UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Felipe Magalhães Bohrer A INTEGRAÇÃO ENTRE DIFERENTES ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS E O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE BORN GLOBALS COM MAIS DE UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA: ESTUDO DOS CASOS MERCADOLIBRE E EBAY Rio de Janeiro, 2012 2 Felipe Magalhães Bohrer A INTEGRAÇÃO ENTRE DIFERENTES ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS E O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE BORN GLOBALS COM MAIS DE UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA: ESTUDO DOS CASOS MERCADOLIBRE E EBAY Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração,Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisitos parcial à obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Luis Antônio da Rocha Dib Rio de Janeiro, 2012 3 FICHA CATALOGRÁFICA B676i Bohrer, Felipe Magalhães A integração entre diferentes abordagens comportamentais e o processo de internacionalização de Born Globals com mais de uma década de existência: estudo dos casos Mercadolibre e Ebay / Felipe Magalhães Bohrer. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. 120 f.: il.; 31 cm. Orientador: Luis Antônio da Rocha Dib Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2012. 1. Marketing. 2. Comércio eletrônico. 3. Administração – Teses. I. Dib, Luis Antônio da Rocha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD: 382.6 4 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais pelo apoio e pela disposição em participar do meu processo de aprendizado, mesmo que fosse com uma palavra de apoio ou com um lanche no meio da noite. O mesmo se aplica ao resto da minha família, pela torcida e pelo interesse. Agradeço à minha querida namorada Ana Carolina, companheira de todas as horas, que me incentivou desde os processos de seleção para o mestrado até a defesa da dissertação e compreendeu a entrega necessária que todo este processo exigiu. Para ela, todo o meu amor. Guardo um agradecimento especial para o meu orientador Luis Antonio Dib, que emprestou todo o seu conhecimento para que esta pesquisa fosse possível. Boa parte dos méritos deste trabalho se deve à sua exigência e seu domínio a respeito do tema estudado. Não posso deixar de lembrar dos demais professores do COPPEAD, que cada um a seu jeito foram tão importantes na minha formação. Além deles, os funcionários do COPPEAD sempre disponíveis para resolverem todas as demandas. Gostaria de agradecer à turma 2010 pelos momentos maravilhosos que passamos, nas salas de aula, pelos corredores do COPPEAD, em grupos de estudo ou nos inúmeros eventos. Em especial, destaco o Grupo 5, do Schumpeterian Shocks e os meus colegas da turma de marketing. Levarei estes momentos para toda a minha vida. Por último, agradeço a Deus, que permitiu que tudo isso fosse possível e me ajudou a ter força para passar por todo este processo e sair dele uma pessoa melhor. 5 BOHRER, Felipe Magalhães. A integração entre diferentes abordagens comportamentais e o processo de internacionalização de Born Globals com mais de uma década de existência: estudo dos casos MercadoLibre e eBay Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração)- Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 RESUMO O presente estudo tem por objetivo oferecer uma percepção dos processos de expansão internacional de empresas de comércio eletrônico à luz das abordagens comportamentais de internacionalização de empresas. Através de uma pesquisa qualitativa de estudo de múltiplos casos do tipo exploratória foram estudadas as empresas de comércio eletrônico MercadoLibre, criada na Argentina em 1999, e eBay, concebida nos Estados Unidos em 1995. Os dados foram obtidos de forma secundária a partir de revistas, jornais, matérias em websites noticiosos e conversas informais com profissionais do mercado. Após descrição dos dois casos entre a fundação das empresas e o ano de 2011, foi efetuada uma análise do caso utilizando o modelo de Dib (2008), contemplando tendências globais, fatores ambientais do país, fatores ambientais da indústria, fatores específicos da empresa e fatores específicos do empreendedor. Na análise foi constatada a interação entre as quatro abordagens comportamentais estudadas: Modelo de Uppsala, Perspectiva das Networks, Empreendedorismo Internacional e Born Globals, sendo uma delas de forma isolada incapaz de explicar o processo de internacionalização das firmas escolhidas. Foi também encontrada uma forte relação entre a importância estratégica do país escolhido e o modelo de entrada seguido. Por fim, foi sugerido que o estudo aplicado seja testado em outros mercados e de forma quantitativa no mercado de comércio eletrônico. Palavras-chave: Internacionalização de empresas. Comércio Eletrônico. 6 BOHRER, Felipe Magalhães. A integração entre diferentes abordagens comportamentais e o processo de internacionalização de Born Globals com mais de uma década de existência: estudo dos casos MercadoLibre e eBay Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração)- Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 ABSTRACT The present study aims to provide a perception of the processes of international expansion of e-commerce companies in the light of behavioral approaches of internationalization of companies. Through an exploratory type qualitative research study of multiple cases were studied e-commerce companies MercadoLibre, created in Argentina in 1999, and eBay, born in the United States in 1995. Data were obtained from a secondary form of magazines, newspapers, news websites and materials in informal conversations with market professionals. After the description of two cases among the founding companies and the year 2011, was made an analysis of the case using the model of Dib (2008), covering global trends, the country's environmental factors, environmental factors, industry factors and company-specific factors specific to the entrepreneur. In analyzing the interaction was found between the four studied behavioral approaches: Model Uppsala, Perspective Networks, International New Ventures and Born Globals, one of them in isolation unable to explain the process of internationalization of firms chosen. It was also found a strong relationship between the strategic importance of the chosen country and the entry model followed. Finally, it was suggested that the study should be applied in other markets and tested in a quantitative way in e-commerce market. Keywords: Enterprise Internationalization. E-commerce. 7 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO ......................................................................... 12 1.2 O MERCADO DE E-COMMERCE ............................................................. 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 15 2.1 TEORIAS COMPORTAMENTAIS .............................................................. 16 2.1.1 Modelo De Uppsala ............................................................................ 