ANA LAURA ANGELI
ACUPUNTURA APLICADA À MEDICINA ESPORTIVA
EQÜINA
Monografia apresentada ao
curso de Especialização em
Acupuntura Veterinária da
Universidade
Estadual
Paulista,
Faculdade
de
Medicina
Veterinária
e
Zootecnia, campus Botucatu.
Botucatu
2004
ANA LAURA ANGELI
ACUPUNTURA APLICADA À MEDICINA ESPORTIVA
EQÜINA
Monografia apresentada ao
curso de Especialização em
Acupuntura Veterinária da
Universidade
Estadual
Paulista,
Faculdade
de
Medicina
Veterinária
e
Zootecnia, campus Botucatu.
Orientador: Prof Dr Stelio Pacca Loureiro Luna
Botucatu
2004
DEDICATÓRIAS
Ao meu marido, Renato da Silva Freitas, por seu amor e
companheirismo.
À minha mãe Lourdes, à meu pai José e à meu irmão
Rodrigo, por seu apoio, amizade e amor.
Aos cavalos Nappage, Ramaia, Al Capone, Dom Pedrito,
Dom
Fidel,
Zago,
Borracha,
Porcina
e
tantos
outros
que
me
proporcionaram momentos inesquecíveis em competições esportivas e que
despertaram
em
mim
um
sentimento
inigualável
de
respeito,
companheirismo e amor infinito por esta espécie que tanto fez e faz por
nós, seres humanos.
EPÍGRAFE
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o
desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não
usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.”
Carlos Drummond de Andrade
RESUMO
ANGELI, A.L. Acupuntura aplicada à medicina esportiva eqüina.
Botucatu, 2003. 35p. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização
em Acupuntura Veterinária (Medicina Veterinária. Área de concentração:
Acupuntura) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia –
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Treinadores, jóqueis, cavaleiros e amazonas estão envolvidos numa
constante busca por maneiras de melhorar a performance de seus cavalos
atletas. O desempenho físico requer a interação complexa de mecanismos
que envolvem os sistemas musculoesquelético, nervoso, respiratório e
cardiovascular. Nenhum dado isolado tem a precisão de predizer a
capacidade de exercício de determinado eqüino, já que a habilidade
atlética é multifatorial. A acupuntura e o exercício possuem efeitos
fisiológicos muito semelhantes no organismo. Na medicina tradicional
chinesa, as lesões causadas por esportes são, muitas vezes, resultado de
estresse acumulado sobre tecidos enfraquecidos e/ou sistema imunológico
debilitado. O objetivo desta revisão foi discutir o uso da acupuntura na
medicina esportiva eqüina como mais uma alternativa terapêutica visando
melhorar o desempenho destes atletas. Deste modo, existem vários
pontos que podem ser utilizados com o intuito de melhorar a performance
de atletas, assim como existem muitos indícios que favorecem o uso desta
terapêutica.
Palavras-chave: acupuntura, cavalo, performance, exercício.
ABSTRACT
ANGELI, A.L. Acupuncture and equine sports medicine. Botucatu,
2003. 35p. Thesis presented to the Specialization Course on Veterinary
Acupuncture (Veterinary Medicine. Area: Acupuncture) – Faculty of
Veterinary Medicine and Animal Science – University of São Paulo State
“Júlio de Mesquita Filho”.
Trainers, jockeys and riders are involved in a continuous search for ways
of improving their horses’ performance. The athletic performance is a
complex interaction between musculoskeletal, nervous, respiratory and
cardiovascular systems. Due to this complex interaction, there is no single
data that can say if a horse will or won’t be a good athlete. Acupuncture
and exercise have similar physiological effects in the body. On traditional
chinese medicine, sports injuries are the result of accumulated stress on
weakened tissues and/or weakened immunological system. The goal of
this review was to discuss the use of acupuncture in equine sports
medicine as therapeutic alternatives with the intention of enhance its
performance. As so, there are several acupoints that can be used to
enhance athletic performance and a lot of clues that indicate the benefits
of acupuncture in searching for better equine athletic performance.
Key-words: acupuncture, horses, performance, exercise.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO _______________________________________________ 6
REVISÃO DE LITERATURA _____________________________________ 7
Medicina esportiva eqüina – avaliação de performance __________ 7
Avaliações do sistema cardiovascular ____________________ 7
Avaliações do sistema respiratório _____________________ 10
Avaliações bioquímicas e hormonais ___________________ 13
Medicina Tradicional Chinesa – acupuntura __________________ 15
Acupuntura e medicina esportiva __________________________ 16
Pontos indicados para estimular a performance __________ 20
Acupuntura como auxílio diagnóstico ___________________ 21
Bases neurofisiológicas do mecanismo de ação da acupuntura ___ 21
DISCUSSÃO _______________________________________________ 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS_____________________________________ 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 28
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
MTC – Medicina Tradicional Chinesa
BH – Bai Hui, ponto localizado no espaço lombo-sacro em animais
P – pulmão
IG – intestino grosso
R – rim
B – bexiga
F – fígado
VB – vesícula biliar
C – coração
ID – intestino delgado
Pc – pericárdio
TA – triplo aquecedor
E – estômago
BP – baço/pâncreas
VC – vaso concepção
VG – vaso governador
cm – centímetro
mV – milivolt
mm/s – milímetros por segundo
m/s – metros por segundo
l/min – litros por minuto
ml/kg/min – mililitros por quilograma por minuto
bpm – batimentos por minuto
FC – freqüência cardíaca
FCmax – freqüência cardíaca máxima
VFCmax – velocidade em que se atinge a FCmax
V200 – velocidade em que se atinge 200 batimentos por minuto
CV – volume total de células vermelhas
VLa4 – velocidade em que se atinge 4 mmol/l de lactato
O2 – oxigênio
CO2 – dióxido de carbono
VO2 – captação de O2
VCO2 – produção de CO2
VO2max – consumo máximo de O2
CK – creatina quinase
LDH – lactato desidrogenase
AST – aspartato amino transferase
ACTH – hormônio adrenocorticotrópico
6
INTRODUÇÃO
Treinadores,
envolvidos
numa
constante
jóqueis,
busca
cavaleiros
por
e
maneiras
amazonas
de
estão
melhorar
a
performance de seus cavalos atletas e de obter resultados importantes em
competições. Infelizmente para muitos, isto leva à condição de vencer a
qualquer custo, prejudicando diretamente a vida útil destes atletas.
