UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CURSO DE PEDAGOGIA
ANA CLAUDIA BENHOSSE
O LEGADO DE FRIEDRICH FROEBEL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
MARINGÁ
2010
ANA CLAUDIA BENHOSSE
O LEGADO DE FRIEDRICH FROEBEL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para
a obtenção do título de Licenciada em
Pedagogia, pelo Curso de Pedagogia da
Universidade Estadual de Maringá.
Orientadora: Profª. Drª. Analete Regina
Schelbauer
MARINGÁ
2010
ANA CLAUDIA BENHOSSE
O LEGADO DE FRIEDRICH FROEBEL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do
título de Licenciada em Pedagogia, pelo Curso de Pedagogia da Universidade Estadual
de Maringá. Orientadora: Profª. Drª. Analete Regina Schelbauer.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Profa. Drª. Analete Regina Schelbauer
Universidade Estadual de Maringá
_________________________________________
Profª. Drª. Heloisa Toshie Irie Saito
Universidade Estadual de Maringá
_________________________________________
Profª. Drª. Maria Cristina Gomes Machado
Universidade Estadual de Maringá
Aprovada em _____/_____/_____
BENHOSSE, Ana Claudia. O legado de Friedrich Froebel para a educação infantil.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Universidade Estadual de
Maringá - UEM, 2010.
RESUMO
Neste trabalho procuramos relacionar o período histórico vivenciado por Friedrich
Froebel com as concepções educacionais que o levaram à criação dos jardins de
infância, para assim, destacar as contribuições que este educador alemão deixou para a
pedagogia atual na educação de crianças. Para tanto, este trabalho apresenta-se dividido
em quatro partes. Na primeira parte é abordado o contexto histórico que abrange o
período em que Froebel viveu. Na segunda parte, descrevemos a vida e obra deste
educador. Na terceira parte, tratamos dos princípios educacionais que fundamentaram
seu trabalho. Na quarta e última parte, procuramos destacar as contribuições de suas
concepções para a educação infantil. Com esse intuito, realizamos um estudo sobre o
livro A educação do homem, traduzido para a língua portuguesa em 2001, por Maria
Helena Câmara Bastos. Este livro foi escolhido como fundamentação teórica, por ser
considerado por estudiosos sua mais importante obra, no qual, a partir de sua profunda
filosofia da educação, nos proporciona o testemunho de seu pensamento educacional
nas primeiras décadas do século XIX. Nos estudos sobre a história da educação infantil
Froebel destaca-se pelo pioneirismo na criação dos Jardins de Infância (Kindergarten) e
por ser considerado como um dos primeiros a relacionar a educação ao desenvolvimento
da criança.
Palavras-chave: Friedrich Froebel; educação infantil; jardins de infância.
4
INTRODUÇÃO
Ao vivenciar a primeira década do século XXI, presenciamos uma expansão dos
estudos e pesquisas relacionadas à educação infantil. Este fato nos permite constatar um
discurso, muitas vezes generalista, no sentido de que, somente no presente, a educação
passa a se atentar às especificidades da criança. Ao analisar o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil1 (BRASIL, 1998), é possível observar a proposta de
educar por meio da ludicidade, utilizando-se dos jogos e brincadeiras como
instrumentos para desenvolver estas atividades lúdicas. Nos entanto, podemos, também,
encontrar estes conceitos no pensamento pedagógico do educador alemão, que viveu
entre os séculos XVIII e XIX, Friedrich Wilhelm August Froebel. Ele nasceu no ano de
1782 e morreu em 1852, aos setenta anos de idade e deixou consideráveis contribuições
no que diz respeito à educação de crianças. É considerado pioneiro na criação dos
jardins de infância e um dos primeiros na utilização da psicologia do desenvolvimento
como fundamento da educação.
Este educador viveu e produziu seu trabalho num período marcado por grandes
revoluções e transformações na sociedade, fato este que influenciou na construção de
seu pensamento educacional. Dessa forma, é preciso compreender que apesar da
pedagogia apresentar, em determinados pontos, a atualidade das concepções de Froebel,
devemos considerar que o período em que ele construiu seu pensamento educacional
difere em muitos aspectos do período no qual vivemos hoje. As características da
infância na época de Froebel são distintas daquelas que conhecemos no presente, assim,
é necessário que tenhamos a compreensão de que não podemos analisar um autor do
passado, tendo como pressuposto que suas teorias sejam ainda válidas em nosso
contexto histórico.
Froebel é considerado um clássico do pensamento pedagógico, destacando-se
como referência na história da educação. No entanto, ainda que seu nome seja bastante
conhecido entre educadores e profissionais da área, é possível observar que este
conhecimento, muitas vezes, é superficial. Com efeito, não possibilita ao professor
identificar a atualidade de seu pensamento na pedagogia presente.
1
Documento do Ministério da Educação que tem como objetivo proporcionar aos professores da
Educação Infantil orientações para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
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Durante o curso de formação de profissionais da educação, apesar de Froebel ser
estudado, isso ocorre em menções passageiras, sem que se tenha acesso ao contexto de
seu pensamento pedagógico. Dermeval Saviani no prefácio do livro de Alessandra Arce
A pedagogia na era das revoluções: uma análise do pensamento de Pestalozzi e
Froebel (ARCE, 2002a), pondera esta questão ao destacar que, embora que Froebel seja
um nome amplamente conhecido por educadores, concomitantemente, é um grande
desconhecido. Dessa forma, a partir desse trabalho de conclusão de curso, procuramos
desenvolver algumas considerações que possam colaborar para que essa lacuna seja
suprida, uma vez que este conteúdo é imprescindível para a formação do profissional da
educação.
Neste estudo, buscamos apresentar, dentro dos limites de um trabalho de
conclusão de curso, os princípios educacionais que fundamentaram a teoria de educação
de Froebel. As concepções educacionais deste educador alemão foram, para seu
contexto histórico (1782-1852) – e continuam sendo para a pedagogia atual –, um
importante referencial teórico. Sua filosofia da educação nos fornece um conjunto
teórico que permite uma reflexão muito pertinente sobre o cotidiano das escolas de
educação infantil.
Desse modo, o presente estudo é de cunho essencialmente bibliográfico, para
realizá-lo consultamos e analisamos, principalmente, a obra A educação do homem
(FROEBEL, 2001), assim como, pesquisamos outros autores que trabalham com o
pensamento educacional de Froebel. Utilizamos como referência: Alessandra Arce, que
escreveu dois livros que tratam sobre esta questão, A pedagogia na era das revoluções:
uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel (2002a) e O pedagogo dos jardins
de infância (2002b); Maria Helena Câmara Bastos que escreveu a apresentação e a
tradução da obra A educação do homem. Essa autora escreveu, também, Jardim de
crianças: o pioneirismo do Dr. Menezes Vieira (2001b); Franco Cambi, em seu livro
História da pedagogia (1999); o historiador Eric Hobsbawm, que trata do contexto em
que Froebel viveu e produziu seu trabalho em seu livro A era das revoluções (1997);
Lorenzo Luzuriaga, História da educação e da pedagogia (1984); Thaisa Neiverth e
Giselle Martins Gartner, no artigo Infância e educação na obra de Friedrich Froebel
(2005); Mario Aliguiero Manacorda, História da Educação (2006); Maria Lúcia de
Arruda Aranha, História da Educação e da Pedagogia (2006) e Heloisa Toshie Irie
Saito, que contribuiu com sua dissertação de mestrado intitulada História, Filosofia e
Educação: Friedrich Froebel (2004).
