Sociedade da Água Consultoria Ambiental Ltda UHE Baixo Iguaçu Estudo de Impacto Ambiental Capítulo XIV- Prognóstico Ambiental Curitiba, Abril de 2008 XIV - 2 Sumário p. 1 - A região sem o empreendimento ............................................................................................3 2 - A região com o empreendimento............................................................................................4 XIV - 3 Capítulo - XIII – Prognóstico ambiental 1 - A região sem o empreendimento A qualidade ambiental futura da região, na hipótese de não implantação do empreendimento proposto, pode ser analisada sob dois cenários. O primeiro deles acena para o uso do solo tal qual a situação presente, ou seja, intensivo. O diagnóstico do meio biótico caracteriza bem a situação atual da região do baixo rio Iguaçu: a riqueza florística e faunística só é sustentada pela presença do Parque Nacional do Iguaçu. O grau de degradação ambiental decorrente de técnicas não conservativas de uso do solo, no qual a mecanização da agricultura chega as margens do rio Iguaçu e de seus tributários, comprometendo a qualidade de suas águas e consequentemente a dinâmica das comunidades aquáticas, ficou evidente nas análises realizadas para caracterização da área. Esta tendência é pessimista, com a piora progressiva da qualidade ambiental futura devido a perda gradativa de ambientes e da riqueza de espécies pela superexploração dos recursos naturais, especialmente do Parque Nacional do Iguaçu. Neste cenário a exploração dos recursos naturais do Parque e de seu entorno continuariam acontecendo tal qual a situação presente, dado que a referida unidade de conservação carece de um sistema de fiscalização eficiente e sofre com o isolamento provocado pelo efeito de “ilha”. A perda da biodiversidade poderia estar ocorrendo nos níveis genético e populacionais, com impacto direto sobre as comunidades e a paisagem. Parte deste cenário já é visível e encontra-se em avançado desenvolvimento, já comprometendo os níveis de organização da biodiversidade local. Basta observar os diversos casos do não cumprimento da legislação ambiental federal, estadual e municipal em cada município da região. É possível notar que a faixa de vegetação permanente do rio Iguaçu e de seus tributários está muito aquém do determinado pela lei, quando existe. Também é possível verificar a pressão que o Parque Nacional do Iguaçu sofre do entorno, especialmente no que se refere a caça e o extrativismo e em particular, com a recorrente ameaça imposta pela abertura da “estrada do colono”. Com relação aos recursos hídricos, os problemas já identificados de qualidade da água em alguns tributários, tais como o rio Andrada e Monteiro, tendem a piorar, devido aos efluentes domésticos e agrícolas que são lançados sem nenhum controle, tratamento ou monitoramento. Este não é um fenômeno local, e sim global, devido às tendências de crescimento da população e de pressão sobre os recursos naturais. O processo de ocupação da região teve, como um de seus desdobramentos, a utilização intensiva de seus recursos naturais, acarretando na modificação acentuada de suas características originais e resultando, entre outros aspectos, na fragmentação florestal atualmente vigente. As formações florestais estão hoje restritas na sua maioria, as áreas de reserva legal ou áreas de preservação permanente, além das unidades de conservação, como o Parque Nacional do Iguaçu. Outro cenário possível, na hipótese de não implantação do empreendimento e possível de ocorrer caso as políticas públicas de meio ambiente comecem a ser aplicadas na área de XIV - 4 influência. A maior parte das Prefeituras dos municípios envolvidos possuem seus limites territorias dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Este fato acarreta no repasse garantido de verbas com recursos do ICMS Ecológico (Lei Complementar nº 59/91, conhecida como Lei do ICMS Ecológico) que podem (e devem) ser aplicadas na melhoria da qualidade ambiental futura da região. Assim, a presença do Parque é estratégica para a restauração de ambientes críticos, uma vez que este possui um Plano de