Questionário – Proficiência Clínica
Área: Imunohematologia
Rodada: Mar/2012
Tema
IMUNOHEMATOLOGIA - O SISTEMA KELL E SUA RELEVÂNCIA CLÍNICA
Elaboradora
Margarida de Oliveira Pinho. Bióloga, Responsável pelo Laboratório de Imunohematologia e Coordenadora
da equipe técnica do Serviço de Hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer - M.S. - RJ. Especialização em
Hemoterapia - Instituto Fernandes Figueira - Fiocruz, Título de Proficiência Técnica em Imunohematologia pela
SBHH.
Texto Introdutório
Imunohematologia é uma especialidade relacionada à Hemoterapia e à medicina transfusional. Estuda
os antígenos presentes nas hemácias também chamadas de eritrócitos, e os anticorpos correspondentes e seu
significado clínico. As hemácias humanas apresentam em sua superfície numerosos antígenos que são
determinados geneticamente. Os antígenos eritrocitários diferem quanto a sua capacidade imunogênica, isto é,
capacidade de induzir uma resposta imune produzindo anticorpo em um indivíduo sem esse antígeno. A
produção de anticorpo também depende da grande variabilidade individual quanto à capacidade de resposta
imune ao estímulo antigênico. A capacidade imunogênica do antígeno e do indivíduo é o que define a produção
ou não do anticorpo.
O conjunto de antígenos formados a partir da expressão de genes alelos de mesmo locus gênico, ou mesmo
por um complexo de dois ou mais genes homólogos intimamente ligados formam um Sistema de grupos
sanguíneos.
Os antígenos eritrocitários e seus anticorpos correspondentes também são chamados de antígenos e
anticorpos de grupos sanguíneos.
Há antígenos que estão presentes na maioria dos indivíduos e, por isso, são denominados antígenos públicos
ou de alta frequência na população, enquanto outros são muito raros, sendo designados de “antígenos
privados” ou de “baixa frequência” na população.
É importante ressaltar que a descoberta do sistema ABO por Landsteiner no início do século XX (1900 - 1901)
o mais importante dos sistemas de grupo sanguíneos foi fundamental para o avanço da imunohematologia e
para maior segurança na medicina transfusional. No final da década de 1930, houve a descoberta do Sistema
Rh, atualmente considerado o mais polimórfico e antigênico.
Outra descoberta de grande relevância foi o teste de antiglobulina humana (AGH) descrito em 1945 por
Coombs e colaboradores. Em 1946 Coombs e colaboradores descreveram o uso de antiglobulina humana para
detectar in vivo a sensibilização de hemácias por anticorpos, tornando possível o diagnóstico da Doença
Hemolítica Perinatal (DHPN). Com a descoberta do teste de AGH, outros anticorpos IgG foram detectados com
seus respectivos antígenos, levando à caracterização de muitos sistemas de grupos sanguíneos. Algumas
semanas após Coombs ter descrito o teste AGH foi encontrado o primeiro anticorpo do Sistema Kell e seu
respectivo antígeno.
Em 1980, a Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT) formou um grupo de trabalho (Working
Party on Terminology of Red Surface Antígens) para estudar uma nomenclatura que pudesse ser expressa
mais facilmente nos meios eletrônicos como os computadores. Assim foi criada a nomenclatura numérica do
ISBT conforme tabela 1 que apresenta os seis primeiros sistemas descritos.
Tabela Nº1
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Entre os seis primeiros sistemas descobertos cabe ressaltar que o primeiro de maior relevância clínica é o
sistema ABO, seguido do sistema Rh que foi o terceiro a ser descrito. O sistema Kell apesar de ser o sexto
sistema a ser descoberto merece especial atenção principalmente pela imunogenicidade do antígeno K que só
perde para o antígeno D.
