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EDUARDO SANCHEZ DA SILVA
2ª Edição
www.UNIVERSODESCONHECIDO.com
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Dedicatória
Dedico este livro a Deus, a quem considero meu Criador e tenho
como meu grande e amoroso Pai. Este livro é mais dEle do que meu.
Eu nunca tive coragem, disciplina, força ou conhecimento suficientes
para fazer este trabalho, mas pelo poder de Deus, pelo amor de Jesus, e
pela sabedoria do Espírito Santo, esta obra se tornou real. Há coisas que
aconteceram, enquanto escrevia este livro, que provaram que Deus estava
interessado nele e quanto eu fui auxiliado enquanto o escrevia. Estas
experiências dariam um outro livro. Este livro pertence a Deus e a Ele é
a quem agradeço primeiramente.
Também agradeço e parabenizo a todos que receberam, baixaram
ou compraram este livro. Também agradeço alguém que foi uma pessoa
muito especial, a qual também dedico este trabalho, pois a história tomou
forma pelo que eu aprendi com esta pessoa durante os mais de três anos
que a conheci. Esta pessoa se chama Regina Senna, alguém que aprendi
a amar e a quem tenho um apreço muito grande. Após um ano que
publiquei este livro nós perdemos totalmente o contato, mas descobri
com ela que se pode estar perto de alguém, mesmo com a distância.
Descobri que se pode respeitar o outro, mesmo com as diferenças e
acreditar na felicidade, mesmo que falte fé e coragem. Apesar de tudo
que aconteceu, sei que este nosso carinho, amor e amizade foram umas
das maiores bençãos que Deus me deu. Se não a tivesse conhecido esta
história não existiria, pois há muito dela neste livro, e agradeço sempre a
Deus por ela ter existido na minha vida.
Agradeço a minha família, que são muito importantes. Dedico
este livro à base da minha vida, minha mãe Cecília e à coisinha mais
linda deste mundo, minha irmã Mônica. Minha mãe lutou sempre para
que pudéssemos ter cárater. Ela torceu o nariz para a capacidade de eu
escrever um livro, mas agora ela pode ter a certeza que consegui fazer
algo muito especial com os dons que Deus me deu. Estando longe ou
perto dela, os conselhos dela sempre estarão na minha mente. Junto
à minha mãe e irmã, agradeço o resto da família, minha tia Marlene
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Ferrari e meus primos, Cláudia e Fernando Ferrari. Meu pai, minha avó
Aurora, tios e tias que são muitos. Em especial, aqueles que não estão
mais aqui, como o Dr. Paulino Ferrari, que foi um grande apoiador da
minha educação, enquanto vivo, e também um exemplo de ser humano,
tal qual o homem que me emprestou inúmeras qualidades (e alguns
defeitos também) mas de quem sou fã, meu avô José Sanchez Jr.
Não posso esquecer o lugar onde estou a maior parte do tempo:
no meu trabalho. Agradeço a todos da Viavarejo e da Y&R, grandes líderes,
colegas e amigos, que torceram e ouviram muitas vezes eu falando deste
livro. São tantos nomes e pouco espaço. Este trabalho também é deles,
que me aguentam cada dia, com a paciência de Jó.
Lembro de amigos e amigas que durante todos estes meses tiveram
de me ver ausente da vida social e virtual por causa deste trabalho. Outros
amigos conheci durante esta jornada e se tornaram especiais. Obrigado
por serem estrelas que brilham em minha vida, tal qual pela torcida e
paciência, Andressa Conti, Anelise Mattea, Daiana Graff, Cássia Castro,
Liliane Fleury e Joelma Bini. Vocês estão em minhas orações e dentro do
meu coração. Pelo apoio, amizade e carinho, Carol Baptista, Daniella
Casagrande, Jeferson Bugelli, Elizabeth Yoon & Rennan Figueiredo
Yoon, Letícia & Elison Stabenow, entre outros que me falha a memória.
No final tem uma página com todas as pessoas especiais.
Quero colocar aqui a história de uma pessoa, que apesar do
pouco contato, teve importância para que tudo isto existisse. O nome
dela é Carolina Andrade. Há 9 anos, enquanto fazíamos cursinho juntos,
eu escrevia minhas histórias no caderno do cursinho, e ela foi a primeira
pessoa que leu uma de minhas histórias. Não se tratava desta história,
mas de outra, que se Deus quiser também virará um livro. Mas nunca
vou me esquecer da reação dela ao ler aquelas duas páginas de caderno e
me perguntar o que ia acontecer ao personagem. Seus olhos brilhavam
e seu interesse era a essência do que eu espero que você também tenha
ao ler esta história. Naquele dia tive certeza que eu possuía em mãos
um dom poderoso. Nunca esqueci aquele dia, aquela pessoa, e o quanto
aquilo mudou muita coisa. São tantas pessoas, poucas páginas e uma
vida, ainda a começar.
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Ao Leitor
Ludwig van Beethoven tentou por 31 anos incrementar o
poema Ode à Alegria de Friedrich Schiller em uma sinfonia. Depois
de inúmeras tentativas de encontrar a música perfeita para o poema,
finalmente podia-se ouvir o já surdo e aclamado compositor gritar para
o amigo Anton: “CONSEGUI! CONSEGUI!”
Bem, não é minha intenção fazer comparações com Beethoven.
Realmente eu estou muito longe deste gênio. Muito menos comparar
este livro com a Nona Sinfonia, o que para mim é a maior obra da
música clássica. Minha intenção apenas é lembrar que algo semelhante
me aconteceu. Universo Desconhecido surgiu há mais de 10 anos e por
inúmeras vezes tentei escrevê-lo, sem sucesso. Mas um dia, lá do alto,
recebi um aval para escrevê-lo. Hoje finalmente posso repetir as palavras
de Beethoven: CONSEGUI! CONSEGUI!
O que você encontrará neste livro é uma história um tanto
fantástica para parecer real, mas muito real para ser apenas fictícia, pois
em algum ponto da história dos personagens você se encontrará. Você
pode ser a pessoa que está em um lugar totalmente estranho contra a sua
vontade. Você pode ser a pessoa que deixou de acreditar em Deus. Você
pode ser a pessoa que viveu um grande amor. Você ser a pessoa que quer
muito rever seu filho. Você pode ser a pessoa tem um amor impossível.
Você pode ser a pessoa buscando um caminho. Você pode ser a pessoa
que perdeu alguém. Você pode ser a pessoa que procura respostas. Pode
ser a pessoa que busca vingança ou, simplesmente, pode ser alguém que
goste de uma história, e aqui você encontrará uma incrível história.
Nesta história, em alguns momentos, você sentirá uma ligação
com os personagens. Todos os envolvidos querem te falar sobre eles.
Você perceberá que todos erram em algum ponto. Gosto do estereótipo
de herói e vilão, de mocinho e bandido, mas mais me interessam os que
são realmente humanos. Mulheres fortes, homens fracos, vilões de boas
intenções, heróis em luta interna. Aqui temos dois mundos nas mãos de
pessoas que procuram entender elas mesmas. Esta é uma história de um
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futuro que não é tão novo para nós. Mas dentro de toda a tecnologia,
ciência e futurismo, ou da ideia ambiental e apocalíptica mostrados no
livro, o foco são as pessoas. A história dos três personagens envolvidos e
de como eles lidam com seus amigos, inimigos, companheiros, parceiros,
emoções, sentimentos, vontades, desejos e principalmente com sua
fé. Eles viverão coisas que estão muito além do seu próprio universo.
Você saberá de cara no que eles acreditam ou deixaram de acreditar,
mas também descobrirá em suas vidas como encontrar as respostas que
acredito que você também procura.
Este livro me emocionou. Enquanto escrevia, eu também
procurava as mesmas respostas dos personagens. Já reli esta história
tentando entender a mim mesmo. E às vezes sei que ainda estou
procurando estas respostas. Já ri e chorei muito com este livro, e acredito
que um bom trabalho é aquele que consegue mexer com o próprio autor,
senão está claro que não foi colocado o melhor dele ali.
Finalizo dizendo que vocês tem em mãos uma história que em
algum momento vai te incomodar, emocionar, enraivecer, ou provocar
algum outro tipo de sentimento, pois se trata de uma história humana,
apesar de fictícia. Convido vocês a embarcarem em um mundo que
nos é muito desconhecido, pois a cada dia, tanto quanto se renovam
as misericórdias de Deus para os seres desta Terra, se renovam a física,
a ciência e a tecnologia, e muito mais que isto, se renovam nossos
caminhos, nossas amizades, paixões, escolhas e pensamentos. Ouvi uma
vez uma frase que dizia assim: “O que é a experiência para um mundo
que se renova a cada dia?”
Quando acordamos, não sabemos como será o futuro. Por
mais que planejamos nossas vidas, organizamos nossas agendas e
desenvolvemos uma rotina, a cada dia vivemos num universo totalmente
desconhecido a cada um de nós. Todo dia as coisas se renovam, por isto
devemos viver não só cada dia como se fosse o último, mas também cada
dia como se fosse o primeiro de muitos.
Boa leitura à todos!
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Sumário
01
Prólogo
12
Rumo ao Século XXII
02
Longe de Casa
13
July & John
03
Carbono
14
A Líder Tribal
04
A Empresa
15
O Plano
05
O Neurocientista
16
Segredos do Cofre
06
A Fuga
17
Muito em Comum
07
08
09
A Caçada
Exílio - Parte I
Amor e Ressentimento
18
19
20
O Presidente
Em Nome de Deus
Revolução
10
Coração x Cérebro
21
Decisão
11
Exílio - Parte II
22
Esperança
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“E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas;
e sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade pelo
bramido do mar e das ondas. Os homens desfalecerão de terror, e pela
expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto os poderes
do céu serão abalados.”
Lucas 21:25, 26
“muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará.”
Daniel 12:4
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Prólogo
São Paulo, Brasil, 2068 d.C.
O garoto estava sentado no banco da igreja. Aquele era um
sábado quente. Já era quase meio dia e todos se abanavam com leques,
folhetos, tablets, ou qualquer outra coisa que fizesse um vento refrescante
e diminuísse, um pouco só, o calor insuportável que fazia. O termômetro
da cidade marcava 37 graus. O garoto estava ao lado de seus pais, e estes
prestavam atenção nas palavras do pastor que pregava com determinação:
- Hoje é o dia de você rever sua vida diante de Deus! Hoje é o
dia da sua salvação. Deus está aqui sentado ao teu lado, esperando você
tomar sua decisão. Livre-se das correntes que te prendem! Livre-se do
vazio da sua alma!
O garoto ouvia as palavras do pastor, mas não dava muita
atenção. Enquanto sua mãe o abanava com o leque, ele mexia com as
orelhas da Bíblia que estava em seu colo. Ele levantava a ponta das páginas
e as soltava, fazendo um barulho que já estava incomodando. Enquanto
fazia isto há um tempo, sua mãe, já irritada, colocou a mão sobre a dele
e o fez parar. Ele olhou para cima e ela estava repreendendo-o com a
cabeça. Ele fez uma cara de quem não gostou e começou a olhar para
cima.
- Lembrem-se do que Davi disse no Salmo 139: “Para onde eu
poderia fugir do teu Espírito? Para onde eu poderia fugir da tua presença?
Se eu subir aos céus, lá estás!” 1 Irmãos, lembrem-se que Deus está em
todos os lugares e não há como fugir dEle. Ele vem até você, com amor,
pra te lembrar que você é especial. Ele vem de longe pra cuidar de você.
Não há algo mais maravilhoso de que ter alguém poderoso cuidando de
1. Salmos 139:7,8
9
Prólogo
nós!
Tão incomodado com o calor, o pequeno mudou a posição
em que estava e isto não o satisfazia, cruzou os dedos e se pôs a olhar
para cima. Era lindo o teto da igreja, sua arquitetura trabalhando os
triângulos o fascinava. Poderia ser arquiteto um dia. Os desenhos
triangulares com quebras pareciam grandes gravatas borboletas de
madeira. Elas se estendiam por todo o teto. Seus desenhos lembravam o
antigo caça F117 Night Hawk, pensava o menino. Ele gostava de naves e
aviões. Aquelas eram formas incríveis que ele admirava muito. Olhando
ainda o teto, pensava no sistema de resfriamento. Nesta época o teto,
tanto quanto as paredes, eram todos misturados com PCM, material
que substituía o antigo ar condicionado. O PCM é um material que
quando aquecido, se torna líquido e resfria todo o ambiente. Havia já no
mercado o PCM-3, que era ativado por pequenos nanochips dentro da
substância, aumentando seu poder de resfriamento. O PCM-3 era mais
eficiente e bem mais caro, algo com a qual a igreja não queria gastar.
Mesmo esta tecnologia era inexpressível diante do calor que fazia. No
momento que torcia a cabeça para ver a parte de trás do teto, sua mãe lhe
deu um cutucão e lhe pediu para prestar atenção no pastor. Ele bufou,
mas finalmente decidiu ouvir o que o pastor falava.
- Davi ainda diz: “Como são preciosos para mim os Teus
pensamentos, ó Deus. Como é grande a soma deles! Se eu os contasse,
seriam mais do que grãos de areia. Se terminasse de contá-los, eu ainda
estaria contigo.” 1
- Contar os pensamentos? pensava o garoto.
Ele imaginava como seria saber os pensamentos das pessoas.
Como queria poder contá-los. Entender o que as pessoas estão pensando.
Ele olhou para uma senhora do outro lado do banco, que se abanava.
Imaginava: - O que ela estaria pensando naquele momento? Será que
as palavras do pastor mexiam com o coração dela? Será que ela estava
ouvindo o que ele falava, ou apenas pensava no que iria fazer de almoço?
Qual o porquê de ter escolhido aquele vestido? Será que lembrava de
alguém? Pensava em alguma outra coisa? Pensava no calor que fazia?
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1. Salmos 139:17,18
Prólogo
Enquanto entoava de fundo cadencialmente a música “Jubilosos
Te Adoramos”, o pastor iria para a parte final do sermão:
- Deus conhece seus pensamentos! Ele te criou e somente quem
te fez pode saber o que passa pela sua cabeça. Você veio aqui hoje porque
talvez não consiga mais lutar. Talvez lhe falte esperança, talvez lhe falte
fé. Mas Deus é o Deus da esperança!
O garoto olhou para a esquerda e viu um homem sentado ao
lado de seus pais. Seu nariz proeminente chamava a atenção. Era magro,
tinha uma cabeleira, mas era bem arrumado. Ele começou a imaginar o
que o homem estaria pensando. Imaginava qual seria o motivo dele estar
ali. Será que o pastor estava tocando o coração dele também? De repente,
em meio aos seus questionamentos, viu uma lágrima sair do rosto do
homem. O garoto se perguntava qual seria o motivo dele chorar. Seria
dor? Separação? Como queria entrar na mente do pobre homem. Olhou
para o pastor, para ver o que este pregava e qual efeito faria no homem.
- Você está aqui hoje em busca de perdão? Não consegue perdoar
alguém? Não consegue se perdoar? Lembre-se que quem é o maior
beneficiado com o perdão é quem perdoa, pois encontra a paz de espírito.
O garoto olhou para o homem. O homem fechou os olhos
e apertou-os com as mãos. “Alguma pessoa o magoou? Será que ele
realmente não consegue se perdoar? O que teria feito? Matado alguém?
Brigado com a mulher? Xingado algum amigo?” Olhou para o pastor.
- “Perdoe para ser perdoado1” disse Cristo. Deus pode fazer
milagres na sua vida, se você deixá-lo te perdoar. Ele vem até você hoje!
Olhou para o homem. Saíam mais lágrimas dos olhos e ele
colocou a mão sobre o peito. Olhou para o pastor.
- Há esperança para aquele que abandonou a Deus. Se você
abandonou a Deus, saiba que Ele não te abandonou. O homem
naturalmente não procura a Deus, mas é Deus quem procura o homem,
onde quer que ele esteja. Deus é quem foi até Adão e Eva no jardim!
O garoto olhou para o homem. O homem havia se encurvado
um pouco, apertando o peito. Algo estava errado.
- Ele foi a Jacó no caminho!
O homem se encurvava mais.
1. Mateus 6:14,15
11
Prólogo
- Ele foi a Moisés no deserto!
O homem tentava gritar.
- Ele foi a Jonas no peixe!
O homem estava com olhos esbugalhados.
- Ele foi a Pedro na praia!
O homem se apoiou em uma perna.
- Ele foi a Paulo no caminho!
O homem sentia dor e estava caindo. O garoto puxou a blusa da mãe.
- Deus vem aqui para te salvar! Ele pode transformar a sua vida
miserável. Pode te tirar da mediocridade. Não abandone Deus e Ele
nunca te abandonará! Ele te diz hoje que não te abandonará!
O homem estava quase ao chão, o garoto chamou mais forte a
mãe. Ela mandou-o parar.
- Escolha a vida eterna! HOJE É O DIA DA TUA SALVAÇÃO!
O homem caiu ao chão. O pastor, emocionado, viu o homem
cair e imediatamente correu para o local. O pai do garoto, que era
médico, foi rapidamente socorrê-lo. Pediu para todos se afastarem. Abriu
a camisa do homem, deitou a cabeça sobre o peito dele e não ouviu
nada. Fez massagem cardíaca, mas nada acontecia. Repetiu quatro vezes
o procedimento, mesmo assim não obtinha resposta. Mediu o pulso. O
pai do garoto, com ar de tristeza, confirmou que o homem estava morto.
O garoto estava atônito olhando o corpo estirado no chão.
Imaginava o que o homem teria pensado nos últimos momentos de
vida. Ele nunca havia visto uma pessoa morrer. O homem havia morrido
na sua frente e ele não pôde fazer nada. Pensava no que acontecia com
a pessoa. “Quem era ele? Qual era sua história? O que pensava? O que
acontecia com o cérebro e com a mente agora que estava morto?” O
garoto estava paralisado, absorvido em seus questionamentos.
- Provavelmente ele tenha morrido por causa do calor. Disse o
pai do menino.
- Coitado do João Carlos, um homem tão bom. Disse o Pastor.
- Como já diz, Deus manda sol e chuva para justos e injustos.
Pior que com ele já são mais de vinte no bairro nesta semana, só por
causa do calor. O mundo está virando um forno. Pastor, você tem de
12
Prólogo
falar com alguém da família dele. A única coisa que posso fazer é isolar
o corpo para chegada do IML.
- A família dele mora em Boituva, mas eu os conheço. Eu vou
ligar para eles. Completou o Pastor.
Passados alguns minutos, o garoto ainda estava estático. Sua
mente pensava em muitas coisas. Ela trabalhava de uma forma incomum.
Seu corpo estava imóvel e quando deu por si, seu pai o chacoalhava
fortemente gritando:
- Leonardo! Leonardo! Vai lá com sua mãe, vai? Não fique aqui
não.
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Longe de Casa
Longe de Casa
Capítulo 02
A pequena Malda estava sentada com seus imensos cabelos
escuros que desciam os ombros e iam até sua cintura. Eles estavam
pintados de azul e roxo. Naquele dia ela fazia 14 anos de idade. Ela era
ainda muito jovem, mas sua idade não escondiam braços e pernas fortes.
Em seu pulso, o bracelete de cristais era o seu único adorno, e mesmo
assim não era fruto de sua vaidade, mas de um legado familiar. Nas suas
mãos havia uma lança. Ela não era simplesmente uma garota, mas uma
guerreira de uma linhagem de grandes guerreiras de sua tribo. Sua mãe
era a grande líder do exército das Drasílias.
Desde pequena ela sabia que cresceria para a guerra e que devia
ser a mais forte das mulheres, e a mais inteligente também. Ela devia se
preparar estrategicamente, emocionalmente e fisicamente pra conquistar
o espaço que lutavam durante séculos.
Todas as mulheres, assim que nasciam, eram separadas para
algumas funções específicas. Umas nasciam para a guerra, outras para a
organização da tribo, outras para a ferramentaria e carpintaria, e outras
para as necessidades gerais do grande grupo. As Drasílias eram bastante
dedicadas em suas funções, sendo que algumas assumiam funções
múltiplas. Depois da Grande Queda, a guerra se tornou a cultura das
Drasílias e de praticamente todo o mundo conhecido.
A Grande Queda se tornou o motivador de um embate
gigantesco, separando homens e mulheres que viviam harmoniosamente
como parceiros perfeitos. Os homens buscaram tomar o controle, assim
14
Longe de Casa
também como as mulheres. As constantes discordâncias tornaram a
convivência insuportável.
Por duas décadas homens e mulheres não se viram e nem se
comunicaram até que a população começou a se extinguir. Durante estes
anos se levantou uma mulher chamada Giufa, caçadora e provedora de
alimento ao grupo. Giufa se juntou a mais 12 mulheres e adentraram a
floresta até onde ficavam os homens. Munidas de pedras, lanças, facas,
entre outros utensílios de guerra primitivos, elas mataram 34 homens e
fizeram mais 8 prisioneiros. Quando voltaram à tribo, foram saudadas
com alegria. Os homens se tornaram escravos e fecundadores. Durante
6 anos elas viveram assim e a população aumentava grandemente,
aumentando tal qual homens como mulheres. Os homens eram tidos
como escravos e as mulheres eram distribuídas nas demais tarefas e
honras da tribo. Os homens eram chamados de Calopes, o que significa
“fecundos”, “animais geradores”. A tribo masculina era tido como os
Calopícios, mesmo que estes não gostassem muito deste termo.
Após este tempo os homens tomaram os seus, atacando o
território feminino. Por mais de um século, as ofensivas e contra-ofensivas
foram tornando aquela região instável e insuportável de se viver, perigosa
até mesmo para os pacificadores. Estes eram homens e mulheres que se
apaixonavam e fugindo, decidiram se unir, sendo considerados traidores.
Após este tempo, uma doença gravíssima tomou conta do
território feminino dizimando quase toda a tribo. Foram constatadas
em torno de 7.000 mortes. Neste tempo os homens decidiram libertar
80% das suas prisioneiras em troca de paz. Na liderança de Matis, do
clã feminino e de Vultus do clã masculino, começou uma era de trégua
e paz. Esta paz durou quase 70 anos. Tanto guerreiros homens como
guerreiras mulheres permaneciam vivendo na tribo rival servindo como
diplomatas, fornecendo segurança e procriação. Nesta época, centenas de
casais eram formados e parecia que a paz era permanente.
Mas um dia, um guerreiro chamado Zalu, diplomata no clã
feminino, e genro da líder Drasília, num ataque de fúria, matou a
mulher e a filha. A líder, já há 15 anos na função, com ódio, julgou
e se vingou com a morte do jovem guerreiro. Embora isto não fosse
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Longe de Casa
suficiente, ela assassinou todos os homens que viviam na tribo. Os
meninos foram escravizados. Com isto, não demorou muito para que
os Calopícios percebessem a injustiça e iniciassem uma sangrenta guerra,
chamada da Guerra dos Paliras (Guerra dos Vingadores), que durou 300
anos incessantemente, e suas consequências duram por mais de 1500
anos, fazendo de homens e mulheres inimigos até hoje.
Por todo este tempo, as batalhas criaram líderes mais fortes
que outros. O conceito de batalha ainda se tornava como antes. Todos
acreditavam que a lança, o arco, o escudo, e outros utensílios de guerra
eram considerados sagrados e o seu uso era um tanto místico. Ambos
acreditavam no mesmo deus, mas o viam de formas diferentes, o que
tornavam as guerras mais duradouras, pois estas eram encorajadas
pelos guias espirituais de cada clã. Cada pequena diferença, seja sexual,
ambiental ou espiritual eram os estopins para confrontos sanguinários.
Embora houvesse guerra sem precedentes, os exilados, criaram
um grupo pacificador, que pregava a união definitiva entre homens
e mulheres. Grandes pacificadores foram mortos por guerreiros
inescrupulosos, já que a guerra, durante os anos, havia se tornado
a grande oportunidade de ascensão social. Os maiores guerreiros se
tornavam líderes e, consequentemente, ricos e poderosos.
A pequena Malda, tremendo de frio e esperando para entrar na
batalha pela primeira vez, conhecia bem o lado da guerra e da paz. Sua
avó foi uma das maiores pacificadoras da história. Ela por inúmeras
vezes, estabeleceu encontros amigáveis entre o clã feminino e masculino.
Mas um jovem líder homem, sentindo-se enfraquecido pela possível paz,
a matou. A mãe de Malda, uma jovem pacífica, procurou vingança. Ela
se alistou entre as guerreiras femininas.
A mãe de Malda era tão determinada, que ficou 10 dias à porta
da tribo feminina, sob intensa chuva, sol e frio, esperando ser aceita
para ser treinada como guerreira. Muitos diziam que ela ficaria ali até
morrer. Treinada pelas melhores, ela se tornou uma guerreira destemida
e corajosa, tendo o objetivo de se vingar a qualquer custo. Quando
completava 23 anos de idade, já havia despojado dois líderes homens e se
tornava a mais jovem líder das Drasílias de toda a história. Seus objetivos
16
Longe de Casa
agora estavam estendidos à sua filha e Malda sentia esta pressão.
Malda, observava suas mãos e sabia que deveriam ser
suficientemente fortes para lutar contra os homens. Teria de enfrentar
os maiores guerreiros do planeta, e teria de ser tão forte quanto a sua
mãe. Por mais que temesse, ela tremia de frio e não de medo. Sua mãe
inspecionava as fileiras, observava se a estratégia estava perfeita, perguntava
a cada batalhão se estavam supridos, se havia alguma mulher doente,
com medo ou enfraquecida. Ela gostava de fazer isto pessoalmente. Num
determinado momento, a líder se aproximou de Malda, fitou a filha e
disse:
- Você está nervosa, minha querida?
- Um pouco. Respondeu a garota
- Não fique meu amor, você é filha de uma guerreira. Lembre-se
de fazer a prece pedindo as forças necessárias para a luta. Forças para
levar sua lança, para defender suas amigas e, principalmente, forças para
matar o quanto puder.
A garota olhava para a mãe, um tanto pensativa, e balançou a
cabeça, confirmando o que a mãe dizia.
- Vou lá discursar. Disse a mãe beijando a testa da filha
carinhosamente.
A líder subiu em seu cavalo e cavalgou até a frente do seu
exército. Neste momento todas as guerreiras se levantaram e ficaram em
formação. A líder ficou em frente à todos e começou a discursar:
- Guerreiras! Hoje deve ser comemorado como o dia em que a
história vai mudar! Nós estamos em frente de um bando de arruaceiros, a
escória deste mundo, o resto. E hoje vamos dizimá-los! Pois não há força
maior que a da maternidade. Não há força maior que a de dar a vida, e
as mulheres são as escolhidas do nosso grande deus para representar a
criação da vida. E como somos escolhidas para dar a vida, também é nossa
responsabilidade a de tirar a vida! Por nossas espadas, por nossas lanças,
por nossos alforjes, por nossas redes e correntes, homens padecerão de
dor, homens serão desmembrados, homens serão pisoteados! Hoje nós
veremos a justiça, mas em nada meus olhos veem a misericórdia! Vejo
17
Longe de Casa
caminhando até nós a força, assim como também vejo o medo indo
embora! Eu já ouço o grito de euforia que suprimem as nossas lágrimas!
Hoje é o dia de vitória! E também é um dia de derrota... mas para os
nossos inimigos!
Todas gritavam eufóricas diante das palavras de sua líder.
Imediatamente ela correu com o seu cavalo para dar o sinal tão esperado.
Segurando seu arco poderosamente ornado com pedras preciosas, ela
atirou uma flecha fumegante ao alto, anunciando que estava começando
a batalha. Neste arco, cada pedra colocada representava uma líder que
havia dominado o clã das Drasílias. Forjado há 600 anos, era uma arma
ainda funcional, mas com o valor mais simbólico que de uso. Assim que
lançou a flecha, a líder entregou o arco para duas guerreiras-guardiãs, que
levavam o arco de volta a tribo para ser protegido.
As fileiras se moveram, a tropa de choque corria para a frente
do exército dos homens. As arqueiras lançavam centenas de flechas,
embebedadas em veneno ou flamejantes, derrubando o máximo de
inimigos que pudessem. A líder entraria com o segundo pelotão. Ela
suava, mesmo estando muito frio. Ela estava nervosa, mas sem medo
algum. Ela deu um sinal, e seu batalhão correu junto com ela. Ela com
a espada, derrubava homem após homem. Ela os odiava. Ela cortava os
membros, a carne e a alma deles com seu furor. Seu cavalo era o mais
forte e rasgava as fileiras masculinas. Seu exército seguia seus passos e se
tornava um só com ela. Ela cavalgava em direção ao líder homem. Ela
precisava derrubá-lo. Ele a vê e corre em sua direção, atravessando seu
próprio exército. Ela prepara a sua espada, assim como o líder homem.
Cada vez eles estão mais perto. Eles se encontram furiosamente. Suas
espadas se cruzam, mas se cruzam sem acertar um o outro. Eles voltam e
cruzam suas espadas, ela atacando e ele se defendendo. A espada dela cai
no chão, então ela pega sua lança e dá meia-volta. Quando ela vira o vê
fugindo para a floresta. Ela o persegue.
Com força ela cavalga, atrás seu inimigo. Ele adentra as árvores.
O frio da floresta parecia mais forte, mas ela estava aquecida por uma
blusa feita com pele de um grande mamífero, que ela mesma tinha
caçado no verão. Sua pequena saia, sobre uma calça de pele, deixava-a
18
Longe de Casa
mais aquecida. Sua lança estava bem firme em suas mãos. Ela segue seu
alvo apenas pelo brilho do luar. As grandes e finas árvores não escondem
o homem, que cavalga rapidamente. Ele não queria morrer. Ele era
covarde demais. Ela o segue, mas o perde. Ela para e observa apenas as
sombras das árvores no chão seco e gelado daquela floresta. Ela cavalga,
tentando procurá-lo até o momento que chega a um pequeno barranco,
onde terminavam as árvores, e vê a grande planície na sua frente, atrás da
floresta.
O vento cortava naquela noite. Com seus cabelos compridos e
negros, a grande líder Drasília respirava sua solidão. Ela observava a terra
que sonhava possuir após aquelas batalhas. Era neste momento que ela
lembrava de sua história, seu destino e seus objetivos. Por um momento
fechou os olhos e meditou. De repente, ainda de olhos fechados, ela ouve
um som da qual nunca tinha ouvido na vida. O som era como som de
uma cachoeira misturando a marcha de uma manada de mamíferos. Ela
percebeu que o lugar se iluminou rapidamente, como se fosse dia. O
cavalo assustado com o brilhou, empinou. Ela se desequilibrou e caiu
pelo barranco, antes que pudesse entender o que acontecia. Seu corpo
girou barranco abaixo, se misturando com folhas, gravetos e terra. Como
o barranco não era tão grande, logo ela parou num lugar mais plano.
Meio tonta por causa do tombo e do susto, ela foi se levantando devagar,
percebendo que na sua frente vinha uma luz muito forte, como o sol do
meio do dia. Buscava olhar para a frente, mas o brilho era forte demais.
Ela tentava tampar o brilho com a mão. Neste momento, ela percebeu
que se tratava de um objeto muito grande voando na sua frente.​
O objeto tinha um formado arredondado. Para a assustada líder,
era como um grande escudo deitado, girando rapidamente e saindo feixes
de luzes, que giravam junto com ele. O grande objeto planava sobre o
chão e estava descendo na sua frente. A luz do objeto voador diminuiu.
Conforme o objeto descia, sem deixar de olhar pra ele, ela procurava sua
lança. Ela acreditava que se tratava de uma arma do exército inimigo, e
sendo assim, ela não hesitaria em lutar contra ele. Ela se levantou devagar
e encontrou sua lança enquanto o “escudo voador” parava no chão. O
objeto vagarosamente deixava de girar e ao pousar no chão uma porta se
19
Longe de Casa
abriu.
Com mais força a grande líder segurava sua lança, pronta para
se defender. Com a porta aberta, ela viu uma luz forte que saía de lá de
dentro e uma sombra que começava a se aproximar. Ela deu um passo
à frente. Pés aparecem saindo pela porta do objeto. Ela segurava ainda
mais forte a lança. Agora ela via pernas que caminhavam. O suor de
medo descia o rosto da guerreira. De repente ela podia ver metade de um
corpo. Quando ela se dá conta há uma pessoa saindo daquele objeto,
todo vestido de preto, com um capacete na cabeça tendo uma viseira, da
qual ela podia ver o rosto. Era um homem. Um inimigo. Quando se deu
conta disto ela se pôs a lutar. Neste momento mais dois homens vestidos
da mesma forma aparecem. Ela parou imediatamente, poderia lutar mas
estava em desvantagem, então perguntou em sua língua nativa:
- Quem é você? Você é o líder?
Prontamente o homem disse em uma língua estranha a dela:
- Eu sou do planeta Terra. Nós viemos em missão de paz.
O homem arqueou os olhos e deu um sinal para o outro que
o acompanhava. A mulher percebeu que algo aconteceria, ela tentou
correr. Antes que a jovem líder pudesse agir, ela já caía desmaiada ao chão
atingida por uma carga elétrica de uma das armas que os “visitantes”
traziam em suas mãos.
20
Carbono
“Não importa o que ganharmos com isto
Eu sei, Eu sei que nunca esqueceremos,
Fumaça sobre as águas,
Fogo no céu.”
Deep Purple
Carbono
Capítulo 03
“Planeta Terra já não respira mais”
New York Times. Janeiro/2020
“Após 10 anos, resoluções da Rio+20 não conseguem ter os efeitos
esperados” O Globo. Junho/2022
“Cientistas procuram alternativas para o aquecimento da Terra” Sunday Times. Setembro/2024
“Venda de carros aumentam em 37% mesmo com campanha mundial
contra o petróleo”
La Nación. Fevereiro/2026
“Segundo pesquisa, até 2100 metade da população mundial morrerá de
males causados pelo efeito estufa”
La Hora. Março/2027
“O aquecimento global é um fenômeno sem volta”
O Estado de São Paulo. Dezembro/2030
21
Carbono
“Diminuição de derivativos do Petróleo é ineficaz contra o aumento da
temperatura da Terra”
Correio da Manhã. Setembro/2035
“Em 30 anos Floresta Amazônica perde 50% de sua área”
New York Times. Julho/2041
“Em Estocolmo, líderes do mundo propõem planos para salvar o planeta
de aquecimento sem precedentes”
Folha de São Paulo. Abril/2052
“Temperatura da Terra aumentou 7 graus na primeira metade do
século”
Le Monde. Março/2057
“Câncer de Pulmão supera problemas cardíacos como a maior causa de
mortes no mundo”
O Estado de São Paulo. Setembro/2058
“Toth Biotecnologia desenvolve máscara que impede respiração de
Monóxido de Carbono”
Washington Post. Janeiro/2059
“Extinção do combustível fóssil não retarda as consequências de dois
séculos de emissão de gases na atmosfera”
Financial Times. Maio/2060
“Por não se adaptarem ao novo clima da Terra, espécies extintas triplicam
nos últimos 5 anos”
El País. Outubro/2062
“Mais de 6000 ingleses morreram neste semestre por consequência do
aquecimento global”
Independent. Novembro/2062
22
Carbono
“Nível dos oceanos sobe 4 centímetros ao ano”
Sunday Times. Maio/2063
“Asteroide descoberto em 2004, atingirá nosso planeta em um ano”
New York Times. Fevereiro/2066
“Depois de tentativa frustrada, Nasa recorre à Toth Corporation para
salvar nosso planeta”
Sunday Times. Julho/2066
“Canhão de partículas da Toth Corporation destrói Asteroide Apophis!”
Le Monde. Maio/2067
“Em Praga, Toth Corp. se torna novo órgão de defesa do planeta
prometendo solução definitiva para aquecimento global”
Sunday Times. Fevereiro/2068
“Degelo da Terra expõe pela primeira vez picos do Himalaia”
La Prensa. Junho/2068
“Estamos fazendo todo o possível para evacuar a população das áreas
litorâneas. Infelizmente não temos como evitar o desaparecimento das
nossas lindas praias”
Vitor Menezes, Prefeito do Rio de Janeiro. Abril/2069
“Há 100 anos o homem pisava na lua, hoje já não pode enxergá-la, pois
tamanha é a poluição do planeta”
James Collin, Presidente dos EUA. Julho/2069
“Aumentam em 50% o número de mortes devido a ingestão de CO no
mundo”
Corriere Della Sera. Julho/2072
23
Carbono
“Diretoria Espacial da Toth Corp. anuncia nesta segunda descoberta que
pode mudar luta contra aquecimento global”
New York Times. Abril/2073
“Chegou a Salvação!”
Finantial Times. Abril/2073
“O planeta pode ser salvo!”
La Nación. Abril/2073
“Berlítio: A Salvação!”
New York Times. Abril/2073
“Rocha é a Salvação do Planeta”
El País. Abril/2073
“Berlítio pode salvar a humanidade da extinção”
Le Monde. Abril/2073
“Cientista espanhol descobre minério espacial que absorve o Carbono
da atmosfera”
Folha de São Paulo. Abril/2073
“A única Rocha que pode salvar a humanidade é Jesus, não se iludam”
John Clarckson Bite, Pastor Americano. Junho/2073
“Berlítio. Onde encontrá-lo?”
Time. Setembro/2073
“Estamos iniciando um projeto milionário para reproduzir o Berlítio em
laboratório”
Jonathan Toth, CEO da Toth Corporation. Novembro/2073
24
Carbono
“Berlítio não pode ser “fabricado”
Express India. Maio/2076
“Sonda Platinus, que encontrou Berlítio, irá procurar no espaço fontes
ricas do minério”
New York Post. Julho/2077
“Cientista que descobriu Berlítio morre de câncer aos 42 anos em
Valência” El País. Outubro/2079
“Após 10 anos Toth Corp. não encontra fontes de Berlítio”
Le Monde. Fevereiro/2083
“Sem Berlítio, mais de 200.000 pessoas morrem ao ano por causa do
Carbono” O Globo. Maio/2087
“Mundo continua quente... e condenado”
Correio da Manhã. Junho/2088
“Humanos: Uma espécie em extinção”
Sunday Times. Outubro/2088
“Estou assumindo esta empresa e prometo que vamos descobrir uma
solução para este problema. Não importa o que tivermos de fazer, vamos
salvar o planeta”
Theodore Plumann, CEO da Toth Corporation. Outubro/2089
25
A Empresa
A Empresa
Capítulo 04
Base Espacial da Toth Corporation,
Mar da Tranquilidade, Lua, 2098 d.C.
Peter entrou no saguão, pegou o elevador e chegou ao setor de
monitoramento. Naquele dia fazia 2 anos que trabalhava ali. Calmamente
chegou até a sua mesa. Ele sentou em uma poltrona super confortável,
encostou o polegar no canto mesa, onde lhe foi reconhecida a digital e
uma tela de vidro saiu de dentro da sua mesa. Uma voz lhe perguntou se
usaria comando de voz, função touch ou comando mental. Peter disse
“touch”. Peter clicou em um botão e arrastou seu teclado virtual da tela
para sua mesa. Sua íris foi lida e ele começou a trabalhar.
​Poucos minutos depois uma janela do eMessage se abriu, alguém
queria falar com ele. Era Cheng Fu, funcionário chinês que ficava a duas
mesas da dele.
ChengFuuuuu: Vc viu que o homem virá hj na nossa base?
Peter32: Plumann?
ChengFuuuuu: Ñ cabeção. Estou falando do Toth.
Peter32: O q o Jonathan Toth vem fazer aki?
ChengFuuuuu: Dizem q ele vem trazer o neto dele para ver o
eclipse, mas eu acho que tem + alguma coisa nesta história.
Peter32: Lá vem vc com suas teorias da conspiração.
ChengFuuuuu: Veja se estou errado? O homem não vem p/
lua. Ele já deixou tudo pro Plumann comandar. Ele já está aposentado.
De repente, dpois de 5 anos ele me aparece aki. Tem coisa errada nesta
história.
26
A Empresa
Peter32: Coloca no seu blog esta teoria, quem sabe fazem um
livro. Claro que antes vão te mandar embora. Kkkkkkkk. Cara, deixa de
bobagem, não tem nada não. O homem só veio ver o eclipse.
ChengFuuuuu: Q raiva brou! Vc é muito inocente. :P
Peter32: Dpois q vc descobrir o plano maquiavélico do Sr. Toth,
vc vai almoçar onde?
ChengFuuuuu: Hoje vou no McMoon.
Peter22: Tá chinezinho chato. Então gente se fala lá pq eu
tenho de monitorar todo o setor 25R. Vê se me deixa trabalhar. Faz isto
sóóóóóó pra eu gostar um pouquinho de vc.
ChengFuuuuu: :P Vc que é chato. Até +.
Peter22: Té!
Cláudia balançava o quadril numa forma de andar engraçada,
ela era seguida por crianças de 9 e 10 anos, que estavam admiradas com
a grandeza da Toth Corporation. Olhavam ao redor e se maravilhavam,
enquanto tocava ao fundo o clássico Sleeping Beauty de Tchaikovsky.
Logo na entrada uma gigantesca réplica do telescópio Hubble, e atrás da
recepção, um dos carros usados pelos astronautas na expedição Apolo.
Cláudia, a guia, explicava para as crianças cada um dos objetos e cada ala
da Toth Corporation.
- Crianças, prestem atenção! Se juntem todas aqui no meio. Por
favor. Bem... aqui fica o Museu Renata Toth, onde é contada a história
desta grande empresa. Aqui do lado esquerdo, vocês observam fotos
da infância do Sr. Toth. O Sr. Toth nasceu em 2029 na Espanha. Seus
pais biológicos eram muito pobres e não puderam criá-lo, assim ele foi
adotado por uma família americana. A família Toth educou o pequeno
Jonathan com rigor e amor para que ele pudesse ser um grande homem,
e ele se tornou.
- Crianças, olhem esta foto! Este é o Sr. Toth na Universidade. Ele
entrou na universidade e se formou em Biotecnologia. Se vocês quiserem,
um dia, poderão seguir esta profissão e serem tão grandes quanto o Sr.
Toth. Mas tem de estudar muito viu?!
- Crianças, olhem aqui! Esta é a primeira perna robotizada criada
27
A Empresa
pelo Sr. Toth. Ainda nesta época se usava enxerto da própria pessoa. A
Toth Corporation se tornou pioneira em usar pele humana artificial,
criada a partir de clonagem de DNA do indivíduo pra revestir as próteses
robotizadas.
- Quando ele fez esta perna, moça? Perguntou um dos garotos
da turma.
- Ele fez em 2052! Ele tinha apenas 23 anos. Com 25 anos ele
criou a Toth Biotecnologia. Tendo o apoio do governo americano ele
começou esta grande empresa! Crianças, me sigam! Vamos para a sala de
Tecnologia Avançada.
Enquanto a guia levava as crianças para a outra sala, o
comandante do exército americano recebia uma chamada da torre.
- Câmbio. Comandante na escuta?
Prontamente ele olhou para o telão e por comando de voz abriu a
chamada.
- Sim, estou na escuta. Algum problema?
- Não Comandante, é que a nave do Sr. Toth está pedindo
autorização para pousar.
- Pode autorizar sargento, peça para que dois módulos escoltem
a nave do Sr. Toth até a base.
- Entendido Senhor. Câmbio, desligo.
O Comandante parou por um segundo e pensou porquê raios
o Sr. Toth estava ali. Por mais que ele fosse o dono de tudo, fazia um
bom tempo que ele não vinha para a base lunar. Toth deixava tudo no
comando do Sr. Plumann, evitando as cansativas viagens. O comandante
achava que havia algo a mais naquela viagem. Perguntava se a visita tinha
algo a ver com o eclipse ou com o projeto Berta.
- Bem crianças, aqui é a Sala de Tecnologia Avançada. Vemos
fotos do desenvolvimento da Toth Biotecnologia e a criação da Toth
Space, um sonho antigo do Sr. Toth, que sempre foi apaixonado pela
astronomia. A Toth Space é uma empresa que monitora o espaço, lança
satélites, telescópios, estuda e mapeia o universo. Há muitos anos atrás
28
A Empresa
quem fazia estas coisas eram os diferentes centros espaciais do mundo,
principalmente a Nasa. Mas os custos da Nasa eram altíssimos e os
resultados não eram satisfatórios. Como eles já pagavam muito dinheiro
para a Toth Biotecnologia por seus avançados robôs, o congresso
americano decidiu pagar para Toth organizar e cuidar da área espacial.
Muitos outros países aderiram a esta decisão americana e a Toth Space
começou a monitorar o espaço para o mundo inteiro. Assim a Toth
Corp teria autonomia no que pudesse ganhar com isto, como as viagens
espaciais, as estações-hotéis, venda de produtos espaciais, e assim por
diante. Já lembrando que cada um vai ganhar um pedaço de rocha lunar
na saída.
Todas as crianças se alvoroçaram com a possibilidade de levar
um pedaço da lua para casa. Neste alvoroço, um garoto muito curioso,
olha para a foto de um telescópio um pouco diferente. Nele, um canhão
saía da plataforma. Depois de observar mais a foto o garoto pergunta:
- Professora, o que é isto grande aqui?
A Professora chama atenção de todos os alunos para si. Ela
responderia a pergunta coletivamente pois se tratava de um fato muito
importante.
- Ah sim! Crianças se acalmem que foi feita uma pergunta! Psiu!
Psiu! Olhem pessoal! O coleguinha de vocês perguntou o que é aquele
objeto ali. Deem uma olhava. Bem... aquele é um canhão espacial da
Toth Corporation. Ele foi desenvolvido em 2067 para monitoramento
espacial. Em 2004, a extinta Nasa descobriu um asteróide, que chamaram
de Apophis, que se tornou umas das maiores possibilidades de colisão
com a Terra. Durante os anos, o asteroide sempre passou perto do planeta
sem causar muita preocupação, mas vocês não sabem o que aconteceu!
Em 2066, o matemático e astrônomo sul coreano Kim Kahm Yoon,
recalculou a rota do Apophis, e descobriu em que o asteróide passaria pela
Terra um ano antes do esperado, pois por motivos ainda desconhecidos,
a sua rota foi mudada. Kim descobriu que esta mudança aumentou a
possiblidade do asteróide acertar nosso planeta em uma chance de 1 pra
5. Um risco muito grande, crianças! Nenhum de nós sobreviveríamos,
mas a Toth Corporation trouxe a salvação! Ela criou este canhão de
29
A Empresa
partículas que incinerou o meteorito aqui da Terra. Este canhão solta
uma onda de força acumulada, ou seja, quando mais distante o raio vai,
mais ele acumula energia, até atingir o alvo. Hoje a Toth Corporation é
o único órgão mundial e espacial de pacificação. Em Praga, mais de 160
países assinaram um acordo em que a Toth Corporation seria responsável
pela segurança do planeta. Qualquer ato terrorista, qualquer perigo à paz
mundial, qualquer ameaça climática, espacial ou outra coisa que possa
agredir o nosso planeta e nossa raça, a Toth Corporation busca combater
e trazer soluções com tecnologia de ponta. Quem quer ir ao observatório
lunar?
- Euuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Responderam as
crianças prontamente.
Jéssica caminhou apressadamente. Depois de anos servindo a
grande corporação, e já há 10 anos como secretária de Jonathan Toth,
ela ainda tinha seus momentos de nervoso, principalmente porque fazia
algum tempo que não via o dono da empresa. Ela havia chegado à lua
há 3 dias para preparar a estada de Toth. Este tinha aproveitado alguns
dias com seu neto na fazenda que ele tinha na Inglaterra, onde gostava
da solidão total, longe de seus compromissos. Jéssica sabia que o Sr. Toth
era um homem amistoso e divertido, e além do mais era um grande
amigo do pai dela (o pai de Jéssica trabalhou 40 anos para o Sr. Toth).
Mesmo assim ela sempre ficava nervosa pois gostava que tudo saísse
perfeitamente. Se arrumou, conferiu o hálito com a mão, e caminhou
até a porta da nave. Conforme descia a nave, ficava visível o desenho na
porta de um círculo, com o escrito “TOTH CORPORATION”, embaixo
se podia ler “SINCE 2054” e no meio o desenho de um Íbis, animal que
dava forma ao deus egípcio da sabedoria, chamado Toth pelos gregos.
Quando a porta abriu, saíram dois seguranças, que prontamente ficaram
em posição de guarda. Logo após saiu Jonathan Toth e seu neto de 12
anos, Josh. O empresário foi até onde Jéssica estava.
- Bom dia Sr. Toth!
- Bom dia, Jéssica, você falou com seu pai?
- Sim senhor, ele disse que a pescaria está de pé.
30
A Empresa
- Ah que ótimo, saudade de falar com ele. Você sabe se o Ted está
aí?
- O Sr. Plumann já está vindo. Tem sido muito corrido aqui, já
que hoje tem eclipse lunar, e o senhor sabe como ficam as coisas aqui
quando tem eclipse.
- Eu sei Jéssica, Eu vim hoje mesmo pra matar dois coelhos em
uma paulada só. Quero ver como anda o projeto Berta e aproveitar para
ver de camarote o eclipse.
- Eu sei que o senhor adora os fenômenos.
Neste momento o iLed de Jéssica pede uma chamada de voz.
- Um minuto senhor...
Ela clica na opção de transferir a chamada para o microchip que
ela tem acoplado em seu ouvido.
- Alô! Sr. Plumann?! Sim, ele está aqui... Ok... Eu o aviso. Até
mais.
- Era ele né? Perguntou Toth
- Sim Sr. Toth. O Sr. Plumann pediu para lhe informar que nos
reuniremos na sala de convenções.
- Ok querida! Vamos à sala de tortura!
Eles riram e foram em direção à sala de convenções. Todos
cumprimentavam Toth, ele era muito admirado por todos que
trabalhavam para ele. O homem era visto como uma lenda viva.
Ao chegar na sala de convenções, um painel continha fotos do
espaço e em destaque um planeta que lembrava um pouco a Terra. Toth
chegou e deu um abraço em Plumann. Fizeram os cumprimentos de
sempre, seu neto também foi cumprimentado. Na sala haviam as grandes
mentes por parte trás da área espacial. Josh percebeu que haviam alguns
médicos, biólogos, cientistas, entre outros gênios e pensava consigo
mesmo o que Plumann e seu avô estariam aprontando.
Plumann começou a falar:
- Estamos aqui reunidos para discutirmos o Projeto Berta...
Neste momento Toth interrompeu Plumann dizendo:
- Ted, por favor, meu neto não está a par do projeto. Se você
31
A Empresa
puder explicar rapidamente do que se trata, seria perfeito. Não hesite em
ser técnico, Josh é uma criança prodígio. Coisas de família.
Todos riram na sala, mas rapidamente voltaram seus olhos para ver o que
seria apresentado.
- Bem Josh, vamos voltar um pouco no tempo. No fim do
século passado, e início deste século, a humanidade estava num ponto de
desenvolvimento tecnológico incrível, mas infelizmente isto já trazia o
custo da saúde do nosso planeta. Foram até divulgados estudos de que o
nosso planeta não duraria 70 anos se as emissões de carbono não fossem
diminuídas. Sabemos das convenções feitas nas décadas de 10 e 20 e a
adesão de muitos países como a China, os Estados Unidos, o Japão,
a Rússia, o Brasil, e entre outras grandes potências pela redução das
emissões de carbono na atmosfera. Por mais que provocassem mudanças
as propostas da Rio+20, Estocolmo, e Veneza para que reduzissem as
emissões de carbono, o desmatamento desordenado provocou um
colapso. Nós perdemos nossas florestas. Primeiro a Floresta Amazônica foi
reduzida a um quinto do que era no começo do século. Também tivemos
a grande queimada na floresta do Congo por causa do aquecimento
global e a destruição das florestas da Ásia para a construção de fábricas.
Não sobraram número suficiente de plantas que pudessem tirar o gás
carbônico do ar. Tudo isto gerou uma grande quantidade de carbono na
atmosfera, se agravando com o aumento da população. Não contente
com isto, temos toda a fumaça lançada na Terra por tanto tempo. Assim
nós ficamos à mercê de sermos extintos como sapos dentro de um forno.
- Em 2073 veio uma solução. O geólogo espanhol George Muñoz
Soto encontrou em alguns fragmentos trazidos pela sonda Platinus, um
minério desconhecido na Terra, que chamamos de Berlítio. Este mineral
tem a característica natural de reagir quimicamente diante do carbono no
ar, absorvendo-o. Para você ter uma idéia, apenas 10 gramas de Berlítio
são capazes de absorver 30 metros cúbicos de CO. Então a Toth a partir
deste momento começou a vasculhar pelo universo por um lugar onde
seria rico desta substância, sua cor acinzentada nos ajudaria a identificar
este mineral.
Josh observava atentamente tudo o que Plumann dizia.
32
A Empresa
- Há 23 anos, uma sonda passando pelo sistema OT22 encontrou
um planeta cinza e azul. O da foto aqui no painel. A descoberta abriu
possibilidades jamais imaginadas pela humanidade. Quando investigamos
este planeta, até então chamado de 2345-Y, descobrimos uma enorme
quantidade de água pura, o que já era algo extraordinário, mas mais
ainda porque descobrimos que em sua superfície era predominante o
Berlítio. Foi um marco para a Toth e para o nosso planeta. Mas o que
veio a seguir iria mudar toda a história. Diferente do que já havíamos
visto em outras expedições, o planeta 2345-Y, agora chamado de Berta,
(devido ao Berlítio) possuía nada menos que vida inteligente. Seres
semelhantes a nós. Homens e mulheres vivendo naquele planeta.
Josh ficou impressionado ao saber que existiam seres alienígenas.
Plumann continuava:
- Por 10 anos sondas investigaram e desceram neste planeta. Nós
o observamos de longe sem que os seres que vivem ali soubessem de coisa
alguma. Entendemos, e o seu avô foi enfático nisto, que deveríamos
conhecer mais aqueles seres, isto se quiséssemos obter ajuda deles para
usar o Berlítio para salvar a humanidade. Mas nada sabíamos sobre aquele
povo. Enviamos um grupo de pesquisadores, médicos, antropólogos
e linguistas para interagir com eles e obter mais informações e uma
possível parceria, mas infelizmente todos foram mortos. Nossa situação
hoje em relação a Berta é de total desconhecimento do planeta e da
cultura dos habitantes de lá. Instalamos bases de exploração longe de
onde vivem os povos, mas são extremamente pobres em Berlítio. Uma
análise mostra que as maiores reservas deste minério ficam onde estão as
maiores concentrações alienígenas. Outro fator muito complicado é que
não dispomos de nenhuma informação sobre o clima, a fauna e flora de
Berta, somente seus habitantes. Infelizmente não temos tempo suficiente
para estudarmos todo o planeta para uma exploração amigável.
O garoto ainda possuía muitas questões, mas havia entendido
tudo. Tendo uma mente muito perspicaz, ele resolveu tomar conta da
conversa.
- E como vocês solucionaram esta situação?
33
A Empresa
- Bem Josh, talvez a melhor solução seria poder monitorá-los
como fazemos na Terra e fazer que eles, sem que percebam, nos forneçam
informações de tudo que precisamos para a exploração do planeta o mais
rápido possível.
- Como é este monitoramento? Perguntou o garoto.
Theodore Plumann olhou para Toth e este lhe respondeu com
um sinal afirmativo com a cabeça.
- O Monitoramento Cerebral é uma iniciativa da empresa há
12 anos. Antes disto, devido a um outro programa de controle mundial,
cada ser humano possui um chip de identificação e localização. Mas na
década de 80... o neurocientista...
Plumann fez uma pausa, olhou para Toth e para todos, como
se preparasse para falar algo que seria perturbador. O garoto percebeu
o clima e se colocou um pouco mais à frente, encarando Plumann,
mostrando que iria esperar pela continuação. Pressionado, Plumann
continuou:
- Bem... o neurocientista brasileiro Leonardo Melo Silva, muito
amigo de seu avô, e considerado um dos maiores gênios da ciência atual,
descobriu a equação neuronal, onde é possível o monitoramento cerebral.
- Como funciona esta equação neuronal? Perguntou o garoto.
- Leonardo estudou por anos o cérebro humano e descobriu que
o cérebro possui um código, como um código matemático, onde cada
função do corpo, cada pensamento, memória, ação e reação humana
formavam uma comunicação diferente dos neurônios em cada parte do
cérebro. Explicando mais didaticamente, é como se o cérebro fosse uma
gigantesca orquestra. Se eu tocar um trompete, eu terei uma melodia. Se
eu acrescentar um violino, eu terei outra melodia. Se eu tirar o violino e
colocar a tuba, eu terei uma outra melodia. Cada instrumento tocando
determinadas notas, formando as melodias certas, criam uma harmonia.
É como se fosse um código, cada instrumento tem seu código sonoro,
juntando eles temos temos um Beethoven, ou um Vivaldi, depende do
instrumento que colocamos e da nota que eles tocam. O mesmo se
dá com o cérebro. Cada tipo de comunicação dos neurônios em uma
determinada região do cérebro significa uma coisa. Quando vários tipos
34
A Empresa
de ligações dos neurônios em várias partes diferentes do cérebro agem
simultaneamente, assim formam um pensamento, um ato, etc. Se você
aprender uma palavra hoje, os neurônios se ligarão de uma determinada
forma e assim será toda vez que você pensar usar aquela palavra. E isto é
igual para cada ser humano. Se eu ver uma maçã hoje, o cérebro guarda
todas as informações sobre aquilo. São elas, cheiro, gosto, aparência,
aspecto, cor, ambiente que está, além de alguma coisa que possa relacionar
com a maçã. Talvez uma lembrança, um trauma, um desejo ou uma ação.
Cada lembrança nova que se forma, cria uma nova ligação neuronal, que
fica guardada para se repetir novamente conforme o cérebro necessitar.
Leonardo estudando estas ligações, conseguiu transplantá-las em
representações matemáticas, criando um código completo do cérebro.
Aliás, isto lhe rendeu naquele mesmo ano o Nobel de medicina, e mais
tarde a medalha Fields, algo como o “Nobel da matemática”.
- Com este código e com os chips implantados em 97% da
população mundial, hoje conseguimos saber o que cada ser humano
pensa, faz, vê, cheira, ouve, fala, sonha e sente. Nós podemos monitorar
as ações humanas que possam destruir o convívio social, podemos
descobrir onde podem acontecer ações violentas, ataques terroristas,
organizações criminosas e até perceber uma tendência ruim num jovem
qualquer que está em uma sala de aula neste momento em qualquer lugar
do mundo. Tudo isto é filtrado e colocado no computador Central aqui
no Centro de Monitoramento Cerebral da Lua.
O garoto entusiasmado com a novidade, logo ligou-a ao assunto
anterior.
- Qual é a dificuldade então de monitorar os habitantes de Berta?
- Boa pergunta. Bem, a grande questão é que o cérebro deles
é similar ao nosso em tamanho e peso, mas funciona diferente do
nosso. É como se eles tivessem outro código, outra forma de funcionar.
Com a autorização do seu avô, nós “resgatamos” uma alienígena, e
estamos estudando-a no centro de pesquisas. Mas para conseguirmos o
que queremos temos de estudar toda a anatomia dela, o cérebro dela e
descobrir como ele funciona para podermos mapeá-lo. Algo que demorou
quase 200 anos para ser feito pelo homem, nós teremos pouco tempo pra
35
A Empresa
fazer com uma raça totalmente desconhecida a nós.
Josh interpretando tudo que ouvia, tentava entender as
dificuldades que Plumann colocava, então voltou a questioná-lo:
- Então... se este tal de Leonardo é tão bom assim como dizem,
porquê ainda é complicado? Além do mais eu gostaria de conhecê-lo
também, onde ele está?
Todos se entreolharam com um ar de angústia, como se
estivessem falando de um defunto. Josh percebeu que tudo a respeito
deste neurocientista era algo que deixava o clima bem angustiante.
Plumann olhou para o garoto e completou:
- Josh, eu preciso que você veja algo.
36
O Neurocientista
O Neurocientista
Capítulo 05
Estação-Hotel, Mar da Tranquilidade, Lua.
Clair acordou assustada com o despertador. Sorriu, pois ainda
faltavam três horas pra começar seu expediente e ela tinha muito a
aproveitar. Levantou rapidamente, tomou um banho, secou o cabelo.
Sabia que o alisamento permanente tinha sido uma boa ideia, antes
ela usava o alisamento iônico de alta duração, que na verdade durava
um ano, mas nunca mais usaria aquela coisa, pois seu cabelo seria liso
pelo resto da vida. Aplicou batom em spray, sombra adesiva e escolheu
a cor turquesa na impressora que em 20 segundos deixou suas unhas
impecáveis. Olhou e lembrou que deveria comprar mais tinta. Por
comando de voz comprou, via internet, direto da impressora tinta para
mais um mês. Estava cantarolando pois tinha um encontro informal.
Vestiu seu uniforme de enfermeira, pegou sua bolsa, seu iLed e entrou na
sala pressurizada, esperando o módulo que a levaria para a ala médica da
Toth Corporation.
O psiquiatra Jean Hervé-François estava em sua mesa conferindo
as entradas e saídas de pacientes. Assinava relatórios e diagnósticos,
quando pela sua voz ativou uma ligação para James Foreman. Jean,
iniciou a conversa:
- Foreman, bom dia.
- Bom dia, Dr. François.
- Foreman, eu preciso que você faça um favor para mim
- Se for possível, farei.
- Hoje tem eclipse lunar, e como você sabe, vamos ficar alguns
37
O Neurocientista
minutos sem energia já que estes, me perdoe a palavra, mas estes
ANIMAIS não querem gastar um centavo a mais com algum tipo de
energia alternativa que não seja energia solar, aí quando surge um eclipse...
- Eu sei, eu sei Doutor. Fica tranquilo, vou providenciar que
a reserva de energia vá para o seu departamento. Mas te aviso, até aí
não vou cortar a energia das máquinas de respiração e da ala de
congelamento, mas você ficará sem a energia na psiquiatria e não terá
travamento automático das portas e visão das câmeras de segurança já
que a prioridade é o setor de monitoramento.
- Bem Foreman, eu posso sobreviver a isto. Muito obrigado, já
ajuda muito.
- De nada.
Ainda um tanto preocupado, o psiquiatra decidiu sair pra aliviar
a tensão. Foi para a área de lazer, colocou a mão no bolso e com um
pouco de esperança, acreditou que pegava um maço de cigarros, mas
lembrou-se que eram pastilhas de combate ao fumo. As duas coisas que
o faziam odiar trabalhar na Toth Corp. eram ter de deixar de fumar e
de não poder sair. Só de pensar que teria de colocar toda aquela roupa
grossa, capacete, e tubo de oxigênio o fazia desistir de dar uma volta
pela lua. Olhava pelo vidro a imensa paisagem de rochas sem vida, e
no horizonte o planeta Terra, sentia falta de casa. Enquanto admirava
a Terra, um perfume tomou conta do ar e duas mãos lhe tamparam os
olhos. Não precisava adivinhar, pois sabia quem era.
- Hum, vou pensar, quem poderia ser? A Marta?
- Jean! Está me confundindo com a baranga da cantina? Ai que
raiva!
- Eu sei que é você, Clair! Meu amor, não adianta me enganar! Tirando as mãos dela delicadamente e virando, deu-lhe um beijo
apaixonado. Depois de se beijarem ele olhou para ele e começou a dizer:
- Meu querido, fui no seu escritório, mas você não estava lá.
- Querida, vim aqui para relaxar. Você sabe que eu odeio esta lua.
Disse olhando para o horizonte. - Queria tanto voltar para a Terra.
- Ai, não fala assim não. Se você não tivesse vindo pra cá não me
conheceria e estaria infeliz com a sua “ex-esposa-maníaca-depressiva”. Ela
38
O Neurocientista
fez um careta de nojo quando falou da ex-esposa de Jean, enquanto ele
ria.
- É verdade! Ao brilho da Terra eu posso viver momentos
apaixonados contigo. Você é a melhor coisa que me aconteceu na Lua, e
a única que me faz aguentar esta loucura toda.
Enquanto brincava com os cachos dele ela estendeu o assunto:
- Se tivermos filhos aqui, eles serão lunáticos?
Rindo, ele completou:
- Você é doidinha, mas eu adoro! Não saberia como viver sem
você!
Quando estava perto de beijá-la o seu celular tocou e ele atendeu:
- Sim. Estou indo imediatamente! Até mais.
Clair observando a cena, já imagina o que está acontecendo.
- Querido, não vai me dizer que...
- Sim, meu anjo, eu tenho de ir. O Sr. Toth está indo pra ala
psiquiátrica, depois nos vemos. Nos vemos no eclipse, eu vou lá como te
prometi.
- Que droga! Disse Clair para si mesma, enquanto o seu
namorado saía apressado pelo corredor.
Chegando na ala psiquiátrica, o Dr. Jean para no portão que dá
acesso aos quartos dos pacientes reclusos. Primeiramente ele destaca uma
das tiras adesivas, coloca um fio de cabelo e gruda-o na tira, colocando
em um compartimento onde, em 10 segundos, seu DNA foi analisado e
a porta lhe foi aberta. Seu chip de monitoramento, colocado sob a pele
da nuca, é analisado e confirmado sua identidade, uma segunda porta
se abre. A sua Íris é verificada e uma terceira porta é aberta. O médico
atravessa os corredores e chega até o quarto 13, onde está seu único
paciente.
Jean ficou por minutos observando, até o momento que chegaram
Plumann, Toth e Josh e mais um dos seguranças de Toth, já que o outro
foi inspecionar o quarto do dono da empresa. Todos caminharam até o
médico e Plumann diz ao garoto, apontando para um homem de meia
idade, em posição fetal, se babando, com uma roupa azul clara e deitado
39
O Neurocientista
em uma cama luminescente:
- Este é o Dr. Leonardo Melo Silva.
Clair entra na enfermaria. Ela cumprimenta as outras enfermeiras
e entra em uma porta trancada, da qual ela tem o crachá de identificação.
Aquela era uma sala onde apenas poucas pessoas conheciam seu
interior. As enfermeiras desconfiavam, mesmo a sala sendo ao fundo
da enfermaria. Ficava ali para não levantar suspeitas. Ao entrar na sala,
dois cientistas estão ao lado de uma cama onde, sob um lençol branco,
há uma mulher de cabelos compridos negros deitada. Ela estava com um
tubo colocado dentro de sua boca e com microchips monitorando seus
batimentos cardíacos e sua atividade cerebral. Clair vai até um armário
embutido e pega um saco de remédios. Ela escolhe uma ampola e a
coloca na sonda da paciente. Ela percebe que os cientistas estavam com
um iLed na mão, usando um aplicativo que escaneava os órgãos internos
da paciente, e tudo era enviado, via nuvem, para o computador central do
laboratório. Eles visualizaram que os órgãos dela eram semelhantes aos
dos humanos, mas possuíam posições diferentes das do corpo humano
normal. Clair pede permissão e vira a mulher de lado para limpar as
costas dela. Enquanto limpava observava as várias cicatrizes dela. “Esta
mulher deve ter sido muito castigada”, pensava a jovem enfermeira. Ela
limpou a parte de trás do braço e viu um lindo bracelete de metal com
inscrições que ela mal podia interpretar. “Depois que os cientistas forem
embora, eu vou pegar ele pra mim” pensava Clair.
- O Dr. Leonardo era praticamente um filho pra mim. Disse
Jonathan Toth. - Eu o tinha como alguém da minha família. Encontrei
este jovem no elevador da filial da empresa em São Paulo, e com poucas
palavras ele me conquistou. Havia ido ali para uma entrevista, mas a
qualificação dele era diferente do que a filial brasileira precisava. Eles
queriam um bioquímico, mas Leonardo era persistente e para todas
as vagas que ali surgiam ele ia fazer entrevista, mesmo que não fosse
na sua área. Ele sempre foi determinado. Daquele dia, ele passou a me
acompanhar nos projetos científicos da empresa e eu financiava as
40
O Neurocientista
pesquisas dele, desde que eu pudesse usá-las para a companhia.
Josh ouvia atentamente seu avô voltar no tempo ao falar sobre o
neurocientista que estava agora trancado como um louco. Seu avô
olhava para o homem sem percepção e imóvel do outro lado do vidro.
O olhar de seu avô demonstrava um sentimento muito íntimo com
aquele homem que parecia um animal encarcerado. Seu avô prosseguia
na história:
- Após ter revelado a decodificação do cérebro e ter publicado
a equação neuronal, eu não pude estar mais presente. Eu precisava
cuidar de você e Plumann começou a usá-la, com exclusividade, para o
monitoramento cerebral. Tínhamos de usar para a segurança do planeta.
Poderíamos trazer a paz na Terra. Os grupos terroristas foram desfeitos,
assassinos foram descobertos, e principalmente nossos inimigos eram
destruídos antes que pudessem agir. Todo tipo de crime premeditado
era revelado antes de acontecer. Milhares de vidas foram salvas, graças à
determinação deste homem. Mas ele não queria que fosse assim.
- Leonardo acreditava na individualidade do ser humano e que
não deveríamos ler seus pensamentos. Ele acreditava que a natureza
deveria seguir seu caminho, e que estávamos indo contra a natureza.
Ele concordava que, sim, a criminalidade deveria ser combatida, mas de
forma natural, como uma espécie que naturalmente defende os seus e o
seu território. Brigamos muito, tínhamos outros problemas pessoais e
Leonardo começou a acreditar que eu estava a monitorá-lo secretamente,
mas eu não o fazia. Foi nesta mania de perseguição que ele começou a se
aprofundar na sua pesquisa e encontrar uma forma de contorná-la até o
momento...
Toth deu uma pausa e respirou fundo. Ele olhou para baixo, com
um ar de tristeza. Parecia que não conseguia mais prosseguir. Plumann
vendo o estado emocional do dono da empresa, decidiu prosseguir:
- Então Josh, Leonardo descobriu algo tão impressionante
quanto sua primeira pesquisa. Ele descobriu que o cérebro poderia ter
seu código mudado, sem que isto mudasse suas funções. Para que você
entenda melhor, antes sabíamos o que significava cada ligação neuronal
diferente do cérebro e assim podíamos ler o cérebro. Ele descobriu que
41
O Neurocientista
podia ser mudado esta codificação com uso de experiências.
- E como funciona isto? Curiosamente perguntou o garoto.
- Este é o ponto da questão! Nós não sabemos! Leonardo estudou,
pesquisou, chegou a conclusão e fez os testes em si mesmo, mas não
deu certo, e tudo isto ficou guardado com ele. É um milagre que tenha
sobrevivido. Quando aplicou a substância em seu corpo, seu cérebro
entrou em colapso. Ele foi levado à enfermaria, seu corpo estava normal,
tentamos monitorar seu cérebro, mas agora era indecifrável. O código
que descobrira antes já não funcionava com ele próprio. Suas pesquisas
lhe custaram a sanidade. Depois de um ano em coma, ele acordou, mas
estava completamente louco. Estudamos ele intensamente, mas não
chegamos a nenhuma conclusão. Hoje decidimos analisar o cérebro dele
comparado ao da alienígena resgatada. Talvez traga alguma luz, pois não
custa tentar. Ele seria a nossa única esperança pra codificar o cérebro
dela, isto se sua última experiência tivesse dado certo. Uma pena que
ficou louco. Bem, devemos ir. Daqui a poucos instantes será o eclipse e
é melhor nos prepararmos, pois temos de ficar em algum lugar seguro.
Tão logo a lua ficará totalmente escura.
Clair terminou de limpar a jovem alienígena. Ela aplicou-lhe um
sedativo forte para que pudesse dormir por mais 3 horas. Enquanto seus
superiores saíam, o Dr. Jean, ainda tomado por aquele saudosismo, entrou
no quarto onde estava Leonardo. Sentou-se ao lado do neurocientista,
encostou na parede, e buscando o cigarro que não existia, pegou no lugar
um chiclete. Ele começou a conversar com o corpo inalterado do Dr.
Leonardo:
- Léo, Léo... Eram tempos bons quando tudo era mais simples.
Lembra dos nossos almoços? Eu com a Belle e você com a Renata. Éramos
mais felizes. Tudo era bem melhor antes de você insistir naquela maldita
pesquisa. Você perdeu a Renata, transformou o mundo em uma coisa
idiota, depois se drogou, ficando louco. Como a Belle só confiava em
mim quando eu saía com você, começou os ciúmes. Separei dela, e pra
fugir dela, vim parar neste satélite maldito. Você não poderia ter ficado
quieto? Tudo poderia ser como antes. Você me ajudava e eu te ajudava.
42
O Neurocientista
Tínhamos nossas esposas. Você era o querido do Toth. Aliás, você é tão
“pilantra” (risos) que fisgou o velho e a filha dele. Sinto falta da Renata.
Ela não merecia morrer. Já da Belle não posso dizer o mesmo! (risos)
- Mas cara, não se sinta viu? você pode ter fisgado meio mundo,
mas eu também tenho meus momentos, viu?! Estou namorando a mais
gata daqui da lua. Uma enfermeira de cair o queixo. Melhor deixar pra
lá, você não tem mais cérebro pra assimilar nada, virou uma sopa de
letrinhas. Mas, mesmo que você não entenda o que estou falando, foi
bom conversar contigo.
Jean se levantou, saiu do quarto de vidro, trancou a sala e pelo
rádio mandou chamar o enfermeiro chefe da psiquiatria.
- Abir?! Tudo bem sim. Após o eclipse eu quero que você e a
Amanda preparem para levar Leonardo para a sala de análise. O Sr.
Plumann pediu que fizéssemos uma análise do cérebro dele junto com a
da alienígena.
43
A Fuga
A Fuga
Capítulo 06
- Daqui 5 minutos vai começar o eclipse, Sr. Toth. O senhor pode
sentar aqui e ver a lua escurecer. Vamos ter um racionamento de energia,
mas tudo ficará em ordem. Disse o chefe de segurança para o empresário.
Enquanto ainda conversavam, um dos vigias que monitorava as câmeras
de segurança o chamou pelo rádio.
- O que aconteceu? No quarto dele de novo? Informe a ala
psiquiátrica. Nós não podemos fazer nada, eles sim podem fazer algo.
Muito obrigado.
- Algo errado? Perguntou Toth.
- O Leonardo está tendo convulsões de novo.
Plumann comentou a Toth que eventualmente Leonardo tinha ataques,
e precisava ser medicado.
Antes de se iniciar o eclipse, os dois enfermeiros de plantão
recebem um aviso e saem de suas salas correndo para o quarto do
neurocientista. Enquanto saíam correndo, vindo do banheiro, chega um
homem de jaleco e entra pela porta. Ele passa pela enfermaria e estranha a
sala estar vazia. Imaginou que se tratando de eclipse, realmente ninguém
tem muita disposição de trabalhar por ali, o que para ele seria ótimo. Ele
segue para a última porta e a bate como num código. A porta se abre e
Clair, com um sorriso estonteante o recebe. Jean entra, segura a mão de
Clair e se beijam apaixonadamente. Enquanto se beijam, ele passa a mão
pelo braço dela, esbarrando na pequena pulseira que era da paciente, e
sobe até chegar no pescoço de Clair. Jean passa sua mão na gola do jaleco
44
A Fuga
e tenta tirá-lo. Quando ele vai beijar o pescoço dela, ele leva um susto.
Ele vê um corpo dormindo em cima da maca. Ele para na hora, meio
assustado e um tanto curioso.
- Clair, ela está dormindo?
- Sim, meu amor. Eu a sedei, vai dormir por horas. Clair diz
tentando trazer a atenção do namorado pra si.
- Ela é a alienígena?
- Sim, é ela. Esquece ela vai?!
Clair tenta virar o rosto de Jean para si, mas ele sai dos braços da
namorada e vai em direção à mulher na maca.
- Nossa! Eu não acredito que existem seres assim em outros
lugares do universo. Ela é igual uma humana!
- Amor! Vai ficar olhando para ela ou vai ficar aqui comigo?
- É muito interessante! Olhe estas marcas, são inúmeras cicatrizes.
- Então eu vou embora! Disse Clair, buscando sair da sala.
Jean puxou-a pelo braço e a abraçou bem apertado.
- Não vai a lugar nenhum! Com você eu não terminei ainda! Ele deu nela outro beijo apaixonado. Neste momento, o celular
de Jean começa a chamar. Ela interrompe o beijo e diz ao médico:
- Amor, não vai atender o celular?
- Não! Você é minha prioridade agora. Estamos em eclipse e eu
não vou resolver nada agora. Vamos aproveitar!
Eles ainda abraçados encostaram no leito. De repente os olhos
que estavam dormindo se abrem. A alienígena rapidamente senta na
maca e dá uma chave de braço no médico, que extremamente assustado,
ouve ela dizer coisas em uma linguagem que ele não conhece. Clair foi
para o canto, e mais assustada ainda, não sabia o que fazer. Quando um
pedido fraco de ajuda veio do doutor, as luzes se apagaram. O eclipse já
havia começado.
As luzes desligaram, apenas luzes de emergência funcionavam.
Tudo estava sombrio e encantador. Josh, pela primeira vez iria presenciar
um eclipse lunar estando no próprio satélite. Paulatinamente o sol ia
desaparecendo atrás do planeta Terra. Ele vê os raios de sol sumindo pelo
45
A Fuga
espaço e a superfície lunar se tornar mais escura, as crateras pareciam
aumentar de tamanho. Era uma visão impressionante. Quando chegou
o auge do fenômeno havia escuridão total. A lua estava escura. Na Terra
era noite para quem observava dali. O Sol estava escondido. Na sala
de observação todos estavam eufóricos, mas o mesmo não ocorria em
outros lugares da base.
Pouco antes do eclipse, Abir e Amanda tentaram contactar Jean,
mas sem sucesso. O celular dele não atendia. Teriam de correr. Pegaram
as injeções, as abraçadeiras, panos limpos, entre outros utensílios para
casos de emergência e correram para a ala psiquiátrica. Abriram as portas
principais, deixaram as portas abertas, pois não havia perigo nenhum e
ao chegarem no quarto 13, viram Leonardo convulsionando no chão. Abriram a porta e enquanto Abir segurava o paciente, Amanda
preparava o sedativo. Amanda colocou a seringa na ampola. Abir gritava
para ela ir mais rápida, pois Leonardo balançava muito e era muito forte.
