AULA 4
O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Alfabetização Linguística e Matemática na Educação Infantil
Débora de Oliveira
O Ensino de Matemática na Educação Infantil
No Brasil, desde 1996, a Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação básica
e tem como guia de reflexão de cunho educacional o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCNEI), documento que descreve objetivos, conteúdos e orientações didáticas
para os profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos. Os eixos de trabalho orientados
à construção das diferentes linguagens pelas crianças pelo RCNEI são: Movimento, Música, Artes
Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática.
A Matemática, sendo um dos eixos trabalhados para construção das diferentes linguagens, pode
ser abordada como um processo de alfabetização. Neste sentido, corroboramos com a definição
sobre alfabetização matemática dada por Danyluk (2002, p. 14) como um termo que “refere-se
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aos atos de aprender a ler e a escrever a linguagem matemática usada nas primeiras séries da
escolarização”.
O aprender a ler e escrever, em linguagem matemática, está relacionado aos seguintes campos:
números e operações; espaço e forma; grandezas e medidas; e tratamento da informação – análise
de dados e probabilidade. Por sua vez, para cada campo existem noções que desempenham
importante papel no desenvolvimento do pensamento matemático da criança, são elas:
•
Estabelecer aproximações a algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano,
como contagem, relações espaciais, relações de comparação e organização de dados.
•
Reconhecer e valorizar os números, as ideias das operações numéricas, as contagens
orais, as noções espaciais e as noções de organização e a análise de informações como
ferramentas necessárias no seu cotidiano.
•
Comunicar ideias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e resultados
encontrados em situações-problema relativas a quantidades, espaço físico e medida,
utilizando a linguagem oral e a linguagem matemática.
Veja agora a descrição mais detalhada sobre cada um dos campos.
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Números e operações
O campo de números e operações envolve contagem, notação escrita numérica e as ideias das
operações matemáticas. Pode ser desenvolvido em situações de:
•
Utilização da contagem oral nas brincadeiras e em situações nas quais as crianças
reconheçam sua necessidade, como: parlendas, jogos de contagem - trilha, brincadeiras
de roda, contagem de pessoas, objetos diariamente.
•
Utilização de noções simples de cálculo mental como ferramenta para resolver
problemas, como: totalizar pontos em um jogo, identificar a quantidade que falta para
atingir uma quantidade, adicionar quantidade de agrupamentos.
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•
Comunicação de quantidades, utilizando a linguagem oral, a notação numérica e/
ou registros não convencionais, como: registro de jogos e brincadeiras, registro de
quantidade de coleções.
•
Identificação da posição de um objeto ou número numa série, explicitando a noção
de sucessor e antecessor, como: identificar o próximo número em uma fila numerada.
•
Identificação de números nos diferentes contextos em que se encontram, como:
apresentar diferentes escritas numéricas para identificar o seu uso.
•
Comparação de escritas numéricas, identificando algumas regularidades
Espaço e forma
No campo espaço e forma busca-se desenvolver o senso espacial definido por Van de Walle (2009)
como uma intuição, ou uma sensibilidade, sobre formas e sobre as relações entre formas, incluindo
a habilidade para visualizar objetos e relações espaciais. Mesmo sabendo-se que as crianças desde
muito pequenas exploram o mundo, a escola tem papel importante no desenvolvimento do senso
espacial e que pode ser desenvolvido por meio de:
•
Explicitação e/ou representação da posição de pessoas e objetos, utilizando
vocabulário pertinente, em jogos, em brincadeiras ou outras situações nas quais as
crianças considerem necessária essa ação.
•
Exploração e identificação de propriedades geométricas de objetos e figuras, como
formas, tipos de contornos, bidimensionalidade, tridimensionalidade, faces planas,
lados retos etc, por exemplo, em quebra-cabeça e labirintos.
•
Representação bidimensional e tridimensional dos objetos, em por registro de
observações de objetos e obras de arte.
•
Identificação de pontos de referência para situar-se e deslocar-se no espaço, por
exemplo, em brincadeiras que identifi cam pontos de referência para situar-se
e descolar-se em o ‘chefe mandou'.
•
Descrição e representação de pequenos percursos e trajetos, observando pontos
de referência, por exemplo, registro de percursos desenvolvidos a partir de uma
brincadeira.
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Grandezas e medidas
O campo de grandezas e medidas refere-se à distância, superfície, espaço, massa, calor
(temperatura, movimento ‘velocidade’ e duração ‘tempo’). Trata-se de um conceito complexo,
uma vez que cada um desses itens possui variações.
