KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA Kant (1724-1804) foi talvez o maior dos filósofos modernos. Teve formação em matemáticas e física. Sua maior obra foi a CRÍTICA DA RAZÃO PURA, um trabalho de teoria do conhecimento no sentido amplo da palavra. Com essa obra ele intentou uma grande síntese do empirismo (Locke, Berkeley, Hume) com o racionalismo (Descartes, Leibniz), embora tenha aprendido também com os medievais e os filósofos antigos. Sua filosofia contém muitas idéias extraordinariamente sugestivas, mas também grande obscuridade ou, como dele escreveu Strawson: “we read and re-read his work with a commingled sense of great insight and great mistification”. Lógica transcendental: Estética transcendental: DIALÉTICA ESTÉTICA ANALÍTICA RAZÃO JUÍZOS ESPAÇO/ fe- X ou EU IDÉIAS: CATEGORIAS: TEMPO TRANS- alma, substância, CEN- mundo, causalidade etc. DEN. . . deus (conceitos puros do entendimento) (ilusões da razão) no- COISA (formas puras me- EM da intuição) nos SI CONHECIMENTO A PRIORI (MUNDO NOUMÊNICO) Kant discordava tanto do racionalismo quanto do empirismo, pretendendo fazer uma grande síntese crítica. Vejamos o que Kant via de errado em cada posição: 1. Consideremos primeiro o racionalismo (Descartes, Spinoza, Leibniz). Ele via na RAZÃO a única fonte verdadeira de conhecimento, pois a via dotada de IDÉIAS INATAS, devendo a filosofia alcançá-las pelo poder do raciocínio. (Hoje diríamos que as disposições inatas são resultados evolucionários resultantes de uma espécie de aprendizado empírico indutivo da própria espécie via seleção natural.) Para o racionalista os juízos que contam são o que Leibniz chamava de as VERDADES DA RAZÃO. São em Kant: JUÍZO ANALÍTICO (Df) = AQUELE EM QUE O PREDICADO ESTÁ CONTIDO NO SUJEITO. O JUÍZO ANALÍTICO É NATURALMENTE A PRIORI, ou seja INDEPENDENTE DA EXPERIÊNCIA. (Embora possamos precisar da experiência para chegar até ele, não é através dela que chegamos a ele.) Exemplo de Kant é: “Todos os corpos são extensos”. Se considerarmos o juízo: “Todos os corpos são extensos”, o predicado é um aspecto do múltiplo de intuições que penso ao pensar o conceito de corpo. Outros exemplos são: “Todos os homens são homens” (tautologia), “Todos os gregos são homens”, “Todos os triângulos tem três lados”, “Todos os solteiros são não casados”. Nos últimos três casos o predicado está apenas implicitamente contido no conceito do sujeito. Características do juízo analítico: 1) A negação é CONTRADITÓRIA (negá-los contradiz o princípio da não-contradição, ou ~(P & ~P)). 2) São PURAMENTE EXPLICATIVOS, NÃO AMPLIANDO O CONHECIMENTO. Na opinião de Kant a característica 2 é desastrosa para o racionalista porque para ele a ciência é feita de juízos ampliadores do conhecimento e se tudo o que a razão nos oferece são juízos analíticos e eles não ampliam o conhecimento, então eles não são capazes de fundamentar a ciência. Afinal, as LEIS da física newtoniana são AMPLIADORAS DO CONHECIMENTO, o mesmo acontecendo, na opinião de Kant, com o conhecimento matemático! 2) Vejamos agora o empirismo de Locke, Berkeley e Hume. Ele dizia que não temos idéias inatas e que a única fonte de conhecimento é a experiência... Os juízos que contam eram EMPÍRICOS (o que Leibniz chamava de VERDADES DE FATO) ou, no dizer de Kant, JUÍZOS SINTÉTICOS (A POSTERIORI) (Df) = SÃO SINTÉTICOS PORQUE NELES O PREDICADO NÃO ESTÁ CONTIDO NO CONCEITO DO SUJEITO e são A POSTERIORI PORQUE DEPENDEM DA EXPERIÊNCIA. Exemplo de Kant: “Todos os corpos tem peso”. Consideremos os exemplos: “Todos os corpos tem peso”, “A terra gira em torno do sol”, “Meu carro é amarelo”... Se examinarmos o conceito dos sujeitos: corpo, carro e terra, não encontraremos o predicado contido. Sem dúvida esses juízos dependem da experiência para serem conhecidos. As características dos juízos sintéticos são: 1) Podem ser NEGADOS SEM CONTRADIÇÃO. 2) São AMPLIADORES DO CONTEÚDO DO CONHECIMENTO. 