Relações entre Psicologia e Filosofia: Perspectiva da Psicologia William B. Gomes Instituto de Psicologia UFRGS IV CONPSI – Salvador BA, maio 2005 ‘ A Psicologia ocupa espaço privilegiado para o diálogo entre os saberes, por sua posição na hierarquia ontológica do grande campo do conhecimento. 2 Ontologia Distinguir os tipos ou categorias das coisas no mundo Forma Matéria 3 Substância Corpórea Incorpórea Árvore de Porfírio Animada Inanimada Sensível Insensível Racional Irracional Social Individual Supra-interativa interativa Cultura Estrutura social 4 Hierarquia ontológica (Wiley, 1994) Simbólico Não-Simbólico •Cultural •Social •Interacional •Psicológico •Biológico •Físico-químico 5 Singularidade lógica da psicologia Raciocínio Digital Raciocínio Analógico movimento Redução de Incerteza Diferenciação de probabilidades Decifração de Ambigüidade Diferenciação de possibilidades 6 Diálogo com a Filosofia é imprescindível • Para o refinamento conceptual • Para o exercício crítico • Para o exame permanente de questões fronteiriças e controversas 7 Exemplos • • • • Problema ontológico da representação Peter, 2004 Debate ético sobre moral Kendler, 2002 Debate estatístico sobre inferência Newsome, 2003 Natureza humana e limites da ciência Root, 2003 • Dilemas correntes entre hermenêutica e poder Richardson, 2002 • Limites metafísicos e epistemológicos na classificação da ciência Stamos, 2004 8 Psicologia Filosófica Filosofia Psicologia 9 A área está organizada em uma • Society for Theoretical and Philosophical Psychology – Divisão 24 da American Psychological Association • Revistas – Philosophical Psychology – Philosophy, Psychiatry & Psychology – Journal of Theoretical and Philosophical Psychology – Theory & Psychology 10 No Brasil articulações entre Filosofia e Psicologia aparecem nos vários periódicos • Na defesa dos métodos qualitativos – Ferreira, Calvoso & Gonzales, 2002 • Na argumentação pró subjetividade – Neubern, 2001 • Na análise das relações entre psicologia, psicanálise e ciência – Bastos, 2001; Pacheco Filho, 1997 • Na justificação epistemológica da psicologia social – “No lugar da psicologia explicar o social, é o próprio social que deve explicar o surgimento da psicologia moderna” Silva, 2004, p. 12 11 Esta exposição é uma síntese de três diálogos 1. Diálogos com as psicologias dos grandes filósofos 2. Diálogos com a Filosofia da Ciência 3. Diálogos com a Psicologia Filosófica 12 Diálogo com as psicologias dos grandes filósofos 13 As relações entre psicólogos e filósofos no século XIX foram difíceis Psicólogos A filosofia era um mal a ser afastado por impedir avanços conceptuais e metodológicos Filósofos A psicologia estava à deriva, sem clareza de método e de objeto 14 15 A luta dos primeiros psicólogos experimentais com a filosofia era contra a metafísica 16 James, 1890 “A psicologia, quando verifica a correlação empírica dos vários tipos de pensamento ou sentimento com condições definidas do cérebro, não pode ir além disso que é como faz a ciência natural” “Todas as tentativas para explicar nossos pensamentos fenomenais dados enquanto produto de entidades profundas, se Alma, Ego Transcendental, Idéias, Unidades Elementares da Consciência, são metafísicas.” 17 80 anos depois de James, Wolman disse que “Os progressos científicos dos Tempos Modernos ultrapassaram a filosofia e a teologia. Técnicos, engenheiros, médicos, navegantes, exploradores e aventureiros produziram mais conhecimento que os eruditos monges e filósofos. A ciência foi criada por homens que necessitavam dela para o comércio, para o trabalho, para o prazer e, sobretudo, para aqueles que estavam à procura dos fatos. Laboratórios e expedições científicas produziram mais conhecimento factual nos últimos três séculos do que jamais foi inventado pelas meditações e especulações” Wolman, 1973, p. 22 18 110 anos depois de James Stanovich disse que Existe um corpo de conhecimento que não é conhecido pela maioria das pessoas. Esta informação refere-se ao comportamento humano e à consciência em suas várias formas. Ele pode ser usado para explicar, predizer e controlar ações humanas. Aqueles que têm acesso a esse conhecimento podem contar com recursos valiosos para compreenderem outros seres humanos. Há neles