ANA CRISTINA MARCOS LOPES PREVALÊNCIA DE NEOPLASIA INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU HISTOLÓGICO EM PACIENTES COM CITOLOGIA APRESENTANDO CÉLULAS ESCAMOSAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO (ASCUS) Tese apresentada graduação da ao curso Faculdade de de pós- Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina São Paulo 2014 ANA CRISTINA MARCOS LOPES PREVALÊNCIA DE NEOPLASIA INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU HISTOLÓGICO EM PACIENTES COM CITOLOGIA APRESENTANDO CÉLULAS ESCAMOSAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO (ASCUS) Tese apresentada graduação da ao curso Faculdade de de pós- Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientadora: Profa Dra Adriana Bittencourt Campaner São Paulo 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Lopes, Ana Cristina Marcos Prevalência de Neoplasia Intraepitelial de Alto Grau Histológico em Pacientes com Citologia Apresentando Células Escamosas de Significado Indeterminado (Ascus)./ Ana Cristina Marcos Lopes. São Paulo, 2014. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientadora: Adriana Bittencourt Campaner 1. Neoplasias de células escamosas 2. Colposcopia 3. Neoplasia intraepitelial cervical 4. Neoplasias do colo uterino BC-FCMSCSP/26-14 DEDICATÓRIA À José Marcos Lopes, meu pai, que não pôde me ver formada. À Virgínia Maria Lopes, minha mãe, que é o pilar da minha formação. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Ao Prof. Dr. José Mendes Aldrighi, Diretor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela oportunidade de realizar este estudo. À minha orientadora Prof. Dra Adriana Bittencourt Campaner, por todo o carinho e dedicação com que me norteou ao longo deste trabalho e pela amizade construída mutuamente. Ao Dr. Alexandre Genis Ghelman, meu eterno mestre, por ter acreditado em mim e me ensinado valores éticos e verdadeiros.. Por fim agradeço ao meu irmão Horácio Marcos Lopes, que no inicio da minha formação ajudou nos custeios e sempre me apoiou nos estudos. AGRADECIMENTOS À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo pelo acolhimento. Aos funcionários da pós-graduação da FCMSCSP, pelo profissionalismo e gentileza em todos os atendimentos. À Luciana de Lima e Danyelle de Oliveira, sempre me auxiliando em quaisquer dificuldades e, acima de tudo, pelo carinho e amizade. LISTA DE ABREVIATURAS ASC Atypical scamous cells ASC-H Atypical scamous cells of undetermined significance, cannot rule out a high grade lesion ASCUS Atypical scamous cells of undetermined significance ASCCP American society for colposcopy and cervical pathology ACOG American college of obstetricians and gynecologists DNA Deoxyribonucleic acid DOGI Departamento de obstetricia e ginecologia EAB Epitélio acetobranco FUTURE Females united to unilaterally reduce endo/ectocervical disease GLOBOCAN Global cancer HPV Papilomavírus humano IARC Iternational agency for research on cancer IBGE Instituto brasileiro de geografia e estatística IFCPC International Federation for cervical pathology and colposcopy INCA Instituto nacional do câncer ISCMSP Irmandade da santa casa de misericórdia de São Paulo LIE Lesão intraepitelial LIEAG Lesão intraepitelial de alto grau LIEBG Lesão intraepitelial de baixo grau MS Ministério da Saúde NIC Neoplasia intraepithelial cervical OMS Organização mundial da saúde PATRICIA Papilloma trial against cancer in young adults PCR Polimerase chain reaction SISCOLO Serviço de informação do câncer do colo uterino SUMÁRIO 1. INTRODUÇAO 1.1 - Epidemiologia do câncer do colo uterino .............................................02 1.2 - O papilomavírus humano e as lesões cervicais ....................................03 1.3 - Prevenção do câncer do colo uterino ....................................................06 1.4 - A citologia cérvico-vaginal .....................................................................09 1.5 - Atipias escamosas celulares .................................................................11 2. OBJETIVOS .............................................................................................17 2.1 - Objetivo geral ........................................................................................18 2.2 - Objetivo específico ................................................................................18 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS .................................................................19 3.1 - Desenho do estudo .............................................................................. 20 3.2 - Cálculo amostral .................................................................................. 20 3.3 - Casuística ............................................................................................ 20 3.4 - Métodos ............................................................................................... 21 3.4.1 Técnica colposcópica .......................................................................... 21 3.5 - Método histopatológico ........................................................................ 23 3.6 - Método estatístico ................................................................................ 23 4. RESULTADOS ........................................................................................25 5. DISCUSSÃO ............................................................................................38 6. CONCLUSÕES .......................................................................................47 7. ANEXOS ...................................................................................................49 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 57 FONTES CONSULTADAS .................................................................. 68 RESUMO .................................................................................................. 70 ABSTRACT ..............................................................................................72 1 1. INTRODUÇÃO 2 1.1 Epidemiologia do câncer de colo do útero O câncer vem sendo considerado como problema de saúde pública mundial. Segundo a WHO (World Health Organization- Organização Mundial de Saúde), em 2030 a carga global será de 21,4 milhões de casos novos de câncer e 13,2 milhões de mortes por câncer, em consequência do crescimento e do envelhecimento da população (WHO, 2013). Dentre todos os tumores, o câncer de colo uterino é um problema de saúde pública no mundo; para o ano de 2012, este tumor foi o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, com 527 mil casos novos. Sua incidência é maior em países menos desenvolvidos quando comparada aos países mais desenvolvidos. Em geral, começa a partir dos 30 anos, aumentando seu risco rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos. Esse câncer foi responsável pelo óbito de 265 mil mulheres em 2012, sendo que 87% desses óbitos ocorreram em países em desenvolvimento (INCA, 2014). Países Europeus, Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália apresentam as menores taxas de incidência, enquanto que os países da América Latina e, sobretudo, de regiões mais pobres da África, apresentam valores bastante elevados. (WHO, 2008a). No Brasil, a estimativa para o ano de 2014, que será válida também para o ano de 2015, aponta para a ocorrência de aproximadamente 576 mil casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma. O câncer do colo uterino terá um numero estimado em 15 mil,com um risco de 15,33 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2014). Em relação ao câncer do colo uterino, uma característica importante é a sua consistente associação, em todas as regiões do mundo, com o baixo nível socioeconômico, ou seja, com os grupos que têm maior vulnerabilidade social. São nesses grupos que se concentram as maiores barreiras de acesso à rede de serviços para detecção e tratamento precoce da doença e de suas lesões precursoras, advindas de dificuldades econômicas e geográficas, insuficiência de serviços e questões culturais, como medo e preconceito dos companheiros (Mosciski et al, 2012; Forman et al, 2012; Karjane et al, 2013). A infecção por um dos tipos oncogênicos do papilomavírus humano (HPV) é a causa necessária para o desenvolvimento do câncer cervical e de suas lesões 3 precursoras, isto é, as neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC). A distribuição dos tipos de HPV nessas lesões cervicais tem sido reportada em diversos estudos descritos pelo mundo. Sabe-se que o HPV está presente em mais de 99 % dos tumores invasivos, sendo os tipos 16 e 18 os mais freqüentes (Rosa et al, 2009; De Sanjose et al, 2010; Jaisamrarn et al, 2013; Wheeler, 2013). 1.2 O papilomavírus humano e as lesões cervicais Os papilomavírus humanos (HPV) são pequenos vírus pertencentes à família papilomaviridae, um grande grupo de ácido desoxirribonucleico (DNA) - vírus, pequenos com diâmetro de 55 nm, com uma disposição icosaédrica das proteínas da cápsula. O genoma possui aproximadamente 8.000 pares de bases constituídos por uma única molécula de DNA circular duplo; são epiteliotrópicos e específicos para cada hospedeiro (Carter et al, 2011; Doobar et al, 2012). Apesar de estar em grande destaque atualmente a infecção pelo HPV já era conhecida na Antigüidade. Reconhecida inicialmente por Hipócrates (460-377 A.C.), foi depois descrita como verrugas da pele, na Era Romana. Embora houvesse relatos de sua ocorrência na Idade Média, naquela época não existia distinção entre as diversas doenças sexualmente transmissíveis. Foi somente no século XVIII, que passaram a ser consideradas como entidades distintas, relacionadas à falta de higiene e à promiscuidade sexual. Sua transmissibilidade através do ato sexual foi muito bem caracterizada durante a guerra na Coréia, quando inúmeros soldados americanos voltaram contaminados pelo vírus após terem mantido relacionamentos com mulheres daquele país (Ostor, 1993). Foi no século XX que surgiram evidências de que as verrugas eram causadas por um vírus. Após 1950, vários estudos com microscopia eletrônica possibilitaram demonstrar a presença de partículas do vírus no interior de células de papiloma de pele, o que veio a constituir passo importante para a elucidação do agente etiológico. Até 1976, a hipótese diagnóstica de infecção por HPV era somente aventada quando do encontro de lesões verrucosas observadas a olho nu durante o exame ginecológico convencional (McIntyre, 2005). Foram Meisels e Morin, no Canadá, com estudos citológicos e zur Hausen et al, na Alemanha, com pesquisas biomoleculares, que publicaram os primeiros trabalhos relacionando a infecção por HPV com o carcinoma da cérvice uterina. Os primeiros autores demonstraram, do ponto de vista morfológico, que as alterações 4 celulares observadas em displasias moderadas eram bastante semelhantes àquelas observadas em células descamadas de condilomas acuminados (Meisels, Morin, 1981). O segundo grupo caracterizou a presença de segmentos de DNA viral em carcinomas de colo uterino, o que possibilitou os conhecimentos que se tem hoje sobre o binômio câncer cervical e HPV (McIntyre, 