Amanda pedia calma. Ela tirou a seringa e, de repente, a luz se apagou. O
corpo convulsionava fortemente e os olhos estavam virados. Mas quando
a luz se apagou o corpo parou. Os olhos fecharam. Mas não por muito
tempo, pois logo os olhos voltaram a se abrir. As pupilas se dilataram e
as sobrancelhas se arquearam. Leonardo, consciente de si, rapidamente
deu uma cotovelada em Abir, o que lhe fez desmaiar. Quando a luz de
emergência se acendeu, Amanda virou para aplicar a injeção no doente
e viu Abir caído no chão e Leonardo tinha sumido. De repente, ele
arrancou a seringa da mão dela, a agarrou por trás, e tampando-lhe a
boca, apontou a seringa para o pescoço dela. Ele encostou a boca bem
perto do ouvido da enfermeira e sussurrou-lhe:
- Eu tenho duas perguntas a fazer. Um, você sabe onde fica a
enfermaria mais próxima? Não grite.
Ele soltou a boca dela, e ela tremendo muito, respondeu:
- Na sala 3, no corredor central.
- Muito bem! Pergunta dois: O que você ia me injetar?
- Sedativo, apenas para você dormir.
- Sendo assim... bons sonhos! Leonardo disse isto enquanto
46
A Fuga
injetava o sedativo no pescoço de Amanda.
Um dos seguranças do lugar se encostou na parede. Ele pensava
nas férias que teria no próximo mês. Gostaria de voltar a ver sua mãe. A
luz de emergência acionou no exato momento que pensava sobre isto.
Não tinha como monitorar nada pois as câmeras de segurança estavam
desligadas, então ficou tranquilo. No geral duraria em torno de 10 a
15 minutos, pois era só o tempo de as placas solares captarem toda a
energia do sol e restabelecer a força para o satélite todo. O segurança
ouviu passos vindos de longe. De repente, no fim do corredor surge
um homem de jaleco que vinha apressadamente. Ele parecia perdido.
Enquanto observava o homem, o segurança pensava porquê raios aquele
homem estava ali. Era eclipse, então todo mundo estava quieto no lugar.
Ele olhava fixamente para o homem, mas não conseguia se lembrar de
onde o conhecia. Quando este se aproximou, olhou para os olhos do
segurança e disse:
- Por favor. Eu estou um tanto perdido aqui nesta escuridão e
não consigo achar a enfermaria.
- É só virar o próximo corredor, é a segunda porta do lado
esquerdo.
- Muito obrigado pela ajuda. Você salvou minha pele.
- De nada senhor Abir. Chamou-lhe pelo nome que viu no
crachá. Instantaneamente se pôs a pensar: “O enfermeiro chamado Abir
era parecido com um árabe”. Percebeu que era um impostor. Ele sacou a
arma de choque que possuía e apontando para o homem, disse:
- Não se mova! Vire-se lentamente! Leonardo levantou as mãos
e se virou bem devagar. De frente com o segurança, Leonardo pegou
a arma, empurrando ela para cima. No mesmo tempo ele puxou o
segurança para frente, rapidamente dando uma cotovelada na cara do
homem. O segurança caiu desacordado. Leonardo levou a arma. Pensou
que ela lhe seria muito útil.
Clair começou a gritar. Ela estava tão apavorada que não
conseguia abrir a porta. Estava com medo de que a alienígena machucasse
47
A Fuga
seu namorado. Ele pedia ajuda. Segurando ele pelo pescoço, a mulher
dizia coisas em sua própria língua para Clair, achando que esta deveria
lhe ajudar por ser mulher. Jean gritava por ajuda. Clair gritava por ajuda.
A alienígena gritava por ajuda. De repente a porta é arrombada e todos se
calam. Um homem ouvia tudo da enfermaria. Jean fica pasmo com quem
ele vê. Não era possível. Seu primeiro pensamento foi “Leonardo?!”. Clair rapidamente se colocou atrás de Leonardo e lhe pediu
ajuda.
- Ela está matando ele! Nos ajude por favor! A alienígena vai
matar o meu namorado!
Leonardo pensou:
- Alienígena?!
Leonardo para por alguns segundos enquanto ouve a mulher
gritar coisas em uma linguagem estranha. Ele fica imóvel, como que
paralisado. Muitas coisas começam a se encaixar na cabeça dele. Sua
mente tão ampla começa a planejar rapidamente. Quando volta a si, ele
faz um sinal para que a alienígena se acalme. Conhecedor da linguagem
de sinais, ele tenta de uma forma didática sinalizar para que a alienígena
se acalme e confie nele. Algo no olhar dele a acalmava. Algo nos seus
gestos a fazia ficar tranquila. Ele olha pra ela e dá uma piscada, ela
entendeu o sinal e sabia que poderia confiar nele. Ele a ajudaria. Neste
momento ela solta o psiquiatra. Este, achando que estava salvo, recebe
um golpe de Leonardo e caí no chão desorientado. Clair não acredita e
sai correndo, ele a alcança pela enfermaria. Ela se debate enquanto ele a
segura, dizendo:
- Você vai ficar quieta e nada vai acontecer contigo e com Jean.
Ele a traz para a sala onde estava, a amarra com a abraçadeira
que pegou de Abir e tampa sua boca. Ele pega as credenciais de Jean e
de Clair. Entrega as de Clair para a alienígena e fica com as de Jean.
Sinalizando com as mãos, ele pede para a mulher colocar a roupa de
Clair. A alienígena vai até Clair, arranca a pulseira que lhe pertencia,
dando uma piscada para a enfermeira, que tenta xingá-los por baixo da
mordaça. A alienígena olha para Leonardo. Ela o entende. Ela se liga a
ele e, pela primeira vez, confia em um homem. Ela lê os olhos dele e sabe
48
A Fuga
que ambos estão na mesma situação. Ela sabe que eles sairão dali, pois
Leonardo já sabe o que fazer.
As luzes voltam, as comunicações se restabelecem, as câmeras
de segurança voltam a funcionar. O Sr. Toth agradece Plumann e diz
que está cansado e que vai para o seu quarto. Um dos seguranças fica
com Josh, que vai passear pela base lunar, enquanto o outro protege
Toth, que descansa em seu quarto pensando em tudo que viu naquele
dia. Não muito depois que ele chega ao quarto, seu segurança bate na
porta e informa que o Dr. Jean está ali e quer falar com ele. Ele dá
permissão para entrar. Toth vai para a cama e senta nela esperando o
médico. Quando a porta se abre, ele vira para o lado e fica pasmo com o
que vê. Era Leonardo.
- Oi John, surpreso em me ver?
As pernas de Toth tremem, um suor cai do seu rosto. Ele se levanta, vai
em direção de Léo e o abraça fortemente, dizendo:
- Você está bem meu filho! Você está bem!
- John, eu estou bem e preciso sair daqui urgentemente.
- Léo, meu querido, eu posso te reintegrar, tudo será esquecido.
Você não precisa fugir. Você pode trabalhar aqui...
- Pare John. Eu tenho de ir embora. Eu preciso de uma vida. Não
aguento mais ser escravo desta empresa, de ser monitorado...
- Eu nunca te monitorei, eu nunc...
- Eu sei John. Você nunca fez isto, mas Plumann sim. Ele queria
saber sobre todas as minhas pesquisas, ele queria me controlar, pois ele
tem medo de mim. Este homem destruiu e quer destruir mais a minha
vida. Por isto eu tive de fazer o que fiz. Eu precisava sair do controle
dele. Eu fingi por anos estar louco para ele não ter acesso à minha
mente. Houve um outro motivo também para eu fazer aquilo. Eu queria
esquecer tudo que aconteceu.
- Foi por causa da Renata também?! Léo, você não teve culpa...
- EU TIVE SIM! Eu tive, John! Era eu quem estava dirigindo o
carro! Mesmo casada com outro homem, ela me amava e eu a amava.
Aquele dia eu dei uma carona a ela, pois sentia falta de conversar com
49
A Fuga
ela, de estar ao lado dela, pois sabia que ela estava sofrendo e precisava de
mim. Eu a perdi duas vezes John. Eu tirei sua filha de ti... duas vezes.
- Eu vou te ajudar Léo. Aqui estão os passes de liberação. Eu vou
falar para a Jéssica liberar minha nave para você. Encontre-a no hangar.
Confie na Jéssica, você sabe que ela...
- Eu sei John! Eu sei.
- Adeus meu filho, sinto que não vamos nos ver de novo.
- Adeus, te amo muito meu amigo. Disse Leonardo enquanto ia
à porta. Antes de sair ele olha para o amigo e diz:
- Eu não ia sair sem deixar o Plumann louco de raiva. Eu me
apropriei do pequeno troféu dele.
- Como assim? Léo?! Léo?!
Toth chamava o amigo que sumia pelos corredores da empresa
ao lado de uma mulher. Toth, ao ver a mulher, entendeu qual era o troféu
de Plumann que Leonardo havia levado.
O chefe de segurança olhou para cima. Todo o sistema estava
reiniciado. Centenas de telas mostravam as inúmeras câmeras de
segurança que tinham ao redor da empresa. Ele, pôs a mão no ombro do
seu subordinado e com um sorriso de satisfação lhe disse:
- Tudo bem por enquanto, então mãos à obra.
Enquanto saía para sua sala, o mesmo subordinado lhe chamou.
Este voltou e viu o homem lhe apontar para a câmera da ala psiquiátrica.
Na tela havia duas pessoas caídas no quarto 13. Ele seguiu a câmera que
dava para o corredor e um segurança estava caído no chão também. Por
comando de voz o chefe de segurança ligou para Jean, mas o médico não
atendeu. Depois disto ligou para Plumann.
- Alô?!
- Alô.
- Sr. Plumann, as nossas câmeras de vigilância voltaram a
funcionar e tenho de lhe dizer que Leonardo Silva fugiu.
Plumann não acreditou no que ouviu.
- O que? Como fugiu?
- Ele atacou os dois enfermeiros que foram atendê-lo e depois
50
A Fuga
um segurança. Há possibilidade de ele estar armado. Eu liguei para o Dr.
Jean, mas ele não atendeu o telefone. Aciono o alerta geral?
- Não, não acione. Leonardo conhece todos os procedimentos de
segurança. Chame o esquadrão de assalto para identificá-lo. Diga a eles
que eu o quero vivo e consciente.
Plumann desligou e começou a pensar que se Leonardo estava
são de si, isto significava que a sua experiência de mudar o código
cerebral havia dado certo e que com Leonardo o trabalho dele seria muito
facilitado. Plumann estava curioso quanto ao que havia acontecido com
Jean. Ele precisava urgente do diretor da ala psiquiátrica. Ele liga para o
departamento de monitoramento cerebral e pede para que vasculhem a
localização de Jean.
Leonardo andava rapidamente pelos corredores da empresa e sua
companhia estava muito assustada com o que estava lhe acontecendo. Ela
nunca havia visto coisas como aquelas. Ela estava acostumada com a vida
em florestas, então nunca havia visto máquinas, portas, salas brancas e
pessoas falando em máquinas, telas e todo aquele mundo novo. Leonardo
andava quando foi puxado por uma mão feminina. Era Jéssica.
Ela primeiramente deu um abraço de alívio e saudade nele como
se não quisesse largar mais. Ele a abraçou, segurou-a pelos braços e disse:
- Eu preciso da sua ajuda.
- Calma Léo, eu sei. Toth me ligou. Vamos correndo para a
nave dele. Você irá partir. Assim que estiver seguro, nós vamos dizer que
você sequestrou o piloto e a tomou. Quando você estiver na atmosfera
terrestre uma outra nave levará vocês a um lugar seguro da qual só eu e
Toth conhecemos. Tudo bem pra você?
- Tudo perfeito. Muito obrigado.
Plumann andou rapidamente. Em cada lugar que via algum
segurança ele dizia para que aquele saísse e procurasse Leonardo, custe
o que custar. Plumann estava desesperado. Chegando no setor de
monitoramento, logo o responsável disse que Jean estava na sala 3 da
enfermaria. O que ninguém sabia era que a sala 3 da enfermaria era
51
A Fuga
na verdade um laboratório secreto de análise. E justamente ali estava
a habitante de Berta que fora capturada, pensava Plumann. Plumann
também imaginou o que Jean estava fazendo ali. Pelo rádio mandou que
uma equipe de segurança fosse lá verificar.
O piloto da nave Um da Toth Corporation estava à porta
esperando chegarem Jéssica e seus hóspedes. Verificava a nave e os
equipamentos de segurança. Verificou o combustível. Seria pouco mais
de um dia de viagem até a Terra, ele teria de verificar tudo, para que
nada saísse fora dos eixos. Jéssica andava depressa com Leonardo e a
alienígena. Ela ligou para o comandante na torre de controle e pediu
que autorizasse a saída da nave do Sr. Toth. Mas que por medidas de
segurança não registrasse a saída da nave e que aquela conversa deveria
ser confidencial. Ele confirmou.
No momento em que chegaram na nave, Jéssica deu instruções
expressas ao piloto para que os levasse para determinado ponto e lá
uma nave escoltaria o “Dr. Jean” e “Clair” para um outro lugar. Ele
concordou. A alienígena entrou na nave, e Leonardo parou na porta. Ele
se voltou para Jéssica:
- Muito bom te ver e muito obrigado.
Jéssica deu um abraço em Leonardo, e lhe beijou o rosto, depois
completou:
- Eu nunca esqueci de você. Eu senti muitas saudades. Também
não esqueça de mim. Te gosto demais.
- Eu sei. Muito obrigado novamente. Nos veremos ainda algum
dia.
Leonardo e a alienígena entraram na nave e em poucos minutos
a nave decolava em direção à Terra.
- Alô?! Sr. Plumann?!
- Estou aqui. Pode prosseguir.
- Sr. Plumann. Estamos aqui na sala 3 de enfermagem conforme
nos indicou. O Dr. Jean estava desacordado e uma enfermeira estava
amarrada. Falamos com ela. Segundo ela, a alienígena acordou e estava
52
A Fuga
sufocando o médico com uma chave de braço.
- Mas ela ainda está aí?
- Então... Ela não está.
- Mas que DROGA! Disse Plumann para si mesmo. - Procuremna IMEDIATAMENTE!
- Sr. Plumann, a enfermeira disse que ela fugiu com um homem,
que está se passando pelo Dr. Jean. Foi este homem que deixou a
enfermeira amarrada e o médico desmaiado. Acreditamos que o homem
seja o mesmo que fugiu da ala psiquiátrica. Vamos dar o alerta geral para
encontrarmos o suposto Dr. Jean e a suposta enfermeira Clair.
Plumann num estado de fúria deu um soco na parede tão forte
que machucou sua própria mão enquanto gritava:
- MALDITO LEONARDO!
Todos os funcionários do monitoramento pararam o que
estavam fazendo e olharam para o chefe incontrolável. Plumann passou
a mão pela cabeça, pensando no que deveria fazer. Ele tentava se acalmar.
Ele olhou para todos e deu uma ordem expressa:
- Eu quero que vocês monitorem todos os pensamentos e
lembranças de pessoas desta empresa que tenham na mente os nomes
Jean ou Clair. Eu quero todos que falaram com um médico. Todos que
viram uma mulher de cabelos negros longos. Eu quero que rastreiem o
rosto de Leonardo Melo Silva e o procurem na mente de cada ser vivo
desta empresa. Eu quero isto AGORA!
- Sr. Plumann, precisamos lembrar que todos os que trabalham
diretamente para o Sr. Toth não tem seu cérebro rastreado.
- Façam o que eu mando com todo o resto. Quanto ao pessoal
dele, eu me viro.
Leonardo sentou em uma cadeira, a alienígena sentou na sua
frente. Ela observava tudo em volta. Ela não imaginava que estava em um
planeta em outra galáxia, ainda pensava que se tratava de algum lugar do
seu planeta natal. Ela se acalmou, tirou o jaleco e após isto tirou o roupão
que os doentes usavam. Leonardo neste momento mexia na pequena
bolsa de primeiros socorros que pegara da enfermaria. Num determinado
53
A Fuga
momento, quando olha para a frente a sua companhia estava nua, e ele
se assusta. Leonardo pega rapidamente o jaleco e a cobre, fazendo um
sinal de negativo com a mão. Ela estranha a atitude dele, pois era muito
comum no planeta dela mulheres ficarem nuas em frente das outras
pessoas. Leonardo pensou que antes de fazer o que era necessário, ele
precisava de um contato mais amistoso com a mulher. Primeiramente
apontou para si mesmo e repetiu seu nome. Após isto ele apontou para
ela e fez sinal de como quem estivesse em dúvidas. Ela, como era muito
esperta entendeu na hora. Ela apontou para si mesma e disse:
- Maasti.
- Maasti. Que tipo de nome é este? Disse Leonardo pra si mesmo.
Ele pegou uma folha de papel e uma caneta, chamou-a e fez sinal com
as mãos para que ela olhasse para o papel. Ele desenhou uma cabeça e
no pescoço, bem na parte de trás, ele desenhou um quadrado como por
dentro da pele. Ele apontou para o objeto e disse pausadamente para ela:
- Chip.
Depois com a mão fez um sinal de como estivesse arrancando
o chip. No papel desenhou que teria de cortar a pele dela e tirar o chip
e depois costurar com a linha e agulha que tinha trazido da enfermaria.
Leonardo se levantou e perguntou ao piloto se ele tinha alguma máquina
que gravasse, este lhe deu seu iLed novo. Ele ironicamente pensou que
seria a primeira vez que a alienígena veria uma imagem com 10 milhões
de dpis de resolução.
Leonardo pediu para que Maasti ficasse de costas pra ele.
Maasti estranhamente confiava no homem que a havia tirado de seus
sequestradores, mas ainda relutava, pois tudo era novo demais pra ela.
Ela virava para trás querendo olhar o que ele fazia e ele a colocava de
costas para ele. Quando ela de manteve na posição, Leonardo posicionou
a câmera na parede de onde estavam, de costas a Maasti. Apertou o botão
de gravação. Pegou o álcool passou na nuca dela. Ela, sentindo o álcool
no corpo, correu para o outro lado assustada. Leonardo calmamente a
chamou com a mão e chamando-a pelo nome também. Passou álcool na
sua mão e mostrou que não havia perigo. Depois disto ela voltou à sua
posição. Leonardo viu que ela estava muito nervosa e teve uma ideia.
54
A Fuga
Igualmente como fazia com sua ex-mulher há muito tempo atrás, ele
começou uma massagem em Maasti pra ela poder se soltar e confiar mais
nele. Ela fechou os olhos e, como nunca na sua vida, se sentiu segura
perto de um homem. O único homem que a tocou foi o pai da sua filha,
um Calope prisioneiro, que com medo de morrer, teve relações com
Maasti com o único objetivo de gerar Malda, sua única filha, que agora
estava no seu planeta natal, perdida.
Leonardo, possuía mãos precisas. Eram perfeitas tanto para a
massagem que fazia agora quanto para o que precisaria fazer depois. As
mãos fortes e precisas de Leonardo fizeram Maasti sentir algo que nunca
tinha sentido: um desejo de estar ao lado daquele homem para sempre.
Ela queria estar cada vez mais perto dele. Ela começou a se encantar com
Leonardo. Ela se sentia uma só com ele. Pela primeira vez ela via um
homem com amor, e não com ódio.
Quando Maasti começou a dormir, a dor de uma picada a
assustou, mas desta vez ficou quieta e suportou. Em um minuto não
sentia nada nas costas. Leonardo pegou o bisturi e fez um corte bem
superficial e depois um corte um pouco mais profundo, corte este que
deixou já aparecendo o pequeno chip. Leonardo sabia que não poderia
retirar o chip já que este estava preso a uma ligação nervosa. Leonardo
procurou e encontrou um circuito praticamente minúsculo. Ele retirou a
luva da mão esquerda, levantou, pegou a câmera e gravou ele com a ponta
do bisturi retirando uma proteção do chip que tinha o logo da Toth
Corp. Lá dentro havia um micro circuito, Leonardo desprendeu uma
das ligações deste microcircuito. Se ele desprendesse todas as ligações do
mesmo, Maasti poderia ficar paraplégica, pois os circuitos faziam parte
da sua estrutura nervosa, apenas para atravessar informações elétricas.
Havia um jeito de desabilitar o chip. Queimando o circuito que Leonardo
desprendeu, que era o responsável de receber e enviar informações aos
satélites da Toth Corporation.
Leonardo pegou sua arma de choque. Acionou a carga fraca e
mirando na parte lateral do pescoço de Maasti, lhe deu um choque bem
leve. Um pequeno choque correu o corpo de Maasti, fazendo com que ela
pulasse de susto, mas ela ficou calma, sem fugir. Leonardo olhou o circuito
55
A Fuga
e este tinha uma marca de queimado. Agora estava tudo pronto. Limpou
com antisséptico o local e costurou-o, terminando com a colocação de
gaze para proteger. Arrancadas as luvas, ele desligou a câmera. Perguntou
pra ela com gestos se estava bem, ela respondeu afirmativamente. Após
isto, Leonardo mostrou tudo que havia usado com ela, e lhe mostrou
o vídeo para que ela repetisse com ele exatamente o que ele tinha feito.
Maasti ficou maravilhada olhando o vídeo. Ela tocava na tela achando
que haviam pessoas ali. Quando viu o seu próprio rosto percebeu que o
objeto captava o passado e o repetia. Uma segunda vez ela viu o vídeo,
mas sem hesitação e sabia que deveria fazer o mesmo em Leonardo. Com
os chips de identificação danificados eles não seriam encontrados.
56
A Caçada
A Caçada
Capítulo 07
Plumann estava tomando um café. Ele tremia. A possibilidade
de não encontrar Leonardo e a alienígena o deixavam louco. Foram 12
anos estudando Berta e mais 3 anos para trazer um habitante daquele
planeta. Ele não podia perder tempo. Nosso planeta estava morrendo
entoxicado. Enquanto olhava a fumaça de seu café, pensava no gás letal
que destruía a vida de milhares de pessoas por ano. Quando se preparava
para dar outro gole, um jovem do setor de monitoramento chega.
- Sr. Plumann, achamos algo.
- O que?
- Um dos nossos técnicos viu um homem de jaleco, com as
feições de Leonardo, falando com o segurança pessoal de Toth e depois
entrando no quarto dele. O técnico estava indo para o banheiro quando
viu esta cena. Conseguimos descobrir pelas memórias recentes dele.
Analisamos a visão perifêrica e há um vulto de mais uma pessoa, que
acreditamos ser a mulher que você procura.
- Muito obrigado, eu vou falar com Toth.
Plumann falou algo no ouvido de Antony, seu assistente, que
logo correu para a sala de vigilância. Plumann enfurecido foi ao quarto
de Toth, falou com o segurança de plantão e foi-lhe autorizada a entrada.
Toth estava deitado pensando.
- Como você quer que eu faça o meu trabalho, se você o ajuda
cegamente? Disse o CEO da empresa.
- Ted, você está muito estressado. Você não percebe que a sua
obsessão de salvar o mundo o tirou dos eixos? Disse Toth se levantando.
- Dos eixos? Não sou eu quem dá carta branca para o homem
57
A Caçada
que quer nos destruir.
- Não, não. Ted, eu pensava que você estava preocupado com
a empresa, mas você não está. Você está preocupado com sua carreira.
Você sempre teve inveja e ciúmes de Leonardo, pois ele era competente,
inteligente e ainda por cima casou com a Renata, a quem você amava. Ele
nunca te procurou fazer mal, mas você vive tentando sabotá-lo. Você está
errado rapaz. Você monitorava-o, eu sempre fui insistente de que pessoas
leais a mim nunca deveriam ser monitoradas. Eu vou conversar com os
acionistas e você não será mais o presidente desta empresa. Você passou
dos limites Ted.
Plumann ficou pasmo com o que acabara de ouvir, seus
músculos começaram a se enrijecer, seus punhos fecharam e num ataque
de raiva ele deu um soco na boca de Toth. Após o golpe, Plumann fora
de controle apertou o pescoço de Toth com força, sentindo toda a raiva
e repetindo:
- Foi você quem passou dos limites!
Ele repetia inúmeras vezes até o corpo do fundador da empresa
cair sem vida em sua cama. Ele sentia fúria e pensava em tudo que havia
feito para executar seu plano “salvador” para o mundo todo.
Com sangue nas mãos, Plumann começou a pensar. Pensava
no que havia acabado de fazer. Não era o era o que ele queria fazer. Ele
queria chorar, pois havia matado alguém que tinha como um pai. Mas
ele tinha uma idéia. Ele lavou as mãos e chamou o segurança pessoal
de Toth. Quando este entrou ele o golpeou com um vaso de metal que
decorava o criado mudo. Com o segurança grogue, ele o sufocou até lhe
tirar a vida. Limpou as digitais e ligou para a segurança.
- Preciso do pessoal do exército aqui. Leonardo matou Toth e o
o seu segurança pessoal.
Depois de ter repetido exatamente o procedimento que vira no
vídeo, Maasti já colocava a gaze. Leonardo fez um sinal de afirmativo. Ele
se levantou, olhou para a janela e via a lua desaparecendo aos poucos. Ele
arrumou as coisas que haviam usado, preparou uma cama e, chamando
Maasti, fez um sinal para que ela dormisse ali. Ela com carinho, igual
58
A Caçada
ao que tinha pela sua mãe, puxou a cabeça dele para perto dela e lhe
agradeceu com um beijo no rosto. Ele sorriu e foi para a outra cama.
Na lua a caçada continuava.
- Sr. Plumann descobrimos que a nave do Sr. Toth não se
encontra no hangar. Acredito que Leonardo a tenha levado. Disse um de
seus assistentes.
- Você acredita? Bem, eu tenho certeza. O que o comandante
disse?
- Ele disse que não estavam vigiando o hangar durante o eclipse.
Plumann pegou o telefone e ligou para o monitoramento e
pediu para que fossem encontradas as memórias do comandante e que
descobrissem a localização de Leonardo e da alienígena através de seus
chips de identificação.
Plumann recebeu uma ligação do sargento que fazia plantão na
base americana lunar, que lhe informou:
- Analisamos a cena do crime e fizemos uma investigação e
pelas evidências, Leonardo golpeou Toth no rosto e depois enforcou-o
com as mãos. Acreditamos que quando o segurança ouviu o barulho
e entrou para ver o que acontecia foi golpeado e morto. Encontramos
um pequeno pedaço do tecido de Leonardo no dente de Toth e que vou
analisar pra conferir o DNA de Leonardo.
Toth tremeu. Ele não esperava que houvessem ainda vestígios do
crime. Ele prontamente respondeu:
- Acredito que não será possível.
- Qual o motivo senhor?
- Quando Leonardo ficou louco, destruímos seus registros de
DNA e impressões dos nossos dados, para a própria segurança dele.
- Sr. Plumann se assim for, você está ciente que os dados são
inconclusivos e não podemos culpá-lo pela morte de Jonathan Toth.
- Eu tenho esta consciência.
- Então vamos dar o caso como encerrado.
- Muito obrigado sargento.
Plumann havia mentido, mas precisava se proteger. Se
59
A Caçada
descobrissem que Leonardo não havia matado Toth, seria o fim dele.
Imediatamente o celular tocou e Toth atendeu.
- Alô?!
- Sr. Plumann, investigamos o que nos pediu. O comandante
recebeu uma ligação de uma mulher, que o cérebro dele identificou como
sendo Jéssica Smith, e ela disse para que ele autorizasse a decolagem da
nave do Sr. Toth e também pediu para que não fosse registrado. Além
disso solicitou para que a conversa fosse confidencial.
- Entendi. Conseguiu localizar Leonardo?
- Não, nem ele e nem o chip da mulher que o senhor nos
informou. Acredito que estejam mortos pois não há sinal.
- Não. Eles não estão mortos. Leonardo destruiu os chips. Ele
sabia como fazer e fez. Muito obrigado.
Plumann num acesso de ira, chutou o cesto de lixo na parede e
saiu estremecendo o chão.
Passadas algumas horas Leonardo acordou, foi ao banheiro e
lavou o rosto. Olhou pelo espelho e pensou que estava com uma cara
péssima. Passou pela pequena cabine da nave, não viu nada além do
piloto dormindo numa cama especial que fica do lado da cabine. A nave
estava no automático. Viu um pouco o espaço e ficava maravilhado.
Resolveu conferir a convidada do passeio. Olhou Maasti dormindo,
ela estava de lado com a cabeça virada para o lado dele. Com as mãos
afastou os longos cabelos e foi verificar se o corte estava cicatrizando. Se
pudesse, teria trazido o modelador de pele à laser. Teria de conseguir um
na Terra, pois com aquelas cicatrizes eles seriam encontrados facilmente.
No momento em que tentava olhar os pontos, Maasti acordou e apertou
o seu pescoço. Quando ela percebeu quem estava sufocando, parou e
começou a se desculpar em sua própria língua. Por anos Maasti dormia
sempre pronta a se defender, como uma guerreira, sempre ameaçada de
morte e de perigo. Leonardo um pouco assustado percebeu que tinha na
sua frente uma mulher muito forte e que não tinha medo.
Meio que se recuperando do susto, Leonardo olhou para a jovem
e perguntou, com um sinal, se estava tudo bem. Ela não entendeu direito.
60
A Caçada
Ele sinalizou positivamente com a cabeça, ela respondeu da mesma forma.
Ele percebeu que precisaria achar uma forma de se comunicar com ela.
Já sabia que ela não era do tipo “estúpida”, então seria fácil. Leonardo
pensou em qual língua deveria ensiná-la. Pensou melhor, e como não
sabiam para onde iriam, seria mais prudente aprender a própria língua
de Maasti e depois seria mais fácil ensiná-la o inglês, ou o português.
Pegou um papel. Ele sabia seria um longo dia. Ele desenhou e começou
a dizer:
- Homem.
Maasti olhou o desenho e respondeu:
- Calope?!
- Isto! Calope. Disse Leonardo, apontando com um sinal de
positivo com a mão.
- Mulher.
- Drasi.
- Mão
- Aluqui.
- Pé.
- Aluquo...
Jude Chapman preparou um café e sentou para ler um livro.
Havia visto pela TV, com algum atraso, o eclipse e não achou nada de
interessante. Olhou para o relógio e viu que eram 10 horas da manhã.
Pensou alguma coisa engraçada em relação a hora e se voltou ao livro.
Virava a página e lia lutando contra o sono. Coçou seu bigode e insistia
em tentar ler, mas o sono estava vencendo. Balançava a cabeça para
se acordar, e de novo foi pego em sono. A cabeça caía lentamente,
lentamente e mais lentamente. Quando quase estava tombado em cima
do livro o telefone toca num som ensurdecedor. Ele, assustado, acorda e
ao atender o telefone, ouve:
- Inspetor Jude Chapman?
- Sim, é ele.
- Inspetor, precisamos do senhor para investigar um crime que
ocorreu aqui na Toth Corp.
61
A Caçada
- Um crime? Como assim? Me explique o que aconteceu, por
favor.
- Não posso dar mais detalhes, será melhor o senhor ver
pessoalmente.
- Estou indo aí. Tchau.
O inspetor coçou o bigode e pensava o que poderia ter acontecido.
Teria agora de atravessar o satélite para verificar. Ele pensava consigo
mesmo o quanto odiava estes segredos, tal qual odiava voar com estes
módulos. Gostava de morar na lua pelo sossego. Ele colocou uma roupa
mais formal, colocou um blusão quente e ligou para um dos oficiais ali
da base pedindo transporte até o outro lado da lua.
Plumann esperava o que o pessoal do monitoramento lhe
indicasse onde estava o piloto da nave, conforme havia pedido
anteriormente. Estava começando a ficar impaciente com a demora e
quando se levantava para ir inspecionar, Antony entra pela sua porta.
- Sr. Plumann, procuramos o sinal do piloto e ele está se
direcionando à Terra.
- Eu quero que vocês monitorem o sinal dele e quando ele estiver
perto da Terra, certifiquem onde ele irá pousar. Quero uma equipe inteira
lá. Mesmo assim acho que está muito fácil esta missão de resgate. Antony,
você irá me fazer um favor.
- Sim, Sr. Plumann.
- Peça para o monitoramento interceptar qualquer pensamento
que esteja relacionado a “pousar nave”. Eu quero também que as nossas
tropas de segurança fiquem alertas para descidas de pára-quedas, ou
resgates aéreos. Eu não posso perdê-los.
- Será feito imediatamente.
Leonardo passara o dia com Maasti aprendendo sua língua. Como
possuía uma memória fora do comum, era preciso pouco para ele ligar as
palavras às outras. Durante o dia todo tentaram aprender as palavras, e se
comunicaram um pouco, deram risadas e passaram momentos ótimos.
Passadas seis horas de conversa, descontração e comendo o que tinha
62
A Caçada
na geladeira, o piloto informa que eles irão mudar para a nave que os
levará à Terra. A nave contratada por Toth para resgate se aproximou da
nave principal. Elas se acoplaram, e isto com a precisão que só os ótimos
pilotos fariam. As naves se encaixaram, deixando o computador liberar
um corredor entre elas. Tanto Leonardo quanto Maasti pegaram algumas
coisas, e foram para a saída pressurizada. Abriram uma pesada porta e
atravessaram para a nave especial. Logo quando entraram começaram a
sentir a anti-gravidade. Maasti achava tudo fantástico, novo. Ela queria
pular e pegar os objetos no ar. Leonardo achava incrível vê-la assim,
parecia uma criança brincando pela primeira vez. Ele a chamou e a pôs
sentada em uma cadeira especial, apertou os cintos dela. Ela o olhava e
o admirava. Ele sempre se mostrava atencioso. Ele se sentou, apertou os
cintos. O piloto da nova nave informou que em poucas horas entrariam
na atmosfera terrestre e que aterrissariam no Aeroporto Internacional
Cheddi Jagan na Guiana. O piloto informou também que alguém os
esperaria lá e daria instruções de como deveriam agir. Os dois dormiram
um pouco.
- Sr. Pluman, temos quase 2 bilhões de menções sobre pousar
nave. Analisamos e descobrimos que 18% são de pilotos e o resto de
aeroportos e postos de aterrissagem.
- Descartem os pilotos. Todos os pilotos de Toth não podem ser
monitorados. Mesmo se pudermos localizá-los, nem eu sei quem eles são.
Toth era muito comedido com suas contratações, guardando somente a
si mesmo. Somente ele e a Jés...
Os olhos de Plumann brilharam neste momento e ele segurou o
aprendiz pelos braços e lhe disse firmemente:
- Ache a Jéssica. Eu a quero agora aqui. Rápido!
- Já estou indo senhor.
Jéssica estava atordoada. O oficial acabara de informá-la da
morte de Toth e não havia quem a consolasse. Ela chorava amargamente
pela morte do chefe e amigo. Seu estado emocional estava abalado. Ela
procurou o oficial e perguntou se poderia ver Toth. Ele a informou que
63
A Caçada
não seria uma boa ideia, e mesmo que pudesse, não seria possível pois
em duas horas o encarregado da investigação chegaria. Ele vivia no lado
negro da lua, onde ficavam algumas bases e o centro de captação de
energia. Quando havia lua nova para a Terra significava que o lado negro
da lua estava virado em direção ao sol. Para não faltar energia durante
este tempo, uma base neste lado tinha enormes paíneis que captavam a
energia solar e a levavam por cabos para o Mar da Tranquilidade, onde
ficavam as instalações principais da empresa. Havia uma base do exército
internacional e algumas casas de oficiais que moravam ali.
Jéssica sabia que Leonardo não poderia ter matado Toth. Mas
pensava quem o faria. Ela cogitou desde o segurança, até algum espião
corporativo. Enquanto chorava, Antony aparece e diz que o CEO quer
falar com ela. Ela o segue pensando no que iria falar pois, a estas alturas,
Plumann já está buscando Leonardo por todos os lugares.
Jéssica chega na sala de Plumann, escondendo o choro e
mostrando firmeza.
- Plumann, o que você quer agora?
- Sente-se um pouco. Plumann puxou uma cadeira para ela.
Ela sentou, enquanto ele continuava: - Jéssica, eu estou muito abalado
pela morte de Jonathan. Ele era como um pai pra mim. Mas eu preciso
encontrar Leonardo para que ele pague por este crime.
- Por que você tem tanta certeza de que foi Leonardo quem
cometeu o assassinato de Toth?
- Porque ele esteve lá, e Toth foi coagido a ajudá-lo.
- Não creio que seja assim. Disse ela desafiando o seu interlocutor.
- Então como seria? Disse ele caminhando para trás da cadeira
dela.
- Sou eu quem deveria saber?
Plumann se apoiou na cadeira dela e bem perto do seu ouvido
disse:
- Sabe sim. Eu sei que você sabe. Você, a pedido de Toth, colocou
Leonardo naquela nave conforme você falou com o comandante da torre
de controle.
Jéssica ficou pasma, mas não surpresa. Neste momento Jéssica
64
A Caçada
olhou para o relógio que estava na parede e pelo tempo que viu fez alguns
cálculos para descobrir onde Leonardo poderia estar naquela hora. A
partir deste resultado ela poderia protegê-lo e ganhar mais tempo.
- O que você gostaria de saber Plumann?
- Qual o nome do piloto que levou Leonardo embora. Só isto
por enquanto.
- E se eu não disser?
- Bem... você estará em custódia como cúmplice do assassinato,
algo que você não quer no seu ID. E pode ter certeza que farei o mundo
inteiro saber com letras garrafais.
- Kevin. Kevin Guidsen. Disse Jéssica, gaguejando.
- Não saia daí, eu tenho algo a procurar.
Plumann saiu da sala e ligou para o seu assistente dizendo para
que este procurasse por Kevin Guidsen o mais rápido possível.
Jude chegou na base e foi recebido pelo sargento. Se
cumprimentaram e foram à cena do crime, onde ele foi atualizado
sobre tudo que aconteceu. O seu maior espanto foi quando soube
que as impressões e DNA do suspeito foram destruídos do sistema,
achou este fato muito estranho. Ao chegar ao local do crime, analisou
cuidadosamente o sangue no chão, os objetos usados, olhou os móveis e
depois de uma análise pediu para ver os corpos.
Os corpos de Toth e do segurança foram levados a sala de
análise. Ao chegar lá perguntou se podia olhar atentamente os corpos e o
sargento autorizou. O inspetor levantou o plástico e olhou um homem
com sangue na boca e no pescoço. Colocou luvas de borracha e pediu
uma pinça. Olhou atentamente tudo, aparentemente o homem morreu
sufocado pois o pescoço estava roxo. Olhou as mãos, não havendo sinal
de luta. Abriu a boca do corpo e viu dois dentes quebrados e alguns
outros já na parte interna da boca. Confirmou que havia sido esmurrado
na boca conforme o sargento havia desconfiado. Jude pensou que havia
sido um soco muito forte. Abriu os olhos, investigou o ouvido, e o peito
procurando lesões. Depois cobriu o corpo de Toth e olhou o corpo do
segurança. Tudo que o sargento havia lhe dito, foi percebido por ele
65
A Caçada
também, mas havia algo que não cheirava bem naquela história. Duas
coisas não se encaixavam de tudo que o sargento havia contado. Uma era
a questão do DNA, a outra...
- Gostaria de falar com o Sr. Plumann. Disse Chapman ao
sargento.
- Sim senhor, vou falar com o assistente dele.
O Sargento saiu e procurou Antony, este já ia ter com Plumann
um encontro sobre a pesquisa do piloto foi informado sobre a necessidade
de reunião entre o inspetor e o CEO. Antony chegou na sala de Plumann,
este estava marcando uma coletiva de imprensa.
- Sr. Plumann, descobrimos que Kevin Guidsen está neste
momento sobrevoando os Estados Unidos, provavelmente indo para o
aeroporto espacial Renata Toth, que é o único que recebe naves deste
porte nos EUA.
- Eu sei, ele deve estar voltando para a casa de Toth. Eu quero
que mande uma equipe para o aeroporto e vasculhem a nave. Há alguma
evidência de descida de paraquedas na região?
- Não senhor, analisamos todas as pessoas da região, nenhuma
menciona a visão de pára-quedas no céu. E não tem como eles terem feito
isto antes devido à altitude da nave.
- Acredito que Jéssica mentiu para mim. Quero que a equipe
verifique. Eles devem estar nesta nave, mas é provável que tenha outra
nave nesta história toda. Verifique todos os aeroportos que recebem
naves espaciais de porte pequeno e quero unidades em todas elas. Muito
obrigado.
- Há outra coisa Sr. Toth. O inspetor Jude Chapman está aqui e
quer falar com o senhor.
- O que o inspetor está fazendo aqui? Disse Plumann com um
tom mais agressivo.
- O sargento encarregado para a investigação o chamou para
ajudá-lo. E ele quer falar pessoalmente com o senhor.
- Leve-o para a sala de reunião 2. Peça para Jéssica ir para lá
também. Eu já estou indo.
- Sim senhor.
66
A Caçada
Plumann pôs a mão no rosto e pensava que o inspetor poderia
tornar sua vida um inferno. Plumann estava confiante, pois nada culpava
ele, a amostra de tecido encontrado na boca de Toth havia sido levada a
sala de exame de DNA e o resultado seria obviamente de um indivíduo
desconhecido, já que o DNA e as digitais de Plumann não estavam
no sistema por motivos de segurança própria. Todos achariam que se
tratada das digitais de Leonardo, da qual o próprio Plumann disse que
não estavam no sistema. Mesmo com esta tranquilidade, a presença do
inspetor o incomodava demais. Plumann fez algumas ligações e foi para
a sala de reunião.
Chegando na sala de reunião, estavam sentados na mesa o
inspetor, o sargento, seu assistente e Jéssica. Cumprimentou os dois de
longe.
- Bem inspetor, o meu assistente Antony o senhor já conhece
e esta é a secretária pessoal de Plumann, Jéssica. Vocês já devem ter se
falado hoje. Em que lhe posso ser útil, inspetor?
- Bem, eu estive olhando a cena do crime e os corpos. Foi o
senhor mesmo quem os encontrou?
- Sim fui eu.
- Você mexeu em algum dos corpos?
- Não. Quando entrei na sala os corpos estavam caídos. Assim
que os vi, liguei para que mandassem o pessoal averiguar.
- Uma coisa que me deixou curioso foram as câmeras de
segurança estarem desligadas. Porquê?
- Era eclipse, a energia precisa ser poupada, alguns setores tem
suas câmeras desligadas.
- Mas o fato ocorreu após o eclipse, ao meu ver a energia estava
estabilizada. Conforme disse o sargento, não foi mesmo pelas câmeras,
que vocês descobriram que o tal Leonardo havia fugido. Isto confere?
- Confere sim. Algumas câmeras podem apresentar falhas na
volta, todos os quartos tiveram problemas para as câmeras voltarem.
- Não quero ser indiscreto, mas vocês são uma empresa de
tecnologia, pois nesta situação vocês estão se mostrando um tanto
amadores.
67
A Caçada
- Onde o senhor quer chegar com isto, inspetor? Disse Plumann
começando a ficar nervoso.
- Vocês desligam todas as áreas de segurança, mas mantém um
departamento todo de computadores ligados durante um apagão, o tal
departamento de monitoramento. Um homem, que vocês consideram
louco, conseguiu fugir tão facilmente, e chegar até o dono da empresa.
Ele o mata se passando por um médico, que foi pego numa sala, até então
que ninguém sabe de que. Médico este com uma de seus enfermeiras,
também não sabemos o que fazia com ela ali. E foge na nave principal
do dono da empresa e ninguém viu. É exatamente onde eu quero chegar
com isto senhor Theodore Plumann.
Plumann pensou por um instante, e sabia que ali teria a
oportunidade perfeita para matar dois coelhos em uma paulada só.
- Eu te entendo inspetor. Mas acredito que Leonardo não agiu
sozinho. Eu acredito que ele teve ajuda. Monitoramos na torre, que uma
ligação foi feita ao comandante autorizando a decolagem da nave.
Plumann olhou rapidamente para Jéssica. Quando Plumann
falou isto, o corpo dela gelou.
- Vocês sabem de quem se trata a pessoa? Perguntou o inspetor.
O coração de Jéssica bateu mais rapidamente, se ele falasse ela
iria sair correndo dali.
- Não sei inspetor, mas vamos descobrir. O que sabemos é que é
uma mulher. Gostaria de mais alguma coisa inspetor?
- Não, contigo é só. Gostaria de falar com o médico e depois
com a enfermeira.
- Meu assistente irá providenciar.
Jéssica saiu suando frio em disparada. Os dois deram um aperto
de mãos e Plumann disse para para o assistente ajudar o inspetor em
tudo que precisasse. Após o cumprimento o inspetor sentiu que algo
ficou em sua mão e cheirou. Incomodado, ele se levantou e disse:
- Sr. Plumann, me perdoe. Só mais uma pergunta.
- Sim, pode dizer.
- O senhor é um homem vaidoso?
- Não, infelizmente não tenho tempo pra isto. Por quê?
68
A Caçada
- Por nada, eu... precisava de um desodorante. Não tive tempo
de me aprontar antes de vir para cá. Será que tem como alguém me
providenciar algo assim.
- Providencie isto para ele também. Disse Plumann ao seu
assistente.
A nave chegou ao aeroporto interespacial.
- Chegamos ao destino. Disse o piloto a Leonardo.
- Muito obrigado.
- No saguão há um homem que irá te recepcionar. Ele irá te
perguntar como está o tempo em Georgetown. Você responderá: Não
muito melhor que em Nova Iorque. Assim ele saberá quem é você.
- Pode deixar. Muito obrigado novamente.
Leonardo segurou os braços de Maasti e disse na língua dela a
palavra “acordar”. Ela acordou assustada, mas como Leonardo segurava
seus braços ela não o atacou como fizera antes. Ela, quando percebeu o
cuidado dele até com isto, achou hilário. Ele disse a ela, na língua dela,
novamente a palavra sair e ela entendeu e eles foram para fora da nave.
Maasti ficou impressionada com o número de pessoas que
estavam ali, indo e vindo. Pessoas com as mais diversas roupas, com
sacolas, bolsas, aparelhos na mão. Ela olhou para o outro lado e via
mais e mais pessoas de todas as formas que pudesse imaginar. Leonardo
pediu para ela segui-lo. Vendo que podia perdê-la, Leonardo a segurou
pela mão. Nunca antes um homem lhe fizera este tipo de coisa, ela se
sentia protegida, querida por alguém, mesmo que não pudesse entender
o porquê. Leonardo viu um homem barbado, cabelos na altura do
ombro, com óculos enormes, camiseta, calça jeans e tênis. O homem era
uma figura, mas o que mais lhe chamou a atenção é que na camiseta do
rapaz havia uma pintura de uma íbis descansando à beira do rio Nilo.
Sabia que era aquele o homem. Se aproximou e olhou fixamente para
o homem e este o olhou também. Pareciam que estavam se olhando no
espelho.
- Como está o tempo em Georgetown? Perguntou o homem
- Olha, vou te dizer uma coisa, não muito melhor que em Nova
69
A Caçada
Iorque.
O homem lhe mostrou um sorriso enorme o abraçou bem forte
que quase o amassou.
- Que bom te encontrar! Bem, meu nome é Elias Hunter, vocês
irão ficar comigo. Meu carro está lá fora.
Plumann ao sair da sala, rapidamente procurou Jéssica, ao
encontrá-la a tomou pelo braço, encostou-a na parede, e bem perto dela,
susurrou:
- Agora dona Jéssica, me diga onde Leonardo está?
- Eu não sei onde ele está.
- Ah, sabe sim. Eu sei que você sabe. Desembucha garota ou
aquele inspetor vai descobrir a sua ligação com o crime.
- Eu não sei onde ele está. Só posso lhe dizer que ele pegou outra
nave.
- Isto eu imaginei, mas não me ajuda em nada. Eu quero saber
onde pousará a nave. AGORA!
Jéssica respirou fundo, olhou para baixo e confessou:
- Toth não me contou, mas eu sei que quem está pilotando é
Hugh Clark.
- Era só o que eu precisava saber. Difícil não?
Plumann a soltou, se afastou e começou a sair, antes de virar o
corredor ele virou para Jéssica e lhe disse:
- Espero que tenha se despedido bem do seu namoradinho, pois
quando o encontrarmos, não vai sobrar muita coisa dele.
Jéssica foi arrastando pela parede até sentar no chão chorando.
Plumann tomava outro café enquanto esperava o resultado da
pesquisa sobre o piloto. Neste momento batem na porta. Acreditando que
fosse seu assistente ele autoriza a entrada. Na porta aparece o inspetor.
- Com licença senhor. Eu gostaria de me despedir...
No momento em que o inspetor falava, Anthony entra pela
porta e diz que precisa falar com o Plumann. Plumann pede licença ao
inspetor e diz que vai atender o seu assistente rapidamente.
70
A Caçada
- Sr. Plumann, a nave pousou há 10 minutos no Aeroporto
Internacional Cheddi Jagan em Georgetown.
- Georgetown?!
- Na Guiana, antiga Guiana Inglesa.
- O que Toth fazia na Guiana? Bem, deixe isto pra lá. Eu quero
que você mande uma equipe interceptar Leonardo lá. Envie fotos dele
e da alienígena. Vasculhem toda a cidade, todo o país se possível atrás
deles. Eu quero os dois vivos! Esta palhaçada tem de acabar logo.
Plumann voltou para sua sala. Jude Chapman o aguardava.
Plumann se desculpou.
- Me desculpe, precisava resolver um problema. Onde estávamos?
- Bem, na verdade eu vim aqui só para me despedir. Estarei
realizando uma investigação com tudo o que tenho, o que não é muito.
Mas não há dúvidas de que seja Leonardo, eu só vou descobrir uma
forma de provar. Estarei entrando em contato com o seu pessoal caso
tenha algo novo. Se tiver mais alguma informação, fique com o meu
cartão. O inspetor entregou o cartão a Plumann e saiu da sala.
Chapman passou pelos corredores e foi para a sala de
mapeamento genético e análise de DNA. Chegando lá perguntou pelo
cientista responsável. Este se identificou prontamente.
- Boa noite. O Sr. Plumann pediu que viesse falar com você. Eu
sou o responsável pela investigação da morte do Sr. Toth e precisava que
vocês analisassem a amostra de DNA deste copo de café.
- Preciso ver sua identificação. Procedimento de rotina.
- Aqui está.
O cientista confirmou que era realmente o investigador e pediu
para que ele o acompanhasse.
- Fica pronto em 2 minutos. Você pode esperar aqui.
Jude sentou-se e de novo olhou para o produto que estava nos
seus dedos. Se estivesse realmente certo, ele não sabia o que faria. Após
o tempo de espera, o cientista chegou com o exame de DNA e quando
o inspetor abriu e leu, viu que ele estava certo. Plumann era um dos
principais suspeitos de ter matado Toth.
71
A Caçada
Plumann sentado na sua mesa, estava pensativo. Ele não
acreditava aonde tinha ido para atingir seus objetivos. Questionava se era
preciso de tudo aquilo para salvar o planeta. Sua determinação em fazer
o que ele acreditava ser a obra de Deus de restauração para corrupção da
humanidade parecia estar custando caro. Como um homem religioso,
Plumann cobrava que as outras pessoas fossem como ele. Ele se afastara
da religião e aplicava a si mesmo ser o profeta divino que mudaria o
mundo. Ele se sentia o protetor supremo do planeta e estar na Toth
Corp. era o plano de Deus para isto. Mas o que ele não percebia que
havia a muito tempo se distanciado de tudo que aprendera desde criança.
Ele não tinha mais amor pela raça humana, mas ele os tinha como
robôs que tinham de andar conforme ele queria que fosse. Plumann
confrontava se havia ido longe demais.
No momento que pensava em parar de exageros e mudar de
pensamentos, sentiu sua mão doendo. A força do soco contra Toth fora
grande, e havia lhe machucado muito a mão. Passou o dedo na mão,
que não aparentava a ferida e inchaço pois ele havia passado base na cor
da pele para disfarçar. Logo lhe veio a mente que nunca havia passado
na cabeça usar base na vida. Pensava que não era um homem vaidoso.
Quando seus pensamentos chegaram a esta conclusão, soaram como
sinos na cabeça as palavras do inspetor lhe perguntando se era vaidoso.
Quando passou a mão sobre a base, viu que ela sujava. O inspetor havia
desconfiado. Ligou para o monitoramento e pediu que fossem analisados
os pensamentos do inspetor e que fossem enviados diretamente para ele.
Quando saíram do aeroporto, Elias Hunter pediu que Leonardo
esperasse, pois ele iria pegar o carro. Maasti estava observando tudo
e ficava impressionada de como as coisas eram novas e diferentes de
tudo que havia visto. Ela estava realmente gostando da Terra. Enquanto
esperavam, um furgão parou na porta do aeroporto. Na porta estava o
logo da Toth Corp. Cinco homens saíram do carro. Leonardo abraçou
Maasti como se fossem namorados e sussurrou no ouvido dela “silêncio”.
Os homens passaram, um deles olhou para o casal sem nenhum interesse.
Leonardo observou eles entrarem e ao virar a cabeça ele viu Elias vindo
72
A Caçada
com seu carro. Respirando aliviado ele voltou o olhar para os homens de
Plumann pelo vidro da porta do aeroporto. De repente ele vê o homem
que os observou tirando uma foto do bolso. Leonardo percebe que o
homem olha para foram, mirando o olhar para eles. Quando ele chama
seus companheiros e aponta para fora, Leonardo diz a Maasti:
- Guilet! (Corra!)
Eles correm em direção ao carro de Elias, que estava para encostar
no meio-fio, e pulam no carro.
- Elias, acelere! O pessoal do Plumann já descobriu a gente!
O carro saiu em disparada, enquanto os cinco homens saíam do
aeroporto. Eles entraram no carro e começou uma perseguição.
Plumann recebeu um link por e-mail e assistiu ao momento
em que o inspetor via um exame de DNA escrito: INDIVÍDUO
DESCONHECIDO. Neste momento Plumann olhou para a mesa dele
e viu que seu copo não estava ali. Furioso ele bateu na mesa. Plumann
pensava que o cretino havia percebido que ele passara base na mão para
esconder algo e foi analisar o DNA. Plumann pensou melhor e disse a
si mesmo que o inspetor não poderia provar nada, pois ele não havia
visto nenhum ferimento na mão e nem podia provar que Leonardo era
inocente. Decidiu por momento deixar de lado, mas ficar de olho no
inspetor. Agora ele tinha algo mais importante a fazer: Contar para o
garoto que o avô dele havia sido morto.
Elias virou a esquina com seu Fiat XD300 modelo 2090 e foi
seguido pela van do esquadrão da Toth Corp. Chegavam quase a 200
km/h quando viu na frente um farol. Ele se desviou dos carros quando
o farol ficou amarelo. Ele atravessou a avenida principal de Georgetown
quase batendo em um outro carro. A van, seguindo-o, viu que bateria
em um carro pois seu farol ficara vermelho e entrou pela avenida. O
motorista sabia que lá na frente daria em uma rua sem saída, subiu a
avenida e virou na primeira esquina, quando seguiu pela frente, rua a
rua procuravam o carro com Leonardo até a rua sem saída. O carro
havia desaparecido. Eles seguiram por aquelas ruas várias vezes. Eram
73
A Caçada
ruas antigas, com algumas casas históricas. Quando perceberam que
tinham perdido o carro de vista, Elias já estava chegando do outro lado
da cidade.
No momento que atravessaram a avenida, Leonardo viu que
eles tinham entrado pela mesma avenida para pegá-los lá no final da
rua. Então pediu para Elias dar a ré e voltar para o aeroporto, indo em
direção contrária. Os perseguidores nunca imaginariam que eles haviam
voltado para o mesmo lugar que estavam. Elias gargalhando da escapada
que eles tinham acabado de fazer, disse orgulhoso:
- Agora vocês irão conhecer a minha casa e será um prazer
hospedá-los. Em nome do meu velho amigo Jonathan Toth!
74
Exílio - Parte I
Exílio (Parte I)
Capítulo 08
Ilha Wakenaam, Demerara Ocidental, Guiana.
O carro de Elias atravessou por uma barca especial, o mar que
separava a capital da ilha Wakenaam. Assim que saiu da barca o carro
seguiu por uma estrada pequena. Elias chegou a um portão de madeira,
colocou sua digital e no piso, abaixo do carro, um sistema de scanner
fez uma leitura e encontrou o código do carro. Assim que foi feito esta
leitura o visor autorizou a entrada de Elias e o portão abriu, muros altos
cobriam o terreno. Ele entrou em seu carro e seguiu em frente. Após o
carro passar, imediatamente o portão se fechou.
- Pessoal, aqui é minha humilde casa! Disse Elias indicando uma
mansão enorme.
- Vejo o tamanho da sua humildade. Ironizou Leonardo.
- Vamos entrar.
Todos entraram. Maasti observava tudo com uma curiosidade
enorme. Se Leonardo não estivesse ali, ela sairia correndo. Tudo era novo
e sua mente não conseguia imaginar as coisas que ali estavam. Imaginava
que se tratava do mundo dos deuses ou dos mortos. Ela não conseguia
discernir ainda onde estava e de que forma estava ali. Ainda iria demorar
um pouco até ela entender tudo o que estava se passando. Elias mostrou
os cômodos da casa. No térreo ficavam a cozinha, a sala de jantar, a sala
de estar, um almoxarifado, alguns banheiros e uma enorme escadaria que
os levava para o segundo piso. No andar superior haviam 6 suítes, um
observatório astronômico, uma sacada com vista para a ilha (e mais ao
75
Exílio - Parte I
horizonte o mar), um escritório e um depósito onde ficavam algumas
peças raras. Elias contava aos hóspedes que ali era uma casa de fuga de
Toth. O lugar fora comprado do familiar de um antigo lorde inglês, que
o construíra no século XX quando a Guiana ainda era colônia inglesa.
Durante anos fora usada como um museu. Quando houve o aumento do
nível do oceano, a ilha perdeu muito do seu território, sendo condenada
ao desaparecimento. Elias lembrou que com a ilha desocupada, Toth viu
nela a chance de um lugar onde pudesse fugir caso algo acontecesse com
ele ou com a empresa. Na ilha viviam Elias, entre outras pessoas. Todas,
com excessão de Elias, eram pessoas que não podiam mais se reintegrar
na sociedade, e Toth as acolhia em troca de lealdade.
- E você acha que eles não seriam leais? Antes eram o nada, agora
eles tinham abrigo e um protetor. Dizia Elias.
- O mesmo caso de nós. Completou Leonardo, olhando para
Maasti.
- Bem, vão para os seus quartos, descansem e quando o almoço
estiver pronto nós vamos chamá-los. Se sintam a vontade, a casa é de
vocês também.
Plumann bateu na mesa com força. Ele não acreditava no que
tinha acabado de ouvir. Seu homens tinham Leonardo e a alienígena na
mão e os perderam. Antony o informou que sua equipe notificou todas
as fronteiras da Guiana para vistoriar os carros para que eles não saíssem
dali.
- Acreditamos que eles atravessem a fronteira em direção ao
Brasil. Completou o assistente.
- Se eles chegarem ao Brasil, nós nunca vamos encontrá-los.
Aquela região ao norte do Brasil, além de ter as últimas reservas de
florestas, é um local onde há muitas pessoas que não são monitoradas.
Vamos perdê-los de vez. Quero todas as equipes nas fronteiras. Quero
equipes de prontidão no norte do Brasil, Suriname e Guiana Francesa.
Se possível peçam apoio às autoridades cabíveis. Quero monitoramento
maciço nestas regiões.
- Já estarei requisitando. Disse seu assistente enquanto anotava
76
Exílio - Parte I
tudo. Saindo após.
- Muito obrigado.
Plumann pegou sua Bíblia leu algo e disse pra si mesmo que faria
uma guerra, se preciso, para salvar a humanidade conforme acreditava ser
a vontade divina pra sua vida.
Leonardo saiu de seu quarto, e foi até a sacada, onde Elias estava.
- Elias, estava pensando. Aqui é realmente seguro? Plumann não
nos encontrará aqui?
- Eu acredito que agora é o lugar mais seguro para vocês. Olhe
para os lados. Disse apontando para ao redor da ilha. - Quem nos
procuraria nesta ilha? Leonardo, nós estamos em um país quase que
desconhecido pelo mundo, em uma ilha que foi despovoada, e em um
casarão que ninguém sabe que é habitado. Os soldados de Plumann
devem imaginar que estamos fugindo pros arredores da Guiana, para
o Brasil ou Venezuela, e nunca devem imaginar que estamos a poucos
quilômetros da capital. Eles devem ficar apenas poucos meses, talvez
apenas 2 meses patrulhando a capital até acharem que estamos em outro
lugar do continente. Todos que trabalham aqui são leais a Jonathan
Toth e não a quem comanda a empresa dele. Todos são amigos dele,
não empregados dele. Todos aqui não são monitorados e muito menos
existem pro mundo externo.
- A Adele, nossa cozinheira aqui, nasceu pobre e foi rejeitada pelos
pais. Seus irmãos abusaram dela, foi quando ela fugiu. Toth passeando
com o seu carro a viu cozinhando na rua, sentiu um cheiro bom e depois
ele voltou a pé e conversando com ela, ela dividiu a comida dela com
ele. Ela, que quase não tinha o que comer, dividiu o que possuía para
quem tudo tinha. Ele adorou a comida e a Adele, ele a trouxe pra cá. Por
diversas vezes vinha aqui especialmente pra dividir suas histórias com ela
em agradecimento a um prato de comida que lhe foi oferecido. Hoje, a
Adele toma conta desta casa e é a nossa mãezona. Toth sempre foi um
homem bom. Nós o chamávamos de o “bom samaritano”. Conhece a
história do bom samaritano?
- Esta história é bíblica e qualquer coisa da Bíblia ou de Deus
77
Exílio - Parte I
eu não quero nem saber, não acredito nela, nem em Deus. Deus me
abandonou e não quero falar dele, por favor.
- Tudo bem! Ok! Sem brigas.
Tentando sair daquele assunto, Elias fez uma confissão para
Leonardo.
- Léo, você nem imagina o quanto Toth fala de você. Ele te
elogia, ele tem você como um filho. Ele sente-se orgulhoso de você.
- É, eu não tinha ideia. Quando eu o vi na lua, fingindo estar
louco, pude olhar nos olhos dele, e ele chorava. Eu quase parei na hora e
fui falar com ele. Não entendo o porquê dele nunca ter me contado sobre
este lugar.
- Toth tinha seus segredos. Acho estranho ele não ter ligado
ainda.
- Acredito que ela esteja evitando que Plumann descubra onde
estou. Tenho quase cert...
Enquanto Leonardo ainda falava, Adele com voz de choro
chamou os dois para vir para a sala. Eles a seguiram e ela apontou para a
TV. Na TV o âncora falava sobre a Toth Corporation e no canto superior
a foto de Jonathan Toth. Elias falou para a TV aumentar e eles puderam
ouvir em bom som.
- Os preparativos para o enterro de Jonathan Toth já estão sendo
feitos. Ainda não foi divulgado a causa da morte, mas fontes dizem que
dentre as possibilidades esteja e de assassinato. Jonathan Toth fundou a
Toth Corpor...
Leonardo ficou abalado. Ele estava em choque, mas sua razão
começou a funcionar. Ele foi pensativo para a cozinha. Elias, estava
atônito. Ele quase chorava. Leonardo queria desabar no chão, mas sua
mente, sempre mais forte, pensava como isto poderia ter acontecido.
Olhando para a janela ele começou a organizar seus pensamentos.
- Ele estava vivo quando eu saí de lá. Não creio que seja alguém
da Toth, só pode ter sido alguém de Plumann. Acho que o John foi
tomar alguma atitude. E para piorar, com certeza eu serei o suspeito.
Provavelmente me acus...
Quando Leonardo virou, ainda pensativo, Elias estava vindo que
78
Exílio - Parte I
nem um louco em sua direção com as mãos no seu pescoço, buscando
enforcá-lo. Ele tentava lutar contra o homem, mas era em vão, pois Elias
era mais forte. Elias gritava insistentemente:
- ASSASSINO! ASSASSINO!
Leonardo tenta se livrar do homem, quando, neste momento, ele
vê Maasti correndo e com uma força descomunal tirou o homem do seu
pescoço e deu-lhe um golpe que o deixou desacordado.
Leonardo, ainda assustado, conferiu se Maasti estava bem,
conferiu Elias, que agora estava apenas dormindo. Ele pediu ajuda a
Maasti e eles colocaram o homem no sofá. Leonardo sentou em uma
poltrona e viu na TV uma foto dele próprio. Era uma foto que haviam
tirado quando ele ganhara o Nobel. Leonardo agora estava sendo
procurado por homicídio.
Josh estava no quarto de hóspedes na base lunar da Toth. Ele
chorava enquanto via as fotos do avô em seu iLed. Estava profundamente
triste. A porta bate e ele diz para que a pessoa entrasse. Jéssica entra e o
abraça.
- Eu sei que é muito difícil para você perder seu avô. Mas eu
estou aqui para dar aquela força, você sabe disto não é?
- Eu sei que posso contar com você tia Jejé. Respondeu o garoto.
- Eu odeio quando você me chama de tia, estou tão velha assim?
O garoto soltou uma risada em meio as lágrimas. Ele sorriu para
Jéssica e abaixou a cabeça enquanto limpava as lágrimas do seu rosto.
- Eu não consigo acreditar que meu avô se foi. Se eu pegar este tal
de Leonardo, eu vou acabar com ele! Disse o garoto fechando os punhos,
com muito ódio.
- Eu acho que você não pode pensar assim. Eu não acredito que
tenha sido o Leonardo.
- Jé, tu diz isto porque sempre foi apaixonada por ele.
- Eu já disse que não quero falar sobre isto! Eu digo que não foi
ele porque o conheço muito bem. Leonardo seria incapaz de matar uma
mosca, ainda mais sendo o seu avô e...
- E...?! Replicou o garoto esperando que Jéssica continuasse.
79
Exílio - Parte I
- Eu falei com seu avô depois que Leonardo saiu do quarto dele,
não existe nenhuma possibilidade de ter sido ele.
O garoto olhou para ela assustado e foi logo dizendo:
- Então temos de chamar os investigadores. Temos de descobrir
o culpado e inocentar o rapaz.
- Eu tentei fazer isto, mas não há provas. Disse Jéssica mentindo,
pois na verdade ela não tentou nada por causa de Plumann.
- Eles não podem monitorar o seu cérebro e provar? Indagou o
jovem.
- Josh, preste atenção no que vou te dizer: Ninguém que
trabalhava com seu avô era monitorado. Era uma ordem dele. Então eu
não tenho como provar. Além do mais, Plumann está usando isto como
oportunidade de se vingar de Leonardo.
- Como assim? Não entendo.
- Eu vou te explicar.
Elias se levantou um tanto estranho. Ele viu na sua frente
Maasti olhando para a janela e Leonardo sentado na sua frente olhando
para ele. Maasti pensava se um dia voltaria para casa. Sentia falta da
sua família. Por grande parte da sua vida aquelas mulheres foram sua
família. Mas sua vida estava mudada e ela estava gostando daquilo.
Finalmente acreditava que seu destino não era a guerra e sim a felicidade
de viver. Começava a acreditar que ficaria naquele lugar para sempre
e teria de se adaptar. Desde que fora sequestrada pelo povo da Terra,
ela dificilmente demonstrava espírito de luta, mas estava mais acuada
e pacífica. Seus momentos agressivos tinham sido apenas reflexos de
anos de hormônios à flor da pele. Depois de sua filha, nunca antes
alguém preenchia tantos seus pensamentos como Leonardo preenchia.
Ela se sentia segura com ele. Quando estava perto dele, toda sua força,
sua determinação e sua impavidez eram anuladas, elas eram quebradas.
Maasti se sentia um pequeno pássaro frágil que precisava de proteção.
Leonardo dava aquela proteção. Em um mundo novo, com uma cultura
nova, com novos medos e desafios, ela só tinha ele na vida, e estava
gostando disto. Enquanto pensava nestas coisas, Elias se levantava e foi
80
Exílio - Parte I
dizendo a Leonardo:
- Me desculpe pela minha atitude. Eu estava achando...
- Não precisa se desculpar. Mas eu te pergunto: Por que agora
você está agindo diferente comigo? Até pouco atrás estava me chamando
de assassino e agora me acha inocente? Indagou Leonardo
- Sim, eu acho.
- Por que mudou de ideia? Quando dormiu você sonhou que eu
era inocente? Disse Leonardo com tom de ironia.
- Não. Léo, se você fosse culpado eu não estaria me levantado
agora. Pois se você matou Toth, tão facilmente já teria me matado
também. Me desculpe por duvidar de você.
- Já disse que não precisa se desculpar. Se não fosse por Maasti
eu é quem estaria morto.
- Ela parece que gosta de você. Léo, o conquistador!
Ambos riram um pouco, se levantaram e se abraçaram.
- Léo, você sabe quem poderia ter matado Toth?
- Não sei, mas vou descobrir, nem que seja a última coisa que eu
faça na vida. Só sei de uma coisa.
- O que?
- Plumann está por trás disto, e ele vai pagar por isto. Eu sempre
tentou atrapalhar minha vida, ele nunca gostou de mim.
- Ele te prejudicou Léo?
- Me prejudicou bastante. Nós nunca nos demos bem. Eu
também o prejudiquei de uma certa forma. Mas ele nunca entendeu
realmente o que aconteceu.
- O que aconteceu Léo?
O ano era 2078, Jonathan Toth, o fundador, e na época, o CEO
da Toth Corporation foi verificar a sua base em São Paulo. São Paulo
era na época a terceira maior cidade do mundo, perdia somente para
Nova York e Pequim. Ele havia levado a família toda também para
lá, pois naquela semana faria 10 anos do falecimento de sua esposa,
que estava enterrada na cidade. Toth aproveitaria a viagem para fazer
algumas reuniões, renovar um acordo com os representantes do governo
81
Exílio - Parte I
brasileiro, inaugurar um observatório espacial, como também fazer
uma festa de aniversário para a Renata, sua única filha. Toth saiu de seu
quarto do hotel e descia o elevador. Todos o cumprimentavam, já que ele
era também o dono do hotel. O seu motorista o esperava. Seu homem
leal na época era “a lenda” Joseph Smith. Toth, ao sair da porta do hotel,
deu de cara com Joseph e sua pequena filha de 10 anos. A menina veio
correndo abraçá-lo.
- Jéssica! Minha querida! O que você faz aqui? Veio passear com
o tio John?
- Sim! Isto é para você. Disse Jéssica entregando a Toth um
pássaro feito de papel.
- Olha que lindo!
- Aprendi a fazer na internet, é um origami.
- Muito obrigado! vamos lá? Vamos logo pois seu pai está todo
acelerado porque eu estou atrasado.
- Papai vive agitando as coisas. Em casa... aqui. Sabe como é, né?!
Toth riu, cumprimentou Joseph e o motorista. O carro saiu.
Joseph já de imediato foi se explicando para Toth:
- Me desculpe, mas a Jéssica insistiu para te ver.
- Joseph, você não precisa se desculpar. O que a coitadinha iria
ficar fazendo no hotel sozinha? Foi bom tê-la trazido para esta viagem.
Eu adoro a companhia dela. Um dia, espero que ela possa trabalhar pra
mim na empresa.
- Vou ganhar muito dinheiro pra comprar roupa! Completou a
menina.
- É este o pensamento. Mas além das compras, nós vamos mudar
o mundo. Disse Toth colocando a mão na cabeça dela.
O jovem estava nervoso na sala de espera. Na sua mão estava
um portfólio, seu currículo e um livro. Pensava que apesar de ser mais
uma tentativa, toda tentativa traz uma chance, e toda a chance traz a
possibilidade de vencer. Ignorar esta possibilidade era pior do que a
própria morte. No auge dos seus 20 anos, o jovem nem poderia pensar
em perder. Odiava perder. Pegou seu livro e se pôs a folheá-lo. Ele parou
82
Exílio - Parte I
em uma página. Diretamente leu uma parte do livro: “Uns confiam em
carros, outros em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em nome do
Senhor, nosso Deus.1” Olhou para o canto e viu que estava em Salmos,
no capítulo 20. Com o livro aberto, ele olhou para a frente. Havia um
vidro enorme que dava de frente para a enorme cidade chamada São
Paulo. Ele respirou fundo e fechou os olhos.
- Senhor Deus, o primeiro e o único Deus, eu confio em Ti e tu
és a razão da minha vida. Eu preciso de Ti. Eu preciso de um milagre. Já
é a décima vez que eu venho aqui e não consigo entrar nesta empresa. Tu
sabes que eu quero esta chance. Tu não me criaste com inteligência para
viver na mediocridade. Eu quero mudar a vida das pessoas. Eu quero ser
seu instrumento. Eu quero te glorificar. Não porque sou inteligente, mas
porque tu me deste inteligência. Não porque sou forte, mas porque tu
me deste força. Não porque sou saudável, mas pela saúde que também
deu pra mim. Não porque eu existo, mas porque tu me criou. Eu preciso
desesperadamente de um milagre, e só tu pode fazer um milagre. Mesmo
assim, se não o fizer, eu confiarei em Ti. Amém.
O jovem abriu os olhos bem devagar, respirou mais uma vez e
começou a levantar e soltar as pontas das páginas da Bíblia que carregava
desde a infância. Alguns minutos depois ele ouve chamar o seu nome.
- Senhor Leonardo Melo Silva, o senhor Oliveira o espera na sala
25 do 11º andar. O senhor sabe onde é?
- Sei sim, já estive lá várias vezes. A recepcionista riu e Leonardo
foi para a entrevista.
Toth percebeu que algo estava errado e perguntou a Joseph onde
estavam indo.
- Senhor Toth, estamos indo para o Ibirapuera inaugurar o novo
observatório espacial. Lá estará o presidente brasileiro Luís Carlos Santos
e também o governador paulista.
- Joseph, antes de ir quero passar na empresa. Preciso fazer algo
lá.
- Mas senhor Toth, já estamos atrasados!
- Não estamos. Eles podem esperar mais 10 minutos.
1. Salmos 20:7
83
Exílio - Parte I
- O que o senhor pretende fazer lá? Disse Smith com cara de
bravo.
- Coisas, Joseph... coisas.
Leonardo chegou na sala e na porta um homem o esperava.
O homem era Marcos Oliveira, diretor de pesquisas científicas da Toth
Corporation. Já era a segunda vez que ele iria entrevistar Leonardo, que
insistentemente vinha ali fazer entrevistas. Outros diretores e gestores já
conheciam bem o rapaz, e não aguentavam mais ele ir ali. Marcos nem
fez questão de deixar o moço entrar, ele já ficou na porta e começou a
dizer:
- Me perdoe senhor Leonardo. Tenho visto sua trajetória, você
é um homem com um currículo invejável, trabalha em uma empresa
incrível no ramo de pesquisas e ficamos muito contentes que queira
trabalhar em nossa empresa. Mas infelizmente nós precisamos de
pesquisadores na área de bioquímica. Você já sabe que estamos satisfeitos
com nossos neurocientistas, então não temos vagas. Admiramos sua
persistência, mas infelizmente não há vagas para você aqui.
Leonardo consentiu com a cabeça e foi embora. Antes de chegar
ao elevador, extremamente desapontado, encostou na parede e chorando,
reclamou:
- Por que Deus? Será que estou fazendo o que é certo? Eu tenho
feito as coisas certas contigo? Eu sei que Tu podes fazer o impossível, mas
parece que não quer! Muitas vezes sinto que não podes fazer nada!
Leonardo pensou um pouquinho e sabia que estava sendo
injusto com Deus e ao apertar o botão para descer o elevador, disse:
- Me perdoe Deus, eu sei que posso confiar em Ti. Vou esperar o
seu tempo.
Toth chegou na empresa, cumprimentou a recepcionista, viu um
jovem sentado na sala de espera lendo, pegou o elevador e foi até sua
sala no 22º andar. Na sua sala pegou um embrulho. Era um presente
que comprou no dia anterior. Procurou a sua agenda e fez uma ligação.
Após terminar a conversa, Toth chamou o elevador e assim que este
84
Exílio - Parte I
chegou, ele entrou. O elevador desceu e quando chegou no 11º andar, ele
parou. Ao abrir a porta um jovem estava na sua frente. O jovem entrou
com a cabeça baixa. Ele sem olhar pra quem estava ali, apertou o térreo,
não percebendo que este já havia sido pressionado e enfim, encostou do
outro lado da porta, suspirando. Toth olhou o jovem e não pode perder
a oportunidade.
- Rapaz, não fique triste, ela vai voltar pra ti.
- Desculpe, mas eu não levei nenhum fora. Só estou frustrado.
Respondeu Leonardo.
- Pense positivamente. Como um jovem que tem fé pode perdê-la
tão facilmente?
Leonardo olhou pela primeira vez para o homem, se perguntando
aonde ele queria chegar.
- Eu vi você lendo a Bíblia lá embaixo.
Leonardo entendeu, pensou por 5 segundos e disse:
- Até que o senhor é bem observador pra quem se lembrou agora
pouco do aniversário da filha.
Agora Toth olhou para o jovem pensando como ele sabia
daquilo.
- Bem, tenho 5 andares pra te explicar. Então vamos lá. Você
chegou e passou no saguão, como disseste, enquanto eu lia a Bíblia.
Analisando que li apenas um versículo, então você passou por lá há, mais
ou menos, 10 minutos atrás. Foi o tempo de eu fazer a minha mais curta
entrevista da história...
- Bem, como ass...
- Calma! Tem mais! Você, pelo seu terno de 5000 dólares e
sotaque americano, deve ser um dos diretores desta empresa. Pra você
estar aqui e não na inauguração do observatório, que já começou para
sua informação, deve ter se lembrado no caminho que era aniversário de
alguém muito importante. Pelas cores do embrulho, bem feminino por
sinal, o presente é para uma mulher. Vejo que não usa aliança, então me
sobram as alternativas: filha ou namorada. Se fosse namorada, você a
convidaria para jantar à noite e não precisaria de tão urgentemente pegar
o presente. Acredito que seja sua filha por mais um motivo. O embrulho
85
Exílio - Parte I
que a sua secretária escolheu é um tanto infantil e delicado, o cartão com
cores mais suaves e femininas, diferente das cores fortes e sensuais que
daria para uma namorada. Isto demonstra que sua secretária é um tanto
óbvia. E isto também significa que o presente é para alguém com um
laço familiar mais terno. Outra coisa que notei é que se fosse para sua
namorada, você não desviaria todo o caminho para buscar o presente
maaaaaaas, para uma filha você, com certeza, mudaria toda a rota. Isto
mostra que você a ama demais, é ciumento, e provavelmente ela esteja
solteira ainda. Bem... acho que é isto.
