ANA CLAUDIA LOPES DE CARVALHO ESTUDO DA ALTERAÇÃO TEMPORÁRIA DE LIMIAR EM TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA EXPOSTOS A DIFERENTES NÍVEIS DE RUÍDO São Paulo 2000 2 ANA CLAUDIA LOPES DE CARVALHO ESTUDO DA ALTERAÇÃO TEMPORÁRIA DE LIMIAR EM TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA EXPOSTOS A DIFERENTES NÍVEIS DE RUÍDO Monografia apresentada ao curso de especialização em Audiologia do CEFAC/CEDIAU sob a orientação da Profa. Dra. Katia de Almeida. São Paulo 2000 3 Aos meus pais, Antonio e Yvette, que importância me ensinaram a de vencer novas etapas. Ao meu marido, Alexandre e filhos, Mariana e Alexandre, pela compreensão e carinho dedicados em todas as fases deste trabalho. 4 AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Katia de Almeida, pelo apoio e orientação deste trabalho. Às Profas. Dras. Teresa Maria Momensohn dos Santos e Iêda Chaves Pacheco Russo, coordenadoras do CEDIAU, pelo incentivo ao trabalho e pelos ensinamentos transmitidos ao longo do curso com tanta eficiência e carinho. À PIAL ELETRO-ELETRÔNICOS, por permitir a realização desse estudo. À Gerente de Recursos Humanos Marina Jesus Alfredo Neves, por ter autorizado a realização do trabalho. À Engª Elisa Lúcia Chaves e ao Técnico de Segurança Mário Sérgio Veron, pela confiança e amizade. Aos trabalhadores que participaram do estudo, pelo interesse e compreensão. Aos meus sogros Arnildo e Jaci (in memorium), que sempre estiveram prontos a me ajudar e orgulhosos do meu trabalho. 5 À minha amiga e Fga Andrea, pelo companheirismo e por ter enfrentado mais uma batalha comigo. Aos amigos do curso de especialização que participaram direta ou indiretamente da realização deste trabalho. 6 SUMÁRIO Resumo Abstract Lista de Tabelas 1. Introdução...........................................................................01 2. Literatura.............................................................................05 3. Material e Métodos.............................................................14 4. Resultados...........................................................................21 5. Discussão............................................................................32 6. Conclusões..........................................................................37 Bibliografia..............................................................................39 7 RESUMO Este trabalho teve como objetivo estudar o perfil audiométrico pré e pós jornada de serviço em 02 grupos de trabalhadores distintos de uma indústria de eletro-eletrônicos, localizada no município de São Paulo, o primeiro grupo com sujeitos expostos a níveis de ruído acima de 85 dBA e o segundo grupo, com sujeitos expostos a níveis de ruído abaixo de 85dBA e avaliar a ocorrência e a magnitude da alteração temporária de limiar (ATL) encontrada nos dois grupos. Um total de vinte indivíduos foram submetidos a duas avaliações audiométricas: a primeira antes do início da jornada de trabalho com o funcionário em repouso acústico de 14 horas e a segunda, imediatamente após o término de sua jornada de trabalho. Os resultados dos exames e dos dois grupos foram comparados e analisados para avaliar a ocorrência e a magnitude da alteração temporária de limiar (ATL). Através da análise dos dados pudemos concluir que foi encontrado presença de ATL em 70% dos casos do grupo I e em 30% dos casos do grupo II; foi observado uma predominância geral de ATL, entre os dois grupos, na orelha direita de 70% dos casos, sendo 20% para orelha esquerda e 10% bilateral; foi encontrado também, entre os dois grupos, uma predominância de ATL na frequência de 6000 Hz e que a ocorrência geral de ATL nos sujeitos do grupo I, com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB por orelha, foram iguais para frequências baixas e altas. 8 ABSTRACT This work had the goal of study the audiometric profile, considering pre and post working day of two different employee groups from an electronic industry placed in São Paulo city. The first group was composed by workers exposed to noise levels above the 85 dBA and, the second group by workers exposed to noise levels below the 85 dBA. A total of 20 persons were submitted to two audiometric evaluations: the first one before the working day with the employee in an acoustic rest of 14 hours, and, the second one soon after the ending of the working day. The results of both exams groups were compared and analysed in order to evaluate the occurrence and the magnitude of the temporary threshold shift (TTS). The results shown temporary threshold shift (TTS) in 70% of the cases of group I, and, in 30% in the group II. It was observed a general predominance of TTS between the two groups, in the right ear in 70% of the cases, 20% to the left ear and 10% bilateral. It was found, between the two groups, a predominance of TTS in the frequency of 6000 Hz, and that the general occurrence of the TTS inthe workers from the group I, regarding the TTS average, greater or equal to 5 dB by ear, were the same to lower and higher frequencies. 9 LISTA DE TABELAS Tabela I - Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com o sexo. 17 Tabela II - Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com a idade. 18 Tabela III - Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com o tempo de serviço. 19 Tabela IV - Limiares de audibilidade das orelhas direitas referentes aos sujeitos do grupo I, pré e pós jornada de trabalho. 23 Tabela V - Limiares de audibilidade das orelhas esquerdas referentes aos sujeitos do grupo I, pré e pós jornada de trabalho. 24 Tabela VI - Diferença dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas e esquerdas, referentes aos sujeitos do grupo I. 25 Tabela VII - Limiares de audibilidade das orelhas direitas referentes aos sujeitos do grupo II, pré e pós jornada de trabalho. 26 10 Tabela VIII - Limiares de audibilidade das orelhas esquerdas referentes aos sujeitos do grupo II, pré e pós jornada de trabalho. 27 Tabela IX - Diferença dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas e esquerdas, referentes aos sujeitos do grupo II. Tabela X - Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II. 28 29 Tabela XI - Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II por orelha. 