3) NÃO TEM VALOR UNIVERSAL E NECESSÁRIO. Para Kant a característica 3) é uma deficiência grave, pois para ele os juízos verdadeiramente científicos das matemáticas e da física newtoniana PRECISAVAM SER NECESSÁRIOS E UNIVERSAIS! Na época de Kant era tido como certo que a geometria euclidiana era inatacável e que as leis da mecânica newtoniana eram VERDADES ÚLTIMAS descobertas pela física. (Hoje, contrariamente, impera a idéia peirceana do FALIBILISMO da ciência.) Mas juízos empíricos, ou seja, juízos sintéticos não podem ter a sua universalidade garantida! Por conseguinte, o filósofo empirista não é capaz de fundamentar nem as matemáticas nem a física, como um cético como Hume teria sabido admitir. COMO RESULTADO DISSO, NEM O EMPIRISMO, QUE VALORIZA AS VERDADES DE FATO, NEM O RACIONALISMO, QUE VALORIZA AS VERDADES DA RAZÃO, É CAPAZ DE FUNDAMENTAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO! O sujeito só pode oferecer universalidade e o objeto só pode oferecer novidade. Donde o racionalismo reduz o conhecimento a universalidade sem novidade e o empirismo o reduz à novidade sem universalidade... A SOLUÇÃO KANTIANA Ela consiste em propor que a ciência (matemáticas e física) não se fundamenta nem nos juízos SINTÉTICOS nem nos juízos ANALÍTICOS, mas que ela se funda em algo novo que ele chamou de JUÍZOS SINTÉTICOS A PRIORI. JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI (Df) = AQUELE EM QUE O CONCEITO DO PREDICADO NÃO ESTÁ CONTIDO NO CONCEITO DO SUJEITO (é SINTÉTICO) e também é A PRIORI, POIS INDEPENDE DA EXPERIÊNCIA. Exemplos de Kant: “7 + 5 = 12”, “A reta é a distância mais curta entre dois pontos”, “Todo evento tem uma causa”. Nesses exemplos o predicado não está contido no conceito do sujeito e ao mesmo tempo eles são para Kant ampliadores do conhecimento. E é informativo saber que todos os eventos tem uma causa... Daí as características do juízo sintético a priori. Ele é: 1) é AMPLIADOR DO CONHECIMENTO, 2) é NECESSÁRIO E UNIVERSAL SENDO POR ISSO CAPAZ DE FUNDAMENTAR A CIÊNCIA. Ao propor fundamentar o conhecimento por meio de juízos sintéticos a priori Kant opera o que chamou de sua REVOLUÇÃO COPERNICANA A REVOLUÇÃO COPERNICANA: O conhecimento não resulta nem do SUJEITO nem do OBJETO, mas da AÇÃO COMBINADA DE AMBOS: o sujeito dá a FORMA, o objeto dá a MATÉRIA, e o CONHECIMENTO empírico resulta de um elemento A PRIORI (vindo do sujeito) e outro A POSTERIORI (vindo do objeto). O conhecimento não é mais reprodução passiva do objeto, mas CONSTRUÇÃO ATIVA DO OBJETO PELO SUJEITO. Ou, na metáfora kantiana: A metáfora da revolução copernicana: “Copérnico, não podendo mais admitir que todo o exército dos astros se move em torno do espectador, julgou admitir que o observador gira e que os astros estão parados. Assim também na metafísica... Julgamos dever admitir que é o espectador, o sujeito, que se move... Pois se a intuição deve se conformar à natureza dos objetos, não vejo como se possa saber algo deles a priori. Mas se o objeto deve se conformar à natureza de nossa faculdade intuitiva, posso muito bem mostrar essa possibilidade.” Com a admissão dos juízos sintéticos a priori a aritmética, a geometria e a física tornam-se capazes de serem demonstradas universalmente válidas, pois sua verdade se constata a priori. A finalidade da Crítica da razão pura é mostrar como isso acontece. Para tal é preciso fazer a razão voltar-se para si mesma e se considerar criticamente, justificando assim a existência de juízos sintéticos a priori, e com isso os limites do que pode ser legitimamente pensado. Para isso ele precisa começar investigando as operações da mente, que são: APREENSÃO, JUÍZO E RACIOCÍNIO. Daí a divisão da Crítica três partes principais: 1) A ESTÉTICA TRANSCENDENTAL, que estuda a APREENSÃO. 2)LÓGICA TRANSCENDENTAL: 2a) A ANALÍTICA TRANSCENDENTAL, que estuda o JUÍZO 2b) A DIALÉTICA TRANSCENDENTAL, que estuda a RAZÃO A seguir veremos resumidamente cada uma delas... ESTÉTICA TRANSCENDENTAL O pano de fundo da discussão é a disputa sobre a natureza do espaço entre NEWTON (defendido por Clarke) e LEIBNIZ Newton: concepção absoluta: ESPAÇO E TEMPO SÃO ÚNICOS, ABSOLUTOS E IMUTÁVEIS, dentro deles se encontrando os corpos físicos. Como um grande caixote! Leibniz: concepção relacional. ESPAÇO E TEMPO SÃO CONSTITUÍDOS através das RELAÇÕES ENTRE OS CORPOS FÍSICOS, Exs: em cima, embaixo, ao lado de de... antes, depois, no mesmo momento... Kant discorda de ambos: Ambos pressupõem a REALIDADE OBJETIVA DO ESPAÇO e TEMPO. Mas se o ESPAÇO E TEMPO SÃO OBJETIVOS, A MATEMÁTICA E A GEOMETRIA, que dependem do espaço e tempo para se constituírem, NÃO PODEM TER A SUA UNIVERSALIDADE E NECESSIDADE GARANTIDA, pois devem ser sintéticas a posteriori, ou seja, dependentes da experiência, posto que para Kant elas não são analíticas! Por isso espaço e tempo NÃO PODEM SER OBJETIVOS. Antes de começar a expor o pensamento de Kant é preciso distinguir entre TRANSCENTE (-) e TRANSCENDENTAL (+): 1) TRANSCENDENTE = AQUILO QUE ULTRAPASSA TODA A EXPERIÊNCIA ( metafísica pré-kantiana). 