Assim como na medicina humana (PELHAM et al., 2001),
inúmeros métodos têm sido aplicados para melhorar a performance de
cavalos atletas, como uso de massagem, fisioterapia, treinamentos
diversificados, alimentação e até mesmo uso de fármacos ilegais. A
seleção genética é também forte arma manipulada pela medicina
veterinária em busca de grandes atletas.
Neste contexto, a medicina complementar vem ganhando
popularidade, com o intuito de melhorar a performance de determinado
atleta
humano
ou
eqüino.
Por
esta
razão,
a
acupuntura
está
constantemente sendo avaliada sob este aspecto.
O objetivo desta revisão foi discutir o uso da acupuntura
na medicina esportiva eqüina como mais uma alternativa terapêutica
visando melhorar a performance destes atletas.
7
REVISÃO DE LITERATURA
MEDICINA
ESPORTIVA EQÜINA
–
AVALIAÇÃO DE PERFORMANCE
A performance atlética requer a interação complexa de
mecanismos que envolvam os sistemas musculoesquelético, nervoso,
respiratório e cardiovascular. Nenhum dado isolado tem a precisão de
predizer a capacidade de exercício, já que a habilidade atlética é
multifatorial. A avaliação de performance atlética com a utilização de
esteiras de alta velocidade tem ganhado popularidade nos últimos anos e
pode fornecer informações potencialmente úteis na seleção de eqüinos
para o esporte (HODGSON & ROSE, 1994).
Na maioria dos estudos de teste de performance em
cavalos atletas os exercícios são de esforço crescente e rápido. Nestes
testes, a velocidade da esteira geralmente é aumentada a cada 60 a 120
segundos até que o cavalo não consiga mais igualar seu andamento com
a esteira, o que é conhecido como ponto de fadiga; ou até que
determinada freqüência cardíaca seja obtida (ROSE, 1990; ROSE &
HODGSON, 1994a).
É necessário período de aclimatização à esteira antes da
realização de testes de performance, já que os níveis de lactato sangüíneo
e a freqüência cardíaca são maiores durante este intervalo. Recomendamse no mínimo quatro exercícios de aclimatização por animal num período
de dois dias (ROSE & HODGSON, 1994b).
Avaliações do sistema cardiovascular
Volume total de células vermelhas (técnica do azul de Evans)
A simples determinação do hematócrito pós-exercício não
é considerada confiável como indicador do volume total de células
vermelhas, porque há variações no volume plasmático. Entretanto, essa
8
medida pode ser um guia grosseiro do total de células vermelhas
circulantes (ROSE, 1990; ROSE & HODGSON, 1994b).
A quantificação do volume total de células vermelhas (CV)
é um índice de capacidade atlética, por ser o maior determinante da
capacidade de transporte de oxigênio em eqüinos (HODGSON & ROSE,
1994). A mensuração do CV é baseada na técnica do azul de Evans, um
corante que permite a determinação do volume plasmático utilizando a
técnica de diluição de corante proposta por Persson (1977).
Freqüência cardíaca
A freqüência cardíaca (FC) é um dos testes mais simples
de se realizar durante o exercício, fornecendo índice indireto de
capacidade e função cardiovascular. Em geral, há aumento linear na FC
que acompanha o aumento da velocidade de exercício até o ponto em que
a FC máxima for obtida (FCmax). A velocidade na qual a FCmax é atingida
pode variar de acordo com o condicionamento do atleta, sendo que o
próprio valor da FCmax não sofre alteração (ROSE & HODGSON, 1994b).
A FCmax é determinação individual altamente repetitiva em
eqüinos a cada avaliação de performance, porém não é determinação
importante de condicionamento por não ser afetada pelo treinamento
apesar de aumentos no consumo máximo de O2 - VO2max (EVANS & ROSE,
1988a).
Persson (1983) sugeriu que um ponto de referência útil
para comparar a capacidade cardiovascular é a velocidade da esteira na
qual a FC do animal seja igual a 200 batimentos por minuto (V200). Numa
FC de 200 bpm, a maioria dos cavalos está perto do ponto de acúmulo de
lactato sangüíneo. Cavalos puro sangue inglês de melhor performance têm
demonstrado valores de V200 entre 8,0 e 9,0 m/s (ROSE & HODGSON,
1994b). No entanto, segundo Rose & Evans (1987), numa FC de 200 bpm,
9
o cavalo pode estar se exercitando em diferentes proporções em relação a
sua FCmax e, também suas velocidade de consumo máximo de O2 (VO2max).
Outra
mensuração
da
capacidade
atlética
a
ser
considerada é a velocidade em que o cavalo alcança a FCmax (VFCmax), que
é melhor indicador da capacidade cardiovascular do que a V200 por não ser
valor relativo (ROSE & HODGSON, 1994b), como discutido acima. A
desvantagem da VFCmax é que ao contrário da determinação do V200, o
teste de exercício deve envolver exercícios acima da velocidade máxima
do indivíduo para que um platô de FC seja identificado, enquanto que as
determinações da V200 requerem somente quatro velocidades de exercício
submáximo, com a máxima intensidade sendo equivalente a 3/4 da
velocidade em pista (ROSE & HODGSON, 1994b).