29 Tabela XII - Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II por freqüência isolada. 30 Tabela XIII - Ocorrência de ATL com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB por orelha (não houve bilateral), dos sujeitos do grupo I. 31 11 _____________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO ______________________________________________________ O ruído é um agente físico que pode causar danos ao organismo humano e que está presente na maior parte das atividades dos setores: primário (extração mineral, agroindústria, etc...), secundário (indústrias) e terciário (transportes, urbanitários, diversões e outros) (Norma Técnica Estadual,1994). Segundo MARIOTTA, OLIVEIRA, & ALBERNAZ (1995), atualmente os níveis de ruído têm aumentado consideravelmente, tanto nas atividades de trabalho quanto no lazer, transformando o perfil acústico do mundo para pior, muito rapidamente De acordo com o COMITÊ NACIONAL DE RUÍDO E CONSERVAÇÃO AUDITIVA (1994), a exposição crônica ao ruído produz no ser humano uma deterioração auditiva, lentamente progressiva, com características neurossensoriais, não muito profunda, quase sempre similar bilateralmente e absolutamente irreversível. A Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) é uma lesão de caráter irreversível, não existindo nenhum tipo de tratamento clínico ou cirúrgico para recuperação dos limiares auditivos, sendo portanto a prevenção, a principal medida a ser tomada antes de sua instalação. 12 O Programa de Conservação Auditiva (PCA) tem por objetivo impedir que determinadas condições de trabalho provoquem a deteriorização dos limiares auditivos dos trabalhadores, portanto envolve a participação de uma equipe multiprofissional, pois são necessárias medidas de Engenharia, Medicina, Fonoaudiologia, treinamento e administração, onde as soluções seriam reduzir a exposição dos trabalhadores ao ruído, diminuindo o mesmo na fonte, na trajetória, tomar medidas administrativas que reduzem o tempo de exposição ao ruído do trabalhador e quando nenhuma das hipóteses anteriores for viáveis, a medida a ser utilizada é o fornecimento de protetores auriculares. MILLER (1971), considera que os efeitos do ruído na audição são geralmente divididos em três categorias: trauma acústico, alteração permanente do limiar e alteração temporária de limiar. Segundo MELNICK (1989), o termo Trauma Acústico é relacionado a efeitos de uma simples exposição a um nível muito intenso de ruído (ex.: uma explosão). A perda auditiva decorrente de trauma acústico é uma perda permanente. Alteração Permanente de Limiar (APL) são aquelas mudanças na audição que persistem ao longo da vida da pessoa afetada. Freqüentemente a perda auditiva permanente provocada pelos efeitos do ruído é resultado de repetidas exposições ao longo de vários anos. Alteração Temporária de Limiar (ATL) é um efeito de curta duração que segue após uma exposição ao ruído. É uma elevação do limiar de audição que recupera-se gradualmente após a exposição. O mesmo autor ainda observa que apesar de não estar bem definido, um grande número de experiências são feitas no mundo para se saber quais fatores influenciam o ATL e a retomada desses limiares e faz algumas generalizações. A ATL pode variar em poucos dB em uma estreita faixa de freqüências a mudanças que causam uma surdez temporária e depois de cessado a exposição, a retomada para os limiares anteriores pode demorar de poucos minutos a 13 várias semanas. Ruídos de baixa freqüência não são tão eficazes em produzir ATL quanto os de alta freqüência. Ruídos com energia concentrada na média de freqüências de 2000 à 6000Hz produz mais ATL que ruídos concentrados em outros pontos da faixa. Os níveis de ruído devem ultrapassar uma certa intensidade (75dB na escala A do medidor de NPS) para a pessoa experienciar alguma ATL, mesmo para exposições de 8 a 16h. A exposição a ruídos com freqüentes interrupções produz menos ATL que a exposição a ruído contínuo para energias sonoras equivalentes. De acordo com o HÈTU (1994), uma exposição contínua à um nível de 85dBA por várias horas induz uma alteração temporária de limiar que alcança aproximadamente 10 dB na média e até 20 dB em indivíduos mais sensíveis. O autor também relata que em um ambiente sonoro dentro dos limites de 85 dBA, pessoas são constantemente exigidas à processar a informação auditiva no seu posto de trabalho, enquanto que sua capacidade auditiva básica está sendo prejudicada. A contradição entre a necessidade do ambiente e sua força para reduzir a capacidade auditiva deixa claro que um limite de exposição de 85dB/8h fica longe do ideal, principalmente quando se envolve o risco do prejuízo permanente da audição. Considerando que vários autores afirmam que ATL é um indicador do risco de uma perda auditiva permanente (APL) e que é provável que o padrão audiométrico da ATL irá parecer-se com o padrão da perda auditiva permanente e esta não excederá a ATL produzida por uma exposição curta ao mesmo sinal, o presente trabalho busca contribuir com dados sobre o estudo da ATL. Desse modo os objetivos deste trabalho são : 14 - Estudar o perfil audiométrico pré e pós jornada de serviço em 02 grupos de trabalhadores distintos. O primeiro grupo com sujeitos expostos a níveis de ruído acima de 85 dBA e o segundo grupo, com sujeitos expostos a níveis de ruído abaixo de 85dBA. - Avaliar a ocorrência e a magnitude da alteração temporária de limiar (ATL) encontrada nos dois grupos. 