AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: UMA ANÁLISE PARA ALÉM DAS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS Denize Amorim [email protected] "... ao contrário da televisão, os consumidores da internet também são produtores, pois fornecem conteúdo e dão forma à teia". CASTELLS (2011, p. 439) Objetivo Este trabalho pretende analisar as características de dois AVA, como se dá o processo de ensino-aprendizagem nestes ambientes e o que influencia as práticas educativas, comparando suas interfaces a partir dos aspectos ergonômicos, pedagógicos e comunicacionais. Universo Pesquisado Foi realizada uma avaliação de dois AVA (Moodle CEFET/RJ e Construtore/UFRJ) construídos ancorados na abordagem construtivista de aprendizagem, com universos semelhantes, com mesmo nível acadêmico (pós-graduação) e com a mesma faixa etária. Em seguida, estabeleceu-se uma análise comparativa entre as variáveis das dimensões pesquisadas. AVA Construtore / UFRJ AVA Moodle CEFET/RJ Procedimentos Metodológicos: Como instrumento de pesquisa foi utilizado um formulário de avaliação com 265 questões, desenvolvido a partir de dois modelos: um sugerido por Silva (2002), o método MAEP (Método de Avaliação Ergopedagógico), e outro proposto por Schlemmer, Saccol e Garrido (2007). Os critérios definidos para avaliar os recursos dos ambientes foram: "sim" para o caso do recurso possuir uma determinada funcionalidade; "não" para o caso de não possuir tal funcionalidade e "não se aplica” quando a funcionalidade analisada não for empregada na ferramenta avaliada. Aspectos analisados nos AVA Aspectos Ergonômicos Aspectos Pedagógicos Aspectos Comunicacionais Aspectos Ergonômicos Critérios analisados: condução, carga de trabalho, controle explícito do usuário, adaptabilidade, gestão de erros, homogeneidade e coerência, significação dos códigos e denominações, adequação. Ao avaliar interfaces de Ambientes Virtuais de Aprendizagem a partir dos critérios ergonômicos, deve-se levar em conta não só a forma como a interface é utilizada para atingir os objetivos propostos, mas também se sua utilização é adequada para atingir esses objetivos, como o aluno lida com elas no processo de ensino aprendizagem, se ela é de fácil utilização, se é segura, se é eficaz, e se torna-se um ambiente favorável à aprendizagem, visto que é através do uso que faz da interface que o aluno conduzirá seu aprendizado e irá interagir com os demais e com a informação disponibilizada. Condução Os critérios de condução analisam os recursos de ajuda, informação, simplicidade e organização da interface. Pode-se observar que ambas as plataformas convergem na forma como possibilitam a ambientação do usuário, o que facilita a forma como este inicia sua interação com o ambiente. Carga de Trabalho A carga de trabalho corresponde ao modo como a informação é disponibilizada ao usuário. Levando-se em consideração que a maneira como a informação é apresentada é um fator que facilita a pesquisa dos usuários, entende-se que ambos os ambientes atendem essa função, visto que preocupam-se em apresentar as informações de forma clara e precisa, porém o ambiente Moodle apresenta uma maior eficácia nesse sentido. Controle Explícito do Usuário O controle explícito do usuário avalia a forma como o usuário controla sua utilização a partir das ferramentas disponibilizadas, indo e voltando entre telas e conteúdos de acordo com a sua necessidade. Verificamos que, dentre as perguntas que se aplicam, as interfaces atendem parcialmente as necessidades do aluno de regressar a um estágio anterior, sendo a Constructore mais eficaz nesse sentido. Entende-se que não disponibilizar essa opção deixa de levar em conta o poder de resignificação do usuário e isso irá influenciar em seu aprendizado e sua interação. Adaptabilidade Este fator avalia se o AVA considera que usuários mais experientes possam ter mais facilidades, já que não precisariam passar por todos os estágios dos novatos. A análise desse fator, leva a crer que em ambas as interfaces, mais ainda no Moodle, esse não é um fator considerado relevante para sua usabilidade. Levando-se em consideração que ambos os ambientes disponibilizam meios para uma integração inicial (conforme verificado no fator condução), não entendemos esse fator como algo que influencia no processo de ensino aprendizagem. Gestão de Erros Analisa os meios disponibilizados para que o aluno possa retornar a um ponto a partir de seus erros. Assim como no fator “controle explicito do usuário”, entendemos que retornar a um estágio anterior é algo que deve ser disponibilizado ao aluno, porém algumas das perguntas não se aplicam aos ambientes pesquisados, levando-nos a uma análise parcial deste fator que nos leva a considerar que esse precisa ser melhor aplicado nos ambientes, de modo a favorecer uma melhor gestão de erros individuais para que esses não prejudiquem a aprendizagem colaborativa no ambiente. Homogeneidade/Coerência Distinção e homogeneidade na apresentação das telas e dos ícones de acesso são elementos importantes para a navegação do usuário. Verificamos que ambos estão presentes nas interfaces analisadas, com maior frequência na interface Moodle, o que favorece e facilita a interação entre os usuários. Significação dos Códigos e Denominações Utilizar-se de forma clara de vocabulário familiar ao curso/usuário apresenta-se como fator