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Procuramos, assim, relacionar o período histórico vivenciado por Froebel com as
concepções educacionais que o levaram à criação dos jardins de infância, a partir dessa
relação, analisamos suas contribuições para a educação de crianças. Para tanto, este
trabalho apresenta-se dividido em quatro partes. Na primeira, abordamos o contexto
histórico, que abrange o período em que Froebel viveu; na segunda parte, descrevemos
a vida e obra deste educador; na terceira, tratamos dos princípios educacionais que
fundamentaram seu trabalho; na quarta e última parte, procuramos destacar as
contribuições de suas concepções para a educação infantil.
FRIEDRICH FROEBEL: CONTEXTO HISTÓRICO
O contexto histórico vivenciado pelo educador alemão Friedrich Froebel (17821852) foi marcado por muitas transformações e revoluções. Período este que, segundo o
historiador inglês Eric J. Hobsbawm (1997), foi identificado como A era das
revoluções. Hobsbawm utiliza este termo para se referir ao período de 1789 a 1848,
época da história européia marcada por muitas guerras e revoluções e que, em parte,
coincide com o tempo de vida de Froebel.
Entre as transformações e revoluções vivenciadas por Froebel é possível
mencionar a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, as Guerras Napoleônicas, que
trouxeram como principal consequência o triunfo da indústria capitalista, da liberdade e
igualdade para a sociedade burguesa liberal. Arce (2002b), ao tratar das relações do
mundo em 1789, esclarece que:
O mundo em 1789 era essencialmente agrícola, não havendo uma
diferença radical o homem do campo e o da cidade. Como os
transportes não eram muito desenvolvidos, o homem quase não se
deslocava, geralmente nascia, vivia e morria no mesmo local. Essa
pouca mobilidade, aliada à precariedade dos processos de circulação
de informação, tornava as pessoas muito pouco informadas sobre o
que acontecia para além do seu meio social imediato (ARCE, 2002b,
p. 18).
Dessa forma, era evidente o vínculo entre posse de terra e status social, do qual a
base era uma relação de exploração entre os que cultivavam a terra e aqueles que
produziam e acumulavam riquezas. Para Neiverth e Gartner (2005), ao mesmo tempo,
evidenciava-se a tendência de ascensão social e econômica dos cidadãos que se
dedicavam ao comércio, às manufaturas e às atividades intelectuais e tecnológicas. As
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pesquisas científicas deste período concentravam-se em torno dos interesses da
produção industrial, proporcionando um desenvolvimento econômico que privilegiava
as minorias.
Neste contexto, a Revolução Industrial – que teve início no final do século
XVIII na Inglaterra e se difundiu para outras regiões da Europa – tinha por finalidade os
interesses do
mercado.
Questões políticas e econômicas promoveram uma
transformação no modo de produção e de trabalho. Neste processo, houve uma grande
migração dos homens do campo para a cidade, o que, por um lado, resultou em um
desenvolvimento da produtividade econômica, por outro, não trouxe bons resultados
para os trabalhadores. As indústrias ofereciam condições de trabalho e salários subhumanos, eram exigidas qualificações diferentes das que os trabalhadores estavam
acostumados a exercer no campo.
Na Idade Moderna, o modo de produzir os bens materiais necessários
para a vida da sociedade transformou-se profundamente. Após o
prevalecimento da produção artesanal individual (ou de pequenos
grupos de iguais), que se realizava nas oficinas associadas às
respectivas corporações de rates e ofícios, passe-se a uma fase de
iniciativa do mercador capitalista que, esquivando-se às corporações,
destina a matéria-prima e o processo produtivo a indivíduos dispersos
e não-associados, mas controlados por ele. O momento sucessivo é o
da chamada cooperação simples, onde, sob novas relações de
propriedade e concentrando numa só oficina os artesãos antes
dispersos, o modo de trabalhar permanece essencialmente o mesmo.
Em um momento posterior, da cooperação simples passe-se para a
manufatura, com a qual se efetua uma primeira divisão do trabalho, ou
melhor, de rotinas operativas, dentro de cada setor de produção e de
cada estabelecimento, através do qual cada trabalhador realiza agora
somente uma parte do processo produtivo completo da sua “arte”. Por
último, devido à crescente intervenção da ciência como força
produtiva, passa-se ao sistema da fábrica e da indústria baseada nas
máquinas, em que a força produtiva não é mais dada pelo homem, mas
pela água dos rios, primeiro, e pelo carvão mineral, em seguida; e a
máquina realiza as operações do homem, já reduzindo a um simples
acessório da máquina (MANACORDA, 2006, p. 270).
A partir dos escritos do autor, é possível compreender que a Revolução
Industrial passa por fases de desenvolvimento de produção. Vai da produção artesanal
individual ao sistema da fábrica e da indústria fundamentado nas máquinas, reduzindo o
homem de agente da produção a um complemento da máquina. Na concepção de
Aranha (2006), a Revolução Industrial alterou a fisionomia do mundo do trabalho,
modificando profundamente as relações de produção.
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As novas máquinas modificaram profundamente as relações de
produção, com o desenvolvimento do sistema fabril em grande escala
e a divisão do trabalho. Na agricultura, a introdução de novas técnicas
e a aplicação de conhecimentos científicos ampliaram a produtividade.
Deu-se também uma revolução nos transportes, com o navio a vapor,
a construção de rodovias e ferrovias. Novas fontes de energia, como o
petróleo e a eletricidade, substituíram o carvão. Acentuou-se o
processo de deslocamento da população do campo para as cidades,
que passaram a concentrar grande massa trabalhadora (ARANHA,
2006, p. 200).
Essa nova organização social capitalista é identificada por Arce da seguinte
maneira: “a fumaça das indústrias e a exploração dos trabalhadores era o preço exigido
pelo capitalismo para a Revolução Industrial e todo o desenvolvimento econômico por
ela gerado” (ARCE, 2002b, p. 23). No entanto, esta exploração, e suas consequências
para a vida dos trabalhadores, mais tarde levariam o povo às Revoluções de 1848.
Enquanto a economia européia no final do século XVIII e primeira metade do
século XIX foi formada essencialmente pela Grã-Bretanha, a França fundamentou a
ideologia política da sociedade capitalista européia por meio da Revolução Francesa.
Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente
sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e
ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução
Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e
fábricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas sócioeconômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que
fez suas revoluções e a elas deu suas ideias [...]. A França forneceu o
vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a
maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o
conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os
códigos legais, o modelo de organização técnica e científica e o
sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia do
mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então
resistido as ideias européias através da influência francesa. Esta foi a
obra da Revolução Francesa (HOBSBAWN, 1997, p. 71-72).
Os princípios ideológicos de liberdade, igualdade e fraternidade eram elementos
defendidos pela Revolução Francesa, e sustentados pela burguesia que se apresentou
como classe revolucionária e aliada do povo, posicionando-se contra o antigo regime,
requerendo uma sociedade em que todos fossem livres e iguais. No entanto, esta união
entre pobreza e burguesia se apresentava um tanto quanto contraditória, afinal, a
burguesia não lutava por uma real igualdade entre todos os homens. Este fato pode ser
compreendido em determinado momento, quando surge o temor de que o proletariado
se revolte de forma incoercível, até mesmo contra a própria burguesia. Dessa forma,
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temendo a revolta do proletariado, a classe burguesa procurou pôr fim às revoltas
populares, antes que a situação se tornasse incontrolável.