15 _____________________________________________________ 2. LITERATURA ______________________________________________________ Em 1950, WHEELER observou que havia grandes evidências que trabalhadores que ficavam tempo suficiente expostos a níveis elevados de ruído, teriam a possibilidade de adquirir uma perda auditiva irreversível, apesar de não saber exatamente quais níveis de intensidade, tempo de exposição e severidade da perda auditiva apenas observando a grande susceptibilidade individual. De acordo com o autor, os trabalhadores que passam anos em ambientes com níveis de ruído intensos, podem inicialmente apresentar uma alteração temporária do limiar e que isso provavelmente representa o início de um decréscimo permanente na acuidade auditiva. Constatou também que ruídos que contém em seu espectro, alta proporção de energia em altas freqüências afeta o ouvido mais seriamente que ruídos com faixa predominantemente em baixas freqüências, mesmo quando os de baixa freqüência apresentam nível de intensidade maiores e que em ambos os casos a região do audiograma mais afetada foi de 4000 e 6000Hz. A respeito da retomada do limiar para as condições iniciais em repouso, não existem dados suficientes para se saber ao certo quanto tempo isso levaria, mas ele estima pelo menos um mínimo de 48 horas. Depende também da quantidade de Decibel que o limiar foi alterado temporariamente e de diferenças individuais, por exemplo: um ouvido normal exposto a condições de 16 ruído adquire uma alteração temporária de limiar mais severa que indivíduos que já trabalham há algum tempo na mesma situação. ALMEIDA, (1950) realizou uma pesquisa com máquinas que produziam ruído contínuo e observou que intensidades de 50 e 60 dB, quando apresentadas durante longo tempo, poderiam causar alterações leves na audição e definitivas. Em 1961, GLORIG, WARD & NIXON propuseram um critério de risco do prejuízo da perda auditiva induzida por ruído. Inicialmente preocuparam-se em definir quais prejuízos na audição implicariam em produzir alterações na vida cotidiana dos indivíduos. Eles observaram que a habilidade de ouvir e entender a conversação em qualquer condição do dia a dia seria uma boa forma de avaliar os danos na audição. Notaram que a conversação é composta por freqüências de 300 a 4000Hz e por conter muita informação redundante, não seria necessário ouvir todas freqüências altas para obter uma inteligibilidade excelente e concluíram que uma alteração auditiva significante estaria na magnitude do prejuízo das freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz. Outros estudos desses autores a respeito de ATL (alteração temporária de limiar) mostram que o mesmo ocorre como resultado de uma exposição a ruído intenso por poucas horas e que tem uma recuperação do limiar subsequente, mas de qualquer forma faz parte integral do processo de alteração permanente do limiar. Em relação a intensidade do ruído as pesquisas realizadas por eles, indicam que ruído contínuo abaixo de 78 dB, não produzirá ATL (alteração temporária de limiar) significante, mesmo após 8 horas de exposição. A mudança temporária do limiar vai mudar de acordo com o tempo e nível de exposição e a 17 magnitude do ATL (alteração temporária de limiar) diminue conforme aumenta o limiar auditivo em repouso do sujeito e aproximadamente a partir de 75 dB o ATL não ocorre mais. Essas observações foram feitas para a freqüência de 4000 Hz, onde ocorre a maior ATL (alteração temporária de limiar) e em seguida as freqüências de 6000, 3000, 2000 e 1000 Hz. Ainda conforme os achados dos autores acima citados, o ATL (alteração temporária de limiar) atinge aproximadamente 50 dB em 4000 Hz e que provavelmente a retomada de limiar acima disso seria diferente. Para produzir ATL (alteração temporária de limiar) maiores que 50 dB seria necessário níveis e duração de ruído muito mais elevados que os que são encontrados nas indústrias. Finalmente os autores concluíram que o critério de conservação e prevenção da perda auditiva teria como alvo a freqüência de 2000 Hz, pois grandes mudanças no limiar da freqüência de 4000 Hz podem ocorrer com pequeno ou nenhum efeito na habilidade de ouvir e entender a conversação, portanto se não existir alteração na freqüência de 2000 Hz não existirá prejuízo. Se não houver 12 dB de ATL (alteração temporária de limiar) em 2000 Hz no final da jornada, não haverá APL (alteração permanente de limiar) significante em 10 anos de exposição. Escolhido como critério de conservação auditiva a intensidade de 85 dB em um espectro de 600 a 1200 Hz para exposição a ruído contínuo; para ruído intermitente a ATL (alteração temporária de limiar) vai aumentar e diminuir durante a exposição, mas também segue o mesmo critério e não há estudos para ruído de impacto. Em 1974, MELNICK relatou que muitas experiências eram feitas para chegar a um critério de risco de prejuízo auditivo sendo baseadas na magnitude de ATL (alteração temporária de limiar) em quantidade de Decibel e usados exposições de poucos minutos ou horas. Essa relação logarítmica linear poderia não ser aplicada a longas durações. Ele relata que haveria um decréscimo na sensitividade auditiva com um aumento da intensidade do ruído e para um determinado nível de ruído (estável), como a duração aumenta a mudança de limiar aumenta. Entretanto para intensidades abaixo daquela que produz total destruição das células sensoriais auditivas, a 18 sensitividade auditiva não continuaria a diminuir indefinitivamente até produzir total perda auditiva com a exposição continuada. Nessas condições a sensibilidade auditiva rebaixaria com a duração do ruído até algum “máximo” e então não decresceria mais. Se realmente existir esse máximo, ele representaria a quantidade máxima de perda auditiva permanente resultante daquele tipo de ruído. O mesmo autor realizou um estudo com 10 sujeitos, onde investigou a ATL (alteração temporária de limiar) resultante de uma exposição a ruído contínuo de 16 horas, espectro de freqüência de 300 a 600 Hz em intensidades de 80, 85, 90 e 95 dB e apresentou alguns achados dessa pesquisa. O critério de risco assumido foi de ATL (alteração temporária de limiar) > 10 dB em 1000 Hz e as demais abaixo desta. A ATL (alteração temporária de limiar) desenvolvida durante 16 horas de exposição em 80 dB – aproximadamente 5 dB nas freqüências de 500, 750 e 1000 Hz. Como os valores foram baixos, não se sabe exatamente a partir de que hora foram alcançados, mas foram retomados após 10 horas da última exposição. A ATL (alteração temporária de limiar) desenvolvida durante 16 horas de exposição em 85 dB – aproximadamente 11 dB nas freqüências de 750 e 1000 Hz. Esses valores foram alcançados entre 4 e 8 horas de exposição e retomados após 10 horas da última exposição. A ATL (alteração temporária de limiar) desenvolvida durante 16 horas de exposição em 90 dB – aproximadamente 17 dB nas freqüências de 750 e 1000 Hz. Esses valores foram alcançados em 16 horas de exposição e retomados entre 34 e 58 horas após a última exposição. A ATL (alteração temporária de limiar) desenvolvida durante 16 horas de exposição em 95 dB – ATL (alteração temporária de limiar) ainda aumentaria após 16 horas e não foi totalmente retomada entre 34 e 58 horas após a última exposição. O autor conclui que ruídos com energia concentrada em 1800 Hz produz ATL (alteração temporária de limiar) depois de 6 a 8 horas de exposição e ruídos com energia concentrada abaixo de 1800 Hz são necessários mais que 8 horas de exposição para produzir ATL (alteração temporária de limiar). 