uma concepção mais completa e acurada sobre o que determina o comportamento e os pensamentos de outros indivíduos, o mesmo não ocorrendo entre aqueles que não possuem este conhecimento. Surpreendentemente, este corpo de conhecimento desconhecido é a disciplina de psicologia. (Stanovich, 2004, p. ix) 19 O que é metafísica? “As ciências especulativas são a metafísica, que trata do ser em geral, e em particular de Deus e dos seres feitos a sua imagem” Bosuet Lalande, 1996 Sentido derivado da Idade Média 20 Em síntese • Para James (1890/1981) os avanços da psicologia dependia do seu afastamento da metafísica • Para Wolman (1973), a ciência é a porta para as grandes transformações da relação do homem com a natureza • Para Stanovich (2004), a psicologia é um sucesso científico, pena que poucos saibam disso. 21 Será mesmo? 1. A psicologia nunca abandonou a metafísica 2. A psicologia experimental fragmentou-se em várias frentes de pesquisa, deixando a disciplina sem estrutura integrativa 3. A metafísica foi fortemente assumida pelas teorias de personalidade e de psicoterapia, enquanto sistemas fechados em si mesmos, ainda que não invocassem fundamentos supra-sensíveis 22 As exposições filosóficas sobre o comportamento humano, desde a Grécia Antiga ao século XIX, emergem de dois pólos tensionais gnose ethos Ação de Conhecer Ação de Escolher 23 Ação de Conhecer - gnose Capacidade para interpretar e responder Reflexão Domínio de um código ou linguagem Aprendizagem com a experiência Empatia e solidariedade Autocontrole 24 Ação de Conhecer - análise Tarefas da reflexão Discernimento Capacidade de conhecer Veracidade do conhecimento Entre Gênese e singularidade Gnosiologia Théorie de Connascenza Lógica e universalidade Epistemologia Knowlegde, Logos, Discourse 25 Lócos onde tal ação se manifesta - ethos • Estabelece as regras da moral e do direito, • Confronta e é confrontado pelo comportamento do tal agente do conhecimento • Fornece o olhar externo para as variações comportamentais ditas adequadas ou inadequadas Qualquer comportamento humano é social Qualquer ato humano é moral 26 1. Elementos e princípios de vida 2. Sensibilidade e irracionalidade 3. Racionalidade e inteligência Vontade Três instâncias Uma boa maneira de se iniciar no estudo da gnose e do ethos é na filosofia antiga 27 A semelhança da hierarquia das questões e a estrutura do cérebro é impressionante 28 As perguntas que faziam continuam pertinentes Qual a relação entre sensibilidade e racionalidade? Qual a diferença entre percepção e imaginação? Qual a relação entre consciência, memória e sonho? Como são formados os hábitos? O que é a vontade? O que ocorre na falha destas atividades ou funções? O que faz alguém levar outros a sofrerem? O que faz alguém sofrer? 29 As perguntas eram analisadas tendo como base um princípio fundamental, supra sensível ou não, que orientava como se deve educar e como se deve tratar. 30 Diálogos com a filosofia da ciência 31 Wolman, 1973, p. 23 Filósofos da ciência não são filósofos no sentido tradicional e tem pouco a ver com a visão do mundo dos sistemas metafísicos (...) eles não descobrem ou trazem qualquer conhecimento sobre astronomia, física, biologia e psicologia, mas analisam os trabalhos e as palavras dos astrônomos, dos físicos, dos biólogos, e dos psicólogos. 32 Estudos epistemológicos nas décadas de 1970 e 1980 • Inclusão de aulas de epistemologia nos programas de graduação • Críticas ao projeto de ciência natural da psicologia • Ênfase nas diferenças entre ciências humanas e ciências naturais • Interesse pelas idéias francesas sobre marxismo, estruturalismo, fenomenologia e existencialismo • Proposição de um novo projeto de psicologia social • Emergência das pesquisas qualitativas • Estudos pós-graduados em filosofia, lingüística, sociologia ... 33 Panorama na década de 1990 • Incertezas quanto aos investimentos em epistemologia • Declínio da radicalização entre ciência humana e ciência natural • Aproximações entre pesquisas qualitativas e quantitativas • Intervenções baseadas em evidências • Radicalismo remanescente – Objetividade versus Subjetividade. 