Curso de Fisioterapia Mayco de Almeida Rodrigues A Fisioterapia como Coadjuvante no Tratamento de Portadores de Hemofilia Rio de Janeiro 2007 1 Mayco de Almeida Rodrigues A Fisioterapia como Coadjuvante no Tratamento de Portadores de Hemofilia Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Prof. Ricardo Ferreira Cavalcante Rio de Janeiro 2007 2 Mayco de Almeida Rodrigues A Fisioterapia como Coadjuvante no Tratamento de Portadores de Hemofilia Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Aprovada em: ____/____/2007. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Ricardo Ferreira Cavalcante Professor da Universidade Veiga de Almeida _____________________________________________________ Professor da Universidade Veiga de Almeida _____________________________________________________ Professor da Universidade Veiga de Almeida 3 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Gerson e Altinéa, por todo amor e carinho incondicionais, pelo apoio nos momentos difíceis e pela realização de um sonho. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que foi e continua sendo a força suprema que me equilibra e impulsiona na direção das realizações; Ao meu orientador por estar sempre pronto a me ajudar nos momentos em que precisei. Obrigado pelo apoio e motivação necessários para a conclusão desta obra; Aos meus familiares, pelas horas dedicadas à elaboração deste material e subtraídas de seu convívio; Aos meus amigos que contribuiram com gestos e palavras de incentivo; E a todos que direta ou indiretamente me auxiliaram na realização desta monografia. Obrigado! 5 RESUMO A hemofilia é um grave distúrbio hereditário de coagulação sangüínea que provoca comprometimentos músculo-esqueléticos como limitações de movimentos articulares, hemartrose, hemorragias tissulares, aderências articulares fibróticas, alterações de marcha, assimetria de forças musculares, contraturas e artrite hemofílica; afetando assim, a vida dos indivíduos hemofílicos. Apesar da debilidade do aparelho locomotor não oferecer risco de vida, as seqüelas que permanecem constituem sério fator incapacitante para o hemofílico. A Fisioterapia é capaz de auxiliar o tratamento desses indivíduos, prevenindo as complicações da doença e possibilitando uma menor administração de reposição dos fatores sangüíneos, o que proporciona uma melhor qualidade de vida e funcionalidade aos hemofílicos. Palavras-chave: hemofilia, hemartroses, artropatia, hemorragias, fisioterapia 6 ABSTRACT Hemophilia is a serious hereditary lifelong bleeding disorder that causes injuries in muscle and bone systems such as limitations of articular movements, hemarthroses, hemorrhage tissue, ad art fib, alterations in the gait, asymmetric of muscles forces, contracture and arthris hemophilic, affecting the life of the hemophilic patients. Although, the alterations in the gait do not represent risk of life, they cause a lot of limitations to hemophilic people. Physiotherapy can help these patients, preventing complications and reducing the administration of bleeding factors, improving the quality of life and the functionality to the hemophilics. Key-words: Hemophilia, hemarthroses, artropathy, hemorrhages, physiotherapy 7 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................01 1.1. Hemofilia: a patologia ...............................................................................................02 1.2. Hemofilia A ..............................................................................................................05 1.3. Hemofilia B ..............................................................................................................07 1.4. Outras deficiências de fator .......................................................................................07 1.5. Doença de von Willebrand ........................................................................................08 2. QUADRO CLÍNICO DA HEMOFILIA: FISIOPATOLOGIA ...............................10 2.1. Hemorragia ...............................................................................................................14 2.1.1. A tala “Open-thigh” de Los Angeles.......................................................................18 2.1.2. Hemorragias musculares.........................................................................................18 3. ARTROPATIA HEMOFÍLICA CRÔNICA.............................................................19 4. INDICAÇÕES CIRÚRGICAS ..................................................................................21 5. COMPLICAÇÕES E CUIDADOS PARA HEMOFÍLICOS ...................................22 5.1 Saúde dentária............................................................................................................22 5.1.1. Conselhos dietéticos ...............................................................................................23 5.1.2. Higiene oral............................................................................................................24 5.1.3. Cirurgia dentária.....................................................................................................26 5.2. Cuidados com pacientes hemofílicos mulheres no período menstrual ........................26 5.2.1. Detecção de portadoras...........................................................................................28 5.2.2. A esterilização como forma de evitar a perpetuação da doença ...............................29 5.3. Apoio psicológico na clínica hemofílica ....................................................................30 6. TRATAMENTO ........................................................................................................32 6.1. Fisioterapia na hemofilia ...........................................................................................22 6.1.1. Terapia proposta.....................................................................................................33 6.1.2. Exercício físico ......................................................................................................35 6.1.3. Exercícios domiciliares ..........................................................................................37 6.1.4. Preventiva ..............................................................................................................39 6.1.4.1. Fase aguda das Hemorragias................................................................................39 6.1.4.2. Fase Crônica........................................................................................................41 6.1.5. Fisioterapia hospitalar após a cirurgia.....................................................................43 7. CONCLUSÃO............................................................................................................48 8. REFERÊNCIAS .........................................................................................................49 ANEXOS ........................................................................................................................57 8 1. INTRODUÇÃO A Hemofilia é um distúrbio de coagulação sangüínea geneticamente determinada. Tratase de uma deficiência genético-hereditária quase exclusiva do sexo masculino, sendo três tipos mais freqüentes dessas coagulopatias, a hemofilia tipo A, B e a doença de von Willebrand (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997), embora as outras deficiências de coagulação hereditárias menos freqüentes possam, às vezes, apresentar quadro hemorrágico severo. Historicamente, a mortalidade dos portadores de hemofilia e outros distúrbios congênitos de coagulação eram devidos à hemorragia incontrolada associada à severa deficiência de fatores de coagulação (DIAMONDSTONE, ALEDORT & GOEDERT, 2002). Sem a intervenção médica através da reposição dos fatores de coagulação e o acompanhamento fisioterapêutico preventivo, com a finalidade de se evitar incapacidade funcional e proporcionar melhor qualidade de vida para esses indivíduos, torna-se muito difícil evitar as complicações músculo-esqueléticas dessa moléstia que inclui limitações variadas alterando a vida dos indivíduos hemofílicos. (RIBBANS, GIANGRANDE & BEETON, 1997). Por sua determinação genética, os episódios de hemorragias iniciam-se precocemente na vida das crianças, acompanhando o crescimento do indivíduo a partir do momento que o mesmo não obedeça aos cuidados necessários para sua prevenção. Desta forma a protelação e/ou um tratamento inadequado podem gerar uma série de alterações patológicas dentro da articulação, levando a artropatia dolorosa (RIBBANS, GIANGRANDE & BEETON, 1997). O cuidado com o paciente hemofílico envolve uma equipe conduzida pelo médico hematologista, mas também inclui a atuação de um ortopedista e um fisioterapeuta, cuja 9 importância está no fato de sua ação no período de reabilitação pós hemartroses (RIBBANS, GINAGRANDE & BEETON, 1997). A hemofilia é uma doença cara, pois seu tratamento é extremamente dependente de fatores de reposição para a coagulação (ROGOFF et al., 2002). Todavia, a introdução do tratamento com técnicas recentes podem gerar uma melhor expectativa de vida a estes pacientes (SUITER, 2002). Segundo a Federação Brasileira de Hemofilia, no Brasil, há cerca de 11 mil hemofílicos cadastrados (anexo I) (http://www.hemofiliabrasil.org.br/index.php?pg=noticias&id=8), o que mostra a necessidade da especialização do acompanhamento fisioterapêutico nos serviços públicos para esse tipo de paciente. Para isso, é fundamental o estudo dessa doença e suas respostas ao tratamento por meios físicos. Dentro desse contexto, o objetivo desta monografia é elucidar o papel do fisioterapeuta na hemofilia, visto que a fisioterapia dispõe de vários agentes físicos que podem ser aplicados de acordo com a fase da doença. Apresentaremos os recursos que podem ser usados em cada fase que o hemofílico se encontrar. 