2005). Recentes técnicas de biologia molecular utilizando reação em cadeia da polimerase (PCR - polymerase chain reaction - reação em cadeia da polimerase) e sondas de DNA têm facilitado a tipagem e a caracterização deste vírus. Por definição, cada tipo viral é determinado por conter menos de 90% de homologia nos pares de base de seu DNA com qualquer outro tipo de HPV já identificado (Carter et al, 2011; Doobar et al, 2012). Mais de 200 tipos de HPV foram identificados através da análise da seqüência de DNA. Estes diferentes tipos virais variam no seu tropismo tecidual, associações com diferentes lesões e potencial oncogênico (Carter et al, 2011; Haedicke, Iftner, 2013). Cerca de 40 tipos diferentes de HPV infectam o trato anogenital, e pelo menos 12 destes estão classificados como carcinogênicos (Bouvard et al, 2009; De Sanjose et al, 2010; Doobar et al, 2012). Os HPVs genitais podem infectar o epitélio escamoso e as membranas mucosas da cérvice, da vagina, da vulva, do pênis e da região perianal, podendo induzir ao aparecimento de verrugas anogenitais (condiloma acuminado), lesões intraepiteliais escamosas précancerosas ou cânceres (Carter et al, 2011). De acordo com seu potencial oncogênico, os diferentes tipos de HPV anogenitais são classificados como vírus de baixo risco (6, 11, 40, 42, 43, 54, 61, 70, 72 e 81) e de alto risco (16, 18, 31, 33, 45, 51, 52 e 58). Os tipos 16 e 18 causam aproximadamente 70% de todos os casos de câncer cervical em todo o mundo, enquanto que os tipos 6 e 11 causam a maioria das verrugas genitais, tanto em homens quanto em mulheres (Villa et al, 2006; Rosa et al, 2009; De Sanjosé et al, 2010; Doobar et al, 2012). O tipo 16 é causa de mais de 50% dos casos de câncer do colo uterino; no entanto apenas 10 % das pacientes acometidas por este tipo viral desenvolvem infecção persistente, com risco de progressão para lesões prémalignas (Stanley et al, 2007; Doobar et al, 2012). A infecção pelo HPV é transitória e regride espontaneamente na maior parte dos casos entre seis meses a dois anos após a exposição; além disso, fatores como carga e tipo viral, infecção única ou múltipla podem contribuir para progressão ou 5 não do câncer cervical (Lowy et al, 2008; Rosa et al, 2009; Juckett, Adams, 2010; Gravitt, 2011; INCA 2011). Aspectos ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar nos mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e também a progressão para lesões precursoras ou câncer. Desta forma, o tabagismo, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais, a multiparidade e o uso de contraceptivos orais são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero (Lowy et al, 2008; Rosa et al, 2009; Juckett, Adams, 2010; INCA, 2011). Albero et al (2012) encontram evidente diminuição da infecção pelo HPV entre homens circuncisados. A idade também é citada como fator importante que interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, e acima dessa idade a persistência é mais freqüente (IARC, 2007; Lowy et al, 2008). A infecção persistente por tipos específicos de HPV oncogênicos é sabidamente considerada um fator de risco necessário para a carcinogênese cervical, especialmente o HPV-16 e o HPV-18 (Gravitt, 2011; Kjaer et al, 2010; Castle, Cramer, 2013). Segundo Kjaer et al, mulheres infectadas com HPV 16 apresentaram uma probabilidade estimada de desenvolver lesão intraepitelial de alto grau de 26,7% em 12 anos, com HPV 18 aproximadamente 19,1 %, com o 31 foi de 14,3% e de 14,9% para o 33 (Kjaer et al, 2010). Khan et al (2005b), num estudo de 10 anos com aproximadamente 20.000 mulheres encontrou 17,2% de casos de câncer quando havia infecção pelo HPV 16, de 13,6% com HPV 18 e apenas 3% quando não havia HPV 16 nem o 18. Sabendose que 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV e que a incidência anual de carcinoma de colo é de aproximadamente 500 mil casos, conclui-se que o câncer de colo é um evento raro, mesmo na presença deste vírus e que o mesmo é um fator necessário, mas não suficiente para o câncer cervical (WHO, 2010). Até recentemente a prevenção do câncer do colo do útero era feita basicamente de maneira secundária, ou seja, apenas com exames de citologia onde já se poderiam encontrar as lesões precursoras do câncer cervical, isto é, as NIC. Sob a luz dos novos conhecimentos, a prevenção do contágio dos tipos oncogênicos 6 de HPV é considerada a estratégia primordial para diminuição dos números de novos casos de câncer do colo uterino. 1.3 Prevenção do câncer do colo uterino Baseado no reconhecimento de que virtualmente todos os casos de câncer do colo uterino são atribuíveis a infecção persistente pelo HPV, a prevenção primária deste tumor deve-se relacionar à diminuição do risco de contágio por este vírus. Sabe-se que o uso de preservativos durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, o qual também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal (Juckett, Adams, 2010). O uso das vacinas contra os subtipos 6,11, 16, e 18 do HPV mostrou eficácia na redução do risco para o aparecimento de verrugas genitais e neoplasias intraepiteliais do trato genital inferior (Muñoz et al, 2009; Gravitt, 2011). Existem hoje duas versões comerciais da vacina contra o HPV, uma produzida pela GlaxoSmithKline (GSK; Cervarix) contra os HPVs 16 e 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo uterino e outra produzida pela Merck (Gardasil), quadrivalente, contra os HPVs 16, 18 e também contra os HPVs 6 e 11, causadores de cerca de 90% das verrugas genitais (Gravitt, 2011; Rey-Ares et al, 2012; Denny ,2012; Xian et al, 2013). O estudo FUTURE I (Females United to Unilaterally Reduce Endo/Ectocervical Disease) examinou a efetividade da vacina quadrivalente na prevenção de doenças genitais associadas aos HPVs 6, 11, 16 e 18. A vacina foi eficiente na prevenção de aproximadamente 100% das lesões pré cancerígenas (NIC 2 e 3) em 2.723 mulheres vacinadas e não expostas previamente ao vírus, em relação ao controles (Garland et al, 2007). Outro estudo, FUTURE II, mostrou que esta vacina é eficiente em 98% na prevenção de lesões cervicais pré neoplásicas (NIC 2/3) em 5.305 mulheres vacinadas não expostas ao vírus, em relação aos controles e por um período de 3 anos de seguimento (Villa et al, 2007). No estudo PATRICIA (Papilloma Trial Against Câncer in Young Adults), a efetividade da vacina bivalente na prevenção destas lesões NIC 2/3 foi de 98% para os HPVs 16 e 18 e indicou que poderia haver proteção cruzada contra os tipos 31, 33 e 45 (Paavonen et al, 2009). Ainda há dúvidas de conhecimento sobre as vacinações, relacionadas à adesão ao esquema vacinal, à duração da eficácia, à eventual necessidade de dose 7 de reforço e à proteção cruzada para outros tipos virais, pois as mesmas não oferecem proteção para 30% dos casos de câncer de colo do útero causados por outros tipos virais oncogênicos (Rey-Ares et al, 2012; Denny L, 2012; INCA, 2011; Xian et al, 2013). Apesar da elevada eficácia da vacina contra os tipos de HPV de alto risco na prevenção do câncer de colo uterino, um programa vacinal eficaz ainda poderá levar ao menos duas décadas para reduzir substancialmente a incidência desse tipo de tumor (Lowy et al, 2008). O rastreamento do câncer do colo do útero baseia-se na história natural da doença e no reconhecimento de que a mesma evolui a partir de lesões precursoras. Estas têm longa fase de latência até a invasão, variando entre 10 a 20 anos (Coelho et al, 2008; Syrjänen, 2008; Juckett, 2010), podendo ser detectadas e tratadas adequadamente, impedindo a progressão para o câncer (Coelho et al, 2008; Syrjänen, 2008; Bal et al ,2012, Castle, Cramer, 2013). Com base nesses dados há que se determinar implementação de ações efetivas de curto e longo prazo, tanto no plano técnico, no diagnóstico precoce da doença e tratamento das lesões detectadas, quanto nos planos educacional, social e político-econômico (Lowy et al, 2008; Rosa et al, 2009; INCA, 2011). Assim, a prevenção secundária deve abranger a detecção precoce das lesões precursoras do colo uterino (as NIC), bem como das lesões invasivas em seus estádios iniciais, tendo como objetivo final a diminuição da morbimortalidade dessa neoplasia (Lorenzato, Caudroy, 2005; Lowy et al, 2008; Saslow et al, 2012; Bal Singh et al, 2012). Atualmente os programas de prevenção do câncer cervical incluem ciclos repetidos de triagem em mulheres na população em geral, com seleção dos resultados anormais de citologia, visão colposcópica quando mandatória, acompanhamento pós-colposcópico e tratamento imediato quando necessário (CDC, 2009; Sehgal, Singh, 2009; Schwartz, 2009). Segundo o Ministério da Saúde, o método padrão de rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico. O intervalo entre os exames deve ser de três anos, após dois exames negativos, com intervalo anual. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual. Os mesmos devem seguir até os 64 anos e serem interrompidos quando, após essa idade, as mulheres tiverem pelo menos dois 8 exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos. Para mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais. Essas recomendações não se aplicam a mulheres com história prévia de lesões precursoras do câncer do colo uterino (INCA, 2011). Conforme apresentado na tabela 1 a seguir, a expectativa de redução percentual no risco cumulativo de desenvolver câncer, após um resultado negativo, é praticamente a mesma, quando o exame é realizado anualmente (redução de 93% do risco) ou quando ele é realizado a cada 3 anos (redução de 91% do risco). TABELA 1: Efeito protetor do rastreamento para câncer do colo do útero de acordo com o intervalo entre os exames em mulheres de 35 a 64 anos. Intervalo em Redução na incidência cumulativa anos % 1 93 2 93 3 91 5 84 10 64 Fonte: INCA, 2002 Há dados indicando que, direta ou indiretamente, o rastreamento em mulheres com menos de 25 anos não tem impacto na redução da incidência e/ou mortalidade por câncer do colo do útero. A incidência deste tumor em mulheres até 24 anos é muito baixa, sendo que a maioria dos casos é diagnosticada no estádio I. Essas informações explicariam porque a antecipação do início do rastreamento dos 25 para os 20 anos tem impacto muito limitado e avaliado como não vantajoso. Por outro lado, o início mais precoce representaria um importante aumento de 9 diagnósticos de lesões de baixo grau, consideradas não precursoras e representativas apenas da manifestação citológica da infecção pelo HPV, que têm grande probabilidade de regressão e resultariam em um número significativo de colposcopias e procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários. Já após os 65 anos o risco de evolução para câncer é baixo devido à lenta evolução das lesões precursoras (Coelho et al, 2008; Syrjänen, 2008; Juckett, Adams, 2010). 