16 2.1.2 Perspectiva Das Networks ................................................................ 22 2.1.3 Empreendedorismo Internacional.................................................... 28 2.2.1 Fatores Externos Das Born Globals (Pré-Condições) ................... 36 2.2.2 Fatores Internos Das Born Globals (Definições) ............................ 38 2.2.3 Modelos De Análise ........................................................................... 45 2.2.4 Pesquisas Sobre Born Globals Na América Latina........................ 50 3. DISCUSSÃO DO MÉTODO ............................................................................ 51 3.1.DEFINIÇÃO DAS PERGUNTAS DE PESQUISA ...................................... 52 3.2. NATUREZA DO ESTUDO......................................................................... 52 8 3.3. OS CASOS ESCOLHIDOS ....................................................................... 56 3.4. COLETA DE DADOS ................................................................................ 57 3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO DE ESTUDO DE CASO .............................. 57 3.6. LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................... 58 3.7.DEFINIÇÃO OPERACIONAL DE BORN GLOBAL .................................... 58 3.8. MODELO DE ANÁLISE ADOTADO .......................................................... 59 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS ............................................................................. 60 4.1 MERCADOLIBRE ....................................................................................... 60 4.1.1 Breve Histórico .................................................................................. 60 4.1.2 O Ambiente De Negócios .................................................................. 61 4.1.3 Os Principais Concorrentes ............................................................. 64 4.1.4 O Movimento De Internacionalização Para O Brasil ...................... 66 4.1.5 Resultados E Conseqüências .......................................................... 69 4.2 EBAY .......................................................................................................... 72 4.2.1 Criação Do Ebay ................................................................................ 72 4.2.2 Crescimento ....................................................................................... 73 9 4.2.3 Começo Da Internacionalização ....................................................... 75 4.2.4 Internacionalização Para A Europa.................................................. 75 4.2.5 Internacionalização Para A América Latina .................................... 77 4.2.6 O Fracasso Japonês .......................................................................... 77 4.2.7 Expansão Para A Ásia E Problemas Culturais ............................... 79 4.2.8 O Mercado De Pagamentos .............................................................. 80 4.2.9 Ebay International Market ................................................................. 82 5. ANÁLISE DOS CASOS .................................................................................. 82 5.1 TENDÊNCIAS GLOBAIS ........................................................................... 86 5.2 FATORES AMBIENTAIS DOS PAÍSES ..................................................... 87 5.3 FATORES AMBIENTAIS DA INDÚSTRIA ................................................. 89 5.4 FATORES ESPECÍFICOS DAS EMPRESAS............................................ 90 5.5 FATORES INDIVIDUAIS DOS EMPREENDEDORES .............................. 94 6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ......................................................... 101 6.1. CONCLUSÃO .......................................................................................... 101 6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................ 105 10 7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 107 8. BIBLIOGRAFIA DOS CASOS ...................................................................... 113 11 1.INTRODUÇÃO Na metade final da década de 1990, o mundo sofreu uma grande transformação: a popularização da Internet comercial. Embora já existisse como uma rede privada, primeiro militar e depois no âmbito acadêmico, a criação do sistema World WideWeb em 1990, e a posterior abertura da rede para fins comerciais, gerou condições para um novo mercado, com características singulares frente ao universo das empresas tradicionais. Dentre as muitas mudanças trazidas pela Internet, podemos destacar o comércio como uma das áreas mais impactadas. A partir daquele momento,uma página poderia ser acessada de qualquer lugar do mundo, o que quer dizer que uma vez que a empresa abrisse a sua “loja” na Internet, ela estaria disponível – ao menos para visita – em todos os continentes. Tal característica trouxe umanova vertente para os processos de internacionalização de empresas. O estudo das teorias de internacionalização de empresas teve seu início durante a década de 1960, com teorias que seguiam modelos da Economia. Podem ser detacadas a teoria do Poder de Mercado (HYMER, 1960), a do Ciclo de Vida dos Produtos (VERNON, 1966)ou o chamado Paradigma Eclético (DUNNING, 1977). Estas teorias focavam no estudo da internacionalização de grandes empresas. Na década de 1970 surgiu uma nova abordagem, chamada de Comportamental.Dentre suas principais teorias destacam-se o Modelo de Uppsala, (JOHANSON E VAHLNE, 1977), a perspectiva de Networks (JOHANSON E MATTSON, 1988), o estudo do Empreendedorismo Internacional (OVIATT E MCDOUGALL, 1994) e das empresas Born Globals (RENNIE, 1993). Estas teorias consideravam também as pequenas e médias empresas e estavam interessadas em como elas procediam em seus movimentos internacionais, desde o início de seus processos de internacionalização. 12 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO O presente estudo tem por objetivo oferecer uma percepção dos processos de expansão internacional de empresas de comércio eletrônico à luz das abordagens comportamentais de internacionalização de empresas, como o Modelo de Uppsala, o Empreendedorismo Internacional, a perspectiva de Networks e o fenômeno das Born Globals. Mais do que confrontar as diferentes correntes teóricas, este estudo pretende se utilizar da conciliação destas para um melhor entendimento das especificidades dos casos escolhidos, e conseqüentemente do mercado de comércio eletrônico. Para atingir este objetivo foi formulada a seguinte pergunta de pesquisa: como as abordagens comportamentais das teorias de internacionalização de empresas ajudam a explicar os movimentos de internacionalização do MercadoLibre e do eBay ao longo da existência das empresas, entre 1995 e 2012? 