1.1. Hemofilia: a patologia De acordo com a Federação Brasileira de Hemofilia, a hemofilia A é a mais freqüente das coagulopatias, incidindo em 6.885 casos cadastrados no Brasil, sendo uma deficiência do fator VIII, já a hemofilia do tipo B tem incidência de 1.283 casos, com deficiência do fator IX (fatores do sistema intrínseco de coagulação). Relacionados às formas clinicamente significativas da doença de von Willebrand, 2.315 casos foram constatados. Outras deficiências de fatores de coagulação totalizam 332 casos e aquelas não identificadas, 207 10 casos (www.hemofiliabrasil.org.br). O número de casos de hemofílicos cadastrados por região pode ser observado no anexo I. Essa deficiência recessiva ligada ao sexo (cromossoma X) causa grande modificação no mecanismo de coagulação. É reconhecido que os hemofílicos possuem níveis de fator VIII ou IX reduzidos quando comparados a níveis existentes em mulheres normais portadoras, mas são raras as portadoras que manifestam alguma tendência hemorrágica. É necessário que, além da mãe ser portadora do gene, o pai seja hemofílico. Mesmo assim, só 25% dessas mulheres correm esse risco. O grau de severidade dessa doença é proporcional à deficiência da atividade coagulante do fator VIII ou IX. As hemofilias, independente de serem do tipo A ou B, podem ser classificadas quanto ao seu nível de deficiência dos respectivos fatores de coagulação em nível leve, moderado e severo (MARINHO, 1985; LORENZI,1992; RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). Em geral, os membros de uma família de hemofílicos têm sempre o mesmo tipo de hemofilia e com gravidade semelhante. Na hemofilia do nível grave, o nível fator VIII ou IX é menor que 1% do normal, com o tempo de coagulação em torno de 60 minutos e os sintomas hemorrágicos graves, muitas vezes espontâneos e incapacitantes (LORENZI, 1992; RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). O paciente com hemofilia severa pode ter vários episódios hemorrágicos por mês, espontaneamente ou com mínimo trauma, ou mesmo com as atividades da vida diária. O nível crítico de fator necessário para manter a hemostase, em caso cirúrgico ou traumático, é de 30% (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). Na hemofilia moderada, os níveis de fator VIII ou fator IX oscilam entre 1 e 5% do normal e o tempo de coagulação ao redor de 30 minutos e os sintomas também são graves, porém não tão acentuados como no nível grave. Neste nível, o paciente pode ter hemorragias 11 várias vezes no ano, mas pode haver longos períodos sem nenhum episódio hemorrágico (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). Na hemofilia leve, os níveis variam entre 5 e 25% de fator do normal, com o detalhe que o tempo de coagulação pode estar entre o normal ou levemente aumentado. Nesse nível, o fenômeno hemorrágico espontâneo é raro, principalmente com hemartroses. Só se nota importantes hemorragias em casos traumáticos e cirúrgicos. Em 1892, Konig (BUZZARD, 1997) estabeleceu a relação entre hemofilia e hemartrose. E apesar do envolvimento do aparelho locomotor não apresentar risco de vida ao indivíduo, as seqüelas podem ser muito incapacitantes para a vida do hemofílico. A porcentagem das articulações acometidas é de 44% joelho, 25% cotovelo, 14% tornozelo, 8% ombro, 5% quadril e os 4% restantes incluem pequenas articulações do corpo. O joelho é a articulação mais envolvida, isto se deve ao maior suporte de carga ou solicitação dessa articulação, que leva a um derrame sangüíneo que irá distender e pressionar a cápsula articular, causando dor e uma resposta inflamatória da membrana sinovial, além da adoção de uma postura antálgica com espasmo muscular associado. As reincidências da hemartrose determinarão a cronicidade desse quadro, com espessamento sinovial, fibrose dos tecidos, destruição e remodelação progressiva da cartilagem e dos ossos, associada à instabilidade osteoligamentar que irá favorecer a ocorrência de luxações, sub-luxações e calcificação de tecidos moles. Após os 30 anos de idade, 90% das articulações do joelho em pacientes hemofílicos apresentam destruição severa (EICKHOFF et al, 1997). Além de o comprometimento articular, a hemofilia determina ainda seqüelas musculares. Traumas mínimos podem resultar em grandes hematomas intramusculares (EILERT et al., 1993), que levam a grupos musculares tensos ou dolorosos desencadeando possíveis compressões de nervos periféricos (MARIE GAL & NAGATA, 1985). Embora a hemofilia não represente um risco de vida estatisticamente significativo, ela é considerada 12 uma doença grave devido às complicações músculo-articulares já citadas (MARIE GAL & NAGATA; 1985). Com isso, verifica-se a importância da fisioterapia no tratamento interdisciplinar do indivíduo hemofílico (BATTISTELLA et al, 1985). 1.2. Hemofilia A A hemofilia A, também conhecida como hemofilia clássica, é a desordem de coagulação hereditária mais comum. É caracterizada por alterações quantitativas ou qualitativas do fator VIII. O defeito genético do gen do fator VIII pode levar a ausência ou redução de moléculas de fator VIII, e a alterações estruturais que levam à diminuição de sua atividade funcional (VEIGA & MIRANDA, 1998). A hemofilia A exibe graus diversos de gravidade clínica que apresentam uma boa correlação com o nível de atividade do fator VIII (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). Níveis do fator abaixo de 1% estão associados com a hemofilia severa, níveis entre 1 e 5% classificam-se como hemofilia moderada e níveis entre 5 e 30% como leve (VEIGA & MIRANDA, 1998; BEZERRA, 2001). Entretanto, segundo Bezerra (2001) o nível médio normal da atividade de fator VIII é de 100%, variando de 50 a 180%. Outros autores diferem seus conceitos no que diz respeito aos níveis plasmáticos do fator para a classificação da hemofilia A. Para Robbins et al. (1996), a forma leve da doença pode apresentar níveis plasmáticos do fator entre 6 a 50%. E para Soucie et al. (1998), a forma leve apresenta entre 5 e 25% de níveis plasmáticos do fator VIII. 13 Por definição, uma unidade de fator VIII é a quantidade encontrada em 1 ml de pool de plasma fresco normal. Também por definição, 1 U/ml de fator VIII é igual a 100% do normal (VEIGA & MIRANDA, 1998). Os graus variáveis da deficiência dos níveis pró-coagulantes do fator VIII correlacionam- se com o tipo de mutação no gene do fator VIII. Os pacientes com deleções e mutações pontuais que criam códons de interrupção não apresentam fator VIII detectável e, conseqüentemente, desenvolvem a forma grave da doença. Em uma minoria dos pacientes, as mutações não afetam a síntese de fator VIII, mas os domínios funcionais são alterados. Nesses casos, os níveis de fator VIII são aparentemente normais nos ensaios biológicos, mas a proteína é inativa (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). A pesquisa epidemiológica realizada nos Estados Unidos identificou aproximadamente 43% de hemofílicos com hemofilia severa, 26% classificados como moderada e 31% como leve (SOUCIE, EVATT & JACKSON,1998). Segundo Bezerra (2001), pacientes com hemofilia grave são severamente afetadas sofrendo freqüentemente episódios de sangramentos internos nos músculos e articulações, e outras formas de hemorragias decorrentes de lesões mínimas usualmente esquecidas ou mesmo não identificadas. Os hemofílicos moderados possuem sangramento após trauma moderado. Os problemas de sangramento tendem a ser menos freqüentes e menos sérios do que aqueles afetados severamente, porém mais freqüentes e mais sérios do que os de pessoas afetadas brandamente, enquanto pacientes com hemofilia leve apresentam sangramento após traumatismo ou por intervenções cirúrgicas (BEZERRA, 2001). 14 1.3. Hemofilia B A hemofilia B ou doença de Christmas é caracterizada por uma diminuição da atividade do fator IX devido à ausência ou disfunção do fator (VEIGA & MIRANDA, 1998). Robbins et al. (1996) afirma que em cerca de 14% destes pacientes está presente um fator IX nãofuncional. De acordo com Soucie et al. (1998), a hemofilia B conta com aproximadamente 2025% dos casos de hemofilia. A apresentação clínica da hemofilia B é indistinguível da hemofilia A, e como esta, também é classificada como leve, moderada ou severa, de acordo com os níveis da atividade coagulante do fator IX (VEIGA & MIRANDA, 1998). 1.4. Outras deficiências de fator As hemofilias A e B são as mais freqüentes e mais relacionadas a sangramento articular importante, porém outras coagulopatias hereditárias menos freqüentes são: deficiência de fatores II (protrombina), V, VII, X, XI e XIII, além da doença de von Willebrand. 15 1.5. Doença de von Willebrand O fator VIII-vWF plasmático é um complexo constituído por duas proteínas separadas (fator VIII e fator vW), que podem ser diferenciadas por critérios funcionais, bioquímicos e imunológicos. Através de ligações não-covalentes, o fator VIII é vinculado a uma proteína muito maior, denominada fator de von Willebrand (vW). Esta última, que constitui aproximadamente 99% do complexo, não é uma proteína distinta, mas existe sob a forma de uma série de multímeros que chegam a conter até 100 subunidades. O fator de von Willebrand também é capaz de ligar diversas outras proteínas envolvidas na hemostasia (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). A função mais importante do fator vW é a de facilitar a adesão das plaquetas ao colágeno subendotelial. O fator vW atua como um transportador do fator VIII e é importante para a sua estabilidade. A meia-vida do fator VIII na circulação é de 12 horas, caso o fator vW esteja presente, mas de apenas 2,4 horas quando existe uma carência do último (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). Com uma freqüência estimada de 1%, acredita-se, segundo Robbins et al. (1996), que a doença de von Willebrand seja um dos distúrbios hemorrágicos hereditários mais comuns nos seres humanos. Em termos clínicos, caracteriza-se por sangramento espontâneo a partir das mucosas, sangramento excessivo em feridas, menorragia e um tempo de sangramento prolongado na presença de uma plaquetometria normal, na maioria dos casos é transmitida como um distúrbio autossômico dominante, mas foram identificadas diversas variantes autossômicas recessivas raras (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). Foram descritas mais de 20 variantes da doença de von Willebrand, e estas podem ser agrupadas em duas categorias principais (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996): 16 Doença de von Willebrand dos tipos I e III - associada com uma quantidade reduzida de Fator vW circulante. O tipo I, um distúrbio autossômico dominante, responde por aproximadamente 70% dos casos e é relativamente brando. O tipo III (um distúrbio autossômico recessivo) associa-se com níveis extremamente baixos de fator vW, e, conseqüentemente, as manifestações clínicas são graves. Felizmente, é muito menos comum do que o tipo I. A base molecular para a redução dos níveis de fator vW nestas duas variantes ainda não foi determinada (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). Doença de von Willebrand do tipo II - caracterizada por um defeito qualitativo no fator, é herdada como um distúrbio autossômico dominante. Como decorrência de mutações pontuais, ou, às vezes, de deleções, o fator formado é anormal e a agregação dos multímeros é defeituosa. Multímeros grandes e de tamanho intermediário, que correspondem às formas mais ativas do fator, não são encontrados no plasma. A doença de von Willebrand do tipo II responde por 10 a 15% de todos os casos da doença e se associa a sangramentos discretos e moderados (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). Uma vez que o fator vW estabiliza o fator VIII ao se ligar a ele, uma deficiência de fator vW origina uma redução secundária nos níveis de fator VIII. Em resumo, pacientes com doença de von Willebrand apresentam um defeito composto, que envolve a função plaquetária e a via de coagulação. Entretanto, exceto no caso dos pacientes mais gravemente afetados, os efeitos da deficiência do fator VIII que caracterizam a hemofilia são incomuns (ROBBINS, COTRAN & KUMAR, 1996). 