1.4 A citologia cervico-vaginal Em 1928 George Papanicolaou foi o primeiro a relatar que o câncer de útero poderia ser diagnosticado por meio de um esfregaço vaginal. No entanto a importância de seu trabalho não foi reconhecida até a publicação, em conjunto com Herbert Traut, no livro: “Diagnosis of Uterine Cancer by the Vaginal Smear,” em 1943. O anexo 3 relembra a Classificação de Papanicolaou de 1943 (Papanicolaou, Traut , 1943). Em 1953, Reagan introduziu o termo displasia que caracterizava um espectro de mudanças citológicas com características intermediarias entre as do carcinoma in situ e o epitélio cervical normal; a mesma substituiria a classe III criada por Papanicolaou. Segundo a gravidade da atipia celular e o grau de alteração arquitetural das células, foram sugeridos os termos displasia leve, moderada e acentuada (de Palo et al, 2002) (Quadro 1). 10 QUADRO 1 – Nomenclatura citopatológica utilizada na realização do exame citológico para diagnóstico das lesões cervicais escamosas e suas equivalências. Papanicolaou Classificação Classificação Classificação de Classifificação (1941) Histológica OMS Histológica de Bethesda 2001 Citológica (1952) Richart (1967) Brasileira (2006) Classe I ----- ---- normal ---- Classe II ----- ---- alterações alterações reparativas benignas lesão intraepitelial Classe III displasia leve NIC I LISL escamosa de baixo grau (LIEBG) lesão displasia NIC II e NIC III HSIL intraepitelial moderada e escamosa de acentuada alto grau (LIEAG) Classe IV carcinoma in situ NIC III LIEAG carcinoma in situ Classe V carcinoma carcinoma carcinoma carcinoma invasor invasor invasor invasor Atipias ASC-US ASC-US escamo- ASC-H ASC-H sas Atipias AGC glândula- AGC-H AGC res Fonte: INCA, 2011 Richart em 1967 introduz a nomenclatura neoplasia intraepitelial cervical (NIC), que incluía todos os graus de displasia e carcinoma in situ, na qual a displasia leve corresponderia à NIC 1; a categoria NIC 2 teria a expressão citológica da displasia moderada, e sob a denominação de NIC 3 foram englobadas a displasia acentuada e o carcinoma in situ. Esta junção ocorreu sob o argumento de que não há diferença na conduta empregada para estas duas ultimas entidades além do que, ambas apresentam grande potencial para invasão e taxas de reversibilidade baixas (Quadro 1). 11 Em dezembro de 1988, uma oficina de trabalho promovida pelo Instituto Nacional de Câncer, em Bethesda, Maryland, criou o sistema Bethesda, o qual sofreu revisões em 1991 e 2001. Este tinha por objetivo desenvolver um sistema de descrição dos esfregaços citológicos que representasse a interpretação citológica de um modo claro e relevante para o clínico. A classificação de Bethesda de 2001 é apresentada no anexo 4 (Kurman, Solomon,1994). Considerando a necessidade de incorporar novas tecnologias e conhecimentos clínicos, morfológicos e moleculares, o INCA em parceria com os diversos segmentos da sociedade científica lança em 2006 a Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preconizadas (anexo 5). Essa classificação incorporou o conhecimento de que o diagnóstico citológico deve ser diferenciado para as células escamosas e glandulares; inclusão do diagnóstico citomorfológico sugestivo da infecção por HPV, dividindo-as em lesões intraepiteliais de baixo e alto grau, ressaltando o conceito de possibilidade de evolução para neoplasia invasora e a introdução da análise da qualidade do esfregaço (Brasil/MS, 2006). Um diagnóstico final da paciente e seu plano terapêutico integram não somente o resultado da citologia cervical, mas também a historia, os achados clínicos e outros resultados laboratoriais como a interpretação da biopsia quando necessário. 1.5 Atipias escamosas celulares O termo atipias escamosas de significado indeterminado (do inglês ASC-US – atypical squamous cells of undetermined significance) foi introduzido na classificação de Bethesda, sendo definido como achados citológicos caracterizados pela presença de alterações celulares insuficientes para o diagnóstico de lesão intraepitelial. Este sistema recomendava, quando possível, a qualificação complementar destas ASCUS de acordo com as alterações observadas em: ASCUS favorecendo processo reativo (ASCUS-R) ou ASCUS favorecendo processo intraepitelial (ASCUS-I) (NCI, 1989). Como a nova categoria apresentava limitações por não definir se as alterações citológicas eram reparativas ou neoplásicas, houve uma revisão dessa classificação em 2001. Nesta foi recomendada, pelo fórum de ASCUS, a 12 qualificação das “células escamosas atípicas” como de significado indeterminado (ASC-US: atypical squamous cells of undetermined significance) ou favorecendo lesão de alto grau (ASC-H: atypical squamous cells, cannot rule out a high grade lesion) (Solomon et al, 2002). Essa subclassificação foi discutida e também adotada pela Sociedade Brasileira de Citopatologia a partir de 2002, com as mesmas categorias (Brasil/MS, 2006). Os critérios para diagnóstico de ASCUS foram propostos por Kurman e Solomon (1994): • Núcleo celular 2,5 a 3 vezes maior do que o núcleo de uma célula normal da camada intermediária do epitélio escamoso estratificado, na presença de citoplasma maduro; • Aumento discreto da relação núcleo-citoplasma; • Cromatina com padrão de distribuição regular, ausência de hipercromasia significativa; • Envelope nuclear regular e fino; • Anisocariose e pleomorfismo; • Bi ou multinucleação; Atualmente, as atipias escamosas celulares (ASC) representam a anormalidade citológica mais comumente descrita nos resultados dos laudos citopatológicos do colo do útero. Segundo dados registrados no sistema de informação do câncer do colo do útero (SISCOLO) em 2009 (BRASIL/MS, 2010), no Brasil, o diagnóstico citológico de ASC representou 1,4% de todos os exames realizados e 53,5% de todos os exames alterados. Os respectivos valores para o resultado ASC-US foram 1,2% e 46% (INCA, 2011). Segundo o ACOG, o diagnóstico ASC-US representa a alteração citológica mais comum nos Estados Unidos, respondendo por 4,4% de todos os diagnósticos citopatológicos. (ACOG, 2008). A tabela 2 demonstra a prevalência do achado citológico ASC-US em relação ao total de citologias realizadas em diversos autores na literatura. Os valores oscilam entre 0,3 e 7%. 13 TABELA 2 – Prevalência de ASC-US. N TOTAL DE AUTORES ANO CITOLOGIAS % ASC-US Baldauf et al 1998 1.641 7,0 Emerson et al 2002 15.860 7,0 Lonky et al 2003 8.170 3,4 Yalti et al 2005 28.469 2,45 Davey 2005 237 tradicional 3,81 Davey 2005 222 meio líquido 4,76 Feng et al 2006 93.112 3,8 Silverloo et al 2009 197 2,0 Wang et al 2009 6.339 6,45 Rekhi et al 2010 8.622 0,85 ATHENA 2011 47.208 4,1 Bal et al 2012 300 0,3 Células escamosas atípicas (ASC) constituem-se um achado citológico de difícil reprodutibilidade entre citopatologistas experientes. São consideradas aceitáveis taxas inferiores a 5% do total de exames realizados em um laboratório. Seu significado clínico depende de fatores como idade da paciente, história clínica e subclassificação do resultado em ASC-US ou ASC-H (Lee et al, 2006). Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, diante de um resultado de exame citopatológico de ASC-US a conduta na mulher com 30 anos ou mais será a repetição do exame citopatológico em um intervalo de seis meses, precedida, quando necessário, do tratamento de processos infecciosos e de melhora do trofismo genital, com preparo estrogênico após a menopausa. Para as mulheres com idade inferior a 30 anos, a repetição da colpocitologia está recomendada no intervalo de 12 meses. Considerando-se a baixa prevalência de doença de alto grau e câncer nessas mulheres com ASCUS, a conduta ver-e-tratar é inaceitável (INCA, 2011). Se dois exames citopatológicos subsequentes com intervalo de seis meses (ou 12 meses se com menos de 30 anos), forem negativos, a paciente deverá retornar à rotina de rastreamento citológico trienal. No entanto, se o resultado de 14 alguma citologia de repetição for igual ou mais significativa, a paciente deverá ser encaminhada para colposcopia. Se houver um novo resultado diferente de ASCUS, a investigação deverá ser direcionada para o novo resultado (INCA, 2011). Observam-se similaridades nas recomendações de conduta frente a uma mulher com ASCUS quando se consideram as diretrizes construídas para a França (France/ANAES, 2002), Reino Unido (United Kigndom/NHS Cancer Screening Programmes, 2004), Nova Zelândia (New Zealand/Ministry of Health/National Screening Unit, 2008) e Estados Unidos (ACOG, 2008). Uma revisão e análise crítica dessas diretrizes apontaram a convergência de recomendações de repetição da citologia entre seis e 12 meses. Na Nova Zelândia, utilizam o ponto de corte de 30 anos para determinar o intervalo de 12 meses para repetição da citologia em função de evidências de que o tempo médio para clareamento da infecção pelo HPV é de seis a 18 meses. E, como a infecção pelo HPV oncogênico é mais persistente nas mulheres com 30 anos ou mais, essas têm maior probabilidade de apresentarem lesões pré-invasivas (New Zealand/ Ministry of Health/ National Screening Unit, 2008). O encaminhamento para a colposcopia é determinado caso esse resultado seja mantido. Alguns países recomendam a utilização do teste de identificação para HPV oncogênico que, caso positivo, é critério para encaminhamento para colposcopia (Kececioglu et al, 2013). Todavia essa proposta não se aplica à nossa realidade, em função do alto custo do teste no mercado brasileiro e pelo fato de que a repetição do exame citopatológico cumpre o objetivo de identificar as mulheres que realmente precisam de colposcopia (Russomano et al, 2008). Nos Estados Unidos, segundo ASCCP (American Society for Colposcopy and Cervical Pathology - Sociedade Americana para Colposcopia e Patologia Cervical) a recomendação diante de um resultado de ASCUS pode variar: a conduta incluiria a repetição da citologia em 12 meses (aceitável) ou realização do teste de identificação para o DNA do HPV oncogênico (preferível). Se a citologia de repetição mostrar-se alterada ou o teste de DNA HPV for positivo, é critério para encaminhamento para colposcopia (Massad et al, 2013). Estas recomendações baseiam-se no risco de encontro de lesões intraepiteliais de alto grau e câncer quando da avaliação histológica de casos de ASCUS. Em 2008 a ACOG encontrou aproximadamente 6,4 a 11,9% de casos de NIC 2/3 entre as mulheres com diagnóstico de ASC-US e 0,1 a 0,2% de carcinoma 15 invasor no exame histopatológico, demonstrando assim, baixo risco de lesões graves (ACOG, 2008). Estudos de prevalência apresentados na literatura mostram risco de encontro de lesão intraepitelial de alto grau histológico em valores que variam de 2,7 a 17% em mulheres com citologia ASCUS. Já para o câncer cervical estes valores oscilaram entre 0 % e 1,4% (Tab. 3). Os autores destes estudos concluíram que casos de NIC ou de lesões invasivas podem ocorrer em mulheres com ASCUS, portanto nova citologia ou colposcopia e seguimento rigoroso devem ser considerados nessas pacientes. TABELA 3- Prevalência de NIC 2/3 e câncer em pacientes com citologia ASC-US. AUTORES ANO AMOSTRA %NIC 2/3 % Câncer Baldauf et al 1998 1.641 7,1 0,5 Grenko et al 2000 1.124 7,9 0 Morin et al 2001 360 5,3 0 Emerson et al 2002 643 10 0 Lonky et al 2003 8.170 11,9 0 ATLS 2003 3.488 8–9 0 Schiffman et al 2003 3.488 5,0 0 Yalti et al 2005 589 2,7 0,07 Feng et al 2006 846 9,5 0 Veiga et al 2006 215 10,7 1,4 Silverloo et al 2009 197 17,0 0 Cytryn et al 2009 108 1,85 0 Rekhi et al 2010 50 4,34 0 Panyanupap et al 2011 220 11,8 0 Wang et al 2011 409 6,83 0,24 16 Porém, quando se analisa a discrepância entre os resultados obtidos, com grande variabilidade nos índices de prevalência, faz-nos questionar a realidade das análises citológicas no universo das mulheres brasileiras. Em nosso meio, existem poucos estudos que buscaram determinar a correspondência histológica, assim como a correlação com variáveis da história clínica. Esta questão, aliada à elevada freqüência destas alterações dentre os diagnósticos citológicos, justifica aprofundar o estudo das ASCUS, um problema relevante na detecção das lesões neoplásicas e pré-neoplásicas. Diante desse dilema e com poucos trabalhos nacionais sobre o tema, optamos pela realização da presente pesquisa. 