Quando Leonardo terminou, eles estavam parados no térreo no
prédio. Toth estava sem palavras, mas ele não podia ficar por baixo na
conversa.
- Você me surpreendeu, mas errou em uma coisa.
- No que? Sua filha é casada? Sua filha... ééééééé um filho?
- Não. Nem um, nem outro. O fato é que eu não sou diretor
daqui. Eu sou o dono.
- Senhor... Jonathan Toth?! Disse Leonardo não acreditando no
que estava ouvindo. Toth parecia tão diferente nas fotos! Leonardo estava
atônito.
- Bem rapaz. Acabou sua entrevista! Te pergunto: você recusaria
me acompanhar na inauguração do observatório?
- Nunca recusaria.
- Sabia que você diria isto! Vamos lá que eu quero saber como
posso te usar na minha empresa.
Leonardo olhou para cima e disse bem baixo:
- Obrigado meu Deus!
Leonardo acompanhou Toth e entrou no carro. Amistosamente
Jéssica o cumprimentou. Leonardo respondeu educadamente. A garota
ficou encantada com a educação do jovem. Joseph o cumprimentou e
Toth apresentou Leonardo aos dois. No caminho Leonardo contou que
era médico e cientista especialista nos estudos do cérebro humano. Tanto
Joseph, como Jéssica e até o próprio Toth ficaram impressionados com o
carisma e a inteligência do rapaz.
86
Exílio - Parte I
O motorista entrou pelo portão e chegou no Ibirapuera.
Toth desceu, após ele Joseph, Jéssica e Leonardo. O Presidente estava
discursando no momento. Todos ouviram atentos. Jéssica olhava para
o evento, mas ficava observando Leonardo. Ela ficava admirada com
aquele jovem, sentia-se encantada com ele. O governador discursou
após o presidente e quando terminou, Toth, que estava por ali perto,
fez um discurso e foi muito aplaudido. Ele desceu e foi parabenizado
por Leonardo. Enquanto este ainda falava com Toth, ele viu uma jovem,
praticamente da sua idade, vindo em direção a Toth e beijando-o no rosto
após.
- Papai, você foi ótimo!
- Não fui nada, eu esqueci metade do que ia falar. Renata, eu
quero te apresentar alguém que conheci hoje. Este é Leonardo Melo Silva.
Renata olhou para Leonardo e o cumprimentou com a mão.
Ele a cumprimentou, meio atônito com a beleza e simpatia da moça.
Ela o fitava. Era um jovem bonito e parecia amistoso. Renata ficou
bastante interessada em saber quem era aquele rapaz, pois seu pai não
confiava tão rapidamente em alguém sem saber algo mais profundo da
pessoa. Quando ele confiava, a pessoa era tida como um amigo, mas ele
demorava muito para criar laços mais fortes, mas com Leonardo a coisa
era diferente. O pai dela o tratava como um amigo de longa data. Renata
ficava surpresa em ver que alguém que ele conheceu naquele mesmo dia
já parecia possuir o agrado de pai.
- Então Leonardo, o que você aprontou pro papai te sequestrar
pra este evento chato?
- Não, eu não aprontei nada. Disse Leonardo, ainda um tanto
tímido por causa da moça, mas continuou: - Eu fiz a mais curta entrevista
da minha vida com o seu pai.
- Ah é papai?!
- Sim é verdade!
- Quanto tempo durou Leonardo?
- 11 andares.
- Uau. Como assim?
- Bem, talvez eu te conte um dia.
87
Exílio - Parte I
- Ah, vai ficar de mistério comigo então? Talvez um dia eu te
perdoe por isto.
- Ah, você perdoa sim. Uma vez ouvi que quem é o maior
beneficiado com o perdão é quem perdoa, pois encontra a paz de espírito.
Não me lembro onde ouvi isto, mas sei que você vai me perdoar, senão
eu vou ficar te atormentando.
- Nossa! Que lindo aquilo que você disse. Você teria coragem de
atormentar uma moça tão boazinha como eu?
- Boazinha, mas não quer me perdoar, que “boazinha” viu?!
Renata começou a rir do comentário dele. Leonardo também riu
e depois disse sorrindo:
- Seria um prazer atormentar os pensamentos de uma pessoa tão
adorável como você.
Renata ficou vermelha com o elogio. Leonardo estava encantado
com aquela mulher como nunca esteve por nenhuma outra. Os dois se
fitaram por alguns segundos. Parecia que se conheciam há muito tempo.
Havia algo nele que ela não podia explicar. Enquanto se entreolhavam
um homem jovem, mais alto e um pouco mais velho chegou. Ele se
aproximou de Renata e deu um beijo nela e cumprimentou Toth. Toth
falou para Leonardo:
- Leonardo, este é o namorado da minha filha, Theodore
Plumann. Plumann trabalha comigo, organizando os eventos da empresa.
Os dois se cumprimentaram, Renata deixou de olhar Leonardo,
um tanto sem graça. Toth explicou a Plumann sobre o jovem rapaz ali:
- Leonardo vai trabalhar comigo no departamento de pesquisas
cerebrais. Quero incluí-lo no projeto de estudo e mapeamento cerebral.
Leonardo olhou assustado para o dono da empresa, pois não
sabia de nada disto, mas ficou calado. Plumann olhou para o jovem e o
cumprimentou.
- Então Leonardo, seja bem-vindo à empresa!
88
Amor e Ressentimento
Amor e
Ressentimento
Capítulo 09
Hospital Albert Einstein, São Paulo, Brasil, 2082
Leonardo estava concentrado. Ele examinava o raio-x de um
paciente. Verificou que havia uma mancha na parte lateral esquerda do
cérebro do mesmo. Provavelmente um coágulo. Falou para a sua assistente
preparar o paciente para fazer uma análise intracranial. Esta análise
consistia de uma sonda, tão fina quanto um fio de cabelo, que enraria
no corpo e fazer medições e análise de massa e enviar imagens para o
computador de Leonardo. Era um exame de rotina com uma tecnologia
que Leonardo havia desenvolvido com a Toth Corporation. Leonardo
tinha como principal função a de direção de mapeamento cerebral da
Toth, mas também trabalhava com a equipe de diagnósticos do Hospital.
Enquanto preenchia algumas papeladas, o seu iPhone informa que há
uma mensagem. Leonardo não gostava dos pequenos celulares intraauriculares que estavam em moda. Quando foi verificar a mensagem,
viu que era de Renata. Parou, olhou para a janela, respirou fundo e
viu a mensagem: “Oi querido! Estou em São Paulo! Queria conversar
contigo. Quando podemos nos ver?” Ele prontamente respondeu: “Estou
no hospital. Vamos jantar juntos? 20h no La SPanza” Leonardo olhou
para cima, como costumeiramente fazia, e disse, rindo:
- Deus, o que você está me aprontando?
89
Amor e Ressentimento
Leonardo saiu do trabalho, passou no seu apartamento, se
arrumou e foi rumo ao restaurante. Ao chegar, o manobrista levou seu
carro e ele entrou. O restaurante era decorado em estilo rústico, de muito
bom gosto. Pequenas mudas de Ipê, árvore nativa brasileira, e alguns
girassóis deixavam o lugar maravilhoso. A iluminação era colocada em
pontos estratégicos, não permitindo que o lugar ficasse extremamente
iluminado, tornando o ambiente mais romântico. Leonardo almoçava
muitas vezes ali mesmo, mas a última vez que estivera ali acompanhado,
foi quando levou uma antiga namorada na época em que estudava
medicina. Muitos casais jantavam naquele lugar, que era um dos mais
requisitados da região. Leonardo tinha amizade com o dono do lugar, que
também era seu paciente, então poderia pedir a mesa que quisesse, no dia
que quisesse, pois não haveria problemas. Leonardo chegou na recepção e
disse que havia reservado uma mesa e o maitre o acompanhou. Ele sentou
e esperou. Ele estava nervoso. Havia três anos que ele não via Renata. A
última vez que a vira, fora na mesma semana que a conheceu, na sua
festa de aniversário. Apesar disto eles sempre conversavam por telefone
e por eMessage, mas ela sempre estava longe, trabalhando com seu pai
em Nova York, ou viajando. Ela já havia morado na Alemanha, França,
Noruega e participado de missões nas Filipinas e no Zimbábue. Mesmo
assim eles nunca deixaram de se falar. Leonardo havia se apaixonado
por ela, e sabia que ela era muito carinhosa com ele, mas ele não tinha
ideia do que era. Será que ela sabia que ele gostava dela? Era só amizade?
Ele não queria só amizade. Ela também gostava dele, mas ainda não
havia percebido o quanto. Ele a tinha ajudado mesmo quando estavam
distantes. Nos momentos difíceis, nas horas em que ela precisava, ele
sempre estava ao lado dela, dando forças e ajudando-a a se fortalecer. Ele
dizia coisas que fortaleciam a fé dela em Deus, e aquilo impressionava
Renata. Era um homem da qual ela admirava e deslumbrava. Ele tinha
tanto carinho por ela e a amava muito, mas nunca tinha conseguido se
declarar.
Enquanto girava o iPhone em cima da mesa para passar a
ansiedade, Leonardo viu Renata chegar. Para ele, ela era a mais bonita
mulher que existia no mundo. Ela estava deslumbrante. Seus cabelos
90
Amor e Ressentimento
loiros soltos, se destacam de longe. Ela o procurava, mas não o via. Foi à
recepção e quando o maitre olhou para a mesa, ela finalmente o viu e os
olhos deles se cruzaram. Renata deu um sorriso estonteante, e seguindo
o maitre não deixava de olhar para ele. Leonardo se levantou e esperou
por ela, com cara de bobo, admirado pela mulher. Ele estava encantado e
quando já estavam perto um do outro, nenhum dos dois sabiam direito
o que fazer e ficaram se entreolhando e sorrindo, quando ela o abraçou.
A saudade era tamanha que ficaram quase dois minutos ali abraçados
dizendo o quanto tempo não se viam, o quanto estavam com saudades e
se elogiando. Depois sentaram e, após fazer o pedido, Leonardo decidiu
conversar.
- Então Rê, você me surpreendeu com sua mensagem. Me diz,
tem alguma coisa acontecendo contigo?
- Ah Léo, eu estou tão desanimada com as coisas. Como você
sabe, eu não estou mais com o Plumann faz um tempo. Como eu
te disse, ele é uma pessoa maravilhosa, mas ele não tem limites. Ele
parece obcecado por mim. Eu não posso fazer nada sem que ele esteja
praticamente me monitorando. Ele vigia meu celular, quer minha senha
do e-mail. Fica pedindo pra eu me afastar das pessoas. Sabia que ele tinha
ciúmes de você?
- Eu imaginava. Ele não gostava muito quando eu estava por
perto. A cara dele não negava. Disse Leonardo rindo.
- Eu estava cansada disto tudo.
- Rê, você o amava?
- Ah... Renata pensou por um momento e com cara de tristeza
disse: - Não sei. Talvez sim, talvez não. Deixa isto pra lá, o importante é
que eu estou aqui contigo, você sempre me ajuda e me faz rir, sabia?
- Quer dizer que eu sou seu palhaço pessoal?
- Não! Disse ela rindo após. - Claro que não! Você me faz bem,
me faz feliz.
- Muito bom saber disto! Disse ele fitando os olhos dela.
- Gosto de te fazer feliz, sempre.
Leonardo sentia por dentro uma vontade de dizer que a amava
muito. Ele queria contar que sempre foi apaixonado por ela e que
91
Amor e Ressentimento
precisava tê-la na sua vida, mas a comida chegou. Eles começaram a comer
e conversaram mais ainda. Falaram de coisas do dia a dia e da empresa.
Falaram de coisas engraçadas que haviam acontecido. Leonardo, sempre
com simpatia e um pouco de ironia fazia ela rir muito. Ela sempre ria
de qualquer coisa que ele dissesse. Ele a elogiava, ela ficava vermelha,
agradecia, mas sempre mudava de assunto. Foram duas horas de boa
conversa e risadas. Estavam muito contentes. Quando terminaram ficou
um silêncio no ar, e Renata começou a pensar em algumas coisas, enfim
desabafou:
- Léo, às vezes eu sinto tanto medo.
- Medo de que?
- De tudo não dar certo. Medo de não ser tão boa quanto o meu
pai... de não ser feliz.
Leonardo segurou a mão dela e disse:
- Vai dar tudo certo. Eu sempre estarei ao seu lado e sei que você
será feliz. Você nunca estará sozinha. Você tem Deus, e você sabe que tem
a mim também. Não vou deixar você ser infeliz.
Renata sorriu e agradeceu.
- Sabe Léo, eu não entendo que você esteja sozinho. Você é uma
pessoa tão incrível, tão atenciosa, tão carinhosa. Eu te admiro muito
sabia? A mulher que ficar ao teu lado será muito feliz.
Leonardo ficou um tanto sentido pois, ao Renata falar assim,
dava a impressão que ela não se colocava como alguém que estava
interessada nele. Por mais que ainda tivessem uma amizade, ele não
gostava de ser visto como um amigo. Ele nunca a chamou de amiga.
Pensou melhor e ele decidiu reverter a situação.
- Eu não tenho ninguém porque não apareceu a pessoa certa.
Alguém incrível, carinhosa, divertida, que amasse a Deus, humilde,
linda, inteligente, sincera. Alguém assim como você.
Renata olhou para ele com espanto. O que ele estava querendo
dizer? Ela ficou tímida e tentou entender.
- Ah Léo, você sempre brincando. Você está brincando não é?
- Não Rê, você é a pessoa que eu sempre sonhei na minha vida.
Renata olhou pra baixo. Ela não sabia o que responder. Ela
92
Amor e Ressentimento
gostava dele também, mas nunca tinha imaginado que ele gostava
dela. Sempre achou que as indiretas eram apenas brincadeiras. Como
não podia vê-lo, pois viviam distantes, ela não levava para o lado
romântico os elogios e o carinho que ele demonstrava, mesmo que em
seu coração ela sentisse que ele era alguém muito especial e interessante.
Ficou um silêncio no ar. Leonardo, vendo que aquilo tinha quebrado
a noite, decidiu pedir a conta. Quando chegou a mesma, ele a pagou e
continuaram calados. Estava tocando uma música e Renata, pra mudar
o clima, resolveu mudar de assunto.
- Nossa que música bonita, Leonardo! Quem a canta?
- É uma cantora brasileira do início do século. Chama-se Ana
Carolina.
- Léo, traduz pra mim?
- Sério? Mas eu pensei que você tinha aprendido português com
sua mãe!
- Sei até falar algumas coisas, mas de ouvir sou péssima. Ah, mas
eu quero que você traduza pra mim! Vai Léo, traduz pra mim! Vai! Vai!
Renata ficou insistindo.
- Ai, ai. O que eu não faço por estas minhas fãs?
Renata riu e logo disparou:
- Convencido!
- Opa! Sou mesmo, mas bem que você gosta. Riram mais ainda. - Bem, o verso vai repetir. Um minuto só que já vou traduzir.
Renata colocou os cotovelos na mesa, e apoiou sua cabeça nas
mãos e ficou olhando Leonardo tentando encontrar o momento certo
da música repetir. Ela o admirava. Ele olhou nos olhos dela e, com um
sinal mostrava que já ia começar a parte certa, ele foi traduzindo:
- Eu não vim aqui
pra entender
ou explicar,
nem pedir nada pra mim...
Renata sorria vendo-o traduzir.
- Não quero nada pra mim.
Eu vim pelo que sei.
93
Amor e Ressentimento
E pelo que sei
Você gosta de mim
É por isto que eu vim...
Renata percebeu que ele não estava só traduzindo, mas dizendo
isto pra ela, pela forma que ele a olhava e dizia. Ela diminuiu o sorriso
e estava começando a se sentir sem graça. Ela percebeu que não era
brincadeira, ele realmente gostava dela.
- Eu não quero cantar pra ninguém a canção
que eu fiz pra você,
que eu guardei pra você.
Pra você não esquecer
que eu tenho um coração
e é seu.
Renata não queria acreditar no que ouvia, ela não sabia o que
fazer.
- E tudo mais que eu tenho...
- Para Leonardo...
- Tenho tempo de sobr...
- Para, por favor!
Leonardo parou e viu Renata totalmente desconcertada. Ela se
levantou, pegou sua bolsa e saiu pela porta. Ele a seguiu. Ele a chamou,
mas ela continuou indo. Ele a segurou pelo braço e ela se virou.
- Eu não posso Léo. Eu não posso.
- Renata, eu sou apaixonado por você, desde o dia em que te
vi pela primeira vez. Eu sempre respeitei nossa amizade, mas tem sido
difícil guardar o que sinto por você. Você nem imagina o que sinto
quando estou contigo, quando falo contigo. É algo único. Nunca conheci
alguém como você e talvez eu nunca encontre.
- Léo, eu também te admiro. Eu gosto de você. Mas não tem
como dar certo. Nós somos muito diferentes. Nossas ideologias, nossas
religiões, nós vivemos muito longe um do outro. Não vou negar que eu
gostaria de ter você na minha vida. Você me faz sentir amada e querida.
Você me faz muito bem. Eu penso muitas vezes em estar com você, eu
penso muito sobre isto pois eu também sinto algo diferente quando falo
94
Amor e Ressentimento
contigo, mas eu não alimento isto pois sei que seria muito complicado.
Eu vejo em você algo que não vejo em nenhuma outra pessoa, mas Léo...
é complicado demais. É difícil eu te explicar.
- Eu entendo e te respeito. Eu não aceitos estas dificuldades, mas
eu não quero te forçar a algo que você não quer.
Renata colocou a mão no rosto dele.
- Léo, olha pra mim. Pelo contrário. Eu quero, eu quero muito,
mas não posso. Acho que eu sempre gostei de você. Você me encantou
desde o primeiro dia, mas eu não posso.
- Tudo bem minha linda. Disse Leonardo dando um sorriso de
consentimento.
- Eu vou. Depois nos falamos querido.
Ela lhe beijou o rosto, e ele segurou a mão dela, ela foi se
afastando olhando pra ele, mas suas mãos não se soltavam. Quando não
podiam mais, suas mãos foram se soltando aos poucos, se separando
dedo por dedo, enquanto se olhavam e ela entrou no carro dela, da qual
o choffer trouxe rapidamente. Ele ficou parado na porta, até ela virar a
esquina e sumir.
Renata virou a esquina. Ela estava ainda muito atordoada. Ela
começou a soltar algumas lágrimas, num misto de alegria e medo. Era
tudo que ela sonhava, mas ela não queria se envolver, tinha medo de
perder a amizade de Leonardo, pois ele era muito importante na vida
dela. Ela tinha medo, mas ao mesmo, tempo estava muito feliz. As
diferenças deles eram enormes, mas saber que aquela pessoa tão especial
gostava dela era algo incrível. Ela queria muito estar ao lado dele, mas
não conseguia acreditar que podia dar certo. Ela tinha muito medo, mas
não entendia o porquê.
Jorge havia bebido demais. Ele tinha saído de um happy hour
com os amigos. Ele pegou sua Picape e começou a dirigir. Ele estava tão
bêbado que estava confundindo tudo. O carro morreu duas vezes. Decidiu
pisar no acelerador e chegar logo em casa. Começou a correr muito.
Quase bateu em um outro carro. Depois de ser xingado, continuou.
95
Amor e Ressentimento
Quando seguia em frente viu o farol amarelo e correu mais. Ele passaria
um pouco o vermelho, mas não perderia tempo, vai que uma blitz o
pega, pensava isto enquanto o carro ziguizagueava na avenida. Quando
foi cruzar a rua, viu um carro saindo da esquina e passando na sua frente,
passando o verde. Ele tentou desviar, mas seus sentidos estavam confusos
e foi para cima do carro. O acidente foi forte. O carro que atravessava foi
parar a 100 metros de onde estava. As pessoas se aglomeraram para ver o
que tinha acontecido. Um bombeiro passava pelo local e viu o carro que
recebeu a batida e correu para ver se tinha alguém. Não havia ninguém,
ele deu a volta e viu um corpo estirado no chão, um pouco distante do
carro. Ele chegou perto, viu a pessoa se mexer, foi mais perto ela estava
acordada. Perguntou se estava bem, recebeu um sinal de afirmativo com
a cabeça, bem fraco.
- Qual é o seu nome? Indagou o rapaz.
- Meu nome é Renata Toth. O que aconteceu?
Pela manhã, Plumann estava inspecionando as atividades dos
laboratórios da Toth em Chicago, nos Estados Unidos, quando recebeu
uma ligação de Jonathan Toth.
- Bom dia senhor Toth.
- Ted, fique calmo.
- Eu estou calmo Jonathan. Aconteceu alguma coisa?
- Bem Ted, a Renata sofreu um acidente. Ela está bem, mas...
- Um acidente? Como assim um acidente? Onde ela está?
- Ted, eu pedi pra você ter calma.
Theodore Plumann respirou fundo.
- Ok. Pode dizer.
- Renata sofreu um acidente, um motorista que estava bêbado
bateu nela. Ela está bem. Ela está no Hospital se recuperando. Fizeram
uma cirurgia pra tirar os estilhaços, ela teve uma perfuração no pulmão
e quebrou a perna direita, mas já fizeram a cirurgia e está bem.
- Jonathan, eu quero visitá-la, onde ela está? vou sair daqui ago...
- Ela está em São Paulo, Ted.
- O que ela fazia em SÃO PAULO?
96
Amor e Ressentimento
- Você vai ter calma Ted?
- Me desculpe Jonathan.
- Ela está bem. Ela foi pra São Paulo. Agora Leonardo está
cuidando dela.
- O QUE O LEONARDO ESTÁ FAZENDO COM ELA?
- Ted, eles estavam juntos um pouco antes do acidente.
Plumann ficou em silêncio. Toth percebeu que aquilo mexeu
com o rapaz, mas decidiu prosseguir.
- Eu vou para São Paulo em duas horas, você quer vir comigo?
Plumann queria dizer sim, queria ir, precisava ir, mas só de
pensar que Leonardo estava lá, e que ele estava com ela, ele respondeu
negativamente e completou:
- Eu vou cuidar das coisas aqui pro senhor. Alguém precisa
cuidar da empresa pra ti. Pode ir.
Toth desligou o telefone, mas sabia que aquilo deixou Plumann
extremamente mexido. Mesmo tendo deixado Leonardo e Plumann bem
distantes do outro, eles ainda se rivalizavam grandemente. Os dois eram
as estrelas em ascensão da empresa. Toth sabia que os dois jovens eram o
futuro da Corporação, mas os dois não se davam muito bem. Plumann
era um homem extremamente ciumento e colérico, o que não combinava
com a sinceridade e simpatia de Leonardo. E quando o assunto era a
sua filha, a coisa ficava feia. Leonardo era bem mais compreensivo que
Plumann. Toth imaginou que o “estavam juntos” dito por ele, deu a
entender que eles estavam se relacionando.
O rosto estava todo machucado, mas eram apenas escoriações
leves. Mesmo com isto ela estava linda, assim pensava Leonardo. Ela
dormia tranquilamente, ele estava sentado ao lado do leito dela,
observando-a. Ele segurava a mão dela. Já fazia duas horas que ele estava
ali velando por ela, quando o sono resolveu bater à porta. Quando estava
dormindo, ele sentiu sua mão ser segurada bem forte e quando abriu os
olhos, Renata estava acordada falando:
- Se você roncar na minha frente eu vou brigar com você.
Leonardo riu e ficou muito contente por ela estar bem.
97
Amor e Ressentimento
- Pelo visto você está bem, já começou até pegar no meu pé.
Ela riu, olhou para o quarto onde estava.
- O que aconteceu Léo?
- Um motorista bêbado passou o vermelho, e como não tinha
um poste por ali, ele decidiu acertar em cheio a mulher mais linda que
tinha por perto.
- Oh que amor Léo. Obrigada pelo elogio. Mas que idiota este
cara viu? E meu pai já sabe que estou aqui?
- Sabe sim, ele está vindo pra cá. Ele chega à tarde. Plumann não
quis vir.
- Ele deve estar com raiva de mim.
- Eu acho que o motivo é outro, mas deixa pra lá.
Leonardo disse isto, pois Toth havia lhe contado a conversa que
teve com Plumann.
- Está doendo muito minha linda?
- Não... só as pernas, os braços, as mãos, os pés, a cabeça, o
tronco, as coxas, a boca, os olhos, e por aí vai.
Eles riram muito até chegar a enfermeira pra trocar o soro.
Plumann bateu na mesa com força. Ele não suportava o fato
de Leonardo estar com Renata. Pensava que se ele ainda namorasse com
ela, nada disto teria acontecido. A inveja e ciúmes contra Leonardo se
intensificaram. Ele não poderia deixar que os dois estivessem juntos.
Plumann acreditava que ela era a mulher que Deus havia escolhido pra
ele e ele faria de tudo, que pudesse, para fazer esta vontade, que ele
acreditava ser divina. Os sinais, que jurava ter visto, se tornavam um
fator determinante para ele prosseguir. Plumann se tornava cada vez mais
cego e justificava sua cegueira na suposta vontade de Deus. Tudo que lia
e acreditava era distorcido para beneficiar o que ele mesmo queria. Tudo
que não era de acordo com a sua própria vontade era descartado, e aquilo
que o fazia bem ele tinha para si como um sinal do contentamento de
Deus com ele. A partir deste momento, as opiniões alheias eram vistas da
mesma forma. Quem concordasse com Plumann era uma pessoa íntegra,
verdadeira e de cárater. Quem discordasse, era seu inimigo, a qual que ele
98
Amor e Ressentimento
acreditava ser uma pessoa usada pelos poderes das trevas pra atrapalhar
a sua vida. Sua obcessão em ser a pessoa perfeita não deixava que ele
enxergasse que, cada dia mais, se tornava imperfeito, intolerante e infeliz
também.
- Rê, me desculpe pelo que eu disse, mas...
- Léo, não diga nada. Você sabia que as mulheres não gostam de
inúmeras justificativas? Eu posso ficar pensando no que você disse por
toda a vida, mas eu não gosto que você fique se justificando. Você disse
o que disse, eu amei o que você disse, não precisa se desculpar.
Leonardo sorriu pra ela. Mas ainda queria dizer muito mais.
- Eu estou aqui do seu lado. Vou cuidar de você. Até vou te usar
como cobaia, estou fazendo experimentos sobre a mente e vou aproveitar
para descobrir o que se passa nesta sua cabeça.
- Que bruxaria é esta? Disse Renata rindo. - Você não precisa
disto tudo pra descobrir o que eu estou pensando. Eu te digo.
- Ah é?! O que você está pensando então?
- Em primeiro lugar, penso que eu estou muito feliz por você
estar aqui do meu lado, e em segundo lugar, eu estou morrendo de fome.
Leonardo sorriu e completou:
- Vou lá pedir pra enfermeira trazer sua gororoba.
Ela riu, e ficou olhando até ele sair dali. Ela não poderia ceder
mais, ela teria de dar uma chance a ele. Ela quase havia morrido e não
estaria do lado do homem a quem ela mais gostava. Ela deveria tentar ser
feliz ao lado dele. Porquê não?
No total, foram 6 meses em que Leonardo acompanhou Renata
se recuperar. Eles ficaram muito próximos. Quando havia se completado
um mês de fisioterapia, Leonardo fez uma festa para Renata. Todos
os outros companheiros de quarto participaram, os fisioterapeutas, os
médicos, entre alguns amigos. Foi uma grande festa. Renata estava na
cadeira de rodas e até tentou dançar uma música com seu médico. Renata
e Leonardo não saíam longe um do outro, todos percebiam isto. Quando
a festa acabou, todos se despediram e Leonardo levou a jovem para seu
99
Amor e Ressentimento
leito com a cadeira de rodas, agora só faltava colocá-la na cama. Sempre
um enfermeiro fazia isto, mas como este não estava ali, Leonardo decidiu
fazer. Ele a segurou pelos braços e calmamente a colocava em seu leito.
Ela abraçada a ele, ficava observando o jovem. Eles estavam próximos.
Ele a fitou, ela também. Seus olhos se fitaram. Os dois se aproximaram
cada vez mais até darem um beijo bem romântico. Era o primeiro beijo
deles, o primeiro de muitos. Alguns dias depois Leonardo a pediu em
namoro, ela aceitou prontamente. Leonardo nunca esteve tão feliz na
vida. Desde que a conheceu, ele pedia a Deus, que se fosse vontade divina,
que pudesse ter Renata na sua vida. Tudo aquilo era mais que um sonho,
era mais que destino, era um milagre de Deus acontecendo na sua vida.
Renata estava imensamente feliz. Renata sempre procurou alguém que
demonstrasse confiança, que cuidasse dela e a fizesse feliz e completa,
e ela encontrava em Leonardo seu desejo cumprido. Toth, que sempre
viu Leonardo como um filho, estava muito feliz em tê-lo como genro.
Cada dia mais ele colocava o jovem em posição de destaque na empresa,
mesmo que este só quisesse continuar trabalhando em pesquisas.
Plumann também ascendia na carreira, cada dia mais, com
trabalho e determinação ele conseguia crescer e se destacar. Plumann
observava de longe Leonardo lhe tirar a mulher que amava e tinha medo.
Temia que a influência de Leonardo com Toth prejudicasse suas ambições.
Plumann achava que o jovem estava fazendo tudo aquilo para conseguir
ser o presidente da empresa, desejo que ele mesmo tinha. Plumann não ia
deixar Leonardo vencer. Conforme o tempo passava, Plumann persuadia
as pessoas a se afastarem de Leonardo dizendo que ele era uma pessoa
obstinada e cruel. Leonardo perdia apoio para pesquisas por causa do
que Plumann fazia, mesmo sendo a pessoa que dirigia todo os centros de
pesquisas no mundo. Aquilo estava ficando insuportável. Ele resolveu ir
conversar com o colega, que a esta altura era um dos principais diretores
da Toth Corporation no continente.
Plumann saiu do seu escritório e pegou o elevador. Desceu até
o subsolo, onde estava estacionado seu carro. Carregando sua maleta,
ele foi em direção ao carro procurando seu cartão. Plumann encostou
100
Amor e Ressentimento
o cartão no carro, a porta se abriu, neste momento ele levou um susto.
Leonardo apareceu por detrás da coluna ao lado do carro. Plumann
procurou não lhe dar atenção. Leonardo disse:
- Precisamos conversar.
- Não Leonardo, não precisamos conversar. Disse Plumann
abrindo a porta do carro para entrar, desprezando o colega. Leonardo
fechou a porta, impedindo Plumann de entrar no carro.
- Precisamos conversar sim!
Plumann colocando a mão na cabeça, impaciente por ter de
aturar Leonardo, disse:
- Está ok! O que você quer? Plumann olhou para Leonardo,
encarando-o com ódio na face.
- Plumann, você tem algum problema comigo?
- Não! Não tenho. Plumann disse isto, mas seu rosto demonstrava
que ele não estava sendo verdadeiro na resposta.
- Você tem sim! É por causa da Renata, não é?
- Olha Leonardo, você roubou a mulher que eu amava! Suma
com ela e não me importune.
- Eu não roubei nada de você...
- Ah tá. Acredito.
- Quando comecei a me relacionar com ela, ela já não estava
mais junto de você. Eu sempre a amei, mas nunca disse isto por respeito
ao relacionamento de vocês. Eu sempre busquei a felicidade dela acima
de tudo, e você deveria fazer o mesmo.
- O que?! Fazer o mesmo que você? Você a está usando para
chegar ao topo da empresa. Você persuadiu Toth com suas palavras falsas
e agora está enganado a Renata. Você é um verme. Você me dá nojo.
- Sabe Plumann, eu não entendo o que se passa pela sua cabeça.
Tendo estas atitudes radicais, você vai cair, e sozinho. Hoje entendo
porque a Renata te deixou. Você é louco!
Plumann se aproximou de Leonardo com fúria. E bem perto
dele, encarando-o, disse:
- Antes de cair, eu acabo com você.
Leonardo não disse nada, apenas ficou encarando o colega
101
Amor e Ressentimento
enquanto este entrava no carro e sumia de lá. Apenas só mais uma vez
Leonardo e Plumann se falariam na vida.
Durante os meses que se passaram Plumann continuava a
perseguir Leonardo e tentar desmoralizá-lo na empresa. Toth via isto e
advertia Plumann a não fazer tal coisa, pois Leonardo não era aquilo
que Plumann pensava. De nada adiantava adverti-lo, pois cada vez ele
acumulava ódio contra o colega e na mesma proporção, Leonardo e
Renata ficavam cada vez mais juntos e se amavam mais. O ódio só tendeu
a piorar quando foi feita a festa de noivado dos dois, quando tinham 1
ano de namoro, com data de casamento marcada para dentro de 6 meses.
Toth estava feliz da vida. Ele cuidou de todos os detalhes do
casamento. Leonardo estava nervoso enquanto esperava a noiva. Se
passou todo aquele tempo e ele sempre sonhou com este momento,
ainda mais com a mulher da vida dele. Eles casaram na igreja dela. Eles
respeitavam as diferenças um do outro. Eles descobriram em meio a
centenas de discussões, que debater as diferenças não os faziam mais
felizes, mas pelo contrário, os deixavam infelizes. Eles descobriram
que teriam de amar um ao outro da forma que o outro é. Eles haviam
se apaixonado, haviam gostado um do outro do jeito que eram, e se
questionavam porque deveriam cobrar que o outro mudasse? Por muito
tempo eles foram descobrindo que para serem felizes eles deveriam ceder,
e principalmente ceder a si mesmo.
Leonardo ali em pé agradecia a Deus, ele que tantas vezes pedira
pela Renata na sua vida, via agora a realização de seu sonho. Ele via Deus
sorrindo para si, ele via Deus fazendo da sua vida uma benção. Tanto
havia sofrido esperando aquela mulher reaparecer na sua vida, e ela veio
como um presente. Ele agradecia imensamente a Deus. Ele acreditava em
Deus. Ele confiava em Deus.
Chegou o momento do burburinho das pessoas, todos sabiam
que era a hora da noiva entrar. As portas foram se abrindo e a Marcha
Nupcial começou a tocar. Ainda em 2083 o estilo de casamento clássico
era usado. As mulheres ainda sonhavam em se casar de branco na
igreja. Por muitos anos, isto deixou de ser costume, mas a volta do
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Amor e Ressentimento
romantismo do século 19 tomou conta do mundo. Nunca o mundo
estivera tão apaixonante. O vestido dela havia sido feito por uma das
maiores estilistas da Europa. Toth nunca dispensou despesas quando se
tratava da felicidade da filha. Quando as portas foram se abrindo, todos
puderam ver a noiva ao lado de um dos homens mais ricos e, também, o
mais poderoso do mundo. Pelas mãos de Jonathan Toth as tempestades
mundiais poderiam ser contidas e os ventos da economia podiam ser
alavancados, mas agora suas mãos acalentavam as mãos da noiva mais
cobiçada do mundo. O casamento estava sendo transmitido pela TV e
milhões de pessoas acompanhavam admiradas, não só pela história de
amor, repetida inúmeras vezes nos noticiários, mas pela riqueza gerada
pelo casamento de uma das famílias mais influentes do planeta.
Toth estava sorridente, como se tivesse ganhado na loteria, não
que ele precisasse disto, mas se sentia o tal. Renata estava radiante. Ela
estava muito nervosa e tímida, ela de longe viu Leonardo parado na
frente da igreja. Ela sorriu para ele, mas ele não conseguia sorrir. Ela riu
pois ele estava com cara de bobo, babando ao vê-la. Ela estava arrasando.
O pai e a noiva foram caminhando calmamente enquanto a música
prosseguia. Leonardo estava admirado com a beleza de sua companheira.
A cada passo ele se sentia mais feliz. Cada vez que ela se aproximava o
coração dele disparava mais. Tudo estava lindo, o dia estava lindo, era
a história dele que estava sendo construída e ao lado da mulher que ele
amava.
Eles chegaram onde Leonardo estava, Toth o cumprimentou e
lhe deu um abraço, dizendo:
- Você sempre me foi um filho. Estou muito feliz. Ela está linda
não? Cuide dela pra mim.
Leonardo cumprimentou Renata com um beijo no rosto e disse
que ela estava deslumbrante. Ela sorriu. O Pastor começou a pregar.
- Queridos e queridas que estão presentes. Leonardo e Renata.
Eu vou lhes contar uma história: Um dia Deus estava em uma semana
emocionante. Ele estava criando os céus e a Terra. Já era o sexto dia
e sua obra ainda estava incompleta. Havia algo que era ainda muito
importante. Faltava alguém que daria sentido a tudo que foi feito e ao
103
Amor e Ressentimento
ainda iria ser feito. Por que as flores tão belas, se ninguém para cheirá-las?
Por que um jardim se não tinha quem vivesse ali? Por que o sol, a lua e
as estrelas, se não havia quem os contemplasse e deles tirasse proveito?
Faltava algo importante. Faltava gente. Faltavam pessoas. Estas sentiriam
o aroma das flores. Estas cuidariam do jardim. Estas contemplariam o
pôr do sol e o luar. Então Deus vislumbrou o ser humano. Mas Deus
queria fazer tudo certo, então fez um rascunho. Criou o homem para ver
se aquilo daria certo...
Todos riram do que o Pastor havia falado. O Pastor fez uma
pausa e continuou.
- É apenas uma brincadeira. Voltando onde eu estava, Deus
criou o homem à sua imagem e semelhança. Eu quero lembrá-los de
duas coisas. A primeira é que vocês são imagem e semelhança de Deus.
Leonardo, quando você ver a Renata, você verá o reflexo da imagem
de Deus. Renata, quando você ver o Leonardo, você verá o reflexo da
imagem de Deus. Vocês tem de se respeitar mutuamente, porque se vocês
se desrespeitarem, se tratarem mal um ao outro, se forem agressivos, vocês
fazem o mesmo a Deus. Pois vocês são as mais belas obras do Criador.
As mulheres começavam a chorar. Muitas delas com casamentos
desfeitos, muitas delas foram agredidas pelos parceiros. Haviam mulheres
que tinham esperanças de encontrar o par ideal. Os homens sentiam em
si a responsabilidade de cuidar da companheira, mas chamou a atenção
um homem de 52 anos que olhou para a esposa, que era muito brava, e
disse: - Esta foi pra você? Obviamente ele levou um cutucão por causa
do comentário. O pastor continuava a dizer:
- Quando Deus viu que não era bom o homem ficar só. E não
é muito bom mesmo. Vocês já viram homem sozinho em casa? É o
Armageddon!
Todos riam, o pastor tinha senso de humor e era muito amigo
dos noivos. O casamento prosseguia:
- Deus criou uma companheira, uma auxiliadora, uma ajudadora.
Isto não significa que Deus criou uma secretária para o homem. Nada
disto. Ele criou alguém que ajudaria o homem nos momentos difíceis.
Alguém que fariadele um homem melhor. Todos nós já ouvimos que
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Amor e Ressentimento
“atrás de um grande homem, há uma grande mulher.” Aliás, quero tomar
a liberdade de corrigir este ditado. Não digo atrás, mas AO LADO de um
grande homem há uma grande mulher. Deus não criou a mulher nem
do osso do pé para que esta seja menor que ele, nem da cabeça, para que
fosse maior que o homem. Mas criou a mulher da costela, do centro, do
coração. A mulher repousaria ao peito do homem e este a protegeria,
como se fosse parte dele. Agora dou o segundo conselho: amem-se, mas
mais que isto, cuidem um do outro, não importa o que aconteça. Não
importa o que aconteça com vocês, nada poderá separá-los, vocês estão
ligados por uma força chamada AMOR. Mesmo que exista a distância,
mesmo que existam as dificuldades, vocês tem de cuidar um do outro. Foi
Deus quem colocou o amor em vocês, mesmo que vocês não entendam
porque se amem tanto, isto é um dom divino. Amem-se assim como
Deus os ama.
A maioria das mulheres que estavam presentes, e alguns homens,
choravam. Viam suas próprias vidas, ou apenas suas expectativas ali
descritas pelo Pastor. Se Leonardo fosse pequeno, estaria se perguntando
se as palavras do pastor estavam tocando as pessoas, mas não precisaria
pois estava evidente no rosto de todos.
- Bem, agora chegamos a parte complicada da coisa. Todos
riram. - Se alguém tem algo contra este casamento, diga agora, ou calese para sempre.
Houve um silêncio no ar. Todos esperavam se alguém levantaria
e falaria algo. Nao faltavam candidatos a isto, mas nenhum manifesto
houve.
Havia um bar em Washington onde todos os homens estavam
vendo o casamento pela TV. Um homem estava bêbado, ele nunca havia
bebido antes na vida. Ele olhava para o copo ao invés de olhar para a TV.
Ele olhava o copo como se o estivesse analisando-o, olhava seu fundo
vazio, lágrimas saíam de seus olhos. Ele estava com a barba sem fazer, seu
terno caro estava todo amarrotado. Ele ouvia as conversas dos homens
que estavam no bar naquele domingo a tarde.
- Este cara teve uma sorte grande. Dizia uma das pessoas ali.
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Amor e Ressentimento
- Puxa, eu queria casar com esta moça. Além de ser um filé, eu ia
herdar tudo. Iria ser rico pra caramba. Disse outro.
- Pra mim, este cara está dando o maior golpe do baú.
Aquilo irritava o homem. No momento que o pastor perguntou
se havia alguém contra o casamento, o homem gritou:
- EU TENHO!
Todos no bar olharam para o homem que estava quieto até
agora.
- Este desgraçado roubou minha mulher! Eu vou destruí-lo! Eu
vou acabar com ele! Eu vou matá-lo se puder!
Plumann, que estava muito bêbado, saiu do bar correndo, ele
caminhou pela rua. Ele estava desnorteado. Ele quase não conseguia
andar pelas ruas direito. Ele foi atravessar a avenida, mas não conseguia
acertar os passos. Um motorista que comia enquanto dirigia, deixou
cair o molho do lanche na sua calça, quando ele foi limpar não viu o
homem caminhando pela avenida. O sistema inteligente do carro estava
com problemas e não informou que havia algo na sua frente. Quando
o motorista viu Plumann, e este percebeu o que estava fazendo, já era
tarde demais. O carro o acertou em cheio. A batida o fez voar por 200
metros de distância, o carro desviou e bateu numa casa. Todos correram
e foram em direção ao corpo. Uma enfermeira que estava indo para
o trabalho (ela havia perdido a estação do metrô em que deveria ter
descido) viu aquele acidente terrível. Ela correu em direção a Plumann,
e pela força da batida, acreditava que o homem estava morto. Ao chegar
perto viu o corpo todo ensanguentado do homem, tentava fazer algo,
mas não conseguia perceber se o homem estava vivo. Ela mediu seu
pulso, mas não obtinha resposta. Ela fez a única coisa que poderia fazer
e, de repente, ela viu o dedo mindinho do homem se mexer devagar. Ela
sabia, aquilo não era um reflexo, o homem estava vivo.
A festa foi uma das mais caras da década. Toth queria fazer uma
festa mais expansiva, mas foi criticado por Leonardo, que não achava
certo gastar milhões em uma festa de casamento enquanto parte da
população passava pela miséria. Leonardo dizia ao sogro que se Renata
106
Amor e Ressentimento
soubesse dos imensos gastos que estavam planejados, ela cancelaria tudo.
Renata sempre foi uma filantropa. Ela visitava hospitais, falava de Deus
para os necessitados e ajudava os pobres. Ela tinha um coração enorme
e maravilhoso. Os gastos foram altos, mas muito inferiores ao padrão
da alta sociedade. Os presentes aos noivos eram doações à instituições
de caridade. Junto com o convite, cada convidado deveria trazer pelo
menos 200kg de alimentos não perecíveis a serem doados à assistência
social. Iria ser um exemplo para um mundo que padecia de falta de
alimentos, isto gerado pelas milhões de plantações destruídas por
causa do aquecimento global. Os poderosos doaram uma média de 5
toneladas de alimentos cada um. Muitos viram esta atitude como uma
oportunidade de melhorar sua imagem e de fazer marketing pessoal, mas
uma boa parte viu isto como uma grande chance de se manifestar contra
a desigualdade social do final século 21.
Toth fez uma grande festa, totalmente sustentável. A festa foi
uma grande tribuna pela campanha “Apenas o coração quente” da
Fundação Toth para a diminuição do aquecimento global. Todos os
homens usaram um broche com o logo da campanha. Mas todas as
atenções das pessoas estavam no casal. Na festa, num telão, a história
de amor deles foi repetida. No auge da festa eles dançaram ao fundo
da música “Everything I Do”. Os dois dançavam como se não houvesse
mais ninguém ali. Eles se lembravam dos momentos que pensavam um
no outro, quando estavam ainda distantes. Pensavam naquele primeiro
beijo no hospital. Pensavam que nunca deixariam de amar um ao outro.
Dançavam como se aquele momento fosse eterno. Leonardo cantarolou
no ouvido de Renata uma parte da música:
- “ Me aceite como eu sou, fique com minha vida
Eu daria tudo, eu me sacrificaria
Não me diga que não vale a pena lutar
Eu não consigo evitar, não há nada que eu queira mais
Você sabe que é verdade, tudo que eu faço, eu faço por você”
Eu sempre vou te amar Renata, pois você é o amor da minha
vida.
Ela o abraçou mais forte e respondeu que também o amava
107
Amor e Ressentimento
muito e também agradeceu a ele por existir na vida dela.
Após a dança Renata foi tirar inúmeras fotos e Leonardo foi
buscar algo para ela beber. Foi quando passou por um corredor do lugar
e viu Toth no telefone com uma cara abatida e triste. Leonardo parou e
sem Toth perceber, ouviu a conversa.
- Mas ele está bem? Quando foi isto? Agora à noite? Deve ter
sido por causa do casamento. Ele bebeu? Mas Plumann nunca bebeu Eu
quero que você ligue para os melhores médicos. Plumann será cuidado
pelos melhores, eu não quero perdê-lo. Assim que eles irem embora eu
saio daqui e vou para o hospital. Não, não vou contar pra eles, não
quero estragar a lua de mel deles. E não quero isto noticiado. Investigue
se a imprensa está a par dos fatos. Quero evitar que isto chegue aos
noticiários. Até mais.
Toth desligou o telefone, respirou fundo e quando virou,
Leonardo estava na sua frente dizendo:
- O que aconteceu com Plumann? Não me esconda nada John.
Depois que Toth contou a Leonardo sobre Plumann, este se
prontificou a ajudar no que fosse necessário, mas Toth disse que ele
resolveria tudo, e pediu para que nada fosse contado à Renata. Ela se
sentiria muito culpada. A lua de mel de Leonardo e Renata foram, nas duas
primeiras semanas, em Paris e na terceira semana eles foram aproveitar
os últimos resquícios de neve dos Alpes Suíços. Eles tinham planejado
no final da lua de mel ir ao Marrocos, Emirados Árabes, Iraque e Israel.
Infelizmente não puderam ir devido ao estado de emergência decretado
nestes países decorrente do calor que matava mais de 400 pessoas por
mês, então escolheram ir para países mais frios nesta época do ano. Até a
metade do século, os turistas iam ao Caribe, mas depois do aumento do
nível dos oceanos, esta parte do planeta perdeu 60% de seu território, e
estava habitada apenas por pescadores que não tinham para onde ir.
Renata e Leonardo estava apaixonados um pelo outro e se
amavam muito. Parecia que para sempre haveria felicidade na vida deles,
até Leonardo ter uma ideia que iria mudar tudo.
108
Coração x Cérebro
“Aquele sou eu no canto.
Aquele sou eu no centro das atenções,
perdendo minha religião”
REM
Coração x
Cérebro
Capítulo 10
22th Century Restaurant, Nova York, EUA, 2085
Leonardo estava preocupado com seu sogro. O que ele queria
que era tão importante assim? O homem, durante a semana, era tão
inacessível que este convite de almoço o preocupava. Toth chegou, se
cumprimentaram. Toth sempre caloroso. Perguntou como estava o genro.
Leonardo respondeu que tudo estava bem, mas que estava preocupado
com o porquê do almoço, já que eles se veriam mesmo no fim de semana
de família.
- Leonardo, Eu preciso salvar a empresa.
- Como assim? Me explique.
- Leonardo, o mundo está padecendo, e eu estou sendo cobrado.
Nós não conseguimos achar uma solução para os problemas climáticos.
As pessoas tem morrido que nem gado num abatedouro e só ouço falar
no tal do Berlítio.
- John, o Berlítio não é a solução?
109
Coração x Cérebro
- É, se...
Toth respirou fundo.
- Se o que, John?
- Se encontrarmos Berlítio em algum lugar.
- Você vai encontrar. Pode contar comigo, Deus está no controle
John.
Leonardo disse isto segurando a mão do amigo, que era
considerado um pai pra ele.
- O problema é que até encontrarmos a tal da pedra, precisamos
de algo que reacenda o nome da empresa. Precisamos de algo que
dê credibilidade a nós, isto até encontrarmos o minério, ou uma
solução alternativa para o aquecimento do planeta. Nós reduzimos a
criminalidade, resolvemos muitos dos conflitos mundiais. Nossa equipe
de marketing já não tem mais soluções para desviar da mídia a ideia
da incapacidade da empresa em resolver o problema climático mundial.
Conseguimos centenas de acordos de não poluição. O problema não
está mais na poluição agora, mas da deixada por estes estes 250 anos de
industrialização. A nossa credibilidade entrou em recesso, e credibilidade
é tudo. Eu estou cansado meu filho.
- Você tem algo em mente? Você não veio aqui pra chorar as
dificuldades da empresa, senão o faria no fim de semana.
- Léo, você quer dirigir a empresa pra mim?
Leonardo respirou fundo, ele já sabia a resposta para aquele
tipo de pergunta, mas nunca esperava ser perguntado sobre aquilo, seria
difícil dar aquela resposta para o sogro. Ele fitou os olhos de Toth e disse:
- John, eu te direi “não” por dois motivos.
- Quais motivos?
- Primeiro, eu sou mais útil a você nos bastidores. Sendo
presidente da empresa eu poderia acabar com ela. Segundo, há outra
pessoa que é mais competente do que eu para levantar a empresa.
- Quem?
- Você sabe que nome irei dizer, John.
- Mas ele te odeia Léo. Ele não gosta de você de jeito nenhum.
- Mas ele pode salvar a empresa. Não é porque ele é meu inimigo
110
Coração x Cérebro
que eu vou virar hipócrita. Eu não posso mentir pra mim mesmo. Ele é
melhor do que eu para cuidar da empresa, ele dá tudo dele pela empresa.
A Toth Corporation é o amor da vida dele. Já pra mim, o amor da minha
vida é a Renata. Quero gastar tempo com ela, acho que você me entende,
John. Deus é tudo pra mim, por amor à Ele acho que não consigo odiar
Plumann, mesmo que ele mereça meu ódio. Além do mais, você confia
na capacidade dele. É só convencê-lo a me deixar em paz.
- Não Léo. Minha escolha é você. Só escolherei Plumann se
você não tiver condições de ser o presidente da empresa. Eu confio no
trabalho do Plumann. Ele é excepcional, mas não confio no julgamento
dele. Em você eu confio totalmente.
- Você sabe que sou parte da sua família, muitos te chacotariam
por escolher seu genro pra cuidar de tudo. Eu seria visto como um elo
mais fraco seu. Muitos no outro dia dirão que só casei com Renata
para me tornar presidente. Plumann já pensa isto, imagine os acionistas,
diretores, imprensa, etc. Você sabe disto, pense direito John.
- É verdade, me desculpe, eu não tinha pensado nisto, mas estou
desesperado.
- Então o que você fará?
- Eu não sei, vou me manter enquanto minha imagem em relação
à empresa não está desgastada. Eu vou precisar da sua ajuda.
- Pode contar comigo, meu paizão.
- Eu sei que posso.
Leonardo tentando descobrir formas de ajudar Toth, começou
a perguntar sobre a empresa, como as coisas andavam. Falaram sobre
alguns assuntos, até que na TV se noticiou sobre os esforços da China e
do Japão para ajuda das regiões afetadas por um Tsunami que devastou a
região norte do Japão, 10 dias antes.
- Toth, vendo isto me lembrei que ouvi o Thomas dizer que
estão fazendo pesquisas nas massas de ar, parece que eles podem prever
um tornado, tsunami, ou evento climático até duas semanas antes de
acontecer. Isto é verdade?
- Sim, é verdade. Ainda estamos em fases iniciais de pesquisas.
Com muito esforço, o pessoal do clima começou a desenvolver a ideia
111
Coração x Cérebro
de que estes eventos são podem ser detectados por inúmeras ações de
todo o planeta. Como se o planeta tivesse uma linguagem. Parece que se
juntarem as evidências do solo, do movimento magmático, da atmosfera,
das massas de ar, das marés, da umidade, da temperatura, você terá, com
margem de erro de 3%, os dados do que pode acontecer em determinada
região do planeta. É como se o planeta inteiro se comunicasse. Só que só
os animais parecem entender esta linguagem, nós não. Você já viu que
quando há uma catástrofe, eles fogem para um lugar seguro. Os instintos
deles podem prever apenas naquela determinada região poucas horas
antes, mas o planeta inteiro é mexido. Ele se fala. Estamos buscando
traduzir esta conversa.
- Deixa eu entender... é como se fosse um código?
- Isto Leonardo.
- Então é como se o planeta todo fosse uma orquestr...
Leonardo parou, olhou longe e deu um sorriso. Ele ficou
paralisado envolto em seus pensamentos. Algo havia passado na sua
mente. Toth já havia visto acontecer uma vez isto com o jovem, quando
teve a ideia de uma surpresa para fazer com Renata, mas sua filha já dizia
como era normal esta atitude do genro.
- Léo, você teve uma ideia genial não é?
- John, talvez a mais genial de todas. E se eu estiver certo,
podemos colocar a empresa de novo no topo. Eu preciso ir.
- Pode ir lá, nos vemos no fim de semana.
Leonardo pegou o casaco, deu um beijo na testa do sogro e
agradeceu pela conversa. Leonardo não tinha mais tempo a perder.
Haviam se passados alguns meses e naquela tarde Renata chorou
bastante. Ela se sentia sozinha. Ela não via o marido há 3 dias. Leonardo
só tinha olhos para a pesquisa dele. Ela se lembrava que foi como um
sonho quando ele chegou radiante naquele dia. Tinha dito que havia
almoçado com o pai dela, e concebeu uma ideia que iria mudar a história
da medicina. Ele tentou explicar pra ela, mas ela não entendeu nada.
“Código do cérebro”, “ligação dos neurônios”, coisas que não faziam
sentido para ela. Leonardo dizia que estava realizando o sonho da sua
112
Coração x Cérebro
vida. Ela se sentiu triste, pois achava que casar com ela, ser feliz com
ela, era sim o sonho da sua vida. Ele até percebeu o que havia dito e
tentou consertar dizendo que não era bem o sonho da sua vida, mas
era um desafio que tinha desde pequeno e agora poderia ser realizado.
Ele iria finalmente realizar o feito da sua vida. Renata se voltou das
suas lembranças e se arrumou, iria para a igreja. Ela tinha um trabalho
voluntário e isto lhe faria bem. Há três semanas Leonardo não ia à igreja.
Ele saía cedo, até animado. Eram os melhores momentos do dia. Ele
chegava cansado. Alguns dias seus olhos reluziam, mas por causa de sua
pesquisa, não por Renata. Outros dias ele chegava frustrado e não dirigia
uma palavra sequer. Ele era assim, mas era uma coisa muito incomum.
Renata se sentia abandonada, ela sabia que aquilo era apenas passageiro,
mas se sentia muito sozinha, se sentia abandonada pelo homem que
amava. Ela estava buscando aceitar, mas Leonardo quando colocava
uma coisa na cabeça, ninguém tirava. Ela tinha de entender. Ela disse
pra si mesma que estaria ao lado dele. Se isto era importante pra ele,
era importante pra ela também. Na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, era assim que ela pensava. Ela se sentiu melhor e saiu de casa.
A jovem cantava com fé um hino lindo e inspirador. Renata
cantava:
“Aqui eu estou,
Humilhada por Sua Majestade.
Aqui eu estou,
Sabendo que sou pecadora.
Coberta pelo sangue do Cordeiro.”
Enquanto cantava ela também ajudava a achar lugar para os
que chegavam. Renata ainda cantarolava a música em sua mente e se
regozijava. De repente uma dor de cabeça começou a martelar sua mente,
e sentiu-se enjoada após. Ela avisou uma das moças da igreja de que iria
ao banheiro. Quando chegou lá, ela vomitou. Algo estava errado. Mas
depois de vomitar ela se sentiu melhor. Ela não havia comido, e toda
vez que não comia se sentia mal. Terminou o culto, ela decidiu ir pra
casa e deixar a caridade para o fim de semana. Ela ainda não se sentia
bem. Entrou no carro, colocou o cinto (depois do acidente ela nunca
113
Coração x Cérebro
mais deixou de usar o cinto de segurança) e foi pra casa. Viu o carro de
Leonardo e estranhou. Olhou para o celular e tinha 5 chamadas não
atendidas. Ao entrar, ele estava com uma cara péssima.
- Renata, onde você estava? Porque não me atendeu?
- Amor, eu fui na igreja. Não ouvi o celular. Por que?
- Ah, é verdade, me desculpe, esqueci que era dia de culto hoje.
Eu estava preocupado contigo.
- Não parece. Parece que você está bravo comigo.
- Não, me desculpe meu amor...
Leonardo foi na direção dela, tocou seu rosto e lhe beijou.
Perguntou se ela estava bem.
- Eu estou bem. Passei um pouco mal na igreja, até vomitei. Mas
deve ter sido porque não comi nada agora a noite. E você? Por que está
em casa? Não está trabalhando na pesquisa dos neurônios e código do
“sei lá o que”?
Renata esperava que ele fosse dizer que tinha vindo só para vê-la.
- Tenho de esperar uns resultados, não há nada que possa fazer lá
agora.
Renata ficou um pouco triste em saber que ele só veio pra casa
porque não tinha trabalho.
- Mas eu vim mesmo porque senti que algo não estava bem
contigo e precisava te ver, estou morrendo de saudades do meu amor.
Renata sorriu de orelha a orelha, e deu um beijo no rosto dele.
- Ih, tá melosa hoje. Eu adoro isto hein?
Leonardo esticou o braço e colocou uma música, abraçou a
mulher e começaram a dançar no meio da sala.
- Percebi que você dança melhor quando está passando mal.
- Ah é assim? Quer dizer que eu sou péssima dançarina então?!
- Não, você dança muito bem. Há vários momentos que você
demonstrou ser uma boa dançarina. Olha, tem aquele dia do nosso
casamento e... vejamos bem... hoje.
- Ah é? Então troca de parceira, se está reclamando.
- Não troco nunca. Isto você pode ter certeza! Nem que tiver de
usar sapato de ferro, eu não troco.
114
Coração x Cérebro
- Ai que horror, Léo. Eu não piso no seu pé, tá?
Leonardo começou a rir, ela também.
- Estou brincando. Mas você está dançando muito bem pra
quem estava passando mal.
Continuaram dançando, quando Leonardo franziu a testa,
parou e ficou pensando. Renata olhou pra ele e disse:
- Qual a outra ideia brilhante que você teve? Lá se vão mais uns
meses com você trabalhando tarde de nov...
Leonardo pôs a mão levemente sobre a boca dela, pedindo
silêncio, olhou pra ela e perguntou:
- Rê, sua menstruação está atrasada?
- Sim, mas sempre atrasa.
- Mas você nunca passa mal.
- Ah Léo, eu não estou grávida, eu tomo remédios.
Ele ficou olhando ainda pra cara dela, dando aquele sorriso
bobo.
- Está bem! Está bem! Só pra você parar de me encher com isto,
amanhã eu vou no médico do papai e te falo, mas eu acho que você está
trabalhando demais e está começando a inventar coisas.
- Vai sim, e eu vou junto.
Renata ficou feliz. Ele nem tinha tempo pra ela e agora iria
acompanhá-la ao médico. Agora que ela ia mesmo fazer o exame. Passar
um tempo com ele, era tudo que ela queria. O sorriso dele era claro, que
ele estava vibrando coma ideia de ter um filho. Acho que ela descobriu
outro sonho da vida dele. No outro dia o médico confirmaria a mais feliz
notícia daquela família, Renata estava esperando um filho de Leonardo.
Seguiriam meses de expectativas.
Passados estes meses, um dia, Leonardo entrou na capela do
recém inaugurado Hospital Adventista de Nova York. Não haviam
pessoas ali. Leonardo caminhou até perto do púlpito e sentou em um
banco. No caminho havia uma trilha de lágrimas. Leonardo se ajoelhou
e com desespero perguntava a Deus:
- Por que Deus? Por que tirou o meu filho?
115
Coração x Cérebro
Leonardo parou e se lembrava do momento que acordou e viu
Renata sentir dores na cama e uma poça de sangue nos lencóis.
- Se tornaste o mais cruel de todos os deuses? Por que Senhor?
A imagem da mulher praticamente sem cor indo para o hospital
não saía da cabeça.
- Você pode fazer milagres! Por que não fez um milagre? Você
cruzou os braços e assistiu cruelmente eu perder meu filho!
Ele abaixou a cabeça e lembrava do médico dizer que o feto
estava morto.
- Você me deu um filho e me tirou! O quão você pode ser cruel
assim?
Na cabeça dele ele podia ouvir algo sendo dito. Ele podia ouvir
algo como “Confie em mim”, “Tudo tem um propósito”. Leonardo não
queria acreditar naquilo.
- Deus, me perdoe. Eu quero acreditar em Ti. Eu acredito em Ti,
mas tem sido tão difícil. Me perdoe. Cuide de mim e principalmente da
Renata, eu quase a perdi também. Senhor, que eu nunca a perca. Eu te
imploro, eu a amo demais. Eu não sei o que faria se a perdesse.
Leonardo começou a dedicar muito mais tempo na pesquisa
do código neuronal e praticamente abandonou Renata. Ele queria estar
ao lado dela, mas ela quando sofria se fechava muito, ela não queria
que as pessoas ficassem ao lado dela, sentindo dó dela, e era isto que
todos faziam. E este jeito da esposa acabava com Leonardo. Ele se sentia
impotente diante da situação. Leonardo fugia para o trabalho, e o avanço
da codificação cerebral era a única coisa que lhe deixava extremamente
satisfeito. Renata se trancava no quarto para chorar, Leonardo queria
ajudá-la, queria estar do lado, mas ele não entendia o modo peculiar da
mulher sofrer. Ela queria apenas que ele estivesse do outro lado da porta,
ao lado dela. Mas ele ia embora trabalhar, pois não queria ser um fardo
para a esposa. As brigas eram constantes e as diferenças deles começaram
a aparecer. Pareciam duas pessoas que mal se conheciam. Toth incentivou
os dois a fazer terapia de casal, mas Leonardo frequentemente faltava por
causa do seu envolvimento com as pesquisas e também porque ele achava
116
Coração x Cérebro
que não era necessário aquilo, eles poderiam resolver sozinhos, bastava
apenas Renata se abrir com ele.
O desgaste, e as diversas tentativas de reaproximação surtiam
efeito, pois os dois se amavam muito, mas por pouco tempo. O fato de
terem perdido o filho deles fazia o relacionamento se tornar mais sofrido,
os dois se culpavam muito, mas eram tão imaturos no relacionamento
que acabavam brigando muito, se reatando, brigando e se reatando
constantemente.
Quando eles perceberam que podiam ficar juntos e que tudo
podia dar certo, infelizmente já estavam divorciados. As diferenças desta
vez falaram mais alto. Leonardo concordou com a separação pois achava
que era o melhor para eles. Ela não queria, ele menos ainda, mas ele sabia
que a estava fazendo sofrer, e ele mesmo estava também sofrendo com
tudo. Era muito amor para que eles estivessem separados um do outro.
Mas Leonardo pensava mais nela que nele próprio, a felicidade de Renata
era mais importante que qualquer coisa, e ele achava que ela seria feliz
sem ele, sem saber que estava equivocado.
Renata entrou em depressão, era muito difícil suportar que
ficaria longe daquele a quem amava. Ela começou a se envolver nos
trabalhos voluntários da igreja e recuperava a auto-estima. Lá conheceu
um jovem advogado que trabalhava ajudando em alguns casos de pessoas
pobres. Ele insistentemente chamava Renata para jantar, mas ela ainda
amava Leonardo e sempre recusava.
Um dia ela recebeu um convite de seu pai. Leonardo receberia
o Nobel de Medicina de 2086 pelos seus estudos, principalmente pelo
código neuronal.
- Acredito que você deveria ir Renata. Vai ser importante pra ele
que você vá. Você faz parte disto também, porque você faz parte da vida
dele. Lembre de que foi Deus quem colocou este amor no coração de
vocês. Ele te ama e precisa de você. Ele é teimoso, e muitas vezes egoísta,
tanto quanto você, mas ele se importa muito com você. Ele nunca deixou
de pensar em você
O evento foi incrível. Leonardo estava feliz. Dois motivos o
deixavam feliz, aquele prêmio colocava de novo a Toth Corporation no
117
Coração x Cérebro
centro das atenções. O nome da empresa novamente recebia prestígio com
aquela pesquisa. Doenças do cérebro finalmente seriam interpretadas e
tratadas. O homem chegava ao topo do conhecimento do corpo humano.
Leonardo era tido como um dos maiores gênios do século. Ele salvava
por um tempo a empresa. Sua felicidade era completa pois o amor da sua
vida estava lá.
Após o evento eles se falaram e se divertiram, a noite havia
sido agradável. Ele a levou para casa, ela olhava para ele, estava feliz em
estar com ele, como ele era. Tiveram uma noite romântica como sempre
tinham tido enquanto casados. Eram um casal, antes de tudo. No meio
da noite Renata viu que Leonardo estava acordado.
- O que te aconteceu, meu amor?
- Estou pensando nesta noite. Foi incrível. Mas como será daqui
pra frente?
- Você que me diga.
- Rê, tenho medo de te magoar novamente. Eu errei muito
contigo.
- Você não me magoou. Apenas passamos por uma fase difícil.
- Eu quero que você seja feliz Rê.
- Eu sou feliz contigo.
- Não é Rê. Você não confia mais em mim. Vejo nos seus olhos,
que por mais que pareçam, as coisas não são mais do mesmo jeito.
- Eu tenho medo sim.
- Rê, eu preciso te falar uma coisa.
- Não me diga...
Renata abaixou a cabeça e completou.
- Você está com outra... pessoa?
Leonardo levantou a cabeça dela e disse:
- Não, não é isto. Rê, eu vou embora. Eu vou trabalhar na nova
base lunar do seu pai. Eu vou poder ajudar bilhões de pessoas lá. Seu pai
encontrou o que tanto procurava, e eu quero ajudá-lo. Podemos salvar a
humanidade.
Renata não acreditava no que ouvia. Agora que tudo parecia
estar bem. Leonardo continuou:
118
Coração x Cérebro
- Rê, depois que perdemos nosso filho eu me sinto tão confuso.
Tudo que eu acreditava parece ter caído água abaixo. Eu preciso descobrir
se vale a pena acreditar. Eu não pude com todo meu conhecimento salvar
meu filho. Agora eu preciso descobrir se eu posso ajudar as pessoas.
- Pelo jeito você vai embora de novo.
- Eu te amo. Eu te amo muito, mas eu não pude te fazer feliz,
eu não pude fazer e ser nada pra você. Eu tenho certeza que se eu puder
ajudar as pessoas, eu posso recuperar minha auto-confiança.
- Léo, você diz tudo isto, como se você fosse o salvador do
mundo. Você não é. Você sabe que acreditamos que só Deus pode salvar
o mundo da desgraça que estamos.
- Te juro Renata, eu não sei se Deus pode salvar o mundo. Ele
não pôde salvar nosso filho. Eu acredito em Deus, mas eu estou com
dúvidas.
Renata, ao ouvir isto, percebeu que o homem que ela amava
parecia não estar ali. Ela via que ele estava perdendo a fé. Ela estava
decepcionada.
- Rê, eu te amo. Vou ficar por lá por mais ou menos um ano, eu
vou voltar. Quero voltar pra ti. Eu ainda acredito que há chances para
nós.
Leonardo dizia aquilo de coração, mas Renata não acreditava
nele. Foram tantas promessas que ele havia quebrado.
- Eu vou tentar.
- Tente, eu te amo muito.
Ela não disse que o amava e ele havia ficado preocupado. Mas
ele não desistiria dela.
Enquanto estava na lua Leonardo escrevia para Renata, mas ela
não respondia. Ela lia todas as mensagens, mas não acreditava no amor
dele. Se ele a amava por que tinha ido embora então? Leonardo escreveu
incessantemente pra ela. Leonardo não conseguia falar com o Toth da
base da lua. Plumann o impedia de ter contato com o antigo sogro.
Leonardo pensava que trabalharia diretamente com as pesquisas sobre
a biologia e o povo do recém descoberto planeta Berta. Mas o projeto
119
Coração x Cérebro
em que ele trabalhava era uma iniciativa de Plumann. O mapeamento e
rastreamento de toda a população humana. Todos os cérebros humanos
seriam lidos para que os crimes fossem evitados. Todos sabiam que as
pessoas se tornam mais agressivas quando o ambiente mais quente se torna.
O número de crimes no mundo haviam aumentado substancialmente
devido ao efeito estufa, e o mapeamento cerebral tornaria mais fácil o
trabalho de descoberta, repressão e principalmente a de antever qualquer
tipo de atividade que colocasse a população em risco. Plumann queria
controlar o mundo. Leonardo estava descontente. Ele discordava da ideia
de monitorar toda a população mundial. Era o fim da liberdade. Ele
estava disposto a abandonar tudo e voltar para Renata, pois a falta dela
estava matando-o.
Plumann bloqueava Leonardo de ter contato com o mundo
externo para ele trabalhar diretamente no mapeamento cerebral. Tudo era
bloqueado, mas com a ajuda de um hacker ele conseguia ter acesso a um
e-mail de seu perfil no Yeggow, mas somente isto. Deste e-mail Leonardo
tentava falar com Renata. Até o contato com Toth havia sido limitado.
Leonardo estava aprisionado em seu próprio trabalho. Leonardo havia
decidido pedir demissão. Há mais de um ano em que ele não tinha
notícias da ex-mulher, e ele não podia perdê-la novamente. Foi quando
ele conseguiu, pelo mapeamento cerebral, começar a obter informações
do mundo. Ele conseguia projetar os pensamentos das pessoas, como
um vídeo, para seu computador, onde ele assistia o que elas pensavam.
Em um destes dias ele descobre que Renata estava casada com aquele
advogado que tanto insistia em sair com ela. Ele ficou arrasado.
- Como? Como pôde? É por isto que ela não me respondia os
e-mails! Eu pedi para ela me esperar! Como ela pôde fazer isto comigo?
Se passaram apenas cinco meses e ela já está se casando com aquele cara!
Eu não vou perdoá-la por isto. não vou perdoá-la.
Leonardo desistiu da demissão e decidiu ficar na empresa.
Não havia mais nada que o interessasse na Terra. Ele acompanhava a
ex-mulher pelas mentes das outras pessoas, ele passou a monitorá-la a
distância, tentando descobrir se ela ainda o amava, qualquer pequeno
sinal ou fragmento poderia ajudar. Plumann acompanhava, secretamente,
120
Coração x Cérebro
o que Leonardo fazia. Plumann teve uma ideia, esta que mudaria todo
o foco do monitoramento cerebral. Plumann agora queria monitorar o
mundo daquela forma: vigiando as pessoas. Ele faria tudo ao seu favor.
Leonardo, inocentemente, colocou na mente de Plumann a mais sombria
concepção que o jovem diretor poderia imaginar.
Quando Leonardo soube que Renata havia tido Josh, ele ficou
desconsolado. Era o sonho dele. E agora, outro estava com a mulher que
ele amava e este outro também tinha um filho com ela. Leonardo ainda
conversava com Deus e orava pela ex-mulher para que ela fosse protegida
e que nada de mal acontece a ela. Ele ainda a amava muito, e tentava
se consolar acreditando que ela estava feliz pelo menos. Ele não queria
aceitar o que acontecia, mas tinha de entender que poderia ser o melhor
pra ela. Durante o tempo que passou, Leonardo trabalhou no projeto de
monitoramento cerebral, mesmo discordando de tudo. Ele só insistia no
trabalho pois sentia que havia perdido tudo.
Mas foi em 2088 quando Renata voltou a falar com Leonardo.
Ela sentia muita falta dele, e queria falar com ele, apenas como amigo,
já que estava casada novamente. Ainda assim, ela sentia o mesmo amor
por ele em seu coração. Ele ainda a tratava como se fosse ainda a sua
mulher. Ela evitava conversar com ele, mas dificilmente conseguia, pois
ele a fazia bem. Ela se sentia feliz em falar com ele. Nas conversas, ele
demonstrou sua insatisfação com o que fazia na empresa e dizia para ela
que o programa de monitoramento de Plumann era uma loucura absurda.
Depois de Leonardo mostrar os planos de Plumann, Renata decidiu
que iria intervir com seu pai sobre o programa de monitoramento. Ela
defenderia a causa de Leonardo.
Plumann, nesta época, era um dos diretores gerais da empresa.
Leonardo, apesar de estar longe, dirigia todos os projetos da base lunar
e tinha voz ativa na empresa. O maior problema de Leonardo era que
Plumann dificultava do neurocientista ter acesso aos outros diretores.
Leonardo contou tudo isto a Renata, e ela o ajudaria. Ela convenceria o
pai dela a fazer uma reunião na Terra, onde Leonardo estaria presente.
121
Coração x Cérebro
Ela sabia que apenas 20 minutos em que eles estivessem com o ex-marido
já eram necessários pra mudar tudo. Plumann descobriu o plano deles.
Plumann monitorava todos os e-mails, até os pessoais, principalmente os
de Leonardo.
Leonardo chegou na Terra. Renata havia combinado tudo.
Leonardo viria para verificar algumas pesquisas, e no outro dia ele falaria
diante dos diretores da empresa. Todos estariam presentes. Nenhum
deles foram notificados da presença do neurocientista nesta reunião.
Apenas Toth e Renata sabiam disto mas, mesmo Toth, não sabia qual
o real motivo. Leonardo combinou com Renata que após a reunião eles
almoçariam juntos. Ela não sabia da agenda do ex-marido, nem ele sabia
onde ela estava, haviam combinado de não se verem até ter passado a
reunião. Leonardo passou o dia conversando com outros pesquisadores
da empresa, participou de algumas reuniões e deu algumas ideias. No
outro dia pela manhã seria o dia em que ele diria toda a verdade e
veria sua alma ser lavada, pelo menos. Plumann estaria lá. Ele teria de se
preparar. Leonardo ficou até às 22h preparando o que iria falar. Ele tinha
colhido algumas análises, feito pesquisas e estava buscando memorizar
todos os dados para não fazer feio lá na frente dos diretores. Terminou e
já ia embora. Quando atravessava o corredor, ele ouviu uma risada única,
ele voltou. Foi quando ele viu Renata conversando em uma das salas. Ela
conversava com uma das secretárias do pai. Leonardo decidiu brincar e
disse:
- Por favor, vocês conhecem alguém que sabe fazer sanduíche da
abobrinha?
Leonardo dizia isto pois quando era casado com Renata, ela em
um dia qualquer inventou de copiar uma receita que vira na TV e, de
tão ruim que ficou, virou parte das gozações dos dois. Quando Renata
ouviu isto, ela se virou rapidamente com um sorriso. Eles ficaram se
entreolhando. Leonardo abriu um pouco os braços, como se dissesse:
“Olha eu aqui”. Ela andou em direção a ele. Eles sorriram, como naquele
jantar quando tudo começou. Fazia 3 anos que eles não se viam. Eles se
abraçaram. Leonardo perguntou o que ela fazia lá. Ela disse que estava
esperando o marido passar ali para pegá-la, mas ele demoraria uma hora
122
Coração x Cérebro
ainda. Leonardo decidiu dar-lhe uma carona.
Renata avisou o marido que havia conseguido uma carona,
enquanto ela e Leonardo saíam do estacionamento da empresa.
- Pronto Léo! Já avisei ele que consegui uma carona. Disse Renata.
- Pelo menos ele não fica preocupado. Falou que a carona era
minha?
- Não, não, isto pode dar cadeia. Depois eu conto pra ele. Talvez
eu durma no sofá hoje.
Eles riram.
- Você é fogo viu?
- Então Léo, como você se sente de volta à Terra?
- Muito bem, tive uma baita dor de cabeça na readaptação, mas
já passou. Estava morrendo de saudades.
- Eu também Léo.
Eles conversaram sobre algo muito particular. Quando o assunto
acabou, ficaram em silêncio, até o momento em que Leonardo segurou
na mão de Renata.
- Eu te amo muito Rê.
- Será que ama mesmo?
- Amo sim, de verdade. Eu ia voltar pra ti. Só desisti quando vi
que você estava casada...
Renata abaixou a cabeça. Leonardo continuou.
- Mas na verdade eu nunca desisti realmente. Rê, eu sempre vou
te amar, você sabe disto.
- Eu sei. Mas você tem de seguir em frente. Eu segui em frente,
você deve seguir também.
- Pelo menos fico bem em saber que você está feliz.
- Eu posso dizer que estou feliz sim.
- Você me ama Rê?
- Ai Léo, você é muito importante pra mim.
Renata tentou desviar a conversa.
- Léo, lembra daquele nosso jantar? Lembra a música que você
traduziu pra mim? Você nunca terminou de traduzi-la.
123
Coração x Cérebro
- Ah, faz tempo hein?! mas só faltaram duas frases.
- Quais frases? Diga pra mim.
- Bem... “Tive você na mão. Agora, tenho só esta canção.”
Engraçado que expressa exatamente o que acontece.
- Léo, não diga assim. Você sempre me terá ao seu lado, te
ajudando, orando por ti, te acompanhando, torcendo, enfim, não vou
me afastar de ti.
- Rê, Vou te perguntar de novo, mas de outra forma. Se hoje fosse
a última vez que pudéssemos estar juntos, me responda: Você me ama?
- Pára Léo. Eu estou casada, tenho uma pessoa maravilhosa
comigo, eu sou fiel a esta pessoa. Eu tenho tanto pra te dizer, mas não
posso.
- Está bem. Também não estou te obrigando a dizer nada. Eu te
entendo. Não se preocupe, sou o homem mais compreensível do mundo.
- Que amor. Você é um lindo. Talvez um dia te diga, o importante
é que podemos contar um com o outro.