imprescindível em um AVA, visto que “ruídos” de comunicação podem afetar a forma como o usuário se localiza no ambiente e interage com a informação. Ambos os ambientes atendem a este aspecto. Adequação A adequação verifica se o ambiente atende a mais de uma metodologia de ensino. Verifica-se que os ambientes são passíveis de adequação, porém o ambiente Moodle mostra-se com um nível maior de dificuldade de utilização. Poder adequar-se a diferentes metodologias é um fator que leva em conta as necessidades individuais e coletivas e isso influencia a aprendizagem colaborativa. Aspectos Pedagógicos Critérios analisados: ensino-aprendizagem, dispositivos da formação, controle e gestão do processo, validade políticopedagógica, perspectiva didático-pedagógica. Ao analisar os aspectos pedagógicos de um ambiente virtual de aprendizagem, as tecnologias digitais precisam ser consideradas a partir da comunicação bidirecional que possibilitam entre grupos e pessoas, favorecendo um novo modelo de estrutura educacional aberta, flexível, interativa e simultânea. Ensino-Aprendizagem Este critério avalia itens imprescindíveis para a formação do aprendiz, como a gestão de conteúdo, a autonomia do aprendiz, a forma como a informação é apresentada, a carga do conteúdo, os elementos motivadores para a aprendizagem, a diversidade metodológica, as estratégias didáticas empregadas, os objetivos de aprendizagem etc. Ambas as interfaces atendem de forma parcial a estes critérios, o que interfere negativamente no processo de ensino aprendizagem, visto que esses itens influenciam consideravelmente a interação e a aprendizagem colaborativa, pois a partir das estratégias aqui empregadas o aluno será motivado e guiado na construção do conhecimento individual e coletivo. Dispositivos de Formação Observa se o ambiente atende os objetivos propostos para a formação do aprendiz. Verifica-se que as interfaces atendem totalmente o objeto em análise, que é considerado primordial tanto para o processo de ensino aprendizagem quanto para a construção coletiva do conhecimento. Controle e Gestão de Processos Este fator analisa como a avaliação é apresentada ao aluno pelo ambiente. Considerando-se que é a partir da avaliação que o aluno tem um feedback de sua evolução no curso, entende-se que é primordial que este aluno possa acompanhar o processo ao longo das atividades, de modo que possa estabelecer um elo entre o que aprendeu, o que precisa ser revisto ou aprimorado e definir as estratégias para atingir os objetivos propostos. A maioria das perguntas do questionário não se aplica aos ambientes pesquisados, visto que a avaliação automatizada não está presente nos cursos, assim, a análise deste fator torna-se parcial. Porém, vale ressaltar que os itens analisados influenciam no desenvolvimento do aluno no decorrer do curso e em sua interação, seja com a informação, com o ambiente ou com os demais. Validade Político-Pedagógica Este critério a avalia se o AVA é pertinente e coerente com os objetivos educacionais propostos, com a metodologia utilizada e com a filosofia pedagógica na qual se desenvolveu. Verifica-se que ambos os ambientes mostram-se totalmente válidos para as atividades pedagógicas a que se destinam. É de fundamental importância que um ambiente virtual com fins educativos, leve em consideração os objetivos de aprendizagem que serão trabalhados nele e desenvolva-se a partir de princípios que nortearão não só a sua utilização prática, mas também didática. Perspectiva Didático-Pedagógica Considera-se esse critério como o fator primordial para o processo de interação e aprendizagem colaborativa, visto que ele avalia se o sistema foi desenvolvido com foco na interação que irá possibilitar, se leva em conta a autonomia do aluno, o desenvolvimento de suas competências e habilidades, se possibilita a colaboração, se vê o professor como mediador no processo ensino aprendizagem etc. Ambas as interfaces apresentam-se em total conformidade com as teorias construtivistas de aprendizagem nesse critério, visto que possibilitam integralmente a interação, o compartilhamento de informação e a construção coletiva do conhecimento através da mediação docente e, consequentemente, uma aprendizagem colaborativa. Aspectos Comunicacionais Critérios analisados: documentação e material de apoio, navegação, interatividade, grafismo, organização da mensagem, ferramentas de trabalho coletivo, acessibilidade. A reflexão sobre a utilização das mídias digitais em processos pedagógicos deve partir da análise das potencialidades de cada uma delas em consonância com o contexto social e com as características de cada usuário. Ao analisar os aspectos comunicacionais, compreende-se a importância do Design Didático para propiciar um ambiente aberto a descobertas, um ambiente que facilite a integração das TICS e a interação entre os alunos para que, de forma colaborativa, criativa e crítica, façam novas descobertas, modifiquem conceitos, ampliem seus conhecimentos. Documentação e Material de Apoio Verifica se o programa disponibiliza material que oriente o aluno sobre seus objetivos, conteúdos e especificações técnicas para sua utilização. Ambos os programas atingem os objetivos dessa avaliação, o Moodle em maior grau. Ter acesso a um material de apoio em caso de dúvidas facilita o uso da interface e evita que a aprendizagem, individual ou coletiva, seja