19 Segundo KOTZIAS (1981) os efeitos otológicos do ruído se dão sobre as células sensoriais do órgão de Corti e inicialmente ocorrem nas células ciliadas externas e em uma fase mais adiantada nas células internas. Em geral após a exposição a ruído muito intenso, antes de se instalar definitivamente a surdez, aparece uma queda de 40 a 50 dB na freqüência de 4000 Hz, que desaparece após 24 e 48 horas. MELNICK (1989), observou que o máximo que se pode dizer sobre a relação entre Alteração Temporária de Limiar (ATL) e Alteração Permanente de Limiar (APL), é que um ruído que não produz ATL (alteração temporária de limiar) não irá provocar APL (alteração permanente de limiar). A APL (alteração permanente de limiar) produzida por uma exposição específica, durante um longo período não excederá a ATL (alteração temporária de limiar) produzida por uma exposição curta ao mesmo sinal. O padrão audiométrico da ATL (alteração temporária de limiar) irá parecer-se com o padrão da APL(alteração permanente de limiar). Em 1989, SANTOS considerou que a exposição a ruído em níveis elevados de pressão sonora, de acordo com os limites da ISO 1999/1975 de risco zero para exposição diária de 8 horas e 40 horas/semana, tem início modificações de tipo mecânica, metabólica, vascular e iônica que acabam por produzir dano coclear. O ruído industrial produz inicialmente lesões seletivas nas células ciliadas do órgão de Corti, responsável pela percepção nas freqüências de 4000–6000 Hz, independentemente das características espectrais do ruído presente no ambiente de trabalho. De acordo com a ISO 1999 (1990) pessoas regularmente expostas a ruído podem desenvolver perda auditiva variando a severidade. Dependendo da perda auditiva seu entendimento da conversação, percepção de sinais acústicos do dia a dia e apreciação de uma música podem ser prejudicados. A perda auditiva permanente (APL) é usualmente precedida de um efeito reversível na audição chamado ATL 20 (alteração temporária de limiar). A severidade do ATL (alteração temporária de limiar) e sua retomada dependem do tempo e nível de exposição. Em uma pessoa é difícil determinar quais mudanças no limiar auditivo foram causadas pelo ruído e quais foram causadas por outros fatores. Esse padrão internacional prevê um valor adicional estimado pelos mais prováveis diagnósticos de perda auditiva. MELNICK, em 1991 fez algumas considerações sobre ATL (alteração temporária de limiar). O crescimento do ATL (alteração temporária de limiar) atinge um patamar assintomático a partir de 8 até 10 horas de exposição ao ruído, quando contínuo ou intermitente. Em relação a exposições de longa duração, o autor refere que a mudança assintomática de limiar, quando for de 8 a 30 dB, para ruídos concentrados em bandas de oitava de 0.5, 1.0, 2.0 e 4.0 kHz, observa-se uma relação onde a máxima mudança de limiar ocorre ½ oitava acima da freqüência central. Essa relação não ocorre para bandas de oitava abaixo de 500 Hz. Em seu estudo concorda com WARD et al. (1976), a respeito dos limites para as banda de oitavas e intensidade do ruído e que servem para estimar condições acústicas de segurança quando o assunto for perda auditiva induzida por ruído. São eles: 77 dB NPS para 0.25 kHz, 76 dB NPS para 0.5 kHz, 69 dB NPS para 1.0 kHz, 68 dB NPS para 2.0 kHz e 65 dB NPS para 4.0 kHz e quando considerado ruído de banda larga o nível de segurança seria de 76 dBA. A ATL (alteração temporária de limiar) obtida dois minutos após o final da exposição ao ruído terá efeitos da mesma forma que teria, se a mesma fosse medida em um intervalo maior em seguida da exposição, ou seja, a recuperação da ATL (alteração temporária de limiar) não depende de como ela foi adquirida. A APL (alteração permanente de limiar) produzida por 10 anos de exposição diária para um determinado ruído é aproximadamente igual a ATL (alteração temporária de limiar) produzida pelo mesmo ruído após 8 horas de exposição. 21 DRAKE-LEE (1992), observou ATL (alteração temporária de limiar) de 7-8 dB, nas freqüências de 4000 e 6000 Hz em um grupo de músicos de rock com idades abaixo de 24 anos. GERGES (1992) relatou que o primeiro efeito fisiológico de exposição a níveis elevados de ruído e perda auditiva na banda de freqüência de 4 a 6 kHz. Geralmente o efeito é acompanhado pela sensação de percepção do ruído, após o afastamento da área ruidosa. Este efeito é temporário, e portanto, o nível original do limiar de audição é recuperado. Essa mudança é chamada de alteração temporária de limiar (ATL). Se a exposição ao ruído é repetida antes da total recuperação do limiar, essa alteração pode se tornar permanente. Em 1995, MARIOTTO, OLIVEIRA & ALBERNAZ realizaram um estudo onde verificaram a presença de ATL (alteração temporária de limiar) em trabalhadores expostos a níveis de ruído acima de 85 dBA, divididos em dois grupos de acordo com seu tempo de serviço, superior ou inferior a 10 anos. A divisão da amostra foi baseada em dados da literatura que considera que alteração permanente de limiar induzida (APL) por ruído tem um crescimento maior em 10 a 15 anos de exposição. A ATL (alteração temporária de limiar) aumenta em 8 a 12 horas de exposição ao ruído e depois de atingido um valor “máximo”, mantém-se estável e que esse valor, mantida as mesmas condições, é considerado o limite superior para essa APL (alteração permanente de limiar). Após 10 anos de serviço a ATL (alteração temporária de limiar) produzida deveria ser menor que a ATL (alteração temporária de limiar) observada em trabalhadores com tempo se serviço inferior a 10 anos. Como conclusão os autores observaram que apesar de terem sido detectados alguns valores de ATL (alteração temporária de limiar), esses não foram de suficiente magnitude para ocasionar ATL (alteração temporária de limiar) estatisticamente significativas. Algumas variações podem ser atribuídas a utilização