ID: 44754660
15-11-2012
Tiragem: 15000
Pág: 18
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 20,88 x 31,92 cm²
Âmbito: Regional
Corte: 1 de 1
Surfistas radicais aguardam pelas vagas
O que faz o Canhão disparar
ondas gigantes contra a Nazaré
Como se forma a onda gigante da Nazaré
Empolamento da onda
na aproximação à Praia do Norte
4
20
3
Com a chegada à região costeira de Portugal
continental de ondulação forte proveniente
dos quadrantes Oeste/Noroeste, verifica-se:
Praia do Norte
Forte de S. Miguel
Nazaré
2
100
50
Refracção da onda por diferença de
profundidades entre a plataforma
continental e o canhão. Este efeito leva
à mudança de direcção da onda sobre o
canhão (onde a onda viaja mais rápido)
2
Galgamento de um degrau topográfico
(desnível vertical do fundo). A rápida
redução de profundidade origina o
empolamento da onda (redução do seu
comprimento de onda e a ampliação
da sua altura). Este efeito ocorre também
de forma gradual com a aproximação da
onda à costa.
3
Interferência positiva entre a onda
proveniente do canhão e a onda que
atravessa a plataforma continental Norte.
Este efeito promove novo empolamento
no ponto de intersecção destas duas ondas.
4
Deriva litoral. A ondulação promove uma
corrente junto à praia que escoa de Norte
para Sul e que inflecte no cabo para o mar.
Esta corrente é reforçada pelo empilhamento
de água na enseada, a Norte do cabo, que flui
na mesma direcção e que intercepta a onda
no sentido contrário à sua propagação.
Este processo contribui adicionalmente
para o empolamento da onda.
20
100
50
1
1
Cabeceira do Canhão
da Nazaré
Canhão da Nazaré
200
100
Porto de Abrigo
1000
50
Metros
0
20
O efeito combinado destes processos aumenta
significativemente a altura da onda, que pode
alcançar, assim, valores muito superiores aos
registados ao largo. Estas ondas rebentam
quando a sua altura ultrapassa
aproximadamente a profundidade local.
N
Fonte: Instituto Hidrográfico da Marinha
Miguel Sampaio
[email protected]
T A Nazaré aguarda ansiosamente
pela chegada de grandes ondas. Motivos? Dois. É com expectativa elevada que se espera pela realização do
Red Bull Mito, competição de surf em
ondas gigantes que só se realizará
quando o mar estiver com vagas perfeitas e mais de dez metros. Não é menos desejada a chegada de enormes
mamutes aquáticos para que Garrett
McNamara possa bater o recorde da
maior onda surfada de sempre. O havaiano acredita que podem chegar ao
100 pés e há quem lhe dê razão. O
JORNAL DE LEIRIA foi tentar perceber por que é que as ondas saem do
Canhão da Nazaré com toda aquela
potência
É um dos melhores surfistas de ondas grandes do mundo e está pela terceira vez em Portugal à espera de encontrar exemplares da altura de prédios de muitos andares. Acredita que
a Praia do Norte pode ser reconheci-
da como um dos melhores spots do
Mundo para o surf mais radical, até
porque foi lá que viu a maior onda da
sua vida, bem em frente ao farol,
com quase 40 metros.
“Está a ver o forte e depois o terceira
rocha dentro de água? Ora bem, mesmo em frente a essa rocha, no meio do
oceano, está ali a maior onda que já
vi.” É lá que está escondido o Santo
Graal dos surfistas radicais.
Vamos, então, por partes. É possível as ondas chegarem aos 100
pés?Sim. Porquê? Porque há um canhão que dispara ondas para a Praia
do Norte. E o que é isso? “De uma forma muito simplista pode-se dizer
que o canhão da Nazaré tem um aspecto semelhante ao Grand Canyon,
só que está debaixo de água e localiza-se a poucas centenas de metros da
Nazaré. De facto, o vale submarino da
Nazaré começa a definir-se no fundo
marinho a cerca de 200 metros de distância e, rapidamente ganha a dimensão de uma grande ravina, serpenteando até atingir profundida-
des superiores aos 4.500 metros. Por
este grande sulco da crosta terrestre
onde se intensifica o efeito das marés
e das correntes marinhas, são transferidos, entre a zona costeira e as planícies abissais volumes inimagináveis
de sedimentos, de partículas em suspensão e de nutrientes”, salienta Aurora Rodrigues, chefe da Divisão da
Geologia Marinha do Instituto Hidrográfico da Marinha.
“Algumas simulações que realizámos com modelos matemáticos
sugerem que uma ondulação ao largo com uma altura de 10 metros
pode ser amplificada pelo processo
de refracção da onda, acima descrito, e atingir 15 a 20 metros de altura
na área ao largo da Praia Norte. Ora,
ao largo da costa da Nazaré, particularmente durante os períodos de
tempestade de Inverno, esses tipos
de condições não são incomuns,
pelo contrário. São frequentemente
excedidas em vários períodos”, diz
João Vitorino, investigador do Instituto Hidrográfico da Marinha.
Pedro Bicudo, investigador do Instituto Superior Técnico e também
ele surfista, explica que McNamara
precisa “de uma tempestade próxima,
mas não exactamente em cima da Nazaré, para que a onda chegue limpa”
e que se cumpram mais duas condições. A primeiras que “as ondas sejam
altas” e, a segunda, “ que tenham um
período grande, ou seja com uma boa
separação, no mínimo de 20 segundos, entre cada frente de onda”.
Afinal de contas, o que vale este
mar da Nazaré para Garrett McNamara? “Existe uma onda perfeita
para cada pessoa, que será diferente de um caso para o outro.
Com o estado de mar ideal, a onda
da Nazaré é a minha perfeita”, revela. Que condições são essas?
“Grande, com o swell (ondulação)
na direcção certa, oeste/noroeste,
grandes tubos, com vento offshore
ligeiro.” Um rebuliço que Neptuno
ainda não lhe ofereceu. “Só a vi em
fotografias, mas sei que a vamos
apanhar.”
Download

O que faz o Canhão disparar ondas gigantes contra a Nazaré