Determinação do débito cardíaco
Débito cardíaco é o produto da freqüência cardíaca pelo
volume sistólico. Portanto, débito cardíaco é o volume de sangue ejetado
pelos ventrículos a cada minuto e é expresso em l/min ou ml/kg/min
(EVANS, 1994). Sugere-se que aumentos no débito cardíaco contribuam
para 2/3 do aumento na captação de O2 que ocorre durante o exercício
submáximo. Esta relação pode ser expressa pela equação de Fick onde a
captação de O2 (litros/minuto) é igual ao débito cardíaco (litros/minuto)
multiplicado pela diferença nas concentrações de O2 arterial e O2 venoso
(WAUGH et al., 1980).
O volume sangüíneo ejetado por cada ventrículo em uma
sístole aumenta cerca de 20 a 50% na transição entre o repouso e o
exercício submáximo (WAUGH et al., 1980). Este volume não se altera à
medida que a intensidade do exercício aumenta de aproximadamente
40% do VO2max para 100% do VO2max (EVANS & ROSE, 1988b).
10
Tamanho cardíaco estimado
Na avaliação de performance, o tamanho cardíaco
determina em grande parte o débito cardíaco máximo e a capacidade
aeróbica máxima de um atleta (HODGSON & ROSE, 1994). O conceito de
escore cardíaco foi proposto por Steel em 1963 (apud HODGSON & ROSE,
1994) e foi baseado na idéia de que o tamanho cardíaco é refletido pelo
tempo de despolarização ventricular. O escore cardíaco é então o valor
médio dos tempos do complexo QRS em milisegundos medidos nas
derivações I, II e III. O eletrocardiograma (ECG) deve ser realizado em
local calmo com o animal parado. A velocidade recomendada é de 25
mm/s e a sensibilidade de 1cm = 1mV. As configurações tanto do
complexo QRS e da onda T são afetadas pela posição dos membros e pela
FC. Por essa razão, o ECG deve sempre ser realizado com o membro
anterior esquerdo levemente à frente do membro contralateral e com a FC
menor ou igual a 40 bpm (HODGSON & ROSE, 1994).
Os valores de escore cardíaco médio em animais da raça
puro-sangue-inglês (PSI) adultos, variam de 113 a 116 (HODGSON &
ROSE, 1994). Estudos de Rose et al. (1979) e Nielsen & Vibe-Petersen
(1980) demonstraram correlação com a performance e o escore cardíaco
em cavalos norte-americanos de trote e cavalos de enduro. Entretanto, a
dúvida sobre a importância desse dado na previsão da performance
continua presente (HODGSON & ROSE, 1994).
Avaliações do sistema respiratório
Os diferentes estágios da cadeia de transporte do oxigênio
são estimulados e sofrem adaptações em resposta ao treinamento. A
melhora na captação de O2 com o treinamento está relacionada ao
aumento no débito cardíaco e/ou na obtenção do O2 (LEKEUX & ART,
1994). Em eqüinos, as adaptações do sistema respiratório ao treinamento
ocorrem rapidamente à medida que a intensidade do treinamento é
11
suficiente. Entretanto, estas adaptações são transitórias e altamente
reversíveis (ART & LEKEUX, 1993).
Análise de gases sangüíneos arteriais
A análise de gases sangüíneos arteriais durante o exercício
pode ser utilizada na avaliação de cavalos com baixa performance e
quando a suspeita estiver relacionada a doenças respiratórias (ROSE &
HODGSON, 1994b). Devido à influência da temperatura sangüínea na
gasometria e no pH (PAN et al., 1986; FEDDE, 1991; LEKEUX & ART,
1994), o uso de termostato venoso central é recomendado para
determinar
a
temperatura
sangüínea
durante
o
exercício.
Este
procedimento permitiria a correção de valores de gasometria para 37oC no
aparelho, já que a temperatura sangüínea durante o exercício máximo
pode chegar aos 42oC. A análise gasosa arterial é realizada pela
cateterização da artéria facial transversa próxima à comissura lateral do
olho (ROSE & HODGSON, 1994b).
Segundo Rose & Hodgson (1994b), este teste é útil
quando há suspeita de problemas respiratórios ou quando a citologia do
lavado broncoalveolar for anormal, o que poderia interferir nas trocas
gasosas.
Captação de O2
A mensuração da captação de O2 (VO2) é determinante na
abordagem da performance. O consumo máximo de O2 (VO2max) é
indicador chave da capacidade atlética. O VO2 aumenta linearmente com o
aumento na velocidade da esteira, e o VO2max pode ser identificado onde
ocorre estabilização do valor de VO2 apesar do aumento na velocidade.
Quando não for possível a identificação do platô, o VO2max equivale ao
valor da maior VO2 gravada em teste de exercício de esforço crescente que
leva o eqüino à fadiga (ROSE & HODGSON, 1994b).
12
O exercício em esteira inclinada a 10% utilizando sistema
de colheita de gases de fluxo aberto permite que o VO2, VCO2 e VO2max
sejam
determinados
confiavelmente
sem
dificultar
a
respiração
(SEEHERMAN & MORRIS, 1990). Amostras de gases são colhidas e após a
retirada da umidade, as concentrações de O2 e CO2 são determinadas
utilizando analisadores apropriados. Com a mensuração do fluxo, a
temperatura dos gases, O2 e CO2, VO2 e produção de CO2 (VCO2) podem
ser medidos confiavelmente (ROSE & HODGSON, 1994b).
A determinação do VO2 é melhor realizada através de
gases colhidos por máscara de fluxo aberto, porque a presença de
válvulas nesse aparelho dificultaria a respiração (EVANS & ROSE, 1988c;
EATON et al., 1995). Esta técnica requer o uso de máscara de conecção
frouxa, acoplada a tubo flexível, a indicador de fluxo, e a bomba de ar
centrífuga de alta velocidade. E ainda, a equipamento de amostra de
gases (BAYLY et al., 1987).