do equipamento de proteção individual. As freqüências que demonstram maiores limiares auditivos médios estão na faixa de 3000 a 6000 Hz, tanto na audiometria pré ou pós jornada, 22 portanto sendo típicos os padrões audiométricos da ATL (alteração temporária de limiar) e APL( alteração permanente de limiar). FLOTTORP (1995), revelou existir uma variação nos limiares auditivos obtidos, quando mudada a posição do fone de ouvido. Em seu estudo encontrou uma diferença de 5-40 dB em 6000 e 8000 Hz em 58-68 % dos casos que analisou. Ele conclui que para determinar o prejuízo na audição, calcular compensações, benefícios ou para um diagnóstico preciso, é essencial que seja realizada uma nova audiometria movendo a posição do fone. De acordo com LASMAR (1997), a primeira manifestação do distúrbio auditivo produzido pela exposição crônica ao ruído decorre da fadiga auditiva pósestimulatória, que produz perda auditiva temporária. É uma sensação de audição abafada que tem o trabalhador de uma indústria ruidosa, ao sair de seu ambiente de trabalho. Esse fenômeno e chamado de ATL (alteração temporária de limiar). Os exames audiométricos dessas pessoas mostraram um declínio de perfil, que com o passar das horas irá desaparecendo e os limiares auditivos retornando à normalidade. FONZO (1998), em seu estudo sobre os efeitos dos protetores auriculares na ATL (alteração temporária de limiar), relata que a presença da mesma teve maior ocorrência na orelha direita e na freqüência de 6000 Hz. 23 24 _____________________________________________________ 3. MATERIAL E MÉTODOS ______________________________________________________ Nesse capítulo, apresentaremos o critério para seleção dos grupos de estudo e escolha dos sujeitos, a forma como foi realizado o trabalho e como os resultados foram analisados. A casuística deste trabalho foi composta por 20 (vinte) indivíduos, sendo 12 (doze) do sexo masculino e 08 (oito) do sexo feminino, em uma faixa etária de 19 a 47 anos. Todos eram trabalhadores de uma indústria de eletro-eletrônicos, localizada no município de São Paulo. Os sujeitos que participaram do trabalho foram divididos em 02 (dois) grupos, dependendo da intensidade do ruído na área em que trabalhavam, independentemente de sexo, faixa etária, tempo de serviço expostos ao ruído e limiares auditivos. 25 O Grupo I foi constituído de 10 funcionários, escolhidos por trabalharem no mesmo setor e estarem expostos a um ruído contínuo acima de 85dBA, a escala de trabalho de 08 horas (6-14h), portanto sendo obrigatório o uso do protetor auricular. O Grupo II foi constituído também de 10 funcionários, escolhidos por trabalharem no mesmo setor e estarem expostos a um ruído contínuo abaixo de 85dBA, a escala de trabalho de 08 horas (6-14h), portanto sendo dispensados do uso do protetor auricular. A distribuição dos indivíduos que tomaram parte neste estudo pode ser observada nas tabelas I, II e III. 26 Tabela I Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com o sexo. GRUPO I GRUPO II TOTAL SEXO Nº % Nº % Nº % FEMININO 01 05 07 35 08 40 MASCULINO 09 45 03 15 12 60 TOTAL 10 50 10 50 20 100 27 Tabela II Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com a idade. FAIXA ETÁRIA (EM ANOS) GRUPO I GRUPO II TOTAL Nº % Nº 01 5 0 0 01 5 0 01 5 01 5 % Nº % 19 a 25 26 a 30 31 a 35 04 20 02 10 06 30 36 a 40 03 15 03 15 06 30 41 a 45 0 02 10 02 10 46 a 50 02 10 02 10 04 20 10 50 10 50 20 100 TOTAL 0 0 28 Tabela III Distribuição dos indivíduos que participaram deste estudo de acordo com o tempo de serviço. TEMPO DE SERVIÇO (EM ANOS) GRUPO I Nº % Nº 1,4 a 05 01 5 06 a 10 01 5 11 a 15 04 20 16 a 20 04 20 21 a 25 26 a 30 TOTAL GRUPO II 10 50 TOTAL % Nº % 01 5 01 5 02 10 04 20 08 40 04 20 04 20 04 20 01 5 01 5 10 50 20 100 29 Os dados do presente estudo foram obtidos na ocasião da realização dos exames audiométricos periódicos da empresa. Foram realizados audiometria tonal via aérea nas freqüências de 250 a 8000Hz, via óssea nas freqüências de 500 a 4000Hz e sempre que necessário, o mascaramento via aérea e/ou via óssea. Foi utilizada a técnica descendente de pesquisa do limiar auditivo em ambos os casos. Todos os indivíduos foram submetidos a duas avaliações audiométricas: a primeira antes do início da jornada de trabalho com o funcionário em repouso acústico de 14 horas e a segunda, imediatamente após o término de sua jornada de trabalho. Foram utilizadas a cabina acústica da Empresa, marca Vibrason, modelo VSA 40 que segundo o fabricante atende a norma da OSHA 81 apêndice D ( ISO 8253.1) e audiômetro AD 28, marca Interacoustics, calibrado conforme norma ANSI S3.431992/ISO-389-3/ISO-7566. Os resultados dos exames e dos dois grupos foram comparados e analisados para avaliar a ocorrência e a magnitude da alteração temporária de limiar (ATL). A ocorrência de alterações temporárias do limiar, foi analisada segundo os seguintes critérios de OSHA (1983): - Variação de limiar para pior em 10 dB ou mais em freqüências isoladas, comparando-se as audiometrias obtidas antes e após a exposição ao ruído. - Média de ATL em freqüências baixas (250, 500, 1000 e 2000 Hz) e/ou em freqüências altas (3000, 4000, 6000 e 8000 Hz), maior ou igual a 5 dB. 30 31 _____________________________________________________ 4. RESULTADOS ______________________________________________________ Nesse capítulo, apresentaremos os resultados encontrados, obtidos através da realização das audiometrias pré e pós jornada de trabalho, nos grupos I e II, onde os sujeitos estão expostos a um nível de ruído acima de 85 dB e abaixo de 85 dB, respectivamente. Na tabela IV estão relacionados os limiares auditivos das orelhas direitas dos sujeitos do grupo I, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 32 Tabela IV Limiares de audibilidade das orelhas direitas referentes aos sujeitos do grupo I, pré e pós jornada de trabalho. Freq/Hz O.D./ dB 12345678910- 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 10 10 25 5 10 5 10 5 5 15 10 10 25 10 10 10 10 15 5 15 10 10 25 5 10 5 10 5 5 15 10 10 25 10 10 10 10 15 5 15 5 10 20 0 5 5 10 0 5 20 10 10 20 10 10 10 10 0 10 20 5 15 15 0 10 5 15 0 0 10 5 15 20 5 15 10 20 5 0 15 0 10 10 5 15 5 15 5 0 15 0 10 15 10 20 5 15 10 0 15 5 10 15 10 20 0 0 0 0 10 5 10 15 10 20 5 5 0 0 15 10 25 15 15 25 15 10 0 10 25 20 25 20 15 