17 2. OBJETIVOS 18 2.1 Objetivo geral Avaliar a prevalência de lesões histológicas de alto grau e câncer de colo uterino em pacientes evidenciando células escamosas de significado indeterminado (ASCUS) na citologia oncológica de rastreamento. 2.2 Objetivos específicos Correlacionar os achados histológicos finais com as variáveis idade e estado menopausal e achados colposcópicos das pacientes avaliadas. 19 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS 20 3.1 Desenho do Estudo Estudo prospectivo transversal que incluiu mulheres que apresentassem citologia cervical denotando presença de células escamosas de significado indeterminado (ASCUS), atendidas no ambulatório de Colposcopia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP) – Departamento de Obstetrícia e Ginecologia (DOGI) no período de agosto de 2011 a janeiro de 2014. 3.2 Cálculo Amostral Foi realizado cálculo do tamanho amostral mediante análise estatística adotandose a prevalência de 9% para a citologia ASCUS, baseado nos dados do SISCOLO/2010. Considerando-se intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 6% chegou-se ao número amostral de 350 pacientes. Em virtude de termos conseguido maior numero de pacientes que obedecessem aos critérios de inclusão, as mesmas foram adicionadas ao numero final de casos. O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo, sob o número: 550.071 (anexo 1). 3.3 Casuística As pacientes atendidas no ambulatório de colposcopia da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo (ISCMSP), com diagnóstico citológico cervical com células escamosas de significado indeterminado (ASCUS) foram convidadas a participar do estudo, após assinatura do termo de consentimento livre (anexo 2). Foram incluídas no total do presente estudo 703 mulheres. As mesmas vieram encaminhadas dos diversos ambulatórios do DOGI e de unidades básicas de saúde da cidade. Os critérios de inclusão e exclusão encontram-se listados abaixo: Inclusão: mulheres no menacme ou na menopausa com presença de colo uterino e diagnóstico de ASCUS em citologia oncológica. Exclusão: Mulheres imunossuprimidas, gestantes, com doença cervical prévia tratada, alterações citológicas previas, bem como infecções genitais atuais. As mesmas foram submetidas à anamnese completa e encaminhadas para exame colposcópico, após avaliação dos critérios de inclusão e exclusão. 21 3.4 Métodos 3.4.1 Técnica Colposcópica A paciente foi colocada em posição de litotomia modificada sobre a mesa de exame, com descansos para o calcanhar, estribos ou suportes para as pernas (figura 1). De preferência, as nádegas deveriam ficar ligeiramente sobre a borda da mesa, o que facilitava a introdução do espéculo e, se necessário, sua manipulação nos diferentes eixos. Uma bandeja de instrumental com os materiais essenciais para a colposcopia foi colocada ao lado da mesa (figura 2). Figura 1 Figura 2 Avaliou-se inicialmente a vulva na pesquisa de lesões. Depois de expor o colo uterino através da colocação do espéculo, avaliou-se a natureza das secreções vaginais coletadas e a macroscopia do colo e qualquer lesão evidente nos fundos de saco vaginais. Em seguida, retirou-se o excesso de muco do colo uterino com swabs de algodão embebidos em solução salina. Aplicou-se a seguir o ácido acético a 5%. As duas finalidades principais de se aplicar esta substancia foram: realizar inspeção de toda a junção escamocolunar e, detectar e avaliar áreas atípicas ou anormais da zona de transformação. O ácido acético foi aplicado profusamente no colo uterino com um swab com ponta de algodão, bolas de algodão, gazes de 5 cm x 5 cm ou com um pulverizador para que recubra toda a superfície cervical, inclusive o orifício cervical externo. Identificou-se as margens distal e proximal da zona de transformação. A borda interna foi definida por toda a circunferência de 360° da junção escamocolunar. O efeito do acetobranqueamento pode ocorrer gradualmente no decorrer de 60 segundos, desaparecendo passado este tempo. 22 Portanto, repetiu-se a aplicação do ácido acético a cada 2 ou 3 minutos durante o exame, conforme necessário. Procedeu-se a seguir a aplicação da solução de lugol (teste de Schiller). As células epiteliais escamosas normais (tanto originais quanto metaplásicas maduras) contêm depósitos de glicogênio que se coram de castanho escuro ou quase preto quando é aplicada esta solução. Em contraste, o epitélio colunar normal não contém glicogênio e não capta o iodo nem é corado. De modo semelhante, a metaplasia escamosa imatura, o epitélio inflamatório e em regeneração e a zona de transformação congênita contêm muito pouco ou quase nenhum glicogênio e não se coram, ou se coram apenas parcialmente com iodo. As zonas de transformação anormal, como aquelas que apresentam NIC ou neoplasia invasiva, contêm muito pouco ou nenhum glicogênio. O grau de diferenciação das células em uma lesão escamosa pré-neoplásica determina a quantidade de glicogênio intracelular e, portanto, a intensidade de coloração observada. Como resultado, de acordo com os diversos graus de NIC, é de se esperar uma variedade de coloração, do castanho claro ao amarelo-mostarda. Este teste de Schiller é também muito útil para determinar a presença de lesões vaginais. A aplicação de solução de iodo faz com que as margens de uma lesão sejam nitidamente delineadas antes de fazer uma biopsia. No presente estudo empregou-se a terminologia colposcópica adotada em 2011 pela IFCPC (International Federation for Cervical Pathology and Colposcopy) no Congresso Mundial do Rio em Julho de 2011 (Anexo 5), para a graduação das lesões e descrição do exame colposcópico (Bornstein et al, 2012). Diante de um achado colposcópico anormal, foi realizada a biopsia e enviada ao laboratório de anatomia patológica da ISCMSP para análise histopatológica. Foram realizadas mais de uma biopsia quando o achado era misto, ou seja, mais de um tipo de alteração colposcópica, priorizando a lesão com classificação de grau maior. Para se obter uma amostra de tecido, a pinça de biopsia foi guiada sob visualização colposcópica para a área anormal. Depois que a biopsia foi obtida, indicou-se o local biopsiado num diagrama do colo uterino no formulário de registro. A amostra tecidual foi colocada em um frasco rotulado contendo formol tamponado a 10%. O local da(s) biopsia(s) foi cauterizado com solução de Monsel imediatamente depois de terminado o procedimento, com o intuito de se controlar o sangramento. 23 3.5 Método Histopatológico Após fixação em solução de formaldeído tamponado a 10% pelo período médio de 24 horas, o material de estudo foi processado segundo as normas habituais do Serviço de Anatomia Patológica da ISCMSP. Os fragmentos cervicais recebidos foram desidratados em álcool etílico, clareados pelo xilol e embebidos em parafina, para confecção dos blocos. Para o preparo das lâminas, os blocos foram cortados por meio de micrótomo calibrado para cortes de 4 mm de espessura. Os cortes histológicos obtidos, após colocação em lâmina, foram corados pelo método de hematoxilina e eosina (HE) e, então, realizada a leitura em microscópio óptico comum. Os casos foram avaliados e seus laudos emitidos de acordo com a padronização do Serviço de Anatomia Patológica da ISCMSP. Procurou-se estabelecer a presença ou ausência de lesão pré-neoplásica e caracterizar o grau de acometimento do epitélio seguindo-se os critérios padrões para a caracterização das LIE (NIC) da Sociedade Brasileira de Patologia (Horta, Fonseca, 1999). 3.6 Método estatístico Os dados foram digitados em planilhas do Excel 2010 for Windows para o adequado armazenamento das informações. As análises estatísticas foram realizadas com o programa estatístico R versão 2.15.2. A análise estatística de todas as informações coletadas nesta pesquisa foi inicialmente feita de forma descritiva através do cálculo de algumas medidasresumo, como média, mediana, valores mínimo e máximo, desvio-padrão, frequências absoluta e relativa (porcentagem), além de gráficos de dispersão unidimensional, barras e setor circular (pizza). As análises inferenciais empregadas com o intuito de confirmar ou refutar evidências encontradas na análise descritiva foram: Mann-Whitney (Siegel, 2006) na comparação da idade (anos) das pacientes, segundo resultado da biopsia e tipo de lesão Teste de Qui-quadrado de Pearson ou extensão do teste Exato de Fisher (Agresti, 1990) na comparação da distribuição: 24 o Do resultado da biopsia, segundo a alteração colposcópica, achado único ou misto e classificação da colposcopia o Do tipo de lesão, segundo a alteração colposcópica, achado único ou misto e classificação da colposcopia Em todas as conclusões obtidas através das análises inferenciais foi utilizado o nível de significância α igual a 5%. 25 4. RESULTADOS _____________________________________________________ 26 A amostra selecionada nesta pesquisa foi composta por 703 pacientes que apresentaram exame de citologia oncológica com resultado de ASCUS (Tab.4). A média etária das 703 pacientes foi de 37,6 anos, variando de 13 a 78 anos, com desvio-padrão de 13,6 anos. Estas pacientes realizaram o exame citológico, em média, a cerca de 3,5 ± 2,3 meses antes da chegada ao nosso ambulatório, variando de 1 a 12 meses. Vale destacar que das 703 pacientes, 96 (13,7%) já se encontravam na menopausa. O tempo médio de menopausa das 94 mulheres que souberam referi-la foi de 9,4 anos, variando de 1 a 25 anos, com desvio-padrão de 6,5 anos. TABELA 4: Características gerais das pacientes que apresentaram ASCUS no exame de citologia oncológica. Idade (anos) N Média Mediana Mínimo-máximo Desvio-padrão 703 37,6 37,0 13-78 13,6 Tempo após papanicolau (meses) N Média Mediana Mínimo-máximo Desvio-padrão 703 3,5 3,0 1-12 2,3 Menopausa Sim Não Total N 96 607 703 % 13,7 86,3 100,0 Tempo de menopausa (anos) N Média Mediana Mínimo-máximo Desvio-padrão 94 9,4 8,0 1-25 6,5 100,0 34,0 1,1 64,9 100,0 Classificação na colposcopia Grau menor Grau maior Miscelânia Não específico Não se aplica (colposcopia normal) Total 181 15 15 36 456 703 25,7 2,1 2,1 5,1 64,9 100,0 Tipo de lesão Nenhuma Normal = biopsia negativa Baixo grau Alto grau Total 456 177 51 19 703 64,9 25,1 7,3 2,7 100,0 27 Além da citologia oncológica, estas mulheres também realizaram o exame de colposcopia; 456 (64,9%) das mesmas apresentaram-se normais e 247 (35,1%) apresentaram alteração (Gráf. 1). GRÁFICO 1: Distribuição dos resultados da colposcopia das pacientes. Dentre as 247 pacientes que apresentaram cosposcopia alterada, destacamse por ordem de frequência as seguintes anormalidades colposcópicas: epitélio acetobranco (EAB) tênue (158 pacientes), iodo negativo (35 pacientes), pólipo endocervical (13 pacientes), mosaico fino (11 pacientes), EAB denso (10 pacientes), EAB tênue associado a pontilhado fino (5 pacientes), pontilhado fino (4 pacientes), condilomas do colo (2 pacientes), EAB tênue associado a mosaico fino (2 pacientes), pontilhado grosseiro (2 pacientes), queratose (2 pacientes), orifícios glandulares espessados (1 paciente), mosaico grosseiro (1 paciente) e pontilhado fino associado a mosaico fino (1 paciente) (Tab. 5). 