O pulso máximo de O2 é a relação entre VO2 e FC (VO2/FC)
e é expresso em ml/kg/contração ventricular. Devido à diferença de O2
arteriovenoso ser similar na maioria dos cavalos atletas se exercitando na
VO2max, o pulso de O2 na VO2max gera indicativo do volume máximo de
sangue ejetado pelos ventrículos no momento da contração cardíaca. Este
dado apresenta alta correlação com o tempo total de corrida na esteira
(EVANS, 1994).
Razão de troca respiratória (RTR)
As determinações de captação de O2, produção do CO2 e
razão de troca respiratória (RTR), devem ser obtidos durante o pico do
exercício de esforço crescente (LEKEUX & ART, 1994). A RTR que é
calculada como a razão de produção de CO2 e consumo de O2, gera
indicador das proporções relativas dos combustíveis metabólicos que são
utilizados em intensidades específicas de exercício (DERMAN & NOAKES,
13
1994). O exercício extenuante, ou seja, acima de 80% do VO2max, faz com
que o valor do RTR suba significativamente acima de 1,0. Deve-se levar
em consideração que o sistema tampão do bicarbonato de sódio aumenta
a produção e a liberação de CO2, contribuindo assim para o aumento do
valor de RTR para mais que 1,0 (LEKEUX & ART, 1994).
Avaliações bioquímicas e hormonais
Determinação do lactato
O lactato é produzido no músculo em exercício durante
diferentes intensidades de esforço. A taxa de aumento do lactato
sangüíneo pode ser utilizada como indicador da capacidade cardiovascular
e metabólica (ROSE & HODGSON, 1994b). As mensurações de lactato
sangüíneo podem ser obtidas tanto através do sangue total como do
plasma. Os valores plasmáticos são cerca de 1/3 maiores do que os
valores de sangue total, embora essa relação seja variável entre os
indivíduos. Devido à pequena informação fornecida em velocidades
menores, recomenda-se que as amostras para determinação do lactato
sejam colhidas a partir de 6, 8 e 10 m/s ou mais (ROSE & HODGSON,
1994b).
Para comparação dos valores plasmáticos ou sangüíneos
entre indivíduos, ou no mesmo animal em momentos diferentes, a
velocidade da esteira correspondente ao valor de lactato de 4 mmol/l tem
sido utilizada – VLa4 (PERSSON, 1983). A grosso modo, quanto maior o
valor do VLa4, mais condicionado é o atleta e maior é a sua capacidade de
exercício. Segundo ROSE & HODGSON (1994b), os valores de VLa4 em
cavalos puro-sangue-inglês normais, condicionados e com idade igual ou
superior a três anos ou mais, varia entre 8,0 e 9,5 m/s.
Em curtas distâncias (400 a 800m), uma alta capacidade
glicolítica é vantajosa, porém pode não ser detectada em testes de
esforço crescente. Cavalos com alta capacidade anaeróbica possuem altos
14
picos de lactato plasmático após um teste de exercício máximo (EATON et
al., 1992). O pico de lactato pode ser maneira mais útil de prever a
performance de cavalos de corrida de curta distância (ROSE & HODGSON,
1994b). Segundo Davie & Evans (2000), as concentrações sangüíneas de
lactato
tiveram
aplicação
potencial
nos
estudos
a
campo
de
condicionamento em cavalos puro-sangue-inglês.
Determinação das enzimas musculares
Aumentos
moderados
nas
enzimas
musculares
são
encontrados no plasma ou soro em resposta a exercícios de baixa e alta
intensidades; sendo que no exercício de alta intensidade, ocorre aumento
na atividade de CK, AST e LDH (NIMMO & SNOW, 1982). Rose & Hodgson
(1994c) sugeriram que os aumentos enzimáticos refletem aumentos na
permeabilidade da membrana de mitocôndrias, ao invés de refletirem
lesão muscular. As enzimas musculares se apresentam mais amplamente
elevadas após exercícios de longa duração e de baixa intensidade, como o
enduro e o segundo dia de competições de três dias (ROSE et al., 1980;
ROSE et al., 1983).
Determinação de cortisol e ACTH
O cortisol é o principal hormônio estudado em resposta ao
exercício. O grau de elevação da concentração plasmática de cortisol é
similar após exercícios máximo e submáximo (SNOW & MACKENZIE,
1977a; SNOW & MACKENZIE, 1977b). Este aumento normalmente é de
duas ou três vezes, com os valores retornando ao normal cerca de quatro
horas após partida de esforço físico agudo. As concentrações de cortisol
após competições de enduro são cerca de 30% maiores do que em outras
atividades atléticas (ROSE & HODGSON, 1994c). Luna (1993) demonstrou
que os níveis de cortisol plasmático foram maiores no exercício de baixa
intensidade e longa duração do que no exercício de alta intensidade e
15
curta duração, sugerindo que a duração mais do que a intensidade do
estímulo foi mais significativa para a magnitude da resposta ao estresse.
O pico de cortisol ocorre de 20 a 30 minutos após o
exercício
e,
em
contraste,
as
concentrações
do
hormônio
adrenocorticotrópico (ACTH) aumentam linear e simultaneamente com a
carga de exercício imposta (ROSE & HODGSON, 1994c). Desta forma, a
resposta do cortisol ao exercício na esteira pode ser um marcador
fisiológico confiável na avaliação de performance em eqüinos (MARC et
al., 2000). Já, de acordo com Golland et al. (1999) as concentrações total
e média de cortisol não foram significativamente maiores nos cavalos em
repouso e após o treinamento excessivo.
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA –
ACUPUNTURA
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) acredita que tudo
na natureza é energia ou Qi. Este conceito é divido em Yin e Yang que
possuem relação antagônica. Portanto, a doença de forma geral, nada
mais é do que o desequilíbrio entre Yin e Yang (MACIOCIA, 1996).