Leonardo olhou para Renata e deu um sorriso, ela respondeu,
ele apertou mais forte a mão dela, foi quando eles se assustaram. No
momento em que o carro fazia uma curva para a esquerda, na estrada, os
freios falharam. O carro seguiu direto e bateu no muro de uma indústria
ali da região. O carro bateu o muro voltou para a pista. Os airbags foram
acionados. Leonardo acordou, estava todo machucado, ele mal conseguia
sair, mas logo procurou Renata e a viu do seu lado. Ela estava cheia de
sangue. O lado dela havia batido no muro e o carro parecia uma lata
amassada, Renata estava presa nas ferragens. Leonardo viu que ela estava
acordada. Ela perguntou o que aconteceu.
- O carro bateu num muro. Eu vou pedir ajuda.
- Léo, eu não sinto nada, eu não sinto meu corpo.
- Não é nada, aguente firme.
Leonardo ligou e pediu ajuda, enquanto passava a mão no rosto
de Renata, tentando mantê-la acordada. Ele estava desesperado, pois não
sabia o que fazer mais para ajudá-la.
- Eu já chamei ajuda meu amor. Resista firme.
- Léo, você me fez uma pergunta, não fez?
124
Coração x Cérebro
- Esquece isto, fique tranquila que a ajuda já vem.
- Léo, olha pra mim.
Com esforço ela colocou a mão no rosto do amado, olhou bem
nos olhos dele e disse:
- Eu te amo sim. Eu nunca vou deixar de te amar.
- Eu sei meu amor, eu sempre soube.
Leonardo chorava.
- Eu sempre te amei e... fui a mulher mais feliz do mundo por
ter você na minha vida... e tem mais uma coisa...
- O que meu amor?
Renata fechou os olhos e morreu na frente de Leonardo, sem
terminar a frase. Ele tentou acordá-la. O resgate chegou, mas não havia
nada que fizessem por ela.
- Então Josh, Leonardo se sentiu culpado pela morte de Renata,
Toth pediu que eu ajudasse ele nestes momentos difíceis.
- Foi aí que você começou a gostar dele, tia Jéssica?
- Pode-se dizer que sim, Josh. Na verdade, eu sempre gostei dele,
desde que era bem pequena. Quando passei a cuidar dele, passei a ver o
homem que ele era. Ele era cuidadoso, parecia que ele é quem cuidava
de mim. Eu me apaixonei por ele. Eu tentei me aproximar dele, mas ele
amava muito a Renata, e mesmo que ele quisesse tentar seguir em frente,
ele não conseguia. Onde quer que ele estiver, sua mãe é ainda presente
dentro do coração dele. Plumann sofreu muito com a morte de Renata,
ele se tornou mais frio. Ele parou de perseguir Leonardo, mas ainda tinha
medo de que Leonardo o prejudicasse. Ele enviou Leonardo para a base
lunar. Leonardo aceitou prontamente, ele já não tinha mais nenhuma
ambição. Ele não tinha nem mais esperanças em nada. Leonardo desistiu
de Deus e da sua fé. Muitos disseram que ele se tornou descrente a partir
deste momento. Ele culpava Deus pela perda do filho e mais ainda pela
perda de Renata. Ele dizia que preferia ter morrido a perder Renata.
- Ele entrou em depressão, não comia, não queria trabalhar
e chorava demais. Toth percebendo que talvez Leonardo nunca se
recuperaria, e com a família totalmente desfeita, deu a presidência a
125
Coração x Cérebro
Plumann. Toth abandonou tudo e decidiu cuidar de você. Leonardo
começou a investir em outra pesquisa, uma que revertesse o código
neuronal, que havia lhe dado o Nobel. Ele queria desestruturar tudo o
que havia feito, pelo menos salvar sua mente daquilo que ele chamava
o “fim da liberdade” que o seu trabalho havia instaurado na vida das
pessoas. Era a única coisa que ele podia fazer para tentar limpar sua
consciência. Ele testou em si mesmo a pesquisa de desestruturação do
código neuronal. Josh, eu acredito que ele queria morrer. Sua experiência
deu certo, mas ele se fingiu de louco por anos buscando se esconder do
mundo, se esconder de todos, e acho que se esconder de si mesmo. Era
como se ele estivesse se castigando por ser o culpado de tudo que havia
feito.
- Jéssica, se era Leonardo quem estava com minha mãe no
acidente, então meu pai morreu de que?
Jéssica abaixou a cabeça, e olhou para o garoto.
- Você quer saber mesmo? Você precisa ser forte.
- Eu sou forte tia Jéssica, e eu preciso saber a verdade.
- Durante o enterro da sua mãe, seu pai não quis ir ao cemitério,
ele ficou no apartamento. Lá ele subiu na sacada do apartamento e se
atirou do nono andar.
O garoto ficou atônito, ele abaixou a cabeça e soltou algumas
lágrimas.
- Uau, que terrível tia! Estou pasmo. Por que meu pai fez isto?
Ele não pensou em mim? Ele me abandonou então?
- Josh, acho que nunca saberemos. Você não deve culpá-lo. Não
sabemos o que ele passou né?
- Agora eu perdi meu avô...
Josh começou a chorar nos braços de Jéssica. Era muito difícil
para ele entender porque estava passando por tudo isto.
Leonardo contava a mesma história para Elias.
- Deus me tirou tudo que eu tinha, e eu o odeio. Nunca vou
perdoá-lo. Viverei desprezando a existência dEle. Como um Deus no
céu, pode desgraçar a minha vida, como Ele fez? Me desculpe, eu sei que
126
Coração x Cérebro
vocês não precisam ouvir isto. Mas Elias, foi assim que tudo aconteceu.
Eu e Plumann não nos entendemos, eu bem que tentei, mas ele me
odeia. E deve me odiar mais ainda, porque eu fui o culpado da morte da
Renata. Eu já me odeio por isto, eu nunca me perdoei.
- Eu entendo Leonardo. Já a coitada da Maasti, ela não entendeu
nada. Ficou vendo nós dois conversarmos.
- Que nada Elias. A Maasti é bem inteligente. Mas espero que
não tenha entendido nada mesmo. Sorte dela não ter de ouvir a tragédia
que é a minha vida.
127
Exílio - Parte II
Exílio (Parte II)
Capítulo 11
Maasti estava sorridente naquele dia. Ela soube que finalmente
visitaria a cidade.
- Bom dia Leonardo.
Cumprimentou o colega com um beijo na testa dele.
- Bom dia Maasti.
- Léo, passa leite pra mim?
Leonardo entregou o leite pra ela. Já havia se passado 9 meses
que viviam ali na mansão. Maasti havia aprendido rápido o inglês, e
sabia também muitas coisas em Português que Leonardo havia ensinado.
Maasti era uma mulher extremamente pacífica e dedicada. Ela tomava
conta da casa, distribuía as funções para as pessoas que trabalhavam
ali, ela amava fazer isto. Ela sempre estava pronta a comandar, mas
trabalhava muito também. Leonardo trabalhava com algumas tarefas
mais pesadas, mas Maasti o ajudava. Ela gostava de se exercitar, igual
como quando treinava para as batalhas. Ela fazia exercícios de resistência
física e rapidez. Outra coisa que ela gostava de fazer era cavalgar com
um dos cavalos que eram criados na ilha. Ela amava cavalos. Encontrava
neles características da qual ela própria tinha, como força e resistência.
Leonardo conversava com ela sempre, eles ficaram muito próximos.
As dificuldades iniciais faziam que ela estivesse sempre com Leonardo
para aprender, e mesmo tendo aprendido muitas coisas ela não perdia o
hábito de estar perto dele. Ela o admirava, gostava da presença dele.
Leonardo não gostava de falar de seu passado, muito menos
de ouvir sobre o passado dos outros. Ele evitava pensar no que passou,
mesmo que pensasse nisto todos os dias. Sempre havia algum momento
128
Exílio - Parte II
do dia que o fazia sentir muita falta de Renata. O amor por ela nunca
havia passado, nem um dia sequer. Por mais que ele quisesse esquecer
o quanto a amava, menos ele conseguia. Somente duas coisas o faziam
esquecer de Renata. O trabalho e a companhia de Maasti. Como ela era
diferente da antiga esposa, nada nela o fazia lembrar de Renata. Maasti,
com dificuldade, havia contado para ele sobre o planeta natal dela.
Contava que na língua dela chamavam o mundo deles de Vasoo, que
significa algo como “Rocha”, devido a predominância de Rochas pelo
planeta. Leonardo ficou muito curioso quanto ao planeta dela, mas disse
que não queria que ela contasse a história dela, pois ele se sentiria no
direito de contar a história dele, coisa que não o faria bem. Ele dizia a ela
que estavam vivendo uma nova história. O que ele não sabia é que Elias
contou para ela tudo o que sabia sobre Leonardo. Elias achava que seria
interessante ela saber para que não dissesse algo incoveniente na frente
de Leonardo. Muitas coisas ela mal havia entendido direito, mas com o
tempo ela iria entender.
Elias se sentou à mesa e cumprimentou a todos de longe, ele
estava feliz pois iriam finalmente sair pra rua.
- Então Leonardo e Maasti, hoje vamos a Georgetown para fazer
algumas compras e ver como está a situação. Eu tenho ido por lá, e
não vi os homens de Plumann em nenhum lugar, é como se tivessem
abandonado a cidade.
- Elias, devemos estar sempre preparados. Disse Leonardo
- É verdade, temos de andar sempre perto do nosso carro, pois
se acontecer alguma coisa, nós podemos fugir rapidamente. Não posso
levar nenhuma arma, pois há bloqueadores de armas por todos os lados.
Depois das revoltas há 3 anos atrás, andar armado é proibido na Guiana
e eles colocaram bloqueadores de armas à laser. As únicas que poderiam
ser usadas são as armas de fogo, mas se alguém encontrar alguma aí, me
avise.
- Não duvido que foi Plumann quem forneceu os bloqueadores.
- Mas é claro que foi ele, Léo! Ele quer controlar o planeta!
- O planeta não! Só o universo!
Todos riram. Maasti ficou curiosa e perguntou.
129
Exílio - Parte II
- Elias, Onde fugir se vier homens atrás nós?
Como Maasti estava ainda aprendendo a língua, sua conversa
não era totalmente bem construída.
- Bem querida, o melhor lugar pra fugir é a igreja. Elias deu uma
piscada para Maasti, pois estava provocando Leonardo com a resposta.
- Bem engraçadinho você Elias. Completou Leonardo. - Mas
você não está errado. Olha Maasti, Plumann não contente em dominar o
planeta e o espaço conhecido, ele fez um programa secreto de unificação
das igrejas no mundo, onde as igrejas seriam organizadas com a batuta
da Toth Corporation. A Toth daria privilégios às igrejas, sendo que estas
poderiam pregar o que quisessem, desde que não fizessem propaganda
negativa contra a empresa e seu presidente. Plumann sempre convenceu
a todos que estas medidas são para um aumento do conhecimento e
moralidade da população e também de apoio aos movimentos religiosos
no mundo, para principalmente sufocar os movimentos fundamentalistas.
Com as igrejas unidas em um ideal de reforma espiritual e moralidade no
mundo, que enfrentava desde o início do século uma onda de apostasia
e indiferença religiosa, tudo se tornaria mais previsível e pacífico.
- Plumann acabou destruindo a liberdade, promovendo uma
“possível paz”. Os próprios cristãos esqueceram o que estava escrito
na Bíblia em primeiro Tessalonicenses, acho que capítulo 4 ou 5, onde
diz que “quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá
repentina destruição.1”Eu diria que veio sim a destruição, da liberdade
no mínimo. Plumann criou a OMIC, Organização Mundial da Igreja
Cristã, em conversa com a igreja católica, declarando assim o Papa como
representante da igreja em todo o mundo. Ele não se tornou o líder,
apenas o representante, tomando parte da posição da igreja cristã em todo
o mundo. Algumas igrejas não concordaram em participarem da OMIC
e tiveram dificuldades. Não tinham autorização de funcionarem, não
podiam comprar nada. Muitas viveram anos com doações de fiéis, mas
com as dificuldades os próprios fiéis foram se afastando destas igrejas, que
fecharam. Existem algumas igrejas, grandes igrejas que não participam da
OMIC, que sobrevivem, como a que eu frequentava. Mas elas não vivem
como igrejas, mas são representadas pelas suas universidades, escolas e
130
1. Tessalonicenses 5:3
Exílio - Parte II
hospitais e é assim que elas sobrevivem. Estas igrejas funcionam como
capelânias dentro dos hospitais e universidades, e seus membros não
são cadastrados. Seus cultos são disfarçados e não possuem divulgação
nenhuma, nem mesmo na fachada. Seus ministros, muitos oriundos
de outras igrejas da OMIC, rebelados e reconvertidos trabalham nestas
“capelânias” e não são monitorados. Os fiéis são monitorados, mas
Plumann não dá importância, pois como são poucas denominações, ele
não acredita que sejam perigosas. Acredito que um dia ele vá perseguir
estas igrejas, pois elas crescem exponencialmente. Mesmo assim, hoje
as igrejas são os lugares mais seguros do mundo contra Plumann, pois
são os órgãos que mais possuem liberdade no mundo ainda, mesmo
com tudo isto. Plumann ele faz de tudo para criar nas igrejas um clima
de liberdade. O que os cristãos não sabem é que eles são de uma forma
controlados pela maior organização do mundo.
- Muitos escolheram isto, são estes os que mais concordaram
com o movimento de união da igreja nos anos 80 e 90. Já outros mal
sabem disto. Nunca imaginariam que estão atrelados a uma organização,
que cujo CEO é um homem tão fundamentalista quanto aos que ele diz
querer destruir. Um homem tão cruel quando ao inimigo que eles pedem
a Deus que os livre e tão pecador quanto os apóstatas e indiferentes que
ele tanto odeia. É por este e mais alguns motivos que não acredito mais
em Deus, ele me abandonou e todos os seus. Sorte sua Maasti, que não
sabe de nada sobre isto.
- Ai Léo. Elias me deu Bíblia. Leitura muito boa.
- Esquece o que eu disse então. Disse Leonardo, rindo da irônia
da coisa. Ele estava indo levar seus sucrilhos à boca quando Maasti
começou a falar ainda sobre o assunto.
- Elias dizer que ajuda aprender ler. Sabe, eu estar ler uma parte
chama Genessis...
- Gênesis, querida. Corrigiu Elias.
- Gênesis. Verdade. Li lá coisa muito igual ao meu...
- Vou tomar banho, a gente vai ter de sair logo mais. Disse
Leonardo, desinteressado com o que Maasti fosse falar sobre a Bíblia.
Leonardo foi para seu quarto, sentou na cama e pensou um pouco. Ele
131
Exílio - Parte II
estava muito triste. Caíram lágrimas. Sentia falta de quando acreditava
em Deus, quando era feliz, quando tinha a mulher que amava. Maasti
percebeu que o assunto não interessou a Leonardo e voltou a comer sem
entender nada. Elias sentindo que devia explicações para a jovem, disse:
- Sabe querida, falar sobre a Bíblia, ou sobre fé é complicado pra
ele. Eu achei muito estranho ele ter falado tudo isto sobre igreja. Você viu
que ele falou uma frase da Biblia? Ele sabe tudo sobre ela, sobre religião.
Ele já foi um dos grandes jovens pregadores da América do Sul, pouco
antes de estudar medicina. Agora ele nem pode ouvir falar de Deus. O
problema é que tudo sobre a Bíblia e religião o fazem lembrar do passado
que ele busca esquecer a todo o momento. Espero que você entenda.
- Eu entender. Respondeu Maasti
Elias, Leonardo e Maasti foram para o centro de Georgetown.
Primeiro pegaram um barco e depois ancoraram num dos portos da
capital. Leonardo, tanto quanto Maasti usaram chapéus e óculos escuros
para disfarçar o máximo que podiam suas feições. Maasti escondia todo
seu enorme cabelo. Leonardo pediu para que ela não encarasse ninguém,
pois qualquer pessoa que a visse poderia ter sua mente monitorada, o que
poderia ser facilmente identificado por Plumann. Maasti seguia tudo que
ele falava. Andaram bastante, compraram comida e roupas. Maasti estava
muito contente. Ela adorava a Terra. Mesmo sabendo que tinha sido
hostilizada de imediato, ela nunca sentira tanta paz na vida. Não havia
guerras e diferenças de sexo. Ela gostava de estar entre os homens, tanto
quanto estava com as mulheres em seu planeta natal. Ela não sabia se
voltaria, e não queria voltar, mas estava gostando da Terra. A única coisa
que a fazia sentir falta de seu planeta era a saudade e amor por Malda,
sua filha.
Joan Melnick, tão rica quanto o dinheiro possa existir, passeava
na Guiana. Ela trabalhava como decoradora de interiores nos Estados
Unidos e viera ao país para o projeto de reforma da casa do embaixador
americano na Guiana. Ela queria estudar o estilo guianense e usar como
parte da decoração da casa de seu cliente, e também amigo. Ela adorava
132
Exílio - Parte II
estes grandes mercados de rua, pois encontrava tapeçaria, artigos feitos
de porcelana e argila, que poderiam dar um ar rústico à casa. Ela não
perdia o mercado nenhum domingo, seja em Georgetown, Veneza, Cali,
Calcutá, Paris, Rio, onde seja, ela adorava ver a cultura local. Ela andava
tranquilamente vendo artigos dos mais diversos. Mas algo chamou a
atenção de Joan. Ela viu uma pulseira. Uma pulseira que nunca havia
visto igual em parte alguma do planeta. A pulseira estava na mão de
uma mulher de chapéu e óculos escuros. Joan pensou, esperou uma
oportunidade e chegou até a moça e lhe perguntou:
- Com licença, meu nome é Joan, sou perita em decoração e arte
do mundo todo. Se me desculpe o incômodo, mas esta sua pulseira é
diferente de tudo que eu já vi. De onde ela é?
Quando Maasti ia dizer alguma coisa, Leonardo se interpôs.
- Me desculpe, mas Maria não fala inglês, ela é portuguesa e está
visitando o irmão que mora aqui.
Leonardo falando em português pra Maasti, disse que a senhora
havia gostado da pulseira e perguntava de onde era. Maasti entendeu
apenas a palavra “senhora”, mas a intenção ela entendeu perfeitamente,
e respondeu “Éden”. Ela disse isto pois havia lido a Bíblia e viu muito
se falar sobre o jardim do Éden e ficou com aquele lugar na cabeça.
Leonardo pensou na enrascada que estava pois não existia o Éden na
Terra. Ele precisava improvisar. Joan confusa perguntou a Leonardo:
- Éden?
- Sim... Éden. Não sei se você conhece, mas no Texas tem uma
cidade chamada Éden e...
- Já ouvi falar.
- Que ótimo! Ela tem um tio que mora lá. Acho que foi lá que
ela comprou.
- Pergunta pra ela de qual é a procedência, pois com certeza não
foi feita no Texas.
Leonardo já estava irritado, mas, sorrindo falsamente, perguntou
em português para Maasti se haviam falado de onde era a pulseira.
Maasti havia só entendido o verbo “falar”. Leonardo pensou até em falar
na língua nativa de Maasti, mas tinha receio que a mulher soubesse
133
Exílio - Parte II
distinguir as línguas, já que havia dito que era perita no mundo da arte,
ela deveria saber no mínimo a diferença entre a língua portuguesa de
uma língua tribal. Imaginava isto pois o Brasil já foi no início do século
o país do momento, e a arte brasileira era uma das mais valorizadas do
mundo. Não podia arriscar de jeito nenhum. Maasti diante de outra
pergunta respondeu “Assíria” conforme tinha lido em Gênesis no
capítulo 2 naquela manhã, e era tudo que ela lembrava, pensava que se
Leonardo perguntasse de novo algo, ela só poderia responder “Adão e
Eva” pois ela não pensava em nada mais o que falar.
- É da antiga Assíria. Respondeu Leonardo para a mulher.
Quando ia se despedir, a mulher não deu trégua.
- Nossa, nunca vi este tipo de arte da antiga Assíria. É incrível!
Ela sabe onde eu posso encontrar este tipo de material?
Leonardo queria estrangular a mulher, ela não parava. Ele olhou
para Maasti com um sorriso e disse em Português “Ai, que saco”. Maasti
olhou pra ele e balançou a cabeça negativamente. Ela estava querendo
dizer pra ele que não tinha mais o que falar. Ele sorriu para a Joan e
disse:
- Não, ela não sabe, me desculpe. Infelizmente temos de ir, foi
um prazer. Leonardo cumprimentou a mulher e foram embora.
Leonardo olhou para Elias e disse:
- Imagine se a Maasti tivesse lido um gibi hoje.
Elias começou a rir e completou o pensamento:
- Ela iria dizer que pulseira veio de Gotham City.
Eles riram. Maasti olhou para Leonardo e perguntou:
- Quem é gibi?
- Maasti, algum dia eu te conto. Mas agora, por favor, esconda
esta pulseira antes que apareça outra fã sua.
Maasti fez uma careta para Leonardo e guardou a pulseira no
bolso da sua calça. Ela adorava o senso de humor dele.
Plumann estava em seu escritório, junto a ele estava Anthony,
seu assistente particular. Eles discutiam sobre as reuniões que teriam
com os chefes de Estado. Haveria uma cúpula para discutir a divisão
134
Exílio - Parte II
das reservas de água que sobraram no planeta. Ele se encontraria com
os representantes sul americanos e falariam sobre o futuro da Bacia
Amazônica. No momento que escolhiam as pautas, a mesa de Plumann
recebe uma chamada, ele trasnfere a chamada para seu receptor auricular,
era do diretor do setor de monitoramento cerebral.
- Plumann falando.
- Bom dia senhor Plumann
- Bom dia Fred, ou boa noite, sempre me confundo.
- É bom dia mesmo. Senhor Plumann, encontramos o alvo.
- Vocês encontraram a bertiniana?
- Sim senhor, ela está em Georgetown, Guiana.
- Espere um minuto.
Plumann pediu para Anthony chamar o encarregado militar da
Toth.
- Me desculpe, já estava me adiantando. Fred, como vocês
descobriram a localização da bertiniana?
- Quando há nove meses você pediu que buscássemos todas
as informações necessárias para a localização, nós escaneamos todas
as informações dela e colocamos como prioridade no sistemas de
monitoramento. Há apenas 15 minutos uma americana chamada
Joan Harvey Melnick, que está na Guiana, entrou em contato com a
bertiniana em um mercado. Mas a bertiniana não foi identificada pela
face, já que escondia o rosto, mas o computador reconheceu a pulseira
que ela carregava. Acreditamos que seja ela, pois acessando as memórias
da mulher, o tom de pele é o mesmo, tanto quanto altura e tom da voz.
São 83% de chances de ser nosso alvo.
- Fiquem tranquilos quanto a isto. Fred, eu quero que você envie
para Pitt todas as informações que forem coletando. Eu quero uma cópia
de tudo, principalmente da imagem captada pelo cérebro da americana.
Temos de pegá-los hoje.
James Pitt, general aposentado, ganhava um salário enorme
para cuidar de grupos militares de patrulhamento e pacificação da
Toth Corporation. Ele estava em sua sala. Ele estudava estratégias para
135
Exílio - Parte II
desocupação de áreas consideradas perigosas devido ao aquecimento da
Terra. Quando Anthony bate na porta, Pitt autorizou sua entrada.
- General, Plumann gostaria de vê-lo urgentemente.
- Sim, estou indo agora.
Pitt deu um gole no café e foi até a sala de Plumann.
Maasti viu alguns objetos de artesanato e se interessou. Ela se
interessou num vaso antigo, de 2056, todo de vidro e fibra de carbono,
falou com Elias e ele pagou os 6 dólares guianeses que custavam o vaso.
Outra coisa que a jovem quis levar foi um arco indígena da tribo Tembé.
A vendedora explicou para Maasti, conforme ela pode entender, que a
tripo Tembé vivia nas regiões do Maranhão e do Pará, no Brasil. É um
povo considerado extinto e a última vez que viram algum representante
desta tribo foi em 2034. Ela disse que já foram extintos uma grande
parte das tribos indígenas da América do Sul. A vendedora, a título de
curiosidade, disse que em Tupi-Guarani, língua nativa desta tribo, o arco
é chamado de “Yaporá” e a flecha de “Uyba”. Maasti achou bastante
engraçado a língua tupi e prestava atenção em tudo o que a vendedora
dizia. O preço era de 70 dólares americanos. Maasti queria levá-los, então
olhou para Elias. Elias disse que ela poderia levar, pois eles tinham
dinheiro suficiente pra muito tempo. Elias pagou. Todo o dinheiro que
usavam era de uma reserva que Toth havia deixado. Uma reserva de mais
de 20 milhões de dólares, para uso até onde desse. Como a mansão tinha
poucos gastos e sua energia era toda sustentável, sobrava dinheiro. Maasti
ficou muito feliz, pois mesmo tendo um arco, quando era líder-guerreira,
aquele arco nunca fora dela. Após isto foram a um supermercado e
Maasti se maravilhou com a quantidade de comida estocada em um
lugar só. Leonardo se divertia vendo a amiga encantada com um mundo
todo novo, que ela só vira bem pouco.
- General Pitt, eu tenho uma missão para você. Não sei se você
se lembra do projeto Berta?
- Sim, eu me lembro. Qual é a missão Plumann?
- Nós encontramos a bertiniana, e com certeza Leonardo também
136
Exílio - Parte II
está com ela.
- Como você tem certeza?
- Temos imagens capturadas por nosso espião. Leonardo está
com ela.
- Já vou enviar tropas pra lá, agora. Nós vamos encontrá-los.
- Não General. Não quero chamar a atenção de ninguém, tem de
ser uma abordagem discreta.
- Tudo bem, eu vou enviar o grupo de escolta da embaixada
americana em Georgetown, ninguém perceberá.
- Melhor assim. Muito obrigado, General.
O General Pitt se dirigia até a porta, mas algo perturbava sua
mente. Ele tinha de perguntar.
- Sr. Plumann, eu tenho uma pergunta.
- Pode dizer, General.
- Como o senhor consegue todas estas informações? Ter um
espião em Georgetown é um tanto estranho, pra não dizer bizarro.
- Bem General...
Plumann se levantou e colocou a mão no ombro do colega e
completou:
- Não posso te contar pois é confidencial, mas com muito
trabalho, persistência e um pouco de fé, nos conseguimos o que
queremos. Eu preciso deles, e não posso descansar um minuto só. Na
hora certa você ficará sabendo.
O General saiu dali, com mais curiosidade do que quando entrou.
Imediatamente ele recebeu informações do setor de monitoramento sobre
a localização de Leonardo e de Maasti. Lá um computador localizou
todas as pessoas que estavam em Georgetown e os computadores iam
achando nas imagens dos cérebros destas pessoas onde estavam Leonardo
e Maasti. Ao invés de ter câmeras para vigiar, cada pessoa era uma câmera
viva, a um custo extremamente inferior. Plumann pediu pro diretor
de monitoramento cerebral monitorar o General Pitt, sua pergunta o
preocupou, e ele tinha medo de que questionamentos, ainda mais de
um general, colocasse em cheque seu posto, e principalmente, colocasse
em risco a Toth Corporation. Ninguém sabia da existência do setor de
137
Exílio - Parte II
monitoramento a não ser as pessoas envolvidas com este trabalho. Apenas
dois diretores mundiais da Toth (Eram 10 no total, mais 14 vice-diretores,
126 diretores regionais, e mais um representante, no mínimo, em cada
país aliado) tinham conhecimento deste trabalho. Todos os que tinham
contato com este trabalho não podia ser demitidos, apenas deslocados
pra outros departamentos, ligados ao de monitoramento. Eles eram
monitorados por um computador especial, que era acessado somente
pelo diretor de monitoramento e por Plumann. Se, por acaso, eles
contassem a alguém sobre o que faziam lá, imediatamente o computador
os acusava, e tanto o delator quanto o que recebeu a informação eram
presos. As penas poderiam ir de apagamento de memória, prisão ou até
a morte, sem julgamento. Ninguém até hoje havia morrido, geralmente
eles apagavam a memória do indivíduo, com efeitos colaterais. Todos
diziam que preferiam a morte a ficarem presos. A prisão consistia de
encarceramento total, sem direito de se comunicarem com ninguém.
Ninguém sabia onde ficava esta prisão, e quem poderia esta lá. Alguns
diziam que a prisão ficava na lua, outros em alguma ilha. Ninguém
sabia, apenas o diretor de monitoramento e Plumann.
Carlos estava sentado lendo uma revista. Um dos seus colegas
jogava “Mortal Commands” no seu relógio e aquilo o estava incomodando.
Ele chegou para o seu superior e disse que iria ao banheiro. Ele seguiu
pelo corredor e foi até o banheiro. Chegando lá, abaixou a tampa do vaso
sanitário, sentou-se sobre ela e continuou a ler sua revista, agora em paz.
Passados poucos minutos ele ouviu passos do lado de fora. Não seria
algo estranho, apenas por um detalhe: eram passos de soldados correndo.
Ele ouviu alguém entrar no banheiro. Ele suspeitou. Carlos pegou sua
faca, se levantou, encostou na parede. Se alguém se aproximasse, ele não
hesitaria. Apoiado na parede, ele começou a suar, estava alerta. Foi neste
momento que o seu colega o chamou pelo nome.
- Carlos? Você está aí?
Carlos, respirou mais calmamente, abriu a porta e perguntou
o que o colega queria. Seu colega disse que eles tinham uma missão e
precisavam correr agora. A primeira informação que Carlos e seus colegas
138
Exílio - Parte II
receberam era de colocarem roupas comuns, pois atuariam na capital e
não podia chamar a atenção.
Carlos se perguntava que missão poderia haver em Georgetown.
Não haviam mais protestos e tudo estava em ordem como nunca. Ele
recebeu uma arma de choque de última geração, projetada pela Toth
Corporation. Era uma pequena arma de raio paralisante. Pensava que
por se tratar desta arma, alguém não queria baixas, talvez fosse algum
protesto de rua. Quando chegaram na igreja matriz da capital, o Sargento
pediu que ficassem nos carros esperando que um agente à paisana iria
passar as informações. O sargento deu alguns detalhes da missão. Eles
teriam de abordar, com vida, um homem e uma mulher. Eles eram
considerados perigosos. E todos deveriam ter cuidado.
Leonardo, Elias e Maasti já tinham comprado alimentos e
algumas roupas, eles finalmente foram comer algo. Entraram em um
restaurante e pediram o cardápio. Pediram uma refeição, e enquanto
esperavam. Leonardo começou uma conversa.
- Maasti, eu queria lhe pedir desculpas, hoje de manhã eu não
queria falar sobre aquel...
- Não precisa desculpas, Léo. Eu entender.
- Que bom! Leonardo deu um sorriso.
- Leonardo, nós esconder rostos porque eles lêem cérebros todos.
Você explicou mim. Não entender como ler cérebros pessoas. Como?
- Bem... eu teria de te explicar muita coisa, por enquanto você
deve saber que eles lêem os pensamentos, as memórias e sabem o que as
pessoas estão olhando e dizendo.
- Como câmera dia da operação nuca?
Leonardo pensou um pouco, não tinha entendido. De repente
ele se lembrou.
- Ahhh! Isto mesmo, eles conseguem saber os que as pessoas
vêem, como naquele dia que você me desmonitorou. Como você olhava
uma câmera pra acompanhar eles olham o que as pessoas fazem. Cada
pessoa, sem saber, trabalha para Plumann. Por isto temos de escondernos, pois eles nos vigiam, e não com câmeras, mas usando cada pessoa..
139
Exílio - Parte II
- Quem ver eu, eles vê eu?
- Isto, quem te ver, eles podem te ver a mesma coisa. Mas eles
PODEM te ver, mas não significa que eles realmente te vêem.
- Como? Não entender.
- A Toth Corporation, possui em sua base na lua, milhares de
computadores, mesmo assim nosso planeta possui 11 bilhões de pessoas.
São muitas pessoas para se monitorar. Então as pessoas que trabalham
no centro de monitoramento filtram as pesquisas. Se eles colocarem seu
rosto para ser monitorado por todo o mundo, poderiam levar meses para
o computador processar esta informação, pois identificação de rosto ou
lugar é o que de mais complexo que há em tudo isto. Então eles focalizam
em informações mais simples e específicas ou, pelo menos, no que é
mais eficiente. Eles limitam a pesquisa a uma determinada região. Em
algumas vezes eles unem duas palavras, por exemplo: “terrorismo” mais
“plano” e eles vão filtrando ideias, pensamentos e conversas que tenha
a palavra plano e a palavra terrorismo, ou terrorista. Nós estamos em
risco estando aqui na Guiana, pois podemos estar sendo monitorados,
por isto estamos escondendo nossos rostos. Se eles deixaram para um
computador nos monitorar aqui na Guiana, basta uma pessoa te olhar,
reconhecer sua fisionomia e mais facilmente o computador te descobre,
já que estamos numa região com poucas pessoas. Os desenhos dos olhos
e da boca são fundamentais para identificação de alguém. Você já viu que
muitas pessoas às vezes parecem mais bonitas de óculos escuros? Isto é
porque os óculos escuros redesenham o formato do rosto, escondendo o
desenho original.
- Leonardo, você dizer igreja é lugar mais indenpemendente. Me
explicar melhor?
- Se fala “independente”, Maasti. Bem, como te falei, as igrejas
são unidas como uma organização só, algo similar com a nação
americana, estados independentes em um grupo junto. As igrejas são
independentes, mas vinculadas a uma organização só, e seu representante
geral é o Papa. Plumann é um cristão extremamente fanático, ele quis
monitorar o mundo, mas sentiu que era anti-cristão monitorar os chefes
das igrejas, no caso, padres, pastores, bispos, etc. Ele os vê como homens
140
Exílio - Parte II
de Deus acima de qualquer suspeita. Ele com medo de um castigo divino
preferiu descartar qualquer tipo de leitura cerebral de homens a serviço
de Deus. Para isto, ele junto com a OMIC, decidiu que todos os homens
colocados para ministrar qualquer igreja, seriam cadastrados, e ele
bloquearia o monitoramento cerebral. Quase nenhum ministro religioso
sabe disto, eles acham o cadastramento foi apenas uma das regras gerais
da OMIC. Se soubessem haveria dois problemas. Uns se aproveitariam
disto, e outros se revoltariam contra a Toth Corporation, criaram uma
revolução. Acredito que muitas pessoas se revoltariam se soubessem que
são monitoradas, como também acredito que uma outra parte aplaudiria
de pé.
- Entendi. Como você saber tudo isto?
- Então, eu desenvolvi o monit...
Leonardo parou de falar quando viu um homem entrar. O
homem olhava para eles. Leonardo desconfiou. Havia algum volume
debaixo de sua blusa, provavelmente seria uma arma. Lembrou-se que as
armas eram bloqueadas na Guiana, o homem ou era da polícia ou do
exército. Maasti percebeu o que estava acontecendo. O homem sentou
no balcão mas, vez ou outra, olhava para eles. Leonardo decidiu conferir.
Ele foi até o balcão e pediu para o cozinheiro não colocar tomate na
salada que haviam pedido. Olhou para o homem, e sorriu pra ele. O
homem sorriu falsamente, e Leonardo perguntou de onde ele era, pois o
nunca tinho visto por ali.
- Sou da Bolívia. O homem chutou um país da região. Leonardo percebeu, pelo sotaque, que ele era americano.
- Você é do interior ou da região litorânea da Bolívia?
- Sou da capital na verdade. Respondeu o homem.
- Eu sempre frequentei as praias bolivianas. Gosto muito. Não
são bonitas?
O homem estava perdendo a paciência.
- Eu não gosto muito de praias. Sejam da Bolívia ou daqui.
- Interessante, porque eu acho que o senhor tem algum problema.
O homem se levantou e encarou Leonardo. O homem era bem
mais alto que ele.
141
Exílio - Parte II
- Que problema eu tenho? Eu sou obrigado a gostar de praias?
- O problema é que na Bolívia não tem praias.
O homem perdeu a paciência e apertou o pescoço de Leonardo e
o levantou, com a outra mão pegou o rádio e avisou que podiam entrar.
Leonardo deu socos no homem, sem fazer efeito. Leonardo estava quase
desmaiando quando o homem o soltou. Leonardo olhou para o homem
e o homem caiu ao chão morto, ele olhou havia uma flecha encaixada
nas costas do homem. Quando olhou para o lado, Maasti estava em pé
com seu arco empunhado. Ele rapidamente disse:
- Corram, fomos descobertos.
Carlos recebeu o chamado para avançarem, eles atravessaram a
praça onde do outro lado estava o tal restaurante. Ele viu claramente sair
um dois homens e uma mulher. Ele corria em direção a eles, abaixado,
com a arma na mão. Neste momento em que corria ele vê a mulher se
virando para o lado deles, pegando uma flecha, colocando num arco e
mirar em direção a eles. Carlos pulou no chão, se esquivando, no mesmo
momento que a flecha passou raspando por ele, acertando a perna do
soldado que estava atrás dele. Carlos nunca tinha visto algo assim. Ele
estava impressionado. Leonardo correu por entre as casas, levando Elias
e Maasti, com ele. Leonardo não sabia onde estava indo exatamente, mas
desviava pelas casas. Eles tinham de chegar até o carro, rapidamente. Os
soldados que os seguiam, tiveram de ir com mais calma, pois haviam
inúmeras pessoas assustadas e eles não queriam causar um estardalhaço.
O sargento havia dado uma foto das duas pessoas que deveriam ser
capturadas. Carlos, na hora, imaginou que eles não pareciam perigosos,
e pensava que o rosto do homem não era tão estranho. Mas a foto da
mulher é o que lhe chamava mais a atenção. Ela na foto não estava como
uma foto comum de documento, ela estava deitada em uma “maca” de
olhos fechados, como se estivesse dormindo. Porque a foto da mulher
era daquele jeito? É como se fosse a única foto que tivessem. O que a
empresa queria com aquela mulher? Ainda mais viva?
O Sargento pediu, pelo comunicador auricular, informações
142
Exílio - Parte II
sobre os alvos. Pelo seu tablet ele recebeu a localização aproximada de
cada um deles. Ele deu instruções aos seus homens. Um dos homens
pegou o soldado ferido e o levou até o furgão, que também servia como
ambulatório. Leonardo pensou em algo. Ele disse precisavam mudar
de roupa. Ele pediu que Elias levasse Maasti com ele para um lado
do cidade, enquanto ele próprio iria para o outro lado. Como os dois
estavam sendo vigiados, caso se separassem, os soldados se dividiriam, e
ficariam mais fracos. Leonardo perguntou quantas flechas Maasti tinha,
ela respondeu que apenas uma. Sendo assim, ele pediu que mantivesse
a arma com ela como proteção. E depois que não fosse necessário, ela
descartasse o objeto pra não chamar a atenção. Leonardo disse para Elias
levar Maasti para um lugar onde não tivessem pessoas, para que eles
ficassem mais protegidos.
- Eu não separar você. Disse Maasti.
Leonardo segurou o rosto dela e bem perto dela disse:
- Você precisa. Nem que demore uma vida, eu volto.
Maasti abraçou bem forte o amigo.
- Tão logo a gente se vê, tá? Seja confiante. Terminou Leonardo.
Por um antigo instinto ele pensou em dizer “confie em Deus”,
mas ele não queria realmente dizer isto. Ele apenas beijou a testa de
Maasti e mandou eles irem.
- Vão! Corram e se escondam, qualquer coisa use este negócio aí.
Ele falava do arco. - E pelo jeito ela sabe muito bem usar. Disse ele pra si
mesmo.
Eles correram para o lado norte, enquanto Leonardo foi para o
outro lado. Ele tinha um plano.
O general, ao recebere a informação que os alvos se dividiram,
decidiu dividir sua tropa em dois grupos. Elias e Maasti correram, quando
cruzaram uma multidão, eles pararam pra não levantar suspeitas, Maasti
pediu para Elias parar em frente uma banca, ela viu um violão aberto
dentro de sua maleta e pediu para ele comprá-lo. Ele não entendeu o
porque, mas obedeceu. Quando pegaram o violão, calmamente, sem que
ninguém percebesse, ela colocou o arco e a flecha dentro da maleta do
violão. O violão ela deixou no caminho. Tudo isto para não levantar
143
Exílio - Parte II
suspeitas, já que ela sabia que cada olhar curioso se tornava um câmera
de Plumann. Elias parou em uma loja e comprou algumas roupas. Alguns
casacos, lenços, chapéus. Eles foram mudando as roupas enquanto
andavam, de forma tão discreta que ninguém prestou atenção, a esta hora
os soldados não tinham mais a localização de Maasti, o monitoramento
tinha se perdido. Agora estava na mão dos soldados.
Leonardo foi se escondendo por entre as pessoas. Ele chegou em
frente a uma casa e tomou um vaso enorme. Ele colocou o vaso na frente
de seu rosto e ia andando por entre as pessoas. Elas só viam um vaso
andando, mas não conseguiam ver quem era. Agora os soldados tinham
perdido a localização dos dois alvos.
- Como vocês perderam a localização dos dois? Disse Plumann
esbravejando.
- Eles se disfarçaram, ninguém tem prestado a atenção neles, e
isto dificulta nosso trabalho. Disse o diretor de monitoramento.
- Então, eu quero que vocês coloquem pessoas vigiando as
câmeras da cidade.
- Plumann, você não pode esquecer que os homens que estão lá
são bons no que fazem. Eles vão descobrir onde nossos alvos estão.
Plumann levantou da cadeira, se apoiou em sua mesa e olhou
para seu subordinado, dizendo:
- Se eles são tão bons, porque perderam nosso alvo? Eles tem
uma hora pra capturar a bertiniana e Leonardo. Estes daí não são tão
idiotas quanto esses soldados acham.
- Sim senhor.
O diretor saiu da sala, bufou um pouco. Ele estava exausto com
esta obcessão de Plumann.
O soldado fez um careta e disse:
- Está doendo!
- Se você não calar a boca Greg, eu vou cortar tua perna aqui
mesmo. Disse Julian, o soldado-enfermeiro do grupo.
- Eu não acredito que levei uma flechaaaaaaaaada. Ai, está
144
Exílio - Parte II
doendo Julian. Poxa!
- Você devia ter levado uma flechada na língua! Bicho reclamão.
Nem parece que serviu na Turquia.
- Isto foi há muito tempo. E lá não atiravam flechas nas pessoas.
- Ainda mais de um mulher.
O Enfermeiro começou a rir muito, não acreditando na situação
do colega.
- Você pode rir o quanto quiser, mas eu não vejo graça. Bem, pelo
menos vou voltar pra casa logo.
- Só quero ver você dizendo pra sua esposa que voltou, pois
levou uma flechada de uma mulher, na Guiana ainda. Do jeito que você
disse que ela é ciumenta, aposto que ela vai pensar que você estava tendo
caso com uma indígena.
- Não diga isto, mesmo eu vontando para casa, ela vai falar horas
na minha orelha por causa deste ferimento. Que eu não me cuido, que
sou desastrado, e blábláblá.
Os dois ficaram em silêncio. De repente, eles sentem uma batida
na parte da frente do carro. Julian olhou no vidro e não havia nada.
Decidiu verificar. Julian saiu da van e foi para frente dela. No tempo
que saiu, Leonardo entrou na van, e antes que Greg pudesse dizer alguma
coisa. Leonardo lhe deu um golpe e ele desmaiou.
No computador central da Toth, na lua, o operador de
monitoramento disse para o diretor que o homem ferido tinha
desmaiado. O diretor informou ao sargento. Leonardo olhou e viu a
arma paralisante, e suspirou. Ele estava certo, eles não trariam armas,
precisavam dele e de Maasti bem vivos. Julian verificou o carro, não viu
nada, apenas um vaso quebrado na frente da van, ele voltou para onde
estava, dizendo ao colega:
- Ah não foi nada. Algum idiota deixou cair o vaso no paralama
da nossa van. Se eu pego este engraçadinh...
Enquanto falava, e quase entrando no veículo, ele foi
interrompido com a visão de um homem dentro da van, apontando a
arma pra ele. Antes que pudesse sacar a sua, ele levou um tiro, e não pode
se mexer mais. Todos seu corpo funcionava, sua mente funcionava, mas
145
Exílio - Parte II
seus nervos estavam estáticos. Enquanto Leonardo colocava o homem
paralisado para dentro da van, o rádio faz uma chamada.
- Soldado Julian na escuta?
Leonardo pensou que talvez eles já tivessem descoberto, deveria
responder ou não? Ele arriscou. Pegou o rádio e respondeu.
- Na escuta.
- Aqui é o sargento. Recebi uma informação lá da Toth que seu
paciente está desmaiado, você confirma?
- Confirmo.
- Como diabos eles sabem disto? Eles podem saber estas coisas?
Leonardo precisava inventar algo.
- Chama-se monitoramento médico. Sabe aquela droga de chip
que colocaram no nosso pescoço, bem é pra isto que serve.
- Ah, é verdade, tinha me esquecido disto. Leve ele rapidamente
para o hospital, nos encontramos lá.
- Já estou indo.
Leonardo pegou as roupas do soldado paralisado, se vestiu,
colocou seus óculos escuros, com certeza ninguém o reconheceria. Ele
foi até o hospital e levou o homem para a enfermaria. Depois voltou
para a van. E seguiu até o aeroporto.
Maasti e Elias se disfarçaram. Eles caminhavam entre a multidão.
Eles passavam despercebidos. O grupo de soldados havia se dispersado
com o intuito de procurar pelos alvos. Cada um, individualmente,
andavam patrulhando o centro de Georgetown. Um dos soldados
procurava na multidão, foi quando ele percebeu algo estranho em um
casal, achava que se tratavam do alvo, ele foi acompanhando-os. Maasti
percebeu e disse para Elias andar mais rápido. O rapaz os acompanhava.
Eles iam entre a multidão, mesmo assim o homem não os perdia de
vista, ele só queria ter certeza. Eles já estavam em um lugar de área aberta.
Maasti virou e o soldado a reconheceu, sem alarde, ele disfarçou, pegou
seu rádio e chamou pelo sargento. Quando ia dizer que tinha encontrado
o alvo, Maasti abriu a mala do violão, pegou o arco e a flecha, deixando
cair a mala e acertou a mão do soldado, junto com seu rádio. Maasti e
146
Exílio - Parte II
Elias começaram a correr. O soldado gritou de dor, e com muita raiva,
correu, pegou sua arma e apontou para Maasti. Elias vendo que ele
ia acertar a amiga, ele se colocou na frente dela e levou um tiro. Ele
começou a ficar paralisado. Maasti voltou para socorrer o Elias, mas ele
com os dentes que se rangiam, ainda pode dizer:
- Fuja, fuja agor...
Maasti largou o arco e fugiu o máximo que pode, ela correu e
correu, até se cansar, não haviam muitas pessoas naquelas ruas. Ela estava
perdida, não sabia para onde ir. Fechou os olhos e disse em sua língua:
- Deus deste lugar, não te conheço muito bem, apenas li sobre
você hoje de manhã. Não sei se você me ouve, mas sei que as pessoas
falam com você. Elias, dona Adele, o seu Tiago jardineiro, e até Leonardo
já falou com você. Sei que você ajuda as pessoas. Me ajude. Me ajude por
favor. Eu estou pedindo.
Quando Maasti terminou de falar, na sua frente, um motorista
entrou em seu caminhão, ligou-o e foi embora. Antes tapado pelo
caminhão, e agora bem visível na sua frente, Maasti viu uma casa. A
fachada possuía um cobertura e as portas de vidro. Era uma construção
um pouco antiga, talvez de 2030 ou 2040. Mas não foi o lugar que
chamou a atenção, mas sim a cruz que estava na sua fachada. Era uma
cruz arqueada em pedra e dentro dela um neon também no formato que
a fazia brilhar. Ela se lembrou do livro que havia lido de manhã, tinha
o desenho de uma cruz na capa. Era o livro que Leonardo não gostava,
então aquele era o lugar que Leonardo não gostava. Era a tal igreja. Era
sua salvação.
147
Rumo ao Século XXII
Rumo ao
Século XXII
Capítulo 12
Prédio Principal da Toth Corporation, Nova York, EUA, 2100.
Peter Johnson entrou naquele prédio calmamente. Ele olhava a
magnificência da Toth Corporation. Pensava que aquele prédio há muitas
anos atrás, era o prédio da ONU, agora extinta. A Toth Corp. cuidava de
tudo agora. Tinha sido mais eficiente em trazer a paz, e resolver muitos
dos problemas sociais do mundo. Só havia um problema com ela. O
mundo já não viveria muito tempo para colher os resultados de seu
progresso, já que o fenômeno ambiental transformaria a Terra em um
lugar praticamente inabitável. Em alguns meses se iniciaria o século 22 e
a humanidade acreditava que este era o último século, se algo não fosse
feito. Mas as intenções de estar ali, era apenas discutir negócios e não se
preocupar com a situação climática do mundo.
Chegando na recepção, ele disse que tinha uma reunião com
Theodore Plumann, CEO da empresa. A recepcionista disse que iria
confirmar. Antony, assistente de Plumann verificou e confirmou a
reunião.
- Sr. Johnson, espere apenas 10 minutos, pois a reunião será só às
10h e Plumann está ainda em uma outra reunião.
- Não tem problema, eu espero. Disse Peter.
148
Rumo ao Século XXII
- Antony, é verdade que este Johnson não é monitorado por nós?
Não temos nada sobre ele. Disse Plumann ao seu assistente.
- Sabemos que ele nasceu aqui na América. Estudou nas melhores
escolas. É um expert em administração e trabalha pra John Bregan.
- O herdeiro bastardo do grandioso Stewart Bregan, da Indústrias
SB?
- Sim, este mesmo.
- Posso adivinhar algo? O “Bregan Jr” também não é monitorado.
- Exatamente! Deste não sabemos de nada desde a guerra. Só
sabemos que ele apareceu do nada e Stewart disse que era o filho dele que
retornava dos mortos e deixou tudo pra ele.
- E todos achavam que o rapaz tivesse sido morto em combate.
Isto não me cheira bem.
- Bem, querendo ou não ele é um dos grandes acionistas da Toth,
e eles fornecem todo o tipo de medicamentos, e material de pesquisa para
a OMS (Organização Mundial da Saúde)
- Eu sei. Mande-o entrar.
Peter foi atendido por Antony no saguão e juntos subiram até o
andar de Plumann. Plumann o esperava na porta. Se cumprimentaram,
Plumann o convidou para entrar na sala e lhe puxou uma cadeira, e
fechou a porta.
- A que lhe devo esta honra, sr. Johnson?
- Bem, venho representando o sr. Bregan. Ele está muito
contente com o crescimento das ações da Toth, mas ele tem estado muito
preocupado.
- Com o que ele está preocupado? Me diga, que eu acredito que
possa resolver.
- Infelizmente sabemos que as notícias não tem favorecido a Toth
Corp. As inúmeras mortes devido ao aquecimento global, e nenhuma
solução definitiva do problema tem preocupado muito o sr. Bregan.
Digo isto pois ele é um dos grandes acionistas da empresa e está muito
preocupado com isto.
- Estamos trabalhando pra resolver isto, até te confesso que
149
Rumo ao Século XXII
estamos muito perto de encontrar uma solução definitiva.
- O senhor acredita que estão perto de encontrar o Berlítio?
- Bem, senhor Johnson, eu acredito que existam muitas outras
soluções sem precisar do Berlítio, mas se encontrarmos o Berlítio com
certeza vocês serão os primeiros a saber. Gostaria de mais alguma coisa
sr. Johnson?
- Mais nada, era só isto. Eu tenho de ir, tenho reuniões
importantes agora. Foi um prazer sr. Plumann.
- O prazer foi meu.
- Aliás, me desculpe sr. Plumann, quase que ia me esquecendo. O
sr. Bregan quer te oferecer um presente.
Peter tirou do paletó um pequena caixa aveludada, com inscrições
em ouro “SB Industries” e o entregou a Plumann. Plumann abriu e
era uma caneta toda em ouro maciço, toda trabalhada com formas e
símbolos do Oriente Médio.
- Sr. Plumann, esta caneta pertenceu ao Sheik Abdul-ar-Ramir,
dos Emirados Árabes, nos anos 40 deste século. O sr. Bregan espera que
este presente sele uma parceria que dure muito tempo.
- Agradeça ao sr. Bregan em meu nome. Falando nisto, quando
eu poderia encontrar o sr. Bregan? Gostaria muito de conhecê-lo.
- Infelizmente isto não será possível por enquanto, o sr. Bregan
é muito reservado, e também muito ocupado, mas quando houver uma
possibilidade vocês irão se encontrar.
- Então está tudo bem, ficarei esperando. Foi um prazer, sr.
Johnson.
- O prazer foi meu.
Peter saiu da sala, Plumann fechou a sala e disse:
- Pro inferno ele! Reservado?! Quem ele pensa que é? Eu sou o
Presidente da Toth Corporation, eu sou o homem mais poderoso do
mundo. Idiota. Pelo menos ganhei uma caneta.
Plumann sentou em sua mesa e chamou Antony. Antony chegou.
Plumann entregou a caneta para o assistente e disse:
- Antony, leve este objeto para o setor de segurança e faça uma
análise.
150
Rumo ao Século XXII
- Sim Senhor.
Antony saiu e Plumann começou a pensar alto.
- Se ele pensa que sou idiota, eu não sou mesmo. Eu observo o
mundo, mas ninguém vai me espionar.
Peter Johson saiu do prédio e se dirigiu ao carro de luxo que
estava à sua espera. Quando o chofer o viu, saiu do carro e abriu a porta
para ele. Ele se sentou.
- Você entregou a caneta para ele? Perguntou o homem de terno
sentado ao lado de Peter.
- Sim, entreguei.
- Ótimo.
- Você não sabe. Ele está morrendo de curiosidade pra saber
quem é você.
- Vai ficar querendo. É melhor ele nem saber mesmo.
Enquanto riam, o chofer se dirigiu ao chefe e perguntou:
- Sr. Bregan, para onde vamos?
- Pra casa. Hoje vamos pra casa.
Peter olhou para o lado e disse ao chefe:
- O que vamos fazer na sua casa Leonardo?
- Coisas, Peter... coisas.
“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra
do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu
refúgio e a minha fortaleza, e nEle confiarei.1”
July Palmer acordou naquela manhã de sexta e leu este texto
bíblico. Ela era uma cristã devota e trabalhava como missionária e
pregadora na Califórnia. Fazia apenas um ano que estava nos Estados
Unidos e teria um dia intenso pela frente. Ela administrava o Hospital
do Advento, tanto quanto a Escola W. Miller, também em Sacramento.
Dentro do Hospital, em um lugar bem ao fundo, sem placa de
identificação, estava a pequena igreja, na qual July era a capelã. Todos a
chamavam de pastora July. Naquele dia ela faria visitação aos doentes de
câncer de pele. Nesta época, por motivos do aquecimento da Terra e da
1. Salmos 91:1,2
151
Rumo ao Século XXII
destruição de 83% da camada de Ozônio, o sol castigava a população. O
câncer de pele e o câncer de pulmão eram os grandes vilões do século.
O hospital do Advento era responsável por um dos maiores centros
de tratamento de câncer de pele do mundo. July deixava claro que o
hospital trataria particulares, e com certeza muitos dos homens mais
ricos do mundo vinham até lá, mas também os mais pobres. Programas
de tratamento às classes mais baixas eram incentivados por July.
Todos os sábados July ia à igreja pela manhã e fazia visitação
nas casas de pessoas pobres que precisavam de ajuda com tratamentos
médicos. July oferecia apoio de saúde, apoio espiritual, e angariava doações
para estas famílias. Era uma mulher muito caridosa e que se preocupava
com o próximo. July pregava com veemência. July era sofisticada e usava
cabelo sempre preso e roupas discretas que não mostravam seu corpo.
Sempre com ternos femininos de material biodegradável e vestidos de
mesmo material, que eram a última moda no mundo. Em 2100 todas as
roupas possuíam micro circuitos de energia solar, que ligavam na própria
roupa reguladores de temperatura, para que as pessoas pudessem estar
mais refrescadas durante o dia e mais aquecidas à noite, conforme a
temperatura que estava. July não deixava de usar seus óculos TGlass.
A TGlass (que não tinha nada a ver com a Toth Corporation)
era pioneira em usar óculos que alteravam sua cor a partir de dispositivo
eletrônico. Conforme a intensidade do sol, a armação, que possuía
sintetizador de energia solar, alterava a capacidade de recepção das
lentes, escurecendo ou clareando, protegendo o olho da pessoa. A
última geração de óculos TGlass recebia por satélite informações sobre
a intensidade do sol, e até sobre explosões solares, fazendo com que os
óculos aumentassem a proteção conforme estes dados. As lentes também
possuíam gadgets que mostravam a hora, temperatura, e alguns modelos
até mostravam mensagens de e-mail e navegavam na internet na própria
tela, tudo controlado pela voz.
July tomou um banho e foi caminhando até seu trabalho. Ela
sabia dirigir, mas sempre preferia caminhar, eram nestes momentos
que ela pensava bastante. Ela colocava sua agenda em ordem na cabeça.
Sempre carregava na sua bolsa alguns tipos de maquiagem, apenas para
152
Rumo ao Século XXII
ficar mais bem aparentada. July era uma mulher muito bonita, e muito
desejada pelos homens. As tentativas de aproximação eram constantes,
mas sempre sem sucesso. July era uma mulher séria e determinada,
alguns diziam que ela amava tanto a Deus que havia se casado com Ele.
Outras pessoas acreditavam que ela tinha um grande amor escondido,
mas ninguém sabiam qual era o problema de July com os homens, pois
ela nunca falava sobre o seu passado.
July chegou ao hospital, cumprimentou a todos e fez o culto
matinal, lendo alguns versos da Bíblia. Ela foi na ala onde haviam as
pessoas com estado terminal de câncer. Pessoas que sofriam muito, na
sua maioria velhos e crianças onde a morte era certa. Depois de conversar
com alguns, ela viu uma criança ali que nunca tinha visto antes e quis
conhecê-la.
- Oi querida. Qual o seu nome?
- Meu nome é Patrícia.
- Patrícia?! Bonito nome, mas você é de onde, seu nome não é
muito comum aqui.
- Sou brasileira. Sou da cidade de Curitiba.
- Nossa! Muito bonito o Brasil, morei seis meses no Brasil, gosto
muito, sei falar alguma coisa em português.
July, em português, fez alguns cumprimentos e disse que achava
a moça muito bonita. A pequena Patrícia agradeceu, e voltaram a falar
inglês.
- Quanto tempo você está aqui? Perguntou July.
- Há três anos. Meus pais vieram para cá, eles são americanos.
Eles viveram muitos anos no Brasil, agora quiseram voltar.
- Quantos anos você tem Pati? Posso te chamar de Pati?
- Pode sim. Eu tenho 14 anos.
- Patrícia, você conhece a Jesus Cristo?
- Sim. Minha avó me levava na igreja quando bem pequena, mas
nunca frequentei direito. Nunca quis ser crente.
- Você gostaria de ouvir algo que Jesus tem pra te falar?
- Sim, gostaria.
- Em João, no capítulo 6, Jesus diz que “Vós me tendes visto,
153
Rumo ao Século XXII
e contudo não crestes. Todo que o Pai me dá vir a mim; e o que vem a
mim de maneira nenhuma o lançarei fora.1” Ele também diz no mesmo
capítulo: “Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que
vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último
dia.2” e: “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida
eterna.3”
Patrícia estava com os olhos cheios de lágrimas, ela nunca havia
ouvido aquilo. Ela havia visto Jesus falar com ela a partir de July. Esta
não perdeu tempo e perguntou:
- Você acredita que Jesus possa ser seu Salvador?
- Acredito.
- Você quer conhecer mais sobre Ele?
- Quero muito.
- Vou deixar esta Bíblia com você, aprenda mais sobre Ele.
Amanhã eu vou voltar e vou te ensinar tudo que você precisa saber para
poder estar mais perto dEle. Meu nome é July.
Elas se abraçaram e July foi embora muito emocionada. July
foi ao banheiro, ela estava muito abalada. Sentou em um dos vasos para
chorar. Chorava muito e pensava como o mundo era cruel. Ela ficava
muito abalada em saber que uma moça de 14 anos estava à beira da
morte. Neste momento ela se lembrou de outra garota que aos 14 anos
também poderia encontrar a morte. Há muito tempo atrás. Ela chorou
por sua filha. Chorou por Malda, sua filha que havia ficado no seu
planeta natal.
Peter Johnson e Leonardo, agora conhecido como John Bregan
chegaram em sua mansão no bairro de Old Westbury, região da grande
Nova York, a 40 minutos de Manhattan. Sua mansão em estilo clássico,
possuía um enorme jardim. Um muro circundava toda a mansão, sua
grandiosidade era conhecida apenas pelo portão de ferro na entrada.
Orneado com desenhos no estilo Art Nouveau, tinha uma inscrição,
totalmente desenhada, escrita “Bregan Home”. O motorista os levou até
a porta e abriu as portas para eles saírem. Como de costume, Leonardo
deu uma nota de 100 dólares ao motorista. Toda vez quando o motorista
154
1. João 6:36,37
2. João 6:40
3. João 6:47
Rumo ao Século XXII
o deixava em casa, ganhava uma nota de cem. Leonardo dizia que era um
agradecimento por estar são e salvo e sabia que devia isto ao motorista,
que diferente dos que muito pensavam, não era um simples chofer, mas
um piloto de fuga.
Ao adentrarem à mansão luxuosa, um visitante veria que o estilo
clássico ficava só na fachada, por dentro o design ultra moderno causava
choque. Stewart Bregan, antigo proprietário tinha este tipo de coisa,
gostava de chocar as pessoas. Leonardo e Peter entraram no escritório,
um escritório moderníssimo com várias obras de arte. A obra que mais
chamava atenção, era a obra de um pintor brasileiro chamado Romero
Britto, famosíssimo no início do século XXI. A pintura chamada de
“Cheek to Cheek” era do ano de 1999, e mostrava um casal dançando.
Leonardo havia ganhado a pintura de Jonathan Toth no dia do seu
casamento com Renata. Toth sempre dizia que a pitura o fazia lembrar
o casal. Leonardo guardou o quadro, mesmo depois do casamento. O
vendeu somente após a morte de Renata. Stewart Bregan, seu já falecido
protetor, o adquiriu e devolveu a Leonardo, como prova de sua amizade.
O quadro media 72 x 60 polegadas (aproximadamente 163 x 183cm) e
ficava atrás da mesa de Leonardo. Sua mesa toda de mármore branco,
tinha um desenho único. Nela tinham fotos de Stewart, de Leonardo com
o pessoal da casa, e atrás de uma foto da mulher de Stewart, Leonardo
guardava uma foto de Renata.
Leonardo foi até o quadro e procurou algo atrás da moldura.
Nela havia um dispositivo, que ele acionou, abrindo a estante de livros,
que era na verdade uma porta que dava a um lugar secreto na mansão.
Ele e Peter entraram por esta passagem, logo depois a passagem fechou,
tornando aquele lugar de novo apenas num escritório. Eles chegaram
a um lugar onde haviam dezenas de computadores e algumas pessoas
trabalhando. Leonardo cumprimentou um por um, e foi até o jovem, de
boa aparência, que usava óculos em estilo clássico da TGlass. O rapaz era
um gênio.
- Bom dia Adam.
- Bom dia Léo.
- Conseguiu algo?
155
Rumo ao Século XXII
- Eles ainda estão analisando, agora é só esperamos alguém usála. Você tem certeza que alguém irá usá-la?
- Eu tenho certeza! Do jeito que aquele povo é curioso. Não se
esqueça que eu trabalhei lá.
Peter ainda curioso quanto ao que estava acontecendo, decidiu
perguntar a Leonardo.
- Leonardo, deixa eu ver se se entendi. Você me pediu que eu
fosse até o Plumann e lhe entregasse uma caneta. Por que? Que raio tem
naquela caneta que você não me disse no caminho?
- Me desculpe. Eu não te expliquei mesmo. Queria te dizer em
um lugar seguro. Acontece que naquela caneta há um dispositivo criado
pelo nosso amigo aqui Adam Linz. De que se trata este dispositivo? Ele
é um tipo de espião. Quando você entregou a caneta para Plumann,
se eu o conheço bem, ele vai levar a caneta para ser analisada pelo
departamento de segurança da Toth Corporation. Eles vão analisar se
há explosivos, escutas, câmeras, qualquer coisa. Quando Stewart estava
vivo ele desenvolveu um nanochip. Um equipamento eletrônico que é
do tamanho de uma célula. Eles são desenvolvidos por uma máquina
modeladora de átomos. Não vou te explicar o que é, pois é coisa
complicada. Estes nanochips sozinhos são inúteis, pois possuem uma
parte da informação, mas juntos, num mesmo lugar, eles trabalham em
conjunto, como os microchips atuais, fazendo o que são programados
pra fazer. Nós colocamos nanochips em um compartimento da caneta,
mas os nanochips só funcionam quando entram em contato com um
substância química, líquida de preferência, como um pequeno cérebro.
Sendo assim, quando o pessoal de Plumann analisar a caneta, não vão
encontrar nenhum dispositivo eletrônico funcionando, nem enviando
informações. Quando alguém, seja da segurança, seja o próprio Pluman
ou seu assistente, liberar a tinta, os nanochips começarão a funcionar.
Eles vão enviar informações de todos os dispositivos de Plumann para
nós.
- Semana passada, eu mandei instalar um receptor poderoso em
um edifício perto da sede da Toth, e a caneta enviará tudo para lá e por
satélite, enviará tudo para este computador aqui.
156
Rumo ao Século XXII
Leonardo indicou o computador de Adam, mostrando de qual
computador falava.
- Nós teremos acesso a todos os e-mails, banco de dados, agenda
telefônica, etc. Completou Leonardo.
- Estou impressionado Léo. Parabéns!
- Parabenize ao Adam, ele é gênio aqui agora. Leonardo disse isto
dando uma piscada ao jovem, que estava todo orgulhoso de si. - Adam,
Peter, vou comer algo, estou morrendo de fome. Quando tiverem algo,
me informe.
Antony atravessou os corredores da Toth Corporation com
uma pequena caixa na mão, ele passou pelos corredores de pesquisas,
de consultoria, e chegou ao corredor mais vigiado do lugar. Enquanto
atravessava o corredor, ele viu um segurança de cada lado. Todos o
deixava passar, no final do corredor havia uma porta de madeira bem
grossa e lá estava escrito: “Presidência da Toth Corporation”, ele passou
seu crachá, sua íris foi lida, ele se virou e um scanner leu seu microchip
colocado na nuca. Seu nome e identificação apareceram no visor. Ele
entrou em um salão em forma oval que dava para três portas. Uma delas
era a sua própria sala, outra para Plumann, e a terceira estava escrito
“Departamento de Monitoramento da Terra”. Ele entrou na sala da
Plumann.
- O objeto está limpo. Antony entregou a caixa com a caneta
para Plumann.
- Estranho este presente. Este Bregan quer me comprar com
presentinhos. Eu não aceito nada menos que um encontro com ele. Me
incomoda não saber o que certas pessoas intentam.
- Ele é um mistério completo.
- É isto que mais me incomoda mesmo. Bem Antony, nossa
carga já chegou?
- Sim, chegou esta manhã.
- Nosso pessoal já conseguiu algum resultado?
- Não, ainda não.
- Então, mandem eles acelerarem, eu quero iniciar a operação em
157
Rumo ao Século XXII
Janeiro. Já temos os homens, as armas, as máquinas, a única coisa que
preciso é da vacina. Mande eles irem logo. E Antony, pode ficar com ela.
Pluman entregou a caneta ao assistente.
- Muito obrigado Sr. Plumann, mas sinceramente eu nunca usei
uma caneta na vida.
- Deixe eu te mostrar.
Plumann pegou a caixa, abriu-a, e apertou um botão que liberava
a tinta. Pegou um lenço, e escreveu nele. Antony olhava admirado, sempre
havia visto canetas em museus, na tv e em filmes antigos, mas nunca
tinha visto alguém escrever com uma. Plumann usava uma em casa. Após
olhá-la, fechou-a, colocou na caixa e entregou para o assistente.
- Meu pai tinha uma, por isto sei usar. As vezes eu prefiro uma
bela caneta a este monte de tecnologia besta. Mas quero que fique com
ela. Eu não coleciono.
- Novamente agradeço e providenciarei tudo que o senhor pediu.
Antony saiu e foi para sua sala.
Leonardo se sentou na cozinha e olhava a paisagem. Era inverno,
mas o dia lá fora era claro e o sol despontava. Há anos que não via neve,
e do jeito que o mundo caminhava ele não veria nunca mais. Leonardo
adorava dias de sol, cheio de nuvens que pareciam gigantes ovelhas
voando. Se lembrava da sua lua de mel, dos momentos com Renata. Se
lembrou de quando dirigia para o médico do seu sogro, com Renata ao
lado, ela com um vestido branco, um cinto fino, salto alto, seus cabelos
esvoaçavam e ela com aqueles óculos escuros. Ele alisava a barriga dela,
iriam descobrir que ela estava grávida. Ele olhava pra ela com tanto
amor. Era tudo muito bom. Enquanto ainda pensava nestas coisas, ele
ouve Peter chamá-lo. Ele corre até o colega.
- A caneta está enviando todas as informações.
- Não disse que ia dar certo? Disse Leonardo andando com o
colega até o seu pequeno QG pessoal.
- Mas Léo, tivemos um pequeno problema.
- Qual Peter? Diga.
- Não é Plumann que está com a caneta, mas sim seu assistente.
158
Rumo ao Século XXII
- Ótimo, vamos descobrir tudo sobre seu assistente. Todos temos
segredos, ele deve ter os dele.
Passados alguns minutos, Adam foi reenviando tudo que a
caneta coletava, e-mails, planilhas, informações de Plumann, planos,
contatos, sites que ele entrava, mensagens de texto do celular. Todo
dispositivo com banco de dados era copiado e repassado para Leonardo.
Leonardo, dividiu a equipe em dois grupos. O grupo A, que contavam
com a bela Mary, Luiz e Juan ficariam com material pessoal de Antony e
de Plumann. O grupo B, Adam, Leonardo e Túlio ficariam com material
da Toth Corporation. Peter voltaria à sede das Indústrias SB e voltaria ao
seu trabalho de braço direito de John Bregan. Ficaram horas analisando
o material. Num determinado momento Adam leu algo e mostrou para
Leonardo. Era algo muito importante. Leonardo leu e ficou abismado
com o que leu. Sentou em uma cadeira e pensou. Como sempre, ele
parava no tempo, todos à sua volta, já sabendo como era o superior,
ficaram esperando ele demonstrar alguma reação. Ele pegou o telefone e
ligou para Peter.
- Peter, eu pedi para o Adam te mandar por e-mail algo que
encontrei nos arquivos de Antony. Eu preciso que você marque uma
viagem hoje mesmo para a Califórnia. Começou Peter, começou.
159
July & John
July & John
Capítulo 13
Capela do Hospital do Advento de Sacramento, Califórnia, 2100
Era um sábado quente, ninguém se abanava mais pois a
tecnologia de condicionamento via energia solar era muito eficiente.
Sentados nas fileiras, estavam enfermeiros de folga, médicos, antigos
pacientes e muitos cristãos que frequentavam a capela. Por não pertencer
a OMIC, aquela capela era a única “igreja” independente que poderiam
ir na região. Não havia placa na porta, mas haviam corações sedentos
por alimento espiritual. Todos se reuniam ali aos sábados e mais alguns
dias escolhidos. Todos iam com roupas simples. Eles tinham a ideia que
quanto menos levantassem suspeitas mais tempo poderiam se reunir com
“liberdade”. A capela estava cheia e todos se espremiam. Para melhor se
acomodarem eram trazidas cadeiras da escola, mas sempre havia gente
em pé. Todos estavam contentes e esperavam o momento de iniciar o
culto.
July estava muito nervosa, ela pregaria naquela manhã. July já
havia pregado inúmeras vezes, mas sempre ficava nervosa. Enquanto não
subisse no púlpito não ficaria em paz. Ela decidiu respirar. Tocariam
a música que ela havia escolhido para ser executada. Era o momento
em que ela encontrava a solidão. Quando era conhecida por Maasti e
liderava exércitos ela também encontrava este tempo, mas diferente de
antes, agora era o tempo em que ela falava com Deus. Começaram a
cantar um hino. Maasti pensava na letra da música. “Eu estava perdida,
mas agora fui encontrada. Estava cega, mas agora eu vejo.” Aquilo deu
forças a Maasti, ou melhor, July. Terminada a música, July se levantou,
abriu sua Bíblia e começou a falar.
160
July & John
- Jesus disse em João 14: “Não se turbe o vosso coração; credes em
Deus, credes também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas;
se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E se eu for
e vos preparar lugar, virei outra vez...1”
- Vocês tem ideia do que Jesus disse aqui? Por que vocês ainda
possuem suas preocupações? O mundo está caminhando para um desastre
total. Vemos nações em estado de emergência. Vemos pessoas morrendo
de câncer, insuficiência respiratória, vítimas de violência. Vemos um
mundo com os dias contados. Vemos um mundo sem esperança. Mas o
que Jesus diz? Ele diz: “Não se turbe vosso coração.” Muitos ali achavam
que Jesus não estava bem quando disse isto. Hoje nós pensamos a mesma
coisa. Jesus não está bem. Ele me dizendo para não ficar turbado?
preocupado? Como isto? Eu perdi um familiar, minha moradia, minha
saúde, e minha liberdade e Ele diz para eu não me preocupar? Hoje,
meus queridos, reitero as palavras de Cristo. Não fiquem preocupados!
Enquanto pregava, um táxi estacionou em frente ao hospital.
Aquele homem entrou no hospital e antes que seguisse em frente, a
recepcionista perguntou quem ele era, então ele se identificou. Geralmente
uma pessoa deveria fazer um cadastro, mas naquele caso ela deixou, pelo
nome ela sabia de quem se tratava aquele homem. Era John Bregan. Ela
nunca havia o visto, mas muitos o conheciam no mundo. Ela não pode
ver muito do rosto do homem, pois ele usava óculos escuros e um lenço,
como um daqueles viajantes do deserto (era a última moda no mundo) e
pelo calor que fazia, era necessário. Leonardo andou e foi até a frente da
capela, mas se sentou num banco do lado de fora.
- Jesus diz: “Credes em Deus e também em mim”. Acreditem nEle
que te salvou e te amparou em Seus braços! Vocês vivem se perguntando
se há esperança. Mas há esperança para aquele que sofre, aquele que é
rejeitado, aquele que é solitário, aquele que acha que não há mais saída.
Há esperança para cada um de nós. Há esperança para este planeta. E a
esperança é que Ele voltará. “Virei outra vez.” Você quer coisa mais linda
que isto? saber que alguém voltará pra você?
- Quantas pessoas nunca mais puderam ver aqueles que foram
embora, e nem sabe se voltarão novamente. Jesus disse que voltará pra
você, para cada um de vocês. Na Bíblia há mais de 1500 citações sobre a
volta de Jesus. Um em cada vinte e cinco versículos da Bíblia falam sobre
1. João 14:1-3
161
July & John
a volta de Jesus. Há esperança para este mundo, há esperança para cada
um de nós, há esperança para você. Até pra quem diz agora que não tem
esperança, eu tenho certeza que há esperança para o pior dos homens.
Você pode caminhar para um futuro com esperança. Um futuro além dos
nossos sofrimentos, dores e dificuldades. Querido, querida, você não é
um pequeno grão de areia numa imensa praia, você não é uma mancha
de poeira cósmica no universo, você não é simplesmente uma pedra,
que as pessoas chutam. Você foi criado imagem e semelhança de Deus, e
ele tem um futuro cheio de esperança pra você. Creia nEle e não haverá
motivo para se preocupar. Nosso futuro está assegurado aos pés da cruz.
Deixe a sua vida se encher da esperança que Jesus pode trazer.
July terminou sua pregação e na porta cumprimentou cada
um dos que assistiram o culto, como era de costume. Terminado de
cumprimentá-los, ela guardava suas coisas e não viu o homem se
aproximando atrás dela, ele parou e disse:
- Maasti?
July não era chamada por este nome há quase 3 anos, ela
reconhecia a voz. Ela se virou, perguntando:
- Leonardo?!
Ele deu um sorriso e imaginava que ela ficaria surpresa, mas a
reação foi diferente. Ela o pegou pelo pescoço e o levantou. Ela ainda era
muito forte. Ela se aproximou dele e disse:
- Eu te esperei por três anos. TRÊS ANOS LEONARDO! E você
me vem com esta cara de cínico?
Ela soltou-o devagar, pôs a cabeça no lugar e pediu desculpas.
Ele num tom mais melancólico, enquanto tentava recuperar o ar, disse:
- Eu te entendo. Eu fui embora.
- Eu sei que você foi embora, Leonardo. Mas eu estou bem, tá?
Ela pegou sua bolsa e ia embora. Leonardo a puxou pelo braço,
a puxou para bem perto dele. Leonardo se lembrou quando puxou
Renata pelo braço na frente daquele restaurante, muitos anos antes. Seu
olhar se tornou o mesmo. Maasti percebeu o jeito que ele a olhou, e seu
coração bateu mais forte, ela não estava resistindo. Ela gostava ainda
dele. Ele percebendo que estavam próximos demais, disfarçou e disse
que precisavam conversar. Ele a soltou e quando ele ia dizer algo, a
recepcionista chegou e foi logo falando:
- Senhora July, você não sabe! O senhor John Bregan veio aqui
162
July & John
vê-la, ele tinha sentado aqui na frente na capela, mas eu...
Neste momento, Leonardo que estava de costas para a moça,
virou e ela o viu ali.
- Olha ele aí ó! Desculpe-me senhora, não sabia que já estava
falando com ele, com licença.
A recepcionista, toda sem graça, foi embora e Maasti olhou para
Leonardo com a sobrancelha franzida e rindo ironicamente.
- Senhor John Bregan?!
Leonardo coçou a garganta e respondeu:
- É uma longa história, vamos conversar ou não?
Ele a pegou pela mão e a levou até o seu carro. Enquanto
atravessava o corredor do hospital, todos olhavam curiosos sua superiora
andando de mão dada com um homem de boa aparência. Tão logo a
recepcionista foi informando, toda orgulhosa de si, que era John Bregan,
o tal. Todas suspiraram e diziam que “dona July não perdia tempo.”