28 TABELA 5 – Achados colposcópicos das 703 pacientes avaliadas. Achado colposcópico Colposcopia normal EAB tênue Iodo negativo Pólipo Mosaico fino EAB denso EAB tênue/pontilhado fino Pontilhado fino Condiloma EAB tênue/mosaico fino Pontilhado grosseiro Queratose Glândulas espessadas Mosaico grosseiro Pontilhado fino/mosaico fino Total N 456 158 35 13 11 10 5 4 2 2 2 2 1 1 1 703 % 64,9 22,5 5,0 1,8 1,6 1,4 0,7 0,6 0,3 0,3 0,3 0,3 0,1 0,1 0,1 100 De maneira resumida, dentre as 247 pacientes que apresentaram alteração na colposcopia, 239 (96,8%) foram achados únicos e 8 (3,2%) apresentaram achados mistos (Tab. 4 e Graf. 2). Dentre os achados colposcópicos anormais foram encontrados 181 (73,3%) achados de grau menor, 36 (14,6%) achados não específicos, 15 (6,07%) de grau maior e 15 (6,07%) casos de miscelânea (Tab. 4 e Graf. 3). GRÁFICO 2: Distribuição dos tipos de alterações apresentadas na colposcopia das pacientes. 29 GRÁFICO 3: Distribuição das classificações da colposcopia das pacientes. As biopsias realizadas nas pacientes com alteração na colposcopia confirmaram resultado NIC 1 em 51 (20,6%) pacientes, NIC 2 em 11 (4,5%), NIC 3 em 8 (3,2%) e resultado negativo em 177 (71,7%) (Tab. 6 e Graf. 4). TABELA 6 – Achados histológicos da pacientes submetidas à biopsia do colo do útero. Biopsia N % NIC 1 51 20,6 NIC 2 11 4,5 NIC 3 8 3,2 Biopsia negativa 177 71,7 Total 247 100 30 GRÁFICO 4: Distribuição dos resultados das biopsias das pacientes. Apenas para as 247 pacientes que apresentaram resultados alterados na colposcopia, sendo realizada a biopsia, investigamos a relação entre o resultado da biopsia e a idade das pacientes, tipo de alteração e classificação da colposcopia (ver Tab. 7 e Graf. 5 a 7). Com base nas análises estatísticas inferenciais, concluímos que o resultado da biopsia não se mostrou relacionado à idade das pacientes (p=0,082; teste de Kruskal-Wallis). O mesmo não ocorreu quando considerado tipo de achado colposcópico (p<0,001; teste de Qui-quadrado de Pearson), achado único ou misto (p=0,042; Extensão do teste Exato de Fisher), além da classificação da colposcopia (p=0,009; Extensão do teste Exato de Fisher), em que: As biopsias do tipo NIC 3 apresentam com mais frequência os achados colposcópicos EAB denso, mosaico grosseiro e pontilhado fino/mosaico fino quando comparadas aos demais resultados de biopsia. Há mais achados mistos nas biopsias NIC 1, NIC 2 e NIC 3 quando comparamos as biopsias negativas. Há mais colposcopias com achados maiores nas biopsias NIC 2 e NIC 3 quando comparados aos outros resultados de biopsia. 31 TABELA 7: Distribuição da idade (anos), tipo de achado colposcópico, achado único ou misto e classificação da colposcopia nas pacientes, segundo resultado da biopsia. Idade (anos) N Média Mediana Mínimo Máximo Desvio-padrão Tipo de achado colposcópico N EAB tênue 34 Iodo negativo 4 Pólipo 1 Mosaico fino 2 EAB denso 3 EAB tênue/pontilhado fino 2 Pontilhado fino 1 Condiloma 2 EAB tênue/masaico 1 Pontilhado grosseiro 1 Queratose Gland. Espess. Mosaico grosseiro Pontilhado fino/mosaico fino Total 51 NIC 1 NIC 2 Biopsia NIC 3 51 31,3 27,0 16,0 62,0 12,5 11 32,5 29,0 23,0 53,0 8,6 8 33,9 33,5 19,0 59,0 12,8 negativa Total P 177 36,4 36,0 14,0 76,0 13,5 247 35,1 33,0 14,0 76,0 13,2 0,082 a % 66,7 7,8 2,0 3,9 5,9 3,9 2,0 3,9 2,0 2,0 100,0 N 9 1 1 11 % 81,8 9,1 9,1 100,0 N 3 1 2 1 1 8 % 37,5 12,5 25,0 12,5 12,5 100,0 N 112 31 11 9 5 2 3 1 2 1 177 % 63,3 17,5 6,2 5,1 2,8 1,1 1,7 0,6 1,1 0,6 100,0 N 158 35 13 11 10 5 4 2 2 2 2 1 1 1 247 % 64,0 14,2 5,3 4,5 4,0 2,0 1,6 0,8 0,8 0,8 0,8 0,4 0,4 0,4 100,0 48 94,1 3 5,9 51 100,0 10 1 11 90,9 9,1 100,0 7 1 8 87,5 12,5 100,0 174 3 177 98,3 1,7 100,0 239 8 247 96,8 3,2 100,0 0,042 c Classificação da colposcopia Grau menor 40 78,4 9 81 4 50,0 128 72,3 Grau maior 4 7,8 2 18,2 3 37,5 6 3,4 Miscelânea 3 5,9 1 12,5 11 6,2 Não específico 4 7,8 32 18,1 Total 51 100,0 11 100,0 8 100,0 177 100,0 a b c Kruskal-Wallis, Qui-quadrado de Pearson, Extensão do teste Exato de Fisher 181 15 15 36 247 73,3 6,1 6,1 14,6 100,0 0,009 c Achado único ou misto Achado único Achado misto Total b <0,001 32 GRÁFICO 5: Distribuição da classificação da colposcopia das pacientes, segundo resultado da biopsia. Foi também importante objeto de investigação desta pesquisa, a relação entre o tipo de lesão (alto grau, baixo grau, biopsia negativa e colposcopia normal) e idade das pacientes, tipo de achado colposcópico, tipo de lesão única ou mista e classificação da colposcopia (Tab. 8 e Gráf. 6 e 7). Vale lembrar que esta investigação também foi realizada apenas nas pacientes que apresentaram resultados alterados na colposcopia. Os resultados inferenciais não confirmaram relação estatisticamente significante entre o tipo de lesão e idade das pacientes (p=0,097; teste de KruskalWallis) e tipo de alteração única ou mista (p=0,074; Extensão do teste Exato de Fisher). O Tipo de achado colposcópico (p=0,015; teste de Qui-quadrado de Pearson) e a classificação da colposcopia (p=0,003; Extensão do teste Exato de Fisher) se mostraram relacionadas ao tipo de lesão. De maneira resumida temos que, as alterações dos tipos EAB tênue, iodo negativo, pólipo e mosaico fino foram igualmente frequentes nos diversos tipos de lesão e estes últimos mais frequentes quando comparados aos demais tipos de alterações colposcópicas. A colposcopia com achado maior ocorreu com mais frequência nos tipos de lesões de alto grau, quando comparada aos outros tipos de lesões. 33 TABELA 8: Distribuição da idade (anos), tipo de achado colposcópico, achado único ou misto e classificação na colposcopia das pacientes, segundo tipo de lesão. Biopsia negativa Baixo grau Idade (anos) N Média Mediana Mínimo Máximo Desvio-padrão 177 36,4 36,0 14,0 76,0 13,6 Alto grau Total p 19 33,1 31,0 19,0 59,0 10,3 247 35,1 33,0 14,0 76,0 13,2 0,097 a 0,015 b 51 31,5 27,5 16,0 62,0 12,5 Tipo de achado colposcópico EAB tênue Iodo negativo Pólipo Mosaico fino EAB denso EAB tênue/pontilhado fino Pontilhado fino Condiloma EAB tênue/mosaico fino Pontilhado grosseiro Queratose Gland. Espess. Mosaico grosseiro Pontilhado fino/mosaico fino Total N 111 30 11 9 5 2 3 1 2 1 175 % 63,4 17,1 6,3 5,1 2,9 1,1 1,7 0,6 1,1 0,6 100,0 N 35 4 1 2 3 2 1 2 1 1 52 % 67,3 7,7 1,9 3,8 5,8 3,8 1,9 3,8 1,9 1,9 100,0 N 12 1 2 1 1 1 1 19 % 63,2 5,3 10,5 5,3 5,3 5,3 5,3 100,0 N 158 35 13 11 10 5 4 2 2 2 2 1 1 1 247 % 64,0 14,2 5,3 4,5 4,0 2,0 1,6 0,8 0,8 0,8 0,8 0,4 0,4 0,4 100,0 Achado único ou misto Achado único Achado misto Total 172 3 175 98,3 1,7 100,0 49 3 52 94,2 5,8 100,0 17 2 19 89,5 10,5 100,0 239 8 247 96,8 3,2 100,0 0,074 c 181 15 15 36 247 73,3 6,1 6,1 14,6 100,0 0,003 c Classificação da colposcopia Grau menor 127 72,6 41 78,8 13 68,4 6 3,4 Grau maior 4 7,7 5 26,3 Miscelânia 11 6,3 3 5,8 1 5,3 31 17,7 Não específico 4 7,7 Total 175 100,0 52 100,0 19 100,0 a b c Kruskal-Wallis, Qui-quadrado de Pearson, Extensão do teste Exato de Fisher 34 GRÁFICO 6: Distribuição do tipo de alteração única ou mista das pacientes, segundo tipo de lesão. GRÁFICO 7: Distribuição da classificação da colposcopia das pacientes, segundo tipo de lesão. 35 Com base nas análises estatísticas inferenciais, concluímos que a ocorrência de menopausa não esteve associada à presença de colposcopia normal ou alterada (p=0,105; teste de Qui-quadrado de Pearson), resultado da biopsia (p=0,433; teste de Qui-quadrado de Pearson) tipo de lesão histológica (p=0,377; teste de Quiquadrado de Pearson) e o tipo de alteração única ou mista (p=0,177; teste de Quiquadrado de Pearson) (Tab. 9 e Graf. 8 a 11). Considerando o tempo de menopausa registrado em 94 pacientes, temos que o achado único foi observado em 27 pacientes e as demais 67 pacientes apresentaram colposcopia normal. Nesse grupo não observamos achados mistos. TABELA 9: Distribuição dos exames relacionados à lesão das pacientes, segundo ocorrência de menopausa. Colposcopia Normal Alterado Total Menopausada N % 70 72,9 26 27,1 96 100,0 Menacme N % 386 63,4 221 36,6 607 100,0 N 456 247 703 Total % 64,9 35,1 100,0 Tipo de lesão histológica Nenhuma (colposcopia normal) Normal (bx neg.) Baixo grau Alto grau Total 70 19 6 1 96 72,9 19,8 6,2 1,1 100,0 386 158 45 18 607 63,8 25,8 7,4 3,0 100,0 456 177 51 19 703 64,9 25,1 7,3 2,7 100,0 0,377 Tipo de alteração Achado único Achado misto Nenhuma (colposcopia normal) Total 26 70 96 27,1 72,9 100,0 213 8 386 607 35,1 1,3 63,6 100,0 239 8 456 703 34,0 1,1 64,9 100,0 0,177 6 1 19 70 96 6,2 1,1 19,8 72,9 100,0 45 11 7 158 386 607 7,4 1,8 1,2 25,9 63,7 100,0 51 11 8 176 457 703 7,3 1,6 1,1 25,0 65,0 100,0 0,433 Biopsia Nic 1 Nic 2 Nic 3 Negativa Nenhuma (colposcopia normal) Total b Qui-quadrado de Pearson p b 0,105 b b b 36 GRÁFICO 8: Distribuição da colposcopia das pacientes avaliadas, segundo ocorrência de menopausa (%). colposcopia normal 100 colposcopia alterada 72,9 63,4 80 60 36,6 27,1 40 20 0 menopausada menacme GRÁFICO 9: Distribuição do tipo de lesão histológica das pacientes, segundo ocorrência de menopausa (%). nenhuma normal baixo grau alto grau 100 72,9 80 63,8 60 40 20 25,8 19,8 6,2 1,1 7,4 0 menopausada menacme 3 37 GRÁFICO 10: Distribuição do resultado da biopsia das pacientes, segundo ocorrência de menopausa (%). NIC 1 NIC 2 NIC 3 negativa não se aplica (colposcopia normal) 100 72,9 80 63,7 60 40 25,9 19,8 6,2 20 7,4 1,1 1,8 1,2 0 0 menopausada menacme GRÁFICO 11: Distribuição do tipo de alteração única ou mista das pacientes, segundo presença de menopausa (%). achado único achado misto não se aplica 100 72,9 80 63,6 60 40 35,1 27,1 20 0 0 menopausada 1,3 menacme 38 5. DISCUSSÃO 39 Há uma aceitação generalizada de que o rastreio regular é a mais importante estratégia de saúde pública para se reduzir a incidência do câncer do colo uterino e a mortalidade subseqüente. Esses índices têm diminuído nos países desenvolvidos ao longo das últimas três décadas, mas ainda é a quarta principal causa de morte em mulheres em todo o mundo e a segunda maior causa de mortalidade entre as mulheres com idades compreendidas entre 19-39 anos (Moutzious et al, 2013). No Brasil, após mais de uma década da implementação do programa de rastreamento, o declínio da taxa de mortalidade ajustada pela idade foi de 17,4% até o ano de 2009 (INCA, 2013). Entretanto, apesar da possibilidade de prevenção, observa-se ainda que, em cerca de 50% dos casos, a doença é diagnosticada em estádios avançados, tornando o seu tratamento mais agressivo