A MTC considera a função do corpo e da mente como o
resultado da interação de determinadas substâncias vitais. Como a base
de tudo é o Qi, todas as outras substâncias vitais são manifestações do Qi
em vários graus de materialidade. Estas são: Qi; Xue – sangue; Jing –
essência pré-celestial herdada dos pais e pós-celestial obtida através dos
alimentos; e Jin Ye – fluidos corpóreos como líquido sinovial, líquor, saliva,
entre outros (MACIOCIOA, 1996).
Existem várias teorias que explicam as inter-relações e os
efeitos da acupuntura. A teoria mais antiga é a dos 5 Movimentos, onde
existem cinco processos básicos – madeira, fogo, terra, metal e água –
que são dependentes e se relacionam intimamente. Cada um é
responsável por governar diferentes órgãos dos sentidos, emoções, cores,
sabores, climas e tecidos do organismo (MACIOCIA, 1996). Outra, é a
16
teoria Zang Fu, onde Zang seriam as vísceras coração, baço-pâncreas,
pulmão, rim, fígado e pericárdio; e os Fu seriam os órgãos intestino
delgado, estômago, intestino grosso, bexiga, vesícula biliar e triplo
aquecedor (ROSS, 1994). Segundo Pelham et al. (2001), embora o estudo
anatômico por autópsia não fosse permitido na China antiga, os clínicos
utilizavam as observações fisiológicas para desenvolver a teoria das
funções dos órgãos Zang Fu. Os órgãos Fu são responsáveis por receber e
digerir os alimentos e, as vísceras Zang, por produzir e estocar energia.
Outro conceito importante dentro da MTC é a noção de
que a energia flui através do organismo ao longo de canais específicos ou
meridianos. Estes meridianos fazem a comunicação entre órgãos e
extremidades, e é através deles que as funções fisiológicas do organismo
são reguladas e o equilíbrio é mantido. Existem 14 meridianos principais,
sendo 12 deles bilaterais e correspondentes a cada órgão Zang Fu, e
outros dois que circulam nas linhas médias dorsal e ventral. Ao longo da
cada meridiano existem pontos específicos onde as agulhas de acupuntura
são inseridas (MACIOCIA, 1996).
O sistema de meridianos é utilizado para fazer diagnóstico
e desenvolver planos de tratamentos para ampla variedade de condições
patológicas. Os demais fatores como Yin Yang, energia, sangue e órgãos
Zang Fu devem estar em equilíbrio para que haja saúde. O organismo
deve também manter o equilíbrio com o ambiente externo (MACIOCIA,
1996).
ACUPUNTURA
E MEDICINA ESPORTIVA
A acupuntura parece ter sucesso no tratamento de baixa
performance de eqüinos em diversos esportes (HARMAN, 1997). Quando
combinada ao correto encilhamento, casqueamento e técnicas de
montaria, a melhora na performance atinge aproximadamente 85 a 90%
dos eqüinos tratados, retornando ao mesmo nível ou nível superior da
17
performance original, após cerca de um a quatro tratamentos com
acupuntura (HARMAN, 1997; HARMAN, 2001).
A queda de performance devido à dor lombar crônica é
problema comum em cavalos de esporte (KLIDE & MARTIN, 1989) e
terapias complementares como o uso de ervas e acupuntura, são efetivas
para o tratamento desta condição (KLIDE & MARTIN, 1989; XIE & LIU,
1997; HARMAN, 2001). Existem vários trabalhos que demonstram esta
eficácia melhorando a performance da maioria dos cavalos atletas após 10
sessões de acupuntura em média, seja por acupuntura tradicional,
eletroacupuntura, aquapuntura ou laser em pontos localizados na
musculatura lombar (MARTIN & KLIDE, 1987; KLIDE & MARTIN, 1989;
XIE & LIU, 1997).
Sabe-se que a acupuntura está associada à liberação de
β-endorfinas. Estes opióides têm sido identificados na modulação da dor e
inibição da transmissão nociceptiva em todos os níveis do sistema
nervoso.
Concentrações
aumentadas
de
β-endorfinas
têm
sido
encontradas após o exercício e a acupuntura (PELHAM et al., 2001).
Harman (1997) sugeriu que não ser aconselhável tratar um eqüino pela
acupuntura nas 48 horas que antecedem a competição, já que este pode
apresentar-se relaxado devido à liberação de opióides endógenos.
Tem-se relatado que a acupuntura e o exercício possuem
efeitos fisiológicos muito semelhantes no organismo. Ambos atenuam o
sistema nervoso, estimulam fibras nervosas aferentes, produzem efeitos
similares nos sistemas cardiovascular e pulmonar e produzem respostas
neuroendócrinas semelhantes (PELHAM et al., 2001).
Segundo
Henneman
(2001)
os
desequilíbrios
que
envolvem as substâncias vitais – Qi, Jing, Xue, Shen e Jin Ye – devem ser
considerados de grande importância quando se trata de problemas
relacionados à medicina esportiva como na deficiência de Xue que pode
18
não alterar o hematócrito, mas pode afetar os tecidos tornando-os fracos
por falta de nutrição.
A compreensão da relação entre os órgãos internos auxilia
na seleção dos pontos para o tratamento de lesões esportivas
(HENNEMAN, 2001). Os rins armazenam Jing pré-celestial, são a base do
Yin e do Yang e governam a saúde dos ossos, dentes, cartilagens e da
medula – medula óssea, encéfalo e medula espinhal. Os rins são afetados
pelo frio (ROSS, 1994). O baço-pâncreas é um dos mais importantes
órgãos na terapia voltada à performance porque é responsável pela
nutrição dos músculos, governa o sangue e mantém os órgãos no lugar. O
BP e afetado pela umidade (ROSS, 1994). O fígado é responsável por
harmonizar o fluxo suave de Qi por todo o organismo, armazenar o
sangue e controlar os tendões bem como os cascos. O fígado é afetado
pelo calor e pela estagnação (ROSS, 1994). O coração é o órgão mais
quente por seu constante movimento e é facilmente afetado por
deficiências de Yin. Este é responsável por regular o sangue e os vasos
sangüíneos. O pulmão harmoniza o Qi, controla a respiração e é afetado
pela secura (ROSS, 1994).