34 Epistemologia Crenças Estrutura subjacente que limita os modos como os objetos são percebidos, agrupados, ou definidos Certezas Suposições Opiniões Evidências atenção Variações epistemológicas buscar Coerência epistemológica evitar Radicalismo epistemológico 35 Bayesiana Evolucionária Feminista Epistemologias Moral Naturalizada Social Virtude 36 Diálogos com a psicologia filosófica 37 Abrangência da psicologia filosófica • Influência da neurociência cognitiva e da psicologia biológica na compreensão dos seres humanos • Manejo de saúde mental na prática psicoterapêutica • Implicações éticas da pesquisa e da profissão • O lugar da espiritualidade • Papel dos métodos qualitativos em psicologia • Perspectivas feministas e pós-modernas 38 Representação Experiência consciente Vontade Filósofos recorrem à psicologia Moral 39 Esquema básico da representação Slezak,2002; Yolton, 1996 Mundo Idéia O que é representado A representação Solipsismo Realismo Mente O usuário Psicologia? 40 Representação Primeira Pessoa Intencionalidade Experiência Consciente Diálogos entre fenomenologia e neurociência Naturalizing Phenomenology Pettitot, Varela, Pachoud & Roy, 1999 41 Em busca da alma perdida (Crick, 1998) Funcional Magnetic Resonance Imaging - fMRI Linguagem Lembrar de palavras que iniciem com determinada letra Dizer quais os verbos que se relacionam com determinadas palavras Atividade Neural Experiência Consciente 42 Revisão das dicotomias Psicologias Funcionais Psicologias Compreensivas Motor ontology: The representational reality of goals, actions and selves (Gallese & Metzinger, 2003) 43 Pesquisas sobre a vontade Por que alguém, embora julgue que A é melhor e decida por A, faça voluntária e intencionalmente B? Hilgard (1980) Zhu (2004) Até inícios do século XX propriedade essencial para a direção consciente da ação Processo executivo mental que faz a intermediação e a ligação entre as deliberações, as decisões, e os movimentos 44 corporais Vontade ou volição Clássico Iniciador da ação Contemporâneo Controle executivo essencial da ação Ação Searle, 2001 Razões para decisão Decisão para ação Execução da ação 45 1ª, 2ª e 3ª Pessoas Autorelato 1ª Dizer que está feliz a alguém Observação 3ª Descrever as expressões faciais de alguém e inferir que este alguém não está feliz Intersubjetividade 2ª Compartilhar o estar feliz com alguém 46 Conflitos entre vontade e ação Roskies, 2003 São julgamentos éticos intrinsecamente motivacionais: Lições de uma “sociopatia adquirida” Pacientes com lesões cerebrais que são capazes de fazer julgamentos morais, mas se mostram incapazes de seguir regras. 47 A volição está associada ao córtex cingulado anterior 1937 - Experiência da emoção, tumores levam a perda da espontaneidade nos sentimentos e nos pensamentos 1945 – Choque elétricos eliciam mudanças no batimento cardíaco, pressão sanguínea, respiração, vocalização e expressão facial 1992 – Contém uma classe especial de neurônios: spindle cells que aparecem pelo quarto mês de vida 48 Controvérsia Experiência consciente e representação são conceitos ontológicos cientificamente justificados? Chalmers, 1997 Dennett, 1991 SIM NÃO E você? De que lado está? 49 50 Ética Negociação Cultural Interpessoal Social organizacional Comunicação Interacional Processos básicos Psicológico Neurocognição Biológico Psicopatologia Físico- Neuroquímica Ecologia Engenharia Pensamento crítico 51 Ontologia gnosiologia Epistemologia Pensamento crítico e...e metodologia Lógica ou...ou Ética 52 Comunicação Psicologia como Ciência Humana Símbolo Organismo Linguagem Intelectiva Razão Percepção Experiência Sensitiva Consciência Emoção Nutritiva Ambiente Imaginação Comportamento Memória Não consciente Organismo Psicologia como ciência natural Ação Adaptação Função 53 Comunicação Psicologia como Ciência Humana Símbolo Organismo Linguagem Intelectiva Razão Percepção Experiência Sensitiva Imaginação Consciência Emoção Memória Nutritiva Ambiente Comportamento Ação Organismo Psicologia como ciência natural Adaptação Função 54 Comunicação Psicologia como Ciência Humana Símbolo Organismo Linguagem Intelectiva Razão Percepção Experiência Sensitiva Imaginação Consciência Emoção Nutritiva Ambiente Comportamento Memória Não consciente Organismo Psicologia como ciência natural Ação Adaptação Função 55 Agradecimentos Amanda da Silveira (Capes) Daniela Benites (CNPq) 56