Manejo - revisado em 1999 com diversos programas, subprogramas e projetos direcionados para o entorno. Também contribuem para melhorar este cenário programas que o governo paranaense está desenvolvendo nas principais bacias hidrográficas do estado. A bacia do rio Iguaçu é contemplada no programa Paraná Biodiversidade. Soma-se a intenção e ações concretas de várias prefeituras em desenvolver projetos de recuperação das microbacias do baixo Iguaçu, como verificado nos municípios de Capanema e Realeza, em parceria com o governo estadual, no âmbito do Programa Mata Ciliar. Nesse caso dos recursos hídricos poderá haver uma melhoria deste cenário com a implantação de sistemas de esgotamento sanitário, já planejados, tais como os dos municípios de Capanema e Realeza, cujo sistema de fossas sépticas atual, apresenta um quadro de saturação. Cabe, lembrar a recente divulgação de estudo de viabilidade técnica efetuado pela SEMA/SUDERHSA visando a implantação, nos próximos anos, de 55 de aterros consorciados que poderão atender 385 municípios paranaenses. A questão da contaminação por defensivos agrícolas e fertilizantes, tem também apresentado um quadro de melhoria, com o emprego cada vez maior da agricultura orgânica e de medidas de controle por parte do Estado do Paraná. Certamente estas políticas públicas deverão surtir efeitos a curto, médio e longo prazos. Assim, este cenário otimista considera a presença do Parque Nacional do Iguaçu como um importante gestor da biodiversidade da região. Neste caso, o uso do Plano de Manejo da UC seria uma poderosa ferramenta para tomada de decisões de políticas públicas e privadas, orientando o uso da zona de transição do entorno e assegurando a conservação dos recursos naturais da região. Assim, espera-se uma relação mais harmoniosa entre a natureza ainda conservada no Parque e nos remanescentes da região e a população que vive no entorno. 2 - A região com o empreendimento O rio Iguaçu, desde a sua nascente até a sua foz, flui por um extenso percurso ao longo do qual sofreu e sofre as mais intensas e diferentes pressões. Na sua bacia hidrográfica se verificam as mais diversas formas de exploração dos seus recursos naturais, desde a exploração agrícola e processos de urbanização, até a exploração do seu grande potencial hidrelétrico. A utilização desse potencial, com a implantação de várias usinas hidrelétricas provocou inclusive a fragmentação do rio e dos seus ecossistemas, e trouxe outras conseqüências negativas importantes, como ocupação das margens dos reservatórios, algumas delas irregulares, e perdas de unidades florestais marginais (ripárias). Da análise de sensibilidade ambiental pode-se perceber áreas sensíveis em dois tipos de regiões principais da bacia. Nas proximidades dos últimas remanescentes florestais, tais XIV - 5 como o Parque Nacional do rio Iguaçu e a APA da Serra da Boa Esperança, e nas proximidades de grandes núcleos urbanos como a região metropolitana de Curitiba e do município de Cascavel. Os resultados dessa análise de sensibilidade ambiental evidenciaram impactos importantes tais como, a degradação da qualidade da água, redução dos recursos hídricos superficiais, a alteração da dinâmica das comunidades aquáticas, perda de ambientes e da riqueza de espécies. A implantação de mais um empreendimento hidrelétrico neste cenário, aumentaria ainda mais os processos de fragmentação, e alteração dos ecossistemas terrestres e aquáticos, de interferências em propriedades rurais, de ocupação das margens do futuro reservatório, além da possibilidade de diversos fatores de pressão sobre as cidades próximas, em relação aos seus equipamentos urbanos de saúde, segurança, educação, habitação e saneamento. Deve-se destacar ainda a proximidade do Parque Nacional do rio Iguaçu, uma das áreas identificadas como mais sensíveis, declarado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1986. Entretanto a alternativa de implantação do empreendimento pode ser encarada sob um outro ponto de vista que poderá ser caracterizado pelo compromisso ético do empreendedor em contribuir com a conservação da natureza da região. A primeira