Na MTC, as lesões causadas por esportes são, muitas
vezes, resultado de estresse acumulado sobre tecidos enfraquecidos e/ou
sistema imunológico debilitado. Fatores patogênicos externos como frio,
calor, vento, secura e umidade, e fatores patogênicos internos são
coadjuvantes importantes na ocorrência destas lesões (HENNEMAN,
2001).
A invasão de frio nos músculos causa estagnação de Qi e
Xue, criando contratura das fibras musculares. Na primeira o cavalo
abaixa ao toque e na segunda, sente muita dor e tem aversão ao toque.
Alguns exemplos na medicina ocidental seriam contratura de tendão,
miopatia fibrótica e espasmos musculares (HENNEMAN, 2001). A invasão
19
de calor nos músculos – tanto temperatura externa quanto bactérias ou
vírus patogênicos – é manifestada pela inabilidade de contrair ou atonia.
Como exemplos seriam mieloencefalite protozoária eqüina, instabilidade
cervical, mielopatia degenerativa e herpes (HENNEMAN, 2001). O vento se
apresenta como doenças que possuem a característica de se moverem ou
mudarem rapidamente, manifestando-se como tremores e contrações
musculares irregulares. Exemplo disto seria a paralisia hipercalêmica
periódica e convulsão (HENNEMAN, 2001).
A invasão da secura no organismo danifica primeiramente
Yin e Xue responsáveis pelo resfriamento e lubrificação. Quanto maior a
atividade e a função metabólica de músculos e tendões, maior sua
necessidade de Yin e Xue. Os sinais de secura manifestam-se similarmente
aos de calor associados à pobre qualidade do casco, pele seca e perda da
elasticidade de tendões e ligamentos (HENNEMAN, 2001). A umidade
afeta primariamente o BP e conseqüentemente os músculos. A formação
de fleuma no sistema musculoesquelético, normalmente causada por
deficiência do BP, combinada a estresses biomecânicos de performance,
casqueamento e desequilíbrios da sela, abre caminho para lesões
artríticas. A formação de fleuma e edema entre os músculos interfere com
a habilidade das fibras em manter a homeostase dos eletrólitos necessária
para a contração e o relaxamento, afetando diretamente a propulsão e a
absorção de impactos (HENNEMAN, 2001).
O estresse causado por viagens, dieta, manejo e dor
podem levar ao aparecimento de sentimentos como preocupação,
depressão, raiva e medo que são identificados por pessoas que convivem
com estes animais, sem antropomorfismo. A preocupação e a ansiedade
deprimem o baço-pâncreas e o Qi do pulmão, a irritabilidade pode criar
estagnação do Qi do fígado bem como deficiência de sangue do fígado, e
o medo deprime o Jing e o Qi do rim (HENNEMAN, 2001).
20
Dois padrões importantes a serem considerados em
medicina esportiva são os padrões de obstrução – Bi e flacidez – Wei. As
síndromes Bi são normalmente caracterizadas por doenças crônicas como
artrites, fibromioalgia e reumatismo. Estas são criadas pela obstrução
profunda na distribuição de Qi e sangue. As síndromes Wei são causadas
por deficiências de Qi e/ou sangue, e são identificadas primariamente por
atrofia
muscular.
As
causas
incluem
deficiências
nutricionais,
mieloencefalite protozoária eqüina, herpes, trauma e estresse biomecânico
repetitivo (HENNEMAN, 2001).
Ehrlich & Haber (1992) demonstraram em humanos que
houve aumento significativo na capacidade atlética máxima e no limite
anaeróbico – VLa4 dos indivíduos tratados com sessões semanais de
acupuntura, durante cinco semanas. Estes achados foram interpretados
como sinal de melhora funcional nos mecanismos hemodinâmicos e
metabólicos, aumentando assim a performance.
Pontos indicados para estimular a performance
Os pontos conhecidos empiricamente para estimular a
performance são Estômago 30 (E30), Estômago 36 (E36), Vesícula Biliar
27 (VB27), Baço/pâncreas 13 (BP13) e Bai Hui (Vaso Governador 3 –
VG3). De acordo com Bosh & Guray (1999) e Fleming (2001a), os pontos
apresentam as seguintes indicações de uso:
Bai Hui –tratamento de qualquer claudicação, reumatismo e paralisia
dos membros posteriores, artrite da articulação coxo-femoral e excesso de
esforço físico.
E30 – tratamento de dor abdominal, ciclo estral irregular e
impotência sexual.
E36 – indicado para deslocamento dorsal da patela, artrite do tarso,
paralisia dos nervos tibial e fibular, imunoestimulação, anorexia, letargia e
dor tibial ou fibular.
21
VB27 – considerado ponto de diagnóstico para problemas da
articulação
tíbio-tarso-metatársica.
Utilizado
para
tratamento
de
problemas caudais de coluna, associado ao BP13 e ao E30.
BP13 – indicado no tratamento de dor lombar, articulação coxofemoral e fêmoro-tíbio-patelar, e infertilidade.
Existem vários pontos que podem ser utilizados com o
intuito de melhorar a performance, como pontos que removam obstruções
do meridiano – B12, C3, ID1, R8, VB30, E6, E41, BP9; pontos que
resolvam a umidade – B15, R7, ID3, BP3, BP9, IG11; pontos que eliminem
fleuma – E40, P5, P9, R27, Pc5, TA10, VC17 e pontos que atuem em
tendões – VB21, B11, E4, IG15, VB31, VB34, VB35, F8 e em músculos –
E36, BP6, BP15 (MACIOCIA, 1996).