A burguesia passava de classe revolucionária a classe conservadora;
instituía-se o novo regime sobre as estruturas do antigo e aos poucos
se retomavam antigas práticas para o restabelecimento da calma e do
domínio das massas insatisfeitas, iniciava-se o movimento de contrarevolução, ou seja, a tentativa da burguesia de dominar as massas
recorrendo a antigos preceitos provindos da Idade Média e do
Feudalismo tão combatido (ARCE, 2002a, p. 31).
No entanto, a insatisfação persistia e a crise econômica agravava-se. Em 1792,
manifesta-se uma segunda revolução, que atinge os anos de 1972 a 1799. Este período
ficou conhecido como radical e violento, do qual a guilhotina se tornou um símbolo.
Este período marcou o perigo de uma revolução social violenta, fato
este que nem a burguesia, nem os nobres ou o clero desejavam. A
burguesia defrontava-se, então, com um grave problema que a
impedia de alcançar a estabilidade política e proporcionar o avanço
econômico nas bases do programa liberal (ARCE, 2002a, p. 33-34).
Entretanto, Napoleão Bonaparte solucionou os problemas da burguesia, concluiu
a revolução, iniciando, assim, o regime burguês na França. O objetivo de Napoleão era
dominar toda a Europa e dessa forma as guerras continuaram até 1815, estendendo-se a
outros continentes. Conforme Arce (2002a), entre os anos de 1815 a 1848 o mundo foi
sacudido por três ondas revolucionárias: a primeira ocorreu de 1820 a 1824; a segunda
de 1829 a 1834; a terceira e maior onda revolucionária foi a de 1848, ocorrendo em
várias regiões da Europa e trazendo em questão o nacionalismo para regiões como a
Alemanha, divididas em muitos principados, que, passaram a compreender a
necessidade da unidade para o crescimento econômico.
A burguesia alemã não possuía a mesma forma de dominação exercida nos
demais países e não estava próxima dos ideais da Revolução Francesa. Dessa forma, era
considerada uma classe servil e manifestava uma completa ausência de orgulho civil.
Por este fato, a participação da Alemanha durante a Revolução Industrial e Revolução
Francesa, ocorre somente no momento de consolidação do regime burguês. Assim, as
diversas revoluções ocorridas em prol aos princípios de liberdade, fraternidade e
igualdade não fizeram parte das lutas alemãs. Como Froebel nasceu na Alemanha, e seu
país percorreu por todas estas intensas mudanças de uma forma particular todo esse
contexto influenciou, sobremaneira, sua concepção de educação.
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Além de consolidarem o regime burguês, os anos de 1789 a 1848
proporcionaram uma imensa produção intelectual e artística, no qual os artistas e
intelectuais eram diretamente inspirados pelos assuntos públicos. Estimulados tanto pela
Revolução Francesa como pela Revolução Industrial, pensadores e artistas buscavam
por meio da arte demonstrar algumas possíveis soluções para os problemas emergentes.
Um exemplo dessa reação, de acordo com Arce, “podemos encontrar no
desenvolvimento da ideia de infância como a portadora daquilo que haveria de melhor
na natureza humana e que estaria sendo corrompido ou sufocado pela sociedade”
(ARCE, 2002b, p. 31). Princípios como este, faziam parte de ideais de um amplo
movimento que se chamou de romantismo. Sobre esta questão, Cambi (1999) faz a
seguinte análise:
O século XIX abre-se com uma grande “revolução cultural”, herdeira
das vozes mais heréticas do iluminismo [...], bem como do espírito da
Revolução Francesa (ligado à ideia de liberdade), mas que se
contrapõe nitidamente a muita cultura setecentista pela sua referência
ao indivíduo e ao sentimento, à história e a nação, a tradição e ao
irracional, contra o predomínio da “crítica” e da “razão”. A nova
forma cultural- que abrangeu literatura e filosofia, ciência e arte,
política e historiografia, música e costumes, acendendo amplos
debates e operando uma transformação radical do gosto-qualificou-se
como “romântica”, remetendo às tradições da Europa cristã medieval
e exaltando os estados d‟alma indefinidos e conflituosos como
geradores da nova cultura [...], produzindo assim um estilo de
pensamento, em todo setor cultural, caracterizado por fortes tensões
ideais, por uma igualmente forte consciência histórica, por uma nítida
oposição aos aspectos menos “nobres” do processo de modernização
(a industrialização e a democracia, o tecnicismo e a massificação para
exaltar, ao contrário, os valores do sentimento, da pertença a uma
estirpe, da transcendência religiosa que ilumina e resolve o mistério da
existência, sempre dramática e lacerada, sempre ameaçada pela morte
(CAMBI, 1999, p. 414-415).
Para o autor, essa revolução cultural teve seu início na Alemanha e,
posteriormente difundiu-se pela Europa. No entanto, foi na Alemanha que a objeção ao
racionalismo iluminista foi mais marcante e onde os temas do romantismo
disseminaram com maior intensidade. Ainda conforme o autor, o romantismo foi um
acontecimento verdadeiramente europeu e influenciou com intensidade cada domínio da
cultura, até mesmo a educação. A partir desse movimento é possível observar um
período intensamente criativo da pedagogia moderna, que resultou numa nova
consciência educativa, direcionada às necessidades do povo e aos interesses da nação.
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No âmbito da pedagogia, o período romântico produziu uma
profunda renovação teórica - sobretudo teórica - que ativou, por um
lado, uma nova ideia de formação [...] ligada a uma nova concepção
do espírito humano (posto como centro do mundo, como presença
ativa, através de múltiplos itinerários da cultura e em luta contra
aquele mundo natural e histórico em que está imerso e que deve
tender a dominar), mas também da cultura e da história (vistas não
como entremeadas de erros, mas valorizadas em todos os seus
aspectos); por outro, uma reafirmação da educação, da relação
educativa, da escola e da família como momentos centrais de toda
formação humana e que devem ser assumidos em toda a sua complexa - problematicidade formativa, relativa - justamente - a uma
formação do espírito (CAMBI, 1999, p. 415).
As ideias disseminadas pelo movimento romântico sobre a infância
fundamentaram os trabalhos de diversos educadores, entre estes, Froebel. Ele acreditava
que a infância deveria ser entendida como o período mais importante da vida humana,
pois a criança continha os princípios de toda a bondade e pureza. Para Cambi (1999), é
com o pensamento educacional de Froebel que a pedagogia romântica atinge seu ponto
mais elevado, o que faz dele um pedagogo do romantismo.