Aquilo virou a fofoca e especulação do dia no hospital.
Leonardo deu instruções ao chofer para dar algumas voltas
enquanto conversava com a convidada. Leonardo olhou para Maasti.
- Então Maasti, você não sab...
- Não Leonardo. Antes de você me dizer qualquer coisa, eu quero
saber porque você desapareceu.
Leonardo, encostou no banco, bufou um pouco, e começou:
- Está ok. Bem... eu sabia que se estivéssemos juntos, ia ser muito
perigoso tanto pra você como pra mim. Quando nos separamos lá na
Guiana, eu sabia que Elias iria cuidar melhor de você do que eu. Depois
que nos separamos, eu rendi alguns guardas, lembra aquele quem você
deu uma flechada na perna?
- Claro que lembro.
- Eu rendi eles, usei a roupa dele e fui até o aeroporto. Eu sabia
que no aeroporto de Georgetown eu encontraria alguém que pilotaria.
Eu consegui pagar um piloto que me levasse até o caribe.
- Léo, espera um pouco. Como você pagou? As compras não são
feitas somente pelo chip de identificação ou pela íris?
- Eu combinei com o Elias que caso algo acontecesse, eu fugiria
enquanto você estaria protegida com ele. Ele me entregou algumas gramas
de ouro e uma sacola com diamantes. Como não poderia comprar
pelo chip ou íris, eu me sustentaria com isto até possuir um ID falso.
163
July & John
Estávamos preparados para qualquer eventualidade. Combinei com ele
que ele cuidaria de você, e nos separaríamos para dificultar as coisas para
Plumann.
- Mas por que eu não recebi diamante nenhum? Bem que eu
precisava de um diamante!
- Agora sei que não importa o planeta, as mulheres amam
diamantes...
- Léo! Disse Maasti dando um tapa no braço de Leonardo.
- Brincadeirinha! Bem... combinamos que Elias cuidaria de você,
ele te protegeria, mas infelizmente algo aconteceu e você ficou sozinha.
- Ele me salvou, Léo.
- Eu sei. Eu desci no caribe, não há nada por lá, absolutamente
nada. Eu consegui ajuda e também carona. Consegui um ID provisório e,
pelo México, cheguei aos Estados Unidos, onde conheci o senhor Bregan
e ele me apadrinhou, passei a fingir que era filho dele que desapareceu na
guerra.
- Léo, você não me explicou porque me abandonou todo este
tempo.
- Ai, mulheres, mulheres. Léo fez um pausa, coçou os olhos com
a mão. Estava impaciente com os questionamentos. - Bem, eu não te
“abandonei”. Eu sempre te monitorei, te vigiei, sabia de tudo sobre você.
Protegia você à distância. Eu tenho um amigo da época que trabalhava
na Toth Corp. que conseguiu te encontrar, eu sempre procurei você, te
encontrei, mas nunca me aproximei pois sabia que era perigoso.
- Agora não é mais?
- Não, ainda é perigoso, mas eu preciso da sua ajuda.
- Ah, depois de me abandonar, você quer minha ajuda? Desculpe
Léo, você me magoou muito, vou embora, eu estou muito feliz. Obrigada
por perguntar se estou bem. Adeus. Pede pra ele parar Léo. Maasti se
dirigiu ao chofer e disse: - Pára aqui moço. Eu vou descer aqui.
Ela já ia pegando a maçaneta quando Leonardo a pegou pelo
braço. Aquilo mexia com ela toda.
- Querida, o que eu tenho pra te falar tem a ver com você.
Maasti parou. Ficou séria, olhou para Leonardo. Ele perguntou
a ela:
- Bem... você sabe porque te tiraram do seu planeta?
- Pelo que eu sei, na verdade pelo que você e Elias me contaram
164
July & John
por cima, este tal de Plumann quer um minério do meu planeta e me
sequestrou. Porque aquilo, sim, foi um sequestro. E queria me estudar
pra descobrir tudo sobre o meu planeta, que vocês chamam de Berta.
- Entendi Maasti. Vou perguntar de novo, de outra forma. Você
sabe porque justamente escolheram você?
- Não! Não tenho a mínima ideia. Não foi por acaso?
- Vou te explicar. Quando o pessoal da Toth investigava seu
planeta, eles notaram que o Berlítio era, de certa forma, tóxico. É um
nível tóxico muito baixo.
- Então o Berlítio pode matar seu povo?
- Não Maasti. Não só meu povo. Seu povo também está
morrendo. Você já percebeu que seu povo morre jovem demais?
- Espera Léo. Sempre achamos que era por causa das guerras.
Mas eu vi pessoas morrerem jovens, muito doentes, mesmo não entrando
nunca em um campo de batalha. Isto acontecia com todos. Eu vi na vida
apenas minha avó chegar a ficar velha. Achávamos que ela era escolhida
por algum motivo divino, mas a expectativa de vida do nosso povo é de
35 anos. Bem que estranhei que o povo da Terra vive muito. Você está me
dizendo que é por causa do Berlítio?
- Exatamente. Pra nós é mais tóxico ainda, pois nosso corpo
estranha totalmente esta substância. Nosso corpo não está acostumado.
O homem que descobriu o Bertílio, morreu pouco tempo depois de
câncer, por causa da exposição a um pedacinho da rocha.
- Então dá na mesma morrer por causa do aquecimento global
ou morrer por causa do Berlítio. Diga isto ao Plumann e ele pára de nos
atormentar
- Ele já sabe há mais tempo que eu sobre isto, eu consegui estas
informações com o assistente dele.
- Então Léo, porque ele ainda quer o Berlítio?
- Por causa de você.
- Não entendi.
- Você viu como ele te caçou desesperadamente? O pessoal da
Toth, em várias noites, coletou o sangue de diversas pessoas da sua tribo
e fez algumas análises. Quando o pessoal de Plumann pesquisava estas
amostras, descobriram que algumas pessoas eram imunes ao Berlítio. Sua
hemácias conseguiam destruir a “radiação” que o minério gerava. Com
isto eles poderiam criar uma vacina e tudo estaria resolvido. Você é uma
165
July & John
destas pessoas Maasti, por isto sua avó viveu tanto, é genético. Está no
seu sangue. No seu DNA. Eles te sequestraram porque precisavam disto.
- Eles tiraram tanto sangue de mim, tiravam amostras de cabelos,
de tecidos, porque precisavam ainda de mim?
- Aí é o problema Maasti. Eles não coletaram nada de você depois
que te pegaram porque eles esperavam o aval de Toth. Este era o motivo
dele ir à lua. Toth era muito correto e ele queria ter a certeza que você
não seria prejudicada. Ele só consentiu que te trouxessem pois Plumman
insistiu que era única solução. O que era mentira.
- Muitos pesquisadores, antes, tentaram por anos entrar em
contato com seu povo, mas morreram antes que tivessem avanços, por
causa do Berlítio. Plumann dizia a Toth que o povo que era hostil, mas
não era verdade. Ele queria um confronto, queria uma guerra, pois era
a solução mais rápida. Então Plumann convenceu Toth que trazendo
uma de vocês, eles poderiam ter mais tempo e liberdade para trabalhar.
Mesmo assim Toth não aceitava esta ideia, achava invasiva demais, mas
não havia outra solução. Naquele dia que fugimos, fazia apenas 6 horas
que você havia chegado na base lunar. Plumann só estava esperando uma
autorização de Toth para te pesquisar, igual um sapo num laboratório
de ciências. Quando Toth morreu, Plumann viu a chance de fazer o que
bem entendesse, mas eu estraguei os planos dele por aquele momento
quando te levei embora.
- Mas se eles me queriam tanto, porque não fui mais perseguida
nestes últimos anos?
- Então, aí chegamos ao ponto crucial. Plumann tem um plano
B e ele irá executá-lo. Eles conseguiram encontrar outra pessoa do seu
planeta, também imune, e a trouxeram para a lua. Ela chegou ontem.
Estão fazendo análises de sangue e de DNA. Plumann vai criar uma
vacina para a radiação do Berlítio, ele sabe que é possível, complicado,
mas possível. Ele vai vacinar mais de 3000 homens, que armados até
os dentes vão descer no seu planeta e subjugar seu povo. Máquinas de
extração também serão enviadas para explorar o Berlítio que há ali e
trazer para a Terra. Seu povo será obrigado a trabalhar como escravos na
exploração do Berlítio para a Toth Corp.
- Plumann, com certeza, vai noticiar que achou um planeta rico
em Berlítio, vai salvar a carreira dele, vai salvar a empresa e a Terra, a
custo de matar e escravizar o seu povo. Você tem de me ajudar a impedir
166
July & John
isto. Você precisa voltar e avisar seu povo, se possível liderar seu povo
para impedir Plumann.
- O que eu posso fazer Léo? O que você acha que eu posso fazer?
Você acha que eu posso pegar um arco, uma flecha, ir lá e lutar contra
todos eles? Se eles podem fazer isto com meu povo, então o que ele
poderá fazer comigo? Pode esquecer Léo. Eu mudei de povo, o tempo
neste planeta está esgotando, eu tenho de alertar as pessoas dos perigos
do seu “colega” Plumann. Alertar uma esperança ao povo que sofre e
perdeu sua liberdade. Mas quanto ao meu povo, não posso fazer nada.
- Maasti, você prega de fé, esperança e futuro, mas você não
acredita nisto.
- E você Léo? No que você acredita? Abandonou Deus,
abandonou sua ex-mulher e me abandonou por todo este tempo. No que
você realmente acredita Leonardo?
Maasti pediu para o chofer parar o carro. Ele olhou para
Leonardo, e este confirmou. O chofer parou o carro e Maasti desceu, e
olhou para Leonardo e disse antes de fechar a porta:
- Desculpe Leonardo. Mas eu estou feliz do jeito que estou. Eu
aprendi a amar este lugar. Esta é minha casa agora. Agora este é meu
povo. Eu já tenho muita coisa pra fazer. Não posso ser a salvadora do
mundo. Fica com Deus. Maasti saiu fechando a porta do carro. Leonardo
pensou por um instante. Ele não desistiria.
Górki Dimitri Similova saiu de sua casa naquela manhã de
inverno. Em Moscou faziam 15 graus Celsius. Pensava que na época de
seu avô, um dos maiores generais russos do século XXI, esta temperatura
era a de um verão escaldante. Mas na Rússia o verão estava beirando os
23 graus. Era histórico. Depois da mudança do clima da Terra, não se via
nevar, apenas poucos meses do ano, nos polos. Górki, chegou na base
militar de Moscou. Se identificou e foi até seu posto. Ele inspecionava as
armas e era perito em explosivos. Quando chegou na sua sala, preparou
alguns documentos que havia analisado um dia antes e viu um oficial
que se aproximava dele. O oficial fez posição de sentido e Górki pediu
que ele descansasse. O oficial lhe entregou um envelope e foi embora.
Górki achou estranho pois era raro, pra não dizer ultrapassado, o uso do
papel. Tudo era feito via rede, o uso de papel havia desaparecido. Para se
usar um envelope de papel com certeza se tratava de algo extremamente
167
July & John
sigiloso. Górki olhou o papel, sentiu sua textura e o cheirou. Há 5 anos
não tocava em uma folha. Ele olhou o envelope dos dois lados e viu no
remetente o selo da Toth Corporation. Com sua faca abriu o envelope,
onde havia um bilhete escrito:
“Ao senhor Górki Dimitri Similova.
Gostaríamos de convidá-lo a se juntar ao nosso exército
de exploração espacial. Outros detalhes só poderão ser esclarecidos
pessoalmente. Se há algum interesse, por favor, comparecer no endereço
abaixo.
Centro de Convenções - The Capital Hilton
1001 16Th Street Nw,
Washington D.C. Distrito de Columbia, EUA
Dia 14 de Janeiro de 2101 - 11h00
Atenciosamente,
Theodore Plumann - CEO da Toth Corporation.
Obs: Sua passagem será enviada para o seu e-mail
Leonardo chegou ao hotel um tanto frustrado, mas teria de
apelar se quisesse ajuda de Maasti. Ele pegou se conectou pela TV do
hotel em um rede privada e falou com Adam Linz por eMessage.
“J.Bregan” diz: olá, vcs conseguiram + alguma coisa?
“Adam, o cara” diz: Bem... conseguimos escanear todos os
dispositivos eletr. Apenas 1 ñ conseguimos sinal suficiente.
“J.Bregan” diz: Qual?
“Adam, o cara” diz: A sala de Antony é do lado da sala de
Plumann. Como nossa caneta tem um sinal baixo, ela ñ consegue chegar
até a sala de Plumann, mas conseguiu detectar que há um cofre dentro da
sala de Plumann, onde a caneta conseguiu algum sinal. Mas infelizmnte
o cofre possui uma codificação alternada.
“J.Bregan” diz: Como assim codificação alternada?
“Adam, o cara” diz: A cada 15 min, a senha do cofre é mudada
automaticamente. Qdo Plumann precisa abrir o cofre, ele manda um
168
July & John
torpedo p/ a empresa que construiu o cofre e eles retornam com a senha
atual. Para acessar o sistema interno é preciso de uma tecnologia muito
avançada q eu ñ tenho. Eu posso conseguir, mas só com acesso pessoal,
ou seja, abrindo o cofre pessoalmente.
“J.Bregan” diz: Eu preciso saber se o HD está lá.
“Adam, o cara” diz: A única forma de saber é abrindo-o.
“J.Bregan” diz: Se o HD estiver lá, Plumann estará frito.
“Adam, o cara” diz: Se tiver o q vc me disse q tem lá, Plumann
já deve ter destruído, não acha?
“J.Bregan” diz: Com certeza ele ñ destruiu, ele precisa de tudo
q está lá. Mudando de assunto, vc conseguiu alguma imagem da pessoa
raptada por Plumann?
“Adam, o cara” diz: Tenho, depois que vc saiu conseguimos +
coisas. Uma delas é a foto da moça. Estou te enviando todos os arq.
relevantes.
“J.Bregan” diz: Mto obrig. Qquer coisa entre em contato.
“Adam, o cara” diz: Pode deixar Léo. :)
Enquanto Adam enviava os arquivos, Léo ficava pensando no
que ele disse. “Foto da moça?” “Será que só as mulheres podem ser
imunes?” Quando ele viu o e-mail, ele viu uma cópia de cartas que seriam
entregues a aproximadamente 3200 soldados no mundo todo. Leonardo
tinha o nome e endereço de cada um deles. Leonardo vibrou por ter
esta informação. E junto com este arquivo, tinha a foto da moça que
Plumann havia pego no planeta Berta. Era muito jovem, uma adolescente.
Leonardo ficou pasmo com a ousadia do seu inimigo. Como podia se
permitir agir assim? Plumann estava passando dos limites. Ele teria de ser
interrompido. Leonardo imprimiu a foto e foi se encontrar novamente
com Maasti.
Maasti, após aquela conversa, ficou muito reflexiva. Ela decidiu
ir ao hospital falar com a pequena Patrícia. Conversaram muito tempo e
durante este momento Maasti esqueceu tudo que a tinha abalado durante
a manhã. A pequena garota, que lutava por sua vida, se mostrou sedenta
por saber que havia um Deus que a amava, e que se fosse da vontade
dEle, que podia curá-la. Patrícia se sentia cada dia mais forte e corajosa,
havia lido bastante a Bíblia, e se lembrava de várias histórias. Seus pais,
que a visitaram na manhã de sábado, viram uma filha mais feliz, mais do
169
July & John
que nunca esteve desde que descobriram a doença. Maasti conversando
com Patrícia, pediu que ela viesse nos cultos na capela, pois ela poderia
ouvir Deus falar mais com ela. Patrícia aceitou. Maasti prometeu que
viria vê-la durante a semana. Patrícia ficou muito feliz e sorriu. As duas
se abraçaram.
Após sair dali, Maasti pensou muito no que ouvira de Leonardo.
Ela foi até a pequena igreja e sentou ali sozinha. Pensava se estava sendo
justa com seu povo. Se estava sendo justa com Deus. Sentada no banco
na igreja, ela começou a falar com Deus:
- Como você pode me pedir isto Deus? Me tirou lá daquele
planeta, onde as pessoas se matam, onde eu matei inúmeras pessoas e me
trouxe para cá. Aqui te encontrei. Aqui aprendi a te amar. Aqui descobri
um homem maravilhoso, que me protege, mesmo sendo às vezes tão
egoísta, eu sei que ele tem um coração e um caráter nobre. Aqui eu
posso ajudar as pessoas. Aqui eu posso ser feliz. Eu não quero voltar, eu
quero ficar aqui. Eu me descobri aqui. Eu não tenho sido aquela pessoa
violenta e fútil. Senhor, tu és o mais poderoso do universo, e o mais
sábio, me ajude, me mostre tua vontade. Eu tenho medo que de saber
mas eu confio mais na Tua vontade que na minha. Eu perdi minha filha,
eu perdi minha vida, meu povo, eu não quero perder agora tudo que
tenho. Não quero lutar mais nenhuma luta, não quero mais outra guerra,
não quero me envolver, não quero voltar. O que queres da minha vida?
Maasti chorava muito. Foi neste momento que ela ouve:
- Chorando assim, se me falassem que você liderou um exército,
eu não acreditaria.
Maasti virou e viu Leonardo parado na porta sorrindo. Ela
sorriu pra ele.
- Você continua com esta cara de cínico. Você abusa pois sabe
que eu gosto de você.
- Venha aqui.
Leonardo abriu os braços e Maasti veio e o abraçou muito forte.
Ele a fazia se sentir protegida. O perfume dele, o calor dele, era tudo que
ela mais desejou por todo este tempo. Ele gostava da companhia dela. Ele
tinha muito carinho por ela.
- Minha querida, você sabe que precisamos conversar de novo.
- Eu sei. Pode dizer Léo. Foi Deus que mandou você de novo.
Leonardo fez uma cara de quem não gostou do comentário,
170
July & John
mas poderia servir. Leonardo e Maasti ficaram de frente um pro outro.
Leonardo colocou a mão por dentro do casaco e tirou uma foto.
- Maasti, esta é a pessoa que sequestraram de Berta.
Quando Maasti viu a foto, ela se afastou chocada, ela parecia
que ia ter um ataque. Ela ficou um tanto sonsa e devagar foi caindo.
Leonardo rapidamente a amparou. Ela ainda meio tonta, antes de
desmaiar, disse:
- Malda... Malda... minha filha.
171
A Líder Tribal
“Eu sinto que alguém, em algum lugar está tentando respirar.
Bem, você sabe o que eu quero dizer:
Este mundo está louco,
mantendo a mulher em correntes.”
Tears For Fears
A Líder Tribal
Capítulo 14
Tribo das Drasílias, Planeta Berta
2227 anos após a Grande Queda (2032 d.C.)
Valpis cozinhava para todas as mulheres da tribo. Ela era uma
das melhores cozinheiras que havia ali. Valpis era uma jovem de 15 anos,
muito devota à sua líder, Tiníazes. Como era de costume, cada mulher
quando nascia, deveria ser escolhida até completar os 5 anos de idade
para alguma atividade. Isto acontecia quando as mais velhas da tribo,
mulheres de geralmente 35 a 40 anos, iam ao Monte do Ritual para pedir
ajuda do grande deus do mundo conhecido, com o intuito de descobrir
qual era sua vontade para as pequenas jovens. O Monte do Ritual, ou
“Salasvu Tu” era onde as mulheres acreditavam ter acontecido a criação
original. Os homens acreditavam que isto tinha ocorrido na Planície
do Início (Chalaca Vu). Ambos criam no mesmo deus, mas cada tribo
tinha uma forma diferente de interpretá-lo. As Drasílias acreditavam
que o grande deus é um ser muito poderoso que havia criado a mulher
como sua imagem, e que o homem deveria lhe servir. Elas acreditavam
também que ao dar à luz a um filho, as mulheres entravam em uma
união com o grande deus, e ele gerava aquela criança. Mulheres seriam
172
A Líder Tribal
as representantes da criação, sendo assim, elas eram divinas. A parte
dos homens na cópula, era a ligação do deus (mulher) com o ser caído
(homem), criando um ser novo. Tudo acontecia quando o grande deus
mandava seu espírito na terra e, pela mulher, entrava em união com
o homem falho. Elas viam o grande deus como um ser distante, que
decepcionado com os seres humanos, os abandonou, deixando no seu
lugar as mulheres. O grande deus só visitava sua criação, em espírito,
durante a cópula e nascimento, e em manifestação, no Monte do Ritual.
As mulheres também acreditavam que o grande deus um dia viria e
restabeleceria a amizade com seu povo, como era antes da grade queda.
Um dia uma grande mulher, a maior de todas, seria usada para trazer a
paz e harmonia, como a mensageira do grande deus. Por este motivo as
líderes da tribo eram tão respeitadas, pois uma delas poderia ser a grande
mensageira dos céus.
Os homens (Calopícios) viam tudo isto como pura blasfêmia,
e eles viam seu grande deus também como um ser que se decepcionou
com o ser humano, e que a mulher era apenas um objeto usado pelo
grande deus para depósito de sua geração caída. A mulher perpetuava
a vergonha do universo quando gerava mais filhos. Gerar filhos era um
desrespeito ao grande deus pois, na concepção deles, trazer mais pessoas
no mundo era aumentar a vergonha da grande queda. Os homens
diziam que só havia uma única solução: O surgimento de um homem
que colocaria fim à desgraça e vergonha do grande deus. Somente nesta
crença, homens aceitavam que a mulher tivesse o direito em ter filhos,
pois uma delas seria a “bacia” onde seria depositado o grande homem.
Enquanto não surgia a esperança, eles tinham a mulher como causadora
de mais vergonha diante do mundo, então achavam que como castigo
por gerar filhos, ela deveriam ser escravizadas e sofrer humilhação. As
garotas que não haviam sido mães eram vistas com menos repulsa dos
que as que geravam. Mas depois de muitos séculos de guerra e ódio, o
desprezo dos homens pelas mulheres era generalizado.
Valpis acreditava em tudo que lhe foi ensinado. Acreditava no
grande deus, mas diferente de suas amigas, era uma pessoa amorosa e este
foi um dos sinais de que deveria servir à tribo e não ir para a guerra. Ela
173
A Líder Tribal
tranquilamente cozinhava uma ave cozida em uma das incríveis panela
feitas de barro, revestidos com cobre na parte interna e uma estrutura
toda trabalhada em uma mistura de ouro e berlítio, dando beleza ao
objeto. Valpis ouviu uma algazarra e ficou curiosa. Não pôde sair dali,
mas tão logo encontrou alguém que talvez pudesse saber. Não hesitou
em perguntar.
- Anelde, o que está acontecendo?
- A líder Tiníazes voltou da guerra. Ela trouxe 46 escravos
homens, armas e mantimentos. Foi tomada a grande aldeia de Jaldon. A
não ser os homens que estão aí, todos morreram.
Anelde correu para o posto, onde cuidariam dos feridos. Valpis
que estava acostumada com a volta da guerra, já foi se preparando. Quando
voltou para seus afazeres, uma das guerreiras chegou e cumprimentou
Valpis. Ela se sentou em uma cadeira ali da cozinha e colocou um pouco
do cozido em uma tigela e quando ia colocar a comida na boca, ela levou
um tapa na cabeça. Era Tiníazes. Ela, assustada, se levantou e Tiníazes
disse com autoridade:
- Quem você acha que é para comer antes das outras? Vai pra
grande mesa e espera a hora certa.
A guerreira obedeceu imediatamente. Tiníazes pediu para Valpis
alimentar os exércitos que estavam famintos.
- E depois quero que você alimente os prisioneiros.
- Sim minha líder.
- E cuidado com eles, não lhes dê atenção. Não esqueça que eles
são nossos inimigos.
Se envolver emocionalmente com o inimigo, era considerado
traição, e as mulheres eram presas, açoitadas e escravizadas junto com
os homens. Dizia a tradição, que se as mulheres gostavam tanto deles,
deveriam ser tratadas como eles. Esta era uma forma de fazer com que
elas tivessem medo de se envolverer com os homens.
Valpis, com a ajuda de mais outras moças, foram alimentar as
guerreiras. Elas estavam famintas, algumas estavam sujas e outras feridas.
Todas se tratavam como irmãs, mas as mais admiradas eram as guerreiras.
As mais novas vinham sempre ouvir sobre as batalhas e suspirar com as
174
A Líder Tribal
histórias. Elas contavam para as mais novas o que se passava nos campos
de batalhas. Valpis sempre calada, trabalhava. Uma das guerreiras, Nala,
contava que tinha escolhido um dos homens para ser seu escravo pessoal.
As outras ficaram todas eufóricas para saber quem era. Nala disse que era
um escravo que tinha uma cicatriz em foma de X na perna. Ela disse que
ele era muito rebelde e valente. Ela se orgulhava dizendo que ia “domálo”. Todas riam. Nala era umas das mais fortes guerreiras da tribo, e a
mais cruel.
Valpis voltou à cozinha e depois foi para as celas dos
prisioneiros. Lá estavam homens feridos, sujos, alguns demonstravam
ter sido espancados. Valpis lhes deu alimentos e um deles a chamou
a atenção. Todos iam em direção às celas, desesperadamente pedindo
comida, mas este em especial ficava na última cela parado, com os olhos
fechados, como se meditasse ou esperasse algo. Em cada cela haviam 5 a
6 homens. As celas eram de dois metros quadrados². Valpis foi indo de
cela em cela. Quando chegou na última cela, a que ficava virada para o
corredor, ela percebeu que o homem misterioso estava sozinho. Valpis
segurou seu prato de comida, mas ele não veio pegar. Ele estava parado,
encostado na parede de olhos fechados. Ela insistiu e ele nada fazia. Com
menos doçura do que lhe era comum, ela disse que ia embora. Quando
ia embora, ele rapidamente abriu os olhos, veio à frente e a segurou pela
mão, com firmeza, mas delicadamente. Ela levou um susto.
- Não vá.
- Homem, eu não devo falar contigo. Disse Valpis, olhando para
baixo e tentando ir. Mas ele não a largou.
- Eu não sou como os outros.
O toque da mão dele parecia como uma brasa que lhe atingia o
corpo. Ela se sentia bem, mas ao mesmo tempo, não se sentia à vontade.
Nunca um homem havia lhe tocado. Ela olhou para ele. Ele era sereno e
bem tranquilo.
- Homem, eu não posso falar com você. Poderia ser ruim pra
você e pra mim.
- Eu não ligo de apanhar. Só queria ver seus olhos, seu sorriso...
- Você não liga de apanhar, mas eu ligo!
175
A Líder Tribal
- Me chame de Jadel.
- Mais alguma coisa além de ficar me segurando e ver meus
olhos?
- Só mais duas coisas.
- Diga homem!
- Muito obrigado pela comida. Jadel disse isto, soltando a mão
de Valpis e pegando seu prato de comida. Valpis nunca viu alguém lhe
agradecer por nada. As mulheres só agradeciam sua líder. Agradecer
alguém simples era como dizer que aquela pessoa era muito especial,
era sua dona, sua principal. Era uma alta honra. Isto ainda mais de
um homem, que só deveriam agradecer seus líderes, não seus inimigos.
Realmente ele era diferente. Jadel se encostou na parede e começou a comer
fitando a moça que estava parada olhando nos olhos dele, impaciente.
Ele a perturbava. Ele a admirava. Ela ficou parada observando. Ele não
tirava os olhos da moça. Ela tinha de ir embora, e foi, mas deu um passo
e voltou. Parecia esperar algo. Ficou esperando, esperando. Então ela,
sem mais paciência, disse:
- Homem, qual é a segunda coisa que você queria? Estou
esperando. Não vai falar? Estou curiosa!
Jadel sabia que as mulheres eram extremamente curiosas (seja o
planeta que for), riu e disse:
- Quase ia me esquecendo. Qual é o seu nome?
Valpis sorriu. “Era só isto?” Pensava ela. Mas nunca ninguém
havia demonstrado tanto interesse nela. Ela com um olhar menos hostil,
respondeu:
- Valpis. Até mais.
Ela foi embora, pois estava estranhando tudo aquilo. Antes de
virar o corredor, ela olhou para trás. Ele estava olhando para ela. Ela
sorriu e sumiu, cheia de vergonha.
“Por que ele era tão diferente?” pensava Valpis. Ela não via a
hora de poder levar comida e ver Jadel novamente. Queria saber mais
sobre ele. Tinha de saber porque ele a tratava diferente. No outro dia
ela estava muito ansiosa, não via a hora da tarde para alimentá-lo. Os
prisioneiros só comiam uma vez por dia. Chegou a hora da tarde e Valpis
176
A Líder Tribal
alimentou todos os prisioneiros quando chegou a vez de Jadel, ela não
lhe deu o prato. Ele ficou surpreso e perguntou:
- Estou de jejum hoje?
- Não moço. Só vou te dar a comida se você me explicar porque
você é diferente dos outros homens?
- Ah. Você realmente é curiosa, Valpis. Bem, eu não concordo
de como as coisas são. Eu não concordo com esta guerra idiota. Eu não
concordo no que as pessoas dizem e fazem com as outras. Eu acredito
no grande deus, mas não acho que ele se agrade com esta coisa besta que
nosso povo faz. Eu acredito que o grande deus pode estar tão perto de
nós, e não deixando que nós nos matemos. Eu acho que ele só deixa,
porque as pessoas querem excluí-lo de suas vidas. Eu não quero agir
como estes agem. Se eu fosse alguém importante, eu faria tudo diferente.
Homens e mulheres podem conviver pacificamente.
- Mas moço, a guerra se trata da verdade. Quem estiver dizendo
a verdade e seguindo a verdade, terá as bençãos do grande deus. Quem
mentir, o grande deus tem de destruir do mundo.
- Me desculpe Valpis, mas não se trata de verdade, mas sim de
quem quer sobrepor a sua crença e vontade sobre o outro. Homens e
mulheres já viveram em paz. Se o grande deus quisesse que homens e
mulheres vivessem separados ele os teria criado cada um bem longe um
do outro. Até para terem filhos, o homem precisa da mulher e a mulher
do homem. São uma coisa só. O grande deus quer acabar com o mal, não
com sua criação. O que nossas tribos fazem não são a busca da verdade,
mas a busca do mal e da crueldade.
- Eu nunca tinha pensado nisto. Disse a jovem.
- Você nunca pensou nisto porque sempre aceitou o que todos
pensam. E ninguém gosta de quem pensa diferente.
- Por que você me agradeceu?
- Porque você foi boa comigo. Se fosse outra pessoa, teria jogado
a comida no chão. Se fosse outra pessoa nem falaria comigo. Além do
mais, eu gostei muito de você, Valpis.
Valpis ficou sem jeito, deu a comida pra Jadel e foi embora antes
de ficar toda vermelha. Ao virar o corredor, ela olhou para Jadel e deu
177
A Líder Tribal
um sorriso mais aberto. Ela estava gostando dele. Por alguns dias Valpis
vinha e conversava com Jadel. Conversas rápidas que revelavam um
pouco de cada um. Nos dias que iam se passando, eles tocavam a mão
um do outro. Cada noite um pensava no outro. Estavam apaixonados.
Algo que era proibido na tribo. Um dia Valpis veio e trouxe comida para
Jadel e conversando com ele, ela ficou curiosa quanto a algo.
- Jadel, me diga, qual é o guerreiro que tem uma cicatriz de X na
perna?
- Você nunca viu?
- Não. Quem é?
- Sou eu. Você nunca viu minha marca? Jadel disse isto virando a
perna e mostrando duas cicatrizes na perna que formavam um X. Valpis
ficou pasma. ela foi logo dizendo:
- Não tem outro?
- Não, só eu. Sou conhecido por estas marcas.
- Jadel, então você corre perigo!
- Por que minha querida?
- Tem uma guerreira chamada Nala, e ela te escolheu pra ser o
escravo dela. Deve ser por isto que você está nesta cela sozinho. Ela vai
ter você na próxima lua cheia. Ela vai acasalar com você, e depois ela vai
te torturar e te matar. Ela sempre faz isto com seus escravos.
- O que eu posso fazer, então?
- Eu farei por você. Eu vou pedir você para minha líder.
Antes que Jadel pudesse entender o que acontecia, Valpis correu
para se encontrar com sua líder. Seu pequeno “palácio” era todo orneado
com ouro e pedras preciosas. Muitas pedras cinzas lapidadas, trabalhadas
e polidas tornavam os desenhos em obras de arte. Seu trono era adornado
com ouro e bronze. Valpis pediu um encontro com sua líder. Ao ser
autorizada, ela se ajoelhou e pediu a benção da líder. Esta lhe abençoou
e perguntou o que desejava.
- Minha grande líder, eu quero um escravo.
- Você é muito nova para isto. Mas dependendo da situação eu
posso lhe conceder.
- Eu já sei qual eu quero. É um dos prisioneiros.
178
A Líder Tribal
- Qual? A líder estava curiosa quanto a aquele pedido, e além
disto, estava desconfiada.
- Ele é conhecido por suas cicatrizes em forma de X na perna.
- Se não me engano, Nala já me solicitou este escravo.
- Mas eu também gostaria de tê-lo. Mesmo que seja depois que
Nala copule com ele. Ele pode me ajudar muito na cozinha.
- Verei o que posso fazer. Pode ir.
Valpis saiu muito nervosa. Ela precisaria salvar Jadel. Ela quase
não trabalhou direito durante a tarde. Quando era hora do sol se pôr,
Valpis ia para seus aposentos quando, de repente, ela sente alguém lhe
dando uma chave de braço, a enforcando. Nala estava furiosa e disse para
a garota:
- Então você quer meu escravo? Você é muito corajosa pra querer
o que é meu, ou então, é muito burra.
- Me solta Nala! Me solta!
Nala soltou e ficou de frente com a jovem. Valpis, nervosa pelo
susto, se recompunha, dizendo:
- O que te custa me dá-lo? Você irá matá-lo mesmo. Você pode
copular com Jadel e depois entregá-lo para mim. Qual o problema nisto?
Nala se assustou em saber que a garota sabia o nome do escravo.
Ela se abaixou para ver o rosto de Valpis e percebeu que ela estava
apaixonada por ele.
- Você está gostando do escravo? Ele é seu inimigo!
- Não estou gostando, apenas quero-o como meu escravo para
me ajudar na cozinha!
O olhar de Valpis denunciava suas intenções. Nala se aproximou
da garota, apertou seu rosto com as duas mãos. Valpis tentava se soltar.
Nala com muito ódio disse:
- Eu vou matá-lo amanhã, pela manhã, e na sua frente.
- Não faça isto... por... favor.
- Você está apaixonadinha por ele não é? Agora que eu vou matálo. E antes de você ser açoitada e se tornar uma escrava. Pois eu irei te
denunciar para nossa líder. Você vai aprender que nunca poderá ter o que
é meu.
179
A Líder Tribal
Nala soltou a garota e cuspiu nela. Ela saiu. Valpis sabia que
ela contaria para a líder. Ela teria de salvar Jadel. Valpis correu para a
cozinha, pegou uma das facas e foi o mais rápido que pôde para a prisão.
Ao chegar na cela de Jadel, ela começou a cortar as cordas. Jadel, sem
entender nada, perguntava à garota o que tinha acontecido. Ela disse
que eles precisavam sair dali, pois ele seria morto e ela escravizada. Com
esforço ela conseguiu rasgar a corda que segurava a porta, ela abriu a
porta e abraçou Jadel. Ela sempre quis senti-lo, nem que fosse aquela a
última vez. Ele a abraçou também.
- Valpis, você sabe como sair daqui?
- Eu sei. Me siga.
Enquanto os outros prisioneiros imploravam ajuda. O casal
correu pelo corredor. Viraram para a direita, na saída haviam algumas
mulheres fazendo guarda, eles voltaram. Valpis correu para uma outra
parede. Em cima, tinha uma pequena janela para ventilação. Ela subiu
em cima dele e chegou na janela, ela se virou e com meio corpo para
fora e foi descendo, puxando Jadel pelos braços. Eles conseguiram cair
do lado de fora da prisão. Precisariam percorrer mais um quilômetro até
estarem fora da tribo. Foram se escorando pelas paredes das pequenas
casas. Quando eles chegaram atrás de uma casinha, Valpis olhou e viu
duas guerreiras de guarda correndo em direção a Nala, que com Tiníazes,
iam em direção à prisão. Valpis viu isto como uma oportunidade de
atravessar a tribo, sem vigia. Eles correram, atravessaram ruas e vielas,
tudo parecia um labirinto, mas Valpis conhecia cada lugar. Agora estavam
bem em frente à saída da tribo. Duas guardas tomavam conta do portão.
Valpis teve uma ideia, ela saiu correndo e disse para as guardas:
- A grande líder está chamando vocês. Um dos prisioneiros fugiu
e está escondido na casa de banhos. Corram para lá. Eu cuido daqui.
As guardas correram, eram burras demais para entenderem
alguma coisa. Assim que saíram, Valpis e Jadel abriram o portão e foram
embora. Eles adentraram a floresta. Valpis estava perdida. Ela nunca
havia saído da tribo, e perguntou a Jadel o que fariam.
- Eu conheço um lugar onde não nos incomodarão. É uma
aldeia de pacificadores. Mas é bem longe. Você consegue andar 3 dias?
180
A Líder Tribal
- Sim, eu andava mais que isto para pegar água na época em que
tinha seca.
- Vamos, então.
Os dois caminharam. Foram perseguidos por um grupo de 34
guerreiras, mas como andaram muito à frente, mal souberam disto. Em
alguns momentos, por 100 metros de diferença, não foram descobertos.
Descansaram depois de metade de um dia de caminhada. O planeta Berta,
por ser menor, possuía um dia de 21 horas e seu ano durava 418 dias. O
que dava aproximadamente 10 dias a menos que o ano terrestre. Valpis
e Jadel andavam e descansavam. Depois de caminhados dois terços do
trajeto, chegaram a parte mais difícil da viagem. Havia um deserto. Um
deserto de rochas e no meio do deserto havia uma cadeia de montanhas
feitas de rocha e terra preta. Teriam de andar bastante. Jadel decidiu andar
um pouco mais, mas iriam circundando o mar, que era mais fresco.
Mais 2 dias de viagem. Ele caminharam 5 dias no total mas, finalmente,
chegaram no acampamento dos pacificadores que Jadel havia falado. Era
um acampamento de pessoas que fugiam das tribos. Não havia guerra,
apenas grupos que queriam a paz entre homens e mulheres. Vivendo
depois da cadeia de montanhas, eles viviam seguros das tribos guerreiras,
sem ser incomodados. Jadel conhecia bem aquele lugar, pois ele nascera
ali. Quando jovem, em uma busca, ele foi aprisionado e obrigado a lutar
pelos homens.
Muito cansados, eles foram bem recebidos. Receberam comida e
água. Viveram um tempo ali e se casaram. O casamento era sempre feito
sempre embaixo de uma antiga árvore. Eles acreditavam que o primeiro
casal criado pelo grande deus, se casaram embaixo de uma grande árvore.
Isto antes da grande queda. Como de costume no ato do casamento,
as suas mãos, mão esquerda do homem e mão direita da mulher, eram
amarrados com faixas de tecidos e durante toda a festa eles ficavam
unidos. Alguns, mais antigos, diziam que se eles não se suportassem na
festa, não se suportariam a vida toda. A festa durava uma noite toda e
depois da festa, eles eram separados por uma semana, sem se verem. A
tradição acreditava que a saudade e falta que eles sentiam um do outro se
tornava tão forte que qualquer lua de mel era um sucesso total.
181
A Líder Tribal
Jadel e Valpis, buscaram ter filhos, mas inexplicavelmente eles
morriam ainda na gestação. Depois de 5 tentativas, nasceu finalmente
a pequena Malati. O nome Malati significava “O grande deus nos deu
uma benção” na língua nativa deles. Malati cresceu naquele espírito de
amor, companheirismo e paz. Jadel, um homem que idealizava a favor
da união e da paz entre as tribos, acabou influenciando sua filha. Isto
mudaria a vida dela grandemente. Obstinada e corajosa, ela decidiu que
lutaria pela paz entre homens e mulheres. Aos 15 anos ela saiu de casa
com um grupo, que foram em diversas tribos pregando a paz entre as
raças (homens e mulheres eram considerados de diferentes raças). Ela
falava que o grande deus era um só e havia criado homens e mulheres
iguais. Muitos aderiram à causa, e diversas províncias ligadas a cada uma
das tribos se tornaram pacíficas.
Quando Malati tinha 17 anos, ela juntou seu grupo e foram
à províncias mais distantes, perto da capital da tribo dos homens. Lá
se acamparam. Eles conversaram e se divertiram em meio a natureza.
Enquanto cantavam e rezavam, surgiram alguns homens da região.
Eram guerreiros Calopícios. Eles, com crueldade, mataram os homens
e estupraram as mulheres. As mulheres seriam levadas como escravas.
Elas foram amarradas pelos braços em uma corda e seriam levadas
arrastadas pelos cavalos. Seria uma viagem longa e elas acreditavam que
não chegariam vivas. Os homens caçoavam delas, enquanto as amarrava
aos cavalos. Elas estavam muito feridas e gritavam de medo. Malati não
gritava, mas pedia uma intervenção do grande deus. Eles subiram nos
cavalos e começaram a cavalgar devagar. Os corpos começaram a rastejar
sobre as pedras. Logo que começaram a ir, algo aconteceu. Um tremor
forte e perturbador tomou conta do lugar. Era um terremoto que estava
acontecendo na região, tão forte que ninguém ficou no lugar. Todos
os cavalos se assustaram. Os guerreiros caíram e, no chão, como por
provisão, bateram a cabeça fortemente. A queda foi tão forte que não
sobreviveram. As mulheres começaram a ser arrastadas pelos cavalos
assustados, mas as cordas se romperam. Sozinhas e com a autoestima
destruída ela voltaram à aldeia. Malati foi cuidada. Ela ficou de cama
por três meses, e era a mais depressiva de todas. Ela se sentia culpada,
182
A Líder Tribal
pois liderava o grupo pacificador. Apenas algo a ajudava a ter forças, era
de que o grande deus interveio com o terremoto e com o livramento das
cordas. Mas não só isto havia acontecido. Malati estava grávida.
Num dia chuvoso do verão de Berta, nascia Maasti. Seu nome
significava “O grande deus me usará poderosamente”. Malati, tinha o
sonho de que sua filha fosse sua grande aliada no trabalho de levar a
paz. Ela tratava Maasti com muito amor. Maasti vivia muito com os
avós quando pequena. Era uma criança muito inteligente. aprendeu a
falar e a andar muito rapidamente. Quando tinha três anos de idade, seu
avô faleceu. Muito estimado, e tido como um dos homens mais sábios
da comunidade. Foram dias de luto. Malati sentiu muito a perda do pai
e começou a se dedicar muito ao seu trabalho. Maasti, uma menina de
10 anos, apenas por pouco tempo via a mãe, que vivia em viagens de
pacificação. Às vezes ficava horas parada na porta esperando sua mãe
chegar, e quando esta chegava era uma festa. Malati contava os horrores
da guerra e sobre os avanços da paz. Numa das suas últimas viagens, ela
dizia que faziam alguns meses que não haviam batalhas e um acordo de
paz seria selado. Ela faria uma viagem, talvez a última que precisava para
finalmente realizar seu sonho.
No terceiro dia da semana, 10 dias depois de ter voltado, Malati
faria sua viagem mais importante. Ela e seu grande grupo foram juntos.
Finalmente seria selado a paz entre as tribos. Mas seus planos iriam
ser frustrados. Durante o tempo que voltava para sua comunidade, o
grande líder homem morreu. As pessoas que viviam nas grandes tribos
morriam jovens e com a saúde debilitada, devido aos efeitos do Bertílio.
Seu filho, Bedjel, se tornou líder em seu lugar, com apenas 13 anos. Era
um rapaz ambicioso e queria dominar todo o mundo. Ele precisaria se
livrar de seus rivais. Por incrível que pareça, sua inimiga mais perigosa
era nada menos que Malati. A paz traria danos aos seus planos. Ele
mandou chamar um dos seus melhores guerreiros, Edzen, e prometendo
muitas riquezas, pediu a cabeça de Malati.
A jovem Malati viajou vários dias até chegar ao acampamento
dos Calopícios. Ela era sempre escoltada por seus homens. Tinha passe
livre para entrar nas duas tribos, pois era uma mulher muito respeitada.
183
A Líder Tribal
As mulheres acreditavam que ela era a grande mensageira, os homens
acreditavam que ela tinha vindo do grande deus. O pai de Bedjel a
admirava. Ela veio procurando justamente o homem que já não estava
mais ali. Ela se entristeceu muito pela morte do amigo, tanto que decidiu
se hospedar para chorar sua morte, antes de começar as negociações.
Todos os grandes guerreiros respeitavam Malati. Edzen, era um dos
poucos que era tão cruel quanto seu líder. Durante a noite, Malati
rezava ao grande deus pedindo pela família do grande líder falecido.
Edzen, silenciosamente, dominou um por um dos guarda-costas de
Malati. Apenas um deixou com vida, para que fosse testemunha. Uma
das técnicas de propaganda naquela época era o testemunho de algum
sobrevivente. Edzen queria ser conhecido como o homem que deu fim
à pessoa mais respeitada da época. Quando Edzen chegou na barraca de
Malati, ela se virou, olhou para ele calmamente e voltou a rezar. Ele disse:
- É melhor você rezar mesmo. Nem o grande deus pode te livrar
agora.
- Você está errado Edzen, ele pode me livrar sim. Mas eu sei que
ele não vai. Apenas de uma coisa eu sei.
- O que, sua mulher estúpida?
- Que a justiça será feita. O grande deus me disse que você será
morto pela mesma espada que vai me tirar a vida. E pelo mesmo sangue
que vai derramar hoje.
Malati disse isto virando-se, se levantando e ficando cara a cara
com seu executor.
- O grande deus não falaria com você, nem se você fosse um
homem. Disse Edxen
- Viva e verá. Vamos! Termine seu trabalho.
Ela o fitava. Quando ele levantou a espada, ela fechou os olhos.
- Grande deus, minha vida é su...
A cabeça de Malati rolou no chão. Logo pela manhã a mesma
estava enfiada em uma estaca na entrada da tribo. Todos entenderam o
recado do líder homem. Ele não toleraria concorrência. Bedjel pegou
uma prisioneira feminina, ela deveria contar às Drasílias tudo que
havia visto. Bedjel permitiu que o jovem sobrevivente levasse o corpo
184
A Líder Tribal
de Malati. O jovem andou por vários dias com o corpo, este já entrava
em estado de putrefação quando chegou no acampamento. Houve luto
por muitos dias. Maasti, uma pobre criança, não chorou. Ela era forte
e determinada que nem a mãe. Enquanto todos choravam, ela buscou
saber quem foram os que mataram a mãe dela. O jovem evitava falar do
assunto. Ela, mesmo sendo uma criança feriu o homem, quase duas vezes
o tamanho dela. Ele lhe contou tudo. Maasti, levando só comida, decidiu
ir embora da tribo em busca de vingança. Sua avó a abordou.
- Você é a única coisa que me sobrou. Não vá.
- Eu vou matar aqueles homens. Edzen e Bedjel serão vingados
pelo que fizeram à mamãe.
- Mas você tem apenas 10 anos. Você será morta, ou no mínimo,
aprisionada.
- Nem que eu lute até a morte, eu vou me vingar.
- Faça o seguinte então: Vá até o acampamento que eu vivia. Lá
é onde vive a líder Drasília. Vá e fale com a líder, peça para ser treinada.
Diga que sua avó foi leal a Tiníazes, a antiga grande líder, diga que você
é filha de Malati, filha de Valpis. Elas saberão quem você é. Quando você
estiver pronta, você poderá ter sua vingança.
- Farei isto. Adeus minha avó.
- E só mais uma coisa.
- O que minha avó?
- Quando tiver se vingado, me mande a espada que você usar. Eu
saberei que você teve triunfo, e também que está viva e bem.
- Eu farei.
- Que o grande deus te guie.
- Que ele te guie também.
As duas se abraçaram. Nunca mais elas se veriam novamente.
Maasti andou sozinha, pelas montanhas e pelo deserto. Mesmo sem
nunca ter cruzado aquele lugar, sua determinação lhe dava forças.
Clerin fazia guarda naquele dia, ela estava cansada demais. Mal
havia conseguido dormir direito. Mas ficaria de guarda. O sereno da
manhã fazia uma neblina. Ela olhou, não havia nada à frente. Seus
185
A Líder Tribal
olhos foram fechando, fechando, e se fecharam. Ela adormeceu por dez
segundos, quando abriu os olhos, caiu ao chão de susto. Tinha uma
menina na sua frente. Caída, ela pegou sua arma e apontou para a garota.
A pequena Maasti empurrou a arma para o lado. Clerin, vendo a ousadia,
de novo apontou a arma para a garota. De novo Maasti empurrou a
arma para o lado. Maasti não tinha medo de nada. A jovem guarda, pela
terceira vez, se armou. Maasti empurrou a arma para o lado, afastando-a
com a mão, e chegando perto de Clerin, perguntou:
- Onde está a líder de vocês? Quero falar com ela.
- Ela está descansando. Você acha que pode falar com ela assim?
- Eu quero ser treinada.
Clerin riu e disse:
- Garota, as crianças começam a ser treinadas aos 5 anos de idade,
você deve ter o dobro disto. Você nunca será aceita. Você é uma estranha!
- Eu sou filha de Malati, a pacificadora, filha de Valpis, antiga
cozinheira da líder Tiníazes. Será que ainda sou uma estranha?
A jovem ficou pasma. Ela pediu para a menina esperar e foi falar
com Julat, a principal guerreira. Julat foi à entrada e conversando com
a menina descobriu que esta falava a verdade. A guerreira foi falar com
sua líder, Tania. A líder, quando ficou sabendo, disse que não poderiam
aceitar a menina, pois era muito velha para o treinamento. Além do
mais, ela era considerada neta de uma traidora. Tania autorizou que
Maasti ficasse na tribo, servindo, sendo parte da comunidade, mas que
não poderia ser treinada. Ela faria isto por respeito à sua mãe morta.
Julat foi lá conversar com a menina.
- Maasti, você pode entrar.
- Eu vou ser treinada?
- Olha Maasti. Você não pode ser treinada, seria contra as regras.
Sua família, sua idade. Entre, vamos cuidar de você e te ajudar.
- Eu não vou entrar, só se for para ser treinada.
- Então fique aí.
A jovem Maasti ficou na frente da tribo dia após dia. Ela, sob
sol e chuva, sereno e escuridão, não saiu da porta da tribo. Ela bebia a
água da chuva, e não comia nada. Ela estava disposta a ficar ali. As jovens
186
A Líder Tribal
que faziam guarda, tentavam fazê-la mudar de ideia, mas a garota era
determinada. As jovens guardas fizeram amizade com a pequena, mesmo
tendo sido dada a ordem de não falarem com ela, para que ela mudasse
de ideia. Depois de passados dez dias, Maasti estava em um estado
deplorável. Julat e as guardas conversaram com a líder e finalmente
aceitaram Maasti para começar o treinamento. E a determinação da
garota continuou igual. Em um ano ela já estava no mesmo nível das
garotas da sua idade. Aos 13 anos ela era a mais jovem mulher a ir para
a guerra. Ela enfrentou batalhas intensas.
Ela era companheira e espirituosa. Seu sonho era que as mulheres,
pela guerra, terminassem com as batalhas, colocando os homens em
rendição para a construção de um novo mundo de paz. Com 17 anos
ela era uma das principais guerreiras da tribo e a estrategista. Sua mente
era superior e todos os homens a temiam. Suas companheiras eram
tratadas como sua família. Maasti era extremamente carinhosa e doce
com as pessoas que convivia, mas também, muito rígida e justa. Aos
19 anos ela liderou a batalha mais importante da sua vida. Nela, Bedjel
e Edzen lutariam e ela poderia ter sua vingança. Ela, com força, foi
adentrando o exército inimigo, um por um, escoltada por suas principais
companheiras. Ela derrubava todo homem que ia pelo seu caminho. No
meio do caminho ela encontrou Edzen. Ele sabia quem ela era.
- Maasti, a principal cadela da alcatéia. Eu vou te matar como fiz
com sua mãe.
Ela sem dizer nada, ficou observando, pronta para o ataque. Ela
usava a cabeça, não o coração. Ela esperava-o atacar. Ele veio para atacála, ela se desviou uma e outra vez. Ela deu um golpe no braço dele. Ele
ficou furioso e a xingava incessantemente. Ela atacou, ele se defendeu.
Ele a atacou, ela se desviou e deu outro golpe do lado dele. Ele era forte.
Aguentaria muitos outros. Um dos flecheiros do exército masculino,
quando viu Maasti com a espada pronta para atacar seu guerreiro, ele
atirou na mão dela. Ela deixou a espada cair no chão. Ela se defendeu de
Edzen como pode, então quebrou a flecha que estava na sua mão, e se
defendendo dos golpes de Edzen, ela enfiou a flecha na mão do inimigo.
Ele jogou sua espada, ela a pegou rapidamente. Ele foi lutar com ela, mas
187
A Líder Tribal
quando seu corpo avançou, logo uma espada lhe atravessava o corpo.
Ele, antes de morrer, lembrou do que Malati havia lhe dito: “Pela mesma
espada, pelo mesmo sangue”. Maasti arrancou a espada de Edzen, e
pegou a sua do chão. Havia mais ainda uma pessoa que tinha de sofrer
sua vingança. Ela saiu do campo de batalha e junto com seu grupo leal,
atravessou a parte de trás de onde estava tendo a guerra. Ela sabia que
Bedjel fugiria. Ele era covarde. Ela esperou. Naquele momento de espera,
ela analisava as coisas que aconteciam. Ela parou e pensou em tudo.
Pensou desde o dia em que entrou naquele acampamento até o presente.
Enquanto pensava, ainda de olhos fechados, ela ouviu um barulho.
Ela abriu os olhos e viu os cavalos de Bedjen com sua escolta fugindo.
Ela os seguiu em cima de seus cavalos. Lutando contra seus homens, ia
derrubando, um por um. Só havia Bedjel na sua frente com seu cavalo
mais rápido. Ela tirou seu arco, pegou uma flecha e se preparou. Ela
mirou nele, mirou no quadril e atirou. Ele caiu. Ela desceu do seu cavalo
e parou em frente ao líder ferido.
- Quem é você?
- Maasti, filha de Malati, aquela a quem você matou brutalmente.
- Não fui eu quem a matei, foi Edzen. Ela tinha inveja de sua
mãe. Olha, se você quiser, eu entrego ele pra você. Só não me mate.
- Bem, não precisa, aqui está a espada dele, imagine o que
aconteceu com ele? Bem, o seu fim será o mesmo.
- Não faça isto. Sua mãe era uma mulher da paz. Você não é da
paz?
- Eu sou da paz, sim. Só vou ter paz quando você morrer.
- Não faç...
Antes que ele terminasse, Maasti já havia lhe tirado a vida.
Duas semanas depois, Valpis recebia aquela espada. Ela não ligava para a
vingança, mas sabia que sua neta estava bem, e o mais importante, estava
viva. Ela soube de tudo sobre Maasti pela jovem que veio lhe entregar a
espada. Soube que era forte e determinada como a mãe, inteligente como
o avô, doce e carinhosa como a avó. Maasti, após a guerra, tomou um
dos prisioneiros como escravo e quando tinha 20 anos, nasceu Malda,
sua única filha. Ela também seria sua herdeira. Mesmo tendo ouvido
188
A Líder Tribal
a história de amor de sua avó, ela nunca se interessou por homens.
Ela os odiava pelo que tinham feito à sua mãe. Mas em nada achava
que eles eram inferiores, apenas pessoas cruéis. Quando completou 23
anos, a líder faleceu. Sua filha, pela reunião das anciãs, foi escolhida
para ser escultora, não guerreira. Sempre que isto acontecia, quebrava
uma linhagem e criava outra. Mesmo que fosse para ser guerreira, todos
sabiam que Maasti era a escolhida para substituí-la. Maasti, numa grande
festa se tornou a nova líder da tribo. Era a mais jovem a subir no trono,
pois nenhuma mulher subia ao trono tendo menos de 26 anos de idade.
Se a herdeira era nova demais, uma mulher sempre se tornava líder
assistente até esta ter a idade certa.
Maasti, com sua sabedoria, tomou 20 dos 45 distritos da tribo
dos homens. Nunca alguém tinha feito isto. Maasti cuidava de Malda
com o amor e carinho que recebera da avó, e com a força e determinação
que recebera da mãe. Tudo que ela queria era apenas que a próxima
geração morresse na paz. Ela tinha este sonho como líder, até o dia em
que a levaram embora para a Terra. Maasti acreditava que sua filha tinha
morrido nas batalhas. Ela achava que nunca mais veria a filha, até o
dia em que viu a foto da filha naquele sábado a tarde. Ela desmaiou e
dormiu por duas horas. Ela se lembrou de toda sua história, e sabia que
tinha de lutar mais uma guerra. Não contra homens, mas contra forças
poderosas. Ela tinha uma missão na vida. Nada tinha sido por acaso, ela
tinha de salvar seu povo, não só mulheres, mas como homens também.
Ela sabia de toda a verdade. O grande deus era o mesmo Deus da Terra, e
ela sabia verdadeiramente como Ele era, e o que Ele queria de sua criação.
Ela teria de levar salvação ao seu povo, que sofria a dor das guerras, do
sofrimento e da morte. Ela tinha tudo ali em suas mãos. O Deus que
acreditava, o Grande Deus, havia lhe dado as respostas, havia lhe dado o
conhecimento, havia lhe dado a cura e, principalmente, havia lhe dado a
solução. Só ela poderia ajudar seu povo. Até onde ela iria pra salvar sua
filha? Até onde ela iria pra salvar seu povo? Ela teria de lutar. Foi nesta
determinação que ela acordou naquele hospital.
189
O Plano
O Plano
Capítulo 15
- Eu vou lutar!
Foi dizendo isto que Maasti acordou naquela tarde. Leonardo
levou um susto. Ele estava sentado ao lado da cama dela no hospital.
- Você está bem?
- Estou sim, me desculpe. Disse Maasti, voltando a si.
- Percebi que você está bem, já está até querendo ir pra a guerra.
Maasti deu uma risada.
- Você sempre com suas graças, né? Não perde a oportunidade.
Eu tive um sonho, sonhei com meu passado. Quando estava em Vasloo...
Berta pra você. Eu não me lembro o que aconteceu. Como vim parar
aqui?
- Eu vim conversar com você, te mostrei a...
- A foto! Mostra pra mim de novo Léo?
- Você não vai desmaiar?
- Claro que não. Me dá.
Leonardo, lhe entregou a foto. Maasti viu sua filha Malda ali e
chorou, passava a mão na foto e dizia:
- Meu amor. Você está bem, meu amor. Minha pequena Malda.
- Maasti, ela é sua filha?
- Sim Léo, minha filha Malda. Está maior, mas eu reconheceria
minha filha depois de séculos sem vê-la.
- Mas você nunca me disse que tinha uma filha.
- Lembra que você nunca quis saber do meu passado porque não
queria falar do seu? Bem, isto explica.
190
O Plano
- Aliás, isto explica eles terem pego ela. Ela tem seu sangue, seu
DNA.
Maasti virou assustada para Leonardo.
- O que eles vão fazer com ela agora?
- Estudá-la, criar uma forma de quebrar a radiação do Berlítio.
- E depois?
- Eu não sei. Por isto temos de nos mexer. Temos de impedir
tudo.
- Como vamos fazer?
- Eu tenho um plano, mas você precisa vir comigo até Nova
York.
- Eu vou agora.
Maasti chamou uma enfermeira e pediu que chamasse sua
secretária. Sua secretária veio e Maasti passou todas as instruções para
ela. Disse que teria de passar alguns meses em Nova York para resolver
problemas pessoais. Ela deixou instruções quanto ao hospital, a capela
e a escola. Ela trabalharia a distância. Ela pegou o telefone da mansão
de Leonardo e disse que poderiam ligar lá se quisessem. Maasti pegou
algumas roupas que guardava na capela, alguns pertences e foi com
Leonardo, que já marcava duas passagens para Nova York naquela mesma
noite. Maasti, antes de sair, pediu para Leonardo esperar um momento.
Ela tinha uma coisa a fazer. Maasti foi até o leito de Patrícia.
- Oi querida.
- Oi dona July.
- Minha querida, eu vou ficar uns meses fora. Preciso resolver
algumas coisas muito importantes. Já falei com minha secretária pra
alguém cuidar especialmente de ti.
- Não se preocupe dona July. Eu vou te esperar.
- Fique com Deus. E não se esqueça que Ele é poderoso. Não diga
pra Deus o tamanho dos seus problemas, mas diga aos seus problemas o
tamanho do nosso Deus. Seja forte e perseverante, confie em Deus e você
terá experiências maravilhosas.
- Tudo bem dona July. Se não nos vermos, eu sempre vou lembrar
da pessoa maravilhosa que você é.
191
O Plano
- Eu voltarei, pode deixar.
As duas se abraçaram, Maasti pegou sua pequena mala e foi
embora com Leonardo. No avião ela segurava a mão dele, se sentia segura
com ele. Era uma mulher forte, mas ao lado dele, todas suas fraquezas
apareciam, sua carência, sua sensibilidade, sua fragilidade. Depois de
um voo rápido eles chegaram em Nova York. O chofer os recebeu e
Maasti estava admirava que agora Leonardo era rico. Ele disse que depois
contaria porque tinha tudo isto. Chegando na mansão, eles entraram
na sala secreta. Todos olharam admirados a nova visitante. Todos a
conheciam, mas apenas por fotos. Leonardo a apresentou.
- Está é July Palmer, que na verdade se chama Maasti. Maasti,
todos sabem quem você é. Eles estiveram te vigiando todos estes anos. Eu
vou apresentá-los. Este é Juan.
Juan a cumprimentou.
- Juan é meu porta-voz. Quando precisamos entrar em contato
pelas Indústrias SB, é ele quem contactua por mim. Ele sabe de tudo que
acontece. Juan é especializado em convencer as pessoas. E ele convence
mesmo. Conseguiu me convencer que ele é bom nesta coisa de relações
públicas.
- Maasti, meu chefe Leonardo é todo engraçadinho. Não sei se
você já percebeu?
- Eu sei Juan, já fiquei nove meses trancada com ele em uma
casa. Imagine né? Respondeu Maasti, dando um tapinha nas costas de
Leonardo. Todos riram. Já estavam gostando dela.
- Este é Túlio. Túlio compra tudo que precisamos. Equipamento,
tecnologia, matéria prima, etc. Só não peça pra ele comprar comida, pois
senão você vai passar fome.
Túlio a cumprimentou, e vidrado em Maasti, não se aguentou.
- É verdade que você é de outro planeta?
- Agora não Túlio, depois.
Disse Leonardo, evitando questionamentos embaraçosos.
- Maasti, esta é Mary.
Maasti a cumprimentou e recebeu um elogio de Mary.
- Ela cuida de todo o pessoal. Ela é nossa médica e pesquisadora.
192
O Plano
E com certeza a comida você tem de pedir pra ela viu? Ela é quem me
ajuda a pôr ordem aqui. Tenho certeza que você e Mary vão se dar bem.
Ela também é muito “delicada” com os homens.
- Seu chato. Disse Mary dando um tapa no braço de Leonardo.
- Eu não disse que ela é delicada? Completou Leonardo.
- Para finalizar, este é Adam. O cérebro tecnológico. Com
Adam nós desenvolvemos tecnologias incríveis. Hoje ele trabalha
com algo único. Nós pretendemos hackear o chip de monitoramento
cerebral. Assim que ele terminar seu projeto, nós poderemos clonar, ler,
e desabilitar à distância qualquer chip de Plumann. Falta pouco Adam?
- Semana que vem vamos testar.
- Ótimo. Falta ainda o Peter, meu representante e parceiro na
SB. Como não posso mostrar minha cara por aí, ele faz tudo por mim.
Vamos à cozinha que eu vou te explicar como virei dono de tudo isto.
Maasti e Leonardo foram para a cozinha. Eles se sentaram.
Leonardo adorava ficar por ali, era onde ele colocava as coisas o lugar.
Ele começou a fazer dois lanches enquanto contava.
- Bem, depois que saí do México e cheguei aos Estados Unidos,
o que não foi uma coisa fácil pois hoje as fronteiras são extremamente
bem vigiadas. Eu até consegui, com menos dificuldade, porque tinha
contatos. Ter contatos é tudo. Cheguei aos Estados Unidos, mas estava
extremamente perdido. Eu não tinha nada. Eu só conhecia uma pessoa
que podia me ajudar. Você se lembra da Jéssica, aquela que nos ajudou a
fugir na lua?
- Sim, lembro. Você a procurou?
- Não, eu não podia, pois desconfiava que Plumann tivesse
descoberto que ela nos ajudou. O que realmente aconteceu, mas não foi
ela quem eu procurei. Eu procurei o...
- Ela não era apaixonada por você?
- Sim. Eu acho. Bem, então...
- Vocês já tiveram alguma?
- Não, a gente teve uma amizade bonit... Ué? Por que tantas
perguntas? Estou num interrogatório?
- Não, por nada. Apenas... curiosidade.
193
O Plano
- Que curiosa hein? Posso continuar?
- Claro! Continue querido.
- Bem, eu fui o procurar o pai dela, Joseph Smith. Ele era o braço
direito de Plumann, até se aposentar. Ele era um homem leal, respeitoso
e era a única pessoa que podia me ajudar.
Naquela manhã de terça-feira, Joseph se levantou, e ainda
morrendo de sono, colocou seu roupão. Pegou seu iLed e baixou o
jornal daquela manhã. Não haviam notícias interessantes, então decidiu
ir cortar o jardim. Assim que saiu, ele admirou o céu. Não havia muito
o que admirar. A poluição tampava o céu, mas pelo menos naquele dia
ainda dava para ver o sol. Ele cumprimentou o sol. O sol castigava a
humanidade, mas Joseph sempre dizia que sem sol não haveria vida.
Pensou na ironia que tinha na mente, o mesmo sol que dava a vida.
agora tiraria a vida da Terra. Ele bocejou, e olhou para o lado. No banco
da sua varanda havia alguém dormindo. “Outro Mendigo?” pensou ele.
Ele entrou e atrás da porta ele tinha uma espingarda de choque. Ele só
a pegou para assustar o homem. Ele o chamou, e quando homem se
virou, Joseph levou um susto. O homem estava barbado, bronzeado, com
roupas sujas, mas os olhos que lhe fitavam não negavam. Era Leonardo.
- O que você está fazendo aqui? O que aconteceu?
- Joseph, eu preciso de ajuda.
- Entre, vou dar um jeito em você.
Leonardo tomou banho, fez a barba e colocou roupas novas.
Joseph deu as roupas de seu filho mais novo, que morava em Londres.
Leonardo estava uma pessoa bem diferente daquela que encontrou
na porta. Leonardo se sentou e contou tudo para Joseph, que ouvia
atentamente o amigo.
- Leonardo. Joseph sempre chamava a pessoa pelo seu nome,
nunca por apelidos.
- Eu vou te ajudar.
- Joseph, eu não posso ficar com você. Plumann pode estar te
vigiando. Ele sabe que eu posso te procurar.
- Fique tranquilo, vamos te reintegrar à sociedade. Eu acho que
194
O Plano
tenho algumas pessoas que podem te ajudar.
- Mas nenhuma pode ser monitorada. Plumann me acharia
facilmente.
- Eu conheço uma pessoa que é perfeita. Seu nome é Stewart
Bregan. Ele nunca foi monitorado. Stewart foi secretário e tesoureiro de
Toth, logo no início da sua carreira. Stewart conhece vários dos segredos
do passado de Toth, coisas que eu nem sei. Isto que trabalhei para Toth
por muitos anos. Por isto Toth nunca permitiu seu amigo ser monitorado.
Plumann descobriria coisas que poderia usar contra o chefe. Stewart foi
quem me ensinou tudo sobre Toth, como agradá-lo, como colocá-lo na
linha. Somos amigos e ele me deve uma.
- Ele ainda está na empresa?
- Não. Toth ajudou-o a ganhar seu primeiro bilhão. Hoje ele é
dono das Indústrias SB, uma corporação que trabalha com medicamentos
e pesquisas. Vou ligar pra ele.
Joseph ligou para Stewart, Stewart estava a negócios na região e
disse que seria um prazer ajudar um velho amigo. Joseph decidiu explicar
tudo pessoalmente. Combinaram de se encontrar num grande parque
em São Francisco. Leonardo e Joseph chegaram. Ali do parque dava para
ver o que estava aparente da Alcatraz. Com o aumento do nível dos
oceanos, eles só conseguiam ver dois metros da antiga prisão. O resto
estava submerso. Hoje muitos ganhavam dinheiro alugando roupas de
mergulho pra quem queria ver a antiga prisão de segurança máxima.
Leonardo estava nervoso, até que viu a limousine chegando. Quando o
choffer abriu a porta, saiu um homem baixo, gordo, de cabelos grisalhos
e olhos castanhos, vestindo um terno bem alinhado e andava com uma
bengala ornada em ouro, mesmo que não precisasse dela. Joseph pediu
para Leonardo esperar e foi ao encontro do amigo. Se abraçaram e
conversaram por quase meia hora. Os dois vieram em direção à Leonardo.
O homem veio e lhe deu um abraço que quase esmagou-lhe os ossos.
- Léo, eu vou cuidar de você!
- Muito obrigado Sr. Bregan.
- Me chame de Stew, este negócio de senhor e senhora é para
Joseph. Fiquei sabendo que você é bom hein? Você poderá me ajudar com
195
O Plano
a Indústria, vou precisar muito de você. É verdade que você ganhou um
nobel? Nossa que orgulho ter alguém como você trabalhando comigo,
vamos nos dar bem. Eu tenho inúmer...
O homem não parava de falar, tanto que ignorou a presença de
Joseph, que os acompanhava até o carro. Antes de entrarem, Leonardo
pediu licença para Stewart e foi se despedir do amigo. Voltou e deu um
abraço em Joseph.
- Muito obrigado.
- Bom saber que você estará seguro.
- Eu serei eternamente grato.
- Léo...
Leonardo estranhou Joseph tê-lo chamado de Léo, era a primeira
vez que ele vira Joseph chamar alguém mais intimamente. Deveria ser
algo muito importante.
- Eu preciso que você me faça um favor.
- Sim, claro! Pode dizer.
- Eu quero que você descubra onde está minha Jéssiquinha.
Depois que ela ajudou você a fugir, Plumann a acusou de cúmplice
do assassinato de Toth. Eu sei que minha filha não fez nada. Mas o
problema maior é que ela está em algum lugar, e eu não sei. Gostaria
de ver a minha menina. Eu sei que você tem pretensões. Estão nos seus
olhos que você tem algo a fazer em relação à Plumann. Apenas descubra
se minha filha está bem.
Leonardo segurou o homem pelos braços e o fitou.
- Eu vou descobrir onde ela está. Ela representa muito pra mim.
Nem que eu morra fazendo isto. Eu vou descobrir onde ela está.
Eles se abraçaram e Leonardo foi embora.
- Maasti, eu fui tratado como o filho de Stewart. O filho dele
desapareceu na Guerra da Turquia, quinze anos atrás, então ele me
adotou como o filho dele. Eu tomaria o lugar do filho dele, como se
tivesse renascido das cinzas. Ele diria que devido aos horrores da guerra,
eu não mostraria meu rosto, pois eu tinha vergonha do que tinha
passado. O que na verdade era uma forma dele esconder meu rosto de
196
O Plano
Plumann. Eu herdaria tudo dele. O dinheiro, as empresas. Ele me deu
amor, e foi meu terceiro pai nesta terra. Eu também lhe dei meu melhor.
Ajudei-o a colocar a empresa em um patamar nunca antes conquistado.
Juntos descobrimos a cura de alguns tipos de câncer, tratamentos mais
eficazes contra a Aids, a doença de Helvin e Lúpus. Mas pra mim o mais
importante, foi ter descoberto um tratamento que reverte 100% do Mal
de Alzheimer. Pena ter descoberto 20 anos depois da morte de meu pai.
- Quando Stewart morreu, um ano e meio depois de termos nos
conhecido, eu herdei tudo isto. Eu contratei a equipe que você conheceu,
todos antigos colegas de Toth Corporation que tinham as mesmas
ideologias que eu quanto a empresa. Eu herdei outro tesouro de Stewart,
que você vai conhecer mais tarde. Ele se chama Peter Smith, um homem
muito inteligente, e que serviu a Stew muito tempo. Eu o desmonitorei,
do jeito que você já sabe. E este pessoal me ajudará a colocar Plumann
no seu devido lugar. Eu quero tirar da minha cabeça esta maldição que
eu criei.
- Léo, como assim a maldição que você criou?
- Eu descobri o monitoramento cerebral.
- Você? Então você é o culpado por tudo isto?
- Não senhorita. Eu descobri pois queria achar uma forma
de entender e curar doenças do cérebro. Meu pai morreu de Mal de
Alzheimer, e eu, apenas um estudante de medicina não pude fazer nada.
Na verdade, as pessoas que mais amei, morreram e eu não pude fazer
nada. Deus vem e me castiga depois de tudo que fiz por ele. Primeiro
meu pai, depois meu filho, a Renata, Toth e Stew. Eu pareço o anjo da
morte. Eu não aceito. EU NÃO ACEITO!
Leonardo bateu forte na mesa. Ele ficava alterado quando
lembrava do passado. Maasti se levantou e foi abraçar o amigo. Ela
tentando mudar o assunto, disse:
- Bem, Léo, me fale do seu plano. Eu vou ver se você é bom
estrategista.
Leonardo riu.
- Te contei que era eu quem montava as estratégias das batalhas
lá no meu planeta?
197
O Plano
Durante duas horas eles conversaram e planejaram como as
coisas aconteceriam. Depois disto Peter chegou e foi devidamente
apresentado a Maasti, agora com todos juntos, eles iam saber o que cada
um faria. Leonardo começou a falar:
- Bem, nós temos um tempo curto e precioso. Temos um plano,
e precisamos colocá-lo em prática. Nós precisamos ter o que está no
cofre de Plumann. Com certeza não é dinheiro que ele guarda ali, mas
seu passado sujo. Eu acredito que ainda tenho o que preciso lá. Se estiver,
com certeza a segunda parte do plano irá funcionar.
Leonardo deu instruções a cada uma das pessoas. E eles
começaram a trabalhar.
Plumann chegou no laboratório e viu, pelo outro lado do
vidro, seus pesquisadores fazendo análises na pequena Malda. Ele estava
inquieto, ele não tinha muito tempo. Ele foi até o homem que controlava
as operações e perguntou se tinham alguma coisa. Eles disseram que
ainda não. A vacina feita com o DNA da menina ainda não era aceita
pelo corpo humano. Plumann começava a perder a paciência, quando
as coisas davam errado ele começava a ficar impaciente. Ele voltou para
sua sala, precisava de ideias. Ele abriu seu cofre e tirou de lá um HD,
conectou-o na sua mesa digital e ficou vendo o que se passava na tela que
saía de sua mesa. Em determinado momento, ele mexeu no que estava
vendo e acessou alguns arquivos mais antigos. Ele começou a chorar.
Fechou aquela tela com ódio, pegou o HD e guardou. Ele pensava que
precisava salvar a humanidade, nem que se fosse preciso ceifar algumas
almas. Era o propósito da sua vida.
Saiu de sua sala e foi para casa, lá encontrou sua esposa. Ela
dirigia um dos hospitais da empresa, mas estava trabalhando em casa.
Plumann foi para o quarto de seu filho, não pode entrar. Só pode ouvir
o som de rock saindo do quarto do garoto. Foi para o quarto do outro
garoto, este já mais velho. Entrou e não havia ninguém. Começou a
mexer nas coisas que haviam lá. Começou a olhar os porta-retratos. O
jovem tinha diversas fotos, e Plumann começou a ver algumas, onde
o garoto posava ao lado de uma mulher. O jovem, ainda era criança.
198
O Plano
Ele admirava a mulher que estava ali. Ele já havia amado muito aquela
mulher. Enquanto admirava, ele levou um susto. O jovem entrou e lhe
perguntou:
- O que faz aqui Plumann?
Plumann virou, olhou para o jovem sem jeito e lhe respondeu:
- Só estava vendo algumas fotos Josh, já estou saindo.
Maasti deitou na cama. Mary pegou uma seringa e disse:
- Vai doer um pouquinho.
Quando levantou a blusa da jovem, viu diversas cicatrizes, ficou
assustada, mas sabia que Maasti tinha sido uma guerreira no planeta
dela. Colocou a seringa e coletou um pouco de sangue. Tinha algumas
dúvidas do que tinha ouvido agora pouco.
- Maasti, você acha que vai dar certo?
- Bem, eu não sei. mas eu confio que Deus fará o que é melhor
pra todos. Você acredita em Deus?
- Eu ia na igreja com meus pais, mas não ligo pra religião.
- Eu não falei de religião Mary, perguntei se você acredita em
Deus.
- Bem, acredito que ele exista em algum lugar do universo, mas
nunca busquei saber.
Maasti segurou a mão da médica e disse:
- Se ele se manifestou no meu planeta e aqui neste planeta, então
Ele deve realmente existir. Eu não acredito mais em coincidências. Você
não deve acreditar em coincidências. Hoje eu estou aqui do seu lado,
conversando contigo, talvez respondendo algumas dúvidas que você
sempre teve.
Mary olhou atentamente, só ela sabia o que aquelas palavras
significavam pra ela. Finalmente ela sorriu, e mudando de assunto, disse:
- Bem, vamos ver se encontramos no seu sangue a solução!
Górki almoçava no refeitório da base militar de Moscou. O dia
estava bonito. Górki lia um livro enquanto comia. Ele era uma pessoa
antissocial, odiava estar perto de outras pessoas. Ele terminou seu almoço
199
O Plano
e foi para sua sala. Ao sentar, sua mesa indicava uma chamada. Via voz,
ele retornou e conversou com uma pessoa. Marcaram em se encontrar
no lado de fora da base, em um bar para os soldados. Depois de algumas
horas, Górki terminou seu expediente e colocou uma roupa mais fria.
Apesar do aquecimento global, as noites de Moscou eram terríveis.
Eram frias e o ar era seco. A poluição havia acabado com o ar puro. Ele
colocou uma máscara para respirar, ninguém andava sem ela a noite. Ele
pegou seu jipe e seguiu até chegar ao portão da base. Ele se identificou e
foi autorizado a passar. Ele seguiu uma estrada bem tortuosa e só parou
quando estava em frente a uma casa grande, mas com cara de velha e suja.
