Aula 4 Macroeconomia I 2 - Informação Macroeconómica (Agregados macroecómicos) 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto, desemprego e preços 2.2 O conceito de output gap Raquel de Meneses Moutinho [email protected] 2008/2009 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto, desemprego e preços Objectivos Produto Nível elevado e crescimento rápido do produto Emprego Nível elevado de emprego e desemprego involuntário baixo Estabilidade de preços Nível de preços constante 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto O Produto… • Realização da produção… Trabalho Capital Outros (terra, tecnologia,...) • A repartição do rendimento… Primária Secundária • A utilização do rendimento… Consumo Investimento Importações… 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto (PIB) Produto Interno Bruto (PIB) PIB (real) efectivo = valor da actividade produtiva efectivamente realizada num dado espaço geográfico, contabilizado período a período Por exemplo, O PIB de 2007 em Portugal é a quantificação do valor de mercado de todos os bens e serviços finais – pão, cerveja, automóveis, espectáculos, viagens, etc. – produzidos em Portugal durante o ano de 2007 PIB potencial O PIB potencial representa o nível sustentado máximo de produto que a uma economia pode gerar. Quando o produto cresce acima do produto potencial a inflação tende a aumentar, enquanto que um produto abaixo do potencial conduz a um desemprego elevado. 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto (PIB potencial) PIB (real) potencial (ou PIB natural, ou de equilíbrio de longo prazo) = valor da actividade produtiva potencial que se poderia realizar num dado espaço geográfico, dada a utilização potencial dos recursos produtivos disponíveis e as limitações impostas pelo enquadramento legal e institucional da economia, na ausência de ciclos valor da actividade produtiva realizada sob “condições normais” (médias) É um conceito teórico; empiricamente, é identificado com a tendência extraída do PIB (real) efectivo (trend). 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto (Longo Prazo: Crescimento Económico) Mesmo com forte estabilidade conjuntural, a igualdade ou proximidade entre PIB efectivo e PIB potencial não garante um rápido e sustentável crescimento económico Para uma sociedade atingir melhores níveis de vida, o output por indivíduo deve crescer: é essa a preocupação de longo prazo dos macroeconomistas A questão fundamental da Macroeconomia no longo prazo: como conseguir elevar o crescimento do produto per capita? 2.1 Os objectivos das autoridades de política macroeconómica: produto (Longo Prazo: Crescimento Económico) O aumento tendencial do PIB per capita está associado às chamadas fontes de crescimento económico … Existe amplo mas não unânime consenso entre os macroeconomistas sobre essas causas … Aumento da população Acumulação de factores de produção acumuláveis => aumentam a produtividade global da economia Stock de capital físico e de capital humano (maiores qualificações) Progresso tecnológico Conhecimento 2.2 O Output Gap 2.2 O Output Gap O output-gap (hiato do produto): Taxa de crescimento do PIB (real) efectivo – Taxa de crescimento do PIB (real) potencial 15 10 5 0 -5 -10 1961 1964 1967 1970 1973 1976 1979 1982 1985 Taxa de crescimento do PIB (%) 1988 1991 1994 Output gap (%) 1997 2000 2003 2.2 O Output Gap e o desemprego 25/09/08 Aula 6 Macroeconomia I 2 - Informação Macroeconómica (Agregados macroecómicos) Taxa de desemprego A lei de Okun Custos do desemprego Inflação: o que mede a inflação? Raquel de Meneses Moutinho [email protected] 2008/2009 De todos os indicadores macroeconómicos, o emprego e o desemprego são dos mais directamente sentidos pelas pessoas. Em termos macroeconómicos os objectivos são os de emprego elevado que é a contrapartida de desemprego reduzido. A taxa de desemprego é a percentagem da população activa que está desempregada. A população activa inclui todas as pessoas empregadas e todas as que estão desempregadas à procura de emprego. Exclui portanto todos os que não estão empregados e que não procuram emprego. A taxa de desemprego reflecte o estado do ciclo económico: quando o produto se reduz, a procura de trabalhadores diminui e a taxa de desemprego aumenta. População Total Inclui o conjunto das pessoas, nacionais ou estrangeiras, estabelecidas de forma permanente no território económico do país, mesmo que se encontrem temporariamente ausentes População activa + População inactiva População em idade activa População com condições potenciais