FRIEDRICH FROEBEL: VIDA E OBRA
Friedrich Froebel nasceu no dia 21 de abril de 1782, na Alemanha, sexto filho do
pastor luterano Johann Jakob Froebel e de Jakobine Friedericke Hoffmann. Em 7 de
fevereiro de 1783, em consequência de problemas de saúde decorrentes do parto, sua
mãe veio a falecer, deixando Froebel com menos de um ano de idade. Em 1785 seu pai
casou-se novamente, logo após o casamento sua madrasta Sophie Otto teve seus
próprios filhos e direcionou seus cuidados para eles. Este acontecimento, aliado com o
fato de seu pai ser muito atarefado, fez com que ele crescesse independente e adquirisse
uma atitude autodidata. Apesar de seu pai ser um pastor muito ocupado, foi ele quem o
ensinou a ler, escrever e calcular. Sobre esta questão Arce faz o seguinte comentário:
Provavelmente a influência educativa que o pai exerceu sobre Froebel
foi muito além do ensinar a ler, escrever e calcular. Sendo pastor, é
provável que o pai tenha exercido sobre Froebel uma forte influência
educativa religiosa, o que viria e se refletir na grande importância da
religiosidade na concepção educacional de Froebel (ARCE, 2002b, p.
36).
No ano de 1792, Froebel mudou-se para Stadtilm e sob a proteção de um tio
materno fez a escola primária. Em 1797, já aos quinze anos, trabalha como aprendiz de
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um guarda-florestal para aprender o ofício, fato este que, segundo Bastos (2001a), teve
grande importância na sua formação espiritual, pois nessa experiência passou a
interessar-se pela natureza. Neste período, ocupou-se lendo livros de ciências naturais,
observando a natureza e montando coleções de pedras e mariposas. De acordo com
Liebschner (apud ARCE, 2002b), este contato com a natureza despertou sua curiosidade
e o desejo de ir à Universidade para estudar ciências naturais.
Em 1799, com o intuito de realizar seu desejo, retorna à casa paterna para obter a
autorização para ir à Universidade. Dessa forma, seu pai decide entregar a parte que lhe
cabia da herança deixada por sua mãe, para que, com esse dinheiro, custeasse seus
estudos. Assim, em outubro de 1799, Froebel matricula-se como estudante de filosofia
na Universidade de Jena. Além de estudar filosofia, dedicou-se também às ciências
naturais. A mineralogia se tornou sua paixão, levando-o a tornar-se membro da
“Sociedade para a Mineralogia”.
Neste período, Schelling (1775-1854) era professor de filosofia na Universidade
de Jena, fato este que, direciona Froebel a conhecer e se apaixonar por seus estudos. Em
especial pelas obras A alma do mundo e, Bruno e o princípio natural e divino das
coisas, que mais tarde influenciariam muito na formulação de suas ideias educacionais.
Em 1801 Froebel retorna à sua casa e no ano seguinte, em 1802, seu pai falece.
Devido a este fato, nada mais o prendia à sua aldeia. Em 1804 foi para Frankfurt com o
objetivo de estudar arquitetura e no decorrer deste período, preocupado com a sua
subsistência, procura uma vaga provisória de preceptor na escola modelo. Por meio do
incentivo de um amigo diretor, Gottlieb Anton Gruner, Froebel torna-se professor,
“levando junto a auto-educação e o auto-aperfeiçoamento que fizeram parte de sua vida
e que transportaria mais tarde para sua proposta educacional” (ARCE, 2002b, p. 41). No
ano de 1807, Froebel torna-se preceptor em tempo integral dos filhos da Baronesa
Caroline Von Holzhausen. Considerava-a um exemplo de mulher, admirava sua maneira
de ostentar a maternidade em toda a sua plenitude. Foi a Baronesa quem apresentou a
Froebel as ideias de Pestalozzi.
Froebel fazia de tudo para acertar o caminho pedagógico, apesar de
não haver lido, até aquele momento, nenhum livro de pedagogia. A
solução encontrada por ele era o mergulho nas próprias experiências
escolares, das quais trazia tristes recordações, que não gostaria que
também fizessem parte da vida de seus alunos. Nascia um educador
fruto da prática, que pruduziria toda uma metodologia de trabalho
baseada na prática (ARCE, 2002b, p. 41).
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Interessado em conhecer pessoalmente a obra de Pestalozzi, em 1808 Froebel foi
para Iverdon, Suíça, ao seu encontro, onde permaneceu por dois anos. No entanto,
durante este período surgiram constantes atritos entre Froebel e o educador suíço, o que
o obrigou a partir. Para Froebel, Pestalozzi reduzia o homem à forma como ele aparece
na terra, desconsiderando sua natureza eterna. De acordo com Arce (2002b), o educador
suíço envolvia-se nas discussões sociais e econômicas do período, considerando o
analfabetismo uma das causas da falta de oportunidades do povo. Dessa forma,
Pestalozzi acreditava que a leitura e a escrita deveria ser iniciada desde cedo com as
crianças, como o intuito de que o povo pudesse, dessa forma, almejar uma vida mais
justa e menos miserável. Contrariamente a esta posição, Froebel considerava que a
criança deveria ser livre para expressar seu interior por meio de atividades da infância,
como por exemplo, por meio das artes plásticas e do jogo, pois estas seriam atividades
naturalmente infantis e fontes da expressão natural da criança.
Froebel manteve-se alheio às questões sociais e econômicas do período, ele
estava voltado para a natureza e a busca da revelação do divino no humano.
Considerava que o homem deveria ser visto na sua natureza eterna, ou seja, discordava
do posicionamento de Pestalozzi e o considerava reducionista, “[...] pois ao preocuparse com a situação social dos homens, Pestalozzi estaria, segundo a visão de Froebel,
descuidando-se de algo maior, isto é, da espiritualidade do homem” (ARCE, 2002b, p.
42). Apesar das divergências ocorridas entre estes dois educadores, Froebel incorporou
muitos princípios do pensamento educacional de Pestalozzi.
Um destes princípios educacionais é o da „percepção‟, a partir dela deveria
basear-se toda a educação da primeira infância. Neste sentido, a percepção constituiria a
base de tudo para o conhecimento do mundo como para a linguagem, afinal esta seria a
representação dos objetos do mundo externo e das relações entre os mesmos. Um
segundo princípio incorporado por Froebel diz respeito à mulher, mais especificamente
à mãe, que teria um papel decisivo na educação infantil, sendo sua função desenvolver
atividades que explorassem o potencial da criança no que se refere às formas de
percepção do mundo exterior. Froebel considerava as mulheres educadoras natas, a
partir disso é possível compreender a centralidade do papel educativo da mãe na
educação da criança. Desse fato, decorre outro princípio da pedagogia de Froebel, o de
que saber educar é algo que se desenvolve espontaneamente, na prática, assim, a mãe
como educadora nata, só precisaria que seus atributos fossem despertados na prática
educativa.
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Em 1811, após afastar-se de Pestalozzi, retorna à Alemanha para estudar
ciências naturais na Universidade de Gottingen. Neste período, Froebel formula sua
filosofia da esfera, a „lei esférica‟, que passou a ser a marca pela qual o educador foi
reconhecido. “Esta lei representava, na forma esférica, o limitado e o absoluto, a
diversidade e a unidade. A forma esférica era a totalidade e a perfeição, devendo ser o
princípio fundamental da educação do homem” (ARCE, 2002b, p. 44). Em 1812, com o
objetivo de aprofundar seus estudos em cristalografia 2, vai para a Universidade de
Berlim estudar com o assistente do professor Sameul Weib, fundador da cristalografia.