1.2 O MERCADO DE E-COMMERCE O número de usuários de internet aumentou de forma dramática na última década. Apenas entre os anos de 2000 e 2011, obteve crescimento de 528%, chegando a mais de dois bilhões de usuários (INTERNET WORLD STATS, 2012). Este ritmo vem sendo acompanhado pelo mercado de comércio eletrônico com crescimento sustentado de mais de 20% ao ano – exceção feita a 2009, no auge da crise mundial – chegando aos US$ 700 bilhões em 2011 e com a expectativa de gerar US$1 trilhão até o fim de 2013 (JP MORGAN, 2011). Este valor por si já seria significativo, mas torna-se impressionante se lembrarmos que este mercado não existia no início da década de 1990. A primeira loja online disponível para os consumidores foi a inglesa Gateshead SIS/Tesco, com Jane Snowball, uma senhora inglesa, executando a primeira 13 compra, no ano de 1984. O sistema utilizado era o teletexto, que utilizava terminais ligados a uma rede, uma espécie de internet rudimentar. Apenas no ano de 1995 a primeira loja virtual para consumidores na internet, a livraria Amazon.com, fundada por Jeff Bezos, iniciou as suas operações. A empresa pode ser considerada um símbolo da expansão do chamado comércio eletrônico(e-commerce) no mundo, tendo iniciado em uma garagem na cidade de Seattle (EUA), e chegado ao ano de 2011 com 56.200 funcionários e US$48 bilhões em vendas (AMAZON.COM, 2012).Também em 1995 seria fundado o eBay, uma das empresas estudadas nesta pesquisa. No ano de 2000, 64 milhões de norte-americanos já compravam online. No mercado europeu, um em cada 11 habitantes comprava online (TEHAN, 2002). Empresas de e-commerce se tornaram expoentes do fenômeno das companhias “ponto com” (“dotcom”), que passaram a ter acesso a grande quantidade de capital de investimento, mesmo com grande incerteza acerca de seu potencial de rentabilidade ou crescimento. No entanto, em março de 2000, o índice NASDAQ, bolsa norte-americana onde a maior parte das empresas de e-commerce operava, foi fortemente impactado pelo aumento expressivo dos juros, causado pelo temor de uma explosão de inflação devida aos valores inflados e à alta disponibilidade de capital naquele mercado. A conseqüência deste ato foi a escassez de capital para as empresas de internet em poucas semanas, causando a quebra de várias delas. Por exemplo, este foi o caso da Pets.com, e-commerce para produtos da categoria de pet shop, fundada em 1998, que levantou grandes somas de investimentos, chegando inclusive a fazer uma oferta pública de ações, captando 82 milhões de dólares em fevereiro de 2000 e anunciando com um filme publicitário no espaço mais dispendioso da televisão dos EUA: o intervalo do Superbowl, a final do campeonato nacional de futebol americano(CNET, 2000). 14 Assim como outras empresas de sua indústria, a Pets.com encerrou suas operações antes do fim daquele ano. Os grandes prejuízos causados por vendas com margens negativas e investimentos vultosos em publicidade devoraram todo o capital da empresa, que não teve como buscar mais investimentos no mercado. A consolidação do mercado, assim, foi inevitável, embora mesmo com um número menor de empresas, o crescimento tenha continuado acelerado nos últimos anos, como podemos ver na Figura 1. FIGURA 1 – EVOLUÇÃO FATURAMENTO ANUAL E-COMMERCE (EM U$ MILHÕES) 1.000.000 900.000 800.000 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010E 2011E 2012E 2013E Valores em U$MM FONTE: (JP MORGAN, 2011) Em 2012, o desafio da indústria de comércio eletrônico é mais amplo. O aparecimento de tecnologias de mobilidade (mobile), fez com o que e-commerce se tornasse um concorrente mais ativo do varejo físico, afinal, o consumidor pode comparar preços, obter informações e, por fim, comprar online de qualquer lugar, até mesmo de dentro de uma loja física, em seu celular ou tablet. O consumidor tem cada vez mais poder, por ter acesso a meios formais (no caso brasileiro, o PROCON) e informais de reclamação (redes sociais, e sites como Reclame Aqui e Confiômetro). 15 2. REFERENCIAL TEÓRICO Para melhor entender oscasos estudados nesta dissertação serão abordadas as principais teorias sobre a internacionalização de empresas. Podem ser destacadas duas abordagens diferentes quanto a este tema: as abordagens econômicas e as abordagens comportamentais. Dentre as abordagens baseadas em decisões econômicas, a teoria de poder de mercado de Hymer (1960) foi seminal. Esta previa que a propensão da empresa em relação à tomada de riscos e aos custos de um movimento internacional eram diretamente relacionadas à percepção da possibilidade de aumento de poder do mercado e consequentemente de sua receita e lucros. A utilização de vantagens únicas da empresa (transferíveis ou não) no país de atuação ou a rivalidade com possíveis concorrentes eram tratados comos os principais motivos para que a empresa executasse este movimento. Outra teoria relevante dentro das abordagens econômicas é a do Ciclo de Vida de Vernon (1966). Nesta, o autor defende que é necessário que se dê mais ênfase a pontos como o timing de inovação, economias de escala e das incertezas nos processos comerciais em detrimento da doutrina de comparação de custos vigente até então. Baseado na curva do ciclo de vida, produtos que estivessem ainda na fase de crescimento, deveriam ser fabricados nos países desenvolvidos, devido à ânsia por mudanças constantes, da baixa elasticidade de preço no período ou da necessidade de comunicação entre clientes e fornecedores. Em produtos na fase de maturidade, a procura por flexibilidade é reduzida, abre-se a oportunidade de economias de escala, somados à maior preocupação com custos e à redução das incertezas formaria um quadro favorável para que esta produção fosse levada à outros países. Dunning (1977) buscou com seu paradigma eclético montar uma explicação sistêmica onde as atividades da empresa no exterior aumentam mediante sua habilidade para internalizar mercados em seu favor. Sendo assim, a empresa só se comprometerá com negócios no exterior caso: (1) possua vantagens 16 competitivas exclusivas frente a empresas de outros países em relação a um determinado mercado; (2) deve ser mais benéfico para a empresa utilizar estas vantagens frente a simplesmente negociá-las – chamadas de vantagens de internalização – e; (3) é necessário que interesse às empresas utilizarem estas vantagens em conjunto com outros insumos fora de seu país natal – chamadas de vantagens de localização. Como as teorias econômicas foram desenvolvidas para explicar a atuação internacional de grandes empresas multinacionais, o foco desta dissertação estará mais nas teorias chamadas comportamentais, que foram desenvolvidas com a preocupação de entender o processo de internacionalização, desde seus movimentos iniciais e que, por isso, melhor se aplicam aos objetivos deste dissertação. 2.1 TEORIAS COMPORTAMENTAIS Neste trabalho daremos atenção especial às teorias da corrente comportamental, estudando inicialmente o Modelo de Uppsala, criado em meados da década de 1970 em trabalhos de Johanson e WiedersheimPaul(1975) e Johanson e Vahlne (1977) e que prevê um processo de internacionalização lenta e gradual em contraposição ao conceito de Born Globalsconforme batizado por Rennie (1993), no qual a empresa se internacionaliza rapidamente após sua fundação. Para complementar estes conceitos, serão consideradas também outras teorias da abordagem comportamental, como a do Empreendedorismo Internacional (ou International New Ventures – INV) e a perspectiva de Networks, que fornecem importantes insights sobre os casos estudados mais adiante nesta dissertação. 