UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Seminário: Tomada de Consciência, o caminho do Fazer ao Compreender
(PPGEdu)
IV. O problema dos
contrapesos
Fazer e compreender
Carolina Estrada e Kelly Souza
PERGUNTA:
• Como os indivíduos jovens resolveriam o problema de
unir duas “montanhas” (caixas) por uma ponte?
• CONTRAPESO: conceituações da ação de apoiar PESO – funções alternadas de sustentar ou de fazer
cair.
• Análise da tomada de consciência em situação na
qual os objetos, ao permitirem uma simples
construção, desempenham um papel dinâmico quando
se trata de um dispositivo em movimento.
Experimento:
• Apresenta-se ao indivíduo duas caixas de dimensões
idênticas, representando montanhas separadas por um
riacho;
• Ele deve fazer passar de uma montanha a outra o
boneco;
•Para isso pode usar pranchas (madeira, metal,
papelão) e blocos (pesos);
•Variação: primeiro apresenta as caixas na horizontal e
após verticalmente;
Objetivo:
•Analisar o processo de tomada de consciência, em
uma situação na qual os objetos permitem uma
solução dinâmica, na noção de peso e causalidade.
“...sendo a conceituação, então, função das ações em
curso.” (p.51)
O nível IA:
 É característica comum, quando chegam a colocar
pranchas inclinadas sobre as caixas, saber regular seu
equilíbrio.
O nível IA:
 Eles não têm consciência do “como” dessas regras e,
se já se dão conta dos pesos em certas situações e até
utilizam contrapesos às vezes, surge frequentemente
confusão na ação como tal e a fortiori na
conceituação, entre peso que provoca a queda e o
peso que sustenta: o que ainda falta,
sistematicamente, é a relação entre dois pesos,
quando um sobrepuja o outro devido ao seu peso
maior ou quando o sustenta, se forem de idêntico
peso.
O nível IA:
Soluções encontradas:
• 1ª - colocar pranchas e blocos sobre a mesa entre as
caixas (sem levar em conta o “rio”) e acrescentar
pranchas obliquas; Ex.: Isa (4;8)
• 2ª - fazer um pilar com as caixas na horizontal, o que
constitui um problema quando as caixas ficam na
vertical;
• Característica geral: noção não relacional do peso (o
que provoca a queda e o que sustenta)...
• Ex.: BUS (4;10)
O nível IA:
• Ex.: BUS (4;10): Coloca uma prancha de cada lado,
sobre as caixas, com junção no meio, mas segurando
as extremidades com a mão. Faz um pilar no centro.
Na vertical, experimenta com as duas pranchas
(madeira e papelão), com junção: elas caem mas, em
vez de segurar suas extremidades com a mão, ele
coloca dois contrapesos, o cobre C e o alumínio A:
“Como é que você soube?” – Porque é pesado. – “E se
substituir A pela cortiça B?” – Isto vai quebrar (=cair),
não vai ficar assim e não vai se quebrar porque é
pesado.
O nível IA:
• Ex.: BUS (4;10): Portanto, ele parece compreender e,
com B a A como contrapesos e pranchas em equilíbrio,
explica “porque é duro, pressiona, faz assim (apóia a
mão, como no começo)”, mas em seguida, ele refaz a
ponte e, sobre a prancha de madeira, coloca dois
contrapesos, um sobre a caixa (C) e outro na outra
extremidade (B): tudo cai “porque não é pesado”
como se o peso, assim colocado entre as duas caixas,
sustentasse melhor se fosse mais pesado.
