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Campinas, segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Cidades
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EDUCAÇÃO ||| LEVANTAMENTO
Evasão na RMC está acima da média
Em oito cidades da região, abandono no ensino médio supera índice estadual e de Pernambuco
Fotos: César Rodrigues/AAN
Lauro Sampaio
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
Necessidade
de trabalhar é
principal causa
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Oito das 20 cidades da Região
Metropolitana de Campinas
têm índices de evasão escolar
no ensino médio superiores à
média dos estados de São Paulo e de Pernambuco, que no
ano passado foram de 5% e de
3,5% do total de matriculados,
respectivamente. O estado nordestino lidera no País o ranking
de unidades da Federação com
menor índice de abandono.
s causas do abandono
escolar no ensino
médio são as mais
variadas possíveis,
conforme alguns jovens
que deixaram a sala de
aula. A dona de casa Aline
de Fátima da Silva, hoje
com 34 anos, disse que
abandonou a escola
quando chegou ao ensino
médio, aos 18 anos, e só foi
retornar aos 30. “Saí por
desinteresse mesmo. Fiquei
grávida e não tinha mais
tempo de estudar. Me
arrependi”, conta ela, que
agora tenta fazer a
faculdade à distância. A
balconista Márcia Leão
Cirioli, de 40 anos, se
recorda que parou de
estudar na travessia do
antigo primeiro grau para o
segundo, aos 16 anos.
“Tinha que trabalhar para
ajudar minha mãe, chegava
cansada em casa e não
tinha vontade de ir a
escola.” Hoje ela revela
arrependimento, diz que
tentou voltar a estudar em
tele-sala mas que desistiu.
“Com três filhos e marido
para cuidar, fica difícil”,
lamenta. No mesmo tom, a
faxineira Tainá Fernanda
Pereira Carmo dos Santos,
de 20 anos, moradora do
bairro Joana D’Arc e mãe
de uma menina, confessava
que abandonou a escola
aos 16 anos de idade mas
que pretende voltar a
cursar um supletivo.
“Minhas amigas falam para
eu voltar porque as
empresas estão exigindo
mais estudo, eu vou voltar,
se Deus quiser”, concluiu.
(LS/AAN)
A
Destaque positivo
é Jaguariúna, que
teve apenas 0,1%
Levantamento realizado pelo Correio junto ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão
vinculado ao Ministério da Educação (MEC), apurou que os índices de evasão são superiores
em Campinas (6,5%), Engenheiro Coelho (8,8%), Itatiba
(7,9%), Morungaba (6,9%),
Monte Mor (7,6%), Vinhedo
(8,4%), Holambra (8,4%) e Santo Antonio de Posse (10,8%).
Os municípios de Paulínia
(4,2%), Nova Odessa (2,1%),
Americana (3,8%), Cosmópolis
(4,4%), Hortolândia (2%), Sumaré (3,2%), Valinhos (4%), Indaiatuba (3,2%), Santa Bárbara
d’Oeste (4,9%), Artur Nogueira
(2,5%), Pedreira (3,4%) e Jaguariúna (0,1%) obtiveram taxas
abaixo da média estadual.
O destaque positivo da RMC
foi Jaguariúna, com 44 mil habitantes, que obteve uma impressionante taxa de 0,1% de evasão escolar, ou seja, quase inexistente.
Pelos dados do Inep, foi
constatado que Campinas vem
oscilando nos índices de evasão escolar nos últimos três
anos, variando entre 6,9% em
2012; 8,4% em 2013 e 6,5% no
ano passado, ainda distante
das médias do estado e de Pernambuco. Dados da Secretaria
de Estado da Educação indicam que Campinas possui 60
mil alunos matriculados no ensino médio — com uma taxa
de evasão de 6,5%, significa
que 5,4 mil alunos abandonaram a sala de aula no ciclo em
2014. Cidades do porte de Campinas no Estado de São Paulo,
como Guarulhos e São Bernardo do Campo, obtiveram taxas
de abandono inferiores, com
5,2% e 4,4%, respectivamente.
Para o dirigente regional de
ensino do setor Leste de Campinas, Antônio Edmir Schiavo,
que coordena 90 escolas de ensino médio no município e nas
cidades de Valinhos, Vinhedo e
Jaguariúna, o problema da evasão escolar na cidade não se pode combater do dia para a noite, porque Campinas é uma cidade de forte fluxo migratório.