comprometida por problemas técnicos de utilização. Navegação Este critério analisa se o programa, além de ser de fácil utilização, orienta o aluno em sua navegação, destacando itens já visualizados, facilitando o deslocamento entre suas telas, apresentando links de forma clara e indicando o tamanho e formato dos arquivos a serem baixados. É importante que o usuário possa navegar em um ambiente, claro, lógico e de fácil utilização, podendo fazer links externos e retornar ao ambiente sem se “perder” nele, visto que é a partir dos links que faz e da forma como interage com o ambiente e com a informação, que o aluno utilizará os recursos presentes no AVA para a construção do conhecimento. Ambos os ambientes atendem parcialmente a este fator. Interatividade Este fator avalia a interação do aprendiz com as ferramentas do ambiente. A maioria das perguntas não se aplica aos ambientes e, dentre as que se aplicam, o ambiente Construtore atende melhor a este fator. Entendemos que o ambiente precisa disponibilizar possibilidades para o aluno controlar a forma como navega e constrói o seu conhecimento, motivando-o a ir e voltar, parar e recomeçar, quando quiser e a partir do ponto que desejar. Entendemos que este fator precisa ser melhor utilizado nos ambientes, de modo a não comprometer a forma como o aluno utiliza a interface para o aprendizado e não prejudicar a construção do conhecimento e a aprendizagem colaborativa que acontece nela. Grafismo Aqui avalia-se a qualidade das informações visuais e auditivas disponibilizadas no ambiente. Alguns itens não se aplicam aos ambientes pesquisados, porém os que se aplicam foram avaliados de forma positiva, pois atendem o objetivo de disponibilizar informações claras, objetivas, limpas e em conformidade com as necessidades do curso. Entende-se que toda informação disponível no ambiente deve ser desprovida de poluição, visto que qualquer interferência na forma como a mensagem é passada ao aluno pode interferir em sua análise e na forma como aluno utiliza essa informação para si e para as trocas no ambiente. Organização das Mensagens Esse critério verifica se as informações disponíveis no ambiente estão organizadas de modo a facilitar a navegação, a leitura e a utilização das mesmas. Os itens que se aplicam aos ambientes pesquisados atendem os critérios de avaliação. Entendemos ser de fundamental importância a organização das mensagens para aprendizagem colaborativa e para que o aluno possa interagir de forma precisa e agradável com a mensagem e possa utilizá-la para a construção do conhecimento. Ferramentas de Trabalho Coletivo Analisa os recursos existentes nos AVA para potencializar a colaboração e a interação entre os usuários. Verifica-se que muitos itens não se aplicam aos ambientes pesquisados, porém, dentre os que se aplicam, a maioria não atende os objetivos de possibilitar, através de seus recursos, a colaboração e o trabalho coletivo entre os alunos. Este critério é considerado determinante para aprendizagem colaborativa e é claro o comprometimento de forma negativa que a ausência ou a não utilização de ferramentas de colaboração tem na construção do conhecimento. Acessibilidade O critério de acessibilidade analisa se o ambiente está apto a atender pessoas com necessidades especiais. A maioria dos itens pesquisados não se aplica aos ambientes, pois ambos não fornecem nenhuma possibilidade de potencializar acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. Assim, verifica-se que os AVA não atendem esse fator, pois não são passíveis de serem utilizados por todos os usuários. Entende-se que um AVA precisa ser desenvolvido levando em consideração a diversidade dos alunos que irão utilizá-lo e ser acessível a todos os tipos de usuários. Identificação da relação entre os fatores que impactam e estimulam a aprendizagem colaborativa Considerações Finais • O desenho didático e curricular deve permitir práticas pedagógicas que estimulem a interação, os objetivos, potencializar e motivar a colaboração entre os participantes; • Investir em AVAS que busquem em seu desenho didático a convergência de saberes, estes sim compartilhados, analisados e transformados com a mediação de variadas mídias para potencializar uma aprendizagem colaborativa; • Verifica-se a necessidade e se aprofundar pesquisas com o foco no aluno e nos usos que este faz das mídias digitais em suas relações sociais no Ciberespaço e em seu processo de aquisição do conhecimento em Ambientes Virtuais na Educação online, para que possamos desenvolver metodologias que promovam a interação entre pessoas, interfaces e mídias e potencializem a aprendizagem colaborativa. • Verificamos que é o conjunto desses fatores e seus critérios, alguns mais outros menos, que irá possibilitar a criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem que deixem para trás o formato unidirecional dos meios de massa e ofereçam novos meios; • A familiaridade do aluno com o ambiente e com suas ferramentas influenciam o modo como ele irá utilizá-lo, visto que quanto mais confortável o aluno sentir, maior será a sua motivação para aprender e interagir no/com o ambiente; • Ao serem analisados em conjunto esses critérios apresentam suas possibilidades e limitações diante do desafio que se apresentou como sendo o principal na Educação online: a interação. 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