No processo de mensuração, encontramos grandezas de diferentes tipos. Temos as grandezas
contínuas ou descontínuas, algumas medidas são precisas e outras estimadas, cada uma com um
instrumento específico para sua medição. Além disso, algumas medidas somente poderão ser
obtidas de modo indireto.
As crianças devem percorrer um longo caminho para compreender as diferentes ideias que
envolvem medição. Sendo assim, uma maneira indicada, de começar a abordagem desse conceito
é utilizar a comparação, baseando-se na percepção visual e na estimativa, “pois medir envolve
uma comparação de um atributo de um objeto ou situação com uma unidade que tenha o mesmo
atributo (VAN DE WALEE, 2009, p. 404)”.
Para prosseguir com o trabalho no campo de grandezas e medidas outras situações podem ser
abordadas, tais como:
•
Introdução às noções de medida de comprimento, peso, volume e tempo, pela
utilização de unidades convencionais e não convencionais, por exemplo, medir a
altura e massa (peso) de cada criança.
•
Marcação de tempo por meio de calendários, por exemplo, retomar datas importantes
registradas no calendário.
•
Experiências com dinheiro em brincadeiras ou em situações de interesse das crianças,
por exemplo, brincadeiras de supermercado.
Combinatória, probabilidade e estatística
Apesar de não ser referendado no RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil), outro campo a ser desenvolvido desde a Educação Infantil é o estudo da combinatória,
probabilidade e estatística, que compõe a temática“Análise de dados e probabilidade”, denominada
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como tratamento da informação.
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O trabalho voltado para essa temática possibilita às crianças a observação de situações de
incerteza; o desenvolvimento do raciocínio combinatório, que lhes permite levantar e organizar
possibilidades; e a aquisição de habilidades para organizar e representar informações (LOPES,
2012).
Para desenvolver o campo de análise de dados, algumas ações podem ser adotadas, tais como:
•
Envolver as crianças no desenvolvimento de projetos simples, fazendo-as recorrer a
dados de sua própria realidade, partindo de observações, enquetes e medidas, por
exemplo, analisar as preferências alimentares da turma.
•
Conscientizar as crianças de que cada dado isolado é parte de um todo (distribuição
dos dados) e que há perguntas que não podem ser contestadas com apenas um dado,
mas com uma distribuição de dados, por exemplo, ao analisar a preferência alimentar
da turma é necessário analisar cada preferência em relação ao todo.
•
Conscientizar as crianças das tendências e da variabilidade dos dados e de como estes
podem ser usados para responder perguntas sobre eles próprios ou para comparar
vários conjuntos de dados, por exemplo, generalizar as análises para uma população
que tenha as mesmas características.
•
Visualizar progressivamente que os dados recolhidos são uma amostra que pode
representar os dados de toda a população.
•
Incentivar as crianças a representar seus dados em tabelas e gráficos, orientando sobre
a importância das qualidades estéticas e matemáticas, de modo a preservar a correta
representação dos dados.
Considerações finais
A partir das considerações sobre os campos que caracterizam o processo de alfabetização
matemática na Educação Infantil, podemos desenvolver as noções do conhecimento matemático,
buscando formas de abordagens que fazem sentido para criança e que tenham como eixos
norteadores as interações e a brincadeira.
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Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CARVALHO, M.; BAIRRAL, M. A. (Org.). Matemática na Educação Infantil: investigações e
possibilidades de práticas pedagógicas. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
DANYLUK, O. Alfabetização matemática: as primeiras manifestações da escrita infantil. 2ª ed. Porto
Alegre: Sulina, 2002.
GRANDO, R.; TORICELLI, L.; NACARATO, A. M. De professora para professora: conversas sobre
iniciação matemática. São Carlos: Pedro & João Editores, 2008.
LOPES, C. E. A Educação Estocástica na infância. Revista Eletrônica de Educação, v. 6, n. 1, maio 2012.
Disponível
em:
http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/396/179.
Acesso em: 3 jul. 2012.
LORENZATO, S. Educação Infantil e percepção matemática. São Paulo: Autores Associados, 2006.
MOURA, A. R. L.; LOPES, C. A. E. (Org.). As crianças e as ideias de número, espaço, formas,
representações gráficas, estimativa e acaso. Campinas: FE/UNICAMP; Cempem, 2003.
VAN DE WALLE,. J. A. Matemática no ensino fundamental: formação de professores e aplicação em
sala de aula. trad. Paulo Henrique Colonese. Porto Alegre: Artmed, 2009.
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