O nível IA:
Aspectos positivos das reações:
• Colocar as pranchas e os blocos sobre a mesa entre as
caixas e em acrescentar, conforme a necessidade,
pranchas oblíquas ou escadas à disposição dos
personagens que descerão por um lado para voltarem
a subir pelo outro. LAU e BEN. (p.54)
O nível IA:
Aspectos positivos das reações:
• Construir, em seguida, um pilar de blocos entre as
duas caixas, para sustentar as duas pranchas e obter
um caminho horizontal e contínuo, o que é racional e
fácil no caso das caixas deitadas. Mas quando estas
estão levantadas verticalmente, é preciso encontrar
outra solução e começam os verdadeiros problemas,
com um esforço para fazer equilibrar as pranchas,
conforme as saliências suficientes para transpor o
espaço vazio contido entre as caixas. (p.54)
O nível IA:
• Há contraste entre os resultados da ação, quando o
indivíduo consegue manter as pranchas sem que elas
ultrapassem a caixa em mais de sua metade, e a
ausência de tomada de consciência quanto às
condições desses sucessos. (p.54)
O nível IA:
• No princípio, a criança se dedica naturalmente a
manobras manuais, antes ou depois das colocações
em equilíbrio: segura com a mão, horizontalmente,
uma prancha entre as caixas, para constatar que ela é
muito curta, ou avança uma prancha em direção à
outra e assegura sua junção com dois dedos, ou,
ainda, avança as duas pranchas e as sustenta pelo
outro lado, apoiando suas mãos sobre as partes que
ficaram em cima das caixas. (p.55)
O nível IA:
• Terminadas estas explorações, restam então duas
soluções que prolongam diretamente as duas últimas
dessas ações: ou colocar sobre as duas pranchas em
equilíbrio, uma terceira que as uma e complete a
ponte, ou avançar as próprias pranchas, sustentandoas através de contrapesos (ou combina os dois
métodos). (p.55)
O nível IA:
• A esta segunda parte das tentativas do indivíduo, nem
as ações, nem sua conceituação são adequadas, e a
questão consiste em pesquisar se é a falta de noções
suficientes que retarda a ação ou se são as
características próprias à ação que, reforçadas por
uma tomada de consciência que acentua seus
aspectos incompletos, traduzem insuficiências da
conceituação. (p.55)
O nível IA:
• O que é notável nas utilizações dos contrapesos é que
cada um dos indivíduos desse nível IA, que chegam a
uma utilização diferenciada de contrapesos, colocamnos não somente sobre a parte das pranchas apoiada
sobre as caixas, mas também em suas extremidades
livres! (p.55)
• Ao mesmo tempo em que os indivíduos assimilam a
ação do peso à de apoiar, ele poderá,
alternadamente, fazer cair ou sustentar e,
sobretudo, sustentar-se a si próprio, apoiando-se
com força. (p.56)
• Com efeito, o que caracteriza a própria ação (em
todas as suas formas e não apenas na de apoiar) é,
precisamente, o fato de iniciar sempre por essas
espécies de falsos absolutos, devidos a sua
perspectiva inicial notadamente egocêntrica e a sua
motricidade em um sentido único. Daí resulta que,
se a mão do indivíduo tiver o poder de sustentar
uma prancha de um lado ou de outro, o contrapeso
ao qual é delegado esse poder, por sua vez, também
o fará e do lado da extremidade livre assim como do
outro. (p. 56)
• Se assim ocorre os esquemas que regulam as ações
da criança, paralelamente sua tomada de
consciência dará lugar a uma conceituação que, ao
refleti-los, acentuará seu caráter não relacional,
fazendo dos efeitos do peso o resultado de um
poder inerente às qualidades dos objetos e não de
suas interações. (p.56)
• Ex.: BUS – pesado = duro
MUR – sólido
• O indivíduo admite que a ação de apoiar exercida
por um objeto pode ser favorecida ou contrariada
pelos poderes de um outro, mas como essa ação de
apoiar é, em si mesma, ambivalente e de efeitos
contraditórios, essas relações entre objetos não
saberiam ser coerentes.
O nível IB:
• Fase de transição;
• Característica no plano da ação, pelo equilíbrio
imediato das pranchas que ultrapassam as caixas e
pela utilização espontânea e rápida de contrapesos;
• No plano da conceituação um início geral de
relacionamento dos pesos, noção de “colaboração”
(sinergia das ações);
• Ex.: “há menos madeira sobre a caixa...e isso pesa
menos que o espaço vazio”
• Progresso notável, mas com limitações.
O nível IB:
• Se chegamos, então à conceituação dessas ações, é
preciso destacar um primeiro progresso notável e um
segundo que fica a meio caminho, do ponto de vista
relacional. O primeiro é a tomada de consciência
daquilo que já estava parcialmente ou totalmente
adquirido, no plano da ação, durante a subfase IA: as
condições do equilíbrio das pranchas inclinadas: PAG,
desde seus 4 anos, indica que uma prancha “sustenta
bem melhor” quando uma de suas partes recobre a
largura da caixa;
O nível IB:
• RAC quer um contrapeso mais pesado, quando a
prancha está “mais avançada”; NIC diz explicitamente
que o segmento sustentado pela caixa deve ser “mais
comprido”, senão “há menos madeira sobre a caixa...
