motores empregados, certas características da personalidade do falante e o efeito causado no ouvinte. Os parâmetros mais flexíveis da qualidade vocal, são: a respiração, altura e extensão vocal; intensidade, ressonância, ataque vocal; e ainda, articulação, velocidade, entonação e ritmo da fala. Assim, a respiração indica o ritmo de vida; a altura vocal tem relação direta com a intenção do discurso; a extensão vocal relaciona-se ao caráter do falante e ao seu controle emocional; a intensidade traduz como o 24 indivíduo lida com a noção de limite próprio e do outro; a ressonância indica o conteúdo emocional do discurso e a tendência emocional do falante; a articulação diz respeito ao cuidado em ser compreendido e à quantidade de informações que se quer passar; finalmente, a velocidade e o ritmo da fala relacionam-se psicologicamente à noção de tempo interior e indicam também características de coordenação motora do falante. Algum desvio marcante da qualidade vocal, altura, intensidade ou entonação pode ser explicado como resultado de distúrbios ou adaptação psicológica não adequada. (BEHLAU & ZIEMER, 1987; BEHLAU & PONTES, 1990). ARONSON et al (1966), relataram pacientes apresentando mudez, fala sussurrada, fonação intermitente áspera, rouquidão, diplofonia e tom de falsete. ARONSON et al (1968), comparou algumas características vocais que eram comumente encontradas entre disfonia neurológica, disfonia espasmódica e disfonia psicogênica, onde observou pitch baixo, monopitch, tremor e aspereza. Relatou paciente com afonia psicogênica cuja característica vocal era voz sussurrada com articulação normal, e que este sintoma sozinho é forte indicativo de base psicogênica. ARONSON (1969), referiu que o paciente com desordem vocal psicogênica, tem sintomas vocais variáveis e que, embora mutismo e afonia ou voz sussurrada sejam descrições clássicas de quadros clínicos de distúrbios vocais de conversão, menores graus de alteração vocal podem manifestar também uma dinâmica psicossomática com base. Assim, por exemplo, rouquidão, soprosidade, aspereza, tremor vocal, pitch excessivamente alto ou baixo e diplofonia, entre outros, são alterações 25 vocais que podem estar relacionadas com fatores psicológicos e se apresenta isolado ou associadamente. TABITH (1980), referiu que o sintoma mais freqüente é alteração na qualidade vocal, que será diferente de acordo com o tipo de disfunção da musculatura fônica, podendo ser perda da voz súbita, fraca, sussurrada. GREENE (1986), relatou que a voz pode ser afônica, ruidosa ou apresentar uma qualidade particular em relação direta com o tipo de pseudoparalisia ou disfunção em evidencia. Em alguns casos participam as cordas vocais falsas e as verdadeiras, produzindo uma voz dupla (diplofonia), sendo que neste caso as falsas cordas produzem uma tonalidade mais profunda do que as verdadeiras. Quando as cordas vocais se encontram fortemente comprimidas pelas falsas cordas acima situadas, a voz apresenta-se alta e rouca, e isto, geralmente é conhecido como voz de banda ventricular. No sexo masculino percebe-se uma voz de falsete. Um indivíduo pode apresentar em diferentes ocasiões, diferentes variações vocais. Sob a tensão de uma cena emocional e com tensão da laringe, a voz pode falhar e após isto pode vir a se estabelecer uma voz rouca ou uma voz com mudanças de timbre flutuando rapidamente. Os pacientes disfônicos apresentam uma grande variedade dos mais interessantes e significativos sintomas vocais. SCHALÉN (1992), relatou ter observado mutismo, afonia ou disfonia; som laríngeo sem relação com o comportamento comunicativo, como, tosse, riso são normais. BOONE & McFARLANE (1994), desde a primeira infância e ao longo da duração de vida, o som das nossas vocalizações, com freqüência, espelham nosso estado emocional interno. O modo como nos sentimos 26 afetivamente pode ser ouvido no som da voz, assim como nas mudanças dos padrões rítmicos prosódicos da vocalização. BOONE (1994), ressaltou que na disfonia a fonação é preservada, mas perturbada na qualidade, tom e intensidade. De acordo com BEHLAU & PONTES (1995) há quadros típicos de disfonias psicogênicas que podem ser classificados didaticamente em cinco tipos, afonia de conversão, uso divergente de registros, falsete de conversão, sonoridade intermitente e espasmos de abdução intermitentes. Cada um desses tipos apresenta suas peculariedades e, que nessa categoria o exame laringológico oferece pouquíssimos dados. Obviamente, existe uma nítida discrepância, entre a queixa, a qualidade vocal observada e o exame laringológico. Na afonia de conversão (fala articulada) observou-se ausência total de qualquer som, estando presente apenas à articulação do som da fala. Na fonação sussurrada auditivamente observou-se som gerado pela fricção do ar expiratório em zonas de estreitamento ou interrupção