O Sistema Kell – Em 1946, Coombs, Mourant e Race descreveram um anticorpo detectado no soro de uma
mulher, a Senhora Kellacher. O soro da Srª Kell reagia com as hemácias do seu marido, da sua filha mais
velha e do seu filho que acabara de nascer, o que parecia justificar a Dença Hemolítica Perinatal (DHPN) do
recém nato. O antígeno presente nas hemácias do marido e dos filhos foi chamado de (K) Kell. Em 1949
Levine et al, relataram seu antitético o antígeno k (Cellano) que é de alta frequência na população. O sistema
Kell permaneceu com dois antígenos até que em 1957 e 1958 Allen et al, descreveram os antígenos
antitéticos Kpª e Kpb que estudos confirmaram sua relação com o sistema Kell. Ainda em 1957 Giblett,
descreve o antígeno Jsª e Walker et al, descreveram o Jsb em 1963 que eram antitéticos e estavam
relacionados ao Sistema Kell. Nesse mesmo ano foi descrito o fenótipo nulo Ko que ajudou a associar outros
antígenos ao sistema Kell. Em vários indivíduos Ko foi encontrado um anticorpo imune, que foi descrito pela
primeira vez por Chown et al.(1957) e denominado de anti-Ku (Corcoran et al., 1961). O anti-Ku é capaz de
reconhecer tanto as hemácias com antígenos K, quanto aquelas com antígeno k ou com ambos. O anti-Ku não
reage com hemácias K0, O antígeno Ku só não está presente nas hemácias Ko.
Do ponto de vista genético o Sistema Kell é bastante complexo, mas nosso objetivo é mostrar a importância
desse sistema, e principalmente do anti-Kell na medicina transfusional e na Doença Hemolitica Perianatal.
Antígeno Kell:
•
São bem desenvolvidos e muito potentes ao nascimento;
•
É considerado o 2º antígeno mais potente depois do antígeno D;
•
Podem apresentar efeito de dose;
•
Os antígenos Kell são de alta ou baixa frequência;
•
Não são destruídos por tratamento enzimático.
Anti- Kell
•
Habitualmente pertence a classe das imunoglobulinas G (IgG);
•
É produzido por resposta imune após exposição ao antígeno durante a gravidez ou transfusão;
•
Raramente são de ocorrência natural (IgM) e estão associados a infecção bacteriana;
•
Cerca de 20% ligam complemento até C3, mas raramente são líticos;
•
O método de detecção mais confiável é o teste de antiglobulina indireta;
•
Métodos enzimáticos não afetam a reação;
•
O polietileno glicol (PEG) pode aumentar a reatividade;
•
Responsáveis por reação transfusional hemolítica grave in vivo extravascular.
Os anticorpos do sistema Kell são potentes e podem causar graves reações hemolíticas por transfusão
incompatível. A conduta recomendada para transfundir indivíduos aloimunizados é utilizar antígeno negativo
para o anticorpo correspondente ou seja, fenotipar a unidade de sangue antes da transfusão. O anticorpo do
sistema Kell encontrado com mais frequência é o anti-K. Enquanto o antígeno Kell está presente em
aproximadamente 9% da população em geral, o que permite encontrar sangue compatível em 91% da
população.
Ao contrário do seu antitético k (Cellano) que é um antígeno de alta frequência, 99,8% aproximadamente. Para
formação do anti-k é necessário que o indivíduo seja antígeno k negativo aproximadamente 0,2% da população
e que seja submetido a transfusão ou gestação com antígeno k positivo 99,8% aproximadamente. Nesse caso
a chance encontrar sangue compatível é de 0,2%. Sendo assim, a melhor conduta para transfundir sangue
compatível é recorrer aos Serviços de Hemoterapia que tenham um banco de doadores fenotipados, dentro ou
fora do estado de acordo com a urgência.
Questão 1
Qual característica o antígeno precisa ter para produzir uma resposta imune?
1.
Ser herdado genéticamente;
2.
Maior capacidade imunogênica;
3.
Pequena capacidade imunogênica;
4.
Depende do anticorpo que será produzido.
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Questão 2
Questão 3
Questão 4
Questão 5
Questão 6
Que fatores são importantes para uma resposta imune?
1.
Receptor antígeno negativo doador antígeno positivo;
2.
Receptor antígeno positivo doador antígeno positivo;
3.
Antígeno muito imunogênico;
4.
A capacidade imunogênica do antígeno e a competência imunológica do indivíduo.
O conjunto de antígenos eritrocitários formados a partir da expressão de genes alelos de mesmo locus gênico,
ou mesmo por um complexo de dois ou mais genes homólogos intimamente ligados formam um:
1.
Sistema imunológico;
2.
Conjunto de antigênos;
3.
Sistema de Grupos sanguíneos;
4.