E isso pesa menos do que no espaço vazio”; FAR se
exprime como RAC e MOU fala sobre “o
comprimento que sustenta”, portanto, da parte
suficiente que fica sobre a caixa.
O nível IB:
• O progresso parece mais espetacular no caso das
relações entre o contrapeso e os objetos que este
sustenta: apesar de seus 4 anos, PAG já diz que o
“ferro (do contrapeso) é mais pesado que a madeira
(da prancha sustentada)”; “ele pesa (e “é preciso que
assim seja”) mais do que a madeira” diz NIC; “ele é
mais pesado do que as pranchas” (NEU); os
contrapesos devem ser “mais pesados do que as
pranchas e o boneco no espaço vazio” (FAR).
• Todas estas expressões testemunham, portanto,
um relacionamento sistemático entre os próprios
pesos.
O nível IB:
• Todas estas expressões testemunham, portanto,
um relacionamento sistemático entre os próprios
pesos.
O nível IB:
• Será preciso admitir que, no caso dos
contrapesos, há uma compreensão mais precoce
dessas relações quantitativas de compensações
entre efeitos de sentidos contrários, e que, se o
indivíduo quiser um contrapeso igual ou mais
pesado para sustentar uma prancha, é porque ele
compreende sua ação de retenção como
constituindo o inverso da tendência da prancha
cair?
O nível IB:
• A conceituação adotada pelo indivíduo fornece a
chave deste enigma: pelo fato de um objeto
pesado poder, de acordo com as situações (e os
apoios que utiliza), cair ou se sustentar, o papel
do contrapeso consiste, então, em ajudá-lo a se
sustentar, e, se ele deve ser mais pesado do que o
objeto socorrido, é porque, normalmente, a ajuda
eficaz provém de um objeto maior.
O nível IB:
• VIE: “a prancha não é suficientemente pesada
para sustentar sozinha, portanto é preciso colocar
alguma coisa pesada”.
• MOU: explica que, ao escolher o contrapeso, é
preciso pensar “no peso do objeto que ajuda a
prancha” e “no bloco que vai ajudar, porque é
preciso acrescentar alguma coisa”.
O nível IB:
• AJUDAR e ACRESCENTAR não evocam em nada
uma ação de sentido contrário, mas sim uma
adição ou um reforço em um dos sentidos
possíveis dos poderes da própria prancha.
• Esse princípio de relacionamento ainda não se
baseia na compensação, na reversibilidade e na
composição quantitativa, mas em uma espécie de
sinergia das ações.
O nível IB:
• Os indivíduos concebem, bastante tarde até, as
resultantes, não em termos de compromisso
entre tendências divergentes, mas em termos de
sinergia: este “ajuda” aquele, etc.
• Compreende-se que, quando uma prancha
sustenta a outra em seu ponto de junção graças a
um contrapeso, é melhor “ajudar” a que é
sustentada do que confiá-la à única ação da que
sustenta, e que esta ajuda suplementar possa
mesmo parecer necessária.
Fase II
Nível IIA:
• Em situação de balanço os pesos agem em sentido
inverso: função dos contrapesos como compensação
no sentido de uma ação no sentido oposto (p.63)
• BUL declara que a prancha sustentada pela outra “faz
com que ela caia” (e não a “ajuda”, de maneira
alguma, a sustentar), surgindo a necessidade de
contrapesos mais pesados que sustentem, em
equilíbrio, as pranchas sobre as quais estão colocados.
Nível IIA:
• A função dos contrapesos é compreendida como a de
uma compensação no sentido de uma ação de sentido
oposto e não mais de uma colaboração.
• Preocupações quantitativas (dobro do peso): noção
de transmissão mediata, forma causal da
transitividade operatória.
Nível IIA:
• Ex.: KHA (7;9) dedica-se a um cálculo sutil e
discutível, para provar que os contrapesos têm o
dobro do peso do carrinho.
• Indivíduos convencidos da ação do contrapeso
sobre a segunda prancha, sustentada pela
primeira, e não apenas de seu efeito sobre a
primeira.
Nível IIA:
• Sem considerar a presença de um contrapeso
sobre esta prancha sustentada como necessária,
eles a julgam útil e eficaz.
• Admitindo uma transmissão mediata que conduz a
pressão dos primeiros pesos para a segunda
prancha, eles não lhe atribuem uma conservação
ou poder suficientes para contar apenas com ela.