17 2. QUADRO CLÍNICO DA HEMOFILIA: FISIOPATOLOGIA O quadro clínico da hemofilia mostra que o sucesso do tratamento é a prevenção de hemorragias associando o tratamento precoce de reposição e a fisioterapia como parte dos cuidados integrais ao indivíduo hemofílico. Somente o conjunto desses dois acompanhamentos pode reduzir a incidência de artropatias hemofílicas. A hemartrose é o elemento clínico mais característico da hemofilia. Esses derrames articulares são sempre provocados por microtraumas e são mais freqüentemente notados nas grandes articulações, apenas nos casos mais graves da doença ocorrem hemorragias espontâneas. A fase aguda da hemartrose evolui com fenômenos inflamatórios correspondentes a comprometimentos intra-articulares (Figura 1). A reabsorção do sangue é feita, com exceção do ferro hemoglobínico, que se fixa ao nível da cartilagem sinovial e tecidos periarticulares sob a forma de ferritina, responsável pela inflamação crônica. As lesões sinoviais na artropatia hemofílica, denominada de sinovite hemofílica, evoluem desde uma hipertrofia inicial com depósitos pigmentares, passando por um estado de hiperplasia angiomatosa e, finalmente, uma fibrose, tornando mais agudos e freqüentes os acidentes hemorrágicos e reduzindo a função articular. A sinóvia mostra focos de formação de vilosidades precocemente, cerca de 4 dias após o dano à articulação. As lesões articulares podem evoluir na hemofilia desde uma osteoporose e irregularidade de superfície óssea até uma fase mais adiantada que pode determinar uma destruição articular com comprometimento grave para o paciente (MARINHO, 1985; LORENZI, 1992), pois a sinovite hemofílica causa hipertrofia das placas de crescimento epifisais e o excesso de crescimento dessa placa leva a problemas ósseos no paciente jovem, 18 tais como discrepância do comprimento da perna, deformidades angulares e alterações de contorno no desenvolvimento do esqueleto. A osteoporose desenvolve-se como resultado do desuso e imobilização articular (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). A sinóvia anormal atuará de maneira similar a uma fístula artério-venosa, produzindo um excessivo suporte sangüíneo para a área das placas epifisárias, estimulando as placas de crescimento. Na hemartrose aguda, a dor geralmente responde rapidamente à administração apropriada dos fatores concentrados, mas a resolução do derrame e restauração da movimentação depende da quantidade de sangue na articulação (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997), e é justamente nessa questão que a fisioterapia pode atuar. Nessa fase aguda, a articulação envolvida é contida em flexão, numa posição de proteção, pois a movimentação ativa e passiva é dolorosa e muito restrita (RODRÍGUEZMERCHÁN, 1997). Depois de vários episódios de derrames intra-articulares seguidos de sinovites pode-se chegar a um ciclo de hemartroses-sinovites-hemartroses (RODRÍGUEZ-MERCHÁN, 1997). 19 Figura 1. Esquema da evolução da hemartrose nas articulações. Fonte: http://fisioterapia.unirp.edu.br/Artigos%20em%20formato%20PDF/Forms/AllItems.aspx A fase subaguda é dedicada para uso dos agentes físicos a fim de diminuir o tempo de resolução do hematoma ou hemorragia e também o consumo de medicamento. As repetidas hemartroses e imobilizações no hemofílico levam rapidamente a atrofias musculares importantes. Os músculos, diretamente ou por intermédio dos tendões, representam proteção para a articulação. A hemorragia muscular é a segunda maior complicação dessa moléstia, ocorrendo geralmente no compartimento anterior do antebraço, panturrilha e ilío-psoas, tendo como principais manifestações clínicas às observadas na Figura 2 como dor, aumento de volume e a incapacidade funcional que coloca as articulações movidas por esses músculos em posição de proteção. As lesões nervosas têm caráter transitório e estão ligadas as compressões nervosas. Há também hemorragias subcutâneas e teciduais, observadas freqüentemente nos indivíduos com hemofilia moderada ou grave, não somente em traumas pequenos, mas sem razão conhecida. 20 Essas hemorragias podem assumir grandes proporções pelo fato do sangue não coagular nos hematomas, facilitando a difusão através dos tecidos e fáscias. Essas hemorragias não somente levam à perda de sangue com quadro de anemia hemorrágica, mas, também a uma série de efeitos colaterais devido à pressão e manifestação dolorosa exercida. (LORENZI, 1992). Figura 2. Esquema demonstrando a evolução do hematoma muscular. Fonte: http://fisioterapia.unirp.edu.br/Artigos%20em%20formato%20PDF/Forms/AllItems.aspx Pode ocorrer deficiência do fluxo sangüíneo nas áreas comprometidas ou mesmo lesões nervosas com conseqüente paresia, contratura ou redução da sensibilidade muitas vezes observadas em comprometimento do nervo ciático e do nervo cubital. Essas hemorragias teciduais podem resultar em perfuração da pele, acrescidas de complicações infecciosas e fístulas. Com esse quadro é necessária a administração substitutiva de concentrados para parar a hemorragia e diminuir a dor e possibilitar a reabsorção do sangue. Atenção especial deve ser dada à hemorragia tissular profunda do músculo ilío-psoas, pelo risco de evolução para cistos ou pseudotumores que podem levar à compressão e destruição muscular e se não forem removidas cirurgicamente tendem a recidivar. Devido ao 21 tipo de vascularização que esses cistos apresentam, são extremamente difíceis de serem removidos. O aparecimento desses pseudotumores complica ainda mais o caso, já que toda intervenção cirúrgica em um hemofílico exige grande cuidado. 2.1. Hemorragia Se deixar instalar uma hemorragia esta pode ser incluída numa das seguintes categorias (para simplificar e a menos que seja dito o contrário, será usado como exemplo o joelho): a) Doentes com hemorragias dolorosas: o doente apresenta-se com um joelho inchado e doloroso e, embora normalmente seja tratado como doente externo, pode precisar de internamento durante 24 ou 48 horas. Depois de avaliação médica e substituição de fator o membro é colocado em gesso ou numa tala plástica durante 24 horas. Se for indicado o doente vai para casa com muletas canadenses para não suportar o peso do corpo e volta no dia seguinte. É normal, entretanto, que a dor e o inchaço diminuam e, após a terapia de substituição adicional devem ser iniciados alguns exercícios suaves do quadríceps e exercícios de mobilização (ativos, flexão e extensão, sem resistência do joelho e quadríceps sobre uma cunha e quadril estático). Um doente que tenha tido recentemente uma hemartrose está em risco de ter outra hemorragia na mesma articulação nos primeiros dias que se seguem. Essas hemorragias secundárias ocorrem durante o sono quando a articulação não está resguardada e por isso é recomendado como rotina o uso de uma tala a noite durante os dez dias consecutivos a uma hemartrose maior. 22 b) Hemorragias correntes: alguns hemofílicos gravemente afetados reconhecem “fases más” em que se tornam particularmente suscetíveis a períodos de hemorragias aparentemente espontâneas, muitas vezes afetando mais de uma articulação ou grupo muscular. Quando é afetada apenas uma articulação podem ser identificados um ou mais dos seguintes fatores que a isso predispõem, devendo todos ser encarados como falhas de tratamento: ! Após a hemorragia inicial, a terapia de substituição não foi administrada suficientemente a tempo, permitindo assim que uma hemorragia aguda se tornasse crônica, isso pode acontecer com doentes em terapia domiciliar; ! Após a uma hemartrose importante, o doente negligenciou instruções e não usou uma tala noturna ou fez exercícios em excesso muito cedo; ! Deixou enfraquecer o músculo causando assim uma instabilidade articular (quaisquer tensões ou esforços por mais leves que sejam poderão ocasionar novas hemorragias); ! As hemorragias estão ocorrendo em uma articulação já deteriorada por prévias hemartroses, ficando as vilosidades da sinovial, hipertrofiadas e vascularizadas, presas entre as superfícies de articulação durante o movimento, estando este muitas vezes designado por “sinovite”; ! Houve traumatismo repetido que pode ter sido tão trivial que escapou à atenção do doente. Após uma hemartrose importante numa articulação previamente afetada o doente apresenta uma tumefação tensa e dolorosa. Esse aumento de volume é constituído por sangue intra-articular e por espessamento sinovial, e numa tentativa para aliviar a distensão e dor capsular, o doente manterá a articulação na posição de máximo conforto. Os joelhos e 23 cotovelos se manterão parcialmente fletidos e os tornozelos em extensão parcial (JONES, 1989). Foram internados em um hospital para terapia de substituição e colocação de talas, hemofílicos com esse tipo de hemorragia. Muitos adultos não gostam do constrangimento imposto por uma tala, preferindo apoiar o membro doloroso sobre almofadas, mas uma tala bem almofadada aplicada na posição de máximo conforto, ao impedir os movimentos, evitará posteriores hemorragias e, ao permitir ao doente relaxar os músculos relacionados com a articulação afetada, ajudará a aliviar a dor. No primeiro dia administra-se ao doente terapia de substituição de 12 em 12 horas e a articulação é suportada numa posição confortável por gesso ou tala de plástico. Registram-se as medidas do perímetro da articulação e da massa muscular associada. No segundo dia, desde que haja uma diminuição da dor e tumefação e que a terapia de substituição tenha sido administrada, podem começar os exercícios estáticos de quadríceps. As ligaduras e almofadas em torno da tala são então cortadas para permitir a observação direta e as medições. Seguidamente, a tala é mantida com uma ligadura aplicada de modo que a articulação fique exposta e permitindo a aplicação local de sacos de gelo, se for o caso. Os sacos podem ser deixados no frigorífico da enfermaria para serem usados pelo pessoal de enfermagem, depois de recomendações acerca dos perigos de queimaduras por gelo, Cryogel ou ghermopacks (Hospital Engineers) são adequados (JONES, 1989). O doente também inicia exercícios gerais para os membros não afetados. Exercícios ativos com resistência são melhores e podem ser usados pesos e molas. A resistência, a duração e freqüência do exercício devem ser aumentadas gradualmente. No terceiro dia, após terapia de substituição, a perna é retirada da tala, continua-se com exercícios estáticos do quadríceps e inicia-se o levantamento da perna afetada em extensão. Com a redução da distensão capsular é possível aumentar a extensão sem dor e o 24 engessamento periódico evita a deformidade por flexão. A cápsula e ligamentos da articulação afetada ficarão laxos após a distensão repetida da articulação e existe o perigo de hipercorreção, com sub-luxação da tíbia sobre o fêmur, se forem feitas tentativas muito vigorosas para corrigir a deformação por flexão, prossegue-se com exercícios gerais nos membros não afetados duas vezes por dia (JONES, 1989). No quarto dia, a dor e a tumefação diminuem e após a terapia de substituição a tala pode ser retirada; a maioria dos doentes será capaz de levantar a perna em extensão de uma só vez. Iniciam-se exercícios com apoio parcial do peso do corpo sobre o membro afetado e exercícios em piscina, usando a impulsão da água. Se não há possibilidade de conseguir uma piscina serão necessários exercícios de apoio parcial com muletas e exercícios ativos com resistência manual. Uma vez ou outra, a dor e tumefação, poderão persistir. Aqui os principais objetivos do tratamento devem ser descansar a articulação e depois conseguir extensão total através de engessamentos periódicos e técnicas de contração-descontração. Logo que é conseguida a extensão total é feita uma tala plástica que é usada durante a noite (JONES, 1989). O doente recebe alta após cinco ou sete dias, com instruções para continuar os exercícios em casa. Se tiver alta com apoio parcial do peso do corpo sobre o membro afetado deverá, durante há primeira semana, aumentar gradualmente o apoio até o apoio completo do peso. Então vai semanalmente a uma consulta para avaliar a força muscular e a amplitude de articulação até que tenham sido atingidos os valores anteriores à hemorragia. 