para trabalhar. (Não é consensual a definição entre as diferentes entidades de produção de estatística mas, normalmente, é identificada com a população entre os 15 e os 64 anos de idade.) População activa Conjunto de indivíduos com idade mínima especificada (15 anos) que, no período de referência, constituem a mão-de-obra disponível para a produção de bens e serviços e que entram no circuito económico População empregada + População desempregada População inactiva Inclui o conjunto de indivíduos, qualquer que seja a sua idade que no período de referência, não podem ser considerados economicamente activos, isto é, não estão empregados nem desempregados. Taxa de Actividade ou Taxa de Participação = = População activa/População em idade activa Desempregado Indivíduo, com idade mínima especificada (15 anos) que, no período de referência, se encontrava simultaneamente nas situações seguintes a) Não tem trabalho remunerado nem qualquer outro b) Está disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não c) Tenha procurado um trabalho, isto é, tenha feito diligências ao longo de um período especificado para encontrar um emprego remunerado ou não. Desempregado de longa duração Trabalhador sem emprego, disponível para o trabalho e à procura de emprego há 12 meses ou mais. Taxa de Desemprego = = População desempregada/População activa Taxa de Emprego = = População Empregada/População em idade activa Taxa actividade e taxa de desemprego (%) em Portugal 40 Taxa de actividade (dir) Taxa de desemprego (esq) 2003 2 2001 42 1999 3 1997 44 1995 4 1993 46 1991 5 1989 48 1987 6 1985 50 1983 7 1981 52 1979 8 1977 54 1975 9 Quadro 1. População total, activa, empregada e desempregada (valores em milhares de indivíduos) 1994 População Total Homens Mulheres População Activa Homens Mulheres População Empregada Homens Mulheres População Desempregada Homens Mulheres 9350,4 4484,6 4865,8 4563,8 2503,2 2060,6 4251,5 2352,2 1899,3 312,3 151,0 161,3 1995 9356,6 4494,3 4862,3 4550,6 2491,4 2059,2 4225,5 2331,1 1894,4 325,4 160,3 165,1 1996 9372,1 4506,2 4865,9 4582,8 2504,5 2078,3 4250,5 2342,4 1908,1 332,3 162,1 170,2 1997 9382,2 4474,8 4907,4 4644,9 2533,5 2111,4 4331,8 2379,8 1952,0 313,1 153,7 159,4 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 10128,9 4884,4 5244,5 5095,7 2805,0 2290,7 4843,8 2694,4 2149,4 251,9 110,6 141,3 10167,3 4904,5 5262,8 5136,1 2818,1 2318,0 4910,3 2709,2 2201,1 225,8 108,9 116,9 10223,3 4933,8 5289,5 5226,4 2854,5 2371,9 5020,9 2765,2 2255,7 205,5 89,3 116,2 10294,2 4971,1 5323,1 5325,3 2901,3 2424,0 5111,7 2809,7 2302,0 213,6 91,6 122,0 10365,7 5009,0 5356,7 5407,8 2937,8 2470,0 5137,3 2816,4 2320,9 270,6 121,4 149,2 10445,1 5052,0 5393,1 5460,2 2947,9 2512,3 5118,0 2787,1 2330,9 342,3 160,9 181,4 10499,2 5082,6 5416,6 5475,8 2954,1 2521,7 5119,0 2786,2 2332,8 356,8 167,9 188,9 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Direcção-Geral de Estudos e Previsão, Ministério das Finanças e Administração Pública Quadro 2. Taxas de actividade e de desemprego (valores em percentagem) 1994 Taxa de actividade Homens Mulheres Taxa de desemprego Homens Mulheres 1995 1996 1997 1998 48,8 55,8 42,3 48,6 55,4 42,4 48,9 55,6 42,7 49,5 56,6 43,0 50,3 57,4 43,7 50,5 57,5 44,0 51,1 57,9 44,8 51,7 58,4 45,5 52,2 58,7 46,1 52,3 58,4 46,6 52,2 58,1 46,6 6,8 6,0 7,8 7,2 6,4 8,0 7,3 6,5 8,2 6,7 6,1 7,6 4,9 3,9 6,2 4,4 3,9 5,0 3,9 3,1 4,9 4,0 3,2 5,0 5,0 4,1 6,0 6,3 5,5 7,2 6,5 5,7 7,5 Fonte: Direcção-Geral de Estudos e Previsão, Ministério das Finanças e Administração Pública Impacto do desemprego Impacto económico e social Impacto económico O desemprego é um problema económico porque representa o desperdício de recursos valiosos. Quando a taxa de desemprego aumenta, a economia está de facto a desperdiçar os bens e os serviços que os desempregados podiam ter produzido. Impacto social O desemprego é um problema social importante porque causa enorme sofrimento aos desempregados que se debatem com menores rendimentos. O custo económico do desemprego é certamente elevado, mas não há valor monetário que possa traduzir adequadamente o custo humano e psicológico do desemprego involuntário persistente. Interpretação económica do desemprego Tipos de desemprego Desemprego natural nível de desemprego associado ao produto natural é o nível de desemprego de equilíbrio, quando há estabilidade da taxa de desemprego Desemprego natural = desemprego estrutural + desemprego friccional Desemprego estrutural desemprego involuntário que resulta da incapacidade do salário real se ajustar ao nível de