2) TRANSCENDENTAL = AS CONDIÇÕES SUPREMAS PARA QUALQUER TIPO DE CONHECIMENTO (espaço e tempo, categorias, as idéias da razão) ============================================ A ESTÉTICA TRANSCENDENTAL (do grego ‘aesthesis’ = sensação) visa mostrar como são possíveis a matemática e a geometria. Para Kant a matemática e a geometria são conhecimento universal de caráter intuitivo, a geometria requer espaço (e tempo) e a matemática requer o tempo. Elas são universais porque ESPAÇO e TEMPO não pertencem ao mundo externo em si mesmo, mas à própria mente. Eles são FORMAS A PRIORI DA INTUIÇÃO SENSÍVEL, dotadas de universalidade e intuitividade, residindo na mente! Por se encontrarem na mente, as matemáticas são a priori, independentes da experiência, pois AS FORMAS A PRIORI DA INTUIÇÃO SE LHES SOBREPÕEM... Mas por que espaço e tempo são condições a priori de toda a experiência e não são resultados da experiência? Argumentos: 1) Qualquer sensação de coisas externas PRESSUPÕE a intuição do ESPAÇO, e o TEMPO está presente em todas as intuições. (Não podem vir juntas?) 2) Se você pensa em RELAÇÕES, como acima, ao lado de, você já as situa no espaço. Se X está ao lado de Y, você JÁ ASSUME A IDÉIA de espaço. O mesmo com o antes e o depois no tempo. (Mas não vem juntos?) 3) Você não pode imaginar objetos sem espaço, mas pode imaginar o espaço sem objetos... (eu não posso). 2) Além disso ESPAÇO E TEMPO SÃO ÚNICOS E ILIMITADOS, não podendo ser abrangidos por CONCEITOS. Sob um conceito (ex: casa) caem objetos, o que não acontece aqui. (Mas há conceitos sob os quais cai uma só entidade.) Para Kant esses argumentos mostram que ESPAÇO E TEMPO não são NEM PRODUTOS DA EXPERIÊNCIA NEM CONCEITOS. Logo: eles só podem ser FORMAS A PRIORI DE NOSSA MENTE, ESQUEMAS VAZIOS que se tornam perceptíveis no ato de formação de conteúdos empíricos. A conclusão é a oposição: FORA: OBJETO x DENTRO, onde encontramos: 1) O sentido externo recebe os estímulos sob a forma ESPACIAL, de modo que toda sensação nos parece EXTENSA. 2) O sentido interno (condição imediata das aparências internas e mediata das aparências externas) recebe os estímulos sob a forma de TEMPO, pois toda sensação ocupa um lugar no tempo. PARA KANT O ESPAÇO É A FORMA DE TUDO O QUE É PERCEBIDO PELO SENTIDO EXTERNO e O TEMPO É A FORMA DE TUDO O QUE É PERCEBIDO PELO SENTIDO INTERNO e também externo. Da SÍNTESE da MATÉRIA constituída pelos DADOS SENSORIAIS sob a FORMA do ESPAÇO E TEMPO resulta o FENÔMENO. (A intuição humana é só sensível, só Deus tem intuição intelectual) *** Estabelecidos esses princípios Kant conclui que a matemática e a geometria são CIÊNCIAS porque são formadas de proposições UNIVERSAIS E EXTENSIVAS DE NOSSO CONHECIMENTO: E essa UNIVERSALIDADE só é possível porque ESPAÇO E TEMPO, que acompanham todas as proposições geométricas e matemáticas, são FORMAS A PRIORI E PORTANTO UNIVERSAIS. Isso não quer dizer que espaço e tempo não sejam de modo algum reais (como nos sonhos): ELES SÃO IDEALIDADES TRANSCENDENTAIS E REALIDADES EMPÍRICAS. Com efeito, nada se prova em matemática e geometria apenas pela análise conceitual, mas por síntese. É sempre preciso o uso dos sentidos... EXEMPLOS: 1) “A reta é a distância mais curta entre dois pontos”. R: é a própria definição de reta que está aqui explicitada. 2) Como sabemos que “só uma única reta pode cortar outra em um ponto formando um ângulo reto com a primeira”? R: primeiro desenhamos, apelamos à nossa intuição espacial, depois sabemos que isso vale universalmente (na geometria euclideana). a Considere agora o teorema de Euclides: “A soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º”. Kant nota que não é uma proposição analítica, pois o predicado não está contido no sujeito. Poderia ser outro número qualquer! Precisamos de uma PROVA que se dá por meio de SÍNTESES: B E 1 2 A 3 2 C 1 D Também aritmética é sintética a priori. Considere o juízo: “2 + 2 = 4” Para Kant ele é sintético, o que se mostra quando consideramos uma prova como a proposta por Leibniz: 2 + 2 = (1 + 1) + (1 + 1) (1 + 1) + (1 + 1) = 1 + 1 + 1 + 1 = (1 + 1) + 1 + 1 =2+1+1 = (2 + 1) + 1 =3+1 =4 (tirando os parêntesis) (df. 2 = 1 + 1) (df. 3 = 2 + 1) (df. 4 = 3 + 1) Mas Kant não acha que essa prova seja analítica, pois ela se dá no TEMPO! Mat. requer tempo... Como a geometria. Começa a se delinear que o CONHECIMENTO humano se encontra para Kant entre dois termos opostos, os quais são incognoscíveis: 1) o OBJETO ou COISA EM SI