25 2.1.1. A tala “Open-thigh” de Los Angeles Ao tratar sinovite persistente ou artropatia crônica do joelho associada com fraqueza muscular a tala “Open-thigh” é particularmente eficaz, ela permite uma extensão gradual do joelho, em flexão previamente fixada, sem causar enfraquecimento e perda muscular. A tala é descrita por Cole (1976). 2.1.2. Hemorragias musculares O tratamento dos hematomas no interior da massa muscular é um dos mais compensadores aspectos da terapia de hemofilia moderna. Antigamente, as hemorragias dos gêmeos e dos músculos do antebraço resultavam muitas vezes em contratura permanente devido à fibrose e à lesão associadas dos nervos e vasos. Hoje em dia, a deformação é evitada por terapia de substituição precoce e por um cuidadoso acompanhamento pelo informado até que a função tenha sido totalmente restaurada (JONES, 1989). No caso de hemorragias de músculos do antebraço deve ser dada atenção particular à realização de completa extensão dos dedos e punho; uma tala de plástico com a ponta revirada pode vir a ser necessária entre os períodos de exercícios. Uma dorsi-flexão total na articulação do tornozelo devia ser o objetivo a atingir depois de uma hemorragia dos gêmeos. Uma tala suplementar de 90 graus pode ser necessária durante algum tempo, especialmente se o doente está confinado à cama por outra razão. Após hemorragias muito graves, uma paralisia do quadríceps pode resultar de uma compressão do nervo femural debaixo do ligamento inguinal 26 o que pode exigir vários meses de observação. As hemorragias no psoas-ilíaco são muitas vezes mais difíceis de controlar do que as dos músculos periféricos e os exercícios ativos só devem começar quando a hemorragia e a dor diminuírem e o doente ser capaz de fazer movimentos de extensão da articulação coxo-femural sem dor. Sempre que possível uma terapia precoce esta deve ser efetuada com cobertura de fator. Quando há lesão de nervos, os movimentos passivos, a estimulação elétrica e a colocação de talas devem ser efetuados como se tratasse de uma lesão em não-hemofílicos. Contudo, deve sempre ser reconhecido que o hemofílico, especialmente se tem inibidores, é vulnerável a futuras hemorragias e essas articulações parcialmente desenervadas exigem talas até que tenham sido recuperados graus razoáveis de equilíbrio e mobilidade (JONES, 1989). Alan, um hemofílico grave com 16 anos, teve alta do hospital após um tratamento intensivo por hemorragia no psoas-ilíaco que se revelou com compressão do nervo femural. A alta foi dada mais cedo do que o costume por causa do Natal e, embora tivesse uma tala noturna, Alan não estava avisado de que devia proteger o seu joelho vulnerável, durante o dia. Quando se esticou de encontro a uma estante para olhar um cartão, a articulação dobrou-se sob ele e teve de passar mais quinze dias no hospital para tratamento de hemartrose resultante (JONES, 1989). 3. ARTROPATIA HEMOFÍLICA CRÔNICA A reabilitação desses grupos de doentes é semelhante, mas os progressos são mais lentos do que é costume. O prognóstico para regresso a uma amplitude articular total não é bom porque é provável que já haja a deterioração articular e a fraqueza articular conseqüente. 27 Quando existe um título elevado de inibidores, a articulação pode estar muito aumentada de volume e dolorosa e qualquer tala usada terá de ser muito bem almofadada, porque a menor pressão sobre a tumefação irá aumentar a dor. As ligaduras e o material de almofadar são cortados com o gesso e a tala mantida no lugar por uma ligadura aplicada acima e abaixo da articulação. Um spray refrescante ou um saco de gelo poderão ser aplicados na articulação exposta. O membro afetado deve ser elevado e o doente encorajado a movimentar os seus outros membros, embora no caso de haver concomitantemente uma hemorragia intraabdominal, possa ser prescrito repouso na cama com o mínimo movimento possível de modo que possa organizar a formação do coágulo (JONES, 1989). Uma vez que a dor e tumefação diminuem retira-se a tala e se dá o início aos exercícios começando com quadríceps estático. O avanço para o apoio do peso total sobre o membro afetado é mais lento do que em doentes sem anticorpos e só é encorajado quando existe um bom controle muscular da articulação e um grau de extensão satisfatório. A hidroterapia é de grande ajuda aqui, já que o exercício tem de ser intensificado suave e gradualmente. Quando não está fazendo o exercício o doente deve ficar numa cadeira de rodas com um apoio elevado para a perna, em vez de ficar na cama. Deve continuar usando uma tala noturna de plástico durante três semanas (JONES, 1989). Muitos hemofílicos gravemente afetados, que cresceram na época em que não existia a terapia de substituição adequada, sofrem de artropatia crônica e geralmente isso afeta várias articulações. A do joelho é a mais afetada seguida pelas do cotovelo, tornozelo e anca. A dor crônica pode ser um grande problema e criar uma dificuldade considerável de terapia porque a maioria dos medicamentos utilizados é contra-indicada para as doenças reumáticas devido à sua tendência para induzir hemorragia gástrica ou pelo seu efeito na função plaquetária. Dos medicamentos mais modernos uma possível exceção é o ibuprofeno, que é usado sem problemas e com evidente efeito benéfico em doentes gravemente afetados. Enquanto o 28 tratamento das hemorragias agudas é o mesmo que seguem os doentes jovens, a recuperação de uma função razoável é mais lenta e a terapia de seguimento mais prolongada. Os doentes com títulos elevados de anticorpos e/ou artropatia crônica deviam ser encorajados a se manter tão ativos quanto possível, e só deviam ser admitidos no hospital como último recurso, e durante o mínimo de espaço de tempo útil necessário ao seu conforto e adaptação em casa. A diminuição da força muscular predispõe as futuras hemorragias e mais lesões e o perigo de aumentar o grau de contratura está sempre presente mesmo no caso das articulações “inutilizadas”, pelo que o seguimento regular é essencial (JONES, 1989). 4. INDICAÇÕES CIRÚRGICAS Em teoria, no tratamento de doentes hemofílicos, não há nenhuma situação na qual a cirurgia não possa ser considerada, embora obviamente esta nunca deva ser proposta desnecessariamente ou devido a queixas triviais. Com uma expectativa crescente em relação à longevidade, os hemofílicos vão inevitavelmente desenvolver aquelas situações patológicas associadas, na população em geral, à idade avançada – diverticulose, hipertrofia prostática, insuficiência vascular periférica e, infelizmente, doenças malignas. As indicações para cirurgia nestas condições serão idênticas tanto no doente hemofílico quanto no não-hemofílico e, tal como a diabetes representa um risco adicional para a anestesia e cirurgia, a ser contrabalançado por terapia, assim a hemofilia deve ser encarada simplesmente como um risco adicional e não como um impedimento aos cuidados primários (JONES, 1977). Como conseqüência do estabelecimento dos registros genéticos e conseqüente aconselhamento, um número crescente de hemofílicos está pedindo vasectomia, uma 29 intervenção segura desde que seja apoiada por um programa terapêutico completo. Quando uma família afetada faz um pedido desse tipo, as vantagens e desvantagens da vasectomia são explicadas em detalhes e a operação é comparada com a esterilização feminina. Antes de se proceder à operação em qualquer doente, um documento especial de consentimento deverá ser assinado pelo doente e pelo seu cônjuge em presença do médico (JONES, 1977). 5. COMPLICAÇÕES E CUIDADOS PARA HEMOFÍLICOS 5.1. Saúde dentária Apesar dos recentes progressos na terapia, os problemas dentários podem ainda constituir uma das principais ameaças permanentes à saúde do hemofílico ao longo da sua vida, pelo que a necessidade de cuidados contínuos com os dentes deveria ser realçada perante os pais desde a altura do diagnóstico. A educação dos pais e doentes quanto ao valor e métodos da profilaxia dentária deveria começar o mais cedo possível de modo a evitar, no futuro, tratamentos dentários extensos (JONES, 1989). No passado, foi verificada uma tendência compreensível, por parte de hemofílicos, em negligenciar os cuidados com os dentes. Antes era de terapia de substituição e antifibrinolítica, os tratamentos dolorosos realizados sem anestesia local e os períodos prolongados no hospital resultaram num padrão de cuidados muito fraco. Assim, muitos hemofílicos das gerações mais idosas precisam de cuidados dentários extensos. Contudo, hoje não há razão para que a maior parte destes doentes não se beneficie da vantagem da gama 30 completa de técnicas de tratamento de um modo descontraído, não doloroso e seguro (JONES, 1989). Para tratar o seu doente hemofílico com segurança o estomatologista deve possuir um bom conhecimento da fisiologia normal da hemóstase e das anomalias associadas com as hemofilias. Em vez de ter uma simples conversa com um clínico geral ou com um hematologista, ele antes deve ser um membro ativo da equipe de hemofilia. Só deste modo o progresso de um doente pode ser facilmente monitorizados sendo quaisquer problemas que surjam resolvidos em conjunto (JONES, 1989). A prevenção dentária exige a observação de recomendações dietéticas, higiene oral, terapia com flúor, ortodontia e utilização de selantes de fissuras. 5.1.1. Conselhos dietéticos A única via correta para reduzir a incidência de cáries dentárias consiste em limitar apenas às refeições, ou seja, a ingestão de hidratos de carbono de fermentação rápida. Isso ficou claramente demonstrado no trabalho de Gustaffson et al (1954), Toverud (1956, 1957) e Weiss & Trihart (1960). O aconselhamento dietético não pode ser fornecido superficialmente numa simples consulta, mas sim baseado na análise de uma folha de dieta registrada durante, pelo menos, três dias inteiros (incluindo dois dias da semana), esta técnica foi defendida por Holloway, Booth & Wragg (1969). Os conselhos incidem, sobretudo, no que diz respeito à ingestão de alimentos açucarados apenas nas refeições sendo substituídos por alimentos que provocam menos cáries (nozes, flocos de batata, frutos crus e vegetais) entre as refeições. Se bem que é muito difícil mudar os hábitos alimentares, até porque, hoje em dia, as famílias 31 mais jovens estão submetidas a uma grande pressão publicitária em suas casas em virtude destes alimentos. Os pais devem ser avisados quanto aos perigos dos reconfortantes orais (chupetas), especialmente quando estas são mergulhadas em substâncias doces dadas à noite, quando as bactérias que provocam as cáries ficam retidas na boca durante muito tempo porque a atividade muscular e o fluxo de saliva se encontram bem reduzidos. 