No ano de 1813, alista-se como voluntário para participar da guerra pela
unificação alemã contra o avanço do exército de Napoleão. Neste período, Froebel
conhece seus companheiros inseparáveis e futuros colaboradores, Langethal,
Middendorf e Bauer, todos teólogos protestantes. Em 1814, após o término da guerra,
volta a Berlim com o objetivo de dar continuidade aos seus estudos universitários e
assumir o posto de inspetor do Museu Mineralógico.
No entanto, somente no ano de 1816 é que Froebel entrega-se, definitivamente, à
educação das crianças, fundando sua primeira escola em Griesheim, o Instituto Geral
Alemão de Educação, transferido no ano seguinte para Keilhau, uma pequena aldeia
próxima a Rudolstadt. A partir das experiências obtidas neste período como diretor da
escola em Keilhau, Froebel escreve diversas brochuras e em 1826, publica sua mais
importante obra: A educação do homem. Considerado pelos estudiosos seu grande livro
teórico, Froebel traz uma profunda reflexão sobre filosofia da educação, proporcionando
um valioso testemunho do período clássico da pedagogia, nas primeiras décadas do
século XIX.
No ano de 1837, em Blankenburg, Froebel funda o Instituto de Educação
Intuitiva para a Auto-Educação. Com isso, o educador alemão tinha como objetivo criar
um ambiente que proporcionasse materiais para a criança expressar de maneira intuitiva
seu interior. Para tanto, passou a trabalhar em uma oficina, planejando materiais que
pudessem servir para a este objetivo. Neste mesmo ano, o Instituto muda de nome e
passa a se chamar Instituto Autodidático.
Em 1838, com a criação de uma fábrica de brinquedos, Froebel deu início a
produção em série de brinquedos. Estes materiais foram chamados de dons, assim
denominados por Froebel porque seriam espécies de “presentes” ou “ferramentas”
2
Ciência que se ocupa dos cristais, das suas formas e estrutura, e das leis que regem a sua formação.
15
entregues às crianças para ajudá-las a descobrir suas próprias virtudes. Estes materiais
educativos se constituíam de diversas formas geométricas de madeiras e de material
explicativo sobre as diversas possibilidades de sua utilização, de modo que a criança
fosse estimulada a reproduzir atividades cotidianas de seu meio cultural.
Neste mesmo ano, Froebel passou a publicar, em seu jornal A Hora Dominical,
todas as informações a respeito dos dons, assim como a especificar os objetivos destes
brinquedos. Conforme as orientações de Froebel, cada dom deveria ser estudado por
meio de três situações consecutivas: a forma de vida, ou seja, a criança construiria
livremente formas que estão presente em seu cotidiano, como: mesas, cadeiras; a forma
de beleza, nesta forma a criança daria resolução às formas geométricas; e a forma de
conhecimento, na qual seriam explorados pelas crianças os mais variados conceitos
matemáticos, como: quantidade, volume, entre outros. Conforme o pensamento
educacional de Froebel, os dons proporcionariam os exercícios de interiorização e
exteriorização de conhecimentos pela criança.
Quando Froebel colocou seu foco educacional sobre os “dons” como
uma forma de desenvolver a criança brincando, ele o fez porque
achava que a única forma da criança desenvolver sua inteligência e
sua essência humana (que para Froebel era o mesmo que essência
divina) seria através de sua ação e para isso ela necessitaria de
materiais que a impulsionassem a agir. Esta não era uma questão só
de se construir brinquedos, mas sim de materializar estruturas
matematicamente perfeitas com as quais a criança poderia aprender
um material que fosse capaz de representar o que elas já sabiam e de
lhes ensinar algo novo, um material conseguisse externalizar o que
ocupava suas mentes, mostrando seus talentos (ARCE, 2002a, p. 193194).
Ao criar os dons, estava preocupado com o desenvolvimento da criança desde o
seu nascimento. No entanto, conforme ressalta Saito (2004), os dons froebelianos não
foram uma invenção puramente de Froebel, por meio dos brinquedos infantis de sua
época, este educador alemão realizou uma intensa análise, adaptando os brinquedos já
existentes a seus materiais educativos.
No mês de junho de 1840, na cidade de Blankenburg, Froebel fundou o primeiro
jardim de infância (Kindergarten), este se constituía em um centro de jogos organizado
a partir de seus princípios e era direcionado a crianças menores de seis anos de idade.
Ao criar o Kindergarten, Froebel durante vários meses buscou um nome que melhor se
adequasse a esse estabelecimento, afinal, seu propósito com o jardim de infância era
guiar, orientar e cultivar nas crianças suas tendências divinas, por meio do jogo, das
16
ocupações e das atividades livres. Ao escolher o nome Kindergarten, sua intenção foi
relacionar seus princípios educacionais ao cotidiano de um jardim de plantas.
Nesse sentido, ao criar na primeira metade do século XIX o sistema de jardins de
infância, Froebel designou este nome pelo seguinte fato: em um jardim, as plantas não
crescem de forma absolutamente selvagem, é um local no qual recebem cuidados
proporcionados pelos jardineiros. No entanto, ainda que o jardineiro tenha
conhecimento que ele tem o papel de proporcionar à planta todo o cuidado necessário
para seu crescimento e desenvolvimento, o seguimento natural da planta é que
delimitará quais atenções a ela deverão ser dispensadas. Froebel considerava o professor
como um jardineiro, sendo que, para ser considerado um „bom jardineiro‟ era preciso
que este soubesse ouvir as necessidades de cada planta, isto é, de cada criança e
considerar seu processo natural de desenvolvimento.
Entre os anos de 1843 e 1844, conforme Arce (2002a), vários jardins de infância
surgiram pela Alemanha, passando de quarenta instituições. Para tanto, Froebel sentiu a
necessidade de formar mulheres para trabalhar nestas instituições, dando início a cursos
de formação da „jardineira‟ (Kindergärtnerin).
É necessário ressaltar que a Alemanha enfrentava uma situação política de
caráter marcadamente reacionário após a revolução de 1848. Em 23 de agosto de 1851,
os princípios educacionais que alicerçavam os Kindergarten foram considerados
inadequados e julgados como pertencentes a partidos sociais democratas. Dessa
maneira, foram proibidos todos os jardins de infância na Alemanha. Em 21 de junho de
1852, Froebel faleceu, sem que seus jardins de infância tivessem voltado a funcionar.
Ainda que Froebel viesse a falecer antes mesmo que seus jardins de infância
fossem novamente abertos, este educador alemão obteve de muitas mulheres o auxílio
necessário para a continuidade e expansão de suas ideias pela Europa e Américas.
Dentre estas colaboradoras, algumas, em especial, colaboraram para que os princípios
educacionais froebelianos chegassem ao Brasil.
A primeira delas foi a Baronesa Von Marenholtz-Bulow (1811-1893) que, após
conhecê-lo, entrou em campanha para a disseminação dos Jardins de infância por toda a
Europa. Para a divulgação de suas ideias na América, Froebel contou com o trabalho de
Margarethe Meyer Schurz (1833-1876) que, em 1849, juntamente com sua irmã,
conheceu Froebel e passou dois anos em seu jardim de infância. Em 1851 sua irmã
organiza um jardim infantil na Inglaterra, no qual Margarethe trabalha até se mudar para
a América e levar em sua companhia os princípios educacionais deste educador. Na
17
América, Margarethe inaugura um jardim, no qual, pela primeira vez, Elizabeth
Peabody (1804-1894) toma contato com os trabalhos de Froebel e passa a estudá-lo. No
ano de 1860, Peabody abre em Boston o primeiro jardim de infância formal dos Estados
Unidos, neste estabelecimento trabalhou até 1867, quando iniciou uma viagem pela
Europa a fim de conhecer as instituições froebelianas. Em 1877, organiza a União
Americana Froebeliana, da qual foi a primeira presidente. Peabody também traduziu
algumas obras do educador alemão para o inglês.