Sistema HLA..
Como são chamados os antígenos que estão presentes na maioria dos indivíduos?
1.
Públicos ou de alta frequência;
2.
Altamente imunogênicos;
3.
Fracamente imunogênicos;
4.
Não imunogênicos.
Alguns antígenos são muito raros, ou seja, estão presentes num pequeno percentual da população e são
chamados de:
1.
Públicos ou de alta frequência;
2.
Privados ou de baixa frequência;
3.
Fracamente imunogênicos;
4.
Não imunogênicos.
Que teste foi descrito em 1946 capaz de detectar a sensibilização in vivo das hemácias por anticorpos
tornando possível o diagnóstico da Doença Hemolítica Perinatal?
1.
Tipagem ABO;
2.
Tipagem Rh;
3.
Fenotipagem;
4.
Questão 7
Questão 8
Questão 9
Teste de Antiglobulina Humana (AGH).
Qual foi o anticorpo e seu antígeno associado a ser relatado apenas algumas semanas após o teste AGH ter
sido descrito?
1.
anti-S, antígeno S;
2.
anti-M, antígeno M;
3.
anti-Kell, antígeno Kell;
4.
anti-P, antígeno P.
De acordo com a nomenclatura numérica na tabela 1 e definida pela ISBT, marque a alternativa referente aos
dois sistemas mais imunogênicos, capaz de induzir a produção de anticorpos IgG que podem causar reação
hemolítica tardia quando não detectados nos testes pré-transfusionais:
1.
004; 006;
2.
002,003;
3.
004, 005;
4.
006, 001.
Utilizando a nomenclatura do ISBT conforme mostra a tabela 1 marque a alternativa que identifica o sistema
de maior importância clínica:
1.
002;
2.
001;
3.
005;
4.
006.
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Questão 10
Questão 11
Questão 12
Questão 13
Questão 14
Questão 15
Referências
Marque a alternativa incorreta com relação ao sistema Kell:
1.
Os antígenos do sistema Kell são detectados apenas nos eritrócitos;
2.
Estão bem desenvolvidos ao nascimento;
3.
São destruídos por enzimas;
4.
Podem apresentar efeito de dose.
Marque a alternativa incorreta com relação ao sistema Kell:
1.
Habitualmente pertence a classe das imunoglobulinas G (IgG);
2.
É produzido por resposta imune após exposição ao antígeno durante a gravidez ou transfusão;
3.
São sempre de ocorrência natural (IgM) e estão associados a infecção bacteriana;
4.
O polietileno glicol (PEG) pode aumentar a reatividade.
Paciente com anti-k (Cellano) necessita transfusão de uma unidade de concentrado de hemácias. Marque a
opção com percentual aproximado para encontrar sangue compatível:
1.
9%;
2.
99,8%;
3.
91%;
4.
0,2%.
O antígeno k está presente em aproximadamente 99,8% da população. Marque a alternativa incorreta:
1.
É um antígeno público;
2.
É raro encontrar um indivíduo k negativo;
3.
É de baixa frequência;
4.
O anti-k é raramente encontrado.
Marque a alternativa que não corresponde a característica do anti-K:
1.
Pode apresentar efeito de dose;
2.
Está envolvido em Doença Hemolítica Perinatal grave;
3.
Alguns podem reagir fracamente em meios de baixa concentração iônica;
4.
Não está implicado em reação transfusional grave.
Marque a alternativa em que os antígenos não fazem parte do sistema Kell:
1.
Jkª e Jkb ;
2.
Jsª e Jsb ;
3.
K0 ;
4.
Kpª e Kpb.
•
BEIGUELMAN, B. Os sistemas sanguíneos eritrocitários. 3ª ed – Editora FUNPEC, Ribeirão Preto – SP,
2003
•
GIRELLO, A.L. e KUHN, T.I., Fundamentos da Imnohematologia eritrocitária. 1ª ed - Editora Senac, São
Paulo, 2002
Bibliográficas
•
HARMENING, D. Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4ª ed - Editora Revinter,2006.
•
Covas, D.T., Langhi, J.D.M., Bordin, J.O. - Hemoterapia: Fundamentos e Prática - São Paulo - Editora
Atheneu, 2007.
•
RDC 1.353, de 14 de Junho de 2011.
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