5.1.2. Higiene oral Há dúvidas quanto à prevenção de cáries por lavagem dos dentes, mas não há dúvida de que o fato de escovar os dentes evita doenças periodontais. A importância do controle da placa bacteriana deve ser realçada junto dos mais novos porque os bons hábitos, tal como os maus, se adquirem muito mais facilmente nos primeiros anos. Os dentes de um bebê devem ser escovados regularmente com uma escova macia logo depois de terem rompido; isso pode ser feito durante as brincadeiras no banho. A princípio só se utiliza escova e água e só mais tarde a pasta de dentes. A técnica ideal pode ser demonstrada recorrendo a modelos em acrílico ou praticando na consulta em outras crianças. Muitas crianças precisam que as ajudem a lavar os dentes até aos 4 ou 5 anos de idade. (JONES, 1989) Têm sido defendidas várias técnicas, mas foi verificado que tanto os pais quanto as crianças acham o médico recomendado pelo British General Dental Council mais fácil. O movimento básico consiste em escovar no sentido vertical, da gengiva para a extremidade do 32 dente; a única altura que a ação de escovar se faz para os lados é quando se pretende limpar as faces oclusais dos dentes pré-molares e molares. Contudo, até que as crianças desenvolvam a destreza manual suficiente, quaisquer variações da técnica que reduzem a formação da placa bacteriana devem ser aceites. O controle adequado da placa pode ser avaliado através de “comprimidos reveladores” que a evidenciam fazendo com que fiquem coradas; os resultados de uma técnica falhada são imediatamente vistos pelo doente. Desde que a remoção da placa seja eficaz deveria ser suficiente lavar os dentes uma vez por dia: a freqüência da lavagem é convertida assim, num assunto puramente individual (JONES, 1989). A hemorragia das gengivas após a lavagem é geralmente de pouca importância no hemofílico, embora possa causar problemas em pessoas com a doença de von Willebrand. Quanto mais saudáveis são as gengivas menos tendência tem para sangrar. A hemorragia das gengivas durante a esfoliação normal da primeira dentição é difícil de prever, mas é rara. Se a esfoliação é lenta pode formar em volta do dente um tecido de granulação em excesso com conseqüente hemorragia. Nessa situação pode ser necessária a extração dos dentes afetados com cobertura de fator e terapia antifibrinolítica (JONES, 1989). Como as crianças raramente têm tártaro, a limpeza da boca não é pedida com freqüência, mas deve, no entanto ser feito o polimento dos dentes de vez em quando para familiarizá-las com a sensação de limpeza dada pela língua quando os dentes estão libertos da placa. O polimento e, se necessário, a limpeza, devem ser efetuados com seis meses de intervalo. Aos dentes com uma higiene oral pobre esse serviço deveria ser oferecido três vezes por ano. Nos adultos a limpeza pode criar problemas. O tártaro supra-gengival pequeno é retirado fácil à mão por meio de ultra-sons. Quando se usa a terapia de substituição com fator toda à 33 boca deveria ser limpa numa só consulta e qualquer outro tratamento suscetível de provocar hemorragia também executado na mesma altura (JONES, 1989). 5.1.3. Cirurgia dentária Com a introdução da auto-administração e da terapêutica anti-fibrinolítica cuja eficácia foi provada na hemofilia (WALSH et al, 1971) e em conjunto com os métodos rápidos de detecção de inibidores e doseamento de fator, a abordagem das técnicas cirúrgicas mudou rapidamente. No caso dos adultos era habitual que a avaliação ortodôntica não fosse tida em consideração, mas a extração dentária cuidadosamente planejada, por exemplo, os primeiros pré-molares ou os primeiros e segundos molares, pode evitar extrações difíceis mais tarde e prevenir hemorragias recorrentes devidas a gengivites por mau posicionamento dos dentes na arcada dentária. Em lesões traumáticas faciais os doentes hemofílicos devem ser admitidos no hospital para observação. 5.2. Cuidados com pacientes hemofílicos mulheres no período menstrual A menstruação é o único exemplo, nos seres humanos, de hemorragia fisiológica e o fato de as graves deficiências de coagulação ser raras nas mulheres deve-se talvez a seleção natural. As queixas de menorragia não são invulgares nas portadoras de hemofilia A ou B com níveis de atividades de fator abaixo do normal, em mulheres com uma das raras doenças 34 autossômicas recessivas ou nas que sofrem da doença de von Willebrand. Embora a deficiência da hemostase possa ser a causa subjacente da queixa, outros fatores podem estar presentes e a investigação de rotina, que inclui a curetagem diagnóstica, não deve ser negligenciada (LEWIS & JONES, 1977). O desequilíbrio hormonal que leva a hiperplasia quística do endométrico é particularmente passível de causar hemorragia prolongada em mulheres com hemostase normal e é provável que ocorra nos dois extremos da vida reprodutiva; a situação é resolvida, pelo menos temporariamente, por curetagem. Os fibromas uterinos subserosos, provocam menorragia e são uma indicação para cirurgia (LEWIS & JONES, 1977). O uso de contraceptivos orais de baixa dosagem está associado com períodos escassos na mulher com hemostase normal e esta observação é empregada no tratamento de doentes com problemas de coagulação. A quantidade de hemorragia parece esta relacionada com a queda do nível de estrógenos e a oligomenorreia é a mais comum com a Pílula de baixa dosagem contendo 30 mg de mestranol ou etinil-estradiol. As injeções de progestogéneos de longa ação causam amenorréia e podem se útil como medida a curto prazo, mas o seu uso a longo prazo não é recomendado pela Comissão do Reino Unido para Segurança dos Medicamentos (LEWIS & JONES, 1977). Os agentes anti-fibrinolíticos (ácido epsilon-aminocapróico, EACA, Epsikapron; ou ácido tranexâmico AMCA, Cyklokapron) podem ser eficazes e são as drogas de escolha se o controle hormonal não é eficaz nem aceitável. A medicação deve iniciar-se no primeiro dia do período e parar quando a perda menstrual é mínima. Ocasionalmente tem sido necessário combinar terapêutica hormonal e antifibrinolitica para controlar a menorragia em certas doentes, mas geralmente não recomenda esta forma de tratamento. A administração de fator pode ser necessária, embora raramente e as mulheres com menorragia persistente devem saber 35 que a transfusão do fator implicado está rapidamente disponível no Centro de Hemofilia (LEWIS & JONES, 1977). Quando tudo falha pode ser necessária uma histerectomia, mas esta operação nunca deve ser realizada em mulheres em idade de procriação, sem inquérito e investigação da sua situação hemostática. 5.2.1. Detecção de portadoras As hemofilias A e B são invariavelmente herdadas de uma forma recessiva ligada ao cromossoma X, embora Graham et al. (1975) tenham descrito a ocorrência extremamente rara de uma família de mulheres hemofílicas nas quais o padrão hereditário tinha funcionado como dominante. As outras deficiências de um só fator são autossômicas recessivas. A forma clássica da doença de von Willebrand é de transmissão dominante. Portadoras potenciais de hemofilia A e B são as mães que, embora não tenham uma história familiar da doença, tem um filho hemofílico e as filhas portadoras obrigatórias (Figura 3). Estes fatos podem ser do conhecimento do médico, mas nunca se deve partir do princípio de que eles são bem conhecidos mesmo que se trate do mais experimentado dos hemofílicos, sendo um dos falsos conceitos mais freqüentes aquele de que filhos não-afetados podem transmitir a doença. Deve-se ter sempre presente o fato de que mesmo com as técnicas mais sofisticadas continua a ser impossível dizer a uma mulher que ela não é seguramente uma portadora. 36 Figura 3. A genética hemofílica. Quando a mulher é uma portadora e o pai não tem Hemofilia, existe a possibilidade de 50/50 para cada criança, onde a filha se torna portadora e o filho tenha Hemofilia. Contudo, quando o pai tem hemofilia e a mãe não é portadora, cada filha herdará o cromossoma X defeituoso do pai e será uma portadora obrigatória. Todos os filhos homens deste casal não terão Hemofilia, já que herdaram o cromossoma Y do pai. Eles não irão transmitir a Hemofilia às suas crianças. Fonte: http://www.coderp.com.br/ssaude/i16principal.asp?pagina=/SSAUDE/DOENCAS/I16doencas.htm 5.2.2. A esterilização como forma de evitar a perpetuação da doença A esterilização é tida como um ato irreversível (LEWIS & JONES, 1977) pelo que o cuidadoso aconselhamento aos dois membros do casal é fundamental. É importante que haja a certeza de que eles perceberam o que se pretende obter com a operação e particularmente que esta pressupõe esterilidade permanente. No caso da mulher deve ficar claro que a laqueação de trompas não causa amenorréia. É importante discutir o padrão de hereditariedade com os doentes que sofrem de deficiências de fator ou com as mulheres dos hemofílicos. Quando existe um fator deficiente identificável é lógico que se esterilize o portador do gene doente de modo a que o parceiro não afetado mantenha a capacidade de ter uma criança normal, caso volte a casar. Se existe algum indício de que o casamento é instável o pedido de esterilização deve ser analisado com grande precaução. 37 Uma causa de arrependimento de esterilização pode ser a perda de um filho e esta possibilidade deverá ser posta em discussão com o casal durante o aconselhamento, sobretudo quando já existe um filho com hemofilia ou outra doença que possa ser fatal. A esterilização executada à pressa está sujeita a ser seguida de arrependimento e ressentimento, e são necessárias pelo menos duas consultas, com um intervalo para reflexão, antes que a decisão final seja tomada e a respectiva autorização assinada. 5.3. Apoio psicológico na clínica hemofílica As técnicas contemporâneas de Psicologia médica são de considerável valor para pessoas com hemofilia e suas famílias. Os métodos existentes permitem fazer a avaliação e a terapia do comportamento e, no sentindo mais lato, psicoterapia que tanto contribui para tratamento global do doente com uma doença crônica como é a hemofilia (MITTLER, 1970). O psicólogo moderno está apto a avaliar as capacidades emergentes e assim juntar informação adicional significativa aos testes clínicos básicos de desenvolvimento intelectual, motor e perceptivo (FARNHAM-DIGGORY, 1979). Uma nova e interessante área de avaliação refere-se ao “comportamento de adaptação’’, à aquisição de qualificações básicas sociais e de auto-ajuda (KIERNAN & JONES, 1977). O reconhecimento precoce das suas forças e fraquezas pode ser de grande auxílio no planejamento do tratamento a longo prazo, especialmente quando se vê que a hemofilia está a interferir com desenvolvimento físico, psicológico e emocional (CRONBACH, 1970). Juntamente com os métodos de avaliação ao seu dispor o psicólogo moderno tem técnicas já comprovadas para ajudar o doente a mudar seu comportamento. Estas técnicas 38 foram revistas por Agras, Kazdin e Wilson (1979) e incluem uma assistência com um leque de métodos, como seja a aquisição de conhecimentos práticos (KANFER & GOLDSTEIN, 1980), que podem ser muito úteis na hemofilia. Dados da literatura internacional indicam que os indivíduos com hemofilia costumam ter algumas características psicossociais próprias, embora não específicas, tais como: o absenteísmo escolar (WOOLF et al., 1988), retração frente aos jogos infantis que envolvem atividades corporais (LOGAN et al., 1993), negação do risco de traumatismo (OREMBAND, 1988), traços masoquistas e relutância à independência pessoal (GUTTON, 1976), problemas sociais e abuso de medicamentos (WEISS et al., 1991), compensação da limitação física pelo desenvolvimento intelectual (HANDFORD et al., 1986), tendência à depressão e à ansiedade (MOLLEMAN & VAN KNIPPENBERG, 1987), personalidade depressiva e pouco dominadora, com maior tendência a comportamentos neuróticos (STEINHAUSEN, 1976), etc. Por outro lado, alguns estudos também demonstram que as características psicossociais dos portadores da hemofilia dependem muito da sua dinâmica familiar (HANDFORD et al., 1986), da possibilidade de conseguirem emprego regular (MARKOVA, LOCKYER & FORBES, 1980), da exposição a fatores estressantes do ambiente (BAIRD & WADDEN, 1985) e do atendimento recebido em centro especializado (HERNANDEZ, GRAY & LINEBERGER, 1989). Essa análise externa, objetiva, da problemática do portador da hemofilia deve, no entanto, ser confrontada com a análise interna, subjetiva, feita pelo próprio indivíduo a respeito da sua condição. De fato, o que as pessoas sentem não é o resultado apenas do que está acontecendo em suas vidas, mas também da sua interpretação desses acontecimentos. Estudos realizados com portadores de doenças genéticas crônicas têm demonstrado diferentes graus de adaptação pessoal à sua condição clínica. Alguns indivíduos com grandes 39 complicações físicas podem revelar um pequeno impedimento em suas relações sociais e vice-versa (DAMLOUJI et al., 1982). 