de ar ao longo do trato vocal. O uso divergente de registros é uma das manifestações mais bizarras, onde a voz pode dar saltos de um registro a outro, mais comumente peito e cabeça, ou peito e falsete, podendo também ocorrer entre basal e peito. Do ponto de vista auditivo, o paciente com falsete de conversão apresenta sua emissão habitual em registro de falsete, em tons agudos e de fraca intensidade, por vezes com a presença de turbulência indicando tonicidade excessiva. Na sonoridade intermitente observa-se alternância surdo-sonora, em pequenas unidades de fala, tais como sílabas e palavras, ou ainda através 27 de uma alternância completa de trechos áfonos e sonoros, durante a conversação. Observa-se nos espasmos de abdução intermitentes uma fonação entrecortada, com períodos de afonia, fala sussurrada e sonoridade tensa. CASE (1995), referiu que a maioria das pessoas experimenta a frustração de perder o controle vocal em uma situação emocional. Os sintomas vocais envolvendo estresse, medo, raiva ou felicidade é experimentado por muitos e é normal. Porém, em muitas pessoas esses efeitos vocais são padrão e não exceção emocional. Observou elevação do tom e que a voz pode adquirir um leve tremor ou tremor vocal extremo ou ainda completa afonia. COLTON & CASPER (1996), encontraram uma ampla diversidade de padrões, incluindo afonia total, eclosões episódicas de vocalização explosiva alternando com extrema rouquidão, disfonia na qual as pregas vestibulares pareceram aduzir, voz cansada. URROTIKOETXEA et al (1996), observou que, o paciente utiliza uma voz sussurrada, intensidade muito baixa, ocasionalmente pode emitir algumas palavras em um tom mais elevado ou quase normal. Normalmente o riso esta presente e às vezes é possível cantar. BAKER (1998), relatou voz sussurrada, e muitas vezes os pacientes apresentaram total afonia, mutismo, voz de banda ventricular, voz de falsete com falhas no tom ou falsete vocal contínuo. PINHO (1998), divide as disfonias psicogênicas em dois subtipos: as conversivas e as recidivantes. O padrão recidivante normalmente é associado a um perfil psicopático, e o conversivo, às características histéricas. O aparecimento do distúrbio vocal é súbito e geralmente associado a algum fator desencadeante. Não há história prévia de alterações 28 orgânicas nem outros sintomas associados. No entanto pode ocorrer manipulação patológica dos sintomas pelo paciente, especialmente no padrão recidivante. Observou também que a qualidade vocal é caracterizada por afonia ou disfonia severa, com sonoridade pobre quando há voz. 29 PADRÕES LARINGEOS TABITH (1980), ressaltou normalidade da laringe e inclusive observou cordas vocais com mobilidade normal, sem sinais de paresia ou paralisia, o individuo pode tossir produzindo um som normal, que revela a possibilidade de funcionamento glótico. LE HUCHE (1990), relatou que na maioria dos casos as pregas vocais conservam sua cor normal e apresenta uma superfície lisa. Em um terço dos casos pode-se observar lesões diversas (nódulos, aspectos inflamatórios e irregularidades). Em outras ocasiões nota-se hiperemia laríngea junto com uma mucosa ressecada. KOUFMAM & BLALOCK (1991), definiram alguns achados laringoscópicos mais comumente encontrados em pacientes portadores de disfonia associados à tensão músculo-esquelético, entre elas as disfonias psicogênicas. Foi observada fenda glótica triangular posterior acompanhada da estroboscopia, de amplitude reduzida e assimetria da onda mucosa; aproximação de bandas ventriculares em variados graus; constrição 30 supraglótica antero-posterior parcial e fechamento supraglótico completo ou esfinctérico da laringe. Ao exame otorrinolaringológico (ORL) a laringe apresenta quadros distintos, de acordo com o tipo de alteração. Nas afonias de conversão em que ocorre a fala articulada, é comum observar as pregas vocais (PPVV), durante as emissões, em ligeira adução, mantendo a glote com área ampla, formando uma fenda triangular antero-posterior, por onde flui o ar, com pouco atrito e sem produção de som. Nas formas sussurradas há praticamente desaparecimento da glote fonatória com aproximação de PPVV, que se mantém acopladas firmemente, direcionando o fluxo de ar para a região respiratória, o chamado triangulo do sussurro, que se mantém aberta, ao fluir para este espaço reduzido, o ar fricciona produzindo a turbulência característica da fonação sussurrada. Ao exame ORL nos casos de falsete de conversão, observou-se laringe elevada e PPVV alongadas, afiladas com vibração restrita apenas à região anterior das bordas livres da mucosa e fenda à fonação, quadro compatível com emissão em registro de falsete, devido a uma hipercontração do músculo cricotireoídeo. Nos casos de sonoridade intermitente, ao exame ORL mostra uma laringe normal, mas com fenda posterior transitória ou momentos de