2.1.1 MODELO DE UPPSALA Johanson e Wiedersheim-Paul(1975), ao estudarem as empresas industriais suecas Sandvik, Atlas, Copco e Facit, observaram que estas não seguiam os modelos econômicos de internacionalização de empresas e executavam este 17 movimento de forma lenta, sem os grandes investimentos das firmas multinacionais. Desta forma, os autores concluíram que a internacionalização de empresas é um processo onde o envolvimento internacional é gradualmente aumentado.Johanson e Wiedersheim-Paul(1975) identificaram quatro estágios pelos quais passa a organização que se internacionaliza:(1) a firma atende apenas ao mercado doméstico, (2) exportação por meio de representantes independentes, (3) criação de uma subsidiária de vendas, mas ainda sem produção no exterior, e (4) abertura de plantas para produção diretamente no país de atuação. Estes passos estão esquematizados na Figura 2. FIGURA 2 – MODELO DE ESTÁGIOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO Empresa não internacionalizada Exportação por meio de representantes independentes Criação de subsidiária de vendas Produção / fabricação no país de atuação Fonte: JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL (1975) Johanson e Vahlne (2009) voltaram à teoria três décadas mais tarde, reafirmando que o processo de internacionalização se inicia em mercados de baixa distância psíquica, através de modelos de baixo comprometimento (podemos citar como exemplo a exportação, escritórios de representação ou modelos contratuais, entre outros) e após certo período migra para modelos de maior comprometimento como o estabelecimento de subsidiárias. Os autores pontuaram também algumas alterações na teoria, como a maior participação de aquisições nos modos de internacionalização das empresas e a maior velocidade dos negócios globais. Todavia, segundo os autores, estas alterações não devem ser vistas como mudanças fundamentais à teoria, que se manteria estável em seus pontos-chave. O modelo proposto, conhecido hoje como Modelo de Uppsala, considera que o estágio atual de internacionalização é um fator crucial para o entendimento do 18 processo dos próximos passos desta. Johanson e Vahlne (1977) dividiram os aspectos estudados em dois grupos: os aspectos de estado, que compreendiam o comprometimento com os mercados estrangeiros e o conhecimento sobre estes mercados e suas operações; e os aspectos de mudança que compreendem as decisões de comprometimento de recursos a o desempenho dos atuais negócios. Segundo Johanson e Wiedersheim-Paul (1975), os maiores obstáculos a transpor no processo de internacionalização seriam a escassez de recursos e de conhecimento. Utilizando a premissa de que a meta da empresa é o lucro de longo prazo e que esta busca evitar tomada de grandes riscos, os autores propõem que os aspectos de estado afetam ambos os aspectos de mudança. Estes, por sua vez transformam de volta os aspectos de estado em um processo cíclico, como ilustrado na Figura 3. FIGURA 3 – O MECANISMO BÁSICO DE INTERNACIONALIZAÇÃO – ASPECTOS DE ESTADO E DE MUDANÇA Estado Mudança Conhecimento de Mercado Decisões de Comprometimento Comprometimento de Mercado Atividades Atuais Fonte: JOHANSON e VAHLNE (1977) Explorando mais os aspectos de estado, Johanson e Vahlne (1977) afirmaram que o comprometimento com os mercados estrangeiros se divide em dois fatores: a quantidade de recursos comprometidos e o grau de comprometimento, medido pela dificuldade em encontrar investimentos alternativos a estes. Quanto mais especializados e integrados foremos recursos, mais difícil será a descoberta de investimentos alternativos para a firma.Johanson e Vahlne(2009), 19 em revisão à teoria original, sugeriram que este aspecto deva ser renomeado para “posição na rede de relacionamentos”, uma vez que o processo de internacionalização da empresa está contido dentro do conceito de relacionamentos, e que o sucesso deste processo está ligado aos níveis específicos de conhecimento, confiança e comprometimento característicos dos relacionamentos. Os autores buscaram assim conciliar o Modelo de Uppsala com a perspectiva de Networks. O conhecimento de mercado, por sua vez, segundo Johanson e Vahlne(1977), tem por característica ser experiencial e é crítico para o sucesso da internacionalização, uma vez que não pode ser adquirido como o conhecimento objetivo. Os autores destacam que, ao se internacionalizarem, as empresas não possuem nenhum conhecimento experiencial, que só será obtido após certo tempo de operação. Johanson e Vahlne(1977) propõem ainda outra forma de divisão do conhecimento objetivo: conhecimento geral da empresa e conhecimento específico de um mercado, que pode ser obtido através da transferência de conhecimento de um mercado para outro. Posteriormente, Johanson e Vahlne(2009) propuseram a alteração do nome deste aspecto para Conhecimento de Oportunidades, uma vez que os autores passam a considerar as oportunidades como elemento mais importante do conhecimento de empresas que se internacionalizam. Johanson e Vahlne(1977) concluíram que existe relação direta entre o comprometimento de mercado e o conhecimento de mercado. Esta relação consiste na percepção de maior valor do conhecimento de mercado quanto maior for o comprometimento da empresa com um determinado mercado. Os autores apontaram ainda que o ponto anterior se aplica especialmente ao conceito de conhecimento experiencial, uma vez que é associado a um mercado individual e não pode ser transferido para outros indivíduos ou mercados. Aprofundando-se um pouco mais nos aspectos de mudança, Johanson e Vahlne (1977) utilizaram a premissa de que as conseqüências de uma determinada atividade da empresa só se materializam após certo tempo, o que quer dizer que 20 estas conseqüências só serão percebidas à medida que estas são repetidas em maior ou menor intensidade. Este conceito é importante para entender o que os autores chamam de “Current Business Activities” – que estamos tratando por Atividades Atuais – no qual os autores assumem que o comprometimento total com o mercado será maior à medida que o produto e suas atividades sejam mais complexos e diferenciados. Johanson e Vahlne (1977) complementaram afirmando que a contratação de pessoal com experiência no mercado-alvo pode diminuir esta distância de tempo. No entanto, nem sempre este conhecimento pode ser adquirido, o que para os autores, se converte em um importante fator de explicação para um processo mais lento de internacionalização. Johanson e Vahlne (2009) revisitaram este aspecto, sugerindo sua alteração para “Aprendizado, criação e construção de confiança” a fim de dar maior destaque às saídas do processo e às relações afetivas