medida, já assinalada pelo projeto, é a de evitar qualquer intervenção nos limites do Parque Nacional, isto é, no rio Gonçalves Dias e no leito do rio Iguaçu que é parte integrante dessa unidade de conservação. É recomendável que se discuta uma regra de operação para a futura UHE Baixo Iguaçu que poderá incluir as usinas de montante, minimizando os efeitos de erosão de margens no rio Iguaçu a jusante do empreendimento. Esse último aspecto relevante, diz respeito à alteração do regime hídrico com a operação da usina. O impacto hoje observado se deve as oscilações de vazão, em horário de maior demanda energética, que podem acarretar em variações de 500 a 1.500 m3/s em poucas horas, acarretando desbarrancamentos de margem, principalmente na estiagem quando o rio está em níveis mais baixos, e maior transporte de sedimentos, inclusive na área marginal do Parque Nacional e propriedades ribeirinhas Não se verificaram índices inadequados de qualidade água no reservatório da UHE Salto Caxias e no trecho do rio Iguaçu à jusante dessa usina. Esta situação deve permanecer, com bons níveis de qualidade, e a exemplo dessa usina já implantada, sem perigo de eutrofização do futuro lago da UHE Baixo Iguaçu. A tendência a médio e longo prazo é de melhoria da qualidade da água com a instalação de sistemas de tratamento de esgoto nas áreas urbanas, como vem ocorrendo na região metropolitana de Curitiba com o projeto de saneamento do Governo de Estado, o Paranasan, já em fase final de implantação. XIV - 6 Não são esperadas alterações significativas no microclima local, a exemplo do que já ocorre na região do reservatório da UHE Itaipu. No entanto para validar esta tendência deverá ser feito um monitoramento local. A concretização dos investimentos na região promoverão o crescimento dos municípios durante a implantação das obras, mas por outro lado, poderão promover movimentos especulativos, além da vinda de trabalhadores e contingente populacional superiores a capacidade de suporte e acomodação desses municípios. A experiência recente com a UHE Salto Caxias permitiu as lideranças municipais, uma melhor compreensão das mudanças passíveis de ocorrência nos municípios, em geral, avaliada como benéfica, face a geração de empregos, a maior movimentação do comércio e serviços nas cidades. Após a formação do lago e término da obra esses municípios deverão voltar a sua posição econômica antecedente às obras, mas, em função das medidas recomendadas, poderão ocorrer ganhos significativos, com o estímulo de atividades e vocações dos municípios, capacitação da mão-de-obra, ampliação de ações de educação ambiental, entre outros. A implantação do Programa de Apoio aos Municípios, permitirá verificar as condições atuais e futuras, e estabelecer as alternativas para minimizar o impacto junto à infraestrutura e a economia desses municípios e potencializar os benefícios advindos do empreendimento. A aquisição de faixa de proteção e implantação de revegetação das margens do futuro reservatório, além da elaboração do Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, deverão garantir a recuperação da paisagem, contribuindo para a promoção de corredores ecológicos, e ordenamento das áreas marginais do futuro lago. O Programa de Desenvolvimento Turístico, Lazer e Recreação, poderá aproveitar as atrações turísticas já presentes e as potencialidades turísticas do futuro reservatório. O empreendimento deverá fazer frente, de forma adequada, às indenizações e compensações decorrentes das interferências causadas em 336 propriedades pelo reservatório e faixa de preservação, pelo Programa de Remanejamento, além de projetar e executar a recomposição da infra-estrutura comunitária melhorando os serviços prestados pelas prefeituras. A execução dos programas ambientais propostos, de monitoramento e compensação, em sintonia com as ações do Parque Nacional, governo do estado e prefeituras, além da implantação dos Programas de Gerenciamento e Comunicação Ambiental, de forma participativa, darão agilidade aos processos de mitigação/ compensação, e deverão garantir a qualidade ambiental futura à região do empreendimento.