abdução das pregas vocais durante a fonação. SCHALÉM & ANDERSSON (1992), relatou constatações anormais semelhantes com edemas, eritrema em margem de pregas vocais, nódulos, assimetria; alguns pacientes apresentavam adução e abdução de pregas vocais normais ao exame laringológico; observou também padrões de ativação anormal da mobilidade laríngea que foram identificadas como 31 alteração no fechamento glótico, ativação do esfíncter supraglótico e ausência de motivação para ativar a produção vocal. URRUTIKOETXEA (1994) apud GARDE (1963), em geral, chama a atenção à presença de uma diminuição da sensibilidade na área faringolaringea, que se evidencia durante a introdução do espelho laríngeo. Em outras ocasiões o paciente refere parestesia (queimação e “sensação de corpo estranho”), na citada região. BEHLAU & PONTES (1995), na afonia de conversão (fala articulada), observou-se visualmente fenda triangular em toda a extensão, ou fenda restrita à região posterior, com forte constrição laríngea, ao contrario da aparente passividade do paciente. Não ocorre nenhum movimento vibratório da mucosa e tanto a fonte glótica como as fontes friccionais estão inativas. Na fonação sussurrada, visualmente observou-se o desaparecimento da glote fonatória, com acoplamento firme das pregas vocais, direcionando-se o fluxo de ar para a região respiratória, configurando o chamado triangulo do sussurro; também não ocorre nenhum movimento vibratório da mucosa, mas as fontes friccionais estão ativadas. Observou-se ao exame laringológico no uso divergente de registro a laringe mudando de posição de acordo com o registro empregado, o que pode ser erroneamente classificado como apenas um exame de difícil execução, em paciente com reflexo nauseoso. No falsete de conversão observou-se laringe elevada, pregas vocais afiladas, fenda glótica constante, deslocando-se a vibração da mucosa para a região anterior das pregas vocais. O exame laringológico mostrou uma fenda posterior transitória, em maior ou menor grau, ou momentos de afastamento total de pregas vocais durante a fonação, naquele pacientes portadores de sonoridade intermitente. Nos espasmos de abdução intermitente, constatou-se períodos de fonação 32 normal alternados com movimentos glóticos espasmódicos e fendas diversas. CASE (1995), ressaltou que ao exame laringoscópico revelou estruturas essencialmente normais, sob emoção ou tensão, as funções da laringe normalmente não são afetadas, não colocando em risco a integridade do mecanismo de proteção. Em um estado emocional os pulmões são protegidos pela laringe mas a psique não, no entanto, a função vocal é anormal. PINHO (1998), observou que a laringoscopia pode ser normal ou evidenciar fenda glótica triangular posterior (com redução da amplitude e assimetria da onda mucosa), ou ainda, triangular em toda extensão (fenda paralela). Pode também ser observada constrição supraglótica anteroposterior parcial, projeção medial de pregas ventriculares ou inconsistência nos achados laringoscópicos. Nas disfonias de conversão é comum encontrar fenda triangular posterior grau II (conhecida também como fenda médio-posterior), ou ainda fenda triangular grau II. Outro tipo de fenda encontrada na afonia de conversão é a fenda triangular em toda extensão. A afonia de conversão tem etiologia semelhante à disfonia de conversão, entretanto, nesta situação as pregas vocais não se tocam e não há vibração, como se fosse um sussurro de ordem psicogênica (PINHO, 1998). Em alguns casos de disfonia psicogênica como o uso divergente de registro, freqüentemente encontrado em mulheres, que se apresentam com voz débil e/ou pouca projeção, dando a impressão de que falam chorando. A justificativa para tal achado consiste no fato de que, provavelmente, elas priorizam a contração do músculo cricotireoídeo durante sua emissão falada, trazendo pra regiões médias de sua tessitura do 33 canto ou falsete. No sexo feminino, podemos ou não encontrar fenda glótica em toda a extensão, neste tipo de padrão vocal. Na ausência de fenda glótica, ao exame nosológico, verificou-se redução da firmeza glótica com vibração de pequena amplitude das pregas vocais (PINHO, 1998). 