envolvidas especialmente na construção de confiança. O segundo item dos Aspectos de Mudança, “Commitment Decisions”, que iremos tratar por decisões de comprometimento, pode ser melhor explicado como as decisões de comprometer recursos em atividades estrangeiras. Johanson e Vahlne (1977) entenderam que este ponto está intimamente ligado à maneira que as alternativas são percebidas, seja por criação ou descoberta (Johanson e Vahlne, 2009) e como elas são escolhidas. Em relação ao primeiro ponto, assumiram que decisões são tomadas frente a oportunidades e problemas e sendo assim dependentes da experiência da empresa, uma vez que representam percepções de necessidades e possibilidades para ações de negócios. Por conseguinte, a experiência da organização assim como a experiência no mercado-alvo é considerada relevante pelos autores.Johanson e Vahlne(2009) complementaram que um forte comprometimento com parceiros pode também ser relevante neste quesito, uma vez que certos tipos de conhecimento estão restritos a insiders da rede de relacionamentos, e não disponíveis ao grande público, propondo também a alteração do nome deste aspecto para “Decisões de comprometimento e relacionamento”. A variável Tolerância ao Risco se torna importante nesta discussão, embora seja um fator visto como muito complexo por Johanson e Vahlne (1977). Portanto, a não ser que a empresa disponha de grande quantidade de recursos e/ou as condições 21 de mercado foram estáveis ou homogêneas ou a empresa apresente grande experiência no mercado ou em mercados semelhantes ou forte comprometimento em relação a seus parceiros nas redes de relacionamentos, comprometimentos adicionais a fim de mitigar riscos e aproveitar oportunidades serão feitos em pequenos passos. Embora seja um modelo amplamente utilizado, a Teoria de Uppsala recebe críticas de diversos autores, algumas das quais iremos abordar a seguir. Estas críticas se dividem em dois principais blocos: os que questionam o modelo de estágios em si e os que argumentam contra o processo de internacionalização (HADJIKHANI, 1997). Em relação ao modelo de estágios, Andersen (1993) apontou a que o Modelo de Uppsala não observava possíveis decisões estratégicas dos gestores em relação a sinais do mercado e de competidores. Além disso, pouca atenção foi dada à dimensão tempo, uma vez que embora delimitados os estágios, não há apontamento teórico sobre o tempo que cada um deles deveria durar. Hagen e Hennart (2004) afirmam que variáveis econômicas como o tamanho do mercado ou as eficiências de escala da empresa podem ter grande efeito sobre a distância psíquica e por isso não podem ser negligenciadas. Para Oviatt e McDougall (1999), a importância cada vez maior destes fatores externos tornou o Modelo de Uppsala relevante para empresas que estão em um número cada vez menor de indústrias isoladas do processo de globalização. Já em relação ao processo de internacionalização, Frosgren (2001) questionou o processo de aprendizado organizacional focado primordialmente no aprendizado de experiência proposto pelo modelo.Segundo o autor, esta seria uma visão estreita uma vez que não fazem parte do modelo proposto importantes dimensões do conceito teórico de aprendizado organizacional, como o aprendizado através de comportamento mimético, aquisição de empresas com o conhecimento desejado ou a busca por formas alternativas de conhecimento. Os próprios criadores da Teoria de Uppsala, Johanson e Vahlne (2009) em seu texto de revisão do modelo buscaram uma visão mais ampla do processo de 22 aprendizado organizacional do que o proposto em Johanson e Vahlne (1977) ao aproximarem a questão das redes de relacionamento com este aprendizado. Frosgren e Hagström (2007) prosseguiram a crítica ao modelo como uma explicação universal para o processo de internacionalização das empresas ao estudar o caso da internacionalização de oito empresas de internet e perceber que algumas das empresas se internacionalizavam com grande grau de comprometimento para países que não tinham conhecimento algum (e sendo assim, não tendo passado por fase de aprendizado organizacional) caso tivessem a percepção de que o processo de não-internacionalização incorreria em mais riscos para a empresa. Segundo os autores, para estas empresas, ao invés de um comportamento incremental, pareciam muito mais relevantes comportamentos do tipo “first-time-advantage” ou de “efeitos manada”. Carneiro, Rocha e Silva (2008), ao tratarem da aplicação do modelo de Uppsala a empresas de serviço, sugeriram que este segmento tenha incompatibilidades com o modelo proposto uma vez que,desde o primeiro momento, é mais afeito a modos de entrada de maior comprometimento, devido a maior facilidade de transferência de recursos e do menor investimento necessário entre os países. Os autores afirmam que esta tendência a ignorar os modos de entrada de baixo envolvimento se deve à necessidade da presença física do prestador, à simultaneidade da produção e consumo do serviço, sua maior dificuldade de padronização e a maior demanda por controle e envolvimento devido à necessidade de qualidade e agilidade na correção de possíveis problemas. 2.1.2 PERSPECTIVA DAS NETWORKS Apesar de os estudos até meados da década de 1980 sobre empresas e seu relacionamento com o ambiente de negócios serem calcados apenas em transações únicas e no poder de negociação dos maiores players (TURNBULL, FORD e CUNNINGHAM, 1996), pesquisas iniciadas neste período mostraram que a maioria das transações comerciais não existia como um evento único e sendo assim não poderia ser examinada como um evento único. Além disso, foi 23 observado também que normalmente poucos compradores respondiam por uma parcela considerável dentro do faturamento da empresa. Sendo assim, o mercado consumidor era visto como uma grande arena de negociações onde os diferentes agentes do mercado interagiam entre si, em ações que poderiam incluir negociações, pagamentos, entregas ou mesmo o contato social (TURNBULL, FORD e CUNNINGHAM, 1996).Håkanson,em um estudo do IMP Project Group (1982), deu a esta abordagem o nome de abordagem de interação (Interaction Approach) compreendendo quatro grandes grupos de variáveis: (1) o processo de interação; (2) as partes envolvidas; (3) o ambiente no qual a interação se desenvolve e; (4) a atmosfera na qual a interação ocorre. Estes fatores seriam capazes de identificar as diferentes relações entre as empresas e sendo assim, as tornariam capazes de desenvolver ações a fim de atingir os tipos de relacionamentos desejados (IMP PROJECT GROUP, 1982). A partir dos estudos do IMP Project Group (1982), Cunningham (1985) avançou sobre o assunto ao definir a grande quantidade de relacionamentos existentes dentro de um mercado consumidor entre os mais diversos atores, fossem eles clientes, fornecedores, complementares, ou organizações de serviço como networks. Para Johanson e Mattson (1988), estas networks não possuíam uma organização de coordenação hierárquica tampouco seguiam os modelos tradicionais de mercado pelo