Acupuntura como auxílio diagnóstico
A acupuntura também pode ser utilizada em eqüinos
como auxílio diagnóstico de lesões principalmente osteomusculares. Estes,
são animais que mostram os pontos doloridos ou Ah Shi com maior
facilidade em relação às demais espécies (SCHOEN, 1995; FLEMING,
2001b). Os diagnósticos baseiam-se basicamente nos trajetos dos
meridianos, nos pontos de assentimento ou associação, e na teoria dos
cinco elementos. Com isto, é possível fazer-se o diagnóstico de lesões
tendíneas, ligamentares, articulares, ósseas e musculares em membros
anteriores e posteriores, e o diagnóstico de condições específicas como
síndrome endócrina, síndrome do herpes vírus e síndrome neurológica
(CAIN, 1997).
BASES
NEUROFISIOLÓGICAS
DO
MECANISMO
DE
AÇÃO
DA
ACUPUNTURA
A acupuntura pode ser definida como a estimulação de
pontos predeterminados e específicos no organismo para alcançar efeito
22
terapêutico
ou
homeostático
(SCHOEN,
1993;
DRAEHMPAEHL
&
ZOHMANN, 1997).
O acuponto é definido geralmente como um ponto da pele
com sensibilidade espontânea ao estímulo, caracterizado por resistência
elétrica reduzida (HWANG & EGERBACHER, 2001). Muitos acupontos estão
situados em depressões superficiais nas junções musculares e são áreas
cutâneas providas de concentrações altas de terminações nervosas livres,
plexos nervosos, mastócitos, vasos linfáticos, arteríolas e vênulas
(HARMAN, 1993; LUNA, 1993).
A acupuntura possui vários efeitos fisiológicos em todos os
sistemas do organismo. Nenhum mecanismo isolado pode explicar todos
estes efeitos observados (STEISS, 2001). As teorias da medicina
tradicional chinesa têm explicado estes efeitos por 4.000 anos, baseadas
em observações empíricas e na descrição de fenômenos ocorridos na
natureza (LUNA, 1993; SCHOEN, 1993). Estas teorias incluem a teoria dos
cinco movimentos e a dos oito princípios. A pesquisa científica tem sido
capaz de explicar muitos destes efeitos, através da teoria neural não
opióide, teoria humoral, da bioeletricidade e relações somatoviscerais
(HARMAN, 1993; SCHOEN, 1995).
A teoria neural não opióide implica na inibição de impulsos
conduzidos através de certas fibras nervosas sendo que, o efeito da
acupuntura depende dos sistemas nervosos periférico e central. Já, a
teoria humoral é baseada na evidência de que a acupuntura estimula a
liberação de opióides endógenos. Este mecanismo age em vários locais do
sistema nervoso central inibindo a percepção dolorosa e a transmissão da
dor da medula espinhal por meio de inibição descendente (GIDEON, 1977;
LUNA & TAYLOR, 1998; LUNA, 2001; WYNN et al., 2001).
Além de opióides, outros hormônios e neurotransmissores
são liberados do eixo hipotalâmico-pituitário e outros locais. A acupuntura
23
facilita a função do sistema neuroendócrino e tem sido demonstrada sua
ação na função ovariana, testicular, tireóidea, paratireóidea e pancreática.
Através de seus efeitos no sistema neuroendócrino e suas funções de
regulação
homeostáticas,
a
acupuntura
parece
afetar
a
pressão
sangüínea, o pulso, a respiração (SCHOEN, 1993), a motilidade
gastrointestinal (LUNA & JOAQUIM, 1998), o sistema reprodutor
(ALVARENGA et al., 1998), a coagulação (LUNA et al., 2001; ANGELI et
al., 2001), a produção de leucócitos e o período de cicatrização (XIE et al.,
1996).
Os mecanismos bioelétricos propostos demonstram que
existe uma condução diferente da inervação padrão, incluindo partes do
sistema nervoso central. Na acupuntura, os canais de energia ou
meridianos possuem menor resistência do que a pele adjacente,
permitindo o fluxo de uma corrente bioelétrica através deles. Este
fenômeno de propagação de energia através dos meridianos tem sido
muito bem documentado por modelos neurofisiológicos (HARMAN, 1993;
SCHOEN, 1993).
Muitos dos reflexos somatoviscerais podem ser explicados
através das teorias autonômicas da acupuntura. A estimulação cutânea
por agulhas é transmitida para as vísceras através de sinapses
somatoviscerais neurais na medula espinhal (SCHOEN, 1993). Quando
determinado órgão sofre alterações patofisiológicas, um ou mais
acupontos a ele relacionados, podem se tornar sensíveis ou mostrar
outros sinais de anormalidade como coloração alterada ou endurecimento
da pele (HWANG & EGERBACHER, 2001).
O efeito desejado do estímulo de um acuponto se
caracteriza resumidamente, por indução de inflamação asséptica, estímulo
direto de nervos da pele, estímulo do tecido perivascular, estímulo direto
de fusos tendíneos e musculares, ativação do mecanismo inibitório da dor
24
pela liberação de endorfinas e ACTH, melhora na circulação local,
liberação de serotonina, indução de efeitos humorais e imunomodulação
trombocitária (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).
Há inúmeras técnicas para estimulação de acupontos.
Dentre
elas,
as
eletroacupuntura,
mais
comuns
aquapuntura,
são
acupuntura
moxibustão,
com
estimulação
agulhas,
a
laser,
implantes de ouro e acupressão. O número de tratamentos necessários
depende da doença que está sendo tratada e da cronicidade do problema,
e o tempo de cada tratamento pode variar de 5 a 30 minutos (SCHOEN,
1993). Como exemplo, um dos efeitos da acupuntura é a elevação da
concentração plasmática de cortisol no homem e no cavalo. Esta elevação
pode mediar os efeitos antiinflamatórios da acupuntura (LUNA & TAYLOR,
1998).