Nível IIB:
• Na ação, o indivíduo não toca na prancha sustentada
e limita-se, em caso de queda, a acrescentar
contrapesos à prancha que sustenta; na
conceituação, “não é preciso” consolidar a prancha
sustentada (JUR), pois “está sustentando dos dois
lados” em caso de superposição (JOA). E as
condições suficientes são que o único contrapeso
mantido seja mais pesado do que as duas pranchas
ao mesmo tempo e que o carrinho (JUR).
Nível IIB:
• Quanto a saber porque esta compreensão precede a
transmissão puramente interna dos movimentos
(acessível apenas na fase III) é, sem dúvida, porque
não intervém aqui nenhum movimento invisível, mas
somente uma sucessão de ações de sustentar.
Fase III:
• Indivíduo conceitualiza mais sistematicamente o
conjunto das condições do equilíbrio (p.64).
• Ex.: DAR (12;0): uma prancha está em desequilíbrio
se “a parte maior estiver sobre a água e a menor
sobre a montanha: não há igualdade de peso”. É
preciso, portanto, colocar contrapesos: “escolhe-se
o bloco em relação à prancha, em função do peso da
prancha e do objeto que passa por cima”.
Fase III:
• Ex.: DAR (12;0): Em caso de superposição da ponta
de uma prancha sobre a outra “colocam-se dois
blocos pesados de um lado ou um só de cada lado...
Se se colocar um bloco de um lado só, é preciso que
ele tenha o peso dos dois blocos (que seriam
colocados dos dois lados), das duas pranchas e do
objeto”.
Conclusões:
• Fica evidente que o conhecimento do peso nasce,
portanto, de uma interação entre indivíduos e
objetos.
Conclusões:
• A conceituação nascida da tomada de consciência
da própria ação deforma, sob vários aspectos, as
observáveis sobre o objeto; e uma análise mais
profunda sobre estes últimos, que é necessária para
corrigir a conceituação inicial, só é possível se se
apoiar sobre relacionamentos, construções de
funções e, finalmente, coordenações inferenciais;
ora, estas, para atingir a objetividade, supõem uma
atividade crescente do indivíduo, não somente no
sentido de ações particulares, mas no da
coordenação geral das ações.
Conclusões:
• Para não mais admitir que um peso colocado na
extremidade livre de uma prancha inclinada vai
sustentá-la como um contrapeso em vez de fazê-la
cair, tratar-se-á de colocar esta ação de apoiar em
relação com os diferentes pontos de aplicações e
também com os pesos e os graus de liberdade ou de
retenção do objeto sobre o qual se apóia.
Conclusões:
• Trata-se de passar de um poder absoluto para um
sistema de dependência e a questão é saber se os
relacionamentos que permitem sua descoberta
procedem apenas das observáveis sobre o objeto ou
se, para constatar estes últimos, uma atividade
coordenadora do indivíduo é constantemente
necessária.
• Supõe-se um reflexão abstrata a partir das ligações
internas próprias à coordenação geral das ações.
Conclusões:
• Que provocam as coordenações das ações do
indivíduo?
• Para coordenar suas ações e unificar seus
regulamentos, o indivíduo tem necessidade de
relações de ordem, de simetrias e reciprocidades,
de correspondências e de funções, etc. De tal forma
que toda coordenação de ação comporta um
aspecto lógico, em oposição ou complementando o
conteúdo das ações particulares, que permanecem
essencialmente físico.
Conclusões:
• Uma coordenação chega a reunir em um todo um
conjunto, não somente de atos, mas ainda de
correções e de regras, já precedentemente atuantes
mas sucessivas até então, compreende-se como
essa coordenação termina por resultar em condutas
de níveis anteriores.
Conclusões:
• Não é, portanto, no plano abstrato que as regras,
uma vez sujeitas a antecipações tornam-se
operações: sem dúvida, é sempre por ocasião de um
problema delimitado que exige coordenações de
ações.
Conclusões:
• Parece evidente que, entre os progressos das regras
próprias à ação do indivíduo e o das coordenações
que se tornam explicativas, existe uma estreita
relação: as regras são guiadas, primeiramente, pelas
observáveis sobre o objeto e as coordenações
apelam para estruturações operatórias endógenas,
prolongando aquilo que representa, nas regulagens
cada vez mais complexas, a parte das atividades do
indivíduo.
OBRIGADA!!!!!!!!!!!!!!
Download

Fazer e compreender