Suas luzes estavam acessas. Ele estacionou o carro e entrou. Lá estava
mais quente. Tirou as luvas e encostou no balcão. Pediu uma Vodka e
esperou. Lá haviam mesas com alguns soldados que se divertiam, jogavam
e conversavam. Ele olhou no relógio e faltava apenas um minuto para
a hora do encontro, quando viu pela porta um carro chegando. Era um
carro militar também. Dentro dele saiu um homem. Ele aparentava
ter em torno de 45 a 50 anos. O homem entrou no bar. O homem
também estava de máscara, óculos escuros TGlass, modelo mais antigo e
um sobretudo. O homem veio e se sentou ao lado de Górki. O homem
pediu uma água com gás. Ele tomou um pouco da água e calmamente
tirou um envelope do bolso e entregou para Górki. Quando terminou
sua água, o homem saiu, entrou no seu carro e desapareceu. Górki foi
para seus aposentos na base militar e leu o conteúdo do envelope. Pegou
um cigarro e acendeu. Olhou para a janela um pouco. Viu aquela noite
de lua cheia. Ele pegou sua garrafa de Vodka, colocou num copo e bebeu.
Com a garrafa na mão, ele abriu a gaveta e pegou a carta que lhe havia
chegado há 3 semanas, jogou-as no cesto de lixo de metal que tinha.
Jogou um pouco de Vodka no cesto, depois o cigarro que fumava, aos
poucos o cesto se incendiou, queimando tudo o que tinha ali.
Naquela noite Leonardo sentou na sua cozinha, e olhava a lua
cheia. Se lembrava dos momentos em que havia morado na lua. Gostava
daquele lugar, lembrava quando ele tinha esperanças de reencontrar
Renata. Naqueles dias ele olhava para a Terra e pensava nela. Agora ele
200
O Plano
não tinha nada. No rádio ele ouvia algumas músicas enquanto pensava.
Quando, neste momento, começou a tocar os clássicos. Uma das músicas
que tocou parecia uma ironia. Nela ele ouvia dizer:
“À noite, quando as estrelas
iluminam o meu quarto
me sinto sozinho.
Falando com a lua”
Leonardo riu, parecia ironia. Mas logo ele parou de rir, tinha
uma parte que mexeu com ele.
“Tento chegar até você
Na esperança que você esteja
No outro lado
Falando comigo também”
Leonardo começou a chorar, sabia que Renata não estava do
outro lado pensando nele. Apenas dormia o sono da morte. Ele sentia
muita falta dela. Não havia sobrado nada dela, apenas memórias. Ela
não estava ali. Só “em algum lugar longe” como dizia o final da música.
Ele nunca ficou sabendo quem cantava pois jogou o rádio na parede.
Maasti assistia escondida, ela tinha ido à cozinha pegar uma água e viu
Leonardo olhando para cima, e ficou admirando-o. Quando ele começou
a chorar, ela se virou, e triste foi embora. Ela sabia que ele ainda amava
muito “aquela pessoa” e sofria ao ver ele assim. Ela foi dormir, pois no
próximo dia a primeira parte do plano seria executada.
201
Segredos do Cofre
Segredos do
Cofre
Capítulo 16
New York Palace Hotel, Nova York, EUA.
Maasti se ajoelhou. Ela conversou com Deus.
- Senhor Criador. Eu prometi que nunca entraria em uma
guerra, mas nesta guerra há muito mais em jogo. Um dia minha avó me
disse que ela achava que a guerra que fazíamos era sobre a verdade. Mas
ela estava errada, a guerra que fazíamos era baseada na crueldade, como
meu avô a ensinou. Eu sempre lutei pela vingança. Sempre lutei pra
subjugar. Eu sonhava alto, mas com a frieza de um coração que sofria
a decepção de ter perdido tudo que amava. Prometi nunca mais entrar
numa guerra de crueldade. Hoje, lutarei contra a opressão e crueldade,
finalmente a guerra é sobre a verdade. É sobre o que é certo e o que é
errado. Uma guerra para salvar. Naquele dia enfrentaste a batalha contra
o mal e salvaste todos nós. A guerra entre bem e o mal sempre foi sua.
Que eu possa ser a espada na Sua mão. Que eu possa ser a flecha no Teu
arco. Que eu possa lutar pela Tua verdade. Ajuda-me, por que eu preciso.
Cuide de Leonardo, pois Ele deixou de acreditar em Ti. Eu o amo muito.
Amém.
Leonardo estava acordado. Ele praticamente não havia dormido,
mas estava de bom humor. Por dentro ele estava tremendo, mas
transparecia a todos que estava tudo em ordem. Mary se aprontou, tanto
202
Segredos do Cofre
quanto Juan. Adam controlaria tudo pelo computador. Em cada um foi
colocado um chip por cima da pele. Eram chips clonados. Cada um teria
de representar seu papel do dia. Todos estavam muito nervosos, se algo
não saísse bem, todos estariam em risco.
Júlio Estevez bateu no despertador. Ele ainda tinha um tempo
até ir ao restaurante Le Bernadin, em Nova York. Ele coçou os olhos e
quando olhou para seu abajur redondo de iLed, havia uma chamada
não atendida do restaurante que trabalhava. Ele estranhou. No mesmo
momento o abajur toca novamente. Ele atende via voz.
- Alô.
- Júlio Estevez?
- Isto! Quem é?
- Oi sou a nova assistente de Paul Breth. O sr. Breth pediu para te
avisar que o funcionário Alan Duwait precisa de uma folga para amanhã,
e precisará trabalhar hoje. Gostaria de saber se não há problemas em
trocar os turnos de vocês, você ficando de folga hoje.
- Acho que não. Mas por que nã...
- Muito obrigada. Tu, tu, tu, tu...
Júlio viu apenas: “Chamada Finalizada”, ainda sem entender
direito. Ele se virou e caiu com o rosto na cama, voltando a dormir.
Plumann saiu de sua sala e se dirigiu ao restaurante Le Bernadin.
Ele não sabia por que tanta insistência com esta reunião, mas como se
tratavam de grandes acionistas, ele não podia desperdiçar a oportunidade
de ganhar influência. Ele tinha a esperança de que John Bregan aparecesse
na reunião, e ele estava ansioso pra conhecer Bregan. Ao chegar no
restaurante, seu chofer lhe abriu a porta, primeiro saiu Antony e depois
Plumann. Ambos entraram no restaurante e o maitre os acompanhou
até a mesa 13, que dava bem em frente a janela de vidro. Lá estava Peter
Smith, que os esperava. Peter se levantou e cumprimentou cada um deles,
assim como o homem que os acompanhava.
- Sr. Plumann, espero que tenha gostado da mesa. Eu adoro a
vista de Nova York.
203
Segredos do Cofre
- Eu também gosto, mas gosto mais de negócios. O Sr. Bregan
virá?
- Infelizmente ele não pôde vir. Mas ele me deixou a par de tudo.
Plumann não gostou de saber que Bregan não viera e queria ir
embora, mas decidiu ficar, para não ser mal educado. Plumann pediu o
menu ao garçom, pois queria comer rapidamente e sair dali.
Passando em frente ao restaurante, o rapaz olhou para dentro
disfarçadamente e correu para os fundos do restaurante. Ele chegou e se
apresentou ao responsável.
- Quem é você?
- Je suis Jean Marc Chevalier. Je suis venu pour rempl...
- Em inglês, por favor. Não estamos na França.
- Desculpe, vim substituir Júlio Estevez que está doente. Sou
formado nas melhores escolas de Par...
- Ok, ok pode ir. Estamos lotados.
O maitre observou a bela loira, muito bem vestida entrando no
restaurante. Ele se apresentou e ele achou a reserva dela. Ele a acompanhou
até a sua mesa. Enquanto ela andava, vários olhos a seguiram, inclusive
Antony. Ela era deslumbrante. Ela se sentou na mesa 14. Peter pediu um
Fluke. Plumann, impaciente até para olhar o cardápio, pediu o mesmo.
O garçom perguntou o que beberiam, eles escolheram e quando o garçom
saía Peter demonstrou que havia se lembrado de algo.
- Este prato vai abacate, não vai?
- Vai sim senhor. Disse o garçom.
- Desculpe, eu não posso comer. Sabe? Coisas médicas. Eu quero
Salmão, pode ser?!
- Sim senhor, já providenciarei.
Enquanto o garçom saía, o outro quase impaciente esperava a
jovem loira se decidir. Assim que Plumann e Peter pediram, ela olhando
o Menu, disfarçadamente apertou um botão do celular e disse:
- Eu gostaria de pedir um Fluke, mas não devo. Muitas calorias.
Vou querer Ostras e depois peço algo para beber.
O garçom saiu. Na cozinha, o chef com nome e sotaque francês,
204
Segredos do Cofre
que era nada mais, nada menos que Juan, recebeu pelo seu comunicador,
no ouvido, a informação que precisava: Plumann havia pedido um Fluke.
Quando chegou o pedido da mesa 13, ele o pegou rapidamente. Estava
ali só para isto. Enquanto preparava o Fluke, sem levantar suspeitas
tirou um pequeno frasco do bolso e jogou um pó na pasta de abacate.
Plumann não perceberia.
- Sr. Peter, gostaria de saber o que levou, tão insistentemente, a
fazer esta reunião?
- Bem, eu gostaria de falar sobre o futuro da nossa parceria. O Sr.
Bregan estava pensan... Neste momento o telefone tocou. Peter transferiu
para o seu chip auricular e pediu licença.
Enquanto Peter falava demoradamente ao telefone, a comida
ficou pronta e o garçom a trouxe. Peter terminou a ligação e disse:
- Bem, vamos comer?
Comeram, Plumann comeu um pouco, estava sem fome, apenas
apressado em saber porque raios ele estava ali. Peter começou a discutir.
- Bem, Sr. Plumann, eu gostaria de discutir nossa parceria. O
Sr. Bregan estaria interessado em obter 40% das ações que você pretende
comprar de Josh Toth.
Plumann quase pulou da cadeira.
- Quarenta por cento? Mas... mas... mas ele seria o sócio
majoritário da empresa?
- É isto que intencionamos.
- Não, isto é impossível. Ninguém sabe desta transação. Como
vocês sabem disto?
Plumann começou a suar, ele alargou sua gravata.
- Bem, temos contatos em todo o mundo dos negócios. E além
do mais, você tem muito a ganhar com Bregan te ajudando a tomar
decisões importantes pela empresa. Para você ter uma ideia, as indústrias
SB cresceram 217% no último ano.
- Isto que vocês fazem... Plumann deu uma tossida. - Isto que
vocês fazem é um ultraje!
Plumann estava ficando mais nervoso, seu coração batia
205
Segredos do Cofre
desesperadamente, ele puxou mais a gola da gravata. Ele suava sem parar,
aquela conversa só o deixava mais nervoso.
- Sr. Plumann, o senhor está bem?
- Não, eu não est...
Plumann caiu ao chão desmaiado. Todos se assustaram, e ficaram
olhando, Peter perguntava se havia algum médico. A jovem mulher
sentada na mesa 14 se manifestou como médica. Ela se ajoelhou e, com o
celular na mão, o colocou atrás da cabeça do homem. Ela abriu os olhos
do homem e, ligando o flash do celular, analisou a pupila. Ela mediu o
pulso de Plumann e disse que ele estava bem, pediu para chamarem uma
ambulância. Ela se levantou e pediu para todos esperarem. Ela pegou o
celular e mandou um arquivo codificado via sms.
- Léo, a Mary conseguiu! Ela enviou o arquivo!
- E aí?
- Ela enviou os dados do chip de identificação de Plumann, vou
cloná-lo agora. Vou mandar fazer a cópia da íris, e também das digitais.
Mary, quando passou o celular por trás da cabeça de Plumann
“acidentalmente” fez uma cópia dos dados do chip de identificação.
Quando ela analisou a pupila, o celular escaneou a íris de Plumann,
e ao analisar o pulso, ela rapidamente colocou a digital de Plumann
no celular. Tudo seria copiado e entregue a Leonardo em 5 minutos.
Junto com Juan e Adam, Leonardo desenvolveu uma impressora 3D,
tecnologia primeiramente explorada no início da década de 2010, que
com a adaptação certa deles, conseguia reproduzir qualquer coisa, em
qualquer material rapidamente. Em seis minutos Leonardo já tinha uma
cópia do chip de ID de Plumann, suas digitais e um par de lentes de
contato, com uma cópia de Plumann. Ele os colocou em si e chamou
Maasti. Eles iriam para a sede da empresa. Adam, preocupado se daria
tempo, perguntou se eles tinham de ir justamente agora. Com tudo de
Plumann, ele poderia ir em qualquer momento posterior.
- Não Adam, precisa ser já. Plumann estará no hospital por pouco
tempo e tão logo voltará para seu escritório. Com certeza, a esta hora
uma equipe de seguranças foram mobilizados para o acompanharem
206
Segredos do Cofre
no hospital. Sua sala está praticamente desvigiada. Este é o momento!
Depois disto, ele vai fortificar a segurança e nós o teremos perdido.
Adam, me passe a cápsula de verificação.
Adam lhe entregou uma pequena cápsula, com um líquido
dentro e lhe deu instruções de como usá-la.
- É só agitar, tirar a fita adesiva e grudar onde quiser.
- Ok. Nos vemos mais tarde. Vamos Maasti.
Leonardo pegou um livro, onde na capa estava escrito:
“Querubins”. O livro era falso, não havia nada dentro dele que se pudesse
ler, apenas cartões de carros e motos. Leonardo pegou um dos cartões e
desceram, por um elevador, para o subterrâneo. Quando chegaram, havia
uma coleção de carros. Ferraris, Lamborghinis, Mercedes, Aston Martins,
Jaguares, entre outros carros de luxo. Ele passou direto e foi para onde
estavam as motos. Ele pegou uma Yamaha esportiva, modelo DB109, de
2099. Ele passou o cartão no dispositivo e digitou a senha. A Yamaha
ligou. Léo e Maasti colocaram seus capacetes e saíram os portões da
mansão Bregan em alta velocidade.
Em poucos minutos estavam na sede da Toth Corporation.
Leonardo parou a dois quarteirões. Desceram, e Leonardo ligou o sistema
de segurança. Qualquer um que tocasse na moto teria sua digital lida no
mesmo instante e tudo seria enviado para o celular de Leonardo. Ele
também deu 70 dólares para um garoto cuidar da moto. Pediu que ficasse
de olho e de bico calado, assim que voltasse ele ganharia outros 70. Maasti
foi na frente. Leonardo a dois metros atrás. Ela estava vestida como uma
das advogadas que tinham ao montes ali. Leonardo estava alinhadíssimo
em um terno. Ao chegarem na recepção, todos passavam por um centro
de identificação. Todos os chips eram analisados. Nesta época Plumann
conseguiu transformar o chip no documento de identificação de todos.
Havia um guarda que observava cada um que entrava. Assim que a
pessoa era identificada, apareceria sua descrição em uma tela à sua frente.
Leonardo tinha um clone de um chip de um funcionário, que devido a
uma pequena e “acidental” batida no seu carro pelo chofer das Indústrias
SB, não compareceria naquela tarde para trabalhar.
Maasti se apresentou como Sandra Benneton na portaria, e disse
207
Segredos do Cofre
que tinha uma entrevista marcada. Confirmada a entrevista, marcada há
uma semana, Maasti foi para a fila para ser identificada, com Leonardo
indo logo atrás. Assim que apareceu na tela uma foto muito parecida
com a sua e seu nome, o guarda pediu que ela passasse. Ela virando para
o guarda perguntou:
- Seu guarda, me desculpe. Eu não conheço nada aqui e tenho
uma entrevista, eu tenho de ir em um andar, mas não sei chegar lá.
Leonardo, impaciente, perguntou ao guarda se ele ia demorar,
pois ele tinha uma reunião importante. O guarda pediu para ele esperar.
O guarda se voltou para a moça e começou a explicar como chegar ao
departamento de RH. Ela propositalmente se perdia, e perguntava de
novo. Leonardo, outra vez, disse ao guarda que estava atrasado. O guarda
pediu que ele aguardasse, pois ia ser rápido. Ele se voltou para a jovem
confusa, e Maasti cada vez se complicava mais em entender pra onde
teria de ir, e perguntou de novo. Leonardo, com um tom áspero, disse:
- Seu guarda, eu preciso passar! Estou atrasadíssimo, deixe-me
passar e depois explica para ela.
O guarda ficou bravo e disse que ele podia passar. Leonardo
passou, o guarda, como por instinto se virou para olhar a tela. Maasti
percebendo a intenção, deixou cair suas coisas na frente do guarda e
ele se voltou para ela, assustado, e não viu que Clark Gibson tinha as
feições totalmente diferentes das de Leonardo. Quando o guarda olhou
para a tela só aparecia o logo da Toth Corporation novamente. Maasti
agradeceu e foi para a suposta entrevista. Leonardo subiu para o sexto
andar do prédio. Era o andar de Plumann. O lugar era todo vigiado.
A ambulância chegou e Plumann ainda estava desacordado.
Saíram dois enfermeiros da ambulância. Mary checava Plumann quando
os médicos chegaram.
- Eu acredito que seja por causa do calor. Talvez ele seja alérgico
a comida. Disse Mary aos médicos.
- Você é médica?
- Sim, sou.
- Muito obrigado moça, agora nós podemos assumir daqui.
208
Segredos do Cofre
Plumann foi colocado na maca. Ele começou a acordar. Estava
querendo saber o que tinha acontecido. Antony foi ajudando-o. Plumann
queria ir para a empresa. Ele dizia que estava bem.
- Sr. Plumann, você tem de ir ao hospital. A sua equipe de
segurança já está indo para lá preparar o hospital para sua chegada.
Plumann puxou o assistente pelo colarinho, e disse com fúria.
- Eu quero ir para a minha sala! Eu estou bem! Eu não vou para
hospital nenhum!
Antony conversou com os médicos e eles disseram que poderiam
liberar Plumann desde que pudessem fazer alguns exames ali para
certificar que estava tudo bem. Plumann com raiva disse:
- Façam o que quiserem! Eu só quero ir para o meu trabalho.
Leonardo ligou para Adam.
- Oi Léo. Já estou ativando o vírus.
- Vai dar certo?
- Eu sou um mestre, viva e verá.
Adam, há uma semana, havia colocado um vírus no sistema de
vigilância da Toth Corporation. O vírus ficou instalado no programa,
assim que ele ativasse o vírus, os sistemas de vigilância seriam controlados
por Adam à distância. Adam congelaria as câmeras para quem ninguém
visse Leonardo andando pelas salas. Leonardo antes, precisava passar pela
parte mais difícil.
Os médicos confirmaram que Plumann estava bem. Este desceu
da ambulância, cumprimentou rapidamente os médicos e foi para seu
carro. Peter, que pacientemente havia ficado ali, perguntou se Plumann
estava bem. Este nervoso, passou direto por todos e, antes de entrar no
carro, se virou para Peter e, lhe apontando o dedo, foi dizendo:
- Eu sei muito bem o que vocês estão fazendo! As ações de Josh
são minhas, diga para Bregan ficar no canto dele!
Ele entrou no carro e saíram com pressa.
O responsável do restaurante estava parado em frente aos seus
funcionários e perguntou quem havia feito aquele Fluke. Todos ficaram
209
Segredos do Cofre
calados e um rapaz disse:
- Foi o tal francês que começou hoje.
O responsável olhou para o lugar onde deveria estar o tal chef Jean, e
percebeu que só estava o uniforme dele colocado em cima da mesa.
Leonardo chegou no corredor que dava para a sala onde
ficava Plumann. Tinham 2 seguranças, um de cada lado. No fundo a
porta de madeira. Se ele chegasse ali, tudo estaria em ordem. Leonardo
chegou dando passou largos. Os seguranças olharam aquele homem se
aproximando e olharam um para o outro. Quando ele se aproximou dos
seguranças, os dois tiraram suas armas e apontaram para Leonardo.
- Parado!
- Quem é você rapaz?
Leonardo empurrou a arma do homem pro lado e disse:
- Me diz, quem é você? Eu sou o Jack Nicholas, chefe geral de
segurança. Você quer que eu coloque no seu relatório este desacato?
O dois se entreolharam, estavam pasmos.
- Eu não sei, eu não conheço o chefe geral.
- Tá bom, podem conferir se quiser.
O segurança passou o identificador na nuca de Leonardo e
mandou para a central que estava no outro lado do corredor. Neste
momento Adam colocou um arquivo com a foto de Leonardo como
o chefe Jack Nicholas. O segurança interno comunicou para os dois
confirmando que era Nicholas. Este mesmo já ficou tremendo. Leonardo
deu uma olhada para o segurança e seguiu em frente. Ele atravessou a
porta de madeira. Ele suspirou, e entrou na terceira sala, onde ficava
a equipe de segurança. Só havia homem lá. O homem se levantou e
cumprimentou “Jack Nicholas” com a cabeça. Leonardo, se passando
por Nicholas disse que precisava ficar sozinho ali. Ele verificaria algumas
coisas, pediu que jovem fosse lá para fora. O jovem saiu e ficou ali perto
dos outros dois seguranças, que ficaram discutindo o que o chefe estava
fazendo ali.
Leonardo vendo que tudo estava em ordem, saiu da sala de
segurança e chegou na porta da sala de Plumann, ele tirou um cartão
210
Segredos do Cofre
do bolso e passou na porta, era o clone do chip de Theodore Plumann.
Leonardo primeiramente pegou a cápsula, ele sacudiu-a e tirou a proteção,
colando o objeto embaixo da mesa de Plumann. Após fazer isto ele se
comunicou com Adam.
- Já está escaneando?
- Sim, já está, os nanochips estão mandando informações. O
quadro está atrás da mesa.
Leonardo percebeu que o cofre estava atrás de um quadro com
um retrato de Plumann. Ele tirou o quadro e viu o cofre.
- Adam, você já tem a senha?
- Ainda não. Estou descobrindo qual a senha alternada de agora.
O chofer de Plumann virou a esquina, havia trânsito. Bem
comum na hora do almoço. Plumann começou a falar com Antony.
- Este tal de Bregan acha que pode fazer o que quiser. Eu não sou
o sócio majoritário, mas tão logo serei. Na verdade eu já faço o que eu
quiser da empresa sem precisar destes macacos de auditório.
- Eu até te entendo, Sr. Plumann, só me preocupo com sua saúde.
- É esta droga de pressão. Esta conversa idiota com o Peter Smith
me irritou. Só perdi meu tempo. Não deveria ter vindo. Eu sabia que ele
estava insistindo muito.
Plumann se dirigiu ao chofer e perguntou:
- Você não conhece nenhum atalho?
- Estou verificando no GPS, acho que tem um atalho aqui na
frente.
- Não hesite em pegá-lo, quero chegar logo no escritório. Disse
Plumann, tirando gravata e se abanando com o ledbook de Antony.
- Léo, a senha é 23042026. Parece ser o nascimento do pai dele.
Ele colocou a senha, colocou sua mão e foi lido sua íris. O cofre
se abriu. Leonardo olhou para o cofre, e tirou uma foto. Ele foi tirando
o que estava no cofre. Tinha algum dinheiro e algumas jóias. Tinha um
anel, que ele conhecia bem, era o anel que Toth usava. Havia uma caixa
com um saco no interior, dentro do saco devia haver alguma coisa. No
211
Segredos do Cofre
cofre também tinha o que Leonardo procurava: o HD. Leonardo pegou
seu celular de oled, que estava todo dobrado no bolso do terno, e fez
uma cópia do HD (que foi enviado, via nuvem, para Adam) demorou
pouco mais de 2 minutos. Leonardo vibrava com aquilo. Ele decidiu
levar o saco embora, deixando a caixa vazia dentro do cofre. Ele queria
descobrir o que era aquilo. Leonardo colocou o HD de volta, fechou o
cofre, colocou o quadro no lugar e saiu. Chegando na porta ele olhou
para os seguranças e disse:
- Eu já chequei e tudo está em ordem. Podem voltar ao trabalho!
Leonardo saiu do lugar, ele chegou até as escadas e lá tirou o
chip de Jack do pescoço, encaixando o chip de Clark Gibson no lugar.
Ele pegou o elevador no andar inferior e foi até a entrada. Quando
chegava no identificador, ele viu Plumann chegando com Antony, ele
ficou assustado. Leonardo pensou rápido e pegou seu celular e fingiu
conversar. Quando Plumann passou por ele, ele se virou para o outro
lado olhando para o relógio.
- Então nos encontramos lá às 4 da tarde. Claro! Não tem
problema, nos vemos lá sim. Com certeza, um abraço. Até.
Quando guardou seu celular, pelo reflexo deste, só viu a porta
do elevador se fechando com Plumann dentro. Leonardo passou pelo
identificador, que apenas liberou sua saída. Quando ele saiu do prédio,
viu Maasti parada na outra esquina, ele chegou até ela, segurou a sua mão
e foi para o outro lado. Maasti perguntou:
- Deu certo?
- Melhor que nunca.
- Graças a Deus.
Plumann passou pelo corredor e entrou na sua sala. Tudo estava
em ordem. Ele sentou na sua mesa, colocou sua digital e a mesa se ligou.
Uma tela de oled se abriu e ele começou a ver seus e-mails. Um deles era
dos seus cientistas. Eles haviam conseguido alguns resultados na criação
da vacina contra o Berlítio. Mas os resultados não eram 100% eficientes,
eles apenas ajudavam durante um determinado tempo. Plumann já estava
contente, era o suficiente. Seu plano poderia pelo menos prosseguir.
212
Segredos do Cofre
Depois de alguns minutos, Antony bateu na porta.
- Entre Antony.
- Sr. Plumann, o nosso segurança informou que Jack Nicholas
veio no departamento de segurança ao lado.
- O que o Jack veio fazer aqui? Ele nunca sai do poleiro para
nada.
- O segurança disse que ele pediu para ficar a sós.
- Eu vou ligar pra ele.
Plumann pegou o telefone e ligou para Nicholas. Foi quando ele
parou e pensou.
- Antony, que dia da semana é hoje?
- Terça-feira, senhor.
Quando Jack atendeu, Plumann estava apertando o botão de
desligar. Ele disse a Antony:
- Eu me esqueci, hoje é dia de verificação das gravações.
Geralmente o responsável daqui faz isto, mas o idiota está lá no hospital
me esperando. Jack deve ter vindo pessoalmente fazer isto. Antony, peça
para a equipe voltar pra cá.
- Sim, senhor.
Leonardo chegou na mansão e conversou com Adam. Enquanto
o pessoal se reunia e contava como tinha sido a execução do plano,
Leonardo resolveu ver o que tinha dentro da sacola. Ele abriu a sacola
e olhou o que tinha dentro, então ele ficou branco. Todos pararam e
perceberam a cara de Leonardo. Ele saiu do branco e ficou vermelho,
começou a tremer e cerrar os dentes. De repente, ele bateu forte na mesa
com um ódio que ninguém nunca tinha visto ele ter. Todos olharam pra
ele. Maasti lhe perguntou:
- O que aconteceu Léo?
Ele, expressando imenso ódio, disse:
- EU VOU MATAR PLUMANN!
213
Muito em Comum
Muito em Comum
Capítulo 17
Maasti pegou um pouco de queijo branco e colocou uma fatia
no pão integral, colocou um pouco de requeijão e azeitonas fatiadas. Era
uma combinação estranha, mas sabia que ele gostava daquilo. Eram três
horas da tarde e ele ainda estava sentado, olhando para a janela do seu
quarto. Ele não tinha comido nada. Ela foi e subiu a escadaria que dava
para o quarto dele. Maasti olhou pela fresta da porta e o viu na mesma
posição. O objeto estava em cima da cama, de lado. Maasti respirou e
entrou com o prato na mão.
- Léo, aqui algo para você comer.
- Obrigado. Disse Leonardo olhando rapidamente para trás, sem
lhe fitar os olhos, ele virou pra janela e continuou olhando a cidade.
Ela, além de sair, fechou a porta, ficando somente os dois ali. Ela cruzou
os braços, esperando alguma reação, mas nada. Ela se sentou e pegou o
objeto e pôs-se a falar.
- É por causa dela né, Léo?
Depois de um minuto, Leonardo retrucou:
- Por que você acha que é com ela?
- Porque você só fica assim ou por causa dela ou por causa de
Deus. E isto daqui em nada me lembra de Deus.
- Hum, mas o que ela tem a ver com um sistema de freio?
- Para Léo. Eu li sobre você. Sobre sua vida. É o sistema de freio
do seu carro. Daquele do acidente que ela faleceu. Não é?
- Sim. Disse Leonardo abaixando a cabeça. Ele começou a chorar.
Ela o abraçou.
- Léo, você não pode se sentir culpado. Aconteceu.
214
Muito em Comum
- Eu a coloquei naquele carro. Deus deixou que isto acontecesse.
Ele me tirou quem eu amava, a culpa é minha, ela não deveria estar
lá. Eu tento me inocentar, mas não consigo. Por que Deus deixou que
acontecesse?
- Onde foi aquela fé? Aquele homem que fazia as pessoas
acreditarem? Eu li sobre você, Leonardo. Eu li. “O jovem de fé”, “Aquele
que podia mover montanhas”, não era assim que te chamavam quando
você era jovem? Você era um dos maiores pregadores da sua cidade natal.
Você foi para São Paulo querendo encontrar novos rumos para poder
falar de Deus, não é? Você queria ser um pastor! Eu vi vídeos antigos,
todos espalhados na antiga rede sobre você. Você desistiu disto para poder
fazer medicina e encontrar um meio de salvar seu Pai. Você pregava nas
igrejas sobre fé, você acreditava que Deus poderia salvar seu Pai. Como
você falava de Deus Léo! Pra onde foi aquele homem que dizia coisas
assim: “Não existe uma só pessoa na Terra que poderá estar longe de
Cristo. Ele vai a você onde você está, mesmo que seja do outro lado do
universo, Ele te encontra e te abraça tão forte que não quer te soltar, de
tanto que te ama.” Uau Léo, que palavras! Imagina eu, uma mulher em
um lugar estranho, ouvindo pela primeira vez sobre uma fé que eu nunca
tinha visto. Você me ensinou sobre fé, quando busquei saber quem você
era. Você me ensinou a acreditar em impossibilidades e agora? Está aí
achando que o mundo acabou. Não acabou Léo. Não acabou ainda. Eu
sei que ainda tem algo daquela fé dentro de ti.
- Você pode ter visto inúmeras coisas sobre mim, mas você não
me conhece...
- Conheço o que preciso conhecer. Conheço o suficiente. Você
ainda ama a Renata. Os jornais chamavam de “A princesa e o plebeu”.
Eu li inúmeras vezes a história de amor de vocês dois. O seu casamento,
eu vi seu casamento umas três vezes, viu? O seu olhar dizia isto. Eu sei
como ainda sente falta dela Léo. Você não tem de se envergonhar de ter
amado alguém. Eu sei que você a ama muito ainda. Eu sei que você ainda
tem alguma fé, alguma esperança. Não há um pessoa que não possa ser
restaurada, basta ter esperança, basta acreditar. Você não pode culpar a
Deus pela morte dela. Você não pode se culpar.
215
Muito em Comum
- EU POSSO ME CULPAR SIM! Eu e aquele desgraçado! Ele
também matou a minha mulher!
- Não diga assim de Deus, Léo.
- Não estou falando de Deus agora, mas sim do pilantra do
Plumann!
Maasti ficou confusa, o que o Plumann tinha a ver com isto? Ela
se levantou e perguntou:
- O que o Plumann tem a ver?
- Tudo Maasti! Estava bem claro. Por isto ele guardava com ele,
para ele se lembrar da burrada que ele fez. Eu sabia que o carro não podia
ter tão facilmente batido naquele muro. Mas estava muito abalado com
a morte dela que nem pensei na possibilidade...
Maasti foi a Leonardo, que andava e pensava alto, pegou-o pelos
braços e olhando para ele disse:
- Me explique homem!
Leonardo parou um momento, sentou-se e começou a falar.
- Naquela noite, eu fiquei até tarde no escritório da Toth
Corporation. Na verdade eu trabalhava no centro de monitoramento na
lua, mas eu nunca fui de acordo com o monitoramento cerebral. Então
a Renata me conseguiu uma audiência com os diretores da empresa para
convencê-los que era uma má ideia. Eu vim pra Terra e passei um dia
planejando como iria ser a reunião do outro dia, eu encontrei Renata
no prédio. Não era para termos nos encontrado. Iríamos almoçar juntos
depois da reunião. Como ela estava linda, era sempre foi linda, a mais
linda mulher que já conheci...
- Tá Léo! Conta o resto! Maasti ouvia atentamente, mas lhe doía
e irritava quando ele falava da ex-mulher.
- Eu quis lhe oferecer uma carona. Mas não sabia que tudo estava
armado. Você está vendo este sistema de freio? Sabe como funciona?
- Não, não gosto muito de dirigir.
- Bem, as estradas e pistas são feitas de asfalto com tiras de
metal, cheia de circuitos. Embaixo do carro existe um sistema, que
magnéticamente, faz o carro planar a meio metro do chão. Além de metal,
a estrada envia informações via WiFi ao carro. São assim que eles são
216
Muito em Comum
dirigidos. Os carros possuem um sistema inteligente de freios. Um sensor
acoplado ao carro analisa toda a pista e aumenta e diminui a velocidade
automaticamente. Quase não precisamos dirigir, apenas comandamos o
carro para onde ele deve nos levar. Tudo isto funciona por um programa
de computador super avançado, pelo menos na época era avançado.
Mesmo os carros planando no ar, eles precisam de um sistema inteligente
de frenagem. Qualquer problema no meu carro, eu recebia um aviso, via
rede, para o meu dispositivo eletrônico e no meu e-mail. Mas um bom
hacker pode mudar o sistema deste computador e fazer estragos. É muito
difícil fazer modificações e apenas poucas pessoas no mundo sabiam
modificar um computador de bordo. Fora a empresa que projetava este
sistema, adivinhe onde mais tinham profissionais especializados nisto?
Na Toth Corporation, claaaaaro! Eu não tinha inimigos na Toth, apenas
um: Plumann. Só que o desgraçado, pilantra, sem vergonha, não sabia
que Renata estava no carro. O carro estava programado para não freiar
em uma curva íngreme. Adam analisou o sistema de freios do meu carro
agora pouco e ele descobriu a modificação. Plumann pegou o sistema de
freio para não ser denunciado e trocou pelo que estava. E eu sei também
porque guardou. Plumann nunca esqueceu Renata. Ele deve se culpar a
cada dia. Ele me fez acreditar que eu tinha matado a minha mulher por
anos. Quando o ver eu vou destruí-lo. Ninguém poderá me impedir. Eu
vou acabar com ele. Ele acabou com a minha vida e eu vou acabar com
a vida dele!
- Léo, você não pode pensar assim. Sabemos que ele é louco, mas
você tem de perdoá-lo. Você tem de se perdoar. Deixar Deus te perd...
- Não me venha com isto Maasti! Eu já ouvi muito disto quando
era criança! Deus! Deus! Eu estou cansado de ouvir sobre Deus!
Disse Leonardo saindo e indo para fora do quarto. Ele desceu
as escadas e entrou na sala de operações, no seu escritório, com Maasti o
seguindo.
- Vamos começar com a segunda parte do plano. Nós vamos
acabar com Plumann!
Todos vibraram, e Leonardo olhou para Maasti com um cara de
quem experimentaria o doce sabor da vingança, ela observava quieta. Só
217
Muito em Comum
ela sabia o que estava acontecendo de verdade e imaginava que as coisas
poderiam sair do controle.
Eram 2 horas da manhã, Plumann estava sentado no sofá da
sala. Foi neste momento que a porta abriu bem devagar. Alguns passos
foram dados e de repente o jovem que caminhava nas pontas dos pés
levou um susto.
- Plumann o que você faz aí?
- Onde você estava Josh?
- Eu não te devo satisfações.
- Me deve sim, eu tenho sua tutela.
- Sim, mas você não pode me controlar. Eu faço o que eu bem
quiser.
- Olha aqui moleque, me respeite, eu tenho idade pra ser seu pai.
- Mas não é. Meu nome é Josh Toth Parker, não tem nenhum
Plumann no meu nome. E é melhor você ficar quieto, senão você não vai
ter o que tanto quer.
Josh foi para seu quarto, enquanto Plumann se remoía por
dentro. Ele não aceitava perder uma discussão, mas realmente Josh tinha
algo que ele queria muito: Ações. Josh era o acionista majoritário da
empresa, pois herdara as ações de sua mãe junto com as ações de seu avô.
Josh foi para o quarto. Ele encostou na sua cama. Ele pegou sua revista
e começou a ler. Josh não estava com nenhum sono. Ele havia tomado
energéticos, mas viera cedo por causa do segurança, que também era
amigo dele. Este precisava dormir mais cedo, pois precisava resolver um
problema logo pela manhã. Então Josh voltou mais cedo da balada para
ajudar o amigo, e este nunca aceitaria deixar o garoto sozinho.
Josh folheou várias páginas. Numa das imagens surgiu a foto
bem grande de Plumann, no título: “O Salvador”. Na matéria falava
sobre a ambição de Plumann de salvar o planeta do aquecimento global,
sobre a virada do século entre outras coisas. Josh rasgou a página e
colocou a foto de Plumann na sua porta. Voltou para a cama, e entre
uma matéria ou outra jogava dardos na cara de Plumann. Teria de esperar
até os 15 anos para poder ser dono do nariz, e Plumann faria de tudo
218
Muito em Comum
para convencer o garoto a lhe vender as ações. Ele queria se livrar logo de
Plumann. Estava decidido a vender as ações por um preço exorbitante e
sumir. Josh não queria nem saber da empresa. Ele queria sua liberdade,
não estava nem aí com o mundo e o aquecimento global.
No dia seguinte, Josh acordou atrasado para a escola. Ele acordou
com o celular tocando, ele deixou tocar até parar. Novamente tocou e
ele olhou. Não sabia de quem era aquele celular. Imaginou que fosse
de alguma garota que conheceu na festa. Ele, com os olhos pregados,
atendeu acreditando que fosse a garota procurando o celular.
- Fala.
- Sr. Josh Toth Parker?
- Sim, quem é?
- Eu represento o Sr. Jonh Bregan, gostaríamos de falar com
você.
- Eu não conheço este cara. Falar sobre o que?
De repente Josh ouviu um barulho muito alto pelo celular, algo
como uma microfonia, ele fechou os olhos de dor, demorou 2 segundos
e Josh achou estranho.
- Que droga é esta? Quase fiquei surdo aqui. Poxa.
- Nós temos uma proposta.
- Olha cara, não conheço este “Brega” e não quero nenhuma
reunião, quem resolve as coisas pra mim é meu representante, o Plumann.
- Eu acho que você pode tomar conta do seu nariz, basta querer.
Insistimos com esta reunião. Aceita?
- Você é ousado, hein meu? Tá ok. Onde?
- Olhe pela sua janela.
Josh finalmente despertou. Pensava: “Como assim?” Josh foi até
a janela e viu um carro de luxo parado na sua porta. Fora do carro estava
Peter com o telefone na mão. Quando Josh olhou para fora, Peter deu
um aceno. Josh voltou para o quarto assustado.
- O que vocês querem comigo?
- Queremos falar com você, nós não temos muito tempo para
explicar.
- Como eu vou saber que vocês são confiáveis?
219
Muito em Comum
- Só posso te dizer uma coisa, John Bregan está aqui, ele pediu
pra te dizer que ele conhece muito sobre o passado de Plumann, e
também sobre o monitoramento cerebral. Ele disse que você está sendo
monitorado Josh. Ele pode te ajudar a derrubar Plumann e te libertar.
- Eu não posso ser monitorado. Eu sou neto de Jonathan Toth.
Não posso ser monitorado.
- Então façamos o seguinte: Se você mudar de ideia, você vai
pendurar na sua janela um lençol branco. Nós vamos hackear o sinal
do seu ID, pra você poder pensar melhor, mas não posso fazer isto pra
sempre. Você tem um dia e nós sabemos que um dia é necessário.
Josh entendeu o recado. Ele estava com muito medo. Podiam
ser sequestradores. Mas ele tinha certeza de não ser monitorado. Mesmo
assim ele estava com medo.
Antony recebeu uma chamada. Era do departamento de
monitoramento. Antony foi até Plumann.
- Sr. Plumann, nos enviaram dados. Josh foi abordado pelo
pessoal da SB. Tivemos perda do sinal, mas já voltou. Josh está pensando
na proposta de 20 bilhões oferecidas por eles pelas suas ações na Toth.
- Vinte Bilhões?! Desgraçados! Eu vou falar com Josh. Eles são
muito folgados achando que Josh pode tomar esta decisão. Eu tomo as
decisões por ele. Eu vou acabar com este pessoal.
Plumann ficou a tarde toda estudando o plano de ação para
tomada de Berta. Ele teria de esperar a época certa do ano para ir ao
planeta, senão não conseguiriam chegar lá e se perderiam no espaço.
Tudo estava planejado, por baixo dos panos. Plumann saiu do escritório
e foi para casa. Ele bateu na porta do quarto de Josh.
- Entra, né?
- Oi Josh. O pessoal de Bregan está te atormentando?
Josh olhou para Plumann, pensando como Plumann sabia disto?
- Quem é Bregan?
- Fiquei sabendo pelo pessoal dele que eles te ligaram com uma
proposta para suas ações.
- Houve um pessoal que ligou, mas eu não quero saber destas
220
Muito em Comum
coisas, eu disse que é você quem resolve. Já pode sair tá?
- Ok.
Plumann respirou aliviado. Já Josh estava assustado. Como
ele sabia? Ele até poderia ter grampeado seu celular, mas o celular era
de outra pessoa. Ele era monitorado! Só podia ser isto. Josh colocou o
lençol na janela e dormiu.
No outro dia, Josh recebeu uma ligação de Peter e este estava
do outro lado da rua, no carro. Josh desceu e entrou no carro. O chofer
daria umas voltas enquanto eles conversariam.
- Meu nome é Peter Johnson e este é John Bregan.
- Por que você não mostra a cara?
- Tudo ao seu tempo jovem. O Sr. Bregan vai se revelar se você
quiser cooperar conosco.
- Como assim? me explique.
- O Sr. Bregan tem uma desavença com Plumann, ele conhece
tudo sobre Plumann e não concorda com o monitoramento. Se não fosse
por nossas tecnologias, os seguranças de Plumann já teriam te cercado.
- O Jeffrey, meu segurança me deu cobertura para poder sair.
- Eu disse “os seguranças de Plumann”, não os seus. Ele sabe
tudo que você pensa e faz.
- Eu sei tudo sobre o monitoramento cerebral, como funciona,
o cara que criou, que ele foi casado com minha mãe e outras coisas.
- Nós queremos acabar com este monitoramento. Não
concordamos com ele, nem com Plumann. Nós precisamos de aliados.
- Sei, mas o que eu posso fazer?
- Confiar em nós.
- Ah tá? Assim no escuro? O que eu vou ganhar com isto?
- Você quer sua liberdade e se vingar de Plumann, não é? Você
pode ficar com tudo que já possui. Nós te daremos tudo isto.
- Ah, isto é muito vago. Eu precisava de algo sólido.
- Eu sei o que você quer. Olhe isto.
Peter tirou um saco do bolso e despejou seu conteúdo no colo
do rapaz, ele pegou e antes que perguntasse, Peter lhe disse:
221
Muito em Comum
- Isto é o sistema de freios do carro onde sua mãe morreu. Você
está atrás da verdade, e o Sr. Bregan vai te mostrar a verdade sobre tudo
que está acontecendo.
Josh pensou, olhou para aquilo, quis perguntar, mas sabia que
eles só diriam se ele concordasse colaborar.
- Está bem.
- É caminho sem volta, filho.
- Qualquer caminho, menos o de Plumann.
- Agora você fará o seguinte...
Peter deu instruções ao garoto e voltaram até a casa dele. Ele
saiu do carro e o carro foi embora. O garoto subiu ao seu quarto, tirou
o lençol da janela. Pegou uma mochila, colocou lá dentro algumas coisas
suas, um álbum eletrônico com fotos de sua mãe. O celular tocou e
no ouvido ele sentiu aquela dor de novo. Desligou o celular e o levou.
Desceu até a porta de sua casa e foi até a rua. Quando veio uma van, e
parou na sua frente, saíram dois homens encapuzados. Ele tentou correr,
mas o pegaram. Um foi para atrás do garoto e outro lhe apontou uma
arma na face e apertou o gatilho.
Antony atendeu a ligação e depois de ouvir o que era, ele estava
pasmo. Ele correu e foi até a sala de Plumann.
- Sr. Plumann, aconteceu algo grave.
- O que Antony? Diga logo?
- Eu acho que Josh está morto.
- Não estou entendendo. Como assim?
Plumann se reclinou para trás, ele acreditava em Antony, mas
queria entender o que estava acontecendo.
- Me explica homem! Como?
- O diretor de monitoramento está mandando as imagens.
Plumann correu para o computador e viu a imagem do cara
atirar na cabeça de Josh e, de repente, o sinal de Josh desaparecer.
- E agora? O que eu vou fazer? O rapaz me irritava, mas eu não
queria o fim dele. Jesus, a família Toth já era!
- Temos de informar a imprensa.
222
Muito em Comum
- Informar o que Antony? Não temos testemunhas, a única coisa
que temos é a visão de Josh. Se mostrarmos isto, todos saberão que são
vigiados. Temos de esperar e dizer que ele está desaparecido.
- Mas e as ações?
- Até não encontrarem o corpo, eu serei o responsável delas, só
não posso vendê-las, nem negociá-las até serem minhas de pleno direito.
Depois de alguns meses, as ações serão minhas! Antony, eu serei o sócio
majoritário da Toth! Quer dizer, o dono. Depois que trouxermos o
Berlítio, elas vão explodir nas alturas. Até que não foi mal, sabia? Mas
quem será que fez este favor pra mim? Deus está do meu lado Anthony!
Deus está do meu lado!
- Acorda Josh! Acorda!
Eram dados uns tapas no rosto do rapaz. Mary examinou-o e ele
foi recobrando os sentidos.
- O que aconteceu?
Bregan riu e pensou que até nisto ele era igual a sua mãe.
Acordava perguntando: “O que aconteceu”.
- Nós te “desligamos” Josh.
- Como assim?
- Quando chegamos, Adam passou um laser na tua nuca,
desligando o seu chip de monitoramento. Agora você não pode ser
encontrado. Agora você não existe para Plumann.
- Quem é Adam? Quem é você?
- Meu nome é Mary, este aqui é o Adam.
- Bem, agora Sr. “Brega”, está na hora de você se mostrar. Porque
você esconde o rosto?
- Porque meu rosto é um pouco conhecido.
- Eu não te conheço, Sr. Bregan.
- Bem, você tem uma parte de razão, mas seu avô e sua mãe me
conheciam.
Bregan foi tirando o lenço que cobria o rosto, enquanto falava
com o garoto.
- Quando todos me chamavam de...
223
Muito em Comum
O garoto ficou pasmo quando ele tirou os óculos.
- Leonardo Melo Silva.
Leonardo explicou calmamente quem era enquanto voltavam
para a mansão. Logo após foi explicando a nova rotina para o rapaz.
- Bem Josh, agora que você tem uma nova identidade, esta é
minha mansão, gostaria que você ficasse hospedado nela.
- Tudo bem Leonardo. Mas eu ainda tenho muitas perguntas, o
senhor não me disse nada até agora.
- Calma, tudo a seu tempo. Vou te apresentar o pessoal.
Leonardo apresentou todos a Josh e, por final, lhe apresentou
Maasti.
- Esta é Maasti, ela é quem foi sequestrada de Berta.
Josh cumprimentou Maasti, ela se mostrou simpática ao garoto.
Ela sabia que faria bem a Leonardo o garoto estando lá. Josh era a única
ligação dele com a ex-mulher. Talvez isto ajudasse a colocar as coisas no
lugar. Maasti conversou com Leonardo. Ela iria para a Califórnia. Ela
deixaria tudo preparado e encontraria as pessoas certas para executar o
plano. Ela precisaria de muita gente. Seria um trabalho árduo.
- Bem Josh, eu sei muita coisa sobre ti, mas acho que você não
sabe nada sobre mim.
- Eu sei algumas coisas que Plumann me falou naquele dia, e que
Jéssica também me contou.
- Bem, eu não sei o que Jéssica te contou, mas espero que você
entenda que você pode confiar em mim. Eu vou cuidar de você. Você é
praticamente da minha família. Toth era como um pai pra mim e você é
filho da Renata, não preciso dizer mais nada, né?
- Você amava a mamãe?
- Amava não, ainda a amo. Eu ainda a considero a minha mulher
e não desejo estar mais com ninguém que seja com ela. Eu até tentei mas
não consegui. Ela era incrível. Sinto falta dela.
- Eu também sinto. Aquela peça do carro dela, o que aquilo
significa?
224
Muito em Comum
- Calma, tudo a seu tempo. Vamos comer algo.
Leonardo esfregou a cabeça do rapaz, o abraçou e o levou para a
cozinha. O garoto sabia que podia contar com Leonardo. Maasti chegou
na cozinha enquanto eles comiam, e disse que iria embora. Josh se
despediu, mesmo a tendo conhecido há poucos momentos e Leonardo a
acompanhou até a porta.
- Seja cuidadosa, senhorita “July Palmer”.
- Eu vou me cuidar. Só me preocupo com você.
- Acho que eu vou ficar bem, ter um pouco dela aqui me consola.
- Queria que você se consolasse com um pouco de mim.
- Não diga assim Maasti. Você me ajuda muito. Sem você eu não
sei o que seria de mim.
- Se cuide Léo.
Maasti quando lhe disse isto, colocou a mão no peito de
Leonardo. Ela o olhou, ele também a olhou. A mão subiu até o rosto
enquanto ela se aproximava para beijá-lo. Ele estava olhando-a bem nos
olhos. Quando ela chegou bem perto dele, ele virou o rosto.
- Acho que está na hora de você ir. Disse Leonardo.
Ele beijou a mão de Maasti e ela foi ao carro, olhando para
Leonardo. Ela sentiria saudades. Ele apontou para ela e lhe disse:
- Precisamos de um exército tá?
- Pode deixar.
Ela partiu, até sumir na primeira esquina. Leonardo se lembrou
daquela noite em que jantou com Renata. Era como se não pudesse tirar
suas memórias da mente. Ele havia tentado uma vez. Mas não tinha dado
certo.
Durante a tarde Leonardo contou a Josh o que tinha acontecido
após sua fuga, as coisas que descobrira sobre a Toth Corporation e os
planos de Plumann. Contou sobre como tinha se tornado John Bregan.
Muitas outras coisas ele só revelaria mais tarde. Quando anoiteceu Josh
foi levado para o seu quarto por Leonardo.
- Este é o seu quarto?
- Já foi meu, mas na verdade, pertenceu ao verdadeiro John
225
Muito em Comum
Bregan.
- Stewart nunca encontrou o corpo do filho?
- Não Josh. Mas ele ficou feliz em saber que eu poderia ser seu
filho.
- Jéssica disse que você e mamãe perderam um filho.
- Sim. Nós fomos ao hospital e ela estava grávida. Eu deixei
minhas pesquisas de lado. E estava até pensando em abandonar as
pesquisas pra me dedicar ao nosso filho. Foram meses maravilhosos.
Eu comprava tudo pra ele, e sua mãe adorava aquilo. Ela estava sendo
paparicava. Você tinha de ver quando seu avô ficou sabendo! Ele me
abraçava que nem alguém que tinha ganhado um campeonato. Estávamos
todos felizes. Quando ela tinha 7 meses de gravidez, eu tive um sonho.
- Neste sonho eu estava andando pela lua e lá eu encontrava duas
mesas, em uma mesa havia um coração batendo, e na outra havia um
cérebro. Eu estava disposto a pegar o cérebro. Eu sempre quis desvendar o
cérebro humano. Mas lembrei do meu filho e escolhi o coração. Escolhi
a emoção. Quando eu ia tocar o coração, eu acordei assustado. Eu abri os
olhos e minhas mãos estavam molhadas, era algo quente. Eu cheirei e era
sangue, eu acendi a luz e vi que nossa cama estava cheia de sangue. Era
sua mãe. Ela gritava com muita dor. Eu a peguei pelos braços e a levei
para o hospital. Lá o médico me disse que eu tinha perdido meu filho.
Meu mundo acabou. Enquanto Renata se recuperava eu fui na igreja e
me revoltei com Deus, decidi que não mais escolheria o coração, mas o
cérebro. Só o racional. Decidi me dedicar à pesquisa que tinha. Eu perdi
sua mãe, a perdi duas vezes. Como eu queria ter um filho, assim como
Stewart pode ter um.
- Eu também queria ter tido um pai.
- Bem, por isto acho que vamos nos dar bem. Eu cuido de você e
você cuida de mim. Apesar de te conhecer bem pouco, nós temos muito
em comum. Pelo menos uma coisa.
- O que?
- Nós amamos a mesma mulher. Durma bem, amanhã temos
muitas coisas a fazer.
Leonardo disse isto beijando a testa do rapaz. No outro dia
226
Muito em Comum
Leonardo lhe falou sobre os planos e como iriam executá-los. Se tudo
desse certo, o mundo mudaria, tanto a Terra quanto Berta. Mas eles
tinham muito a fazer.
Plumann, no início da tarde, estava parado em frente ao saguão
da Toth Corporation, ele olhou-se por um espelho e testava caras. Caras
de tristeza e pesar. Ele tentava dizer o que ia discursar. Passou um vídeo
de toda sua vida pela cabeça. O que ele tinha sido e agora o que ele era.
Ele sonhava com aquele momento por muito tempo. Ele estava nervoso,
olhou sua mão e ela suava. Ele viu Antony no microfone falando.
Plumann estava tão envolto em seus pensamentos que parecia nem ouvir
o que seu assistente falava. Só voltou a si quando viu Antony fazer um
sinal de positivo. Ele saiu de onde estava e entrou no palco. Haviam
vários jornalistas, vários flashes. Ele chegou ao microfone:
- Boa tarde a todos. Vou ser muito direto. Estamos com um
problema que atinge toda a empresa. Josh Toth Parker, herdeiro de
Jonathan Toth está oficialmente desaparecido. Já informamos à polícia
e estamos fazendo buscas. Ele foi visto pela última vez na minha casa.
Um de nossos seguranças o viu indo para a rua e uma van o abordou.
Não sabemos se trata de sequestro ou vingança. Estamos usando todas as
nossas forças para resgatá-lo. Como possuo a tutela dele, eu o representarei
na empresa, como sempre fiz. Oremos pela vida de Josh, que ele possa
estar em segurança. Muito obrigado.
Enquanto os jornalistas tentavam obter mais informações,
Plumann saiu e deu um sorriso para Antony, nos bastidores. Ele sabia
que Josh estava morto e a partir de agora era o dono supremo da empresa.
Plumann saiu da lá e decidiu ir para a casa. Chegou, cumprimentou sua
mulher e foi para o quarto do seu filho caçula. Ele chegou no quarto, e
havia um berço. Lá dormia uma criança de dois anos. Ele abriu uma das
laterais do berço calmamente, pegou uma cadeira e sentou ao lado do
filho.
- Meu querido, seu futuro está garantido. Faço isto tudo por você.
Esta é a minha missão, garantir o seu futuro. O futuro da minha família.
Você é a esperança deste planeta, e este planeta será um lugar melhor para
227
Muito em Comum
você viver. Eu tenho feito de tudo para salvar este mundo e Deus tem me
dado a vitória. Ele me incumbiu de fazer este trabalho, eu fui escolhido
como o salvador deste século. Você terá orgulho de seu pai. Eu tive de
ir a lugares que não gostaria de ir, tive de fazer coisas que não queria,
mas eram necessárias para que a minha missão não fosse comprometida.
Tudo isto por você. Um dia você me verá com orgulho, hoje eu sou o
homem mais poderoso do mundo, amanhã você é quem será, e será mais
poderoso que eu. Espero que para isto você não tenha que fazer algumas
coisas que fiz, coisas estas que eu nunca poderei revelar. Mas isto é uma
guerra e nesta guerra Deus está do meu lado.
Plumann beijou o filho e fechou o berço. Ele foi para a cozinha.
Enquanto passava no corredor ele viu uma foto. Era a primeira foto dos
dois. Ela estava com sua roupa de enfermeira, e ele estava engessado na
cama do hospital. Ele decidiu cozinhar. Ele prepararia um jantar para a
esposa.
Leonardo conversou com Peter na sua sala fechada sobre algumas
coisas em relação às Indústrias SB, eles estava se preparando para caso
o plano der certo. Leonardo gostava de pensar em tudo. Enquanto
conversava, Mary chegou até eles e pediu licença, pediu que eles viessem
até a sala ver algo. Todos estavam em frente à TV, e neste momento
Plumann discursava. Todos acompanhavam.
- Ele fez exatamente o que você falou Léo. Disse Peter.
- Como você sabia? Perguntou Adam.
- Eu conheço Plumann como a palma da minha mão. Ele
também me conhece muito. Nós temos muito em comum, e também
nós temos muitas diferenças. Eu, acredito, que sou o único que possa
entendê-lo, e eu sei que ele me entende, por isto nós praticamente nos
degladiamos. Plumann nem sempre foi uma pessoa ruim, a vida dele é
que se tornou amarga, e ele se tornou tão amargo quanto ela.
- Como assim?
- Eu vou contar a vocês...
228
O Presidente
O Presidente
Capítulo 18
Brockville General Hospital, Brockville, Ontário, Canadá,
2050 d.C.
George chegou ao hospital de Brockville, feliz da vida. Sua
esposa havia sido levada para lá havia 20 minutos. Ela estava grávida e
sua bolsa havia estourado em casa. Sua cunhada a trouxe para o hospital
da pequena cidade canadense, que fazia divisa com os Estados Unidos.
George chegou na recepção e perguntou pela esposa, uma enfermeira
informou que ela estava com os médicos e já iam fazer o parto. George
correu e foi autorizada a sua entrada para acompanhar o parto. Lilly,
esposa de George, foi anestesiada e o parto seria natural. Ela foi colocada
em uma banheira de água quente, pois seu parto seria por imersão.
Era muito comum isto nesta época. George se vestiu e acompanhou o
parto com uma câmera, ele gravava tudo. Gravou o momento em que a
pequena criança conheceu o mundo. Ele gravou seu choro. Ele gravou a
mãe toda feliz ao lado da criança. Ele se sentia orgulhoso de seu pequeno
garoto, Theodore Plumann.
Theodore foi educado com rigor pelo pai. Ele ia à igreja todos
os domingos, e era muito competente. Ele não era o mais inteligente da
escola, mas devido as cobranças de seu pai, ele buscou se esforçar. Ele
sempre entregava os trabalhos primeiro. Era o último a terminar a prova,
mas tirava as melhores notas. Plumann tinha dificuldade para entender a
matéria, então ele compensava com muito estudo e esforço. Plumann se
esforçava mais que os outros alunos.
229
O Presidente
A família de Plumann era uma família de classe média, seu
pai trabalhava como consultor de programação para diversas empresas.
Ele não era um gênio da informática, mas sim um especialista, pois
conhecia todas as plataformas. George Plumann era um dos poucos na
região que ainda sabia ainda usar as antigas plataformas de informação.
Em 2050, todos os dispositivos digitais usavam uma só plataforma de
programação. Quem ainda trabalhava com as antigas plataformas vinha
até George, e mais alguns, para solucionar problemas. George sonhava
que o filho prosperasse. Como a área de informática já não dava mais
dinheiro, George investia na educação de Plumann, para que ele seguisse
alguma profissão de sucesso no momento.
Em 2050 as áreas do futuro eram relacionadas a pesquisas. Os
pesquisadores e cientistas ganhavam salários incríveis e muito se tornavam
milionários. Nos próximos 40 anos os homens mais ricos do mundo
eram pesquisadores nas áreas de Tecnologia, Saúde, Ciência Ambiental,
Física Elementar, Física Nuclear Avançada, etc. Estavam aí Jonathan
Toth, da Toth Corporation, Stewart Bregan, da SB Industries, Carlos
Oliveira da Costa, da Life&Tree, Knox Fanning, da Fanning Solutions,
Abha Bharat, da InFusion, e ainda dezenas de chineses. Mas em 2050,
estes grandes homens, eram apenas estudantes que buscavam um lugar
ao sol. Sua obsessão era tanta para o sucesso do pequeno Plumann, que
se este tivesse tido uma nota ruim, George proibia o menino de sair de
casa nas férias. Ele teria de se dedicar a estudar, assim Plumann se tornou
um dos rapazes mais trabalhadores de Brockville.
Plumann estudou no St. Lawrence College, na própria cidade,
e se tornou um bom esportista. Ele era um dos melhores jogadores de
tênis do colégio. Participava de algumas competições contra outros
colégios e ganhava vários troféus, seus pais ficavam orgulhosos do filho.
George sempre dizia que se Plumann estudasse bastante, ele sempre teria
permissão pra jogar nas competições.
A campainha tocou na sua casa e Lilly foi atender. Eram suas
compras. Ela havia comprado tudo pelo menu interativo da geladeira e
em alguns minutos tudo estava ali na sua porta. O entregador leu a íris
230
O Presidente
de Lilly e suas compras já estavam pagas por débito da sua conta de ID.
Quando ela estava na cozinha preparando a comida, ela ouviu um grito.
Ela se perguntou o que seu marido estava aprontando. Assustada, ela
subiu as escadas e percebeu que o barulho vinha do quarto de Theodore.
Quando chegou, ela pôde ver George jogando os troféus do filho no
chão e dizendo alto:
- EU VOU MATAR ESTE MOLEQUE!
Lilly, mais assustada ainda, perguntou ao marido o que havia
acontecido. Ele com um papel na mão, dizia para ela:
- Este menino quer me matar, veja isto!
Lilly leu e no papel havia um convite da Federação Canadense de
Tênis aprovando o pedido do jovem Plumann para disputar os circuitos
nacionais.
- George, nosso filho vai disputar no país! Por que você está tão
bravo?
- Porquê Lilly? Você ainda me pergunta? Este moleque tem de
largar este negócio de ser esportista e ser um grande homem! Ele está
querendo me matar? Eu dei o melhor pra ele, ele estudou tanto pra ser
uma porcaria de tenista? Não estamos mais em 2020 ou 2030 em que os
filhos faziam o que queriam! Não! Se eu tivesse escutado o meu pai, hoje
eu teria um império! Este moleque deve estar bem louco!
Plumann chegou em sua casa e ouviu os berros. Ele fez uma cara
de decepção. Imaginou que o pai deveria ter visto algo sobre o circuito
de tênis. Agora teria de aguentar as consequências. Plumann chegou no
quarto.
- Aí está o idiota do meu filho!
George pegou o filho pela nuca e o jogou na cama.
- Você está louco? Você vai ser um grande empresário. Esqueça
esta história de tênis!
- Pai, eu posso ser rico se for um tenista famoso. Basta acreditar.
- Acreditar? Acreditar em que? Você sabe quantos tenistas tem no
mundo? Sabe quantos são ricos? Poucos. Não há probabilidades. Você vai
precisar de muita sorte.
George pegou todos os troféus, medalhas e raquetes, e começou a
231
O Presidente
jogá-los num saco de lixo. O filho tentou impedir. Eles ficaram puxando
uma raquete de um lado para o outro. George puxou a raquete com força
e a colocou no saco. Plumann começou a ficar furioso, suas sobrancelhas
se arquearam, ele cerrou os dentes, tentou se segurar, mas pulou em
direção do pai. Ele apertou o pescoço do pai com força. Lilly tentava
puxar o filho, mas ele era forte. Ela pegou uma raquete de tênis e deu
uma raquetada em Plumann. Finalmente Plumann soltou o pai. George
levantou assustado. George, assustado e em silêncio, saiu do quarto e foi
para a sala. George sentou em sua poltrona e ficou olhando o quintal. O
filho estava quieto e pensou no que tinha feito. Plumann percebeu que
não era tão calmo quanto todos achavam. Ele era incapaz de controlar
sua raiva. Ele havia quase matado o pai. Ele olhou para seus troféus, suas
raquetes e prêmios e pensava de que adiantaria aquilo se ele mesmo não
podia fazer seus pais felizes. Plumann pegou o saco com suas coisas, foi
até a cozinha e pegou algo. Plumann foi até o jardim, sendo vigiado
pelo pai por dentro, e jogou álcool no saco e colocou fogo. George ficou
preocupado, achou que o filho ia se incendiar e foi para fora. Quando
viu que não se tratava disto, abraçou o filho e disse:
- Vai ser o melhor pra você.
George decidiu que o filho deveria sair de Brockville e ir morar
nos Estados Unidos. Plumann começou a estudar na Massachusetts
Institute of Techonolgy (MIT), uma das melhores universidades do
país. Plumann, como de costume, era esforçado e estudava na área de
Tecnologia Ambiental. Seu anseio em mudar o mundo era admirado por
colegas de classe e professores e Plumann era muito popular pela sua
boa aparência. George disse ao filho que tinha um cliente em potencial
que sempre usava seus conhecimentos em sistemas de informação para
desenvolver tecnologia de ponta. Era uma das maiores empresas do
mundo. George conversou com seu cliente e disse que tinha um filho
que estudava perto do seu centro de pesquisas em Boston. Plumann foi
convocado para uma reunião onde seria avaliado, e caso se agradassem
dele, ele poderia acompanhar a empresa durante sua faculdade , até
conseguir um emprego fixo.
232
O Presidente
Plumann se arrumou e foi até a sede da empresa. Em uma hora
ele estava lá estacionando seu Ford na frente do prédio. Era o único
prédio do mundo a usar em toda sua estrutura, material desenvolvido
em pesquisas. Era um prédio projetado em laboratório. Plumann entrou
e começou a olhar as placas de indicação. Em nada lembrava um prédio
comercial. No térreo havia praças de alimentação, lojas e um zoológico
com animais robóticos, que em nada diferiam dos verdadeiros. Muitos
dos “animais” ali eram réplicas de animais já extintos, como o urso polar,
a ararinha-azul, o tigre branco, o pinguim dos magalhães, a tartarugade-couro, o gorila-das-montanhas, entre outros mais. Plumann ficou
admirado quando viu um grupo de borboletas Monarca biônicas voando
na sua frente. Ele ficava impressionado com a capacidade tecnológica
que o homem alcançou.
Plumann chegou a um dos centros de informação e, em um
holograma, apareceu uma mulher. Ela perguntou onde ele queria ir. Ele
a informou que queria ir para a sala de diretoria. Um vídeo lhe mostrou
como deveria ir. Ele subiu um elevador e chegou até o décimo andar. Lá,
sua íris foi lida e ele foi confirmado para entrar. Chegando lá, Plumann
se apresentou na recepção.
- Espere só um minuto Sr. Plumann. O Sr. Joseph Smith irá
atendê-lo.
Plumann ficou impressionado. Seu pai não havia lhe dito que
ele se encontraria com Joseph Smith, o braço direito do dono. Depois de
alguns minutos, Joseph apareceu e conversou rapidamente com o rapaz.
Ele pediu que Plumann o acompanhasse. Eles chegaram em frente a uma
porta e Smith lhe falou:
- Você teve sorte hoje. Hoje o Sr. Toth está aqui, e disse que
gostaria de conhecer o jovem que tanto George falou.
Plumann ficou nervoso, conheceria um dos homens mais
importantes do país. Plumann entrou e viu um homem de 39 anos, bem
vestido, que estava ali a sua espera. O homem veio e lhe cumprimentou
com um abraço, Plumann não esperava.
- O filho do meu amigo George! Qual o seu nome rapaz?
- Me chamo Theodore Plumann.
233
O Presidente
- Ok Ted, vamos nos dar muito bem. Eu vou te apresentar a
empresa.
Toth apresentou a empresa a Plumann e disse que seu pai havia
falado do fascínio dele pelas pesquisas na área ambiental. Ele disse que
pretendia investir neste ramo, pois o futuro da empresa era achar uma
solução para o aquecimento global. Plumann contou a Toth algumas de
suas ideias, e Toth as achou interessantes.
- Nós ficamos importantes com a destruição do asteroide no
ano passado. Nosso canhão de partículas foi considerado a invenção do
século, mas eu acho que nós podemos mais. O que você acha?
- Bem, eu acredito que o mundo pode ser salvo, eu sempre
acreditei nisto. Sei que ainda temos um vilão maior.
- Ah, as emissões de Carbono! Você é esperto. Estamos
trabalhando com isto, mas tem sido uma dor de cabeça. Eu quero que
você me ajude justamente com isto. Eu quero Ted, que você venha sempre
aqui quando puder, quero que você esteja junto à minha equipe de
profissionais. Eu tenho muitas dificuldades com eles, pois eles vieram de
outras organizações e eles não tem aquele ideal. Eu preciso de jovens que
tenham sonhos, projetos, objetivos e ambições. Eu preciso de um pessoal
criado aqui na empresa. Eu sempre fui um jovem que apostou alto. Se
você apostar alto, se você sonhar alto e confiar em Deus, você pode ir
longe.
- Eu quero ir longe Sr. Toth.
- É assim que se fala rapaz! Bem, eu tenho de ir à Praga. Por causa
da crise ambiental, todos os órgãos do mundo estão caindo. Primeiro
a ONU, que virou a OSME (Organização de Segurança Mundial e
Espacial) e entrou em briga com a Nasa pelo controle espacial. Depois
destas acusações de corrupção, ambas estão na corda bamba.
- Eu me informei, mas não entendi Sr. Plumann, o que eles
querem decidir em Praga?
- Bem, eles esperam decidir se continuam com a OSME, já que
a Nasa foi fechada pelo governo americano, devido aos altos custos, ou
se criam outra organização de segurança mundial. Eu vou oferecer todas
minhas pesquisas e tecnologia para colocar o mundo nos eixos. Estamos
234
O Presidente
tendo mais atentados terroristas do que nunca. Praticamente um em
cada esquina. E os atentados não vem de grupos organizados não! Mas
de pessoas que estão revoltadas com toda esta situação. Eu quero ajudar
o nosso mundo. O caos é generalizado. Eu já vou. Joseph vai cuidar de
você. Foi um prazer conhecê-lo, mande um abraço ao seu pai.
Plumann abraçou o jovem rapaz e saiu em direção ao Aeroporto
Internacional Gen. Edward Lawrence Logan, em Boston. Toth já sabia,
mas não disse ao jovem que neste encontro em Praga, a Toth Corporation
seria escolhida pela maioria dos líderes do planeta para se tornar o
novo órgão de monitoramento e pacificação mundial. Na cúpula eles
decidiram que a Toth também monitoraria o espaço. Pela primeira
vez, uma corporação privada controlaria a paz. Devido ao seu êxito na
destruição do asteroide Apophis, muito viram a Toth como a única com
capacidade tecnológica para trazer soluções aos diversos conflitos. Muitos
temiam o poderio tecnológico, e agora bélico da empresa. Jonathan Toth
era também um homem respeitado e confiável. A crise mundial não
pedia outro senão a Toth Corporation para que controle o mundo, e
todos estavam dispostos a pagar por este controle. O contrato inicial foi
de 10 anos e se houvesse sucesso, este contrato seria renovado o tempo
que fosse necessário. Quando Toth entrou no encontro em Praga, ele já
era considerado o homem mais influente do mundo, quando ele saiu ele
também era o mais poderoso.
Ainda quando Plumann vivia em Brockville, ele se envolvia
também muito com a igreja. Seu pai queria levá-lo a esquecer a religião
e a se dedicar aos estudos. Mas Plumann era enfático na sua escolha em
ser fiel a Deus. Plumann era um homem religioso. Ele era um homem de
fé. Mas Plumann tinha um defeito grave: ele tinha uma inconsistência
emocional muito grande. Era um homem que se explodia facilmente.
Ele podia ir do cordial e educado ao agressivo em poucos minutos, e
sempre suas discussões com os líderes da igreja eram calóricas. Plumann
não admitia certos tipos de apostasias na igreja. Muito do que Plumann
falava era correto, mas a sua forma de agir o fazia ser visto como louco e
fanático.
235
O Presidente
Plumann possuía repúdio aos que estavam indiferentes
religiosamente, pois eles infestavam as igrejas em busca de “prazer
espiritual” e faziam uma união do moderno com o clássico que em
muitas vezes destoava do que era ensinado na Bíblia. Mesmo sendo
aconselhado pelos pastores que esta não era a forma de se tratar os que
não tinham o mesmo conhecimento e fé que ele, Plumann era implacável.
A situação ficou complicada na sua vida quando, no colegial ainda, ele
namorou uma garota, nascida na igreja, que naquela época se tornou
indiferente com Deus. Ela, cansada das mais diferentes regras, decidiu
se aventurar pelos caminhos que levavam a um Deus mais simpático e
alegre. Enquanto achava que encontrava Deus nas diversas reuniões que
frequentava, tão logo ela entrava em depressão, pois não sentia mais nada
depois e acreditava que Deus havia se esvaído de si. Plumann a ajudou
e a aconselhou, tentou lhe mostrar que a igreja não podia se tornar
um verdadeiro ópio do povo. Plumann acreditava e dizia que havia
mais que isto. A garota não lhe dava ouvidos e sempre buscava mais
e mais. Estava literalmente viciada em sentir experiências espirituais.
Plumann era apaixonado por ela e inúmeras vezes a acompanhou em
shows evangélicos. A garota parecia tão feliz, tão entregue, até Plumann
conseguia sentir a presença do espírito, mas Plumann depois via que
viver a fé era mais importante do que sentir, pois aquilo havia sido
apenas um momento, diferente de sua namorada, que acreditava que a
presença de Deus estava inteiramente ligada ao êxtase.
Plumann insistia muito, mas sua insistência chegou ao fim
quando recebeu a notícia de que a sua namorada havia sido encontrada
morta no quarto dela. Ela havia se enforcado usando suas próprias
roupas como corda. Num bilhete ela deixava claro que queria sentir a
presença celestial, queria se encontrar com Deus e ela havia encontrado a
solução. Ela pedia perdão à família e ao namorado que carinhosamente
chamou de “meu fofo”. O trauma da morte de sua primeira namorada,
fez de Plumann um homem mais determinado em suas razões de mudar
o mundo. Ele tinha o idealismo de fazer as pessoas enxergarem a verdade
de que o mundo era mais complexo do que parecia, e que estávamos
numa guerra entre o bem e o mal.
236
O Presidente
Plumann ajudou muito Toth, com palavras de apoio, quando
este perdeu a mulher. Ela havia falecido devido a um devastador câncer
de pele. Ela não era a única. Milhares de pessoas morriam por causa deste
que havia se tornado o mal do século. O calor castigava a população. A
poluição havia feito uma camada entre o sol e a população, mas sem a
proteção da camada de ozônio o calor era infernal. Pessoas envelheciam
mais rapidamente. Em alguns lugares pessoas sofriam queimaduras
graves por causa do mormaço. Com a esposa de Toth não foi diferente.
Ele tentou fazer de tudo, mas a morte foi inevitável.
Elisa Fleury era uma carioca, criada em São Paulo. Praticamente
toda sua infância e adolescência viveu no bairro da Vila Mariana.
Toth a conheceu quando fazia intercâmbio no Brasil. Se conheceram
quando visitavam o Zoológico de São Paulo, e foi amor à primeira vista.
Quando se casaram, ela se tornou Elisa Toth e foi morar com o marido
em Massachusetts, onde ele, com o seu pai, faziam próteses. Elisa era
professora de Biologia, e foi a inspiração do marido para criar próteses
que fossem feitas com material orgânico. Depois de 5 anos de casados,
Toth estava milionário e Elisa, estava grávida. Foi quando nasceu a
pequena Renata. Deram o nome brasileiro da avó de Elisa. Eram uma
família feliz até o diagnóstico de câncer de Elisa. Diagnóstico que levaria
Elisa embora da vida de Toth e da pequena Renata.
A ajuda de Plumann foi essencial. Toth convidava o jovem,
que tinha muita fé, para frequentar sua casa e estar ao seu lado.
Depois de formado, Plumann era sempre visto com os Toths. Ele dava
aconselhamento espiritual a Jonathan Toth e sua filha de 9 anos, Renata
Toth. Plumnann começou a trabalhar na Toth com alguns projetos de
pesquisas. Ele começou a se destacar pelo seu empenho, e já era um
dos pupilos do diretor de pesquisas ambientais da Toth Corporation.
Quando Plumann estava com 22 anos, Toth o chamou para trabalhar em
Nova York, o jovem vibrou, ele tinha ambições.
Conforme o tempo passava, a pequena Renata também crescia
e se tornava uma mulher. Plumann começou a se apaixonar pela jovem.
Eles ficavam muito próximos. Mas ela era uma adolescente que mais se
preocupava em estudar do que com Plumann. Renata só tinha prazer em
237
O Presidente
ajudar o próximo. Ela aprendera com seu pai que cada ser humano tinha
valor, e o dever nesta Terra, daqueles que possuíam condições, era de ajudar
os que não tinham. Ela aprendia que o ser humano precisava cuidar do
ser humano, senão nos destruiríamos debaixo de nosso egoísmo. Renata
viajou pelo mundo dos 13 aos 17 anos. Ela conheceu muitos lugares,
lugares pobres onde ela se doou, aprendeu diversas línguas e conseguiu
se formar. Era o ano de 2066 quando Renata voltou aos Estados Unidos.
Plumann conhecia a amiga mais de ouvir falar. Lembrava dela
como aquela menininha que chorava pela mãe e era simpática a todos.
Quando viu Renata, agora praticamente uma mulher, ele se apaixonou.
Ela tinha todos os traços de caráter que ele almejava numa mulher. Ela
era perfeita. Ela tinha quase a idade de sua primeira namorada, mas
tinha tudo que a outra não tinha. Era fiel a Deus e ajudava ao próximo,
e ainda algo a mais: com certeza Renata nunca ia deixá-lo. Era a mulher
que acreditava que Deus havia escolhido para ele. Ele iria tê-la, ele tinha
de fazer de tudo para tê-la.
Plumann começou a se aproximar da jovem, e se declarou. Disse
que era apaixonado por ela. Renata diz que queria apenas a amizade.
