A4 CORREIO POPULAR Campinas, segunda-feira, 31 de agosto de 2015 Cidades Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Luís Fernando Manzoli Sugestões de pautas, críticas e elogios: [email protected] ou pelos telefones 3772-8221 e 3772-8162 Atendimento ao assinante: 3736-3200 ou pelo e-mail [email protected] Chefe de reportagem: Guilherme Busch EDUCAÇÃO ||| LEVANTAMENTO Evasão na RMC está acima da média Em oito cidades da região, abandono no ensino médio supera índice estadual e de Pernambuco Fotos: César Rodrigues/AAN Lauro Sampaio DA AGÊNCIA ANHANGUERA Necessidade de trabalhar é principal causa [email protected] Oito das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas têm índices de evasão escolar no ensino médio superiores à média dos estados de São Paulo e de Pernambuco, que no ano passado foram de 5% e de 3,5% do total de matriculados, respectivamente. O estado nordestino lidera no País o ranking de unidades da Federação com menor índice de abandono. s causas do abandono escolar no ensino médio são as mais variadas possíveis, conforme alguns jovens que deixaram a sala de aula. A dona de casa Aline de Fátima da Silva, hoje com 34 anos, disse que abandonou a escola quando chegou ao ensino médio, aos 18 anos, e só foi retornar aos 30. “Saí por desinteresse mesmo. Fiquei grávida e não tinha mais tempo de estudar. Me arrependi”, conta ela, que agora tenta fazer a faculdade à distância. A balconista Márcia Leão Cirioli, de 40 anos, se recorda que parou de estudar na travessia do antigo primeiro grau para o segundo, aos 16 anos. “Tinha que trabalhar para ajudar minha mãe, chegava cansada em casa e não tinha vontade de ir a escola.” Hoje ela revela arrependimento, diz que tentou voltar a estudar em tele-sala mas que desistiu. “Com três filhos e marido para cuidar, fica difícil”, lamenta. No mesmo tom, a faxineira Tainá Fernanda Pereira Carmo dos Santos, de 20 anos, moradora do bairro Joana D’Arc e mãe de uma menina, confessava que abandonou a escola aos 16 anos de idade mas que pretende voltar a cursar um supletivo. “Minhas amigas falam para eu voltar porque as empresas estão exigindo mais estudo, eu vou voltar, se Deus quiser”, concluiu. (LS/AAN) A Destaque positivo é Jaguariúna, que teve apenas 0,1% Levantamento realizado pelo Correio junto ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), apurou que os índices de evasão são superiores em Campinas (6,5%), Engenheiro Coelho (8,8%), Itatiba (7,9%), Morungaba (6,9%), Monte Mor (7,6%), Vinhedo (8,4%), Holambra (8,4%) e Santo Antonio de Posse (10,8%). Os municípios de Paulínia (4,2%), Nova Odessa (2,1%), Americana (3,8%), Cosmópolis (4,4%), Hortolândia (2%), Sumaré (3,2%), Valinhos (4%), Indaiatuba (3,2%), Santa Bárbara d’Oeste (4,9%), Artur Nogueira (2,5%), Pedreira (3,4%) e Jaguariúna (0,1%) obtiveram taxas abaixo da média estadual. O destaque positivo da RMC foi Jaguariúna, com 44 mil habitantes, que obteve uma impressionante taxa de 0,1% de evasão escolar, ou seja, quase inexistente. Pelos dados do Inep, foi constatado que Campinas vem oscilando nos índices de evasão escolar nos últimos três anos, variando entre 6,9% em 2012; 8,4% em 2013 e 6,5% no ano passado, ainda distante das médias do estado e de Pernambuco. Dados da Secretaria de Estado da Educação indicam que Campinas possui 60 mil alunos matriculados no ensino médio — com uma taxa de evasão de 6,5%, significa que 5,4 mil alunos abandonaram a sala de aula no ciclo em 2014. Cidades do porte de Campinas no Estado de São Paulo, como Guarulhos e São Bernardo do Campo, obtiveram taxas de abandono inferiores, com 5,2% e 4,4%, respectivamente. Para o dirigente regional de ensino do setor Leste de Campinas, Antônio Edmir Schiavo, que coordena 90 escolas de ensino médio no município e nas cidades de Valinhos, Vinhedo e Jaguariúna, o problema da evasão escolar na cidade não se pode combater do dia para a noite, porque Campinas é uma cidade de forte fluxo migratório. “Temos aqui um grande número de migrantes que che- SAIBA MAIS Resultado do Censo Escolar 2014 mostra que o ensino médio paulista diminuiu a taxa de abandono e de reprovação, registrando