e diminuindo, portanto, as possibilidades de cura (Thuler et al, 2012). A principal estratégia utilizada para detecção precoce do câncer de colo uterino no Brasil é através do rastreamento, que significa realizar o exame preventivo, citologia oncológica (Papanicolaou), em mulheres sem os sintomas, com o objetivo de identificar aquelas que possam apresentar a doença em fase muito inicial, quando o tratamento pode ser mais eficaz – Prevenção secundária. O conhecimento da história natural do câncer do colo do útero corrobora os resultados encontrados quanto à necessidade de concentrar o rastreamento na faixa etária que apresenta melhor relação de risco e benefício para o controle desse câncer (25 a 64 anos). Para as mulheres acima dos 64 anos, os percentuais significativos de lesões precursoras e de câncer provavelmente expressam a não realização de citologia e/ou a baixa qualidade do rastreio anterior ao longo da vida (Informático de Detecção Precoce, INCA 2013). Como mencionado previamente o ASCUS é a anormalidade epitelial mais comumente diagnosticada nos esfregaços corados pelo método de Papanicolaou. Desde a descrição inicial desta categoria, muitos pesquisadores têm tentado avaliar o risco de detecção subseqüente de neoplasia intraepitelial cervical neste grupo, buscando analisar a correspondência entre este achado citológico e a histologia. Em virtude de a citologia ASCUS ser a alteração citológica mais frequentemente 40 encontrada e com grande discrepância entre os diversos avaliadores, decidimos pela investigação deste achado citológico. Segundo dados do INCA, publicados em 2013, que analisam as alterações citopatológicas do colo do útero por faixa etária ao longo dos anos, observa-se que o percentual de atipias de significado indeterminado em células escamosas (ASC, não podendo excluir lesão de alto grau – ASC-H e possivelmente não neoplásicas – ASC-US), com destaque para os casos de ASC-US, é alto em todas as faixas etárias (cerca de 40% ou mais dos casos), nos seis anos analisados, tornando-se mais frequente com o aumento da faixa etária. As lesões intraepiteliais de baixo grau são predominantes nas mulheres mais jovens (< 25 anos), chegando a quase metade dos casos das alterações citológicas. (Informático de Detecção Precoce, INCA 2013) Nos trabalhos mencionados na literatura, as prevalências de lesões intraepiteliais de alto grau histológico variaram entre 2,7 a 17% a partir de uma citologia ASCUS, sendo que o percentual de câncer de colo uterino foi encontrado entre 0,07 e 1,4%, o que demonstra a importância clínica e epidemiológica dessa anormalidade citológica (tab. 3). Em nossa casuística os valores encontrados para lesões de alto grau foram 2,7 % e 0 % de câncer, estando de acordo com os valores acima descritos. A correlação histológica das citologias descritas como ASCUS, assim como sua história natural, vem sendo estudada na última década, não existindo ainda consenso entre os especialistas sobre a melhor conduta diante de mulheres com este diagnóstico citológico. Possivelmente, dados da história clínica possam se apresentar como preditores, auxiliando na identificação das mulheres com maior probabilidade de desenvolver câncer cérvico-uterino (Solomon et al, 2001;Sodhani et al, 2004; Yarandi et al, 2004). A conduta diante de mulheres com citologia cervical que demonstra presença de carcinoma invasor ou lesão intraepitelial de alto grau encontra-se bem definida, consistindo na referência imediata para realização de colposcopia e estudo histológico (Brasil/MS, 2008). Entretanto, numerosos questionamentos permanecem sobre qual seria o seguimento mais apropriado em mulheres com lesões intraepiteliais de baixo grau e ASCUS (Solomon et al, 2001;Sodhani et al, 2004; Yarandi et al, 2004). Muitas destas questões derivam de controvérsias acerca da história natural das alterações indeterminadas e anormalidades de baixo grau à citologia. Sabe-se 41 que uma grande proporção das alterações de baixo grau detectadas pela citologia cervical regredirá espontaneamente (Coelho et al, 2008; Syrjänen, 2008; Bal et al, 2012). Entretanto, vários investigadores têm expressado preocupação em relação a abordagens menos intervencionistas, pois esta conduta poderia ocasionar futuramente o aumento na ocorrência de doença invasiva. Alguns pesquisadores, como Kiviat (1996), também argumentam, que, em certos casos, as LIEAG não evoluem a partir de uma LIEBG, mas coexistem com estas, ou ocorrem diretamente, em mulheres infectadas pelo HPV de alto risco. No entanto, uma parcela importante de mulheres portadoras de lesões cervicais com potencial de progressão para câncer cérvico-uterino apresenta essa atipia citológica durante o rastreamento. Kinney e colaboradores (1998) investigaram em 46.009 mulheres não grávidas, a contribuição relativa dos diagnósticos citológicos no achado histológico subseqüente de neoplasia intraepitelial cervical grau 2/3. O resultado citológico mais comum que precedeu imediatamente a descoberta histológica de NIC 2/3 foram as ASCUS (38,8%), seguido pelas LIEAG (31,4%), LIEBG (20,1%) e AGCUS (9,7%). Estes resultados mostram que aproximadamente metade dos casos histológicos de NIC 2/3 foi precedida por anormalidades citológicas menores (ASCUS ou LIEBG). Assim, a realização de nova colpocitologia oncológica entre 4 e 6 meses após o diagnóstico inicial de ASCUS, apresenta uma sensibilidade de apenas 70% para detectar LIEAG histológico. Desta maneira, cerca de 30% das mulheres com NIC 2/3 e, possivelmente, um pequeno número com carcinoma invasor, não serão identificadas a princípio pela citologia, sendo seus diagnósticos adiados (Howard, 2000). Cox e colaboradores (1995), na Califórnia, acompanhando a evolução de 217 mulheres com diagnóstico de ASCUS, descreveram que a repetição do exame de Papanicolaou em 4 a 6 meses demonstrou citologia anormal em 60% das mulheres cujo estudo histológico indicava a presença de NIC 1 e, em 73%, das que apresentavam NIC 2/3. Em estudo semelhante, realizado na Geórgia, Ferris e colaboradores (1998) observaram que a coleta de nova citologia em 4 a 6 meses foi capaz de identificar 91% das pacientes cujo estudo histológico apresentava NIC 1 e 70% das pacientes com NIC 2/3 na histologia. A colposcopia subseqüente ao diagnóstico citológico seria a melhor forma de identificar as citologias com ASCUS que correspondem à NIC de alto grau 42 histológico e as separar, já de início, da maioria que não apresenta alterações intraepiteliais. Em muitas situações, onde a garantia de seguimento é duvidosa, a referência imediata para realização de colposcopia pode ser a abordagem indicada. Apesar de representar um maior custo inicial que as demais estratégias, a realização imediata de colposcopia é potencialmente capaz de economizar recursos a longo prazo, já que evita o seguimento de mulheres com alterações inflamatórias ou reativas. O impacto econômico das diferentes condutas a médio e longo prazos em relação ao ASCUS tem sido alvo de algumas publicações. Wright e colaboradores (1995) analisando o custo de diferentes abordagens no seguimento de mulheres com ASCUS, em Quebec e Nova Iorque, concluíram que a repetição da colpocitologia no período de 4 a 6 meses representa um custo 34% menor do que a realização imediata de colposcopia. A avaliação da presença do HPV, além da identificação e quantificação do tipo viral, através de técnicas de biologia molecular, vem sendo estudada como conduta alternativa ao seguimento citológico e à colposcopia imediata. Esta abordagem possibilita a detecção das mulheres com tipos oncogênicos do HPV, tendo em vista que 70 % dos cânceres invasivos do colo uterino são causados pelos tipos 16 e 18, o qual constitui o grupo que deve ser avaliado por colposcopia imediata (de Sanjosé et al, 2010). A presença destes dois tipos virais representa maior risco da ocorrência de NIC 2/3 e de carcinoma invasor (ATHENA, 2011). Embora tenhamos consciência das dificuldades financeiras no Brasil, cujos recursos precisam ser alocados em diversas necessidades em termos de saúde pública, a prevenção deve ser uma prioridade de suma importância. No Brasil o custo da colposcopia é menor quando comparado aos Estados Unidos; encontra-se entre R$100,00 e R$300,00 reais, e naquele país chega a custar entre US 200,00 a US 500,00 dólares. Além disso, a formação médica americana não inclui o aprendizado rotineiro de como realizá-la, ao contrario da maioria dos serviços de residência médica no Brasil. Já o custo dos exames de biologia molecular é inverso aos da colposcopia quando se compara Brasil e Estados Unidos, ou seja, em nosso país é muito mais oneroso realizar o teste do DNA-HPV do que se realizar uma colposcopia. Além disso, na maioria das vezes não dispomos desse recurso em hospitais públicos. No entanto, conseguimos ao menos referenciar a paciente para um serviço de 43 colposcopia. Em nosso serviço também não dispomos desta tecnologia molecular e conseguimos realizar colposcopia em todas as pacientes que nos são encaminhadas com diagnostico de ASCUS. Dessa maneira, optamos por realizar o nosso estudo utilizando apenas o exame colposcópico que é nossa ferramenta do dia a dia. Por todos esses motivos expostos, decidimos avaliar pacientes com exame citológico ASCUS e suas respectivas colposcopias na detecção de lesões précancerígenas. A amostra selecionada nesta pesquisa foi composta por 703 pacientes que apresentaram exame de citologia oncológica com resultado de ASCUS. Inicialmente o nosso cálculo do tamanho amostral mostrou-nos a necessidade de 350 pacientes. No entanto, dispúnhamos de tempo hábil para aumentarmos esta casuística, chegando assim ao total acima mencionado. A média etária das 703 pacientes foi de 37,6 anos, variando de 13 a 78 anos, denotando que selecionamos uma ampla faixa etária. Ficamos um pouco temerosos em relação a esta grande variação na faixa etária que talvez pudesse ser um fator de viés em nosso estudo. No entanto, verificamos através dos testes estatísticos que não houve interferência da idade no achado histológico final. Estas pacientes realizaram o exame citológico, em média, a cerca de 3,5 meses antes da chegada ao nosso ambulatório. Este fato mostra que as unidades básicas da nossa região estão se preocupando em referenciá-las rapidamente para realização de colposcopia, o que provavelmente não deve ocorrer em áreas mais afastadas da cidade. Das 703 pacientes avaliadas, 96 (13,7%) já se encontravam na menopausa. O tempo médio de menopausa das 94 mulheres que souberam referí-la foi de 9,4 anos, variando de 1 a 25 anos. Em nenhum desses casos foi prescrito a estrogenioterapia tópica e repetição da citologia antes de encaminhá-las para colposcopia, como orientado pelo ministério da saúde. Essa abordagem poderia evitar muitos exames colposcópicos e/ou biopsias desnecessárias. Das 703 colposcopia realizadas, 456 (64,9%) apresentaram-se normais e 247 (35,1%) alteradas. Dentre estas ultimas, 239 (96,8%) apresentaram achados únicos e 8 (3,2%) apresentaram achados mistos, destacando-se como principal alteração colposcópica o epitélio acetobranco (EAB) tênue em 158 pacientes. Este fato corrobora o encontrado na literatura, onde se evidencia o EAB com maior freqüência dentre as alterações colposcopicas (Reid, 1998). 