6. TRATAMENTO O tratamento precoce é necessário para evitar as complicações da doença. O progresso contínuo do prejuízo articular depois das hemartroses, potencialmente levam a sinovites crônicas, artropatia destrutiva e geralmente à dor. Raramente realiza-se, ainda na atualidade, procedimento cirúrgico para o tratamento das artropatias hemofílicas severas, mesmo os de baixo risco como a artroscopia. Recomenda-se que esses procedimentos sejam realizados em centros especializados ao atendimento do indivíduo hemofílico (EICKHOFF et al., 1997). Essa recomendação torna ainda mais importante o tratamento preventivo para os casos de hemofilia, somando-se com os dados de grande risco de fracasso obtido nas artroplastias totais de joelho em hemofílicos, que devido ao freqüente desenvolvimento de artropatia dessa articulação necessitam da colocação de prótese articular numa idade muito jovem (NORIAN et al., 2002). O tratamento conservador com base na reposição de fatores de coagulação é o mais utilizado, apesar de não representar a cura para o indivíduo hemofílico, possibilita o controle de episódios hemorrágicos. Sobretudo, progresso significante tem sido feito recentemente na terapia genética para a hemofilia (VANDENDRIESSCHE, COLLEN & CHUAH, 2001). Em 2000, realizou-se o primeiro tratamento com sucesso através da terapia genética para indivíduos hemofílicos (HERZOG & HAGSTROM, 2001), porém ainda tem alto custo e não tem abrangência significativa para os portadores dessa coagulopatia, entretanto a 40 transferência genética tornou-se um potencial e importante possibilidade de tratamento para a hemofilia, ainda em experimentação (MONAHAN & WHITE II, 2002). 6.1. Fisioterapia na hemofilia 6.1.1. Terapia proposta Para o estabelecimento de um plano de tratamento adequado, é necessária uma avaliação fisioterapêutica que inclua entrevista, exame físico e exames de provas funcionais. Na entrevista deverão ser coletados dados a respeito do paciente, dos seus hábitos de vida, sua história pregressa e a história da moléstia atual. O exame físico deve constar de goniometria, perimetria articular, perimetria muscular, provas de função muscular, análise da postura e da coluna vertebral e um exame de comprimento dos membros inferiores (uma vez que os sangramentos repetidos na articulação do joelho provocam estímulos dos centros de crescimento da superfície óssea articular), além de investigação de comprometimentos respiratórios e presença de dor. Também são importantes os exames de provas funcionais, como a análise da marcha (em superfície plana e inclinada), do equilíbrio estático e dinâmico e um teste de resistência, que consiste na prova dos exercícios que integrarão o esquema terapêutico definitivo (RIBEIRO & SOARES, 1986). A partir da avaliação inicial deverá ser definido um plano de tratamento fisioterapêutico, necessariamente individualizado, considerando a fase do processo hemorrágico, a intensidade da hemorragia, a dor, a idade do indivíduo e o grau de lesão. Em linhas gerais, os objetivos do 41 tratamento serão o controle da dor, a prevenção de deformidades, a prevenção de complicações respiratórias ou vasculares no paciente acamado, a recuperação da capacidade funcional de um músculo ou de uma articulação, a manutenção de um equilíbrio estático e dinâmico do sistema músculo-esquelético, o estímulo à participação da família e a reintegração do indivíduo no seu meio social e profissional (MARIE GAL & NAGATA, 1985). Os objetivos da fisioterapia na hemofilia consistem em prevenir a incapacidade e reabilitar funções. Ambos dependem do reconhecimento precoce e tratamento imediato de problemas músculos-esqueléticos. Hemorragias recorrentes dentro de uma articulação provocam restrição de movimento e fraqueza muscular. Se isso continua inicia-se um círculo vicioso uma vez que a perda de amplitude e a fraqueza se instalam, a articulação torna-se instável e mais sujeita a hemorragia mesmo com menos esforços e pressões. Sem tratamento ativo o processo resulta eventualmente em artropatia hemofílica crônica (COLE,1976). Avaliações do sistema músculo-esquelético regular e precoce deviam fazer parte da rotina de seguimento de todo hemofílico de modo a reconhecerem-se as alterações na função articular. Uma vez realizadas as medições com as articulações no estado de repouso, mudanças futuras de função são facilmente reconhecidas. Estas avaliações são importantes no reconhecimento tanto da deterioração como da melhoria, ocorrendo esta última freqüentemente logo que o doente inicia a terapia domiciliar. Uma avaliação física regular de pessoas treinadas para tratarem a si próprias é parte importante do perfil do seu processo e um guia valioso sobre a maneira positiva de que como os episódios hemorrágicos estão sendo controlados. O ideal, quando um doente está em terapia domiciliar, seria que a avaliação se mantivesse na mesma ou melhorasse. Qualquer deterioração representa um fracasso, e se pode pressupor que, ou o doente não está tratando de suas hemorragias cedo o suficiente ou com dose suficiente, ou então está desenvolvendo inibidores (COLE,1976). 42 Como acontece em todas as medições é importante que se use um sistema padrão. As alterações através do tempo só podem ser rigorosamente tabeladas por estandardização e esse sistema também atua como uma lista de controle para o terapeuta. As folhas de avaliação usadas em Newcastle são reproduzidas nos anexos II e III. Podemos observar que incluem não só detalhes de todas as variações das articulações principais e da força dos músculos associados, mas também informação acerca do domínio da mão do doente, detalhes de alguma má formação, incluindo alterações da marcha e espaço para as conclusões do fisioterapeuta baseadas em quaisquer alterações desde as primeiras avaliações. É claro que, algumas avaliações ocorrem logo a seguir a uma hemorragia aguda e devem ser anotadas. Não empolamos a medição repetida do perímetro do membro ou do tamanho das articulações sujeitas à hemorragia aguda, pois acreditamos que o tônus e a força musculares são os sinais de recuperação mais importantes (LEWIS, 1977; JONES, 1977). Uma avaliação completa músculo-esquelético é sempre feita antes de cada consulta importante de seguimento, de modo que o médico possa basear-se em qualquer alteração na terapia com dados imediatamente acessíveis (COLE, 1976). 6.1.2. Exercício físico A máxima de Hipócrates “o exercício fortalece, a inatividade debilita” deveria ser também a de todos os hemofílicos. Músculos fortes suportam e protegem as articulações, músculos fracos expõem-nos a traumatismos e hemorragia. Particularmente, isso é verdade no que diz respeito às articulações charneira instáveis como os joelhos, tornozelos e cotovelos, que são os locais mais comuns de hemorragia intra-articular nos hemofílicos. Essas são 43 também as articulações que estão sujeitas a maior tensão e esforço. Com exercício regular ficam protegidas pela força e massa musculares (COLE, 1976). Ao tratar uma doença crônica que afeta o sistema músculo-esquelético a primeira tarefa do fisioterapeuta consiste em ajudar a criança afetada a desenvolver desde muito cedo o hábito de fazer exercício físico. O exercício regular, apoiado por encorajamento e orientação firme, mas amigável, estabelece um padrão que persistirá na idade adulta. Muitos hemofílicos reconhecem que quanto mais ativos fisicamente, menos sangram (o seu principal objetivo deveria ser o de se manterem nas melhores condições físicas) (COLE, 1976). É claro que o exercício persistente e regular pode criar dificuldades aos pais de crianças hemofílicas, que tem de ser encorajados a lutar pelo equilíbrio entre proteger a criança e o objetivo de deixá-la crescer tornando-se um adulto bem adaptado, saudável e musculado. O hemofílico pode fazer exatamente os mesmos exercícios que uma pessoa não hemofílica e utilizar o mesmo equipamento. Tal como no caso dos não hemofílicos, um ponto importantíssimo a ensinar é a necessidade de um aumento gradual em força, duração e resistência. Com esse desenvolvimento gradual raramente há problemas e, sendo assim, raramente será necessária uma substituição de cobertura com fator de coagulação (COLE, 1976). Os principais objetivos do exercício regular são: a) Aumentar, ou pelo menos manter a força muscular; b) Permitir o máximo de atividades diárias; c) Evitar a deformação; d) Reduzir o período de recuperação depois de uma hemorragia; Esses objetivos são idênticos quer os exercícios sejam feitos em casa ou no hospital. 