ou NOUMENON do lado objetivo, e 2) o SUJEITO entendido como X ou EU TRANSCENDENTAL do lado subjetivo. Pois SÓ CONHECEMOS O QUE SE DÁ SOB AS CONDIÇÕES TRANSCENDENTAIS DO CONHECIMENTO, QUE SÃO OS FENÔMENOS, que quando são objetivos formam a NATUREZA e quando subjetivos formam o EU EMPÍRICO. ANALÍTICA TRANSCENDENTAL Com a sua analítica transcendental Kant quer estudar a FACULDADE DO ENTENDIMENTO como uma maneira de investigar os conceitos a priori. Para Kant A SENSAÇÃO produz INTUIÇÕES, enquanto O ENTENDIMENTO produz os CONCEITOS. Mas não há conhecimento sem o intercêmbio entre ambas: “CONCEITOS SEM INTUIÇÕES SÃO VAZIOS E INTUIÇÕES SEM CONCEITOS SÃO CEGAS.” Além disso, assim como na estética ele pretende ter provado que as matemáticas são possíveis, na analítica ele quer provar como a ciência empírica (a física newtoniana) é possível. Como podemos saber que o campo da experiência está submetido à LEI UNIVERSAL E NECESSÁRIA? Como são possíveis leis da física como: G = M1 x M2 D² Ora, para Kant elas só são possíveis se o INTELECTO IMPÕE ESSAS LEIS À NATUREZA. O sujeito que as dita ÀS IMPÕE - não à natureza em si mesma - mas à NATUREZA COMO ELA NOS APARECE, À NATUREZA FENOMÊNICA. Só por serem provenientes do SUJEITO que as LEIS DA NATUREZA TEM CARÁTER UNIVERSAL E NECESSÁRIO. Para entender como Kant torna esse ponto plausível precisamos percorrer seu longo caminho argumentativo. Para Kant o ENTENDIMENTO funciona aplicando CONCEITOS MÁXIMOS, as CATEGORIAS, aos DADOS DA INTUIÇÃO. Para entendermos o que é uma categoria é bom voltar por um momento a Aristóteles... Aristóteles entendia como categorias os “os gêneros supremos do ser”, produzindo uma tábua de conceitos que se aplicavam a tudo o que é dado. Ele tinha uma lista de oito, por vezes dez categorias. Eis as categorias de Aristóteles: 1) Substância ou essência, 2) Qualidade, 3) Quantidade, 4) Relação, 5) Agir, 6) Sofrer a ação, 7) Lugar (espaço), 8) Quando (tempo). Assim, uma substância, essa ROSA, tem qualidade, é vermelha, tem quantidade, certo peso, está relacionada às outras flores do feixe, age ao exalar um perfume e ocupa certo lugar e dura um certo tempo. Como vêem, elas parecem ser conceitos fundamentais! Kant não estava satisfeito com a tábua das categorias de Aristóteles, pois as considerava obtidas aleatoriamente. Ele considera que conceitos são sempre predicados de JUÍZOS e que o entendimento também consiste na FACULDADE DE JULGAR, DE FORMAR JUÍZOS. Com base nisso ele teve a idéia de construir a sua própria lista de categorias, usando como fio condutor A CLASSIFICAÇÃO LÓGICA DOS JUÍZOS, de modo que de cada espécie de juízo ele possa abstrair um conceito máximo, uma categoria, produzindo assim a sua própria tábua de categorias! Kant produz uma tábua com 12 tipos de juízo segundo qualidade, quantidade, relação e modalidade, retirando daí 12 categorias: ESQUEMA: JUÍZO: CATEGORIA: QUANTIDADE . . singulares particulares universais totalidade multiplicidade unidade QUALIDADE . . RELAÇÃO . . afirmativos negativos indefinidos categóricos hipotéticos disjuntivos ser não-ser limitação substância-inerência causalidade-dependência comunhão-reciprocidade MODALIDADE . . problemáticos Assertóricos Apodíticos possibilidade-impossibilidade realidade-irrealidade necessidade e contingência Quanto à QUANTIDADE os juízos se dividem em: 1)UNIVERSAL: Ex: todos os homens são mortais. 2) PARTICULAR: Ex: alguns homens são calvos. 3) SINGULAR: Ex: Sócrates é mortal. Desses três momentos ou subclasses de juízos se deduzem respectivamente três categorias: 1)UNIDADE 2)PLURALIDADE 3)TOTALIDADE Quanto à QUALIDADE os juízos podem ser: 1) AFIRMATIVO (ex: A alma é mortal) 2) NEGATIVO (ex: A alma não é mortal) 3) INFINITO (ex: A alma é não-mortal) (É infinito porque o sujeito é asserido como pertencendo a uma classe infinita de coisas que não incluem o conceito de ser mortal.) Dessas momentos se deduzem respectivamente as categorias de: 1) REALIDADE 2) NEGAÇÃO 3) LIMITAÇÃO Quanto à RELAÇÃO: 1) CATEGÓRICO: Afirma relação S-P entre 2 conceitos, ex: “Os maus serão punidos”. 2) HIPOTÉTICO: Afirma relação de consequência entre dois juízos, ex: “Se há justiça, os maus serão punidos.” 