simples mecanismo de preço. Para os autores, a coordenação ocorreria na relação entre cada um dos envolvidos, especialmente nos ajustes de quantidade e qualidade de serviços e/ou produtos, no tempo envolvido ou se é necessário um planejamento conjunto ou de uma das partes. Johanson e Mattson (1988) destacaram ainda a estabilidade da network, embora afirmassem que os relacionamentos que existem e tem certa acomodação estão sempre mudando devido a cada uma das transações envolvidas. Os autores frisaram ainda que estas empresas podem ter interesses parcialmente conflitantes. Para Johanson e Mattsson (1988), a empresa deverá quebrar antigos relacionamentos ou adicionar novos relacionamentos aos anteriores cada vez que desejar se estabelecer em um novo mercado. Levando em conta que a 24 empresa de forma individual é sempre dependente dos recursos de outra, e que seu poder de barganha se define através das posições dentro da network, os autores citam um bem intangível chamado de Ativos de Mercado (Market Assets), que servem para gerar receitas para a empresa e dar acesso aos ativos de outras empresas. Por causa da interdependência entre as empresas, Johanson e Mattsson (1988) afirmaram que os investimentos e suas consequências a fim de atrair estes ativos também são interdependentes entre as empresas da network. No campo da internacionalização de empresas, a construção e o desenvolvimento de relacionamentos em networks no exterior são vistos como o próprio processo de internacionalização (JOHANSON e MATTSSON, 1988). Segundo os autores, este processo pode ocorrer por três vias: Em adição às networks já formadas em seu país local, desenvolver também posições em países estrangeiros – um bom exemplo são as extensões de linha; Nos mercados estrangeiros onde a firma já está presente, aumentar o comprometimento de recursos – estratégia de penetração Integrando ainda mais as networks estrangeiras e locais – integração internacional Johanson e Mattson (1988) definiram que uma vez que as empresas em uma network são interdependentes, as características da atuação em mercados internacionais tanto da firma quanto do mercado influenciam o processo de internacionalização da empresa. Baseados nesta definição, os autores montaram uma matriz de classificação das empresas onde em no eixo vertical se apresentava o grau de internacionalização da empresa, e no eixo horizontal o grau de internacionalização do mercado (ou como os autores chamaram – da rede de produção), chegando a quatro principais classes de empresas: (1) The Early Starter; (2) The Late Starter; (3) The Lonely International; e (4) The 25 International Among Others. A Figura 4 especifica como elas estão distribuídas ao longo da matriz. FIGURA 4 - INTERNACIONALIZAÇÃO E O MODELO DE NETWORKS: AS SITUAÇÕES A SEREM ANALISADAS. Grau de Internacionalização do mercado (rede Baixo empresa internacionalização da Grau de de produção) Alto Baixo Alto The Early Starter The Late starter The Lonely The International International Among Others FONTE: JOHANSON e MATTSSON (1988) Johanson e Mattson (1988) explicaram cada uma das classificações da seguinte maneira: The Early Starter: Uma vez que possuem relacionamentos com empresas estrangeiras em baixa quantidade e pouca importância, sua internacionalização ocorre de forma mais cautelosa em mercados mais próximos, utilizando representantes ao invés de subsidiárias, a fim de evitar maiores riscos. A partir do momento que as vendas da empresa nos mercados estrangeiros aumentam, esta pode vir a construir instalações para produção no exterior e se tornar uma Lonely International The Lonely International: A empresa com alto grau de internacionalização em um mercado ainda local já possui experiência na operação no exterior, através da aquisição de conhecimentos e da competência em atuar em mercados com ambientes culturais e institucionais diversos. Além disso, a empresa tem uma mais ampla possibilidade de alocação no ajuste de recursos, o que possibilita 26 que esta opere com melhores posições tanto dentro da network local quanto nas redes dos países de atuação. A coordenação entre as atividades nas variadas networks é essencial para o melhor aproveitamento das vantagens de ser uma Lonely International The Late Starter: Mesmo a empresa que só opera de forma local, participa, ainda que indiretamente, de uma network internacional a partir do momento em que os seus relacionamentos estão internacionalizados. Segundo os autores, uma empresa pequena nesta situação deve se internacionalizar através de grande especialização e utilizando os relacionamentos de empresas internacionalizadas em sua network doméstica como apoio para o seu processo de internacionalização. Já para grandes empresas, o processo de especialização é mais complexo e é recomendado às empresas que atinjam a produção internacional através de aquisições e joint ventures. The International Among Others: Quando tanto a empresa quanto o mercado têm alto grau de internacionalização, um próximo passo resulta apenas em movimentos de penetração e extensões de linha, caso não impliquem mudanças importantes na estrutura da empresa. É provável que grandes alterações estruturais na empresa internacionalizada sejam causadas por movimentos de integração internacional. Como a organização encontra em grande parte empresas na sua rede que também têm alto grau de internacionalização, movimentos de internacionalização exigirão grande experiência em aquisições e joint ventures, sob pena de maior propensão ao risco. Os autores concluíram que as empresas International Among Others têm o uso estratégico de suas posições dentro da network altamente relacionado às forças do mercado – seja ele interno ou externo – e suas restrições. Em estudo sobre as empresas pertencentes ao fenômeno das Born Globals,Dib (2008) relacionou a velocidade de internacionalização à teoria de networks ao observar que quanto maior a utilização de parcerias pela empresa, mais a empresa tende a seguir um processo de internacionalização rápido. O autor prosseguiu concluindo que também seriam maiores as chances de uma 27 empresa seguir um processo de internacionalização precoce e acelerado quanto maior fosse a integração dentro de networks internacionais. Chetty e Stangl (2010) relacionaram a internacionalização via networks como conceito de inovação, definindo que esta é também um componente importante na definição do impacto da internacionalização dentro da organização. Segundo as autoras, empresas que possuem uma network diversa e produtos/serviços/processos de inovação radical tendem a se internacionalizar de forma também mais radical, assim como empresas de inovação incremental e bons relacionamentos com financiadores. Já empresas de inovação radical em ambientes de grande mudança tecnológica e baixa relação com financiadores tendem a movimentos incrementais em seu processo de internacionalização, assim como pequenas empresas de inovação incremental que contam com relacionamento de network restrito. Petersen e Tobiassen (2010), em um estudo sobre empresas de tecnologia no setor de petróleo,afirmaram que em indústrias globais, com alto grau de interconexão entre os concorrentes, o sucesso de uma empresa em uma determinada região é um fator que age de forma positiva nas chances de sucesso em uma outra região. Sendo assim, embora fatores como um mercado local conservador e limitado e a necessidade de exploração de economias de escala sejam fatores que impulsionassem a internacionalização das empresas, a posse de uma tecnologia única e o fato de operarem em um mercado global são os principais motivadores na internacionalização de empresas. Os autores buscaram ainda expandir o conceito dos complementadores dentro de uma network, uma vez que para o desenvolvimento desta tecnologia única, as empresas dependem de relações de networks com provedores de recursos financeiros e conhecimento, além de depender de networks com os mercados do exterior a fim de vender tecnologias, sejam elas através das networks de competidores, publicações científicas e apresentações em conferências. 