Outra grande colaboradora foi Susan Elizabeth Blow (1843-1916), que abriu o
primeiro jardim infantil público dos Estados Unidos. Blow traduziu partes do livro de
Cantos da mãe e também escreveu uma introdução às ideias filosóficas de Froebel.
Segundo Arce (2002b), foi por meio dos trabalhos realizados por Peabody e Blow que
os princípios educacionais de Froebel chegaram ao Brasil.
No ano de 1875 foi aberto o primeiro jardim de infância no Brasil, era particular
e pertencia ao Colégio Menezes Vieira, localizava-se na cidade do Rio de Janeiro e foi
dirigido pela senhora Carlota Menezes Vieira, esposa do diretor Dr. Joaquim José de
Menezes Vieira. Essa instituição visava atender meninos de 3 a 6 anos, que pertenciam
à elite, as atividades eram relacionadas “[...] à ginástica, à pintura, ao desenho, aos
exercícios de linguagem e de cálculos, escrita, leitura, história, geografia e religião”
(BASTOS, 2001b, p. 32-33). Em 1896, cria-se o primeiro jardim de infância público do
Brasil, anexo à Escola Normal Caetano Campos na cidade de São Paulo, foi dirigido por
Gabriel Prestes.
PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS
Após retornar da guerra pela unificação alemã (1813-1815) contra o avanço do
exército de Napoleão, Froebel se entrega, terminantemente, à educação de crianças. Em
1816, cria sua primeira escola em Griesheim, o Instituto Geral Alemão de Educação,
transferindo-se no ano seguinte para Keilhau (1817-1831). Froebel trabalha neste
instituto por treze anos, colocando em prática suas formulações de educação. Resultado
de sua experiência como diretor, escreve uma série de brochuras. Mas, é no ano de 1826
que Froebel publica a obra A educação do homem. Na qual, de forma minuciosa,
apresenta sua filosofia da educação, sua teoria do desenvolvimento e as suas
experiências pedagógicas ministradas no instituto em Keilhau para o ensino primário.
18
Exceto as traduções parciais reunidas em um único trabalho intitulado Revista do
Jardim da Infância – elaboradas nos anos de 1896 e 1897 pela escola Caetano Campo,
primeira a introduzir no Brasil um Jardim de infância público (1896) –, no Brasil, A
educação do homem (2001) é a única obra de Froebel traduzida para a língua
portuguesa. Esta tradução foi realizada pela Profª Drª Maria Helena Câmara Bastos no
ano de 2001, pela editora UPF (Universidade de Passo Fundo).
A obra apresenta-se em trinta capítulos, que abordam respectivamente os
seguintes temas: a primeira infância; o menino; o garoto; a escola; o ensino da religião;
o estudo da natureza; as formas geométricas; as formas de vida; as matemáticas; a
linguagem; os sinais gráficos; a arte; meios de educação; o sentimento religioso;
máximas e orações; o cuidado do corpo; o mundo exterior; poesias e canções; exercícios
de linguagem; trabalhos manuais; o desenho; a cor; o jogo; histórias e contos; excursões
e viagens; os ensinos - aritmética; geometria; ensino da linguagem; escrita e, por fim,
leitura.
Na introdução Froebel apresenta subsídios, nos quais se fundamentam a
educação do homem. Ressalta que desenvolver a educação no homem é o caminho que
o direciona à vida. No entanto, é preciso fazer nascerem as energias existentes no
homem, propiciar a manifestação de sua lei interior, ou seja, o divino que há dentro de
cada um. Para adquirir o conhecimento do divino que há internamente, é necessário
refletir a respeito de seu fundamento e sua essência. Assim, a sabedoria da vida é
formada pelo conhecimento da lei interior e de sua aplicação, educar-se a si próprio e
aos outros, consiste na dupla ação da sabedoria.
A sabedoria da vida, e também toda sabedoria, é constituída do
conhecimento e de sua aplicação, de acordo com a consciência, de
acordo com o desenvolvimento de uma vida fiel à sua vocação, pura,
santa. Nesse sentido, ser um sábio é realizar a mais alta aspiração do
homem e o mais sublime ato de sua liberdade. Educar-si a si mesmo e
educar os outros - com determinação própria, liberdade e consciência
- é a dupla ação da sabedoria. Nasceu com a primeira aparição do
homem sobre a terra; existiu no primeiro brilhar da consciência
individual; porém, agora começa a manifestar-se como necessária e
como uma exigência humana geral, por isso, passa a ser
compreendida e praticada (FROEBEL, 2001, p. 23).
Nestes escritos, Froebel relaciona a educação à conduta do educador, descreve
que a educação é a mais alta aspiração do homem e o mais grandioso ato de sua
liberdade. No entanto, esta ação deverá ser realizada com determinação própria, com
19
liberdade e conhecimento, possibilitando ao homem ainda em formação manifestar o
divino e sua essência.
Desenvolver a educação é o caminho que conduz à vida, o único que
guia com segurança à realização das aspirações internas da natureza
humana e à realização também de suas aspirações externas; o único
que, mediante uma vida fiel à sua vocação pura, santa, leva à bemaventurança eterna. Portanto, o divino no homem, sua essência, deve
ser, mediante a educação, desenvolvido, exteriorizado e elevado à sua
plena consciência. O homem há de alcançar a livre-manifestação desse
elemento divino que nele atua expressá-la numa vida consciente e
livre. Também a educação, o ensino deve dar ao homem a intuição e o
conhecimento do divino, do espiritual e do eterno que existem na
natureza exterior, os quais constituem a essência dessa natureza e nela
se expressam de um modo permanente (FROEBEL, 2001, p. 23-24).
Conforme Bastos (2001) destaca, a partir dos estudos realizados a respeito dos
princípios educacionais de Froebel, é possível identificar o predomínio de sua trajetória
pessoal em sua teoria da educação. A ausência da mãe logo no seu primeiro ano de vida,
seu amor pela natureza, seu fundamento cristão e sua origem familiar, são fatos que
fazem parte de sua vida e que, de certa forma, são determinantes para formulação de sua
pedagogia.
Passaremos, na sequência, a tratar de alguns aspectos abordados pelo autor que
consideramos fundamentais para a compreensão de sua teoria educacional.
Em A educação do homem (2001), Froebel se aproxima em direção à utilização
de uma psicologia do desenvolvimento como fundamento da educação, isso ocorre por
meio da divisão do desenvolvimento da criança em estágios. Saito (2004), ao tratar do
desenvolvimento humano, destaca que a partir da concepção de Froebel este é “um
processo que se objetiva por etapas que não podem ser compreendidas como se fossem
distintas e independentes, para assim não perder o entendimento de que elas formam
uma sucessão contínua na evolução vital” (SAITO, 2004, p. 43). Dessa forma, na
educação de crianças, deveria se respeitar às especificidades de cada uma das etapas de
desenvolvimento.