3) DISJUNTIVO: Afirma disjunção entre dois ou mais juízos, ex: “O mundo existe ou por acaso ou por necessidade ou por uma causa externa”. Daí se deduzindo respectivamente as categorias de: 1) INERÊNCIA E SUBSISTÊNCIA 2) CAUSALIDADE E DEPENDÊNCIA 3) COMUNIDADE (reciprocidade entre agente e paciente) Quanto à MODALIDADE: 1) PROBLEMÁTICO (ex: “O gato pode estar no tapete”) 2) ASSERTÓRICO (ex: “O gato está no tapete”) 3) APODÍTICO (ex: “O gato deve estar em algum lugar”) Desses momentos se deduzindo respectivamente as categorias de: 1) POSSIBILIDADE-IMPOSSIBILIDADE 2) EXISTÊNCIA-INEXISTÊNCIA 3) NECESSIDADE-CONTINGÊNCIA Essas classificações são um tanto artificiais e mesmo em desacordo com a lógica contemporânea, com o agravante de que elas se impõem ao restante da Crítica. Essa dedução da origem a priori das categorias a partir dos juízos é chamada de DEDUÇÃO METAFÍSICA para se distinguir da subsequente DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL Segundo Kant o juízo dá-se quando superpomos categorias à associação do predicado ao sujeito, por exemplo: Ex.1: “Essa rosa é vermelha”, categorias aplicadas: totalidade, ser, substância e inerência, realidade. O intelecto pode agora realizar juízos universais ao impor categorias à experiência! Ex.2: “Se um metal é aquecido ele se expande”: unidade, ser, causalidade, realidade. Entendemos aqui como as categorias se aplicam aos objetos da experiência e vemos que há três fatores, um passivo e dois ativos, envolvidos no conhecimento a priori: (i)O múltiplo da intuição pura (a moldura espaciotemporal) (ii) A síntese desse múltiplo por meio da imaginação. (iii) Os conceitos que dão unidade a essa síntese. A imaginação, com a ajuda dos conceitos puros do entendimento, produz a atividade combinatória que dá sentido ao material apresentado pela sensibilidade. Chegamos aqui à famosa DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL. A questão é: o que justifica a aplicação dos conceitos puros do entendimento? Resumidamente a resposta é: Como as categorias se aplicam às aparências e não à coisa em si, deve ser natural que essa aplicação dependa em parte da própria estrutura de nossas mentes, só através delas podendo ser os objetos pensados. Mais detalhadamente: 1) O múltiplo dado à intuição espacio-temporal é uma variedade de cores, odores, gostos, que não somos capazes de nomear nem conhecer. Para que isso aconteça nós precisamos ORGANIZÁ-LO ATIVAMENTE através da ATIVIDADE EXPONTÂNEA DO ENTENDIMENTO. Ele junta o múltiplo fazendo-nos reconhecer uma cadeira ou um cão. 2) Conceitos empíricos são formados por ABSTRAÇÃO. O problema é como são formados conceitos a priori, como as CATEGORIAS. Ele quer mostrar que assim como todo o material sensível é espacio-temporalmente ordenado, todo entendimento é ordenado segundo as CATEGORIAS, que são REGRAS, CONDIÇÕES FUNDAMENTAIS DE NOSSO PENSAMENTO. 3) A atividade do entendimento consiste essencialmente de um ATO DE COMBINAÇÃO OU SÍNTESE. Se penso “João é mais alto que Maria” (juízo empírico) ou “Todo evento tem uma causa” (juízo a priori), estou combinando em pensamento duas coisas e dizendo que elas se combinam na realidade. 4) Essa atividade combinatória pressupõe uma UNIDADE na mente que combina. Toda representação (Vorstellung) precisa poder ser relacionada a representações passadas ou futuras numa única mente. Só essa unidade da consciência garante a síntese. Essa unidade é chamada de UNIDADE TRANSCENDENTAL DA APERCEPÇÃO. A mente forma uma unidade e esse princípio da unidade da unidade sintética da apercepção é o supremo princípio de todo o juízo. Como ele diz numa famosa passagem: “o eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representações pois elas não seriam minhas se não pertencessem todas a minha autoconsciência.” (Assim, a solução de Kant para o problema do Eu é intermediária entre Descartes e Hume: Descartes achava que o Eu fosse cognoscível imediatamente em si mesmo. Hume achava que o Eu fosse uma ilusão fictícia. Kant acha que ele existe, mas é incognoscível.) Obs: a apercepção transcendental precisa ser distinguida da apercepção empírica ou sentido interno, pela qual me torno consciente da sucessão de meus estados mentais internos. 5) Questão: como essa unidade determina o funcionamento das regras do entendimento? Para tal precisamos investigar mais a natureza do juízo. Como o entendimento difere juízos com referência objetiva de asserções puramente subjetivas? Se digo que “sinto peso” isso é diferente do juízo objetivo “Todos os corpos são pesados” em que as idéias de corpo e peso são objetivamente combinadas. Ora, porque no juízo, diversamente da mera asserção, eu submeto as cognições dadas à UNIDADE OBJETIVA DA APERCEPÇÃO (B141). Se ajuizo “Corpos são pesados”, faço referência ao “EU PENSO”, que envolve a 6) Mas como o entendimento realiza essa atividade de unificação por meio dos JUÍZOS da lógica, que são funções das CATEGORIAS (como mostrou a dedução metafísica), segue-se que o múltiplo da intuição deve se submeter às CATEGORIAS. 