44 6.1.3. Exercícios domiciliares É evidente que de pouco adianta um doente fazer exercícios no hospital se ele esquece rapidamente deles ao voltar pra casa. O fisioterapeuta deve explicar as razões para todos os movimentos bem como prescrevê-los com clareza e ser persistente no reforço da sua instrução. Os pais aprendem rapidamente a importância do exercício regular, mas as crianças devem ser lembradas constantemente. Quaisquer exercícios aconselhados devem ser de fácil execução em casa, usando peças normais de mobílias e outro equipamento. Os programas devem ser individuais e elaborados de acordo com as necessidades de cada indivíduo (as instruções devem ser escritas e orais) (COLE, 1976). A maioria dos programas deve incluir exercício muscular estático bem como exercício ativo e de resistência para todos os grupos de músculos mais importantes. Seja qual for o programa indicado deve-se dar o maior relevo ao prazer do exercício. Muitos doentes encaram a atividade física como aborrecimento, mas se uma atividade pode ser compartilhada por outros membros da família a sua atitude se altera (COLE S, 1976). Um exemplo do que dissemos é a natação, que proporciona um excelente exercício aos hemofílicos e pode ser compartilhada por toda a família. A natação devia ser encorajada desde o primeiro ano de vida de um hemofílico. Outras atividades familiares adaptadas à hemofilia são o badminton, o remo e o ciclismo. Segundo a experiência dos que organizam campos de férias de verão e programas desportivos para hemofílicos um acidente em quinze resulta numa hemorragia. Quando isso acontece a terapia domiciliar fornece ao hemofílico tratamento imediato (COLE, 1976). Abaixo, pode-se ver um exemplo de exercícios adaptados a um doente específico no joelho direito: 45 a) Deite-se. Vire o pé para cima contra si. Aperte o joelho e endireite-o tanto quanto possível. Levante a perna de modo que o calcanhar fique uns 15 cm da cama. Mantenha essa posição enquanto conta até 10. Baixe a perna devagar. Repita esse exercício 10 vezes, descanse e repita mais 10 vezes (COLE, 1976). b) Sente-se com a perna sobre a borda da cama com o joelho dobrado. Mantendo a coxa apoiada na cama, endireite o joelho. Mantenha a posição enquanto conta até 10. Baixe a perna devagar. Repita esse exercício 10 vezes, descanse e repita mais 10 vezes (COLE, 1976). c) Deite-se. Levante a perna de acordo com as instruções do exercício 1. Em vez de baixar a perna após o exercício, dobre o joelho e depois o endireite antes de baixar a perna. Repita esse exercício 10 vezes, descanse e repita mais 10 vezes (COLE, 1976). Contudo, quando achar que esses exercícios são muito fáceis, deverá aumentar o número de exercícios. Uma variante do exercício 1 consiste em levantar a perna com o calcanhar a 5 cm da cama, ver durante quanto tempo consegue manter a perna levantada, depois, baixe-a devagar até a cama. Vários doentes já fizeram exercícios isométricos em casa com um aparelho chamado bullworker. As instruções claras que são fornecidas com esse aparelho são apropriadas até para o hemofílico mais gravemente afetado, e o aparelho tem sido usado com muito êxito por doentes com inibidores em títulos elevados. O bullworker assenta num desenvolvimento gradual da tolerância ao exercício e num período de seis meses a um ano pode se esperar um aumento significativo da massa e força musculares. Nenhum ferimento ou hemorragia foram atribuídos até agora ao uso desse aparelho na atividade clínica e é recomendado para uso doméstico e hospitalar (COLE, 1976). 46 6.1.4. Preventiva Um programa preventivo deve incluir cinesioterapia progressiva, incentivo à prática de esportes com baixo impacto, principalmente a natação e orientação quanto aos cuidados necessários para evitar as hemorragias (BATTISTELLA et al., 1985). Cabe ainda ao fisioterapeuta esclarecer os familiares a respeito desta moléstia a fim de que possam contribuir de maneira correta no tratamento e evitem comportamentos superprotetores (BATTISTELLA et al., 1985). Deve-se ensinar também aos pais que não puxem o bebê pelos membros superiores para evitar lesões e hemorragias logo nessa primeira fase da vida. 6.1.4.1. Fase aguda das Hemorragias Imobilização: No caso de sangramento articular, imobilizar em goteira de gesso ou de material termoplástico, como o polipropileno, por no máximo quatro dias. Este procedimento é utilizado para o alivio da dor e para a prevenção de deformidades (BATTISTELLA et al., 1985; RIBEIRO & SOARES, 1986; MARIE GAL& NAGATA, 1985). Nos hematomas musculares, a imobilização do músculo comprometido deve ser feita através de repouso (MARIE GAL & NAGATA, 1985). No entanto, devido à atrofia muscular gerada, a imobilização deve ser mantida por curtos períodos e somente quando absolutamente necessária, sempre incentivando a realização de contrações isométricas (BATTISTELLA et al.,1985). 47 Uso de órteses, com o intuito de preservar o segmento afetado (MARIE GAL & NAGATA, 1985). Algumas vezes, ao invés da goteira gessada, podem ser utilizados suportes para deambulação, com o intuito de evitar sobrecarga na articulação (BATTISTELLA et al., 1985). Crioterapia: São utilizados, mesmo durante a imobilização, aplicações de gelo, gel ou gases refrigerantes na forma de spray, durante 20 minutos (ANDREWS et al, 2000). É indicada para diminuir a dor, através da redução da atividade dos receptores sensitivos da condução nervosa e da excitabilidade das fibras A delta; para auxiliar na contenção das hemorragias, através da lentificação dos processos metabólicos e da proteólise e também para obtenção de relaxamento muscular, através da diminuição da atividade do sistema músculofusal responsável pela manutenção do tônus. Eletroterapia: Pode ser utilizada para a reabsorção do hematoma, para analgesia ou para estímulo trófico (MARIE GAL & NAGATA, 1985). As correntes contínuas poderão ser utilizadas para realização de iontoforese com a finalidade da reabsorção do hematoma. Devido a sua ação repulsiva, contra-irritativa e vasodilatadora, o bicloridrato de histamina a 1/10.000 é comumente utilizado. No entanto, em muitos casos a histamina é irritativa para a pele. Nestes casos, a simples galvanização é suficiente, uma vez que as propriedades eletroforéticas da corrente representam o maior benefício da iontoforese (MARIE GAL & NAGATA, 1985). As correntes diadinâmicas e as interferênciais também aceleram a reabsorção de fluidos, além de manter o trofismo muscular. Cinesioterapia: Deve ser instituída precocemente, respeitando a dor do paciente (BATTISTELLA et al. 1985). Na fase aguda, deverão ser empregadas contrações isométricas. Tais exercícios são importantes por não provocarem dor, enquanto mantêm e desenvolvem força muscular (RIBEIRO & SOARES, 1986; MARIE GAL & NAGATA, 1985). Deverão 48 ser trabalhados os músculos ligados diretamente à articulação comprometida e todos aqueles que fornecem equilíbrio dinâmico e estático de finalidade funcional (MARIE GAL & NAGATA, 1985). É importante o cuidado com a mobilização passiva, que deve até ser evitada para não agravar as lesões. É importante lembrar que o repouso do segmento acometido é de vital importância na fase aguda; assim, maiores esforços ou sobrecarga sobre a região afetada devem ser evitados (RIBEIRO & SOARES, 1986). Emprego de Ultra-Som, no caso de fibrose (MARIE GAL & NAGATA, 1985). Tratamento Postural: Posturas adequadas devem ser mantidas no leito e fora dele (RIBEIRO & SOARES, 1986; MARIE GAL & NAGATA, 1985). Nas atividades de vida diária devem ser utilizados, sempre que necessário, dispositivos de apoio (RIBEIRO & SOARES, 1986). 6.1.4.2. Fase Crônica Calor: Os efeitos fisiológicos a serem obtidos com a termoterapia de adição são a vasodilatação, a liberação de substâncias vasoativas e o relaxamento do espasmo muscular. Calor superficial ou calor profundo podem ser utilizados para facilitar a mobilização articular e aliviar a dor (MARIE GAL & NAGATA, 1985). Cinesioterapia: Os exercícios terapêuticos visando à funcionalidade, a manutenção e o fortalecimento da musculatura, o restabelecimento e a manutenção da amplitude de movimento articular, o relaxamento, o reforço do esquema corporal, a coordenação, o equilíbrio, a orientação postural, e a prevenção de complicações respiratórias e vasculares 49 (MARIE GAL & NAGATA, 1985). A cinesioterapia deve ser, necessariamente, progressiva, iniciando com mobilizações ativas assistidas, como por exemplo, mediante o uso de splints ou molas (suspensoterapia) (RIBEIRO & SOARES, 1986). Na seqüência, devem ser orientados os exercícios ativos livres contra a gravidade, oferecendo como resistência ao movimento apenas o peso do segmento corporal a ser trabalhado. Posteriormente, deve ocorrer incremento progressivo na resistência, manualmente ou através de pesos. Assim, com o progredir do quadro clínico do paciente, pode-se fazer uso da bicicleta ergométrica, de outros dispositivos de mecanoterapia ou de técnicas manuais, como o Kabat (RIBEIRO & SOARES 1986; MARIE GAL & NAGATA, 1985). No entanto, os exercícios isotônicos contraresistidos são parcialmente contra indicados para pacientes com hemofilia, devido ao risco de aparecimento precoce de artrose fêmoro-patelar nesses pacientes. Restrição semelhante deve ser feita aos exercícios passivos, devido ao risco de desencadearem hemorragias articulares e/ou musculares (BATTISTELLA et al., 1985). Hidroterapia: A hidroterapia fornece uma proteção ao sistema músculo-esquelético e permite a retomada da cinesioterapia e da marcha desde a fase subaguda. Além disso, com o avançar do tratamento, a água pode ser usada para empregar resistência aos exercícios na fase crônica (RIBEIRO & SOARES, 1986; MARIE GAL & NAGATA, 1985). Eletroterapia: Pode ser usada para recuperar o déficit neuromuscular depois de uma neuropatia por compressão (RIBEIRO & SOARES, 1986). Crioterapia: Pode ser usada como medida profilática quando ao fim dos exercícios verifica-se um aumento da temperatura na região. No entanto, a crioterapia é pouco utilizada na fase crônica. (RIBEIRO & SOARES, 1986). Orientação Postural: Deve haver uma adequada orientação para que seja adotada uma postura correta nas atividades de vida diária (RIBEIRO & SOARES, 1986). 50 6.1.5. Fisioterapia hospitalar após a cirurgia Embora as pessoas que sofrem de hemofilia devam ser mantidas tanto quanto possível fora do hospital, existem razões para uma fisioterapia com base no hospital. Estas incluem o tratamento pós-cirúrgico e pós-acidente, o tratamento de alguns casos de artropatia hemofílica crônica e o treino de doentes que deixaram que os músculos enfraquecessem a ponto de terem tido que restringir a sua atividade diária. Ocasionalmente, hoje em dia, aparecem doentes com hemorragias agudas dos músculos ou das articulações, que foram progredindo antes de ser ministrada a terapia de substituição. Isto pode acontecer em doentes com título elevado anticorpos e tanto estes como os que não aplicaram devidamente a terapia domiciliar precisam de internamento para terapia intensiva de substituição e fisioterapia (COLE,1976). Após episódios de hemorragia aguda, a fisioterapia não deve ser realizada até que o doente receba uma transfusão do fator implicado. Na maior parte dos doentes a atividade de coagulação do produto tem uma semi-vida biológica com cerca de 12h00min horas, de modo que uma transfusão às 9h00min horas proporcionará uma cobertura hemostática para o doente receber fisioterapia durante o dia. Qualquer mudança na fisioterapia (ajudar o doente a levantar-se da cama pela primeira vez, por exemplo), deve ser introduzida perto do momento da transfusão quando o nível de fator estiver no seu máximo (COLE,1976). Após uma hemorragia importante, o doente fica retido na cama, os exercícios de rotina ajudam a evitar que ocorram hemorragias nas outras articulações. De um modo geral, os processos de fisioterapia após uma cirurgia são os mesmos utilizados para os doentes não51 hemofílicos, mas devem sempre ser antecedidos por uma terapia de substituição. A orientação vinda do pessoal médico é essencial, pois a perturbação de uma ferida antes de a cicatrização estar adiantada pode precipitar uma hemorragia secundária. O doente deve ser visto por um fisioterapeuta bastante tempo antes de qualquer intervenção planejada. Quanto mais forte estiver antes da operação, particularmente quando se trata de uma cirurgia ortopédica, melhores resultados são obtidos a curto prazo (COLE, 1976). Com cobertura eficaz de fator, muitos hemofílicos agora estão sendo submetidos a técnicas ortopédicas preventivas e corretivas. As mais