Gostava da companhia do rapaz, ele era uma pessoa ótima, mas ela não
conseguia sentir algo por ele. Renata começou a trabalhar com o pai
em eventos de filantropia. Plumann viu como uma oportunidade de
se aproximar da jovem, e convenceu Toth a deixá-lo trabalhar com isto,
organizando os eventos. Toth tentou dissuadir o jovem a desistir da ideia,
pois ele era um dos melhores pesquisadores em tecnologia limpa, mas o
jovem não desistiu. Foram seis meses de insistência até que Toth aceitou
o pedido do jovem. Ele começou a ajudar Renata na organização dos
eventos.
Plumann era sempre amigo e companheiro, tratava Renata
educadamente e era presente. Era prestativo com a moça. Os homens
sempre tratavam Renata com superficialidade. Ela não era assim. Era
difícil encontrar alguém que quisesse algo de verdade. Mas ela tinha
Plumann, mesmo não gostando verdadeiramente do rapaz. Ele começou
a conquistá-la, e sentindo-se sozinha, ela resolveu aceitar o convite para
sair com o rapaz. Sua educação e admiração quebraram os muros do seu
238
O Presidente
coração de Renata, e naquela noite quente de 2076, surgiu o primeiro
beijo dos dois. Para Plumann aquele foi o dia mais feliz da sua vida. Ele
agradecia a Deus por finalmente ouvir seus pedidos. Durante o tempo
todo que tentava conquistar Renata, ele dizia que Deus lhe “Abriria o
Mar Vermelho”. Ele tinha fé e esperança em tê-la, e todos seus pedidos
foram ouvidos. Ele ficava mais confiante que Deus estava cumprindo o
plano na vida dele. Renata era “A Escolhida”. Infelizmente para a garota,
não houve a mesma empolgação, apenas sabia que tinha alguém que
gostava dela e isto era bom, mas ela não sabia se aquilo iria para a frente.
Ainda faltava algo.
- Vamos para o Brasil. Disse Toth, para toda a sua equipe.
- O que teremos no Brasil? Perguntou Plumann.
- Bem, fará 10 anos que minha esposa faleceu, e eu quero visitar
seu túmulo, mas não quero perder a viagem, eu quero fazer inúmeras
coisas, senão vou ficar chorando naquele lugar. E além do mais quero fazer
uma festa de aniversário para minha filha. Tudo isto lá. Providenciem
isto para mim.
Durante as semanas que seguiram, antes da viagem, Renata se
sentia muito mal. Plumann não deixava a moça respirar, e os ataques
de ciúme eram constantes. Já fazia dois meses que Plumann bateu num
rapaz da igreja, pois ele mandava mensagens para o perfil social de
Renata, e Plumann acreditava que o rapaz dava em cima dela. Eram só
amigos, nem vida social Renata tinha mais.
Durante o vôo, Plumann segurava a mão de Renata, ele se sentia
feliz estando ao lado dela, mas ela era infeliz. Ela se sentia sozinha, e
pior, ela nem podia contar ao pai a situação. Ela tinha medo que Toth
mandasse o rapaz para a rua. Ele olhava para a namorada, mas ela só
olhava a janela. Ela começou a conversar com Deus.
- Eu não aguento mais meu Pai celeste. Eu me sinto tão vazia,
tão impotente. Esta semana estarei com 19 anos, e não tenho nada do
que comemorar. Queria tanto minha mãe ao meu lado. Eu me sinto tão
sozinha. Por favor, me envie um anjo seu pra me ajudar. Um anjo pra
me consolar, pra me fazer sorrir novamente.
239
O Presidente
Naquela terça-feira era aniversário de Renata. Renata havia
preparado o discurso do pai pela manhã, mas como não o vira, mandou
por e-mail. Ela sempre preparava, na esperança que ele fosse dizer
exatamente o que estava escrito, mas ele sempre falava outra coisa. O
presidente e o governador discursariam naquela manhã e nada de seu pai
chegar. Plumann estava preocupado. Renata ligou para Joseph.
- Onde está o Papai?
- Ele deu uma passada aqui na Toth Brasil. Precisava pegar algo.
- Por que ele não pegou ontem?
- Vai saber, seu pai faz tudo do jeito dele.
- Pede para ele correr, o governador vai discursar daqui 10
minutos.
- Vou fazer o chofer correr o máximo que puder.
Enquanto o governador discursava, Renata esperava seu pai. Ela
viu o chofer chegar, e saiu seu pai, Jéssica e um jovem. Ela achou-o
bonito. Era mais ou menos da sua idade. “Quem era ele?”, se perguntava
insistentemente. Toth chegou até ela.
- Papai, que atraso, vai lá pra cima, vai!
Toth ria da pressa da filha, e dizia pra ela ficar calma. Depois
que seu pai discursou ela conheceu o jovem que tanto a impressionara.
Chamava Leonardo, era médico e estudava o cérebro. Ele era bonito,
elegante, falava bem, e olhava pra ela de um jeito que nenhum outro
olhava. Ele transmitia segurança e carisma. Plumann percebeu que
Renata estava curiosa respeito do jovem que estava ali e decidiu se
apresentar. Achava que não havia problemas, Renata era sua. Pensava que
Deus a havia escolhido para ele, e nada lhe transmitia perigo. Plumann
conversou bastante com Leonardo e se impressionou com o rapaz.
Plumann, após isto, foi conversar com o governador, mas ficava de olho
em Renata, e percebeu algo diferente nela. Ela se sentia extremamente
à vontade com Leonardo, parecia estar muito feliz. Ele estranhou, pois
ela estava tão triste até agora, e de repente aquele “cara” a fazia se sentir
melhor. Ele começou a não gostar. Agora sua insegurança aflorou. Ele
percebeu que este tal de Leonardo poderia ser muito perigoso.
Plumann foi e chamou Renata para conhecerem o presidente
240
O Presidente
brasileiro, após cumprimentos e conversas, Plumann demonstrando
estar furioso, disse que ela não deveria conversar com Leonardo, pois
ela não sabia as intenções dele. Ele lembrou-a que Toth o trouxera mal
sabendo quem era o “cara” e eles não sabiam se era uma pessoa que
estava buscando se aproveitar.
- Téozinho, para de ser bobo. Eu conversei com ele o achei
ótimo.
- Você nem tem ideia de quem ele é Renata.
- Você está com ciúmes, você não tem jeito mesmo, né?
Plumann segurou forte no braço de Renata, a machucando, e
falando perto dela, lhe disse:
- Eu não quero que você fale com este cara! Eu conheço este tipo
de sujeito.
Renata puxou o braço para trás, saindo das mãos de Plumann.
- Então, é agora que eu vou lá falar com ele. Pare de agir como
um idiota senhor Theodore Plumann.
Renata foi em direção a Leonardo e o chamou para irem almoçar.
- Tudo bem, mas e seu namorado? Ele não vai ficar bravo?
- Ah, que namorado?
- Sinceramente Renata, eu sei o que você está fazendo e eu não
posso entrar neste jogo.
- Olha, senhor Leonardo, eu não aceito não como resposta.
- Mas de mim vai ouvir. Queria muito dizer sim, pois você é
uma pessoa incrível, mas não nestas condições. Na hora certa nós vamos
almoçar juntos sim. Eu espero o tempo que for.
Leonardo olhou bem nos olhos de Renata, e ela também. Havia
algo muito especial naquele rapaz, e ele estava inteiramente encantado
com ela. Ele finalizou a conversa:
- Renata, eu adorei conversar contigo. Fica aqui com meu
número. Depois a gente conversa, acho que vamos nos dar muito bem.
Renata ficou mais encantada com o caráter daquele homem. Ela
ligou para ele e começou uma grande amizade, para o ódio de Plumann.
Plumann tratava Renata como uma rainha, mesmo que ela fosse
241
O Presidente
muito ausente. Ele sempre era educado e até romântico. Ele era obcecado
por Renata e dizia que a amava como nenhuma outra, mas Renata não
sentia nada profundo por ele. Ela gostava muito dele, tinha um carinho
enorme, pois via nele um homem muito sincero e verdadeiro, mas ela
não via aquele sentimento igual ao que sua mãe havia tido por seu pai,
algo chamado de amor verdadeiro. Plumann era mais próximo ao seu
estilo de vida e ele estava perto, ele ia à igreja com ela e até fazia parte da
filantropia. Mas diferente de Plumann, havia alguém que a fazia sorrir, a
fazia se sentir mais livre. Só havia uma pessoa com quem Renata podia
ser ela mesma, podia ser verdadeira e este era Leonardo.
A amizade de Leonardo e Renata se tornou em admiração. Os dois
sentiam falta um do outro, oravam mutuamente e ficavam preocupados
um com o outro. Ele a amava, ela também o amava, mas escondiam,
com medo de perder a pura amizade. Leonardo discutia várias vezes com
Renata devido aos seus diferentes credos e ideologias, mas era algo mais
vivo, mais sincero, mesmo em discussões. Renata discutia com Plumann
apenas sobre os ciúmes dele, e nem eram discussões verdadeiras, pois
ela evitava criar casos. A pressão sobre a jovem era grande e ela queria
ser feliz. Quantas vezes o amigo brasileiro aconselhava-a. Quantas vezes
ela encontrava conforto em Leonardo, e foi ele mesmo quem ela foi
procurar quando decidiu por fim ao namoro com Plumann. Num ataque
de ciúmes, Plumann esmurrou um amigo de Renata, assinando o fim do
namoro. Ele nunca mais teria a namorada de volta.
Após o namoro de Renata e Leonardo, Plumann se tornou mais
obsessivo. Acreditava que teria a mulher de volta. Ele pensava que tudo
era um teste de Deus para sua vida. Ele não percebia que eram sinais
de que não havia mais volta. Durante aquele tempo Plumann achava
que sua felicidade só seria completa com Renata ao seu lado. Ele tentou
outros relacionamentos, mas só via a jovem em tudo. Ela tornava tudo
insuportável. Ele chorava, ele sofria, ele tinhas esperanças, mas elas eram
vazias.
No dia do casamento de Renata, ele buscou ir ao casamento e
se manifestar contra o casamento, pois seu ressentimento pela perda da
mulher amada era imenso. Plumann só não apareceu no casamento, pois
242
O Presidente
iria ser transmitido para todo mundo, e ele ficou receoso em humilhar
Toth pela TV. Plumann tinha muito apreço por Toth. Decidiu que iria
se amargurar, e foi para um bar. Nunca havia bebido. Foi quando ele
sofreu o acidente, de onde queria ter saído morto, mas milagrosamente
sobreviveu.
Clara estava no metrô. Os metrôs de Nova York eram os
mais rápidos do mundo. A jovem, que viera de uma pequena cidade
do Texas ganhar a vida nos Estados Unidos, estava cansada. Ela mal
havia dormido direito. Depois de um turno no Georgetown University
Hospital e estudar para o mestrado em Enfermagem, Clara dormia no
metrô. Quando ela acordou, tinha passado da estação. Ela desceu, e tinha
duas opções: Ir a pé ou pegar o metrô de volta. Clara decidiu ir a pé, pois
tinha medo de dormir de novo. Colocou seus óculos escuros, um dos
seus chapéus para proteger do sol, sua máscara para proteger da poluição
e foi caminhando. Ela colocou o fone de ouvido e achou alguma estação
de TV no seu relógio. Ao ver os canais, ela se lembrou que naquele dia
a filha do homem mais poderoso do mundo estava se casando com
um neurocientista. Naquela semana inteira todos haviam falado disto.
Ela dividia sua atenção entre a rua e a transmissão do casamento. De
repente, enquanto via o casamento, ela não percebeu o homem saindo
do bar todo desnorteado. Quando ela olhou para a rua, só viu o homem
se colocando na frente do caminhão. Ela ia gritar, mas foi muito rápido,
o caminhão acertou-o e ele voou a metros de onde estava. Ela tirou os
fones e correu em direção ao homem. Ela viu que ele estava morto.
Clara mediu o pulso e não sentia nada. Suas mãos estavam cheias de
sangue. Ela pediu para que um dos que estavam ali que chamasse uma
ambulância de seu hospital, dando-lhe o número e o nome da pessoa
com a qual deveriam falar. Ela procurou por algum documento pra
saber quem era aquele homem. Ela procurou alguma identificação. No
braço de Plumman havia um chip preso sobre a pele, com um código de
leitura. Por trabalhar no hospital, ela tinha como ler o ID de Plumann.
Nesta época estava se inciando o projeto de ID via chip no corpo.
Clara pegou seu iLed, onde tinha instalado o aplicativo de leitura,
243
O Presidente
e apareceu na sua tela o nome da pessoa, empresa em que trabalhava e
função.
- Theodore Plumann, Diretor de Pesquisas da Toth Corporation.
O que você estava fazendo hein senhor Theodore? Que louco!
Clara era católica. Ela pegou seu terço e começou a rezar por
aquele homem, visitando cada um dos mistérios do terço, chegou na
parte dos mistérios gloriosos, que simbolizavam, entre eles, a ressurreição
de Cristo. Ela rezava pedindo que Jesus trouxesse a ressurreição ao
homem, que ele pudesse viver, para que a alma dele não se perdesse (Clara
acreditava que a pessoa perdia a chance de salvação caso se suicidasse).
Enquanto rezava, ela fechava os olhos, mas os abria para conferir o tal
Plumann. Quando ela abriu os olhos ela viu o dedo mindinho se mexer.
Ela se assustou e mediu seu pulso, ele estava vivo. Era um milagre. Ela
cuidou dele até a ambulância chegar e o acompanhou. Por sua promessa,
ela cuidaria dele pessoalmente.
Toth foi ao hospital visitá-lo, mas Plumann estava inconsciente.
George Plumann foi visitar o filho. Ele ficava inconformado que o filho
pudesse fazer isto consigo mesmo. Ficou ali ao lado do filho lendo
alguns dos livros que gostava. De repente o filho começou a acordar.
- Onde estão todos?
- Fique calmo filho, é o seu pai aqui do seu lado?
- Pai? Ao meu lado? Eu já morri?
- Não! Você não morreu, nem eu. Estamos no hospital. Você está
vivo.
- Cadê a mamãe?
- Esta sim já morreu há um tempo filho.
- Quantos anos tenho?
- 33 anos, estamos em 2083.
- 2083?! Renata, cadê a Renat...
Clara chegou neste momento e ouviu as últimas frases antes de
Plumann dormir de novo.
- Ele está ainda perdido, precisa descansar mais.
- Coitado, hoje deve ter sido o pior dia da vida dele. Disse
244
O Presidente
George.
- Pelo contrário senhor, é o melhor. Pois ele está miraculosamente
vivo. Ele deveria ter morrido naquele acidente.
- Não digo por isto.
- Tem a ver com a tal Renata que ele chamou agora?
- Sim, a tal Renata que ele chamou é a Renata Toth, filha de
Jonathan Toth, que se casou hoje. Meu filho e ela eram namorados, e ele
ainda gosta muito dela.
- Ah, agora me lembro. Ele é o tal Ted que namorava com ela
quando ela era bem jovem. Eu já sabia que ele não me era estranho, eu o
vi nas revistas de fofocas.
- Isto moça. É ele mesmo. Eu sempre disse para ele se preocupar
com o trabalho e esquecer da moça. Mas ele sempre foi apaixonado por
ela. Agora só um amor pra esquecer outro amor.
- Deus te ouça!
Clara abaixou a cabeça. Ela passava por uma decepção amorosa e
aquilo falou fundo a ela. George teve de sair pois havia acabado o horário
de visitas e Clara continuou cuidando de Plumann. Num determinado
momento ela sentou do lado dele e ficou olhando aquele jovem todo
destruído. Quando se deu conta ele estava acordando. Ela olhou para
ele para ver se ele estava bem, e neste momento ele abriu os olhos e viu
aquela jovem enfermeira com seus olhos azuis como o céu num dia
ensolarado. Foi paixão à primeira vista. Clara explicou a Plumann o que
havia acontecido, mas ele sabia o que tinha acontecido. Ele perguntou
quem ela era, e ficaram conversando por um tempo. Ele fazia um esforço
enorme para vê-la, pois havia ficado encantado com ela, era linda demais.
Durante sua recuperação, Plumann e Clara se apaixonaram
um pelo outro. Mas a paixão de Plumann por Clara não era suficiente
para ele esquecer do amor que tinha por Renata. Ele nunca deixou de
amar a ex-namorada, mas Clara conseguia fazê-lo se sentir querido e
amado. Eles se casaram dois anos depois. Se Plumann soubesse que meses
depois de se casar, Renata estaria separada, ele nunca teria se casado.
Plumann se sentiu muito mal por ter sido tão precipitado, a partir deste
momento ele começou a ficar mais frio com a esposa. Ele a tratava bem,
245
O Presidente
não era grosso, nem insensível, mas nunca mais foi tão romântico e tão
sentimental como antes. Ela o amava, mas não tinha ideia do motivo
de seu distanciamento. Ela acreditava que fosse por causa da empresa.
Plumann e Clara tiveram um filho naquela época, e ele se dedicou
totalmente ao filho. Ele era um pai tão enérgico quanto o seu próprio pai
e incentivava o filho a estudar, este passou anos em internatos tentando
ser um dos melhores alunos.
Enquanto sua mulher se sentia sozinha e seu filho estava
distante, Plumann trabalhava cuidando dos departamentos de vigilância
espacial. Ele cuidava da Terra e do espaço próximo. Plumann conseguiu,
com astúcia, dar um término à Guerra da Turquia, descobrindo pelo
monitoramento cerebral o esconderijo de Gilbar Timur Yalín, ditador
turco que dizimou centenas de cristãos e budistas do país. Esta seria
a última guerra travada sob o comando da Toth Corporation, criando
quase duas décadas de paz. A estratégia de Plumann foi tão vitoriosa que
o departamento de monitoramento cerebral foi tido como prioridade.
Plumann se tornava poderoso na empresa e no mundo. Ele monitorava
parte do planeta, mas infelizmente ele não podia monitorar as pessoas
que queria por ordem direta de Jonathan Toth. Uma pessoa em particular
ele buscava saber os pensamentos, e esta era Renata. Ele gostaria de saber
se ela ainda pensava nele. Se ela havia deixado de amar Leonardo. Mas o
máximo que ele podia saber dela era monitorando seu marido.
Um dia, Plumann recebeu dois e-mails encaminhados pelo
Diretor de Monitoramento. Plumann abriu sua caixa postal e viu as
mensagens:
“De: Leonardo Silva ([email protected])
Para: Renata Toth ([email protected])
Domingo, 08 de Março de 2088, 15:37
Oi minha vida, Tudo bem com você? Fico tão feliz que tenha
voltado a falar comigo. Estou muito angustiado, não aguento mais isto
que está acontecendo aqui. Estou te mandando o e-mail da rede social
porque tenho medo de Plumann estar verificando todos os e-mails
da Toth. Renata, como eu te disse antes, o Plumann está louco. Você
246
O Presidente
sabia que ele monitora todo o mundo? Ele sabe o que cada pessoa faz e
pensa. Isto é uma loucura. Rê, se eu conseguisse falar com os diretores
eu conseguiria mostrar a insanidade desta ideia. Sabe meu amor, quando
eu pesquisei o código cerebral, não era para tirar a liberdade das pessoas,
mas para descobrir mais sobre o cérebro e a cura de inúmeras doenças.
Eu não sei o que fazer, eu me sinto culpado. Tudo isto destruiu a minha
vida, destruiu minha paz e me separou de você. Eu sinto muito a sua
falta...”
Plumann não quis ler mais. Ele abriu outro arquivo.
“De: Renata Toth ([email protected])
Para: Leonardo Silva ([email protected])
Segunda, 09 de Março de 2088, 12:05
Oi kirido. Que lindo o que você me escreveu. Vc é lindo! Te
adoro muito viu? Fiquei muito preoculpada com vc. Eu falei com ppai
e ele vai falar com os diretored da empresa. Amanhã é Ter-feira e vc virá
pra cá e irá se preparar. Quarta vc falará com todos os diretores. Plumann
estará lá. Ele ñ sabe de nada. Depois vamos almoçar juntos, viu? Não
fuja hein? Vamos orar pra Deus nos acompanhar. Dsculpe os erros de
digitação, ñ vai ficar me corrigindo depois, viu? Fica com Deus. sdd. Bj.”
Plumann olhou para o relógio e percebeu que Leonardo já
estava na Terra. Plumann pediu para que seu assistente descobrisse onde
Leonardo estava e que carro usava. Ele mandou chamar um engenheiro
de sistemas automotivos. Dada a localização do carro ele já tinha na sua
mão um sistema de freios modificado para não funcionar em curvas
sinuosas. Ele havia levado a um engenheiro de sistemas e pediu para que
o sistema falhasse em determinada curva. Para não levantar suspeitas,
Plumann disse que se tratava de um teste. O carro de Plumann entrou no
estacionamento da Toth Corporation às 15h. Passados quarenta minutos
o mesmo carro saiu daquele estacionamento. Durante todo este tempo o
sistema de freios do carro de Leonardo fora modificado para apresentar
defeito em uma curva que dava a seis quilômetros da Toth Corporation.
Plumann sabia que Leonardo passaria por lá, pois aquele era o único
caminho para o bairro onde Leonardo estava hospedado (Leonardo se
hospedou na casa de um dos seus antigos amigos de trabalho da empresa).
247
O Presidente
Muitas pessoas importantes da Corporação moravam naquela região. Tal
qual como Toth, Renata, e Leonardo já havia morado ali. Era um bairro
de alto luxo projetado pelo dono da empresa para a sua diretoria. Era
um bairro todo auto sustentável e era exemplo no mundo. Inclusive
Plumann morava lá. E aquele era um caminho obrigatório.
O chamado sistema de freios não era nada mais que um HD
que fazia ligação com toda a parte elétrica com os discos de freio. Ele
mandava os comandos para os freios funcionarem da forma correta.
Terminado o trabalho era só esperar.
Plumann chorou muito naquela quarta-feira quando soube que
Renata foi quem morreu naquele acidente. Ele havia sido o culpado.
Ele recebeu a notícia quando estava em seu escritório. Ele trabalhou
até tarde esperando para saber que Leonardo havia se acidentado.
Ele nem imaginava que o jovem pudesse morrer, mesmo sabendo
das possibilidades. Quando ele soube, ele ficou desconsolado, mas se
arrumou, e foi ao enterro. Ele não levou Clara e foi nesta atitude que
ela percebeu que o marido ainda tinha amor pela antiga namorada.
Ela chorou muito em casa, pois desconhecia aquele com quem casou.
Plumann chorou pela perda e, mais ainda, pelo remorso de ter matado
aquela a quem ele era apaixonado.
Plumann agora alimentava mais ódio de Leonardo, enquanto
este se sentia culpado por ter deixado a ex-mulher entrar no carro. No
enterro ele estava em uma cadeira de rodas, em frente ao caixão, se
despedindo da mulher que amava. Leonardo não precisava de cadeira de
rodas, mas estava tão abalado, que realmente não conseguia ficar em pé.
Plumann sentiu vontade de falar com Leonardo no enterro, pois sabia
que ele era o único que conhecia sua dor mas, ao mesmo tempo, seu ódio
pelo homem era enorme. “Por que ele colocou Renata naquele carro? Ele
é quem deveria morrer! Desgraçado!” pensava insistentemente Plumann.
O marido de Renata não foi ao enterro, pois em sua casa, sozinho, ele
decidiu tirar sua própria vida, se atirando da sacada do seu apartamento.
Uma família totalmente destruída em uma semana.
Plumann vigiava Leonardo, mas este não mais oferecia perigo.
248
O Presidente
Leonardo estava tão desconsolado com a morte de Renata que desistiu
de tudo, ia ao trabalho, mas em nada resolvia, pois ele parecia um zumbi
sentado em uma cadeira, destruído por dentro. Toth ajudava o jovem no
que podia, mas ele tinha uma responsabilidade maior: Josh. Foi quando,
perto do aniversário da morte de Renata, que Toth fez uma reunião com
Plumann.
- Bom dia Sr. Toth.
- Bom dia Ted, como você vai?
- Trabalhando muito.
- Bem Ted, eu não estou bem o suficiente para dirigir esta
empresa. Sem a minha filha, meu mundo ficou um tanto vazio.
- Muitos sofreram a perda da Renata. Eu mesmo sofri muito.
- Eu sei Ted, eu sei. Agora eu quero cuidar do meu neto. É a
única coisa nesta Terra que minha filha deixou. Eu quero me dedicar
100% ao meu neto, fazer as coisas como fiz com a Renata. Theodore
Plumann eu quero que você se torne o presidente da empresa.
- Mas Sr. Toth, o senhor possui credibilidade, respeito de todos
os funcionários, é amado por muitas pessoas, eu não sei se...
- Você não diga não. Eu não aceito outro não Ted.
Plumann percebeu que ele não havia sido o primeiro a ser
chamado para o cargo, mas para não criar caso, decidiu ficar em silêncio.
Anos mais tarde ele descobriria que Toth havia feito o convite a Leonardo.
- Eu aceito.
- Que bom.
Toth fez um sinal de alívio e já foi dando instruções.
- Nós vamos anunciar no início do próximo mês. Não vai ser
fácil. Estamos em um momento em que a empresa está sendo cobrada
por soluções no combate ao aquecimento global. Temos de reverter a
situação. Pois se não...
Plumann colocou a mão no ombro do amigo e, demonstrando
tranquilidade, disse:
- Nós vamos reverter, nem que eu dê minha vida por isto, nós
vamos salvar este planeta. Eu nasci para isto Toth. Vai dar tudo certo.
Os dois se abraçaram. Plumann foi dirigindo para casa todo
249
O Presidente
mexido por dentro. Ele estava entusiasmado e, ao mesmo tempo,
morrendo de medo. Ele havia chegado aonde nem seu pai poderia
imaginar. Naquele momento ele virou o carro no meio da avenida, quase
provocando um acidente, e dirigiu noite adentro até a pequena cidade
de Brockville. Já fazia cinco anos que não ia à pequena cidade em que
nascera. Viu as luzes acesas da cidade. Era início da manhã e todos já se
levantavam para mais um dia de trabalho. Quando virou a pequena rua
onde dava pra sua casa, começou a lembrar onde tudo tinha começado.
Sua infância e adolescência. Se lembrou de amigos, das competições de
tênis, das horas de estudo, das brincadeiras, mas ele teve de parar o carro
quando se lembrou da antiga namorada. Ela o fez lembrar Renata. Ele
seria presidente da empresa, mas tudo por culpa de um assassinato. Ele
era um assassino, mas ninguém sabia. Plumann abriu o porta-luvas do
carro e pegou o pequeno sistema de freios que tinha colocado no carro
de Leonardo. Estava todo amassado, destruído.
No dia após o acidente, Plumann foi lá e despistando a polícia,
roubou o pequeno objeto que o incriminava. Ele o guardava pois fazia
lembrar que tinha ido longe demais pra voltar. Plumann guardava, na
esperança inconsciente de que alguém descobrisse e o incriminasse, só
assim ele teria paz de espírito pela morte de Renata. Ele guardou o objeto
e disse pra si mesmo que se fosse por ele ninguém nunca saberia. Ele
andou com o carro e parou na pequena casa. A pintura estava diferente.
De repente ele viu o velho homem regando as plantas de frente da casa.
Ele abriu o vidro e gritou:
- PAI!
O homem olhou e viu o filho sair do carro e ir em direção a ele.
Eles deram um abraço bem apertado. Plumann olhou para o homem e
disse, cheio de orgulho:
- Pai, eu sou o novo presidente da Toth Corporation!
250
Em Nome de Deus
Em Nome de
DEUS
Capítulo 19
Sandra se apoiou na mesa enquanto via as ruas da Califórnia.
Ela estava entediada. Naquele dia não havia nenhum compromisso
e, por incrível que pareça, ela queria fazer algo. Enquanto olhava as
ruas e avenidas, ela vê um carro de luxo parando no estacionamento
do Hospital. Não era nada surpreendente, pois a todo o momento isto
acontecia, a não ser por um detalhe: Quem saía do carro era nada mais,
nada menos que July Palmer. Sandra se levantou, viu melhor, reconheceu
July e saiu correndo para a entrada do hospital.
Maasti tirou os óculos escuros e, quando adentrava o hospital,
percebeu os olhares atentos e felizes dos médicos, enfermeiros e
funcionários dali. Todos gostavam dela, sentiam-se bem ao lado dela,
pois confiavam nela e isto trouxe alegria imensa para a jovem. Ela entrou
e cumprimentou todas as pessoas e sentiu saudades do tempo em que era
líder no seu planeta natal. Maasti sentiu um forte desejo em desistir de
tudo e ficar na Terra, mas ela se lembrou que deveria salvar o seu povo,
custe o que custar.
- Sandra, por favor, venha aqui. Preciso de uma ajuda.
- Sim, dona July.
- Eu preciso do nome de todas as pessoas da nossa comunidade.
Quero que você me separe os civis dos militares.
- Você quer os que estão na ativa?
251
Em Nome de Deus
- Na ativa, na reserva, que lutaram na Guerra da Turquia,
qualquer pessoa que tenha patente.
- Ok. Farei isto dona July. Conseguiu resolver seus problemas?
- Não Sandra, consegui encontrar mais.
- Nossa!
- Vai lá ver isto pra mim e depois nós conversamos.
Depois de Leonardo contar, resumidamente, a história de
Plumann para seu pessoal, todos perceberam que aquilo se tratava de
uma guerra. Todos estavam entendendo porque Leonardo queria tanto
destruir Plumann e tinham medo do que o seu chefe pudesse fazer. Josh
saiu correndo para o quarto. Leonardo o seguiu. Ele bateu na porta e
Josh deixou Leonardo entrar.
- Não fique assim. Eu também fiquei muito mal. Na verdade eu
fiquei furioso com Plumann e comigo mesmo. Ele vai ter o troco dele.
- O que você fará com ele Léo?
Josh falava com um ar muito sério.
- Não sei, eu tenho vontade de acabar com ele.
- Você vai matá-lo?
- Meu ódio por ele se tornou tão grande que eu poderia matá-lo.
Eu quero matá-lo, acabar com cada parte dele.
- Mas Deus é justo. É dEle a justiça, não sua.
- Eu não acredito mais em Deus. A justiça dele não funcionou
comigo.
- Só há um problema Léo. Você acha que tudo acabou quando
a mamãe morreu, mas para Deus nada ainda acabou. Eu tenho motivos
pra desacreditar em Deus. Meu pai sempre me tratou com indiferença.
Eu perdi minha mãe e meu pai na mesma semana, perdi meu avô depois,
Jéssica foi presa e morei com um homem que só queria ter o que é meu.
Eu nunca duvidei de Deus. Eu orava e pedia pra Deus me livrar das
mãos de Plumann, eu sabia que Plumann acharia um jeito de me deixar
de escanteio. Eu ouvi cada coisa naquela casa, mas não podia fazer nada.
Eu só queria fugir, mesmo se tivesse de perder tudo. Nunca desacreditei
de Deus. Nunca reclamei, só implorava por ajuda. Um dia você apareceu
252
Em Nome de Deus
com Peter na minha vida. Nunca me senti tão bem desde que meu avô
morreu. Deus te colocou no meu caminho, não deixe que ele saia do seu
por ressentimento ou orgulho.
Leonardo queria chorar, mas seu coração estava duro. Ele
não queria ouvir. Ele tinha medo de acreditar. Leonardo tinha medo
de acreditar e depois ser frustrado novamente, por isto seu coração era
endurecido. Para mudar de assunto ele chamou Josh para ver a decoração
de natal em Manhattan. Josh ficou feliz. Eles andaram pelo centro daquela
maravilhosa parte da ilha e viram a cidade toda iluminada. Leonardo e
Josh passearam no memorial das vítimas do World Trade Center, visitaram
o MAE (museu de arte ecológica). Leonardo e Josh conversaram bastante,
ambos falavam muito sobre Renata, era o ponto em comum dos dois, e
era cada vez melhor saber da pessoa que eles amavam tanto. cada detalhe
sobre aquela mulher era muito bom para os dois. Eles pareciam que
viviam a mesma coisa. Leonardo tinha encontrado um bom amigo e Josh
encontrou um protetor. Num determinado momento da conversa, Josh
questionou se Leonardo havia gostado de alguém, depois de sua mãe.
- Não encontrei ninguém. Eu amo muito sua mãe, não sinto
vontade de ter mais ninguém.
- E a Maasti?
- O que? Leonardo engoliu um seco.
- Sim, a Maasti. Cara, cê já percebeu como ela olha pra você?
- Percebi sim, ela gosta de mim, me admira, mas eu não
consigo. Eu gosto demais dela, me sinto ligado fortemente a ela. É algo
inexplicável, mas eu só tenho olhos pra Renata.
- Meu, mas acho que você nunca percebeu a forma como você
olha pra ela.
- Eu?
- Você sim. Véi, na boa, é como se você se sentisse muito feliz
em estar do lado dela, e também com muito medo. Eu acho que você
deveria prestar mais atenção à ela. Meu, eu acho que existe alguém muito
especial na sua vida, do seu lado, mas você não está enxergando pois está
preso ao passado. A mamãe era maravilhosa, mas ela já se foi. Cara, tu tá
vivendo algo que não pode voltar mais.
253
Em Nome de Deus
Leonardo ficou impressionado com a sabedoria que Josh tinha.
Passou aquele dia refletindo em tudo que havia ouvido. Aquilo mexeu
muito no coração de Leonardo.
Plumann foi ao aeroporto e pegou seu filho mais velho,
George (Isto mesmo, Plumann colocou no filho o mesmo nome de
seu pai). Ambos conversaram e George demonstrou sua tristeza pelo
desaparecimento de Josh. Plumann confortou o filho, mas se sentiu
muito mais confortado ao lembrar que em pouco tempo as ações do
falecido Josh seriam dele finalmente e que ele anunciaria a descoberta
de Berta para todo mundo. Ele cumpriria seu destino em ser o salvador
do planeta. Tudo o que ele havia sonhado estava se tornando real. Eles
foram do aeroporto para o MetLife Stadium ver uma partida de futebol
americano. Lá jogariam o New York Jets contra o New England Patriots.
Plumann nem sempre gostou de futebol americano, mas decidiu conhecer
o esporte para esquecer de quando foi um exímio tenista. Ele se lembrou
de quando ia com o seu pai ver os jogos de futebol americano. Plumann
ainda se lembrou de Renata. Quando namoravam, ela insistiu para que
eles fossem assistir a semifinal da Copa do Mundo de Futebol de 2078
ali naquele estádio, recém reformado e tido com um dos maiores estádios
do mundo. Ali viram Brasil e Alemanha. Renata era fã de futebol, havia
herdado da sua mãe brasileira o gosto pelo esporte. Plumann não via
graça nenhuma, mas ficou ali ao lado da namorada vendo o Brasil ganhar
de 2 a 0 sobre a Alemanha. Ele não entendeu nada do jogo, ele gostava
mesmo de tênis. Mas os desejos de Renata eram prioridade. Pensar em
Renata o perturbava, então ele decidiu esquecer estes pensamentos.
Era o último dia de 2100 e um novo século estava radiando
no horizonte. Maasti estava estudando os nomes das pessoas conforme
Sandra havia lhe passado. Foi quando ela se lembrou de Patrícia. Ela
foi até o leito da menina, mas ela não estava ali. Algumas pessoas
faziam plantão e Maasti perguntou para uma das plantonistas sobre
a menina. A enfermeira disse que ela havia ido para a casa dos pais
para aproveitar o Natal, que ela acreditava que seria seu último. Maasti
254
Em Nome de Deus
ficou um pouco triste pela situação da garota. Ela foi até um canto,
apertou o seu comunicador de ouvido e disse para ligar para Leonardo.
Instantaneamente ela já ouvia a linha segura de Leonardo chamar.
- Oi Maasti, tudo bem?
- Tudo bem. Estou com saudades.
- Eu também sinto muitas saudades. E... como estão os planos?
- Eu já encontrei as pessoas que precisava. Preciso que você me
envie o aparelho de desmonitoramento.
- Eu vou te enviar. Peter levará para você e irá te ensinar como
usar.
- Pensei que seria você quem viria trazer.
- Eu tenho de preparar algumas coisas para começarmos com o
plano principal. Ainda mais tenho de ficar com o Josh.
- Você gostou mesmo do garoto, né?!
- Eu sempre quis ter um filho, agora estou vivendo um pouco da
sensação e estou adorando. Me faz lembrar Renata, é bom ter algo para
relembrar...
- Ah sei. Tudo bem. Nos falamos.
- Eu queria te falar uma cois...
- Tu... tu... tu... tu...
Leonardo olhou para o telefone estranhando o jeito estranho de
Maasti e foi conversar com Josh.
- Nossa, ela desligou na minha cara!
- Você deve ter falado alguma besteira.
- Não falei, te juro. Eu não sabia que em Berta também tinha
TPM. Eu imagino aquela tribo toda de TPM. Acho que é por isto que
elas vivem em guerra.
Leonardo e Josh riram muito. Josh continuou:
- Que maldade meu! É bem como o Adam diz: “Você é fogo!”
- Eu ia falar algo pra ela, mas deixa pra lá.
- Cara, o pessoal foi pra casa curtir a virada. Só ficamos eu, você
e Adam aqui.
- Sinceramente, eu não gosto desta época do ano, vou ficar de boa
lá na cozinha, vocês podem fazer o que quiserem, beleza? Aproveitem.
255
Em Nome de Deus
Os fogos pareciam uma artilharia de guerra. Todos comemoravam
o novo século. Plumann e sua família se reuniram com a família de
Clara e cantavam felizes a chegada do novo ano. Todos estavam felizes.
Nenhum deles imaginavam o que lhes estava preparado. Na mansão
Bregan, o clima era mais silencioso. Adam e Josh jogavam “Heroes of
Century”, um jogo em plataforma holográfica que os dois gostavam
muito. Ambos não ligavam para o réveillon. Leonardo estava na cozinha
da mansão, pensando na sua vida. Em tudo o que fez e em tudo que
faria. Ele começou a refletir sobre sua vida.
- Eu não tenho mais no que acreditar. Eu já acreditei muito em
Deus e olha o que deu? Eu estou desapontado com a vida. Eu não tenho
nada. Todos pensam que eu tenho alguma coisa, mas quem tem é um tal
de John Bregan. Nem uma identidade eu tenho. Eu perdi tudo. Quanto
mais eu ando, menos eu saio do lugar. Eu era tão especial, tão fiel e
dedicado. Hoje sou um lixo. Sinto que não há mais volta pra mim. Eu
sei que Deus pode me ouvir, mesmo sabendo que me odeia tanto e que
não liga mais pra mim. O que Deus fez com minha vida... isto eu não
posso perdoar, e por não conseguir perdoá-lo eu sei que meu destino é a
destruição. Isto se realmente Deus está por aí, pois parece que sumiu, me
abandonou e me jogou às traças.
- Só frustração, só dor e tristeza. Como pode uma pessoa viver
assim e ter esperanças? Como pode haver tanta dor e sofrimento e Deus,
que pode fazer alguma coisa, fica tão calado? Como Deus pode ficar
tão ausente? Eu não consigo entender. Antes eu entendia, hoje já não
consigo mais. Eu sei as respostas de tudo, mas não quero lembrar que
há respostas. Eu sei de muitas coisas, mas eu não vejo mais motivos pra
querer acreditar nelas. Sabe por que? Porque tudo que me fazia acreditar
na bondade e misericórdia divinas, que tanto ouvi, cri e preguei,
morreram junto com a mulher que eu amava. E o que me sobrou? Nada.
Se Deus ainda pode me ouvir, tenho uma bela notícia para Ele. Eu vou
matar Plumann e depois vou acabar comigo mesmo, porque não consigo
mais viver com o fracasso da minha vida. Infelizmente nem Ele poderá
me impedir.
256
Em Nome de Deus
Maasti participou do réveillon na pensão dos imigrantes que
trabalhavam no hospital. Todas se divertiam e riam. Maasti se sentia
tão feliz. Dentro dela havia uma luta. Por que deveria ela largar toda
aquela felicidade para ir para seu planeta natal? Ela se sentia tão amada
e querida. Não precisava procurar a batalha e a guerra. Ela temia ser
hostilizada, em sua volta pra casa. Ela sentia saudades de sua filha, mas
sabia que sua filha estava ali tão perto. Ela poderia resgatar a filha e
viver na Terra. Ela poderia viver o lado de Leonardo. Nem que ela tivesse
de dividir as lembranças com a tal Renata, ela poderia ser feliz ao lado
dele. Ela se sentia tão confusa. Ela teria de fazer um sacrifício tão grande
para salvar o povo dela, mas sentia que valia a pena, pois acreditava ser
este o seu destino. Ela queria desistir. Pensava em fazer tudo conforme
planejado, mas desistir na última hora.
Maasti olhava tudo em volta. Estava cheia de porquês. Ela orou
e agradeceu a Deus pelas pessoas tão boas na vida dela. Todas as garotas
que estavam ali na casa de Sandra sentiam falta de suas famílias. Haviam
croatas, russas, canadenses, venezuelanas, indianas, etc. Todas falavam
com suas famílias em seus respectivos países desejando um feliz 2101.
Maasti não podia falar com ninguém, nem com Leonardo. Ela o havia
visto no reveillón, quando moravam na Guiana, ela sabia que ele se
isolava totalmente. Ela decidiu ligar para Josh e conversou com ele,
desejando um feliz ano novo.
Josh se aproximou da cozinha. Leonardo olhou para ele e voltou
os olhos ao céu. Hoje, como na maioria dos dias, não conseguia ver a
lua por causa da poluição do ar. Os dias que a via eram raros. Josh disse
que Maasti havia ligado e Leonardo, surpreendentemente, virou os olhos
para o rapaz. Queria falar com ela. Ele estava sentindo a falta dela. “Algo
estava acontecendo” pensou Josh.
Leonardo pegou o telefone e viu o número. Por voz ele pediu
para o telefone retornar a chamada.
- Alô, Maasti?!
- Não, é a Sandra. Quem é Maasti?
- Desculpe foi engano. Tu, tu, tu, tu...
257
Em Nome de Deus
Leonardo suava. Como pôde ser tão idiota de chamar por ela
pelo seu nome. Ele decidiu desistir da idéia, quando o telefone toca.
- Alô?!
- Ai Léo, só você mesmo pra vir me procurar por Maasti. Você é
doido viu?
- Me desculpe “July Palmer”. Eu estava com muitas saudades.
- Eu também...
Leonardo e Maasti conversaram durante quatro horas
naquela noite. Eles conversaram sobre diversas coisas. Leonardo estava
descobrindo o quanto a jovem guerreira era incrível. Ela estava muito
feliz, e até assustada, pela mudança do homem na forma de falar com
ela. Pela primeira vez não falara de Renata, nem de seu passado triste.
O inverno de Janeiro era cada vez mais quente a cada ano.
Maasti saiu de seu apartamento na Califórnia e foi de carro até o
hospital. Ela sabia que seria muito difícil, pois era a última vez que veria
aquele hospital. Pensava que lá ela havia feito tantas amizades, ajudado
tantas pessoas, levado a mensagem de salvação a muitos, e tocado muitas
vidas. Hoje havia pessoas transformadas graças a sua dedicação. Tudo
aquilo se transformaria em lembranças. Maasti conversou com todas,
como se nada estivesse acontecendo. Chamou Sandra e disse que havia
lhe entregado uma mensagem eletrônica, que só lhe chegaria quando
ela tivesse ido embora. Lá estavam instruções de como deveriam ser as
coisas no hospital, na escola e na capela. Maasti pensava em tudo. Ela
arrumou suas coisas, fez backup de suas fotografias e deixou mensagens
com instruções. Ela estranhou quando viu um envelope vindo do Brasil.
A última vez que vira algo de papel, que não fosse sua Bíblia, foi na
Guiana. Ela abriu e viu uma carta e um envelope. Pelo nome percebeu
que era da mãe de Patrícia, a pequena moça com câncer com quem ela
tinha feito amizade. Na carta estava escrito:
“July, gostaria de agradecer toda a ajuda que você deu para
minha filha Patrícia. Na manhã do dia 4 de Janeiro, Patrícia faleceu na
nossa casa. Ela estava bem e lúcida. Durante estes últimos meses ele lia
a Bíblia e falava de um Deus que podia fazer milagres. Ela acreditava
258
Em Nome de Deus
que Ele podia curá-la, mas se não a curasse, ela agradecia por Ele ter se
mostrado na vida dela. Ela dizia a nós que você foi um anjo que Ele pôs
na vida dela. Ela dizia de você todos os dias. Ela te escreveu uma carta
que está no envelope. Hoje também estamos conhecendo o mesmo Deus
que você apresentou à nossa filha, e isto tem nos confortado. Muito
obrigada, Deus te abençoe”.
Maasti leu a carta da pequena Patrícia, e aquelas palavras lhe
deram força para prosseguir na sua missão.
Saindo do hospital, quase chorando, ela se dirigiu à clínica de
vida natural da região. Esta clínica pertencia ao hospital em que ela
cuidava. A clínica sempre estava em funcionamento, mas já havia 12 dias
que estava fechada para abrigar os “hóspedes” escolhidos por Maasti. Ela
parou o carro na portaria e o vigia, ao reconhecê-la, deixou-a entrar. Todos
que ali estavam não eram mais monitorados pela Toth Corporation,
mesmo assim possuíam o chip de monitoramento. Eles possuíam o ID
de outras pessoas e Adam hackeava o sinal destas pessoas e enviava o
sinal para o chip de todos. Eram estes pensamentos que a Toth recebia
em seus computadores. Por causa disto todos eram considerados pessoas
de vida normal, mas na verdade, estavam trabalhando para executar uma
guerra contra a empresa que os vigiava. Maasti estacionou seu carro e
desceu. Mary, que havia ido de Nova York para a Califórnia no dia
anterior, a esperava. Se cumprimentaram e foram ver os soldados.
Haviam centenas de homens e mulheres treinando no local
que abrangia a clínica. Aquele lugar, tido como um lugar de paz e
tranquilidade, agora havia se tornado num campo de treinamento.
Homens e mulheres corriam, se exercitavam, puxavam peso, lutavam e
faziam provas de resistência. Quando Maasti apareceu todos começaram
a parar o que faziam e se puseram em fileiras. Todos ficaram em sentido.
Maasti pediu que ficassem em posição de descanso. Ela começou a
discursar:
- Quero, primeiramente, parabenizar a todos vocês. Vocês estão
tendo coragem para lutar contra algo muito poderoso. Tem de haver muita
coragem para enfrentar algo que está além de nossas forças. Naquele dia
quando os desmonitorei, vocês escolheram deixar tudo que viviam para
259
Em Nome de Deus
servir por uma causa maior. Vocês aceitaram deixar sua antiga vida para
lutar pelo que é certo. Eu já dirigi vários exércitos, mas nunca um que
tivesse a opção de escolher como a que vocês tiveram. Eu tive de guiar
tanto guerreiras, como também pessoas acovardadas. Pessoas preparadas
e pessoas quem nem sabiam empunhar uma espada. Pessoas convictas
e pessoas simplesmente perdidas. Vocês me dão orgulho, pois todos são
bravos, corajosos e íntegros.
Maasti falava e fitava em cada pessoa, ela conhecia cada um dos
que estavam ali. Alguns estavam suados, outros estavam cansados, outros
com dores, mas todos olhavam atentamente sua líder.
- Em pouco mais de dez dias nos tornamos companheiros e
amigos, e eu sei que posso contar com a vossa lealdade. A batalha que
teremos de enfrentar é muito mais complexa. Vocês sabem que terão
de enfrentar a maior potência deste planeta. Vocês são poucos, mas são
numerosos em caráter. Vocês são um pequeno batalhão, mas dentro de
vocês há um exército poderosíssimo. Vocês são a minoria, mas confiam
em um Deus que é maior que tudo. Eu já preguei este Deus a vocês em
inúmeras vezes no púlpito da capela. Hoje peço que vocês façam algo
mais que ouvir. Eu quero que vocês experimentem o poder que alcança
o impossível. Eu liderei exércitos pelas minhas forças e fui vitoriosa,
imaginem então que agora que lidero com uma força que pode mudar
os eixos de qualquer planeta. Vejam nos meus olhos a fé que tenho. Se
apóiem em meus braços e não serão desapontados. Levem a força que
arranco da minha alma e vocês nunca estarão desamparados. Olhem
para o céu e vejam a salvação. Vocês trarão salvação à raça humana. Vocês
levarão salvação à minha raça, que vive em outro planeta. Eu lutarei ao
lado de vocês e nós seremos um. Uma só espada, um só braço, uma só
força, uma só rocha que destrói o que está à frente. Seremos grandes e
poderosos. Nos tornaremos gigantes, tudo isto em nome de Deus.
Todos exclamaram um amém. Eles conheciam Maasti pelas
palavras de poder que dirigia na pequena capela, mas nunca imaginavam
que ela havia sido general de um exército. Todos se dispersaram e foram
cada um para os seus afazeres. Todos teriam uma semana para se despedir
de suas famílias, pois dentro de poucos dias, teriam uma longa caminhada
260
Em Nome de Deus
pela frente. Alguns até acreditavam que, se tivessem realmente de lutar,
talvez nem voltariam mais para casa.
Plumann chegou ao “The Capital Hilton” em Washington.
Ele foi muito bem recepcionado pela equipe do hotel. Assim que foi
reconhecido, Plumman foi levado para o centro de convenções onde
seriam iniciada uma série de palestras. Seriam duas palestras, onde
Plumann encerraria com um discurso. Antony, que já estava lá desde
muito cedo, enviou para o seu iLed a palestra que Plumann discursaria,
toda corrigida. Também recebeu o folder de apresentação que foram
enviados a todos os dispositivos das pessoas que estavam ali. Quando
elas chegaram, na recepção, uma das promotoras enviava um arquivo
para o celular, iLed, booktab, relógio, ou dispositivo eletrônico que a
pessoa tivesse. Assim que terminasse a programação, estes arquivos seriam
apagados automaticamente por um sistema remoto.
Plumann viu o folder, e releu o que sabia. John Crogh, biólogo
e cientista molecular explicaria, de forma resumida, o planeta Berta,
condições climáticas, espécies conhecidas e o que cada um dos visitantes
enfrentariam sob condições hostis. Depois James Pitt, general do exército
pacificador da Toth na guerra da Turquia e agora General do novo exército
de tomada do planeta Berta falaria sobre os novos armamentos, sobre a
tomada da população de Berta e sobre como dominariam os habitantes
nativos para seres usados no trabalho de extração do Berlítio. Plumann
fecharia o ciclo de palestras dando-lhes as boas vindas ao projeto que
mudaria a história do mundo.
Górki Similova saiu de seu hotel e se dirigiu ao endereço que lhe
havia sido dado. Ele pegou um táxi e deu instruções ao taxista. O táxista
cheio de ânimo começou a puxar assunto.
- O senhor não é daqui né?! De onde você é?
Górki ficou em silêncio. O taxista olhou para trás para ver a cara
do rapaz.
- Deixe-me adivinhar. O senhor é da Croácia não é? Conheço
muita gente da Croácia que vem pegar meu táxi. O que o senhor faz na
261
Em Nome de Deus
Croácia?
- Eu não sou da Croácia. Eu gostaria de silêncio.
- Opa, mê desculpe. Acho que o senhor quer tranquilidade.
Então não deveria vir para este lado da cidade, aqui é uma loucura. Quer
um conselho, não vá ao Museu de Arte Contemporânea. Só coisa velha,
aquele monte de barulho...
- Qual parte do silêncio você não ouviu?
- Opa, calma. Tem de ter muita paciência por aqui viu? Você vai
precisar de ajuda aqui. Me diz, que lugares você quer conhecer? Eu posso
levar você
Górki impaciente com o homem, puxou de seu sapato uma
pequena faca e atravessando o braço pelo pescoço do taxista, colocou
a faca bem perto da garganta do homem. Sussurrando no ouvido do
homem, disse:
- Eu pedi silêncio, então me faz um favor? Fecha esta boca, ou
eu corto sua língua. Você escolhe. Entendeu?
O homem tremendo de medo, confirmou com a cabeça que
havia entendido. Górki o soltou e ele começou a correr o máximo que
podia. Não queria morrer tão cedo.
Plumann ouviu os discursos e foi à frente para finalizar o
encontro. Ele pegou do bolso um dispositivo eletrônico cilíndrico com
uma ponta virada fechando num bico. Na parte cilíndrica havia uma tela
e ele clicou na palavra “discurso”. Apontou para o olho e apertou um
botão na ponta, o mesmo fez com o outro olho. A partir de agora suas
lentes de contato passariam a transmitir seu discurso com se houvesse
uma tela na sua frente projetando o texto. A Toth Biotecnologia havia
desenvolvido, antes de TGlass, as lentes de contato eletrônicas. Conforme
o indivíduo desejasse, poderia mudar a lente para modo leitura, modo
à distância, autofoco, visão noturna, modo óculos escuros, visão 3D,
modo discurso, como também mudar a cor da lente na hora que quisesse.
Plumann se sentia satisfeito que a empresa em que era presidente, e agora,
praticamente dono estivesse extinguindo os óculos.
Depois de ajustar suas lentes ele pegou seu iLed e clicou no
262
Em Nome de Deus
botão “transferir à lente ótica” e começou a discursar.
- Primeiramente, quero agradecer a todos por aceitarem participar
deste maravilhoso projeto. O nosso mundo está sofrendo muito com o
erro da humanidade, e participar deste projeto é muito mais do que
as pessoas estão acostumadas. Este projeto é a mudança da história do
nosso planeta.
- A Toth Corporation sempre idealizou mudar o mundo. Quero
lembrar daquele que se tornou minha inspiração: Jonathan Toth. Ele
me levou a ver as soluções para o mundo e para a raça humana, com
bondade, astúcia de dignidade. Eu quero que vocês hoje se inspirem
em mim. Eu saí do nada e hoje sou dono desta empresa e prometo
que vocês, ao aceitarem este desafio, serão recompensados. E não serão
recompensados só com bens materiais, mas com honra. Vocês serão os
primeiros a formar um exército que vai dominar o universo. Não há
mais limites para vocês. Não há mais limite para o ser humano. Vejam
em mim o grande líder que salvará a humanidade da destruição. Fiquem
ao meu lado e vocês serão lembrados por séculos e séculos!
O taxista chegou ao lugar indicado. Górki lhe entregou o
dinheiro, e quando saiu do carro, o homem assustado levou seu táxi
para o mais longe possível. Górki atravessou as escadarias que davam
para o prédio e entrou no local. Perguntou para uma das recepcionistas
onde ficava o Centro de Convenções e ela lhe indicou onde era o local.
Ele caminhou pelo corredor e viu a porta que dava para o encontro. Ele
ouviu de longe uma voz que falava dentro daquele salão. Pensava que
estava atrasado. Ele chegou na frente da porta, respirou fundo e abriu-a.
- Eu, como presidente desta empresa estou convocando cada
um de vocês para que, hoje, façam parte da história. Não prometo que
será fácil, mas lhes digo com certeza, que seremos abençoados com tal
ato. Cada um de vocês lutarão pelo bem do nosso planeta. Conquistar
Berta é a maior conquista desde que dominamos o fogo. É a maior
conquista desde que descobrimos a eletricidade. Eu, como um homem
cristão, lhes digo que esta é uma luta divina, uma luta para a conquista
da sobrevivência de nosso povo. É nosso dever divino cuidar do nosso
semelhante, e é isto que faremos. É nosso dever divino salvar nossas
263
Em Nome de Deus
famílias, nossos amigos, nosso povo, nossa raça, e tudo isto faremos em
nome de Deus. Obrigado a todos.
Gorki ficou pasmo com o que viu. Ao abrir aquela porta, ele
se defrontou com algo que não esperava. Pensava se aquilo era uma
brincadeira, pois só poderia ser. Ele não entendia porque haviam lhe dado
o endereço para ir à Convenção de Arte Contemporânea em Chicago.
Furioso, ele tomaria satisfações com o próprio Theodore Plumann.
264
Revolução
“Não precisamos de nenhuma educação
Não precisamos de controle mental...
Todos são apenas tijolos na parede”
Pink Floyd
Revolução
Capítulo 20
Leonardo abriu os olhos na manhã do dia 20 de Janeiro de 2101.
Ele olhou para o teto de cor bege. Ele desceu mais o olhar e viu o lustre
do quarto. Ele sabia que aquela seria a última vez que veria aquele quarto.
Aquele dia era um dia muito importante para todos. Tudo tinha de dar
certo. Naquele dia ele prepararia sua vingança e sabia que seria o seu fim,
de uma forma ou outra. Depois de fazer o que tinha de fazer, não havia
mais sentido em viver.
Leonardo se levantou, coçou os olhos e pediu para o armário
três se abrir. Um menu com um teclado numérico apareceu na porta
do armário. Leonardo digitou sua senha. Seu armário se abriu e havia
uma coleção de armas ali, todas bem separadas. Ele pegou uma delas,
era uma arma de fogo. Uma pistola automática de 12 tiros de fabricação
inglesa, do ano de 2036. As armas de fogo eram raridades e muitos as
tinham como artigos de coleção, Hoje todas as armas eram de choque, de
pressão ou à laser. As armas à laser, mesmo podendo matar como as de
fogo, eram mais seguras, leves e faziam um “estrago” menor. Enquanto
as de pressão tinha um poder moral bem menor, as de laser não traziam
dor nenhuma. Leonardo precisava apenas de duas balas. Uma para usar
em Plumann e outra nele próprio, se tudo saísse como ele esperava. Ele
265
Revolução
mudaria tudo e depois teria de acabar com seu próprio sofrimento. Ele
nunca mais havia encontrado paz de espírito.
Plumann acordou e tomou seu café. Ele estava tranquilo. O
primeiro grupo do exército de exploração chegaria naquele dia à base
de Washington. Depois de semanas de treinamento, naquele dia a maior
parte dos soldados do segundo grupo seriam convocados. Eles haviam
convocado mais de cinco mil pessoas para servirem de apoio ao primeiro
batalhão de duas mil pessoas. Este primeiro grupo naquele mesmo dia
sairia da base e viajariam para a lua. Plumann recordava a ordem dos
eventos para não se perder:
- Eles vão para a base lunar, onde carregam os equipamentos para
a viagem. Depois disto eles pegam o vôo para Berta. Neste momento as
equipes de apoio chegam à lua e fazem os testes de adaptação e voam
diretamente para Berta também. Todos chegam por lá em três anos. Em
quatro anos, com certeza, temos uma nave saindo de Berta com um
carregamento de 17 toneladas de Berlítio. Até este momento eu já teria
anunciado o planeta Berta ao mundo e serei “O Cara”. As ações da Toth
aumentam e eu viro o dono do mundo.
Clara olhou para o lado e viu o marido falando sozinho.
- Meu bem, você está louco?
- Não. Só estou pensando um pouquinho no meu dia de hoje.
- Quem é Berta?
Plumann olhou para o lado. Pensava que era só o que faltava
acontecer.
- Não é isto que você está pensando. Berta é o nome do nosso
novo projeto.
- Ah tá. Vai dormir meu bem, hoje é domingo. Vai descansar vai.
- Não posso, eu tenho um monte de coisas a fazer hoje.
Plumann levantou da cama e tomou um banho. Clara não
conseguia mais dormir. Queria esperar o marido sair. Depois do banho,
Plumann voltou para o quarto e começou a se arrumar.
- Ted, você poderia levar o George na casa do Nicholas agora pela
manhã?
266
Revolução
- O que o George fará lá?
- Hoje tem aquele evento que o George vai. O Festival Mundial
da Paz.
- E quem disse que ele poderia ir?
- Eu disse, Ted. Você nunca está aqui, eu deixei-o ir.
- Não estou gostando desta ideia. Clara, eles vendem drogas
nestes shows.
- Calma Ted! Nosso filho tem princípios. Deixe ele ir, vão muitas
famílias também. Vai acontecer um show em cada grande cidade do
mundo. Depois, no final do show, eles vão caminhar pelas avenidas até
os grandes símbolos do mundo protestando sobre paz e justiça. Aqui em
Nova York vai terminar no memorial do WTC.
Enquanto abotoava a camisa, Plumann começou a pensar
consigo mesmo: - Foi por isto que o general insistiu que o que as tropas
partissem hoje? Assim ninguém notaria o lançamento das naves.
- Meu bem o que você falou?
- Deixa pra lá, estou falando sozinho de novo.
Clara arrumou a gravata de Plumann e ele lhe beijou a testa.
Ela, diferente dos outros dias, lhe segurou a face e lhe deu um beijo
apaixonado, como não se beijavam a anos. Ele ficou surpreso. Ele deu
um sorriso à mulher e foi para o prédio da Toth.
Leonardo escovou os dentes e desceu as escadas da mansão.
Todos, menos Maasti que estava chegando, esperavam por ele. Ele se pôs
à frente deles e começou a dar as instruções finais.
- Como vocês sabem, hoje termina nosso trabalho destes últimos
anos. Aqui nos despediremos. Josh, você já é maior civilmente. As minhas
ações da Toth Corporation eu estou dando a você, tanto quanto as das
Indústrias SB. Peter Johnson será seu tutor, tudo que você precisar ele vai
te ajudar. Eu confiei nele por anos e você poderá confiar nele também.
Quando tudo terminar, você será o dono de tudo. Mary, eu quero que
você limpe a mansão e cuide das finanças da SB Industries e da Toth
Corporation assim que Josh se pronunciar. Juan, você vai ficar com o
trabalho de limpar o nome da Toth Corporation e cuidar de todas as
267
Revolução
entrevistas de Josh como novo dono da empresa. Adam você será diretor
geral de cibernética e informática da Toth Corporation. E quero um favor
especial de você. Quero que você destrua o setor de monitoramento. Não
quero mais ninguém monitorando os pensamentos dos outros. Josh, se
encontrarmos Jéssica com vida, ela será a nova CEO da empresa e ao teu
lado vocês farão o futuro do nosso planeta.
- E quanto a você, Léo?
Neste momento Maasti, que estava fora, chegou e todos a
cumprimentaram, mas voltaram os olhos para Leonardo, esperando uma
resposta. Leonardo olhou para Maasti com vergonha do que iria dizer.
Olhou para sua equipe e disse:
- Eu vou com Maasti até Berta, ajudá-la nas negociações com o
povo dela, e voltarei com o Belítio que conseguirmos com a cooperação
dos bertinianos. Bem, tirando ela, eu sou o único que sei falar a língua
deles.
Todos riam enquanto Leonardo olhava para Maasti e ela
encontrava seu olhar. Ela sabia que ele estava mentindo, e sabia que ele
não voltaria.
Plumann chegou no seu escritório e conversou com o General
Pitt sobre os preparativos. Pitt informou que enquanto houvesse o
Festival Mundial da Paz, as tropas sairiam em duas naves que iriam
para a base lunar. Assim que terminou a ligação com o general, Antony
apareceu na sua sala.
- Bom domingo, Sr. Plumann.
- Bom domingo. Antony, me desculpe te trazer aqui hoje, mas
como você sabe, o general escolheu hoje para o lançamento e eu vou
precisar de você. Pois hoje também temos de discursar para cinco mil
jovens soldados que estão reunidos na nossa base militar.
- Sr. Plumann, há um homem que está aqui na empresa desde
ontem e ele insiste em falar contigo.
- Quem é ele Antony?
- Ele não quis dar o nome.
- Se ele não der o nome, eu não posso me encontrar com ele.
268
Revolução
Diga para dar o nome, ou então que vá embora. Agora eu preciso de
privacidade.
- Falarei com ele.
Antony saiu e Plumann sentou em sua poltrona. Ele ainda
tinha o gosto do beijo de Clara. Ela estava usando o mesmo batom que
Renata usava. Deu um saudosismo em Plumann e ele decidiu visitar
a única coisa que possuía de Renata. Ele foi até o seu cofre, que ele
visitava semanalmente, mas apenas para averiguar. Dificilmente mexia
no conteúdo. Digitou sua senha e pôs sua digital, assim o cofre se
abriu. Ele viu o anel de Jonathan Toth. Nem lembrava mais que possuía
aquele anel. Colocou no dedo e dizia consigo mesmo que agora ele era
o novo “homem do planeta”. Havia algumas jóias, que ele guardava
para segurança pessoal e viu seu HD. Ele pegou a caixa que estava lá e
quando a abriu, ele ficou branco. Algo estava errado. Faltava o saco com
o sistema de freios do carro de Leonardo. Ele procurou de novo. Não
se lembrava de ter tirado do cofre. Ele olhou em suas gavetas e não o
encontrava. Chamou por Antony.
Enquanto Antony voltava, Plumann estava atordoado pois se
alguém havia aberto seu cofre, poderia ter tido acesso ao conteúdo do
HD. Seu futuro estava em apuros. Antony chegou.
- Antony, me responde com sinceridade. Você abriu meu cofre?
- Não, Sr. Plumann. Eu nunca faria ist...
Plumann voou na frente do assistente e com fúria lhe perguntou
novamente. Antony negou que tivesse aberto o cofre, dizendo também
que nem sabia que havia um cofre ali naquela sala.
- Então quem foi?
- Não tenho a mínima ideia. Quem poderia ter vindo aqui, se esta
sala é totalmente vigiada? Qual foi a vez que esta sala esteve desprotegida?
- Nunca! Sempre há os seguranças na porta e quase dez pessoas
vigiando aqui do lad...
Plumann parou um instante.
- O dia da reunião.
- Qual reunião?
- O dia em que eu almocei com o assistente do Bregan e acabei
269
Revolução
passando mal depois. Todos os seguranças foram para o hospital e o
chefe de segurança veio aqui verificar as gravações. Antony, quero que
você me traga Jack Nicholas aqui e agora!
- Sim senhor.
Leonardo se despediu de todos e chamou Adam para uma
conversa reservada.
- Adam, eu preciso de você até o fim. Você, na hora certa vai
passar este vídeo. Em hipótese nenhuma você deve parar este vídeo. Ele
deve ser passado em seu todo. Você faz isto por mim?
- Com certeza Léo.
Eles se abraçaram.
- Léo, eu voltarei a vê-lo?
- Não Adam. Me desculpe.
Maasti olhou para Leonardo e lhe chamou. Tinham de ir. Eles
desceram o elevador até o subterrâneo e lá estavam as máquinas. Maasti
olhou para Leonardo e disse.
- Nós vamos de que?
Leonardo olhou para ela e lhe respondeu:
- Hoje é meu último dia aqui! Então vamos de Ferrari!
- Eu nunca andei de Ferrari. Disse Maasti.
- Então aproveite bastante. Porque Berta não tem uma belezinha
desta. E além do mais você irá bem acompanhada.
Maasti sorriu pra ele. Eles entraram na recém comprada Ferrari
Nouva Sensazione 2100. Leonardo abriu a porta da garagem e saiu a toda
velocidade. Ele dirigia quando Maasti lhe tocou a mão, ele permitiu e
lhe respondeu segurando a mão dela quando pararam no sinal vermelho.
Ela tinha de aproveitar cada momento pois sabia que provavelmente
nunca mais se veriam. Maasti durante o caminho tentava persuadir a
Leonardo abandonar o plano de destruir Plumann e si próprio. Mas ele
era irredutível. Ela buscava lhe convencer que poderiam ser felizes juntos.
Mas Leonardo mudava de assunto. Ele já havia tomado sua decisão.
Leonardo parou o carro em uma casa que alugara quinze dias
antes. Eles desceram do carro e se vestiram. Colocaram uma roupa
270
Revolução
militar, colocaram chips de identificação falsos na nuca e pegaram suas
bolsas, onde haviam armas à laser. Leonardo levava amarrada na sua
coxa a pistola carregada. Maasti levava num fundo falso 250 cápsulas do
antídoto para radiação de Berlítio feito a partir de seu próprio sangue.
Eles fecharam a casa e atravessaram a rua. Rua esta que dava na base
militar da Toth Corporation. Eles se identificaram no portão de acesso
e quando o leitor de chips confirmou, eles entraram. Agora eram do
exército militar de exploração de Berta. Os dois sentaram um ao lado
do outro. Até tudo estar acabado agora eram Samantha Oregon e Gorki
Similova.
O jovem estacionou sua van no Central Park. Estavam esperando
o equipamento de vídeo final. Clair olhou para o jovem e lhe perguntou:
- Quem é você?
- Meu nome é Robert. O seu amigo Thomas não pode vir, ele
pediu que eu viesse no lugar.
- Você, pelo menos, sabe operar o equipamento.
- Opa, sou perito nisto. Pode contar comigo.
Todo o pessoal ficou aliviado. Eles teriam de montar os
computadores. Em uma hora começaria o show e todos estavam
preocupados com o atraso. O Festival Mundial da Paz não podia atrasar
sob nenhum aspecto. Dali de Nova York seria transmitidos algumas
das partes do evento para os outros palcos do mundo. Robert conectou
todo o sistema de informática, testou-o e estava tudo em ordem. Ele
pegou uma placa de oLed, por ela ele entrou no sistema que dava para o
seu banco de dados virtual. Lá ele podia olhar depois de “Login” o seu
verdadeiro nome: Adam.
Adam digitou a senha e virtualmente os arquivos dele foram
se mostrando. Ele desceu até encontrar um arquivo de vídeo nomeado
“Caixa de Pandora”
Jack Nicholas almoçava em sua casa. Em menos de uma hora o
pessoal da empresa chegou e tocaram a campainha. Sua mulher estranhou,
pois não esperavam visitas. Jack pediu para ela continuar o almoço e foi
271
Revolução
atender. Quando abriu a porta, ele ficou surpreso. Os homens disseram
que ele deveria acompanhá-los até a sede da Toth pois Plumann queria
vê-lo. Ele avisou à sua mulher que teria de sair e que voltava logo. Deu
um beijo nela e acompanhou os homens.
Quando Jack chegou, Plumann, junto com sua equipe
acompanhavam o lançamento da nave para a base lunar. Ao saber da
chegada do funcionário, Plumann abaixou o volume da TV. Jack via
que Plumann suava e parecia estar muito desgastado. Parecia que tinha
acabado de sair de uma maratona. Jack perguntou o que Plumann queria
com ele, e e foi-lhe questionado sobre quem havia aberto o tal cofre. Jack
afirmou que não sabia sobre o caso.
- Jack, por que você veio aqui naquele dia?
- Qual dia?
- No dia em que tive uma reunião com o pessoal de Bregan e
passei mal.
- Sr. Plumann, eu nunca vim aqui desde o dia que instalei o
sistema de vigilância há quatro anos.
- Mas os seguranças disseram que viram você vir aqui, fizeram a
identificação.
- Não fui eu.
- Antony, chame os seguranças.
Clemente havia vindo da Argentina, Anna vinha da Letônia,
George da Inglaterra, João do Brasil, Marie da França, Tabatha do
Canadá, Mayla da Espanha, Beth da Irlanda, entre muitos outros jovens
estavam em Nova York. Era o maior Festival jovem do mundo. Eles
se divertiam ao som de inúmeras bandas. Todos ficaram empolgados
quando jovens como eles cantavam e pregavam não só a paz, mas como a
sustentabilidade, o amor e consciência de um mundo melhor. Em outras
partes do mundo jovens pregavam um mundo melhor. Em algumas
cidades os shows eram regados de músicas que pregavam sobre Deus,
em outras todos se deliciavam ao som de clássicos do rock, do pop e de
música eletrônica. Todos queriam um mundo melhor. Todos cantavam
músicas e se abraçavam. Alguns bebiam demais e eram levados carregados,
272
Revolução
mas eram poucos os casos, já que era proibido bebidas alcoólicas nos
locais. Muitas famílias iam pintadas, com posters e cartazes. A música
tocava em todo o mundo, cada um com sua cultura e seus costumes.
Todos estavam felizes, até o momento que a música parou no mundo
todo. No telão apareceram em letras bem visíveis escrito: “Você é livre?”
Enquanto a nave voava em direção à Lua, Leonardo e Maasti
seguraram um a mão do outro, ficaram assim até entrarem em órbita.
Maasti olhou para Leonardo e lhe disse:
- Lembra daquele dia que chegamos aqui?
- Lembro sim, foi muito especial. Ele deu um sorriso para ela.
- Talvez nunca mais nos veremos né, Léo?!
- Não. Acredito que não.
- Que pena. Mas de todo o seu plano, tem uma coisa que não
consigo entender ainda.
- O que?
- A gente fez toda uma operação pra conseguir um HD de
Plumann. Léo, o que havia naquele HD?
- Ah, eu não te contei mesmo. Vamos lá... bem, quando trabalhava
com o início do projeto do monitoramento cerebral, Toth veio conversar
comigo. Ele estava com medo. Ele tinha medo que algo lhe acontecesse.
Eu tentei lhe convencer que aquilo era bobagem, coisa da cabeça dele.
Ele pediu que eu fizesse algo por ele. Eu lhe respondi que faria qualquer
coisa pra ele, pois o considerava como um pai. Maasti, ele me pediu a
pior coisa do mundo. Ele me pediu para monitorá-lo.
- Monitorá-lo? Por que ele queria que você o monitorasse?
- Depois que ele me explicou, eu pude entender. Ele tinha medo
que tudo que ele tinha ou soubesse pudesse ser perdido. Ele pediu para
que eu lhe monitorasse fora do sistema da Toth, todos seus pensamentos
e tudo que lhe acontecesse ao redor. Ele queria registrar e guardar tudo,
caso acontecesse algo com ele. Ele queria deixar seu legado para seu
herdeiro. Seria seu diário particular. Eu fiz como ele me pediu. Naquele
dia eu tive de implantar um chip na nuca de Toth. Me doeu muito fazer
isto, pois eu tinha nojo de estar fazendo aquele tipo de trabalho e agora
273
Revolução
teria de fazer isto com o homem que me acolheu, me deu a mão da sua
filha e era meu melhor amigo e pai.
- Maasti, eu cortei a pele da nuca dele. Igualzinho como fiz
contigo naquele dia. Eu implantei um chip nele e ele estava sob meus
cuidados agora. Tudo era enviado para um computador onde só Toth, eu
e Jéssica sabiam. Jéssica deve ter contado sobre o HD a Plumann quando
eles a torturaram.
- Espera, se o computador recebia tudo de Toth, então quando
ele se foi...
- Exatamente! O assassinato de Toth também foi registrado, e
era por isto que eu precisava do HD. Agora eu tenho a prova da minha
inocência. Falando nisto, a este exato momento, no Festival Mundial da
Paz, Josh vai desmascarar Plumann para todo o mundo e se pronunciar
como novo dono da empresa.
Antony chegou com os dois seguranças. Plumann perguntou
para cada um deles se eles conheciam Jack Nicholas. Ambos responderam
que não. Plumann começou a suar mais, ele estava fora de si. Alguém
havia entrando na sua sala e ele poderia estar em problemas. Ele tentava
se lembrar daquele dia. Começou a repassar tudo que havia acontecido,
e se lembrou de Peter Johnson. Aquele tal de Bregan estava envolvido
de alguma forma. Como tudo poderia ser coincidência. Plumann pediu
para Jack descobrir tudo sobre John Bregan. O homem queria tomar
conta da Toth Corporation acima de tudo. Plumann disse que precisava
ficar a sós com Antony.
Quando todos saíram, Plumann limpou o rosto e olhou de
relance para a TV. Ele não podia crer o que estava passando na televisão.
Chamou Antony, e este ficou pasmo com o que estava vendo.
- Maasti. Você sabe qual é a diferença entre revolta e revolução?
- Não. Me conte.
- É uma diferença muito tênue. Revolta faz parte de um
sentimento momentâneo de buscar fazer o que é correto. Revolução é
uma forma racional de mudar as velhas concepções.
274
Revolução
As pessoas presentes no Festival Mundial da Paz fitavam
atônitas o telão, enquanto este passava imagens que eles nem podiam
imaginar. Primeiramente cenas da Toth Corporation e de todo o
processo de monitoramento cerebral. O mundo todo naquele momento
assistia pessoas tendo chips implantados na parte de trás de suas cabeças
e logo em seguida salas cheias de vidros onde eram transmitidos seus
pensamentos. As pessoas começaram a colocar a mão nas suas nucas,
como se procurassem os chips. Passavam os dedos sobre a parte de trás
de suas cabeças e todas pareciam sentir aquele pequeno objeto, como se
estivesse à mostra. Elas estavam perdidas. Não sabiam se aquilo se tratava
de uma brincadeira ou de algo realmente sério, em poucos minutos suas
dúvidas seriam sanadas.
- Maasti, pra você entender melhor, vou fazer uma comparação.
O revoltado é como um tambor que toca de todas as formas pra chamar
a atenção, mas acaba sendo barulhento e irritante. O revolucionário é
como uma percussão que toca o mesmo ritmo infinitas vezes, fazendo
que aquele som seja tão agradável que ninguém possa se abster de sua
presença.
Enquanto as pessoas se perguntavam umas às outras sobre o que
estava acontecendo, um jovem sai da multidão, sobe ao palco e, com um
microfone na mão, começa a explicar.
- Boa tarde a todos vocês. Eu sei que vocês estão assustados. Por
favor, se acalmem. Meu nome é Josh Toth...
Todos ficaram espantados. Acreditavam que o pequeno Josh
estava morto. Repórteres entravam ao vivo, cobrindo o acontecimento.
Plumann quando viu Josh, se levantou e bateu tão forte na sua mesa, que
sua mão ficou ferida, enquanto gritava:
- Maldito moleque!
Josh continuou seu discurso:
- Eu sou neto de Jonathan Toth, e a partir de hoje sou dono
da Toth Corporation e da SB Industries. O que vocês viram não são o
275
Revolução
legado do meu avô, mas sim, de um homem ganancioso, cruel e vaidoso.
O nome dele é Theodore Plumann. Plumann desenvolveu e criou este
trabalho de monitoramento e leitura cerebral por anos e vocês nunca
ficaram sabendo disto. Ele tem enganado a todos nós por muito tempo.
- Maasti, revolucionar é fazer e dizer às pessoas algo tão poderoso
que elas não poderão deixar de ouvir sua voz. Elas não poderão deixar de
agir.
Josh apontou para o telão e disse:
- Este é o homem mais poderoso do mundo. Olhem!
Todos viram Plumann no quarto de Toth. Todos viram sua fúria
quando enforcava o antigo dono da empresa. Todos viram suas mãos
sujas de sangue. Viram seu desespero e sua frieza. Sua fúria e arrogância
ao matar aquele a quem tinham respeito e admiração.