7. Adicionalmente, Kant distingue a SÍNTESE DA APREENSÃO da SÍNTESE DA APERCEPÇÃO: a síntese da apreensão concerne à combinação do múltiplo em uma intuição empírica. Ex: posso olhar para uma casa sem reconhecê-la como tal, eu combino as impressões visuais antes de reconhecer a casa ou mesmo um objeto. Aqui espaço e tempo provêem a unidade, mas quem dá essa unidade ao múltiplo JÁ É O ENTENDIMENTO, que nos faz reconhecê-lo como em UM espaço e em UM tempo. Daí se segue que Kant pensa que a síntese empírica da apreensão deve se conformar com a síntese puramente intelectual da apreensão, e daí que toda a síntese, empírica ou a priori, deve se conformar com as categorias. Ele dá dois exemplos dessa conformidade: a) Eu percebo uma casa. Penso que ela é necessariamente estendida no espaço. Essa unidade sintética espacial tem sua origem no entendimento, no caso, na categoria de quantidade, que se aplica à extensão da casa. b)Eu percebo que a água se congela. Eu relaciono temporalmente os estados de fluidez e solidez. A unidade sintética é aqui também dada pelo entendimento, pela categoria de causalidade. O resultado disso tudo é que a NATUREZA deve se sujeitar às categorias do entendimento, pois ela é composta de aparências, e o MODO como ela aparece é determinado, em suas características gerais, pela aplicação das categorias, além da recepção do múltiplo pela moldura espacio-temporal. Claro que o conhecimento empírico demanda experiência para ser adquirido. Mas a sua estrutura geral não é algo descoberto pela investigação empírica, mas pelo poder combinatório da mente humana. *** A explicação das categorias dá lugar a princípios chamados por Kant de ANALOGIAS DA EXPERIÊNCIA, que são LEIS fundamentais da experiência. 1ª ANALOGIA é o princípio da permanência da substância: “Em toda mudança dos fenômenos a substância permanece, e a quantidade desta na natureza não aumenta nem diminui.” Esse princípio é condição necessária para se perceber a mudança. Se uma cadeira desaparece e uma mesa aparece em seu lugar não podemos falar de mudança. Mas se um pedaço de cera aquecido se torna líquido, isso é mudança. Essa mudança, contudo, pressupõe que a substância permaneceu inalterada. Essa substância, aliás, não é para Kant nem a ousia aristotélica, nem a mônada leibniziana, mas simplesmente a QUANTIDADE DE MATÉRIA, a MASSA newtoniana! É a quantidade de matéria que permanece idêntica. A segunda analogia institui o princípio da causalidade: 2ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA: “Todas as mudanças acontecem segundo as leis do nexo de causa e efeito”. Note que a causa NECESSITA o efeito. Para Hume essa necessidade era subjetiva, fruto do mero hábito. Para Kant o princípio da causalidade é ao contrário condição A PRIORI de toda a experiência, pois essa necessidade é imposta pelo sujeito, pela categoria do intelecto que lhe dá objetividade, i.e. validade universal, embora só no campo da experiência possível. A demonstração disso tem vários argumentos intercalados, a idéia principal é a seguinte: 1) Mudança implica em sucessão. Ora, em certos casos a sucessão parece ser IRREVERSÍVEL para nós, razão pela qual a atribuimos ao OBJETO, ELA É OBJETIVA. 2) Quando a ordem da sucessão é IRREVERSÍVEL, nós a atribuimos ao nosso MODO DE PERCEBER, considerando-a como existente só em nossa REPRESENTAÇÃO e não no objeto. 3) Mas OBJETIVO equivale a NECESSÁRIO. 4) Assim, quando atribuimos a sucessão ao OBJETO, o antes e o depois parecem-nos IRREVERSIVELMENTE ligados, de modo que tal NECESSIDADE só pode ser proveniente do entendimento, da aplicação da CATEGORIA DE CAUSALIDADE. Kant tenta ilustrar isso com um exemplo. Imagine um barco que desce o rio em nossa direção. Não podemos por nossa vontade reverter a ordem de suas sucessivas posições. Mas imagine as sucessivas representações que tenho de uma casa: olho para o térreo, depois para o teto. São reversíveis: posso olhar para o teto e depois para o térreo. Isso é critério para dizermos que não há sucessão objetiva, na casa, mas subjetiva. Em ambos os casos, diz Kant, estamos lidando apenas com representações, mas uma ordem é objetiva, outra subjetiva. A segunda analogia corresponde à lei da inércia, dizendo que “toda a mudança da matéria tem uma causa externa”, que ele quer fazer equivaler ao princípio da razão suficiente. 3ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA: “Todas as substâncias, enquanto podem ser percebidas no espaço como contemporâneas, estão em contínua ação recíproca”. Corresponde à terceira lei da mecânica newtoniana. *** O ESQUEMATISMO: Para se por em contato, intuições e juízos precisam de um INTERMEDIÁRIO, que é a IMAGINAÇÃO ou FANTASIA, a qual inicia a associação entre as duas coisas segundo esquemas fundamentais... O TEMPO tem a função de fazer uma INTERMEDIAÇÃO entre CONCEITOS PUROS e DADOS DA SENSIBILIDADE, estando sempre presente nas analogias da experiência. Como as CATEGORIAS são COMPLETAMENTE HETEROGÊNEAS em relação às INTUIÇÕES, é necessário um MEIO INTERMEDIADOR entre as CATEGORIAS e as INTUIÇÕES, que Kant chama de ESQUEMA e que é produto da IMAGINAÇÃO. O esquema forma uma IMAGEM que não é a imagem sensível particular, mas a imagem VISTA COMO EXEMPLO DE UM CONCEITO. Ex: se exemplifico o número 3 com a imagem <***> isso é um ESQUEMA, mas isso é NUMERÁVEL e o NUMERAR exige Com base em tudo isso Kant pode concluir que a física newtoniana é válida quando aplicada ao mundo fenomênico, sendo necessária e universal! Falta, porém, uma coisa: é que o conhecimento não é constituído de elementos separados uns dos outros, mas forma um TODO UNITÁRIO. Para explicar isso Kant recorre à suprema condição unificadora de toda a experiência, que é o EU TRANSCENDENTAL. Afinal, o que liga todas as minhas representações é o fato delas todas poderem ser reconhecidas como ligadas a um EU, senão ele seria variegado. Como ele diz numa famosa passagem: “o eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representações pois elas não seriam minhas se não pertencessem todas a minha autoconsciência.” Essa consciência da continuidade do eu é chamada por Kant de APERCEPÇÃO TRANSCENDENTAL. A solução de Kant para o problema do Eu é intermediária entre Descartes e Hume: Descartes achava que o Eu fosse cognoscível imediatamente em si mesmo. Hume achava que o Eu fosse uma ilusão fictícia. Kant acha que ele existe, mas é incognoscível. Finalmente, há um problema com o conceito de NOUMENON (da coisa em si, do X, do sujeito transcendental): Se dizemos que ele EXISTE, ou CAUSA os FENÔMENOS, então aplicamos as categorias de realidade e causalidade a ele. Mas isso é contraditório com os princípios da Crítica. Talvez por isso é que na segunda edição da Crítica ele passou a considerá-lo um CONCEITO LIMITE (Grenzbegriff), podendo ser entendido simplesmente como O QUE NÃO PODE SER OBJETO DA NOSSA INTUIÇÃO SENSÍVEL. Mas o é isso do qual nada pode ser dito? Como Strawson notou, essa parece ser uma tese ININTELIGÍVEL! DIALÉTICA TRANSCENDENTAL DIALÉTICA TRANSCENDENTAL = Estudo da atividade da RAZÃO, com o fito de avaliar a POSSIBILIDADE DA METAFÍSICA. Para Kant a ATIVIDADE DA RAZÃO consiste em RACIOCINAR COM O FITO DE UNIFICAR TODA A EXPERIÊNCIA SOB AS 3 IDÉIAS FUNDAMENTAIS DA RAZÃO, QUE SÃO: 1) IDÉIA DA ALMA 2) IDÉIA DO MUNDO 3) IDÉIA DE DEUS Isso é feito através do raciocínio CATEGÓRICO, que corresponde à idéia da ALMA, através do raciocínio HIPOTÉTICO, que corresponde à idéia do MUNDO, e o raciocínio DISJUNTIVO, que corresponde à idéia de DEUS. O que são essas idéias unificadoras? IDÉIA DE ALMA = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO AO SUJEITO. IDÉIA DO MUNDO = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO AOS OBJETOS FENOMÊNICOS. IDÉIA DE DEUS = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO A TODO OBJETO POSSÍVEL, INTERNO E EXTERNO. É importante entender o específico status epistêmico das idéias de ALMA, MUNDO E DEUS. Elas são para Kant CONDIÇÕES A PRIORI UNIFICADORAS DA EXPERIÊNCIA. Elas nem são derivadas da experiência, como pensavam os empiristas, nem são representações das coisas em si, como pensavam os racionalistas como Descartes. Elas tem como única função UNIR JUIZOS, não podendo se referir efetivamente a nada. Elas não são conceitos, mas são FORMAS SEM CONTEÚDO, não possuindo VALOR CONSTITUTIVO! Elas não são como os conceitos do entendimento, capazes de CONSTITUIR OBJETOS. Elas são meros IDEAIS REGULATIVOS, DIRETIVOS . Sua função é INDICAR UMA DIREÇÃO, UM PONTO DE CONVERGÊNCIA HIPOTÉTICO, PROBLEMÁTICO, PARA O QUAL TENDEM TODOS OS RACIOCÍNIOS. Por não atentar para isso a mente humana foi levada a produzir inúmeros argumentos no sentido de provar