“Temos aqui um grande número de migrantes que che-
SAIBA MAIS
Resultado do Censo Escolar 2014
mostra que o ensino médio paulista
diminuiu a taxa de abandono e de
reprovação, registrando a melhor
série histórica dos últimos cinco
anos. Os dados mostram que, em
2014, a taxa de abandono escolar no
Ensino Médio ficou em 5% ante
5,6% registrado em 2013. Já a
reprovação saiu de 12,9% para os
atuais 11,8%. A aprovação,
consequentemente, passa de 81,5%
para 83,2%. Além dos dados do
Censo Escolar, o Idesp (Índice de
Desenvolvimento da Educação do
Estado de São Paulo) já havia
detectado a melhora do ensino
paulista. O indicador, que mensura a
aprendizagem dos estudantes da
rede, foi o maior dos últimos cinco
anos.
Saída de estudantes da Escola Estadual Dom Barreto, em Campinas: pelo menos 5,4 mil alunos abandonaram o ensino médio na cidade em 2014
gam e deixam a cidade a todo
momento. Isso se reflete nas taxas de evasão escolar, tem migrante que matricula o filho,
deixa ele estudar por poucos
meses e, quando vai embora
nem vai à escola retirar os documentos”, comenta.
Schiavo acredita que a tendência dos próximos anos é
que Campinas consiga reduzir
os índices de evasão escolar,
por conta de uma campanha
que está sendo lançada pela Secretaria de Estado da Educação, intitulada “Aluno que falta
faz falta”. O projeto que visa
combater a evasão, segundo
Schiavo, consiste num rígido
trabalho a ser feito pelas escolas quando é detectado que
um aluno já atingiu 10% de faltas. “Quando o percentual de
faltas chegar a 20%, o caso será
entregue para o Conselho Tutelar. Antes, a escola vai telefonar
para a casa do aluno, tentar saber os motivos da ausência e
tentar arduamente estimular o
estudante a voltar para a sala
de aula”, revela o dirigente.
“Do ponto de vista da gestão, uma providência essencial
é atacar as causas da evasão e
é, exatamente isso que o programa vai acompanhar. O
acompanhamento eficiente da
frequência — que também deve estar na pauta das reuniões
pedagógicas — ajuda a mapear
o problema e identificar os motivos das faltas. Dependendo
da razão, é possível escolher a
melhor forma de reverter o quadro: conversas com pais e alunos, visitas às famílias, aulas de
reforço e campanhas internas
e na comunidade”, opina.
O dirigente disse considerar
um fato muito grave o fato do
aluno jovem sair da escola precocemente, porque o mercado
de trabalho está cada vez mais
rígido e trabalhadores com pouca qualificação já têm poucas
chances no mercado. Schiavo
reconhece a existência de outros motivos para o aluno dei-
xar a sala de aula, como necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar, gravidez infanto-juvenil, uso e abuso de drogas e álcool e desinteresse.
Ajuda dos pais
De acordo com ele, somente a
escola não será capaz de debelar o problema. Schiavo defende uma maior interação dos
pais com os filhos adolescentes
e jovens, para que eles permaneçam na escola. O educador
cita que os dados de evasão no
ensino fundamental são quase
inexistentes, mas que essa realidade se transforma radicalmente no ensino médio. “Isso acontece por uma soma de fatores,
e os pais dos alunos devem estar atentos a isso. No ensino
fundamental, os pais ficam em
cima das crianças, a acompanham na escola, depois quando ela vira adolescente a situação muda, o acompanhamento é quase que deixado de lado,
Tainá, de 20 anos, com a filha: ela largou a escola porque ficou grávida
o aluno se sente sozinho, procura um sub-emprego e sai da
escola.”
Para o economista Pablo
Ibarraram, especialista em programas de Proteção Social e
Saúde do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a
manutenção de jovens de 15 a
18 anos de idade na escola é
muito importante, porque assim eles vão adquirir competências que garantam um bom trabalho. Ibarraram, que esteve
no Brasil no ano passado participando de uma conferência,
disse que, para grande parte da
América Latina, é necessário
ao menos a formação do ensino médio, portanto é essencial
que os municípios trabalhem
para reduzir os índices de evasão escolar. O representante do
BID também se manifestou
contra a tese de que os jovens
mais pobres tenham um estudo diferenciado em termos de
conteúdo, e que focar no ensino profissionalizante não é adequado, mesmo porque essa
não é melhor do que a convencional em termos de obtenção
de melhores empregos e salários.
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