44 As biopsias realizadas nas pacientes com alteração na colposcopia confirmaram resultado NIC 1 em 51 (20,6%) pacientes, NIC 2 em 11 (4,5%), NIC 3 em 8 (3,2%) e resultado negativo em 177 (71,7%). Assim, somando-se 456 colposcopias normais com 177 biopsias negativas, obtivemos um total de 633 (90,04%) exames negativos. Essa porcentagem enfatiza que a grande maioria das colposcopias realizadas foram desnecessárias, o que se pode concluir que a conduta preconizada pelo INCA de repetição da citologia após 6 meses ou 1 ano é adequada. Além do mais, cerca de 7,2% (51/703) das pacientes mostraram NIC 1, lesão esta com elevado potencial de regressão. No entanto, enfatizamos que em nosso estudo 19 das 703 mulheres (2,7%) apresentaram biopsia NIC 2/3 e nenhum câncer. Assim, se tevessemos acompanhado estas pacientes com citologia teríamos retardo o diagnóstico, sendo que as mesmas poderiam não ter voltado para controle. Na literatura encontramos valores de 2,7 - 17 % de lesões intraepiteliais de alto grau histológico e uma variabilidade de carcinomas entre 0,07 - 1,4 % quando da avaliação colposcópica de pacientes com ASCUS conforme podemos verificar na tabela 3. Já para a ACOG os valores foram respectivamente 6,4 - 11,9 % de lesões de alto grau histológico e 0,1 0,2 % de carcinoma (ACOG, 2008). Essa discordância nas porcentagens dos achados histológicos de citologia ASCUS nos faz questionar se essa variação ocorreu em virtude da grande diferença no numero de pacientes em cada trabalho (tab. 3) ou pela diferença no tempo de seguimento em cada um deles. De relevância importantíssima temos que citar as dificuldades de seguimento das pacientes com exames alterados em nosso meio, seja pelo difícil acesso a realização de nova citologia, retorno para o resultado, disponibilidade para colposcopias e/ou biopsias. Assim, o seguimento citológico de pacientes com ASCUS poderia deixar passar estes casos de NIC 2/3 e câncer. Nessa discussão temos que levar em conta que num país com dimensões continentais como o Brasil essa intrincada estrutura para cobertura populacional de citologias e acompanhamento das respectivas alterações, o encontro de 2,7 % de lesões intraepiteliais de alto grau não pode ser desprezível. Segundo dados do IBGE de 2010 o número da população feminina no Brasil entre 20 - 59 anos ultrapassa os 90 milhões, o que grosseiramente poderíamos calcular 2,7 % de um intervalo de confiança de 5 %, chegaríamos a um resultado de 121,5 mil casos com lesão intraepitelial de alto grau histológico com potencial risco 45 de progressão para o câncer de colo do útero. E ainda mais preocupante se pensarmos que as regiões mais pobres não dispõem de recursos adequados para realização da citologia e muito menos o diagnostico histológico e acompanhamento das lesões encontradas (IBGE, 2010) Apenas para o grupo que apresentou resultados alterados na colposcopia investigamos a relação entre o resultado da biopsia e a idade das pacientes, tipo de alteração e classificação da colposcopia. Concluímos que o resultado da biopsia não se mostrou relacionado à idade das pacientes. Inicialmente esperávamos que houvesse uma relação crescente entre idade e casos de NIC 2/3, a qual não foi confirmada. A literatura sugere que pacientes mais velhas apresentam maior risco de evolução das NIC e de recidivas (IARC, 2007; Lowy et al, 2008). As biopsias do tipo NIC 3 apresentam com mais frequência os achados colposcópicos EAB denso, mosaico grosseiro e pontilhado fino/mosaico fino quando comparadas aos demais resultados de biopsia. Há mais achados mistos nas biopsias NIC 1, 2 e 3 quando comparamos as biopsias negativas. Há mais colposcopias com achados maiores nas biopsias NIC 2 e NIC 3 quando comparados aos outros resultados de biopsia. Estes achados vão ao encontro com as publicações da literatura que evidenciam piores resultados histológicos nas mulheres com lesões colposcópicas de maior gravidade (Massad et al, 2009). Quando do delineamento da tese, ficamos em duvida em mantermos ou não as pacientes na pós menopausa. Mas, com base em nossos dados concluímos que a ocorrência de menopausa não influenciou o achado histológico final, isto é, não houve diferença de achado NIC 2/3 ou câncer independente do status menopausal. A menopausa também não esteve associada à presença de colposcopia normal ou alterada. Esperávamos que nas colposcopias das pacientes menopausadas, a grande parte dos achados colposcópicos fossem sugestivos de atrofia. No entanto, a presença de achados anormais foi semelhante aos das pacientes no menacme. Dentre as 96 mulheres menopausadas encontramos 1 caso de NIC 3 (1% das menopausadas) e 6 de NIC 1 (6,2% das menopausadas). Já para as pacientes no menacme esses valores foram respectivamente 1,2 % e 7,4 %. Considerando o tempo de menopausa registrado em 94 pacientes, temos que o achado único foi observado em 27 pacientes e as demais 67 pacientes apresentaram colposcopia normal. Nesse grupo não observamos achados mistos. 46 Do exposto concluímos que o seguimento citológico das pacientes com ASCUS é factível e seguro pelo baixo risco de encontro de casos de NIC 2/3. No entanto, caso seja possível, as pacientes deveriam ser encaminhadas para colposcopia com o intuito de se evitar retardo o diagnostico destas lesões de alto grau, com possível evolução para invasão. 47 6. CONCLUSÕES 48 1. Das 703 pacientes avaliadas sob colposcopia, encontramos NIC 2 em 11 (4,5%), NIC 3 em 8 (3,2%). Não foi evidenciado nenhum caso de câncer do colo uterino. 2. Com base nas análises estatísticas inferenciais, concluímos que o resultado da biopsia não se mostrou relacionado à idade das pacientes, bem como ocorrência de menopausa. O mesmo não ocorreu quando considerado tipo de achado colposcópico, achado único ou misto, além da classificação da colposcopia, em que: As biopsias do tipo NIC 3 apresentam com mais frequência os achados colposcópicos EAB denso, mosaico grosseiro e pontilhado fino/mosaico fino quando comparadas aos demais resultados de biopsia. Há mais achados mistos nas biopsias NIC 1, NIC 2 e NIC 3 quando comparamos as biopsias negativas. Há mais colposcopias com achados maiores nas biopsias NIC 2 e NIC 3 quando comparados aos outros resultados de biopsia. 49 7. Anexos 50 Anexo 1 - Aprovação pelo Comitê de Ética Parecer Consubstanciado do CEP Pesquisador: Ana Cristina Marcos Lopes Título da Pesquisa: Correspondência Histológica de Pacientes com Citologia Cervical Denotando Células Escamosas de Significado Indeterminado (ASC-US). Instituição Proponente: INCT-HPV/Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Versão: 2 CAAE: 09846513.5.0000.5479 Área Temática: Ciências da Saúde DADOS DO PROJETO DE PESQUISA Número do Parecer: 550.071 DADOS DO PARECER Correspondência Histológica de Pacientes com Citologia Cervical Denotando Células Escamosas de Significado Apresentação do Projeto: O objetivo deste trabalho é correlacionar os achados citológicos de células escamosas de significado indeterminado (ASC-US) com os achados colposcópicos, avaliando-se a presença ou não de anormalidades histopatológicas Objetivo da Pesquisa: Riscos: Nenhum Benefícios: Diminuir custos com exames colposcópicos, histopatológicos frente a diagnóstico citológico de células escamosas de significado indeterminado Avaliação dos Riscos e Benefícios: Projeto sem observações Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: Patrocinador Principal: Financiamento Próprio Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: ndn Recomendações: aprovado Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações: aprovado Situação do Parecer: Não Necessita Apreciação da CONEP: Pendência (s) atendida (s) e aprovada (s) nesta data Considerações Finais a critério do CEP: SAO PAULO, 10 de Março de 2014 Nelson Keiske Ono (Coordenador) 51 ANEXO 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido PROJETO: Prevalência de Neoplasia Intraepitelial de Alto Grau Histológico Em Pacientes com Citologia Apresentando Células Escamosas de Significado Indeterminado (Ascus) Estas informações estão sendo fornecidas para sua participação voluntária neste estudo sobre a prevalência de neoplasia intraepitelial de alto grau histológico em pacientes com citologia apresentando células escamosas de significado indeterminado (ASCUS). As pessoas que concordarem em participar do estudo serão entrevistadas em relação aos seus hábitos e antecedentes pessoais e obstétricos. Estas pacientes passarão por exame ginecológico completo, coleta de papanicolaou e colposcopia (exame que avalia o colo do útero com aumento), além de autorizarem que os resultados dos seus exames sejam utilizados nesse estudo. Não há possibilidade de danos ou grande desconforto no ato de participar do projeto. O paciente poderá, a qualquer momento, recusar-se a realizar os exames ou interromper sua participação no estudo, se assim o desejar, sem que haja qualquer prejuízo de seu tratamento no ambulatório de ginecologia e obstetrícia da Santa Casa de São Paulo. Em qualquer etapa do estudo o paciente ou seu familiar terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas ou para conhecimento dos resultados da pesquisa. A principal investigadora é a Dra. Adriana Bittencourt Campaner (CRM/SP 75.482), que pode ser encontrada em 2176-7000 ramal 5535. Se você tiver alguma dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa, telefone 3224-0122 (ramal 5502). Com relação às informações obtidas, estas serão mantidas em sigilo e não será divulgada a identidade de nenhum paciente. Não haverá despesas pessoais para o participante. Também não haverá qualquer compensação financeira relacionada à participação no estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do presente estudo. Os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste serviço. ___________________________________ Assinatura do paciente/ representante legal ___________________________________ Assinatura da testemunha Data __/__/__ Data __/__/__ Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. 