equilíbrio de mercado negociação colectiva dos salários; existência de salário mínimo; existência de salários de eficiência Interpretação económica do desemprego Desemprego voluntário e involuntário A teoria do desemprego estrutural ou involuntário pressupõe que os salários são inflexíveis, o que coloca a seguinte questão: Porque razão não sobem ou descem os salários por forma a equilibrar o mercado de trabalho ? Esta questão faz parte de um conjunto de aspectos ainda não resolvidos pela ciência económica. Poucos economistas actualmente argumentariam que os salários se alteram rapidamente para eliminar as carências, ou os excessos, de trabalho. No entanto ninguém compreende completamente as razões do comportamento arrastado e inflexível dos salários. Desemprego friccional: Resulta do normal funcionamento e do dinamismo inerente ao mercado de trabalho, ocorrendo porque demora tempo para que haja ajustamento entre um trabalhador que procura um emprego e a existência de um posto de trabalho que necessita ser preenchido • Taxa de separação de empregos (s): número de trabalhadores que se tornam desempregados, num determinado período de tempo, em percentagem do número total de empregos existentes (E) • Taxa de contratação (ou taxa de ingresso em empregos, f): percentagem de desempregados (U) que encontra emprego durante um dado período Ufriccional = Ufriccional [eficiência do job-matching (-), taxa de separação do posto de trabalho (+), taxa de encontro de um novo posto de trabalho (-)] Eficiência do job-matching: informação sobre vagas e oferta de trabalho; compatibilidade entre competências e qualificação; compatibilidade geográfica/incentivos à mobilidade, etc (+) [Estrutural] Taxas de separação e encontro: •Dependem de factores institucionais e legais [Estrutural] •Dependem da conjuntura [Conjuntural] Politicas de redução do desemprego friccional: • Apoiar a formação e mobilidade do trabalhador: subsídios e isenções fiscais à formação e mobilidade dos desempregados • Flexibilizar o mercado de trabalho: alterar a regulamentação existente no mercado de trabalho, por exemplo, a nível de salários mínimos, condições laborais e de despedimento • Reformar o sistema de protecção ao desemprego: reforçar os incentivos à procura de emprego • Disseminação de informação sobre o mercado de trabalho: desenvolvimento de centros de emprego, websites ... Desemprego cíclico ou conjuntural Desvio no curto prazo da taxa de desemprego observada (u) em relação à taxa natural de desemprego (uN) Lei de Okun Relação empírica entre o desemprego ciclico e o “output gap” (desvio do produto relativamente ao produto natural) segundo a qual a taxa de desemprego aumenta (diminui( quando o produto se encontra abaixo (acima) da sua tendência de longo prazo u – u = -g (y - y), g’(y - y) > 0 Lei de Okun Relação entre a taxa de desemprego e variação do PIB Segundo a Lei de Okun, por cada 2% de quebra do PIB relativamente ao PIB potencial, a taxa de desemprego aumenta cerca de 1%. Taxa de inflação (= Taxa de variação do nível médio de preços): a inflação é um processo persistente, relativamente generalizado de aumento dos preços, observado ao longo de um dado período de tempo. O IPC (Índice de Preços no Consumidor)quantifica o preço médio de um conjunto de bens e serviços (designado por cabaz) comprados pelos consumidores. A taxa de inflação é a variação percentual do IPC de um ano para o outro. Por exemplo, o IPC foi 177,1 em 2001 e 179,9 em 2002 (sendo o de 1983 o índice de referência igual a 100), logo a taxa de inflação para 2002 foi: (179,9 – 177,1) / 177,1 * 100% = 1,6 % Objectivos da Macroeconomia Taxa de inflação dos preços (EUA 1929-2003) 1. Inflação moderada É caracterizada pelo aumento lento e previsível dos preços. Pode definir-se como uma inflação anual de um só dígito. A maior parte dos países industriais passou por inflação moderada na última década. 2. Inflação galopante É uma inflação de dois, três dígitos, de 20, 100 ou 200%. Muitos países latino-americanos como a Argentina, o Chile e o Brasil, tiveram taxa de inflação de 50 até 700% ao ano nas décadas de 1970/80. 3. Hiperinflação Ainda que as economias pareçam sobreviver com uma inflação galopante, nada de bom se pode dizer de uma economia em hiperinflação, onde os preços aumentam um milhão por cento ao ano. Entre Janeiro de 1922 e Novembro de 1923, o índice de preços da República Alemã de Weimar aumentou de 1 para 10 000 000 000. Com obrigações alemãs no valor de 300 milhões de marcos em 1922 não se conseguiria comprar um bombom dois anos mais tarde.