28 2.1.3 EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL Embora as teorias tradicionais da internacionalização de empresas pregassem que as pequenas e médias empresas se internacionalizavam apenas por meio de exportação, OVIATT e MCDOUGALL (1994) trouxeram em seu artigo a perspectiva de empresas que eram internacionalizadas desde seu nascimento. De forma mais completa os autores definiram estas empresas como: “(...) organizações que desde sua concepção, buscam obter vantagens competitivas significantes provenientes do uso de recursos e a venda de saídas (outputs) em múltiplos países. O fator diferencial destas empresas startups é que em sua origem estas já são internacionalizadas, conforme demonstrado por uma visível quantidade de recursos (material, pessoas, financeiros ou tempo) em mais de um país.” (p.49) 1 Os próprios autores voltaram a esta definição alguns anos mais tarde (OVIATT e MCDOUGALL, 2005), levando em conta o foco em oportunidades, a formação de uma nova organização como sendo uma possibilidade e não uma obrigação, englobando também o empreendedorismo dentro das corporações e valorizando a atividade empreendedora além das fronteiras nacionais. A partir destes pontos, foi proposta a seguinte definição: “Empreendedorismo Internacional é a descoberta, concretização, avaliação e exploração de oportunidades – além das fronteiras nacionais – a fim de criar futuros produtos e/ou serviços” (p.539) Como esta internacionalização ocorre de forma muito acelerada, este movimento deve ser definido na própria concepção da empresa. Esta concepção deveria ser considerada como o momento em que a empresa assume a postura 1 As traduções para a língua portuguesa deste trecho e de todos os trechos subseqüentes são de responsabilidade do autor desta dissertação. 29 de comprometer de forma considerável recursos num empreendimento. (OVIATT e MCDOUGALL, 1994) Segundo os autores, quatro elementos são necessários para a existência: a internalização de algumas transações, estruturas alternativas de governança, vantagens pela localização em países estrangeiros e recursos exclusivos. Estas condições constam da Figura 5, cujo framework explica o processo de nascimento destas organizações. FIGURA 5 - ELEMENTOS NECESSÁRIOS E SUFICIENTES PARA NOVOS EMPREENDIMENTOS INTERNACIONAIS SUSTENTÁVEIS Transações Econômicas Elemento 1: Internalização de algumas transações Organizações Elemento 2: Estruturas Alternativas de Governança TransaçõesEconôm icas Elemento 3: Vantagens de Localização no Exterior Novos Empreendimentos Internacionais Novos Empreendimentos Organizações Transações Econômicas Novos Empreendimentos Organizações Transações Econômicas Elemento 4: Recursos Exclusivos Novos Empreend.Inter. Sustentáveis Novos Empreendimentos Internacionais Novos Empreendimentos Organizações Transações Econômicas FONTE: OVIATT e MCDOUGALL (1994), MELLO (2009). O processo descrito na Figura 5 pode se manifestar nas organizações de diferentes maneiras. OVIATT e MCDOUGALL (1994) classificaram estas empresas em quatro quadrantes (Figura 6). 30 Poucas atividades Startup de Importação e Exportação (I) Comerciante Multinacional (II) Muitas atividades Coordenação de Atividades da Cadeia de Valor FIGURA 6 - TIPOS DE NOVOS EMPREENDIMENTOS INTERNACIONAIS Startup geograficamente focada (III) Startup Global (IV) Muitos Poucos Nùmero de Países Envolvidos FONTE: OVIATT e MCDOUGALL (1994) Os quadrantes I e II são o que os autores denominaram como as Novas Empresas de Mercado Internacional. Estas empresas têm os processos logísticos como atividade mais importante da cadeia de valor e que são mais prováveis de internalização. Uma vez que o Investimento Direto no país deve ser deixado no menor nível possível, a descoberta de desequilíbrios entre os países e em como atendê-los passa a ser sua principal vantagem de localização. As Startups de Importação/Exportação se encaixam dentro deste grupo por serem empresas de comércio exterior que negociam com poucos países, especialmente aqueles em que o empreendedor tem familiaridade, frente à Comerciante Multinacional, que possui atividades em diversos países e está sempre em busca de oportunidades de comércio entre eles. As Startups focadas geograficamente têm como principal vantagem a capacidade de utilizar serviços de uma outra região do planeta para servir as necessidades específicas de um determinado local. A coordenação de atividades como recursos humanos, desenvolvimento tecnológico e produção são a fonte de vantagem competitiva para estas empresas. Esta vantagem pode ser sustentável por dois motivos: pela complexidade social e o conhecimento 31 tácito envolvido na região e pela proteção de redes de relacionamento na área geográfica atendida. Finalmente, as Startups Globais obtêm vantagens competitivas da coordenação extensiva entre as atividades e regiões de atuação, sendo assim consideradas a mais radical manifestação de Novos Empreendimentos Internacionais. Embora, devido à combinação de fatores como historicamente únicas, ambigüidade causal e dificuldade de imitação pela complexidade social, sejam as empresas com vantagens competitivas mais sustentáveis, são aquelas que necessitam de mais habilidades de coordenação nas atividades e geográficas, e sendo assim os empreendimentos mais difíceis de serem desenvolvidos. OVIATT e MCDOUGALL (1999) defenderam, através de uma série de proposições, que este movimento de internacionalização não está relacionado apenas com o empreendedor, corroborando as críticas de HAGEN e HENNART (2004) ao Modelo de Uppsala, utilizando também as condições do mercado para explicar este fenômeno. Os autores destacaram a importância de fatores como as inovações tecnológicas, o tamanho da economia do país, questões regulatórias, tanto internas quanto externas, oportunidades de crescimento no exterior, as condições da indústria, assim como as alianças entre empresas e a complexidade de suas transações. Posteriormente, Oviat e McDougall (2005) propuseram que a velocidade da internacionalização dos empreendimentos é determinada por quatro forças: (1) tornar viabilidade, (2) motivação, (3) mediação e (4) moderação. No framework proposto pelos autores, estes fatores no princípio do processo de internacionalização, que se inicia com a percepção da oportunidade, terminando por resultar em diferentes velocidades da internacionalização da firma, de acordo com a combinação de forças de cada um destes (Figura 7). 