Nesse sentido, no processo de educação, Froebel estabeleceu três etapas
contínuas de infância: a primeira infância, o menino e o garoto. Estes aspectos fazem
parte dos três primeiros capítulos de sua obra, nos quais se destacam situações próprias
de cada período. Froebel direciona a cada fase de desenvolvimento da criança, um
determinado tipo de educação, sendo necessário respeitar as especificidades de cada
estágio.
20
[...] convém considerar o desenvolvimento humano como uma
evolução que se inicia desde o primeiro momento e que se desenvolve
de maneira contínua e ininterrupta. Nada é mais prejudicial e
destruidor que estabelecer, na sucessão constante de cada vida, etapas
excessivamente separadas umas das outras, distinções e divisões que
nos impedem de ver o que há de contínuo, de perene em cada
evolução vital, o que constitui sua unidade e substância.
Especialmente errônea é a separação das diversas fases de
crescimento, das várias idades: menino e menina, adolescente, jovem
e moça, homem e mulher, ancião e anciã. Tais fases não estão
realmente separadas; a vida nos ensina que há descontinuidade entre
umas e outras, mas que essas fases formam uma sucessão realmente
indivisível. Quando se considera o menino, ou o garoto, como um ser
inteiramente distinto e separado do adolescente ou adulto, há o perigo
de esquecer o comum: o homem (FROEBEL, 2001, p. 36).
Apesar de Froebel destacar três etapas no processo de educação, é importante
ressaltar que ele não as diferencia, mas, sim, entende-as como um processo sucessivo,
no qual o período posterior depende do anterior. “Cada etapa servirá de base às
seguintes para dar-lhes o que elas pedem até chegar à plenitude: só um desenvolvimento
suficiente em cada idade assegura o desenvolvimento pleno na idade seguinte”
(FROEBEL, 2001, p. 38). Para o educador seria um erro a separação das diversas fases
de crescimento, uma vez que estas formam uma sequência indivisível, juntas formam o
todo, o homem.
Para o educador alemão, a primeira infância é o período de maior importância na
vida do ser humano, no qual se constitui a origem de todo processo que caracteriza o
indivíduo, ou seja, sua personalidade. Sobre esta questão Luzuriaga destaca que, “a
grande criação de Froebel, foi o haver visto antecipadamente o que os psicólogos
descobriram depois: que os primeiros anos de vida são os decisivos no desenvolvimento
mental do homem” (1984, p. 201). Neste sentido, é preciso que a criança seja
compreendida como um sujeito em formação, assim, os cuidados iniciais devem ser
uma preparação para os estágios seguintes.
A passagem a seguir descreve um trecho do capítulo „A primeira infância‟, nela
o autor salienta a importância de que os adultos apontem, para a criança, por meio da
palavra, as diferenças de seu próprio ser e do mundo exterior.
Apesar de composto dos mesmos objetos de uma mesma relação, o
mundo começa a sair do nada para a criança como uma forma
nebulosa, como uma confusão caótica. O mundo exterior e a criança
se confundem: entre eles não se pode estabelecer uma distinção
precisa. Essa separação só começa a manifestar-se quando os objetos
21
se destacam por meio da palavra, que vem - sobretudo dos lábios da
mãe e do pai - distinguir progressivamente para a criança seu próprio
ser e o mundo exterior, mostrando-lhe a pluralidade de suas
manifestações. Dessa maneira, a criança passa a adquirir consciência
de si mesma - como uma coisa claramente separada, completamente
distinta das outras (FROEBEL, 2001, p. 43).
A
pedagogia
froebeliana
sustenta
uma
educação
fundamentada
no
desenvolvimento espontâneo da criança, ou seja, uma educação que não determine à
criança algo que não seja resultado natural de seu desenvolvimento. Para Froebel a
educação deve seguir o livre desenvolvimento. O determinismo deveria ser utilizado
somente no caso de alguma criança se afastar de seu processo natural de
desenvolvimento. No entanto, retornando ao seu processo natural, esta forma de
educação deveria ser eliminada.
Todo professor que tente ensinar racionalmente, segundo a natureza,
com entusiasmo e amor, terá notado com dor isto: sempre que não
identificar esse momento de ramificação, ou que tenha provocado
curiosidades em momento inoportuno, fatigar-se-á e trabalhará
inutilmente, carecendo de valor seu ensino. No entanto, a observação
do instante preciso e do lugar em que se produza, com um novo ramo,
um objeto novo de ensino, é importantíssima para um ensino vivo.
Determinar e ver esse ponto de partida é essencial de um ensino
racional e progressivo; se isso se consegue, a matéria que se ensina
desenvolver-se-á conforme suas leis próprias, como um todo vivo e
independente, semente de ensino para o professor (FROEBEL, 2001,
p. 163).
Uma das principais mensagens de Froebel para os educadores foi indicar que o
principal requisito para o sucesso da educação era ouvir o conhecimento da criança,
afinal, a aprendizagem deveria sempre proceder daquilo que o indivíduo possui como
conhecimento prévio. No entanto, a iniciativa para que este processo se inicie deve
partir da criança, é papel do adulto apenas satisfazer e incentivar a sua curiosidade
natural.
Froebel defendia que a escola deveria estar relacionada com a vida, neste
sentido, era preciso que todas as situações cotidianas levassem a criança a pensar. O
conhecimento essencialmente deveria ter início em alguma coisa que as crianças
conhecessem e sobre a qual elas tivessem a oportunidade de operar. Conforme Arce
(2002a) exemplifica, as montanhas, as colinas, os rios serviam para o aprendizado da
geografia, os insetos e as árvores para o estudo de ciências naturais.
22
Quando o garoto entra na escola, começa a perceber, além do aspecto
externo das coisas, o aspecto superior e espiritual. Esse caminho,
desde o aparente e superficial até o interno, chegando pouco a pouco
ao verdadeiro conhecimento, à compreensão justa, à consciência clara
da realidade, esse caminho da vida doméstica à vida social converte a
criança em escolar e faz a escola merecer ser chamada escola. A
escola não é digna desse nome quando se limita a ser um
estabelecimento onde se ensina uma quantidade menor ou maior de
conhecimentos particulares e exteriores. A escola só pode ser escola
quando estiver impregnada por vivências e espiritualidade que
envolvam e transfigurem todas as coisas. Não esqueçam isso aqueles
que estão encarregados de organizar e dirigir nossas escolas. A escola
só pode ser escola se pressupuder uma clara consciência de que, sendo
intermediária entre o aluno e o mundo exterior, busque unificá-los mantendo o essencial dos dois, e fale ambos os idiomas para facilitar
como intérprete a mútua compreensão (FROEBEL, 2001, p. 86).
Froebel considera o jogo no sentido de atividade lúdica, como seu grande
instrumento pedagógico para a concretização do autoconhecimento com liberdade. O
jogo juntamente com os dons, proporcionaria a mediação para o autoconhecimento.