comuns são a sinovectomia, a artrodese e artroplastia e a correção de contraturas dos tecidos moles. Os regimes a seguir, estão abertos a larga variação; alguns centros adotam mobilização na piscina muito cedo após cirurgia ortopédica. Embora estejam presentes lesões permanentes da cartilagem e do osso, uma sinovectomia bem sucedida resultará numa articulação assintomática e dará tempo para que os tecidos de suporte e os músculos voltem à normalidade. Após a operação, a articulação é suportada por um gesso ou tala plástica e envolvida por uma ligadura elástica. Um dreno de vácuo é deixado in situ durante 48 horas. Durante os primeiros cinco dias, é executada a cinesioterapia, exercícios gerais sem restrições dos outros membros e, no caso de sinovectomia do joelho, faz-se quadríceps estático no membro afetado. Entre o quinto e o décimo dia, inicia-se a flexão ligeira no joelho numa tala de Thomas com uma peça de Pearson para o joelho. Esse processo em fisioterapia só deverá ser feito se a cicatrização estiver evoluindo bem e durante esses outros exercícios as suturas e a linha de sutura devem ser observadas com regularidade. Se tudo estiver bem, os exercícios ativos de quadríceps serão iniciados após terapia de substituição com fator. A tala é mantida até 60º de flexão, e pratica-se a extensão a partir da posição fletida. Iniciam-se então, os exercícios de mobilização usando a contração-relaxamento, flexão com resistência manualmente ativa e extensão e, mais tarde, o uso de tração recíproca. A hidroterapia é de muito valor e acelera o 52 regresso ao apoio parcial do peso do corpo, com muletas. Logo que se sente confiante com as muletas o doente vai para casa com uma tala de plástico noturna. A fisioterapia regular em doentes ambulatoriais é essencial até que a flexão e extensão tenham sido recuperadas e o doente possa andar sem ajuda. Raramente é necessário recorrer à manipulação sob anestesia com cobertura de substituição para libertar aderências (COLE, 1976). A mobilização após sinovectomia do cotovelo é muito mais fácil iniciando-se com cuidado no terceiro dia do pós-operatório e após terapia de substituição. Por essa altura, o doente já estará levantado e não haverá problemas com outras articulações. Após a retirada dos pontos no décimo dia de pós-operatório o doente vai para casa continuar com os exercícios. È essencial que haja o seguimento até que, pelo menos, a função pré-operatória tenha sido recuperada. A artrodese está indicada nos casos de grande deterioração articular com dor crônica e deformação, sendo o joelho e o tornozelo as articulações mais envolvidas. A operação é rotina; após a substituição de fator o doente volta para a enfermaria com pregos de Steinmann e pinças de compressão in situ e num molde de gesso. Inicialmente a cama é elevada. A fisioterapia é prosseguida como em qualquer doente normal. Com o grau de imobilização a terapia de substituição fornecida pode ser rapidamente reduzida após os primeiros cinco dias. Contudo, podem às vezes ser necessárias transfusões posteriores se for introduzida alguma mudança na rotina (COLE,1976). A substituição de uma articulação lesada que pode ser sede de uma dor crônica e incapacitante, está se tornando uma atuação rotineira em doentes hemofílicos. Embora a substituição da anca utilizando uma prótese Charnley tenha provado ser eficaz, uma vez que se verificou estabilidade da prótese a longo prazo, a artroplastia não deve ser encarada de ânimo leve no doente hemofílico; quanto mais velho for o doente maior a oportunidade de evolução progressiva. Isso é particularmente verdadeiro, no que se refere às operações para inserir próteses do joelho que ainda devem ser encaradas como experimentais. Na altura em 53 que o hemofílico é submetido à substituição do joelho, todas as outras soluções (exceto a artrodese) já devem ter sido experimentadas (COLE,1976). As fisioterapias subseqüentes à operação de Charnley e a artroplastia de Savastano do joelho são descritas a seguir. Substituição da anca Charnley: a) O doente volta da sala de operações estendido de costas por uma almofada entre os joelhos e dois drenos Redivac in situ (COLE, 1976). b) Primeiras 24 horas: o doente continua na horizontal com apenas uma almofada debaixo da cabeça. Após terapia de substituição começa-se a cinesiterapia de rotina. São feito exercícios para o dedo grande, tornozelo e quadríceps estático do membro afetado e exercícios de manutenção geral para todos os membros não afetados. Devese ter cuidado para que a perna operada não caia em adução, pois isso poderia ocasionar a deslocação da anca – por isso que a almofada está entre os joelhos (COLE, 1976). c) Após 24 horas o doente pode se sentar gradualmente, mas não abaixo de 70º graus de flexão da anca. Continua-se com a cinesioterapia e com os exercícios de rotina de manutenção para todos os membros, aumentando gradualmente a tolerância ao exercício. d) A flexão suave do joelho começa depois do terceiro dia de pós-operatório; o doente deve estar deitado quando isso é feito. e) Os pontos são retirados depois de 10 dias e a fisioterapia de rotina prossegue. f) Desde que a observação radiológica seja satisfatória o doente pode começar a andar em 14 dias; nessa fase também pode se sentar em uma cadeira. g) A mobilização continua até que o doente esteja estabilizado e possa subir e descer escadas quando for para casa. O seguimento fisioterápico do doente externo é 54 aconselhável para manutenção dos progressos e restauração da força muscular e da amplitude de movimento (COLE, 1976). Artroplastia de Savastano para o joelho: a) O doente volta da sala de operações numa tala de repouso de Thomas com dois drenos Redivac in situ. b) Primeiras 24 horas: depois da terapia de substituição é iniciada a cinesioterapia de rotina; estimulam-se os movimentos do dedo e do tornozelo da perna afetada. c) Entre o segundo e sétimo dias: os drenos são retirados após 2-3 dias dependendo da quantidade de produto drenado. Continua-se a cinesioterapia e exercícios gerais de manutenção para todos os membros. d) A partir do sétimo dia: liga-se uma peça Pearson para joelho à tala Thomas e inicia-se a flexão suave do joelho com a sutura exposta; continuam-se os exercícios de manutenção. e) Os pontos são tirados depois de 10 dias e a flexão continua. f) 12º-14º dias: se o raio X é satisfatório o doente é autorizado a ficar de pé, sem apoiar o peso do corpo no membro afetado e com uma tala ortoplástica. g) A alta é dada ao doente quando o mesmo se encontra firme, em pé, e a fisioterapia é continuada fora do hospital. h) O doente deve manter a tala quando anda à noite, durante 3 semanas após a alta, de modo a prevenir hemorragias secundárias. i) O avanço para apoiar o peso total do corpo no membro afetado pode ser permitido duas semanas mais tarde, continuando-se os exercícios de mobilização do joelho e do quadríceps até se obter o máximo de amplitude de movimento e força muscular. Isso demora vários meses e pode passar um ano até a dor começar a aliviar e o doente avaliar o benefício que lhe trouxe a prótese. É importante saber reconhecer este 55 intervalo e avisar ao doente que não deve esperar resultados espetaculares muito cedo (COLE, 1976). 7. CONCLUSÃO O manejo terapêutico do hemofílico representa uma situação especial para o fisioterapeuta. Tendo em vista a literatura consultada, podemos constatar que a maioria das alterações que ocorrem em pessoas com hemofilia pode ser evitada. Através dos cuidados gerais e da fisioterapia podemos ter como resultante a manutenção da mobilidade nas articulações, os músculos fortes e flexíveis, com os recursos de cinesioterapia (exercícios), correção postural, hidroterapia, entre outros, prevenindo as hemorragias intra-articulares, apontadas como maior problema dos portadores desta patologia. Com o auxílio do acompanhamento fisioterápico, todas as pessoas portadoras da hemofilia podem ser capazes de continuar com suas atividades diárias normais em casa, na escola e no trabalho. 56 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AGRAS, S.; KAZDIN, A. E. & WILSON, G. T. apud JONES, P. Hemofilia, terapêutica domiciliária. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa, 1989, p. 179-279. ANDREWS, J. R et al. Reabilitação física das lesões desportivas. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 11-14. BAIRD, P. & WADDEN, T. A. Effects of life stressors on blood usage in hemophiliac patients: A pilot study. Psychosomatics, 1985, v.32: 3-5. BATTISTELLA, I. R. et al. Medicina de Reabilitação e hemofilia - imperativos. Boletim, 1985, v. 7(136). BEÇAK, W. & PESSOA, O. F. Genética Médica. 2. ed. São Paulo: SARVIER, p. 343-344 e 432-445. BEZERRA, J. Noções básicas sobre hemofilia. Hematologia-Hemoterapia, São Paulo, 2001, v. 7(2), p. 19-20. BOONE, D. C. 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Tipo A Tipo B 507 64 118 27 19 735 AC 21 4 0 0 2 27 AM 174 11 0 0 1 186 AP 16 3 6 0 1 26 PA 228 37 105 27 7 404 RR 8 0 1 0 0 9 RO 35 2 1 0 8 46 TO 25 7 5 0 0 37 1.837 245 279 41 109 2.511 AL 126 20 0 0 0 146 BA 386 58 71 5 4 524 Nordeste CE 321 28 133 22 75 579 MA 121 13 24 0 0 158 PB 144 18 18 11 3 194 PE 479 84 1 0 1 565 PI 102 11 14 0 0 127 RN 101 9 17 3 24 154 SE 57 4 1 0 2 64 Sudeste 2.957 680 1.451 258 36 5.382 ES 175 61 42 3 22 303 MG 647 136 346 146 0 1.275 RJ 634 135 495 8 14 1.286 SP 1501 348 568 101 0 2.518 C. Oeste 548 101 153 5 5 812 DF 203 45 92 4 0 344 GO 213 20 20 0 2 255 MS 24 3 6 0 0 33 MT 108 33 35 1 3 180 Sul 1.036 193 314 1 38 1.582 PR 480 96 84 0 26 686 RS 384 63 206 0 3 656 SC 172 34 24 1 9 240 6.885 1.283 2.315 332 207 11.022 TOTAL Fonte: http://www.hemofiliabrasil.org.br/index.php?pg=noticias&id=8 66 Anexo II Impresso para avaliação músculo-esquelético (frente) CENTRO DE HEMOFILIA AVALIAÇÃO MÚSCULO-ESQUELÉTICA NOME: NÚMERO DE REGISTRO: DATA: Medidas músculo-esquelético em repouso (assinale as normais indique as não normais) Mão dominante do doente DIREITO-ESQUERDA Ombro Normal Doente Força Muscular 0-5 Cotovelo Normal Doente Força Muscular 0-5 Punho Flex. Ext. 180 50 180 50 Rot. Int 90 Rot. Ext. 90 Flex. Ext. 180 50 ESQUERDO Abd. Ad. 180 50 Rot. Int. 90 Flex. 150 Ext. 0 Pron. 90 Sup. 90 Flex. 150 Ext. 0 Pron. 90 Sup. 90 Flex. Ext. Ext. 70 Desv. cubital 30 Flex. 70 Desv. radial 20 70 70 Desv. radial 20 Desv. cubital 30 Normal Doente Força Muscular 0-5 Polegar DIREITO Abd. Ad. Flex. Ext. Abd. Ad. Op. Flex. Ext. Abd. Ad. Rot. Ext. 90 Op. Doente Dedos Flex. Ext. Abd. Ad. Flex. Ext. Abd. Ad. Doente DIREITO Força da mão ESQUERDO 0-5 67 Anexo III Impresso para avaliação músculo-esquelético (verso) Quadril Flex. Ext. 120 30 Normal Doente Força Muscular 0-5 DIREITO Abd. Ad. 50 Joelho Normal Doente Força Muscular 0-5 Flex. Plant. 50 30 Flexão 135 Normal Doente Força Muscular 0-5 Tornozelo/ Pé Rot. Int 45 Flex. Dors. 20 Dedos dos pés Rot. Ext. 45 Ext. 120 30 Extensão 0 Inver. Ever. 5 5 Flexão Flex. ESQUERDO Abd. Ad. 50 30 Flexão 135 Flex. Plant. 20 Extensão Flex. Dors 20 Rot. Int. 45 Rot. Ext. 45 Extensão 0 Inver. Ever. 5 5 Flexão Extensão Deformações (contraturas, perda muscular, articulações com subluxação, etc.): presente ( ) ausente ( ) Mancha: anormal ( ) normal ( ) Doente Dor crônica: Sinovite crônica: ALTERAÇÕES SEM PRÉVIA AVALIAÇÃO: COMENTÁRIOS DO FISIOTERAPEUTA: 68