35 20 15 10 15 35 5 25 10 5 15 10 0 0 0 10 Na tabela V estão relacionados os limiares auditivos das orelhas esquerdas dos sujeitos do grupo I, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 5 25 15 10 25 15 5 0 0 20 33 Tabela V Limiares de audibilidade das orelhas esquerdas referentes aos sujeitos do grupo I, pré e pós jornada de trabalho. Freq/Hz 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 O.E./ dB Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 12345678910- 10 20 20 10 5 5 10 5 5 15 10 20 20 10 10 5 10 10 10 15 10 20 20 10 5 5 10 5 5 15 10 20 20 10 10 5 10 10 10 15 10 20 15 5 10 5 10 5 5 15 10 20 20 10 10 10 10 5 10 15 0 15 10 0 15 0 10 0 5 10 5 15 15 0 20 0 10 5 5 15 5 5 15 5 15 0 10 5 0 5 10 5 15 5 20 0 15 5 0 10 5 15 5 0 20 10 10 0 0 10 10 15 5 0 20 10 10 0 0 10 10 20 15 0 20 15 0 5 10 5 15 25 15 5 30 15 10 10 10 10 5 15 5 0 15 10 0 0 0 0 5 15 5 0 15 10 10 0 0 5 Na tabela VI estão relacionados a diferença entre os limiares auditivos obtidos pré e pós jornada de trabalho, das orelhas direitas e esquerdas dos sujeitos do grupo I, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 34 Tabela VI Diferença dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas e das orelhas esquerdas, referentes aos sujeitos do grupo I. Freq/Hz 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 Diferença OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE 12345678910- ------05 --05 --10 ----- --------05 ----05 05 --- ------05 --05 --10 ----- --------05 ----05 05 --- 05 ----10 05 05 ----05 --- ----05 05 --05 ----05 --- ----05 05 05 05 05 05 --05 05 --05 --05 ----05 --05 ----05 05 05 ----05 ----- 05 ------05 --05 ----05 ----------05 05 ----05 05 ------------------- 10 --05 --10 05 05 10 05 10 05 05 --05 10 --10 05 --05 ----05 05 10 05 05 ----10 ------------10 ----05 Na tabela VII estão relacionados os limiares auditivos das orelhas direitas dos sujeitos do grupo II, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 35 Tabela VII Limiares de audibilidade das orelhas direitas referentes aos sujeitos do grupo II, pré e pós jornada de trabalho. Freq/Hz O.D./ dB 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 - 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 15 5 5 10 5 10 15 15 10 10 15 5 5 10 5 10 20 15 10 10 15 5 5 10 5 10 15 15 10 10 15 5 5 10 5 10 20 15 10 10 15 5 5 5 10 10 5 15 10 15 15 5 5 5 10 10 5 15 10 15 10 0 0 0 5 10 20 15 5 15 10 5 0 0 5 15 20 15 5 15 10 0 5 0 10 10 15 10 0 10 10 5 5 0 10 10 15 10 0 15 10 0 5 10 5 10 10 10 0 25 10 0 5 20 5 15 15 10 5 25 20 5 5 25 10 25 20 25 5 35 20 5 10 25 10 25 20 25 5 35 10 15 0 25 0 15 15 75 0 30 10 20 0 25 0 25 15 75 0 30 Na tabela VIII estão relacionados os limiares auditivos das orelhas esquerdas dos sujeitos do grupo II, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 36 Tabela VIII Limiares de audibilidade das orelhas esquerdas referentes aos sujeitos do grupo II, pré e pós jornada de trabalho. Freq/Hz 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 O.E./ dB Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 - 10 10 5 5 0 5 10 10 10 5 10 10 5 5 0 5 15 10 10 5 10 10 5 5 0 5 10 10 10 5 10 10 5 5 0 5 15 10 10 5 10 5 0 0 0 10 10 15 5 5 10 10 0 5 5 10 10 15 5 5 5 5 0 5 5 5 20 15 0 10 10 5 0 5 5 5 20 15 0 10 5 5 0 0 0 0 20 10 0 15 5 5 0 5 0 5 20 10 0 15 15 5 15 5 5 10 15 20 0 40 15 5 15 10 10 15 15 20 0 40 5 0 10 15 10 15 5 10 5 35 10 10 10 15 10 15 5 15 10 35 5 10 10 0 10 5 15 5 5 15 5 15 10 0 10 5 15 5 5 15 Na tabela IX estão relacionados a diferença entre os limiares auditivos obtidos pré e pós jornada de trabalho, das orelhas direitas e esquerdas dos sujeitos do grupo II, obtidos pré e pós jornada de trabalho. 37 Tabela IX Diferença dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas e das orelhas esquerdas, referentes aos sujeitos do grupo II. Freq/Hz 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 Diferença OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 - ------------05 ------- ------------05 ------- ------------05 ------- -----------05 ------- --------------------- --05 --05 05 ----------- --05 ------05 --------- 05 ------------------- --05 --------------05 ------05 --05 --------- ------10 --05 05 --05 --- ------05 05 05 --------- ----05 --------------- 05 10 ----------05 05 --- --05 ------10 --------- --05 ----------------- Nessa tabela X podemos observar a ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II, segundo os dois itens do critério da OSHA(1983). 38 Tabela X Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II. N GRUPO I 07 GRUPO II 03 TOTAL 10 OCORREU % 35 15 50 NÃO OCORREU N % 03 15 07 35 10 50 TOTAL N 10 10 20 % 50 50 100 Nessa tabela XI podemos observar a ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II, de acordo com a orelha, segundo os dois ítens do critério da OSHA(1983). Tabela XI Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II por orelha DIREITA ESQUERDA BILATERAL TOTAL N 05 01 01 07 GRUPO I % 50 10 10 70 N 02 01 00 03 GRUPO II % 20 10 00 30 N 07 02 01 10 TOTAL % 70 20 10 100 Nessa tabela XII podemos observar a ocorrência geral de ATL apresentadas nos sujeitos dos grupos I e II, segundo o primeiro ítem do critério da OSHA (1983), onde observamos a diferença maior ou igual a 10 dB em freqüência isolada. 39 Tabela XII Ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos grupos I e II por freqüência isolada. Hz 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE Grupo I 01 ---- 01 ---- 01 ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 04 02 GrupoII ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 01 ---- ---- 01 Total 01 ---- 01 ---- 01 ---- ---- ---- ---- ---- 01 ---- 04 03 Total 01 01 01 00 00 01 07 02 01 01 ---03 01 04 Nessa tabela XIII podemos observar a ocorrência geral de ATL apresentadas nos sujeitos do grupo I , de acordo com o segundo item do critério da OSHA (1983), onde observamos a diferença maior ou igual a 5 dB, das médias de ATL em freqüências baixas (250, 500, 1000 e 2000 Hz) e/ou em freqüências altas (3000, 4000, 6000 e 8000 Hz). 