Froebel destaca a importância do jogo no desenvolvimento infantil, que além de ser um
mecanismo que a criança utiliza para representar situações cotidianas e expressar como
vê e pensa o mundo. É um meio de trabalhar com a criança as questões morais
necessárias para o convívio social em harmonia, desenvolvendo suas características
humanas, proporcionando à criança um modo de defrontar-se com o papel que cada
indivíduo exerce dentro da sociedade. Sobre a função dos jogos, ressalta:
[...] o jogo deve acrescentar o seguinte: os jogos nessa idade,
ocupações espontâneas da mesma, mostram uma tripla diferença: ou
são imitações da vida e de seus fenômenos, ou são emprego do
ensinado, da escola, ou são livres imagens e manifestações do espírito,
de toda a espécie e em matéria de toda classe, segundo as leis contidas
nos objetos e materiais do jogo, investigando aquelas, seguindo-as e
submetendo-se às mesmas, segundo as contidas no homem mesmo,
em seu pensamento e sentimento. Em todo o caso, os jogos dessa
idade são ou devem ser o descobrimento da faculdade vital, do
impulso da vida, produtos da plenitude da vida, da alegria de viver que
existe nos meninos (FROEBEL, 2001, p. 206).
O pedagogo dos jardins de infância, por meio do jogo e da brincadeira, traz
grandes contribuições para o desenvolvimento da criança e do processo educativo. No
entanto, estas contribuições se destacam ainda mais, pelo fato de Froebel ter sido o
primeiro a aplicar sua teoria na prática.
23
Froebel ficará como o clássico por excelência da primeira infância.
Sua Psicologia era, sem dúvida, pobre; em seu tempo não se conhecia,
como hoje, a vida anímica da criança, mas suas intuições previram
muito do depois descoberto pela Psicologia de hoje (LUZURIAGA,
1984, p. 203).
Para Froebel, toda educação se fundamenta sobre a religião, tema fundamental
em seus princípios educacionais. Neste sentido, a educação deveria estar alicerçada nos
três domínios da vida, a natureza, o homem e Deus, a chamada “Unidade Vital”.
Conforme Arce,
[...] a partir da ação que favorece a exteriorização e a interiorização,
leva a criança, segundo Froebel, a conhecer e reconhecer Deus em
todas as suas obras, especialmente na natureza, bem como se
reconhecer dentro dessa unidade, harmonizando-se com a mesma
(2002a, p. 183).
Dessa forma, os processos de exteriorização e interiorização deveriam orientar
qualquer metodologia utilizada com as crianças.
A obra A educação do homem é o grande livro teórico de Froebel.
Para ele, a unidade de tudo é Deus - tudo provém unicamente de
Deus, que é o único princípio de tudo -, da natureza (manifestação
exterior) e da inteligência (manifestação interior). Isso o conduz a
valorizar tudo o que resulta de manifestação livre e espontânea. O
homem caracteriza-se por uma marcha, um desenvolvimento
constante para o melhor - “tudo na natureza e na vida tem uma
conexão íntima e contínua. Cada detalhe é ao mesmo tempo o todo
em si mesmo e parte do todo” (BASTOS, 2001a, p. 8).
CONTRIBUIÇÕES DE FROEBEL PARA A PEDAGOGIA ATUAL
Ao analisarmos estudos atuais direcionados à educação infantil, como por
exemplo, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998),
podemos encontrar propostas educacionais que não tiveram suas procedências
fundamentadas em educadores do nosso tempo e para compreender suas origens é
necessário voltar ao passado. Neste contexto, ao entrarmos em contato com uma escola
de educação infantil e nos depararmos com seu cotidiano, estamos presenciando parte
do que foram as concepções de educação de Froebel. Este educador alemão destaca-se
pelo pioneirismo na criação dos jardins de infância (Kindergarten) e por ser considerado
como um dos primeiros a relacionar a educação ao desenvolvimento da criança.
24
Dessa forma, ao vivenciarmos o cotidiano de uma sala de aula na educação
infantil, é possível destacar princípios e atitudes que podem ser relacionados aos
fundamentos froebelianos. Desde a contação de histórias, à dramatização de uma
música infantil, ou à brincadeira livre das crianças, é possível notar o papel que cada
uma delas assume em determinada situação. Estas atividades pertencentes à prática
habitual da educação infantil estão presentes na obra de Froebel, não de maneira
idêntica, evidentemente, uma vez que estamos tratando de contextos históricos distintos.
No entanto, no cotidiano infantil, estas práticas são utilizadas, muitas vezes, sem que os
responsáveis pela efetivação dessa educação tenham conhecimento de suas origens, com
a falsa ideia de que estes recursos pedagógicos são resultados da sociedade atual.
No Brasil, foi no ano de 1875, dirigido pelo Dr. Joaquim José de Menezes
Vieira, que o primeiro Jardim de infância foi criado, tendo o médoto froebeliano como
fundamento. De acordo com Saito (2004), é possível observar que a denominação
jardim de infância incorporada por Froebel, foi utilizada no Brasil por um longo
período. Apenas a partir da Constituição Federal de 1988, que ficou conhecida como
„Constituição Cidadã‟, e de forma mais intensa em 1996, com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96 – é que a denominação jardim de infância
altera-se para educação infantil.
A partir da Lei 9.394/96, é que a educação infantil passa a ser reconhecida como
a primeira etapa de educação básica (art. 22).
Entretanto vale ressaltar que, mesmo com essa mudança nominal, a
fundamentação teórica e metodológica empregada nessas instituições
continuou a mesma, ou seja, continuou a empregar os fundamentos da
teoria froebeliana, tendo ou não consciência dessa efetivação (SAITO,
2004, p. 10).
A partir da leitura de documentos atuais que fundamentam a educação brasileira,
é possível destacar princípios educacionais que, no século XIX, já se encontravam
presentes na obra de Froebel. Conforme anteriormente citado, o método educacional
que se destaca no Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (BRASIL,
1998), é o ensino por meio do lúdico, este documento ressalta a defesa do aprender
brincando.
O jogo pode tornar-se uma estratégia didática quando as situações são
planejadas e orientadas pelo adulto visando a uma finalidade de
aprendizagem, isto é, proporcionar à criança algum tipo de
25
conhecimento, alguma relação ou atitude. Para que isso ocorra, é
necessário haver uma intencionalidade educativa, o que implica
planejamento e previsão de etapas pelo professor, para alcançar
objetivos predeterminados e extrair do jogo atividades que lhe são
decorrentes (BRASIL, 1998, p. 211).
Atualmente, a brincadeira e o jogo são temas de pesquisas e discussões
relacionados à área da educação infantil e, como vimos, um de seus precedentes foi
Froebel. Ele, desde o século XIX, já encarava a brincadeira como algo sério e não como
uma atividade sem propósito, a brincadeira era considerada um elemento de
aprendizagens. A observação atenta da brincadeira e do jogo é considerada por Froebel
um recurso fundamental para se conhecer a criança, como pensa e sente o mundo que o
cerca, suas aspirações e dificuldades.
Em conformidade com as palavras de Arce: “Não foram os educadores
contemporâneos que criaram os lemas mais conhecidos no meio educacional, é no
passado, que encontramos suas origens e necessitamos voltar a ele para quebrar esta
sensação de descoberta recente” (2002b, p. 84). Com base nisso, para compreendermos
os fundamentos da educação infantil e o contexto atual, é necessário que nos voltemos
ao estudo dos clássicos da educação, entre os quais se destaca as teorias de educação de
Froebel.
26
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