52 ANEXO 3 - Classificação de Papanicolaou CLASSE I II III IV V ACHADOS Ausência de células atípicas ou anormais Citologia atípica sem evidência de malignidade Citologia sugestiva de malignidade Citologia muito suspeita de malignidade Citologia conclusiva de malignidade Fonte:Papanicolaou G, Traut HE. Diagnosis of uterine cancer by vaginal smears. New York: The Commonwealth Fund; 1943 53 ANEXO 4 - CLASSIFICACÃO CITOLÓGICA, BETHESDA 2001. Qualidade da Amostra • Satisfatória para avaliação (assinalar a presença ou ausência de células endocervicais ou metaplásicas). • Insatisfatória para avaliação (especificar o motivo). • Amostra rejeitada ou não processada (especificar o motivo). • Amostra processada e examinada, mas insatisfatória para avaliação das anormalidades epiteliais devido a (especificar o motivo). Negativa para Lesão Intraepitelial ou Malignidade • Microrganismos presentes • Trichomonas vaginalis • Fungos morfológicamente compatíveis com Candida • Flora sugestiva de vaginose bacteriana • Bactérias morfológicamente compatíveis com Actinomyces • Alterações celulares compatíveis com virus do herpes simplex • Outros achados não neoplásicos (Opcional) • Alterações celulares reactivas associadas a: • Inflamação (incluí reparação típica) • Radiação • Dispositivo intrauterino • Células glandulares após histerectomía • Atrofia INTERPRETACÃO / RESULTADO Células Epiteliais Anormais • Células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASC): • Favorecendo processo reativo, sem excluir LSIL (ASC-US) • Não pode ser excluída HSIL (ASC-H) • Lesão escamosa intraepitelial de baixo grau (LSIL) - (inclui alterações por HPV/displasia leve/CIN1) • Lesão escamosa intraepitelial de alto grau (HSIL) (inclui alterações por displasia moderada e grave, carcinoma in situ, CIN2 e CIN3) • Carcinoma escamoso • Células glandulares • Células glandulares atípicas (AGC) (especificar endocervical, endometrial ou sem especificar) • Células glandulares atípicas, possível neoplasia (especificar endocervical ou sem especificar) • Adenocarcinoma in situ endocervical (AIS) • Adenocarcinoma Outros • Sem evidência de lesão intraepitelial, com presença de células endometriais, em mulher com mais de 40 anos. Fonte:Solomon D, Davey D, Kurman R, Moriarty A, O'Connor D, Prey M, et al; Forum Group Members; Bethesda 2001 Workshop. The 2001 Bethesda System: terminology for reporting results of cervical cytology. JAMA 2002;287(16):2114-2119. 54 ANEXO 5 - Classificação Citológica Brasileira de 2006 TIPOS DA AMOSTRA Citologia: •Convencional •Em meio líquido AVALIAÇÃO PRÉ-ANALÍTICA Amostra rejeitada por: •Ausência ou erro de identificação da lâmina e/ou do frasco; •Identificação da lâmina e/ou do frasco não coincidente com a do formulário; •Lâmina danificada ou ausente; •Causas alheias ao laboratório (especificar); •Outras causas (especificar). ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA •Satisfatória •Insatisfatória para avaliação oncológica devido ao: •Material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) •Leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de: sangue; •piócitos; •artefatos de dessecamento; •contaminantes externos; •intensa superposição celular; •outros (especificar). Epitélios representados na amostra: •Escamoso •Glandular •Metaplásico DIAGNÓSTICO DESCRITIVO •Dentro dos limites da normalidade, no material examinado; •Alterações celulares benignas; •Atipias celulares. Alterações celulares benignas •Inflamação •Reparação •Metaplasia escamosa imatura •Atrofia com inflamação •Radiação •Outras (especificar) Atipias celulares: Células atípicas de significado indeterminado: Escamosas: •Possivelmente não-neoplásicas; •Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. Glandulares: 55 •Possivelmente não-neoplásicas; •Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. De origem indefinida: •Possivelmente não-neoplásicas; •Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. ________________________________________________________________ Atipias celulares: Em células escamosas: •Lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I); •Lesão intraepitelial de alto grau (compreendendo neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III); •Lesão intraepitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão; •Carcinoma epidermóide invasor. Atipias celulares: Em células glandulares: Adenocarcinoma in situ Adenocarcinoma invasor: Cervical Endometrial Sem outras especificações Outras neoplasias malignas Presença de células endometriais (na pós-menopausa ou acima de 40 anos, fora do período menstrual) MICROBIOLOGIA •Lactobacillus sp; •Bacilos supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus); •Outros bacilos; •Cocos; •Candida sp; •Trichomonas vaginalis; •Sugestivo de Chlamydia sp; •Actinomyces sp; •Efeito citopático compatível com vírus do grupo Herpes; •Outros (especificar). Fonte: Wright TC Jr, Massad LS, Dunton CJ, Spitzer M, Wilkinson EJ. 2006 consensus guidelines for the management of women with abnormal cervical cancer screening tests. Am J Obstet Gynecol 2007;197(4):346-55. 56 ANEXO 6 - Terminologia colposcópica do colo uterino IFCPC 2011 Nomenclatura IFCPC 2011 Aceita no Congresso Mundial do Rio em 5 de Julho de 2011 Avaliação Geral Achados colposcópicos normais Achados colposcópicos anormais Colposcopia adequada ou inadequada (especificar o motivo sangramento, inflamação, cicatriz, etc) Visibilidade da junção escamocolunar: completamente visível, parcialmente visível e não visível Zona de transformação Tipo 1, 2 ou 3 Epitélio escamoso original Maduro Atrófico Epitélio colunar Ectopia Epitélio escamoso metaplásico Cistos de Naboth Orifícios (glândulas) abertos Deciduose na gravidez Princípios gerais Localização da lesão : Dentro ou fora da ZT e de acordo com a posição do relógio Tamanho da lesão :Número de quadrantes do colo uterino envolvidos pela lesão e tamanho da lesão em porcentagem do colo uterino Grau 1 (Menor) Epitélio acetobranco tênue, de borda irregular ou geográfica Grau 2 (Maior) Epitélio acetobranco Acetobranqueamento aparecimento rápido, glandulares espessados Não específico Suspeita de invasão Miscelânea Mosaico fino, Pontilhado fino denso, de orifícios Mosaico grosseiro, Pontilhado grosseiro Margem demarcada, Sinal da margem interna Sinal da crista (sobrelevado) Leucoplasia (queratose, hiperqueratose), erosão, captação da solução de lugol: positiva (corado) ou negativa (não corado) (teste de Schiller negativo ou positivo) Vasos atípicos Sinais adicionais: vasos frágeis, superfície irregular, lesão exofítica, necrose, ulceração (necrótica), neoplasia tumoral/grosseira. Zona de transformação congênita, condiloma, pólipo (ectocervical/endocervical), inflamação, estenose, anomalia congênita, sequela pós-tratamento, endometriose. Fonte: Bornstein J, Bosze P, Girardi F, Haefner H, Menton M, Perrota M, Prendiville W, Russel P, Sideri M, Strander B, Torne A, Walker P. 2011 IFCPC colposcopic nomenclature. In preparation for puplication. 57 8. Referências Bibliográficas 58 Agresti A. Categorical data analysis. In: Agresti A. New York: Wiley Interscience; 1990, p.558. Albero G, Castellsagué X, Giuliano AR, Bosh FX. Male circuncision and genital human papillomavirus: a systematic review and meta-analysis. Sex Transm Dis. 2012;39:104-13. American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG Practice Bulletin n°99: Management of abnormal cervical cytology and histology. Obstet Gynecol. 2008;12:1419-44. Andrade MJ, Marana HRC. In: Oliveira CO, Lemgruber I, Costa OT. 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Objetivos: Avaliar a prevalência de lesões histológicas de alto grau e câncer de colo uterino em pacientes evidenciando células escamosas de significado indeterminado (ASCUS) na citologia oncológica de rastreamento. Métodos: Estudo prospectivo transversal que incluiu 703 mulheres que possuíam colo uterino e que apresentaram citologia cervical com células escamosas de significado indeterminado (ASCUS), atendidas no ambulatório de Colposcopia da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo – Departamento de Ginecologia e Obstetrícia no período de agosto de 2011 a janeiro de 2014. Foram excluídas gestantes, imunossuprimidas, alterações citológicas ou doenças cervicais previas, bem como infecções atuais. Todas as 703 pacientes foram submetidas à colposcopia e realizada biopsia dirigida quando houve presença de alteração colposcópica, sendo a amostra foi enviada ao laboratório para análise histopatológica. Resultados: 456 (64,9%) mulheres com colposcopia normal e 247 (35,1%) apresentaram alteração colposcópica. Dentre estas ultimas, 239 (96,8%) apresentaram achados únicos e 8 (3,2%) apresentaram achados mistos, destacando-se como principal alteração colposcópica o epitélio acetobranco (EAB) tênue em 158 pacientes (64%). Do total, 96 pacientes (13,7%) encontravam-se na menopausa. As biopsias realizadas nas pacientes com alteração na colposcopia apresentaram resultado NIC 1 em 51 (20,6%) pacientes, NIC 2 em 11 (4,5%), NIC 3 em 8 (3,2%) e resultado negativo em 177 (71,7%) não foi encontrado nenhum caso de câncer. Conclusões: O resultado da biopsia não se mostrou relacionado à idade das pacientes, bem como ocorrência de menopausa. O mesmo não ocorreu quando considerado tipo de achado colposcópico, achado único ou misto, além da classificação da colposcopia. As biopsias do tipo NIC 3 apresentam com maior frequência os achados colposcópicos EAB denso, mosaico grosseiro e pontilhado fino/mosaico fino, quando comparadas aos demais resultados de biopsia. Há mais achados mistos nas biopsias NIC 1, NIC 2 e NIC 3 quando comparamos as biopsias negativas. Houve mais colposcopias com achados maiores nas biopsias NIC 2 e NIC 3 quando comparados aos outros resultados de biopsia. Palavras chave: 1. Papanicolaou; 2. Colposcopia; 3. Neoplasia intraepitelial cervical; 4. HPV; 5. Neoplasias uterinas. 72 ABSTRACT 73 Ana CM Lopes/ Adriana Campaner Prevalence of High-Grade Intraepithelial Neoplasia in Patients with Cytology Presenting Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance (ASCUS). Objective: To evaluate the prevalence of histological high grade lesions and cervical cancer in patients with ASCUS cytology. Methods: Cross-sectional prospective study involving a total of 703 women with uterus and atypical squamous cells of undetermined significance (ASCUS) seen at the Colposcopy Outpatient Unit of the Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo Hospital – Department of Gynecology and Obstetrics, between August 2011 and January 2014. Subjects that were pregnant, immunosuppressed, with previous cytological abnormalities or cervical diseases, and current infections, were excluded. All 703 patients were submitted to colposcopy and underwent guided biopsy when changes on colposcopy were detected, with specimens sent to the laboratory for histopathological analysis. Results: 456 (64.9%) women with normal colposcopy and 247 (35.1%) with colposcopic abnormalities. In the latter group, 239 (96.8%) had single findings and 8 (3.2%) mixed findings, with slight acetowhite epithelium being the main colposcopic change, found in 158 patients (64%). Of the total sample, 96 patients (13.7%) were menopausal. The results of biopsies performed in those patients exhibiting colposcopic abnormalities disclosed CIN 1 in 51 (20.6%) patients, CIN 2 in 11 (4.5%), CIN 3 in 8 (3.2%) and a negative result in 177 (71.7%), and no cases of cancer were detected. Conclusions: We concluded that biopsy results were not associated with patient age or menopausal status. The same was not true for type of colposcopic finding (single or mixed) or colposcopy classification. Type CIN 3 biopsies more frequently exhibited colposcopic findings of dense acetowhite epithelium, coarse mosaic and fine punctate/fine mosaic, compared to other biopsy results. A greater number of mixed findings occurred in CIN1, CIN2 and CIN3 biopsies than in negative biopsies. There were more colposcopies with significant findings in CIN2 and CIN3 biopsies than for other biopsy results. Key words: Papanicolaou Test; Colposcopy; Cervical Intraepithelial Neoplasia; Human papillomavirus; Uterine Neoplasms.