40 Tabela XIII Ocorrência de ATL com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB por orelha (não houve bilateral), dos sujeitos do grupo I. ORELHA DIREITA ORELHA ESQUERDA OCORREU NÃO OCORREU TOTAL BAIXAS N % 03 30 07 70 10 100 ALTAS N % 02 20 08 80 10 100 BAIXAS N % 00 00 10 100 10 100 ALTAS N % 01 10 09 90 10 100 No GRUPO II, não houve ocorrência de ATL com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB, apenas em freqüências isoladas maior ou igual a 10 dB. 41 ____________________________________________________ 5. DISCUSSÃO ______________________________________________________ Neste capítulo serão discutidos os resultados das tabelas do capítulo anterior, confrontando-os com a literatura consultada. A tabela VI nos mostra a análise das diferenças dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas (tabela IV) e das orelhas esquerdas (tabela V), referentes aos sujeitos do grupo I, onde pudemos observar que a ATL ocorreu, segundo o critério da OSHA, em 07 (sete) sujeitos que participaram do estudo. Em todos os casos os valores de ATL encontrados foram mínimos, ou seja 06 funcionários tiveram uma variação de limiar para pior em 10 dB e 01 (um) funcionário que apresentou a média de ATL para freqüências baixas igual a 5 dB. Os valores foram mínimos, embora tenha ocorrido em 70% dos trabalhadores. De acordo com MELNICK (1991), a APL produzida por 10 anos de exposição diária para um determinado ruído é aproximadamente igual a ATL produzida pelo mesmo ruído após a jornada de 8 horas de trabalho. Devemos levar em conta que muitas vezes a jornada de trabalho é maior que 8 horas, em função de maiores remunerações e que o ruído industrial nem sempre é controlado, apresentando situações de maiores intensidades, como aumento na produção, falta de manutenção nas máquinas, mudanças de layout, etc. Podemos ressaltar também que esse grupo de sujeitos, que trabalha com níveis de ruído acima de 85 dBA, são bastante orientados e habituados ao uso dos protetores auriculares, o que não acontece na maioria da indústrias. A tabela IX nos mostra uma análise das diferenças dos limiares de audibilidade pré e pós jornada das orelhas direitas (tabela VII) e das orelhas esquerdas (tabela 42 VIII), referentes aos sujeitos do grupo II, onde pudemos observar que a ATL ocorreu, segundo o critério da OSHA, em 03 (três) sujeitos que participaram do estudo. Em todos os casos os valores de ATL encontrados foram mínimos, ou seja 03 funcionários tiveram uma variação de limiar para pior em 10 dB, que representa 30% dos casos. ALMEIDA (1950), relatou que intensidades de 50 a 60 dB, quando apresentadas durante longo tempo, poderiam causar alterações leves na audição, mas definitivas. De acordo com MELNICK (1974) pessoas expostas a 80 dBA durante 16 horas produziam aproximadamente 5 dB de ATL. Esses funcionários apesar de trabalharem com níveis de ruído inferior a 85 dBA, portanto de acordo com a CLT não haveria necessidade do uso do protetor auricular, também apresentam ATL. A tabela X nos mostra que a ATL aconteceu em 70% dos casos do grupo I, no qual os funcionários estão devidamente orientados e habituados ao uso dos protetores auriculares e em 30% dos casos do grupo II, onde não há exigência para que o funcionário utilize o protetor auricular, pois o nível de ruído é inferior a 85 dB, portanto não haveria risco de perda auditiva. O total de ATL ocorrida entres os dois grupos foi de 10 casos, que representa 50% do grupo estudado. De acordo com LASMAR (1997), a primeira manifestação do distúrbio auditivo produzido pela exposição crônica ao ruído decorre da fadiga auditiva pósestimulatória, que produz perda auditiva temporária. Apesar da amostra do estudo ter sido pequena, a quantidade de casos encontrados que apresentaram a ATL foi expressiva. Devemos levar em conta que: a presença desse fenômeno (ATL) foi encontrado em trabalhadores de indústrias, que vão continuar expostos ao mesmo risco ou até maiores; muitas vezes trabalham em outras condições insalubres, como turno noturno, contato com substâncias químicas e outros riscos, que em sinergismo podem acentuar ainda mais a alteração na audição; essas condições perduram por toda sua vida laborativa; 43 concordando com SELIGMAN (1993), esse fenômeno (ATL) no início temporário pode passar a uma alteração permanente da audição trazendo outros efeitos que acompanham a PAIR ( Perda Auditiva Induzida por Ruído), como distúrbios na comunicação, neurológicos, cardiovasculares, na química sanguínea, vestibulares, digestivos e comportamentais. Portanto além de realizar o monitoramento audiométrico dos trabalhadores, cabe também ao fonoaudiólogo juntamente com a equipe de segurança e medicina do trabalho de cada indústria, estudar outras propostas que trabalhem na conservação auditiva desses funcionários para que essa alteração, no início temporária, não se torne definitiva. As medidas de prevenção com relação ao nível máximo de ruído no ambiente de trabalho permitido, de acordo com a CLT (NR 15) de 85dBA/8 horas, com certeza deveriam ser tomadas a partir de intensidades menores, o que seria o nível de ação. A tabela XI nos mostra uma predominância geral de ATL, entre os dois grupos, na orelha direita de 70% dos casos, sendo 20% para orelha esquerda e 10% bilateral. A tabela XII apresenta a ocorrência geral de ATL nos sujeitos dos dois grupos por freqüência isolada, onde observamos a predominância de ATL na freqüência de 6000 Hz em concordância com GLORIG, WARD & NIXON (1961), SANTOS (1989) que relatam que 6000 Hz é uma das freqüências onde ocorre maior ATL. A tabela XIII apresenta a ocorrência geral de ATL nos sujeitos do grupo I, com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB por orelha. Observamos na orelha direita 03 casos de ATL em freqüências baixas e 02 casos em freqüências altas e na orelha esquerda apenas um caso nas freqüências altas. Não houve nenhum caso de ATL, segundo o critério acima, bilateralmente. No GRUPO II, não houve ocorrência de ATL com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB, apenas em freqüências isoladas maior ou igual a 10 dB. 44 _____________________________________________________ 6. CONCLUSÕES ______________________________________________________ Através da análise dos dados pudemos concluir que: 1. Foi encontrado presença de ATL em 70% dos casos do grupo I e em 30% dos casos do grupo II; 2. Observamos uma predominância geral de ATL, entre os dois grupos, na orelha direita de 70% dos casos, sendo 20% para orelha esquerda e 10% bilateral; 3. Observamos também , entre os dois grupos, uma predominância de ATL na freqüência de 6000 Hz; A ocorrência geral de ATL nos sujeitos do grupo I, com relação a média de ATL maior ou igual a 5 dB por orelha, foram iguais para freqüências baixas e altas. 