34 DISCUSSÃO 35 A voz é um atributo altamente pessoal, todos temos características peculiares e individualizadas, ela revela o nosso eu, sua importância na comunicação é incontestável, através dela o homem pode manifestar seus conhecimentos e sentimentos. Alterações vocais são vividas com angustia e ansiedade, porque quando nos encontramos privados da comunicação nossa liberdade de pensamento está cerceada, sentimo-nos isolados, ilhados. ARONSON (1968), relatou pacientes que apresentaram voz sussurrada com articulação normal e, que através desse sintoma vocal há forte indicativo de uma disfonia psicogênica. BRANDI (1984), citou que o indivíduo cuja voz se deteriora é um indivíduo emocionalmente afetado, quer o distúrbio vocal seja a causa ou a conseqüência de seu estado psicológico; é alguém cuja vida pessoal, social e sobretudo profissional está em equilíbrio instável, procura dramaticamente reencontrar sua própria afirmação. A voz é o primeiro elemento da profilaxia da doença mental, pois evita que nos voltemos excessivamente para o mundo interior, para a alienação da realidade. A voz é muita mais rica de elementos comunicativos que a palavra propriamente dita. A intima relação entre voz e a emoção é confirmada pela afonia súbita que se segue a certos traumas psíquicos. BLOCH (1986), ressaltou que a voz é expressão sonora de nossa personalidade, e que ela é um verdadeiro barômetro emocional e que o equilíbrio de registros denota equilíbrio de personalidade. Cada pessoa tem uma voz tão própria, tão inconfundível quanto o rosto ou as impressões digitais. O indivíduo que tem sua voz alterada por uma rouquidão, de certa forma se despersonaliza, perde sua identidade e 36 isso mais do que qualquer outro fator atinge a quem sofre de transtornos vocais. BOONE & McFARLANE (1994), observaram que desde a infância e ao longo da duração de vida, os sons das nossas vocalizações com freqüência espelham nosso estado emocional interno, BEHLAU & PONTES (1995), observaram que é simples comprovarmos a influência de nossas emoções em nossa voz, embora o processo de interferência seja bastante complexo. Da mesma forma é fácil compreendermos a participação dos fatores psicoemocionais na produção de um disfonia, considerando que a voz tem uma função primordial nas relações humanas e um desvio nesse processo repercute na estrutura psicológica do individuo e vice-versa. Comparando os dados obtidos na revisão bibliográfica observamos unanimidade entre os autores que citaram os fatores emocionais como estresse, ansiedade, raiva, conflitos pessoais e medo como fatores causais da disfonia psicogênica. Nos indivíduos disfonicos essa influência torna-se de certa forma exacerbada, pois esta alteração vocal ou expressa uma dificuldade de inter-relacionamento, ou acaba por gerar uma comunicação insatisfatória. Os comportamentos vocais como soprosidade, pitch agudo, fraca intensidade, aspereza, rouquidão, voz sussurrada e afonia, foram citados pela maioria dos autores como característica de voz presente nos pacientes portadora de disfonia psicogênica. Portanto discuti-se a relevante importância em conhecer as características vocais presentes em uma disfonia psicogênica por parte do fonoaudiólogo, além de sua sensibilidade, o que facilitaria concluir 37 uma sensata hipótese diagnostica, traçando dessa forma uma conduta terapêutica mais eficaz. 38 CONCLUSÃO 39 A voz é emoção sonorizada, expressa nossa personalidade, através dela revelamos nossas idéias e sentimentos. Ela é como um cordão umbilical que nos mantém unidos à humanidade. Alteramos nossa voz de acordo com o que queremos expressar, alegria, tristeza, afetividade e outros sentimentos, através dela drenamos nossas emoções. A influência das emoções na voz ocorrem em todos os falantes, desequilíbrio nessas estruturas como ansiedade, angustia, depressão, conflitos pessoais e medo, se revelam na estrutura de personalidade, afetando de forma evidente a voz do indivíduo, cujos comportamentos vocais como voz de baixa intensidade, pitch agudo, soprosidade, rouquidão, aspereza, afonia e principalmente voz sussurrada são características de uma disfonia psicogênica. Concluímos que é de grande importância que os profissionais que atuam na área de voz, especificamente que os fonoaudiólogos tenham conhecimento dos comportamentos já citados para que possam encarar com respeito, seriedade e acima de tudo com muita sensibilidade os indivíduos portadores de uma disfonia psicogênica, lembrando que não são apenas os distúrbios orgânicos ou funcionais que dificultam ou impossibilitam o processo de comunicação humana, mas os sentimentos, e as emoções são as bases de uma boa qualidade vocal. 40 RESUMO Com o objetivo de pesquisar as características da voz nos pacientes com disfonia psicogênica, realizou-se a presente revisão bibliográfica, abordando os aspectos etiológicos, definição, comportamentos vocais e laríngeos, com o intuito de definir uma hipótese diagnóstica o que facilitaria melhor conduta e precisão terapêutica. 41 SUMMARY With the objective of searching the voice features in patients with psychogenic dysphonia, there has been accomplished the present bibliographic revision, dealing with the etiologic aspects, definition, vocal and laryngeal conducts, within the intuit to determine a diagnostic hypothesis which better would facilitate the procedure and therapeutic accuracy. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSSON, K.; ELIASSON, I.; SCHALÉN, L. 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