O alívio da dor com uso da acupuntura é resultado do
aumento na perfusão local e diminuição do espasmo muscular causado
por efeitos locais da colocação da agulha e por reflexos somatoviscerais
(STEISS, 2001).
DISCUSSÃO
A busca por um grande cavalo atleta é incansável dentro
dos vários esportes eqüestres existentes. O que leva determinado cavalo
atleta a se destacar como grande campeão é um conjunto de fatores que
devem ser avaliados. Exemplo disto, é que se um cavalo possui excelente
linhagem genética, conformação, idade apropriada para realização de
determinado esporte, é submetido a treinamento adequado, possui
alimentação balanceada, e mesmo assim não se torna um grande
campeão; não se deve esquecer que o animal pode simplesmente não
gostar da atividade que pratica e, neste caso, diz-se que o animal não
possui “coração”.
25
O importante dentro da prática da acupuntura é não
considerar somente o sistema musculoesquelético como causa da queda
de performance, deve-se saber identificar a causa da dor com uso dos
pontos Ah Shi, pontos de assentimento e pontos de alarme no diagnóstico
o mais preciso possível. Harman (2001) considera demasiadamente a dor
lombar como sendo grande problemática na medicina esportiva. Deve-se
ter em mente todos os pontos diagnósticos das mais diversas lesões como
Cain (1997) e Fleming (2001) preconizam quando do exame de palpação.
A chave para resolver qualquer problema está em decifrar a causa e não
somente proporcionar o alívio dos sinais.
De forma geral em Medicina Chinesa, dor é a estagnação
do fluxo suave de Qi através dos meridianos. Segundo Pelham et al.
(2001), a acupuntura pode ser utilizada para restabelecer este fluxo de
energia, aliviando os sinais de fadiga causados pelo treinamento em
excesso. Em humanos, associado ao efeito anti-álgico gerado pela
acupuntura, performance excelente tem sido relacionada ao bom humor
causado pela mesma (PELHAM et al., 2001). Em eqüinos, utilizam-se com
freqüência os pontos Ting ou de extremidades para o tratamento destes
bloqueios nos meridianos pela sua praticidade e resposta quase que
imediata.
Levando-se em consideração que a maioria dos problemas
ligados
à
medicina
esportiva
estão
relacionados
aos
sistemas
musculoesquelético, respiratório e imunológico, dentro da teoria dos cinco
elementos, os mais envolvidos neste aspecto são terra, madeira e metal,
que
englobam
respectivamente
os
meridianos
do
estômago
e
baço/pâncreas, fígado e vesícula biliar e pulmão e intestino grosso. O
acúmulo de fleuma nos músculos e pulmão, gerado principalmente pela
deficiência do Yang do BP (MACIOCIA, 1996), também está diretamente
relacionada à queda de performance de cavalos atletas. Deste modo, o
26
uso de pontos que dispersam fleuma são bastante importantes no
tratamento, uma vez feito diagnóstico o mais preciso possível.
Algumas
vezes
torna-se
difícil
o
tratamento
pela
acupuntura de bloqueios de meridianos ou até de lesões já instaladas em
determinados cavalos atletas, porque há influência direta da qualidade do
cavaleiro/amazona e do local onde o mesmo está acostumado a treinar.
Segundo Cain (2003)*, existem padrões que se repetem em diversos
cavalos num determinado local de treinamento e que desaparecem depois
que o animal muda de ambiente.
Os pontos utilizados empiricamente para estimular a
performance – BH, E30, BP13 e VB27, estão ligados ao diagnóstico e
tratamento das síndromes das articulações tíbio-tarso-metatarsiana,
fêmoro-tíbio-patelar e coxo-femoral, classificadas por Cain (1997). O BH é
ponto utilizado para o tratamento de qualquer afecção que envolva a
região caudal à cicatriz umbilical (FLEMING, 2001a). Desta forma, sugerese que estes pontos tenham efeito anti-álgico nos membros posteriores o
que provocaria melhora na performance de cavalos atletas, sendo assim
conhecidos como pontos de dopagem.
Oposto a Ehrlich & Haber (1992) que demonstraram
aumento significativo na capacidade atlética máxima e no limite
anaeróbico de atletas humanos tratados com sessões semanais de
acupuntura, durante cinco semanas e utilizando os pontos F13, VC15,
BP6, Pc6 e E36, Karvelas et al. (1996) não encontraram diferença nos
parâmetros fisiológicos em humanos após único tratamento com
acupuntura nos pontos F13, Pc6, E36, BP6. Estes trabalhos sugerem que
há a necessidade de fazer-se mais de um tratamento para que haja
*
CAIN, M.J. (Médico Veterinário Acupunturista – Ohio, EUA) Comunicação
pessoal, 2003).
27
alguma resposta fisiológica de melhora na performance de atletas
humanos.
Em eqüinos, o uso de determinados pontos para o
tratamento de afecções musculoesqueléticas fica comprometido devido ao
temperamento do animal que, com dor, muitas vezes torna-se agressivo.
Deste modo, pontos importantes como BP6 e E36 são pouco utilizados na
prática. A aquapuntura é bastante aplicada como técnica de acupuntura
em eqüinos quando comparada, por exemplo, à eletroacupuntura, o que
também é devido a sua praticidade e segurança proporcionada ao
acupunturista e ao paciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A medicina esportiva é ciência bastante complexa, assim
como a acupuntura. Existem muitos indícios que favorecem o uso da
acupuntura na busca de melhora na performance de cavalos atletas.
Entretanto, pesquisas são necessárias para que haja investigação sobre
quais são estes efeitos e o quanto eles são benéficos. Estas informações
permitirão que acupunturistas, treinadores e cavaleiros/amazonas façam
bom uso desta modalidade terapêutica, sempre associada neste caso ao
melhor condicionamento possível do atleta.
28
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ANA LAURA ANGELI