a melhor série histórica dos últimos cinco anos. Os dados mostram que, em 2014, a taxa de abandono escolar no Ensino Médio ficou em 5% ante 5,6% registrado em 2013. Já a reprovação saiu de 12,9% para os atuais 11,8%. A aprovação, consequentemente, passa de 81,5% para 83,2%. Além dos dados do Censo Escolar, o Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) já havia detectado a melhora do ensino paulista. O indicador, que mensura a aprendizagem dos estudantes da rede, foi o maior dos últimos cinco anos. Saída de estudantes da Escola Estadual Dom Barreto, em Campinas: pelo menos 5,4 mil alunos abandonaram o ensino médio na cidade em 2014 gam e deixam a cidade a todo momento. Isso se reflete nas taxas de evasão escolar, tem migrante que matricula o filho, deixa ele estudar por poucos meses e, quando vai embora nem vai à escola retirar os documentos”, comenta. Schiavo acredita que a tendência dos próximos anos é que Campinas consiga reduzir os índices de evasão escolar, por conta de uma campanha que está sendo lançada pela Secretaria de Estado da Educação, intitulada “Aluno que falta faz falta”. O projeto que visa combater a evasão, segundo Schiavo, consiste num rígido trabalho a ser feito pelas escolas quando é detectado que um aluno já atingiu 10% de faltas. “Quando o percentual de faltas chegar a 20%, o caso será entregue para o Conselho Tutelar. Antes, a escola vai telefonar para a casa do aluno, tentar saber os motivos da ausência e tentar arduamente estimular o estudante a voltar para a sala de aula”, revela o dirigente. “Do ponto de vista da gestão, uma providência essencial é atacar as causas da evasão e é, exatamente isso que o programa vai acompanhar. O acompanhamento eficiente da frequência — que também deve estar na pauta das reuniões pedagógicas — ajuda a mapear o problema e identificar os motivos das faltas. Dependendo da razão, é possível escolher a melhor forma de reverter o quadro: conversas com pais e alunos, visitas às famílias, aulas de reforço e campanhas internas e na comunidade”, opina. O dirigente disse considerar um fato muito grave o fato do aluno jovem sair da escola precocemente, porque o mercado de trabalho está cada vez mais rígido e trabalhadores com pouca qualificação já têm poucas chances no mercado. Schiavo reconhece a existência de outros motivos para o aluno dei- xar a sala de aula, como necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar, gravidez infanto-juvenil, uso e abuso de drogas e álcool e desinteresse. Ajuda dos pais De acordo com ele, somente a escola não será capaz de debelar o problema. Schiavo defende uma maior interação dos pais com os filhos adolescentes e jovens, para que eles permaneçam na escola. O educador cita que os dados de evasão no ensino fundamental são quase inexistentes, mas que essa realidade se transforma radicalmente no ensino médio. “Isso acontece por uma soma de fatores, e os pais dos alunos devem estar atentos a isso. No ensino fundamental, os pais ficam em cima das crianças, a acompanham na escola, depois quando ela vira adolescente a situação muda, o acompanhamento é quase que deixado de lado, Tainá, de 20 anos, com a filha: ela largou a escola porque ficou grávida o aluno se sente sozinho, procura um sub-emprego e sai da escola.” Para o economista Pablo Ibarraram, especialista em programas de Proteção Social e Saúde do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a manutenção de jovens de 15 a 18 anos de idade na escola é muito importante, porque assim eles vão adquirir competências que garantam um bom trabalho. Ibarraram, que esteve no Brasil no ano passado participando de uma conferência, disse que, para grande parte da América Latina, é necessário ao menos a formação do ensino médio, portanto é essencial que os municípios trabalhem para reduzir os índices de evasão escolar. O representante do BID também se manifestou contra a tese de que os jovens mais pobres tenham um estudo diferenciado em termos de conteúdo, e que focar no ensino profissionalizante não é adequado, mesmo porque essa não é melhor do que a convencional em termos de obtenção de melhores empregos e salários.