que as idéias da razão se referem a COISAS EM SI ou a FENÔMENOS, tratando-as como conceitos ordinários, Isso constitui aquilo que que se entendia por metafísica na época de Kant: Ou seja, investigações sobre a Existência da ALMA, Existência e natureza de DEUS, ou sobre as origens do MUNDO. Tais argumentos, quando se referem a ALMA e a DEUS, são ERRÔNEOS e chamados por Kant de PARALOGISMOS. Já quando se referem ao MUNDO eles são INCONCLUDENTES e chamados por Kant de ANTINOMIAS. A dialética possui, pois, uma parte positiva, que é a investigação da razão em si mesma, e negativa, que é uma CRÍTICA ÀS ILUSÕES DA RAZÃO, À METAFÍSICA de seu tempo. ALMA: Eis um exemplo de paralogismo: 1. O que pode ser pensado somente como sujeito é uma substância. 2. O eu pensante só pode ser pensado como sujeito. 3. Logo: o eu pensante é uma substância. Problema: na premissa maior o termo ‘sujeito’ significa EU NOUMÊNICO (TRANSCENDENTE), mas na segunda o termo ‘sujeito’ significa EU FENOMÊNICO (TRANSCENDENTAL). Logo o silogismo é EQUÍVOCO, FALAZ. MUNDO: As antinomias, com as quais a RAZÃO intenta provar a ORIGEM DO MUNDO, são INCONCLUDENTES. As antinomias são quatro, segundo a QUANTIDADE, QUALIDADE, RELAÇÃO E MODALIDADE: 1) Antinomia de QUANTIDADE: TESE: o mundo teve início no tempo e é limitado no espaço. ANTÍTESE: o mundo não tem princípio no tempo nem limites no espaço. Para Kant não há como decidir, pois diz respeito ao mundo em si mesmo. 2. Antinomia de QUALIDADE: tese: existe substância simples, antítese: não existe nada simples no mundo. ............................................................................. 3. Antinomia da RELAÇÃO: tese: além da causalidade necessária das leis naturais, existe uma causalidade livre. Antítese: não existe liberdade, tudo ocorre sob as leis da natureza. ........................................................................................................................ 4. Antinomia da MODALIDADE: Tese: no mundo existe um ser absolutamente necessário, como parte ou como causa. Antítese: nem no mundo nem fora dele existe um ser absolutamente necessária. Todos esses argumentos são INCONCLUDENTES e mesmo ERRÔNEOS, posto que pressupõe que se possa dizer algo sobre o MUNDO EM SI MESMO! Eles são INDECIDÍVEIS porque vão além da experiência possível. a) Os argumentos das TESES são dos RACIONALISTAS. b) Os argumentos das ANTÍTESES são dos EMPIRISTAS, ainda mais danosos que os racionalistas, por afetarem os interesses práticos da razão. DEUS: Para Kant a razão não é capaz de demonstrar a existência de Deus, pois isso está além dos seus limites! A prova fundamental é para ele a PROVA ONTOLÓGICA (sob a qual se fundam as provas cosmológica e teleológica). PROVA ONTOLÓGICA: DO CONCEITO DE SER PERFEITÍSSIMO DEDUZ-SE A SUA EXISTÊNCIA. Kant responde que A EXISTÊNCIA NÃO É NENHUM PREDICADO CONTIDO NA ESSÊNCIA DE NENHUM SUJEITO. Ela precisa lhe ser SINTETICAMENTE ACRESCENTADA. Mas no caso do SER ABSOLUTO, que está ALÉM DE TODA A EXPERIÊNCIA, esse acréscimo é IMPOSSÍVEL. Em suma: As idéias da razão são NORMAS QUE IMPELEM NOSSAS MENTES A PROCURAR UMA UNIDADE SEMPRE MAIS COMPLETA, UMA SÍNTESE SEMPRE MAIS VASTA DA EXPERIÊNCIA. Elas são IDEAIS INATINGÍVEIS, mas ORIENTADORES. Embora a razão humana seja dotada de IDÉIAS A PRIORI da ALMA-MUNDO-DEUS, ela não pode dar-lhes CONTEÚDO, pois sendo essas coisas COISAS EM SI, elas são INCOGNOSCÍVEIS. Além disso a METAFÍSICA como conhecimento das COISAS EM SI é IMPOSSÍVEL. A METAFÍSICA só é possível como ESTUDO DAS FORMAS A PRIORI DA RAZÃO (o que a dialética faz). BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR PARA A CRÍTICA DA RAZÃO PURA: Quebra galhos: - Giovanni Reale e D. Antiseri: História da filosofia, vol. 2, (ed. Paulinas).* - Sofia Vanni Rovigui: História da Filosofia Moderna, vol. 1 (ed. Loyola). Introduções gerais a Kant: - John Kemp: The Philosophy of Kant (OUP 1968)* - W. Wood: Kant (trad. Artmed 2008(2005)) - Frederick Copleston: A History of Philosophy, vol. 6, parte II Kant (New York: Image Books 1959). Introduções dedicadas à Crítica da Razão Pura: - T.E. Wilkerson: Kant’s Critique of Pure Reason: A Comentary for Students (OUP 1976).* - S. Gardner: Kant and the Critique of Pure Reason (Routledge 1999) Comentários: - N. Kemp Smith: A Comentary to Kant’s Critique of Pure Reason (London 1930). Clássico - H.J. Paton: Kant’s Metaphysics of Experience (London 1936). Clássico. - P.F. Strawson: The Bounds of Sense (Methuen 1966)* FIM