- Este homem que se julga salvador do mundo matou o meu
avô, não Leonardo Melo Silva. Hoje ele não pode mais ser o homem
mais poderoso do mundo. Hoje nós somos mais poderosos, e temos
em nossas mãos a chance de mudar esta injustiça. Vamos marchar agora
para o prédio da Toth Corporation. Eu vou invadi-lo e tomá-lo de volta
para mim, e trazer Plumann preso. Mas não vou sozinho, vocês irão
comigo. Esta luta é nossa. Nós precisamos que a justiça seja feita e ela
será. Nós não precisamos de controle mental. Nós somos livres. Deus
nos deu liberdade, não correntes. Deus nos deu mãos para lutar pelos
nossos princípios e ideais. Marchem comigo! Vamos! Onde você estiver
no mundo vendo isto, marche! Hoje é o dia de fazer uma revolução na
história deste planeta!
Todas as pessoas começaram a acompanhar Josh que ia para o
prédio da Toth Corporation. Plumann, sabendo que tudo isto estava
acontecendo, solicitou imediatamente seu helicóptero, mas demoraria
muito. Plumann decidiu fugir de carro. Antony persuadiu a Plumann
a tomar algumas atitudes com o intuito deste preservar tudo que ainda
tinha. Depois disto Plumann partiu. Quando chegou na recepção do
prédio da Toth, Antony ficaria para cuidar do que tinha sobrado da
276
Revolução
empresa. Plumann pediu para que este solicitasse sua nave, pois fugiria
para a lua. Plumann queria acima de tudo salvar o planeta. Ele já não
conseguia compreender o que estava acontecendo. Ele era o salvador do
planeta. Era a missão de Deus que ele trouxesse a esperança ao mundo.
Ele estava desconsolado.
Ao atravessar o saguão, Plumann viu um homem correndo em
sua direção. O homem insistia que precisava falar com ele. Os seguranças
de Plumann pediam que o homem se afastasse, mas o homem insistia.
Sem paciência, o segurança deu um soco no olho do homem, cortando
seu supercílio. O homem, sem entender a grosseria, chamava Plumann.
Antony tentando entender porque o homem queria tanto falar com o
chefe, o ajudou a levantar.
- Eu estou desde ontem tentando falar com ele. Dizia o homem,
olhando o sangue que saía do rosto.
- O que você tanto quer falar com ele? Quem é você?
- Meu nome é Gorki Similova. Eu recebi uma convocação desta
empresa, em nome de Theodore Plumann, mas quando fui no local
indicado, era um encontro de Arte Contemporânea.
- Como? Eu lembro do seu nome. Eu fiz os convites, o endereço
era em Nova York.
- Eu recebi este, mas depois me mandaram um outro retificando
o local para Chicago.
- Não pode ser. Alguém sabotou nosso exército. Preciso falar
com Plumann.
Antony tentou ligar para Plumann, mas este havia desligado o
celular para evitar ligações da imprensa.
- Léo, se você queria pegar Plumann e ele vai acabar sendo preso
na empresa, por que você decidiu ir para a Lua comigo? Não entendo o
tipo de vingança que você quer fazer.
- Eu conheço Plumann como a palma da minha mão. Ele não
será capturado. Ele primeiro vai para a casa dele e depois fugirá para a
base da Toth Corporation. Plumann possui o mesmo sistema de segurança
que meu antigo sogro tinha. Em casos de fuga, uma nave sempre estava
277
Revolução
preparada ali. No caso de Toth, ele possuía a ilha na Guiana. No caso de
Plumann, sua fuga é para a base lunar.
- Lá ele possui todo um sistema onde pode comandar o mundo
de uma sala. Ele, ao lado do centro de monitoramento cerebral, ele
consegue controlar o mundo a partir dos pensamentos das pessoas. É
para lá que ele vai, pois ele sabe que assim que trouxer o Berlítio para
o nosso planeta, ele pode barganhar o seu perdão. Ele busca comprar o
planeta.
- Então é lá que você o pegará? Então a revolução é só pra ele
fugir?!
- Minha querida, não é só isto. Eu criei o centro de
monitoramento e sei como funciona. Os computadores são ajustados
pra procurar determinadas palavras-chave em regiões específicas. Não se
pode ler tudo, do mundo todo, de uma vez. São 12 bilhões de pessoas,
não há capacidade. Pode-se apenas fazer um filtro, por isto há centenas de
profissionais. Cada um cria centros de filtragem de pensamentos. Mas...
existe um coisa que o computador analisa em âmbito mundial. Você
pode ser do Zimbábue, da Holanda, da França, do Brasil, ou seja lá de
onde for, se houver alguma pessoa dizendo ou pensando em “Destruição
da Toth Corporation”, “Sabotagem da Toth Corporation” ou algo do
gênero, os computadores reconhecem e acusam. Chama-se de “Sistema
de Autoproteção”. Agora Maasti, imagine centenas, milhares de pessoas
pensando na mesma coisa que nós. Serão centenas de pensamentos
detectados pelo sistema e ele vai entrar em colapso e se desativar. Adam
colocou um vírus no sistema, que não pode ser detectado, pois está
inativo. Mas este vírus é ativado quando o sistema cai. E este é o único
jeito do sistema cair. Quando o vírus entrar em funcionamento, todos
os dados serão apagados. O sistema de monitoramento será destruído.
Plumann perderá sua maior arma
As ruas de Nova York, pareciam um campo de guerra. As pessoas
quebravam e saqueavam muitos lugares. Jovens pichavam as paredes,
protestando contra Plumann e a Toth Corporation. Muitos que não
estavam no festival, mas viam da televisão, correram em direção à sede
278
Revolução
da empresa. Era um exército marchando. Plumann, que estava preso no
trânsito, via algo que parecia o Armageddom. O carro em que estava não
era oficial, era o carro de um dos motoristas. Ninguém desconfiava que
ali estava aquele a quem as pessoas caçavam. Depois de ficar uma hora
preso no trânsito, Plumann finalmente chegou na sua casa. Ele abriu
a porta e imediatamente procurou por Clara. Ele a chamava, mas não
tinha nenhuma resposta. Ele correu para todos os cômodos, viu o berço
vazio, e correu para a sala, onde viu bilhete para ele. Ele leu e sentou na
cadeira, inconsolável. Deixou cair o bilhete que estava escrito com tinta
e lágrimas:
“Eu não sabia que tinha casado com um assassino. Nunca mais
quero ver a sua cara. Amaldiçoo o dia que te conheci. Você deveria ter
morrido naquele dia. Adeus. Clara.”
Plumann começou a chorar. Perguntava o porquê de Deus virar
o jogo. Ele lembrava de tudo que havia feito e pensava que talvez tivesse
ido longe demais e merecia aquele castigo. Mas ele sentia que não podia
dar o braço a torcer. Pensava que aquilo era obra do mal para evitar que
ele pudesse salvar o mundo. Enquanto pensava isto, um dos seguranças
disse que eles precisavam ir. Ele foi informado que haviam ouvido pelo
rádio da polícia que um grupo de pessoas revoltadas estavam vindo para
a casa. Plumann se levantou. Ele tentava ligar para o filho, mas caía
na caixa postal. Plumann não sabia onde estava o filho, e nem podia
imaginar que o próprio filho marchava ao lado de Josh para levar o pai
à prisão. A família estava toda dividida e espalhada. Plumann limpou o
rosto e pegou algumas coisas em seu quarto e foram para a base militar
da Toth, onde uma nave estava esperando por eles. Em poucos minutos
Plumann já partia para a Lua.
Da nave ele pôde ver na TV tudo o que possuía ser destruído.
A base da empresa estava toda destruída. Jovens, adultos, velhos, e até
crianças invadiam o prédio da Toth e destruíam tudo. Guardas eram
rendidos. A polícia não conseguia dar conta, e estava dividida, pois
enquanto alguns tentavam parar a população, outro grupo invadia a
empresa atrás de Plumann. Ele pode ver também sua casa em labaredas.
Em uma entrevista a uma repórter, seu filho demonstrava sua revolta
279
Revolução
e pedia para o pai se entregar. George o chamava de “monstro
inescrupuloso” para o mundo todo. Plumann ia até o banheiro da nave
e chorava como uma criança. Todos os seus sonhos e ambições estavam
caindo aos seus pés. Ele só tinha uma forma de se livrar. E ele ia até as
últimas consequências para ajudar aqueles, que agora, o odiavam.
280
Decisão
Decisão
Capítulo 21
Leonardo acordou. Já havia se passado quase 36 horas desde que
tinham saído da Terra. Em uma hora estariam na lua. Há 100 anos a
viagem seria feita em muito mais tempo, mas as viagens espaciais eram
beneficiadas pela alta tecnologia em combustíveis, e nas mais longas eles
chegavam quase a velocidade da luz. Leonardo olhou para Maasti e ela
estava acordada olhando para a janela, vislumbrando o espaço. Leonardo
olhou para ela e perguntou se estava tudo bem.
- Nada, apenas estou pensando.
Leonardo fechou os olhos e ficou pensando. Maasti pegou a
pequena carta da Patrícia e a releu, mas fixou seu olhar na última parte:
“Nossa vida é um campo de batalha. Nossa mente luta contra
no nosso coração. O bem que nos é necessário luta contra o mal que nos
é herdado. Os princípios lutam contra nosso egoísmo. Nosso corpo luta
contra a doença e o amor luta contra a corrupção. Não abaixe a cabeça.
Lute e olhe pra frente, mas não desista. Você sabe quem está do seu lado,
então não precisa ter medo. Não importa o que aconteça, não desista.
Deus não te criou com tanto amor para você simplesmente desistir.”
Aquelas palavra ainda ressoavam na mente de Maasti quando a
nave se preparava para pousar. Eles desceriam e esperariam o momento
certo para agir. Se tudo desse certo, talvez nem precisariam lutar.
Depois do determinado tempo a nave com os soldados chegou ao
hangar da base lunar da Toth Corporation. Leonardo e Maasti desceram.
O superior imediato pediu que todos esperassem , pois o General iria dar
as boas vindas, como também as instruções.
Antony chegou em sua casa. Ele havia ido a pé até sua casa. Havia
conseguido escapar de quase ser morto pelos manifestantes e depois de
281
Decisão
ir à casa de Plumann, onde a encontrou em chamas, ele voltou para
sua casa. Todas as suas coisas estavam no prédio da Toth. Ele precisava
contar para Plumann sobre a infiltração no exército. Ele não encontrava
nada, pois todos os sistemas de informação da empresa estavam com
problemas. Ele encontrou o número do setor de monitoramento que
havia guardado na sua agenda virtual. Antony ligou e foi atendido por
um dos jovens.
- Eu preciso falar com Plumann.
- Ele não está aqui.
- Então procure-o. Depressa!
- Ah moço, estamos cheios de problemas aqui, eu não posso...
- Aqui é Antony Pepper!
- Sr. Pepper, me desculpe. Infelizmente o Sr. Plumann não
chegou e não podemos contactá-lo pois aconteceu algo grave aqui, estão
todos ocupados.
- O que aconteceu?
- O sistema de monitoramento entrou e pane. Não sabemos
como, mas perdemos todos os dados. Estamos em escala zero. Vamos ter
de montar o sistema de novo.
- Isto não pode acontecer!
- Mas aconteceu, aquela revolta superacumulou nossos sistemas
de informações, o que gerou um Bug do caramba. Voltamos à Idade
Moderna. Só o Sr. Plumann pode nos ajudar. Em alguns minutos vamos
conseguir manter contato com ele. As duas naves possuindo os exércitos
que ele pediu acabaram de pousar.
- É sobre isto que quero falar com ele. Vocês precisam avisá-lo
que o exército dele foi sabotado. Há pessoas que estão com identidade
falsa aí. Você precisa avisá-lo para que ele pouse em outro lugar. E que o
grupo armado se prepare, pois podemos ter um exército inteiro pronto
para destruir tudo aí.
- Mas não pode ser ist...
- Faça isto já! E peça para o General me ligar.
O jovem ouviu o telefone desligando e correu imediatamente
para o seu superior informando tudo que havia ouvido. Este repassou
a informação para o General que estava dentro da primeira nave. O
general James Pitt ao ser informado, conversou com Antony. Após ter
a certeza do que acontecia, ele chamou todos os homens que faziam
282
Decisão
plantão na base lunar para se apresentarem no hangar. Maasti, que
junto com Leonardo e todo seu exército, esperando ordens, percebeu a
movimentação e bem baixinho disse a Leonardo:
- Algo está errado. Eu vou avisar a todos para se prepararem, pois
parece que já perceberam. Léo, a coisa vai ficar feia. Assim que começar
eu vou te dar cobertura e te levar para a porta da frente e você vai sumir
daqui e seguir com o nosso plano. Leonardo consentiu com a cabeça.
O piloto recebeu uma chamada do general:
- Na escuta?
- Sim, estamos na escuta.
- O Sr. Plumann está aí?
- Sim, ele está. Espere um minuto.
O Piloto colocou no viva-voz.
- Aqui é Plumann. Pode falar.
- Sr. Plumann, aqui é o General Pitt, temos informações que o
seu exército possui gente infiltrada. Para sua segurança é melhor descer a
nave no lado leste da base, onde é mais seguro.
Plumann ouvindo isto, disse desesperado:
- Quantas pessoas estão infiltradas?
- Não temos ideia, sabemos de uma apenas.
- Então diga ao chefe do monitoramento descobrir.
- Não podemos.
- Por que não podem?
- O departamento de monitoramento não está funcionando. O
sistema entrou em pane.
- COMO?!
- A revolta na Terra criou um colapso no sistema. Eles não sabem
o que fazer.
Plumann se sentou, colocou a mão na cabeça e alisava os cabelos,
quase querendo arrancá-los. Ele balançava a cabeça. Tudo estava ruindo.
Plumann se levantou e chamou o General.
- Pitt, eu quero que você encontre os infiltrados e mate-os. Não
posso tolerar mais erros.
- Tem certeza disto?
- Sim, já estamos em guerra.
283
Decisão
O grupo armado da base da lunar na lua se colocou em fileira,
o general Pitt mandou que todos os soldados se colocassem ficassem em
posição. Todos se alinharam. James Pitt começou a falar:
- Estamos sabendo que existem pessoas infiltradas no nosso
exército. Mas não sei quantas são e quem são. Eu preciso descobrir. Uma
pessoa apenas pode me ajudar. Eu estou disposto a matar todos aqui se
o suposto Gorki Similova não aparecer.
Todos continuaram imóveis. O general novamente perguntou
por Gorki e apontou a arma para um jovem que estava na primeira
fileira, e disse que acabaria com ele se Gorki não aparecesse. Ele apontou
para o rapaz e começou a contar.
- Similova, você tem 10 segundos para aparecer. Dez... nove...
oito...
Leonardo começou a ficar nervoso, ele não queria ser responsável
por aquela morte, mesmo que comprometesse com tudo. Ele começou a
suar.
- Sete... seis... cinco... quatro... Apareça Similova!
Leonardo fechou os olhos. Maasti olhou para Leonardo e fez
sinal para ele não ir.
- Três... Dois...
- Sou eu! Eu sou Similova.
Dois soldados especiais foram até Leonardo e o pegaram, o
levaram para a frente. O general olhou para ele.
- Então você é o suposto Similova. Engraçado que o verdadeiro
ficou na Terra. Quem é você?
- Sou o soldado Gorki Dimitri Similova, senhor!
Leonardo levou um soco na cara e caiu quando disse isto.
- Seu mentiroso! Quantos você trouxe aqui ser farsante? Diga!
- Somente eu senhor!
- Não minta! Quantos você trouxe aqui?
Leonardo estava no chão, o general o colocou de joelhos para ele
e apontou-lhe a arma na cabeça, dizendo ao grupo.
- Me diga, quem está com você?
- Ninguém!
Pitt estava perdendo a paciência, nem que ele tivesse de matar
todos, ele descobriria. Ele estava pronto para atirar em Leonardo. Ele
estava apertando o gatilho quando, de repente, levou um tiro de laser
284
Decisão
na sua mão, gritando de dor. Leonardo olhou, como também todos
e Maasti estava com a arma apontada para o general. Ela gritou para
todos entrarem em ação. O grupo que estava com Leonardo puxaramno e fizeram um escudo em volta dele. Todos que pousaram no hangar
faziam parte do grupo de Maasti. Eram em torno de 700 soldados. Estes
correram para atrás da nave que os haviam trazido, ou de containers que
haviam ali. Todos corriam, enquanto atiravam uns nos outros. Muitos
caíam ao chão. O exército de Maasti agora estava protegido, mas eram
alvejados com tiros de todos os lados. O exército na base se protegiam
atrás dos grandes coiteineres e naves do outro lado do hangar. Estes
containers eram a carga que seria levada à Berta. Após troca de tiros,
todos ficaram quietos esperando alguém agir.
Maasti tão logo se escondeu, buscou saber se Leonardo estava
bem. Ela conferiu e Leonardo lhe informou que eles precisavam chegar
até a entrada da base, Mas teriam de correr sob fogo cruzado. Esta entrada
estava a 60 metros, mas em campo desprotegido. Maasti teve uma ideia.
Ele entrou na nave pela porta lateral. Ele verificou e viu que sua ideia
podia ser executada. Ela disse ao grupo que desse cobertura a Leonardo
quando ela desse o sinal. Antes de tudo, ela disse a Leonardo:
- Léo, assim que acabar aqui eu vou te encontrar. Mas se algo
acontecer comigo, cuide da minha filha. Me promete?
- Mas você sabe que...
- Me prometa Leonardo!
- Eu prometo. Mas eu faço questão de te entregá-la. Ela precisa
de você, e eu...
Maasti fitou Leonardo, olho no olho, e tentou beijá-lo, mas ele
a interrompeu e lhe disse:
- Apenas sobreviva, eu lhe peço.
Ela sorriu e entrou na nave. Não seria difícil fazer o que queria, já
que era praticamente tudo didático e comandado pela voz. Ela solicitou
ao computador que preparasse os canhões de tiro. No para-brisa da nave,
apareceram várias câmeras que mostravam vários ângulos do hangar. Ela
por toque mostrou na tela onde deveria atirar e gritou:
- Alvo, ATIRAR!
Um míssel saiu da nave e acertou em cheio os containers onde
estavam o General Pitt e seus soldados, fazendo um estrago e barulho
ensurdecedor. Muitos atiravam mas não sabiam para onde, pois havia
285
Decisão
fumaça para todos os lados. Enquanto estavam atordoados, os soldados
de Maasti começaram a atirar e Leonardo pode atravessar até a porta. Ele
olhou para trás e seus olhos se cruzaram com Maasti. Não tinha certeza
se a veria novamente.
Leonardo correu e totalmente livre foi para o centro de comandos.
Ele tinha de cumprir parte do plano. Ele atravessou os corredores
e rendeu com golpes os dois únicos soldados que haviam dentro da
base, todos os outros haviam descido até o hangar. Leonardo chegou na
frente da sala de comando. Ele entrou apontando a arma para todos que
estavam ali. Ele pediu que todos entrassem na copa. Todos entraram e ele
os trancou. Podia trabalhar em paz agora. Leonardo retirou da sua bolsa
a pequena cápsula de leitura eletrônica, a mesma que usara no escritório
de Plumann, a sacudiu e colocou na mesa de comando. Ele ligou para
Adam e pediu para que ele descobrisse os códigos de acesso da base
lunar. Adam rapidamente lhe enviou alguns códigos, e Leonardo pode
mexer, como se estivesse jogando um vídeo-game. Leonardo encontrou o
comando de sinal para armas à laser.
Em todas as base da Toth Corporation eles podiam ativar o
controle de armas. Como a maioria das armas eram à laser, um programa
poderia bloquear as armas nos locais escolhidos. Leonardo bloqueou
todas as armas da base. A estratégia de Maasti era vencê-los na luta corpoa-corpo. Seu exército estava preparado para o combate.
Ambos os lados atiravam quando suas armas emperraram.
Maasti sabia que era hora do plano principal. Ela pediu para que todos
entrasse em ordem. Os soldados da base não entendiam porque suas
armas não funcionavam. Eles viram então, homens saindo por detrás
da nave. Eles se enfileiraram. O General Pitt disse para os homens
entrarem em formação, pois entrariam em luta corporal. Todos pegaram
suas facas. Os soldados de Maasti ficaram parados. O general Pitt
mandou os seus soldados irem atacar os inimigos. Eles correram com
facas em punho. Enquanto corriam, uma parte do exército de Maasti
saiu da nave empunhando arcos e disparando flechas. Estas derrubavam
um a um dos homens de Pitt. Neste momento os homens, junto com
Maasti correram. Sua distância ia diminuindo mais e mais. Quando se
encontraram começaram a se enfrentar com golpes e socos. Parecia uma
guerra de torcidas. Eles lutavam com força, e os homens e mulheres
tentavam dominar uns aos outros. Era um combate praticamente tribal.
286
Decisão
Pitt via seus homens sendo dominados pouco a pouco. Maasti derrubava
homens com uma força fenomenal. Ela atravessava cada um dos homens,
derrubando-os, até chegar na frente do general Pitt.
Leonardo pediu para Adam descobrir, pelo sistema, onde estava
Jéssica. Adam procurou mas não haviam registros nem de Jéssica, nem
da filha de Maasti. Leonardo pensou um pouco e deu a Adam a ideia de
procurar por alojamentos de acesso restrito. Adam descobriu um ponto
na base onde somente Plumann e uma médica tinham acesso. Ficava na
ala Leste da base. Eram 5 quilômetros de distância. Leonardo precisava
correr. Enquanto corria, ele olhou pela janela e viu do lado de fora, uma
das cápsulas de locomoção. Numa delas chegaria ali rapidamente.
Maasti olhou para o general e tirou uma faca, ele também
estava com a sua. Eles ficaram um frente a frente do outro. Ele girou sua
faca, enquanto esperava uma ação da guerreira. Ela esperava um ataque
dele. Eles ficaram por alguns minutos, quando Pitt tentou o primeiro
ataque, Maasti desviou. Pitt rapidamente tentou outro ataque, cortando
levemente o braço da mulher. Maasti lhe deu um soco na boca, e ele
sangrou. Ele cuspiu o sangue e tentou atacá-la, em vão, pois levou um
corte no rosto. Ele ficava cada vez mais nervoso e tentou atacá-la, ela
se defendeu, lhe tirando a faca. Ele começou a socá-la, ela se desviava,
ele dava socos no peito e no tronco dela, segurando a mão dela que
estava com faca que tentava acertar nele. Ele a virou e lhe deu uma
chave de braço. Pitt tinha 2,07m de altura e era muito forte. Ela estava
praticamente dominada.
Maasti ficou imóvel enquanto tentava lutar contra o homem.
Parecia que não havia mais nada que ela pudesse fazer, então ela foi
cedendo, foi caindo ao chão. Ela estava com o rosto todo roxo. Maasti
já estava de joelhos, enquanto o suor lhe descia o rosto. Com uma mão,
usava toda sua força tentando afrouxar o braço do homem que tentava
matá-la. Ela estava entregando o jogo, parecia que não ia conseguir. Na
sua mente, como um filme, passavam suas batalhas, se lembrou de sua
mãe, de sua história, de sua filha, de Leonardo, da Terra, do hospital, da
capela. Tudo parecia estar acabando, até que algo lhe veio à mente: “Deus
não te criou para você simplesmente desistir.” Ela tinha de confiar em
Deus. Ela não podia desistir. Maasti abriu os olhos e com uma força
287
Decisão
quase sobrenatural, tirou o braço do homem de seu pescoço e com a
outra mão cravou a faca na perna dele. Ele caiu de dor. Ela lhe deu
um soco e ele desmaiou. Ela respirou um pouco, e quando olhou para
a frente viu que seu exército estava dominando um inimigo bem mais
numeroso. Ela não havia percebido o tamanho do inimigo até ver o
número de pessoas caídas e dominadas, aquilo era um milagre. Realmente
ela havia vencido aquela batalha em nome de Deus. Ela deu instruções
ao seu imediato. Eles deviam colocar o exército de Plumann em um
lugar trancado e deviam se preparar, pois em poucas horas iriam para
Berta. Ela deu instruções para que eles levassem estoque de alimentos e
combustível. Seu imediato sabia muito bem o que fazer, ele a informou
que a nave com as máquinas de extração e ocupação estavam prontas já.
Ele percebeu que a cabeça dela estava em Leonardo.
- Maasti, vai lá atrás dele. Eu cuido de tudo aqui. Maasti foi atrás
de Leonardo.
Leonardo chegou no setor Norte. Ele correu por um corredor,
mas se perdeu. Ele voltou e finalmente encontrou a porta da qual Plumann
tinha acesso. Na porta havia um leitor digital. Leonardo tirou da sua
mala a cópia da digital de Plumann e a colocou no leitor. O scanner
confirmou. Um outro sensor leu o chip de identificação. Leonardo usou
o chip falso de Plumann. Após isto lhe foi solicitado uma senha.
- Adam, eu preciso da senha de acesso. Aqui está a programação.
Adam recebeu os dados, mas não conseguia ter acesso.
- É um sistema diferente. Meu computador não consegue hackear
o acesso, eu vou precisar de uma hora pelo menos.
- Eu não tenho uma hora, Adam. Eu vou tentar descobrir daqui.
- Léo, você só tem 3 chances, senão o sistema trava. Pelo que
descobri são oito números.
- Eu vou tentar, se não conseguir, eu vou explodir esta porta.
Leonardo começou a pensar. Ele tentou primeiramente a senha
do cofre de Plumann. Digitou 23042026. e viu escrito na sua frente:
“Acesso Negado”. Ele pensou:
- Plumann, Plumann, que droga de senha que você colocou
aqui? Pense, Leonardo... pense Leonardo. O que pra Plumann é mais
importante? No cofre... o HD... a Toth Corp... Ren...
Leonardo ficou estático, como quando tem uma ideia genial.
O dia da morte de Renata: 10 de Março de 2088! Leonardo digitou
288
Decisão
10032088 e a porta se abriu.
- Adam, preciso te contar uma coisa.
- O que Léo?
- Não precisa mais, tá? Eu já abri o cofre. Desculpe aí.
- Ah, seu pilantra! Você é fogo! Disse Adam rindo.
- Adam, eu preciso que você faça algo ainda. Lembra daquele
inspetor aqui da Lua? Aquele que Plumann colocou para ser monitorado
pois desconfiava dele como assassino de Toth?
- Não sei quem é.
- E agora? Josh e Jéssica sabem quem ele é. Eu não me lembro o
nome dele.
- Josh está aqui. Ele dormiu aqui esta noite, ele fez muita coisa
ontem.
- Eu imagino. Posso falar com ele?
- Pode, vou chamá-lo.
- Oi Léo.
- Oi Josh, você se lembra do inspetor que investigou o assassinato
do seu avô?
- Sim, me lembro, o nome dele é Jude Chapman.
- Josh, Entre em contato com ele. Ele já está sabendo sobre
Plumann pela TV. Conte para ele o que estamos fazendo, e peça ajuda
dele na base. Se você pedir, com certeza ele vai fazer. E Josh...
- Diga.
- Muito obrigado pela companhia. Você é tão grandioso quanto
a sua mãe. Siga o caminho dela e você será feliz. Valeu muito te conhecer.
- Adeus Leonardo, também valeu a pena. Eu estarei acompanhando
vocês daqui. Deixe o rádio ligado.
- Pode deixar.
Era uma pena Josh não ser seu próprio filho, pois ele adorava
o garoto. Enquanto pensava nisto, ele abria uma porta maciça. Quando
abriu a porta ele viu um lugar todo branco. Lá pode ver cômodos, que
lembravam celas de prisão. Ele foi andando devagar. Não sabia se haviam
pessoas ali. A primeira cela que ele viu estava vazia. A cela era igual às
das prisões, mas bem maior e cômoda, com um acrílico transparente
na frente que lembrava a cela de Hannibal Lecter em “ O Silêncio dos
Inocentes”. Na segunda cela, havia um homem de idade, sentado. O
homem olhou para ele com uma expressão de tristeza. Ele andou mais
289
Decisão
e, de repente, viu Elias. Ele correu e bateu no acrílico. Elias, bem mais
magro, se levantou e quando viu Leonardo, não acreditava no que via.
Eles se alegraram. Leonardo perguntou como se abriam as celas. Elias
disse que perto da entrada havia um painel, lá ele poderia descobrir.
Leonardo correu para o painel de oLed, e viu um desenho das
celas e nomes. Ficou aliviado pois ali estavam os nomes de Elias, Jéssica,
e também de algumas pessoas que ele não tinha ideia de quem eram. A
última cela havia apenas um símbolo. Ele abriu todas. Ele gritava pedindo
pra todos saírem, pois estavam livres. Elias o abraçou, agradecendo muito
pelo amigo ter voltado. Quando Jéssica ouviu a voz daquele que era sua
antiga paixão, ela saiu da cela. Mesmo estando com doze quilos a menos
desde quando se viram pela última vez, e muito debilitada, ela correu e
seus olhos cruzaram com Leonardo. Ela o abraçou com as forças que
tinha. Ele se sentia muito feliz em estar ao lado dela novamente.
A nave de Plumann pousou na base pelo lado Leste. Plumann
tentava contactar o outro lado da base, mas não obtia resposta do
General Pitt. Plumann pegou uma das pequenas naves de transporte e
foi direto para o centro de monitoramento. Ele precisava fazer o centro
voltar a funcionar, pois seu poder dependia disto. Leonardo pediu que as
pessoas saíssem rapidamente. Enquanto ajudava-as, ele viu uma jovem de
18 anos, magra, com olhos fundos e negros e cabelos pretos compridos.
Ela parecia a mãe. Ele foi em direção a ela, e dizendo na língua nativa
dela, perguntou:
- Você é Malda?
- Sim, eu sou. O que está acontecendo?
- Eu sou amigo de sua mãe. Nós viemos salvá-la. Você vai para
casa com ela.
- O que? Minha mãe está viva? Como pode ser?
A menina estava duvidando, mas quando Leonardo balançou a
cabeça positivamente, ela deu um sorriso lindo. Um sorriso de felicidade
e esperança.
- Malda, eu vou te levar a ela.
Leonardo colocou a mão em volta do ombro da menina,
virando-se. Quando Malda olhou para a porta, ela viu Maasti. Maasti
deu um sorriso maravilhoso. Depois de quase 6 anos sem ver sua filha,
agora ela podia ter certeza que tudo estava bem. Ela pôs a mão na boca,
290
Decisão
espantada pelo tamanho da menina. Maasti correu em direção de Malda.
Malda, com dificuldades tentou correr, Leonardo a ajudava. Elas se
encontraram e se abraçaram. Lágrimas saíam de cada uma delas. Era
a prova verdadeira de amor entre mãe e filha. Elas sempre esperaram
ver uma a outra novamente. Leonardo ficou com um pouco de inveja.
Talvez nunca poderia sentir isto que Maasti sentia. Ele tentou chorar.
Elas diziam o quanto amavam uma a outra.
- Eu vou cuidar de você minha filha.
- Não. Eu que vou cuidar de você mãe. Nunca mais vão te levar
embora.
Leonardo, mesmo emocionado, sabia que elas tinham de
ir naquele mesmo dia para Berta, senão teriam de esperar por meses
outra oportunidade. Leonardo foi ajudando as pessoas a saírem. Maasti
perguntou a Leonardo quem eram aquelas pessoas.
- São todos que sabiam a verdade sobre Plumann e o Centro
de Monitoramento. Todos eles eram considerados inimigos pessoas de
Plumann. Ele as tratou como animais, ou até pior. Ele precisa pagar pelo
que fez a estas pessoas.
Maasti se arrependeu por ter feito aquela pergunta. Ela viu a
expressão de Leonardo mudar. Ele ainda tinha muita mágoa de Plumann.
Ela, tentando mudar de assunto, falou que eles deviam ir, e puxava
Leonardo. Leonardo parou no corredor. Ele pode ver, pela janela, uma
nave indo para o centro de monitoramento. Sabia que era Plumann. Ele
começou a dar instruções.
- Maasti, você e Malda vão embora para Berta junto com o
exército. Faça a aliança com seu povo para poder trazer o Berlítio para
ajudar nosso planeta. Jéssica, você tem de entrar em contato com Josh,
ele te passará tudo. Adeus Elias.
Leonardo abraçou Elias, se despedindo do amigo. Leonardo se
despediu de Jéssica, mesmo sem esta entender o porquê da despedida,
ela abraçou-o com muito carinho. Depois Maasti explicaria para ela a
verdade. Ele ainda disse à Jéssica:
- Jéssica, foi muito bom te ver querida. Diga ao seu pai que
minha promessa está cumprida. Você e Elias, junto com estas pessoas
voltarão para a Terra. Jude Chapman, você sabe quem é, vai cuidar disto
pra você.
Leonardo deu um beijo no rosto da amiga. Ele foi se despedir
291
Decisão
de Maasti, mas ela segurou o rosto dele com as mãos, e olhando um no
olho do outro, começou a dizer:
- Léo, não vá! Plumann está acabado. Venha conosco para Berta,
você pode nos ajudar. Podemos ser felizes juntos. Podemos construir
uma vida juntos. O que você acha? Venha conosco, esqueça Plumann, ele
já está vingado. Você precisa deixar isto. Já fez tudo que precisava fazer.
Eu te amo Léo, você sabe disto. Eu preciso de você.
Leonardo delicadamente segurou as mãos de Maasti, e olhando
profundamente nos olhos dela, lhe disse:
- Eu ainda preciso fazer isto, senão nunca terei paz. O que posso
lhe dizer é adeus. Cada minuto perto de ti me fizeram melhor, mas não
consegui encontrar uma forma de curar a raiva que tenho. Eu encontrei
no seu carinho por mim, forças para continuar, para fazer o meu melhor
e encontrar um meio de reaver quase tudo de mal aconteceu à minha
vida. Mas eu não posso voltar atrás. Eu preciso desafiar Plumann. Eu
preciso encará-lo e fazer ele pagar tudo que ele tirou de mim. Eu já decidi
isto.
- Léo, perdoar é difícil. Perdoe-o Leonardo. Ele não merece, mas
você será superior a ele em tudo. Não destrua sua vida. Se você não quer
fazer por Deus, faça por mim pelo menos. Você gosta de mim? Se você
gosta faça isto por mim.
- Maasti, você é muito especial pra mim... eu queria te dizer
muitas coisas, mas agora eu preciso ir.
Eles se abraçaram e Maasti foi indo embora, olhando para ele.
Ela chorava pois sabia que nunca mais o veria. Ela se virou, ele ia embora.
Ele pensou um pouco e voltou.
- Maasti, espera um pouco.
Ela se virou, esperançosa que Leonardo estivesse voltando atrás
da decisão, mas sua surpresa foi quando ele a pegou pela cintura e lhe
beijou apaixonadamente. Ela tocou delicadamente o rosto dele. Eles
pareciam um só. Eles se gostavam muito, haviam aprendido a gostar um
do outro. Depois de se beijarem, ficaram mais um minuto abraçados.
- Léo, eu te amo. Nunca vou te esquecer.
- Também nunca vou te esquecer. Obrigado por tudo. Adeus July
Palmer... Adeus Maasti.
Leonardo se afastou de Maasti, e ela por um sinal, pediu para ele
deixar o rádio ligado. Ele olhou para ela pela última vez e saiu correndo.
292
Decisão
Ela chorava, mas tinha de ser forte. Ela era uma guerreira, ela ainda tinha
uma missão a cumprir. Ele também.
Plumann chegou ao centro de monitoramento. Plumann
esperava que todos estivessem ali. Mas estava vazio. As telas de oLed
estava ligadas, mas não havia nada sendo monitorado. Plumann não
sabia que o sistema havia sido destruído pelo vírus de Adam. Todos
quando souberam da guerra no hangar, foram embora. Acreditavam que
era uma invasão e correram para as suas moradias nos arredores da lua.
Plumann, ao chegar, procurou a mesa do diretor de
monitoramento. Ele procurava o número do responsável para mandar
todos os homens voltarem. Como sua agenda virtual estava vinculada
ao sistema da empresa. Ele começou a procurar nos arquivos internos
de cada tela de oLed. Ele conseguiu encontrar dois números. Ele tentou
ligar para o primeiro número, mas ninguém atendia. Quando tentou
ligar para o outro número, a rede caiu. Ele estava sem rede nenhuma, e
desesperado também. As luzes se apagaram, e agora ele apenas conseguia
enxergar por causa das luzes dos holofotes lá de fora. Estranhava pois as
telas estavam ligadas, mas as luzes não. Ele correu e quando ia ao centro
de controle da sala para acender as luzes ele viu algo que não esperava.
Havia um homem, da qual ele não podia enxergar direito o rosto, com
uma arma apontada para ele.
Maasti chegou no hangar com todas as pessoas resgatadas.
Jude Chapman estava lá há dez minutos. Ele disse que sabia de tudo
e que cuidaria das coisas ali. Maasti pediu que Chapman fosse atrás de
Leonardo, para que tentasse evitar uma tragédia. Chapman correu para o
centro de monitoramento. O assistente de Maasti disse que tudo estava
pronto e que teriam de partir imediatamente. Maasti se despediu de Elias
e de Jéssica. Pediu-lhe desculpas por não ter mais tempo para conhecêla. Maasti e Malda entraram na nave e todo seu exército estava pronto
para partir, apenas esperavam por ela. Quando ela entrou na nave,
todos aplaudiram a líder. Todos que estavam do lado de fora também a
aplaudiam. Seu homem de confiança lhe disse com boa e alta voz:
- Tudo isto para a maior general que este planeta e outro planeta
já tiveram!
Seus olhos, que já tinham se secado, começaram a ficar molhados
293
Decisão
de lágrimas novamente. Ela respondeu para todos:
- Eu só tenho a agradecer o meu Deus, o nosso Deus. Agora vou
voltar pra casa, temos uma mensagem a dar para ao meu povo! Liguem
a nave que a viagem será longa.
Maasti fechou a porta. Ela conferiu todos, se estavam bem.
Conversou com o médico da equipe que cuidava dos feridos. Ela
verificou se todos tinham trazido o estoque de cápsulas de anti-Berlítio.
Ela falou rapidamente com o cientista que ia junto, pois fabricariam
a vacina para a radiação de Berlítio em larga escala lá em Berta. Assim
que tudo estava certo, Maasti autorizou a partida e se sentou ao lado de
Malda. Ela apertava a mão de sua filha, e beijava a cabeça da menina,
de tanto que era sua felicidade de tê-la ali ao seu lado. Quando a nave
levantava voo, Maasti orou pedindo que Deus cuidasse de Leonardo,
para que ele não se matasse. Malda, ouvia mas não entendia o que a mãe
dela falava. Quando a mãe terminou, ela começou a falar:
- Mãe, quem é aquele calope que você abraçou e trocou saliva?
- Ai filha, não é trocar saliva, é um beijo. Quando duas pessoas
se gostam muito, elas se beijam. Aqui neste planeta aprendi que homens
e mulheres podem viver em harmonia, como iguais, e que quando eles
descobrem que se gostam eles querem estar perto um do outro.
- Você então gosta daquele Calope mamãe?
- O nome dele é Leonardo. Eu gosto muito dele, na verdade eu
o amo.
- Você disse que quando duas pessoas se gostam, eles gostam de
estar um perto do outro. Mas ele não quis vir e estar perto de você, então
ele não gosta de você?
- Filha, ele gosta, mas de uma forma diferente. Na verdade eu
não sei o quanto ele gosta de mim. Gostaria de descobrir... Bem, filha, já
estamos em órbita, eu vou lá na cabine. Descanse meu amor
Maasti beijou novamente a filha e foi para a cabine. Um dos
pilotos, que ela mesma escolheu na Terra, os levava até Berta. Durante as
próximas horas voariam com velocidade média, depois de certa distância
alcançariam quase a velocidade da luz. Maasti, chegando na cabine,
perguntou se o rádio estava ligado. Ele disse que sim. Ela iria ouvir o que
estava acontecendo lá no centro de monitoramento.
294
- Olá Theodore Plumann.
Decisão
- Quem é você?
- Bem, ultimamente tenho sido conhecido por John Bregan.
- Bregan?! Seu desgraçado! Você que armou tudo com Josh para
arrancar minha parte das ações. Você destruiu toda esta organização por
ganância.
- Eu não fiz por ganância Plumann, mas por justiça... e vingança.
- Vingança?! Você está louco, eu nem te conheço, eu não fiz nada
para você nem para a sua família.
- Realmente, para John Bregan você não fez nada, mas a minha
família você destruiu.
- Não entendo. Como assim?!
- Você destruiu tudo o que eu tinha quando eu me chamava...
O homem saiu da escuridão e mostrou o rosto. Plumann se arrepiou da
cabeça aos pés. - Leonardo Melo Silva.
- Leonardo! Você era Bregan?! Eu pensei que você tinha sumido.
Pensei que tivesse fugido, desaparecido.
- Não, sem antes me vingar, principalmente por matar Jonathan
Toth e a Renata.
- Então foi você quem invadiu o cofre! Você que levou a peça do
seu carro. Então você sabe de tudo.
As coisas começavam a se esclarecer para Plumann. Ele começava
a entender tudo que tinha acontecido nestes dias. As reuniões da SB, o
exército, o vídeo. Era tudo um plano de vingança. Ele percebeu que tinha
caído numa cilada. Tudo isto por causa da morte de Renata.
- Leonardo, Leonardo, não era pra Renata morrer, era pra você
sofrer um acidente. Você já se pensou porque o carro bateu do lado do
passageiro e não do seu lado? Não era para você morrer. Era apenas pra
te tirar do meu caminho. Eu nunca ia imaginar que você levaria Renata
com você. Eu não podia imaginar.
- VOCÊ A MATOU PLUMANN! Eu até merecia morrer, mas ela
não. E hoje o mesmo vai ser de você. Este será o teu destino, nem que seja
a última coisa que eu faça.
Plumann se levantou, com medo, mas com firmeza tentou
explicar porque tinha feito o que fez.
- Eu queria salvar o planeta Léo! Será que você não entende que
eu não tinha escolha? Eu tinha de salvar o nosso futuro. Eu fui escolhido
por Deus para ser o portador da salvação! Era minha missão nesta Terra!
295
Decisão
Você não entende que eu tive de fazer coisas que não queria fazer. Eu
choro e sofro todos os dias pelas coisas que fiz, mas era por uma grande
causa. Bilhões de pessoas iriam me agradecer pelo bem que fiz a elas.
Você não se lembra quando você queria apenas fazer o bem? Nós éramos
jovens querendo fazer a diferença! Foi por isto que entramos para a
Toth Corporation! Você é o único que pode me entender. Quando você
descobriu o código neuronal, você pôde ajudar muitas pessoas. Olhe
para este lugar Léo!
Plumann esticou o braço e mostrava aquele local a Leonardo.
- Daqui Léo, você pôde criar a possibilidade de paz e controle.
A humanidade sempre buscou ter segurança e liberdade. Quando nós
criamos este lugar, você pôde dar isto a cada uma delas. Nós somos os
mensageiros de Deus!
- Não diga isto Plumann! Olhe o que aconteceu conosco. Você
viu alguma pessoa feliz com seu “monitoramento”? Você viu como as
pessoas reagiram quando descobriram que eram monitoradas? Cadê a
Toth Corporation agora? Cadê o salvador delas agora? As pessoas acham
que sabem o que elas querem, mas elas não sabem. Você deu segurança,
controle e prosperidade ao mundo, mas a que custo? De controlá-las?
Não se pode controlar o mundo Plumann. Você não pode controlar
o universo. Onde já se viu escravizar um povo todo para salvar outro?
Você já passou para o estado de loucura! Esta porcaria que eu descobri
acabou com a minha vida. Quantas pessoas importantes morreram
por causa disto? Renata, Toth, entre outras mais. Plumann, tudo isto te
transformou em um monstro e destruiu sua vida também.
Quando ouviu aquilo, Plumann se lembrou das palavras de seu
filho, aí sim ele percebeu que seus atos haviam passado longe da pessoa
que ele acreditava ser. A consciência de Plumann finalmente o condenou
impiedosamente. Se lembrou da sua mulher lhe chamando de assassino
e de seu filho lhe chamando de monstro. Ele havia destruído muito para
poder ser “O Salvador”. Plumann se ajoelhou, ele estava abalado com
tudo que acontecia. Leonardo continuava:
- Você me fala tanto de Deus, mas Deus tem vergonha das coisas
que você fez. Você acha que uma pessoa que se diz religiosa, faria tudo
isto para chegar aos resultados que você queria? Há um limite para todo
ser humano. Até onde alguém pode ir pra salvar o seu povo? Você deveria
ter pensado nisto. É até duro dizer isto, mas o próprio Jesus que você
296
Decisão
prega, chegou a um ponto alto para salvar a humanidade. Ele entregou
a vida dele por cada ser humano, você se lembra disto Plumann. Ele fez
por amor, não por ganância. Ele não precisou matar, roubar, controlar ou
conspirar contra ninguém para trazer salvação. Ele se doou, se entregou
com um cordeiro indo ao matadouro. Você sabe disto Plumann, mas se
esqueceu. Você se perdeu no caminho. Você quis fazer o mesmo que ele,
mas não quis se entregar nem um pouquinho. Só pensou em você e na
sua âmbição. E destruiu tudo que eu tinha, e me fez destruir tudo que
você tinha.
- Plumann, as pessoas precisam é de livre arbítrio para escolherem
o que acharem melhor para elas, e a possibilidade de aprenderem com
as consequências de suas decisões. Você agora vai ter de arcar com as
consequências de seus crimes. É hora de suas loucuras acabarem Plumann.
O inspetor Chapman chegou até o local, mas não conseguia
abrir a porta. Do lado de fora ele gritava para que a porta fosse aberta.
Ele pedia que Leonardo abrisse a porta e não fizesse nenhuma besteira.
Leonardo viu que tinha pouco tempo. Ele precisava dar um fim naquilo.
Leonardo tremia, mas se aproximou de Plumann, apontou a arma
na cabeça de Pluman, que olhava para baixo desconsolado. Plumann
havia percebido que havia ido longe demais e aceitava que tinha ido ao
fundo do poço. Agora ele ia morrer pelos seus erros. Lágrimas caíam
ao chão. O ódio de Leonardo era grande, algo tentava lhe dizer para
não fazer aquilo, mas Leonardo não queria ouvir. Leonardo engatilhou
a arma, fechou os olhos, voltou a abri-los e quando ia puxar o gatilho,
Plumann levantou a cabeça. Seus olhos, todos molhados, encontraram
os olhos de Leonardo e Plumann lhe disse:
- Eu confesso que tive inveja de você. Você levou a mulher que eu
mais amava. Você tinha o amor de Toth, e eu por inveja quis tirar tudo
de você. Eu fiz tudo isto querendo mostrar para Renata, para Jonathan e
para o mundo que eu era tão bom quanto você. Eu queria entrar para a
história e acabei destruindo a sua vida. Leonardo antes de você me matar,
só quero te pedir uma coisa. Você me perdoa por tudo que fiz? Eu preciso
saber se você pode me perdoar.
Neste momento, um filme começou a passar na cabeça de
Leonardo. Ele se lembrou de alguns momentos de sua vida. Ele havia
esperado tanto pelo momento em que faria sua vingança, agora ele tinha
de escolher se podia perdoar seu pior inimigo.
297
Decisão
Na mente de Leonardo vieram as palavras do pastor que ouvira
há 32 anos:
- “Você está aqui hoje em busca de perdão? Não consegue
perdoar alguém amado? Não consegue se perdoar? Lembre-se que quem
é o maior beneficiado com o perdão é quem perdoa. pois encontra a paz
de espírito.”
Ele tinha apenas 8 anos quando ouviu isto. Aquele sábado de
culto, lá em São Paulo havia marcado sua vida. Foi naquele dia em
que o Leonardo menino havia descoberto que queria estudar o cérebro
humano. Aquele dia, da qual ele tinha apagado de sua mente, de repente,
reapareceu. As palavras do pastor lhe surgiam na sua cabeça.
- “Perdoe para ser perdoado” disse Cristo. Deus pode fazer
milagres na sua vida, se você deixá-lo te perdoar. Ele vem até você hoje!
Algo estava acontecendo. Aquilo foi corroendo Leonardo por
dentro. Aquelas palavras estavam atingindo o coração dele. Ele havia
se perguntado tanto se aquele sermão tocava o coração das pessoas, e
mais de trinta anos depois, aquilo tocava o seu próprio coração. Ele
via claramente o que estava acontecendo. Ele sabia que não era aquele
monstro que estava se tornando. Mesmo negando por todos este anos,
ele sabia que Deus não podia ter simplesmente o abandonado. Ele sabia
que havia algo lá dentro dele lhe dizendo que Deus não o deixara à mercê
da história. Depois de tantos anos, ele podia sentir aquela mesma coisa
que ele sentia quando era jovem. Ele se lembrou de quando pregava e
falava de um Deus de amor. Um Deus que amava o ser humano do jeito
que ele era.
Leonardo se lembrou do tempo em que era feliz. Desde que
decidira abandonar a Deus, sua vida havia se transformado num inferno.
Ele contribuíra para isto. Ele havia aceitado isto e culpado aquele que
queria lhe ajudar.
Leonardo estava julgando Plumann por ter se tornado alguém
ruim, mas ele também havia trilhado o mesmo caminho. Ele também
destruíra sua própria vida quando decidiu desistir de ser feliz. Ele havia
se tornado aquilo que sempre lutara contra. Ele estava apontando uma
arma para um homem que era nada mais que o seu próprio espelho.
Eram similares, eram a mesma coisa, farinha do mesmo saco. Ele odiava
Plumann porque se odiava, e ao ver Plumann indo para o mesmo
caminho que ele estava trilhando, queria consertar as coisas. Leonardo
298
Decisão
começava a pensar se havia solução para homens como eles. Foi quando
ele se lembrou:
- “Há esperança para aquele que abandonou a Deus. Se você
abandonou a Deus, saiba que Ele não te abandonou. O homem
naturalmente não procura a Deus, mas é Deus quem procura o homem,
onde quer que ele esteja.”
As palavras que ouvira quando criança eram sussurradas em sua
mente, eram marteladas em seu coração. Ele se lembrou de uma das
conversas que teve com Renata naquele carro, pouco antes do acidente.
- Léo, sabe o que mais me preocupa?
- O que Rê?
- Não sei se falo.
- Diga, eu não mordo não.
- Ah, morde sim!
- Nossa, você não esquece nada! Aquilo foi uma brincadeirinha.
Leonardo cruzou os dedos e olhou para Renata, dizendo:
- Pode dizer, prometo ser bonzinho deste vez.
- Só você mesmo pra me fazer rir. Mas sabe Léo, eu acho que está
na hora de você se perdoar. Você vive se culpando pela morte do nosso
filho, pelo fim do nosso casamento. Eu também sofri muito com isto,
sabia?! Mas eu aprendi a seguir em frente. Eu nunca superei, e nunca
vou superar completamente, mas eu decidi seguir em frente. Você precisa
aprender a seguir em frente. Você precisa deixar Deus te ensinar a se
perdoar. Léo, o rancor, a culpa e a mágoa nos transformam em pessoas
amargas. Nos deixam pessoas frias e duras. Nós começamos a nos tornar
inconsequentes em nossas ações, pois nos tornamos pedras de gelo. Eu
ainda vejo pedras duras dentro do seu coração. Eu tenho medo de você
nunca conseguir despedaçar estas pedras.
- Eu não tenho pedras no coração.
- Você tem Léo. Só quando você quebrar estas pedras você vai
entender o qual o valor do perdão e da graça. Você se sentirá pronto para
seguir em frente. Enquanto você carregá-las, você se tornará tão duro
quanto elas, fazendo com que todos que cruzam o seu caminho sejam
machucados e você também acaba vivendo machucado.
- Entendi Rê, eu vou pensar sobre isto. Vou quebrar as tais pedras,
pode ter certeza.
299
Decisão
Leonardo percebeu que estava se tornando duro, frio e implacável
e prestes a matar um homem friamente, depois de destruir a vida dele.
Quando deu por si, percebeu que Plumann não era naturalmente uma
pessoa ruim, mas alguém que se entregou à mágoa e ao ressentimento se
tornando tão frio e duro como o próprio Leonardo havia se tornado. Ele
não era nada diferente de Plumann. Leonardo olhava para Plumann, que
abaixou a cabeça esperando seu fim. Leonardo pensou, olhou para cima
e disse:
- Deus, seja feita a tua vontade.
Leonardo pegou o rádio e disse:
- Chapman, é você na porta?
- Sim, sou eu.
- Plumann vai se entregar. Eu vou abrir a porta.
Plumann olhou para Leonardo assustado. Ele não acreditava no
que ouvia. Ele não seria morto. Leonardo olhou nos olhos do seu grande
inimigo.
- Eu te perdoo Plumann.
Leonardo abriu a porta e Jude recolheu a arma de Leonardo,
tirou a garra policial e prendeu Plumann. Este olhava para Leonardo
sem entender. Se fosse ele no lugar do inimigo, teria atirado. Ele sentia
agradecido pelo antigo colega ter-lhe perdoado e poupado sua vida.
Quando Chapman levava Plumann, este pediu para pararem por um
minuto.
- Léo, eu preciso te dizer algo.
- Diga Plumann.
- Você já se perguntou porque o marido de Renata se matou?
- Não sei, acho que ele não conseguiria viver sem ela.
- Não exatamente. Ele não poderia viver sem ela cuidando do
filho do homem que ela amava.
- Leonardo fez uma cara de quem não estava entendendo bem o
que ouvia.
- Como assim?!
- Léo, eu monitorava todo mundo. Eu não poderia monitorar
Renata por causa de Toth. Mas eu monitorava o marido dela. Ela um dia
contou a ele que Josh era filho seu.
Leonardo parou, seu coração disparava. Ele não acreditava no
que ouvia. Ele se sentou e pôs a mão na cabeça. Plumann continuou:
300
Decisão
- Ela nunca te contou porque quando você veio para a lua, ela
sabia que tinha te perdido, e ela precisava de um pai para o filho dela.
Ela não queria que você desistisse dos seus sonhos. Ela nem deu ouvidos
para a insistência do marido dela para que ela contasse a verdade à todos,
pois nem Toth sabia que o garoto era filho seu. Mas ela disse que só
contaria para você quando percebesse que você estivesse pronto. Nunca
entendi o que significava você estar pronto.
- Era isto que ela ia me falar na hora que morreu! Porque você
me contou isto agora?
- Porque você era pra ter me matado, mas me perdoou. Eu nunca
vou entender o porquê, mas eu achei que deveria te devolver algo. Mostrar
pra mim mesmo que eu não me tornei totalmente num monstro. Mas, se
você não acredita, faça o DNA.
Leonardo chorou muito naquela mesa do antigo Centro de
Monitoramento. Maasti havia ouvido tudo pelo rádio que Leonardo
havia deixado ligado. Ela havia vibrado quando Leonardo desistiu de
sua vingança. Ela queria falar com ele, mas ele precisava de um tempo.
Ele foi andando pelos corredores vazios da base lunar da Toth Corporation,
ele tentava se lembrar onde era aquele lugar que ele havia ido uma única
vez. Ele virou pelo corredor da enfermaria, pela ala psiquiátrica, pela
copa, pela sala de descanso, foi quando ele virou um corredor e viu o que
procurava. Ele viu a pequena cruz na porta. Ele estava com medo, mas
foi até porta e a abriu. Era a pequena capela daquela base. Uma das duas
que havia na lua. Ele entrou e caminhou pelo corredor, passando a mão
de banco por banco, até entrar em um deles e sentar.
Leonardo deslizou pelo banco e se ajoelhou. Começou a fazer
uma oração, coisa que ele jurava nunca mais fazer.
- Deus, você me perdoa por tanto tempo ter desprezado sua
presença? Eu quero fazer as pazes. Eu quero ser feliz novamente. Eu
quero viver de verdade. Estou disposto a apagar o meu passado e viver
algo novo, de coração novo, de vida nova. Obrigado por não ter desistido
de mim. Agora eu entendo todo este caminho que passei. Tudo tem um
propósito nesta vida, mas só entendemos quando decidimos abrir os
olhos à verdade. “Antes eu via como um espelho embaçado... agora eu
vejo claramente as coisas.” Quando eu achava que o Senhor tinha me
tirado um filho, você me deu um outro filho. Alguém incrível, calmo
301
Decisão
como o avô, lindo como a mãe e, desculpe a modéstia, inteligente como
o pai. Brincadeira... obrigado por não ter deixado de me ouvir. “Antes eu
só te conhecia de ouvir falar, agora eu sei quem realmente és.” Agora eu
estou em tuas mãos, faz da minha vida o que for melhor pra Ti.
Quando terminou a frase, Maasti o chamou pelo rádio. Ela não
estava se aguentando de vontade de falar com ele.
- Oi minha querida.
- Oi querido, você está bem?
- Estou ótimo. Finalmente em paz. Fiz as pazes com Deus e
comigo mesmo.
- Estou muito feliz. Daqui a pouco vamos entrar quase na
velocidade da luz, e só poderei falar contigo daqui dois anos e meio.
Espero que você tenha uma vida boa durante este tempo. A gente se
encontra. Foi muito bom ter te conh...
- Maasti.
- Sim Léo.
- Quando você terminar sua missão. Volte rapidamente pois eu
quero te levar pra jantar, quero muito estar perto de ti.
- Isto é verdade?! Você vai me esperar?
- Sim, eu vou te esperar, pois...
“A partir deste momento, a vida começou.
A partir deste momento, você é a única
Bem ao teu lado é onde eu pertenço
Deste momento em diante.”
- Uau Léo! Que lindo. Me espera que eu vou voltar pra você.
- Maasti, “Jia Alui”.
Maasti chorando, sorriu e respondeu:
- Eu também te amo...
O rádio perdeu o contato. Maasti havia entrado em velocidade
de jornada. Leonardo suspirou. Ele pegou o telefone e procurou por um
número. Quando encontrou ele respirou fundo e ligou.
- Alô.
- Josh, é você?
- Sim pai, sou eu.
Quando Leonardo ouviu a palavra “pai”, seu corpo arrepiou da
cabeça aos pés. Ele começou a chorar, ele chorou muito, enquanto Josh
302
Decisão
chorava do outro lado do telefone.
- Filho, você ouviu tudo?
- Eu ouvi tudo o que aconteceu, seu rádio estava ligado. É uma
honra ter um pai tão incrível como você. A melhor coisa foi você ter
entrado na minha vida.
- Filho, as coisas serão diferentes agora. Eu vou cuidar de você,
vou te fazer muito feliz. Você vai receber todo meu amor. Você é o
presente de Deus na minha vida.
- Eu sei meu pai...
Um silêncio ficou no telefone, eles nem sabiam o que falar,
estavam emocionados e perdidos. Josh decidiu arriscar algo.
- Pai...
- Diz meu filho.
- Eu te disse que ouvi tudo né?!
- E o que tem?
- E a Maasti? Agora vai ou tá difícil?
- Aaaaaaaaaaaah moleque...
303
Esperança
“Toque-me, leve-me para aquele outro lugar.
Ensina-me, eu sei que não sou um caso perdido.
É um lindo dia...
Não o deixe escapar.”
U2
Esperança
Capítulo 22
Planeta Berta, 32 meses depois.
Calesh andou no meio de suas fileiras. Ele olhava para cada
um dos seus soldados. O dia estava para amanhecer e ele olhava para
o outro lado do vale. De seu cavalo, Calesh olhava para Anilla, a nova
líder Drasília. Ela, do outro lado o encarava. Em poucos momentos eles
se enfrentariam. Eles tinham concentrado o maior exército já feito para
a batalha pelo domínio do planeta.
Anilla olhou para as mulheres. Algumas estavam doentes
pela longa viagem de 30 quilômetros até aquele vale. Outras mulheres
estavam famintas. Todos sabiam que aquela guerra era importante, o vale
de Yaldín dividia o território dos dois grupos. Quem vencesse teria o
maior território já conquistado da história. Anilla pegou seu arco, todo
cheio de pedras preciosas, ela estava pronta para lançar a seta flamejante
e dar início a batalha.
Anilla, com o arco na mão, encaixou uma flecha. Ela deitou
o arco para que sua guerreira acendesse a flecha. A ponta da flecha se
incendiou. Anilla apontou o arco para cima e fechou um olho para
mirar e lançar o mais alto que podia, mas ela ficou imóvel. As outras
304
Esperança
guerreiras esperavam a líder lançar a flecha, mas ele estava estática. Uma
das guerreiras disse que ela estava vendo alguma coisa no céu. Todas
começaram a olhar para o alto.
Calesh esperava as mulheres avançarem para ele colocar em
prática sua estratégia. Mas nada acontecia. Um de seus observadores
corria entre as fileiras. Ele chegou ao líder Calopício, e informou que
elas estavam olhando para cima, ele se pôs a olhar também. E ficou
parado observando aquilo. Todos seguiram seu líder, admirados com o
que viam.
Um objeto vinha do céu e crescia rapidamente. Ele estava cada
vez mais próximo. Todos olhavam tremendo, acreditavam ser o grande
deus descendo para visitar seus filhos. Alguns achavam que era um
grande animal, outros apenas temiam, achando que morreriam naquele
dia. O objeto ficou a 10 andares do chão. Ninguém se mexia, apenas
observavam. Era um objeto muito grande, como uma pedra gigante que
brilhava ao sol.
O objeto, sem que ninguém esperasse, disparou bolas de fogo
que atingiram o centro do vale. A explosão fez tremer todo o local. Todos
se abaixaram e quem tinha medo se esquivava atrás de seu escudo. Os
cavalos empinavam, derrubando os cavaleiros, e a fumaça deixava tudo
turvo, confuso e temerário. Homens e mulheres tentaram se esconder,
mas a curiosidade era maior. Estavam prontos para lutar, não podiam
correr agora. Os líderes pediam para que seus guerreiros ficassem calmos e
esperassem para o combate. Depois de quinze minutos a poeira começou
a baixar e eles viram o objeto voador no meio do vale. Quando deram
por si, haviam pessoas em volta do objeto. Estavam com armas na mão
e se vestiam de forma diferente.
Em frente ao objeto, haviam duas mulheres. Eles ouviram uma
voz feminina dizer em alto e bom som, em sua língua:
- PAREM A GUERRA!
Calesh tanto quanto Anilla, caminharam para próximo do
objeto, seus principais guerreiros os acompanhavam. A mulher usava o
sistema de som da nave, então ambos os exércitos conseguiam escutá-la.
As mulheres começaram a chegar mais próximo de todos.
- Venham para cá. Não precisam ter medo. Viemos em Paz.
305
Esperança
Os líderes ficaram bem em frente das duas mulheres, estas
que estavam escoltadas pelo exército. Todos estavam curiosos. Cada
uma das pessoas ali se ajuntavam para bem próximo do objeto. Eles
largaram suas armas no caminho, pois sentiam que aquelas pessoas não
ofereciam perigo. Depois de centenas de anos, homens e mulheres pela
primeira vez se misturaram, pois grande era a curiosidade sobre o que
estava acontecendo. Eles se misturaram entre si formando uma grande
multidão. Nunca, depois de tanto tempo, haviam estado juntos. Não
fôra a guerra, nem uma convenção, nem tratado ou obrigação que os
tivessem juntado. Homens e mulheres agora estavam juntos apenas pela
curiosidade. Aquele dia já estava prometendo. Se tornava histórico.
A mulher que falava tinha cabelos negros e roupas diferentes. Ela
tinha no seu rosto enormes olhos negros brilhantes, parecia um inseto.
Era bem afeiçoada e alguns acreditavam que já a tivessem visto. Ela tinha
algo como um livro na mão, com um desenho de uma cruz. Calesh,
incomodado para saber quem era aquela mulher, disse:
- Quem é você?
Anilla prontamente perguntou:
- De onde você vem?
A mulher tirou seus óculos escuros e em alta voz disse:
- Meu nome é Maasti, filha de Malati, a pacificadora. Eu venho
em nome do Grande Deus. Hoje é um dia muito importante para todos.
O Grande Deus irá mudar a história de vocês para sempre, pois eu tenho
boas novas de esperança. Por favor, deixem-me contar uma história
para vocês. A história do lugar que eu venho. A história de um lugar
totalmente diferente do que já ouviram falar. A história de um universo
desconhecido...
306
Anexo
Terra
Idade aproximada:
4,54 bilhões de anos.
Diâmetro Médio:
149.598.261 km.
Localização:
Braço de Órion, na Via Láctea.
Minerais mais abundantes:
Ferro, Silício, Magnésio, Enxofre, Níquel e Alumínio.
Atmosfera:
Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Dióxido de Carbono.
307
Anexo
Força Gravitacional:
9,8 m/s2.
Ano Corrente:
2115 d.C.
População:
12,7 bilhões de pessoas
Duração do dia:
24 horas
Duração do ano:
365 dias
Satélite Artificial:
01 (Lua).
Países e Federações:
156 países (segundo o CUP*)
Religiões:
Cristianismo (40%), Islamismo (35,7%), Hinduísmo (12,3%),
Budismo (8,4%), Sikhismo (2,6%), outras (1%).
* Comitê Universal da Paz (substituto da Toth Corporation)
308
Anexo
Berta
Idade aproximada:
4,1 bilhões de anos.
Diâmetro Médio:
137.466.123 km.
Localização:
Sistema OT22.
Minerais mais abundantes:
Ferro, Silício, Berlítio, Enxofre, Cobre e Alumínio.
Atmosfera:
Nitrogênio, Oxigênio, Argônio, Hidrogênio, Gás Carbônico.
309
Anexo
Força Gravitacional:
8,7 m/s2.
Ano Corrente:
2234 d.Q.*
População:
832 milhões de pessoas
Duração do dia:
22 horas
Duração do ano:
418 dias (355 dias terrestres)
Satélite Artificial:
02 (Cravis e Lamara).
Países e Federações:
17 tribos (segundo o CPSE**)
Religiões:
Janismo*** (98,9%), Salafismo**** (0,6%), outras crenças (0,5%)
* Depois da Queda
**Centro de Pesquisas Sociais Espaciais
*** Culto a Jani, também chamado de Grande Deus.
**** Culto à natureza (Salafi)
310
Músicas
Músicas
citadas no livro
Capítulo 01
Joyful, Joyful, We Adore Thee
(Henry Von Dyke)
Capítulo 02
Smoke On The Water
(Deep Purple)
Capítulo 03
Sleeping Beauty
(Tchaikovsky)
Capítulo 09
Nada Pra Mim
Marcha Nupcial
Everything I Do
(Ana Carolina)
(Mendelssohn)
(Bryan Adams)
Capítulo 10
Loosing My Religion
(REM)
Majesty
(Delirious)
Capítulo 13
Amazing Grace
(John Newton)
Capítulo 14
Woman In Chains
(Tears For Fears)
311
Músicas
Capítulo 15
Talking To The Moon
(Bruno Mars)
Capítulo 20
Another Brick In The Wall
(Pink Floyd)
Capítulo 21
From This Moment
(Shania Twain)
Capítulo 22
Beautiful Day
(U2)
312
Final
Final
Hotel Palais Asmaa, Zagora, Marrocos, 2106
Antony estava na mesa do restaurante do hotel esperando chegar
seu advogado. Já era noite e enquanto esperava, ele lia na mesa algumas
matérias que falavam do julgamento de Theodore Plumann. A setença
havia sido dada e Plumann ficaria na cadeia pelo resto da vida. Antony
saía ileso. Plumann foi condenado pelo homicídio de Jonathan e Renata
Toth, tentativa de homicídio de Leonardo, por diversos crimes contra a
liberdade, crimes contra os direitos humanos, crimes internacionais e
contra a humanidade da Terra e de Berta.
A matéria falava muito sobre a demora do julgamento. Desde
que foi preso, Plumann teve de esperar a criação do CUP (Comitê
Universal da Paz) que provisoriamente substituía a Toth Corporation
nas negociações de paz entre os povos da Terra e Berta. Também teve de
esperar a volta de Maasti e Malda para que estas pudessem testemunhar
contra o ex-presidente da Toth Corp.
Plumann quase não teve como se defender diante do tribunal
interuniversal. O júri era formado por representantes dos dois planetas,
que chegaram ao veredito de que Plumann era culpado das acusações,
mas devido a um maravilhoso trabalho do seu advogado em provar que
Plumann tinha transtornos psicológicos, e também por ter confessado
seus crimes, a pena de morte foi convertida em prisão perpétua sob
trabalhos forçados. Ele seria levado à Berta e passaria o resto de sua vida
escavando as minas de Berlítio dali, com vigilância de dia e noite.
Antony ainda lia as notícias e prestava atenção nas matérias
concernentes à Josh, agora como membro vitalício do CUP, e Nobel
313
Final
da paz pelas manifestações e luta contra o controle cerebral. Enquanto
via uma foto da saída do julgamento, onde Maasti e Leonardo estavam
juntos, de mãos dadas, seu advogado chegou. Antony cumprimentou o
advogado e perguntou:
- E aí? Como vão as coisas?
- Vão tudo bem. Suas ações estão garantidas. O julgamento não
afetará seus bens, como você temia. Respondeu o advogado.
- Ótimo. Agora vou ver se invisto em alguma atividade neste
país. Fazer fortuna. Cara, eu vou conseguir. Eu tenho muita sorte.
Sempre tenho a sorte danada de estar no lugar e na hora certa. Pra você
ter uma ideia: Quem diria que Plumann no desespero, vendo todos seus
castelos ruirem, iria passar as ações dele para mim por garantia?
- Até hoje eu não entendo o que levou ele a fazer isto? Ele não
podia ter passado para o filho dele?
- Nem podia! O filho dele estava caçando ele junto com toda
a cidade de Nova York. Depois de persuadi-lo a transferir as ações para
mim como garantia que ele não ia perder tudo, ele achava que eu era
burro demais e que eu iria devolvê-las de mão beijada para ele. Ele achava
que eu ficar com medo dele dar com a língua nos dentes.
- Como assim?! Ele tinha algo contra você?
- Eu vou te falar porque você me ajudou, e ganhou muito bem
por isto. E mesmo porque não tem como ninguém provar mais nada.
Já foi julgado mesmo. Bem... quando Plumann quis tirar Leonardo do
caminho dele, ele teve a ideia de mudar o sistema de freios do carro de
Leonardo. Isto você já sabe. O problema é que ele era muito frouxo pra
fazer o serviço. E advinha quem teve de fazer o trabalho sujo? Eu né?! Só
que eu fui muito esperto, pois desconfiava que no futuro isto poderia me
prejudicar. Então tive a ideia de ir fazer o trabalho com o próprio carro
de Plumann.
- Ele foi realmente condenado por estar no local. As câmeras
mostraram isto. Então não era ele?
- Claro que não! As câmeras não mostraram que era ele.
Mostraram O CARRO de Plumann chegando, e um homem, que
escondeu o rosto, entrando, trocando o sistema de freios e indo embora.
314
Final
Ele nem sabe trocar a cueca dele, muito menos um sistema de freios.
- Mas ele devia ter provas contra você.
- As únicas provas que existiam estavam no departamento de
monitoramento cerebral e no computador pessoal de Plumann. Se
ele realmente mostrasse ao mundo, eu me defenderia e diria que fui
ameaçado por ele a fazer aquele serviço. Diria que era uma vítima e faria
cara de coitado.
- De coitado você não tem nada.
- Claro que não! E se você não sabe, eu era quem tinha as ideias
na empresa. Se você analisar o histórico de Plumann, ele sempre foi
batalhador, mas ele não tinha uma mente criativa. Ele nunca foi o gênio
da classe, só o mais esforçado. Ele só virou Presidente da empresa porque
ele ficava ali insistindo e martelando na cabeça de Toth, mas as boas
ideias eram minhas. A exploração de Berta, a ideia de sequestrar uma
pessoa do planeta pra ser estudada, o exército e por aí vai, eram meus
planejamentos. Ele precisava de ideias para fazer as maldades dele e eu
tinha ótimas ideias. Só que eu sabia que uma hora ele iria cair e eu me
aproveitaria disto. Assim que o bicho pegou eu fui ao computador de
Plumann e destruí todas as provas contra mim, e Leonardo, outra vez
para minha sorte, destruíu tudo que tinha contra mim no centro de
monitoramento.
- Na sua máquina não havia nada contra você?
- Não! Plumann confiava nos arquivos do monitoramento da
lua e no seu computador pessoal. Por que?
- É que eu estava pensando na caneta.
- Que caneta? A que Plumann me deu?
- Sim, esta mesma.
- O que tem ela?
- Que eu me lembre, Plumann recebeu-a de John Bregan, que na
verdade era Leonardo. A caneta teve acesso aos seus arquivos, como foi
dito no julgamento. Mas como você me disse que não tinha nada na sua
máquina, então não há nada contra você. Apenas pensei na possibilidade
de Leonardo saber da verdade.
- Opa, espera. Realmente não tinha nada na minha máquina,
315
Final
maaaaaaas Leonardo também acessou o computador de Plumann. Nossa!
Agora fiquei preocupado. Antony colocou as mãos na cabeça, mas
depois pensou um pouco, dizendo: - Mas eu não preciso me preocupar
pois hoje ninguém pode fazer nada contra mim. Daqui do Marrocos
ninguém pode me julgar, muito menos ser deportado. Este é um país
livre e imparcial. Hoje a moda é a liberdade. Não tem como fazerem
nada comigo aqui. Só se me levarem para outro país à força. E eu só saio
daqui amarrado...
Depois da conversa, Antony voltou ao seu quarto com uma
pulga atrás da orelha. Se fosse verdade, então Leonardo sabia que foi ele
quem trocou os freios que mataram Renata e que ele é tão culpado quanto
Plumann no sequestro de Maasti e de Malda e na operação invasiva em
Berta. Com Plumann julgado e condenado, talvez viessem atrás dele.
Antony foi tomar um banho. Ele saiu do banho e colocou sua
roupa de dormir. Antony começou a idealizar a possibilidade de fugir para
um lugar mais remoto do país, isto até a poeira abaixar. Depois desistiu
da ideia. Ninguém viria prendê-lo e levá-lo à força para um país onde
pudesse ser julgado pelos seus crimes. Primeiramente Plumann estava
preso. Josh agora era um grande lutador em prol da Paz e Liberdade.
Maasti e Leonardo estavam para casar e demonstravam ter desistido dos
planos de vingança. O mundo estava bom, pacífico e zen.
Antony deu de ombros e voltou ao banheiro para escovar os
dentes. Assim que terminou, ele foi para o quarto, mas algo estava
estranho, sua janela estava aberta. Ele não a havia deixado aberta. De
repente a luz da quarto se apaga. Ele fica com medo. Podia ser um ladrão.
Usando a luz que vinha de fora, ele conseguiu achar o criado-mudo
e pegou sua arma paralisante. Ele foi se escorando entre as paredes,
andando pela casa, vendo se tinha alguém. Ele andava calmamente.
Foi para a cozinha e nada. No banheiro, nada. Ele estava indo para a
sala. Parecia não haver nada. Quando respirou aliviado, ele recebeu uma
rasteira e uma pancada bem forte no peito que lhe derrubou no chão.
Ele sentiu a arma ser tomada de ti. Sua boca foi tampada com uma mão.
Nesta hora uma mulher senta em cima dele, e com as pernas ela prendia
316
Final
os braços de Antony. Ela era muito forte. Estava escuro, mas pela luz
que vinha da janela, ele pôde ver que era uma mulher de olhos negros
e uma trança. Parecia muito bonita. Por um momento Antony pensou
que fosse um “presentinho” do seu advogado. Mas ele desistiu desta ideia
quando ela apontou a arma para o pescoço dele e apertou o gatilho. Ele
ficou todo paralisado, mas consciente. Ele começou a ficar com muito
pavor. Ela tirou uma fita colante e lhe tampou a boca. Ele queria lutar
mas não conseguia, pois seu corpo não lhe obedecia. Com rapidez ela
começa a amarrá-lo, primeiro as pernas e depois os braços. Ela o levanta
e puxando-o pelo colarinho, encara olho no olho o homem e diz com
firmeza:
- Escuta aqui seu verme: Meu nome é Malda, eu sou do planeta
Berta. Eu vim em missão de “paz”.
317
AGRADECIMENTOS
ADRIANO DOS SANTOS
ANDERSON DURAN
ANDRESSA CONTI
ANELISE MATTÊA
ANGÉLICA AMARAL
ANTÔNIO MOREIRA
ANTÔNIO SIMÃO
ARIANE LINDEMUTE
BRUNO PORTELLA
CARLOS DAVID MEDEIROS
CAROL BAPTISTA
CAROLINA ANDRADE
CÁSSIA CASTRO
CLAUDIA NONIS
CLAUDIA FERRARI
CECÍLIA SANCHEZ
DAIANA GRAFF
DANILO DUARTE
DANIELLA CASAGRANDE
DAVI PEREIRA
ELIAS MISAEL SOTO
ELISEU MELLILO
ELIÉZER LIRA
ELIZABETH ARUM YOON
ELISON STABENOW
ÉRICA NOGUEIRA
EVERSON DE SOUZA
FERNANDO FERRARI
FLÁVIA ALTHEMAN
FRANCISCO ASSIS
GARI CAMPOS
GEIZE OLIVEIRA
GEOVANA NEVES
GIOVANNI LUCCHESI
GISELE RUSSANO
ISABELA PINHEIRO
INGRID TEIXEIRA
HELDNEY ALVES
HERMES RIBEIRO
JEFERSON BUGELLI
JOÃO BOSCO
318
JOSÉ CARLOS C. DA SILVA
JOELMA BINI
JOYCE GERODO
KAUÊ NEVES
KENNEDY CRISPIM
LAURA FERRARI
LETÍCIA STABENOW
LILIANE FLEURY
LUCIANA CAVALCANTI
MARGARETH CORACINI
MARLENE FERRARI
MARINA CRUZ
MÔNICA SANCHEZ
NILSON BACCAS
OSMAR DECCO
PATI SILVA NIEVES
PAULA BRIGIDA
PAULA FERRARI
PAULO R. OLIVEIRA
RAFAEL BACETI
RAQUEL FERRARI
REGINA SENNA
RENNAN DE OLIVEIRA
RICARDO GODOY
RICARDO MARTINS
ROBSON OLEGÁRIO
RODRIGO FASSINA
ROSÂNGELA NASCIMENTO
RUTE ALBUQUERQUE
TIA SILVIA
TAÍS SPADA
TALINE SOUZA
TAMIRES BERTOLLE
UBIRAJARA JUNIOR
USIAS AUGUSTO
VANESSA TROVATTI
VÓ AURORA
WAGNER LIMA
WANDERSON GONÇALVES
WESLEY SOUZA
ZÉ ROBERTO BARBOSA
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