45 _____________________________________________________ BIBLIOGRAFIA ______________________________________________________ ALMEIDA, H.R. Influence of electric punch card machines on the human ear. Archives of Otolaryngology, 51: 215-223, 1950. ALMEIDA, S.I.C. Programa de controle de ruído e prevenção da surdez profissional. RBM Otorrinolaringologia, 1(2):125-128, 1994. ALMEIDA, S.I.C. Diagnóstico diferencial da disacusia neurossensorial induzida por ruído. Revista da Associação Médica Brasileira, 37(3):150-152, 1991. AXELSSON, A. Diagnosis and treatment of occupational noise induced hearing loss. Acta Otolaryngol., (suppl)360:86-87, 1979. BANDEIRA, F.A.S.; FRÓES,H.C.;JUNIOR, C.H. Trauma Acústico. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 45(3): 261-267, 1979. BRASIL. Leis etc. Lei 6514 de 22 de dezembro de 1977. Normas Regulamentadoras (NR) aprovadas pela portaria 3214 de 1978. Portaria nº 19 de 09 de abril de 1998 do Ministério do Trabalho - (DOU 22/04/98), que diz respeito aos exames audiométricos realizados nos trabalhadores de indústrias. CLARK, W.W. Recent studies of temporary threshold shift (TTS) and permanent threshold shift (PTS) in animals. The Journal of the Acoustical Society of America, 90(1):155-163,1991. DENGERINK, H.A.; LINDGREN, F.L.; AXELSSON, A. The interaction of smoking and noise on temporary threshould shifts. Acta Oto-Laringologica, 112(6): 932938, 1992. DRAKE-LEE, A.B. Beyond music: auditory temporary threshold shift in rock musicians after a heavy metal concert. Journal of the Royal Society of Medicine, 10(85): 617-619, 1992. FIORINI, A.C. Conservação Auditiva: Estudo sobre o monitoramento audiométrico em trabalhadores de uma indústria metalúrgica – São Paulo, 1994 [Dissertação de Mestrado – PUC-SP] FLOTTORP, G. Improving audiometric thresholds by changing the headphone position at the ear. Audiology, 5(34): 221-231, 1995. 46 FONZO, M.F.D. Estudo do efeito dos protetores auriculares na alteração temporária do limiar – São Paulo, 1998 [ Monografia – CEFAC- CEDIAU ] GERGES, S.N.Y. Ruído: Fundamentos e Controle. Santa Catarina, Imprensa Universitária, 1992. 600p GERGES, S.N.Y. Gerenciando um programa de controle de ruído In: II Seminário Internacional de Atualização em Segurança e Saúde no Trabalho, Florianópolis, 1998 GLORIG, A.; WARD, W.D.; NIXON,J. Damage risk criteria and noise-induced hearing loss. Archives of Otolaryngology, 74(4): 413-424, 1961. GLORIG, A. Noise: past, present and future. Ear Hear, 1(1): 4-18, 1980. HÉTU, R. Mismatches between auditory demands and capacities in the industrial work environment. Audiology, 33(1): 1-14, 1994. INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION . Acoustics – Determination of occupational noise exposure and estimation of noise-induced hearing impairment. ISO 1999 : 1990 (E). Geneva , Switzerland : Technical Committee ISSO/TC 43, Acoustics, 1990. INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION . Acoustics –Threshould of hearing by air condution as a function of age and Sex for otlogically normal person. ISSO – 7029 – 1984, Geneva, 1984. JOHNSON, D.L. Field studies: Industrial exposures. The Journal of the Accoutical Society of America, 90(1): 170-174, 1991. KOTZIAS, S.A. e Cols. Lesão auditiva induzida pelo ruído – surdez profissional: estudo audiométrico em 86 telefonistas da Telesc, em Florianópolis. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 47(2): 151-160, 1981. LASMAR, A Diagnóstico da doença profissional induzida pelo ruído. In: NUDELMANN, A A; COSTA, E.A.; SELIGMAN, J.; IBAÑEZ, R.N. (orgs). PAIR Perda Auditiva Induzida pelo Ruído, Ed. Bagagem Comunicações Ltda, Rio Grande do Sul, 1997.p.153-161. MARIOTTO, S.B.; OLIVEIRA, T.M.T.; & ALBERNAZ, P.L.M. Perda auditiva induzida pelo ruído: um enfoque sobre a mudança temporária no limiar. Acta Awho, 1(XIV): 5-13,1995. MELNICK, W. Human temporary threshold shift from 16-hour noise exposures. Archives of Otolaryngology, 100(3): 180-189, 1974. 47 MELNICK, W. Evaluation of industrial hearing consevation programs: a review and analysis. Am. Ind. Hyg. Ass. Journal, 45(7): 459-67,1984. MELNICK, W. Conservação auditiva industrial. In: KATZ, J.(ed) Tratado de Audiologia Clínica. 3º Edição. São Paulo. Editora Manole, 1989. MELNICK, W. Human temporary threshold shift (TTS) and damage risk. The Journal of the Acoustical Society of America, 90(1) : 147-154, 1991. MORATA, T.C.; DUNN, D.E.; KRETSCHMER L.W.; LEMASTERS, G.K.; KEITH, R.W. Effects of occupational exposure to organis solvents and noise on hearing. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health 19(4) 246254, 1993. Norma técnica de dispõe sobre o diagnóstico da perda auditiva induzida por ruído e redução e controle do ruído nos ambientes e postos de trabalho, Resolução SS/317, 24/05/94, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 1994. NUDELMANN, A. A.; COSTA, E.A. ; SELIGMAN, J.; IBAÑEZ, R. N. PAIR Perda Auditiva Induzida por Ruído. Porto Alegre. Editora Bagaggem Comunicações Ltda, 1997. 297p RUSSO, I.C.P. Acústica e Psicoacústica Aplicadas à Fonoaudiologia. São Paulo. Editora Lovise, 1993. 178p SANTOS, U.P. Programa de conservação auditiva em trabalhadores expostos a ruído. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 67(17): 7-17, 1989. SANTOS, T.M.M. & RUSSO, I.C.P. A Prática da Audiologia Clínica. São Paulo, Cortez Editora, 1993. 226p SELIGMAN, J. Efeitos não auditivos e aspectos psicossociais no indivíduo submetido a ruído intenso. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 59(4): 257-259, 1993. SILVA, R.C.M. Perda auditiva induzida pelo ruído: instrumento de autoavaliação dos efeitos auditivos e psicossociais – São Paulo, 1997 [Dissertação de Mestrado – PUC-SP] SANTOS, U. B. Programa de conservação auditiva em trabalhadores expostos a ruído. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 17(67): 7-17, 1989. WARD, W.D. The role of intermittence in PTS. The Journal of the Acoutical Society of America, 90(1): 164-169, 1991. WHEELER, D.E. Noise-Induced hearing loss. Archives of Otolaryngology, 51: 344-355, 1950.