32 FIGURA 7 – MODELO DE FORÇAS QUE INFLUENCIAM A VELOCIDADE DE INTERNACIONALIZAÇÃO Moderação Conhecimentos: Mercado estrangeiro e sua intensidade Viabilidade Tecnologia Velocidade de Internacionalização Entrada Escopo no país Comprometimento Mediação Percepções do Empreendedor Oportunidade de Empreendimento Moderação Relacionamentos: Força das ligações, Tamanho da Rede, Densidade da Rede Motivação Concorrência FONTE: OVIATT e MCDOUGALL (2005) A primeira força, “viabilidade”, se refere aos elementos que tornam a internacionalização acelerada viável, sejam eles a redução do preço dos transportes entre países, a evolução das comunicações ou a evolução da logística internacional. A segunda força, chamada de “motivação”, representa a pressão da concorrência, que pode forçar a empresa a buscar oportunidades em mercados estrangeiros, seja pelo temor de ataques no mercado local, seja pela preocupação de que a concorrência ocupe mais rapidamente os mercados estrangeiros. A terceira força, denominada “mediação”, é referente à forma como o empreendedor ou ao grupo de empreendedores compreendem uma determinada oportunidade, de acordo com suas características pessoais e psicológicas. 33 Por último, a quarta força, “moderação”, se divide em dois grupos: o conhecimento disponível acerca daquele movimento, uma vez que a oportunidade já foi percebida, e as características da rede de relacionamentos do empreendedor. Autio (2005) sugeriu que uma vez que Oviatt e McDougall (1994) tentassem formular uma teoria que explicasse comportamentos inesperados de empresas à luz do Modelo de Uppsala, este e o Empreendedorismo Internacional teriam características complementares, não sendo necessariamente opostos. Este fato ocorre especialmente no início do processo de internacionalização, não explicado pelo Modelo de Uppsala. Segundo o autor, este seria uma possibilidade da criação de uma teoria única para a internacionalização de empresas. A fim de clarificar as diferenças entre Empreendedorismo Internacional e o fenômeno das Born Globals, Mello (2009) apresentou de forma sintética os pontos de maior proximidade e distância entre as duas abordagens, conforme pode ser visto na Quadro 1. 34 QUADRO 1 – DIFERENÇAS ENTRE EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL E TEORIAS DE BORN GLOBALS Características Empreendedorismo Born Globals Internacional Gênese na Literatura 1989 1993 Contexto Acadêmico Consultoria Campo de estudos a que Empreendedorismo Marketing Internacional e se liga Gestão Internacional Desenvolvimento Teórico-empírico Empírico Conceitual Abrangência Empresas empreendedoras Empresas nascidas globais internacionalizadas Foco Empreendedor Empresa FONTE: MELLO (2009) Segundo Mello (2009), embora tenham nascido de forma praticamente simultânea, a teoria de empreendedorismo internacional é originária do meio acadêmico, enquanto as Born Globals foram apontadas primeiramente por uma empresa internacional de consultoria, embora depois tenham sido objeto de diversas pesquisas acadêmicas. Outro ponto de diferença é o campo de estudos 35 de cada uma delas. Enquanto a teoria de empreendedorismo internacional tem sua raiz fincada no campo do empreendedorismo, a teoria de Born Globals está diretamente ligada ao campo dos negócios internacionais e mais especificamente do marketing internacional. Segundo o autor, a principal diferença entre os dois modelos reside na visão sobre o empreendedor. No empreendedorismo internacional o empreendedor é o ponto central dos estudos, já na literatura de Born Globals, o papel de protagonista está mais diluído. Por último, Mello (2009) propõe que, apesar da diferença entre as perspectivas no campo téorico, estas são perfeitamente conciliáveis, inclusive com capacidade de integração entre elas. O autor conclui ainda que a perspectiva das Born Globals deva ser vista como um subconjunto dentro dos estudos sobre empreendedorismo internacional, este, mais amplo ao considerar não só as pequenas empresas que se internacionalizaram em seus primeiros anos de existência. As diferenças citadas acima ficarão mais claras ao longo do próximo capítulo, que contém uma revisão detalhada sobre o fenômeno das Born Globals. 2.2 BORN-GLOBALS O termo Born Globals foi visto pela primeira vez em Rennie (1993), em um artigo acerca de um estudo da consultoria McKinsey na Austrália sobre empresas exportadoras de manufaturas com alto valor agregado. Neste estudo, o autor dividiu as empresas exportadoras australianas em dois grandes blocos. Em primeiro lugar, as empresas baseadas localmente, que têm como principal foco o mercado interno e se tornam exportadoras – modelo de baixo comprometimento – em média aos 27 anos de idade, após saturarem este mercado, numa clara referência a modelos tradicionais de internacionalização, como a estrutura de estágios do Modelo de Uppsala (JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL, 1975). 36 Por outro lado, havia ali outro grupo de empresas, que desafiava a estas teorias, uma vez que começavam a exportar em média com dois anos de idade e tinham 76% de sua receita oriunda das operações internacionais da organização. A este segundo grupo, o autor deu o nome de Born Globals. Ainda segundo Rennie (1993), as empresas Born Globals, tinham grande importância por dois motivos: o primeiro era por serem fortemente competitivas mesmo frente a grandes empresas, e em segundo lugar por serem fruto de evoluções tecnológicas de transporte e comunicação e que seriam inviáveis apenas dez anos antes. Knight and Cavusgil (1996) foram mais a fundo no conceito ao pontuar que empresas Born Globals podem emergir em mercados de alta ou baixa tecnologia e em mercados estabelecidos, como a Dinamarca e a Austrália, ou emergentes, como os casos de Estados Unidos e Argentina, objetos deste estudo. Os autores defendem que as empresas deste fenômeno tendem a ser criadas por gestores com forte viés internacional em sua visão de negócios. Nos próximos itens nos aprofundaremos mais no conceito, explorando os fatores externos que possibilitaram a existência deste fenômeno, em seguida entendendo quais fatores internos definem as empresas como Born Globals, e por fim listando as variáveis específicas da empresa, empreendedor e de suas networks e compreender como estas influenciam na participação na internacionalização rápida das pequenas empresas. 2.2.1 FATORES EXTERNOS DAS BORN GLOBALS (PRÉ-CONDIÇÕES) A fim de obter um melhor entendimento das Born Globals, diversos autores buscaram entender as alterações no ambiente de negócios que propiciaram que o tamanho da firma não fosse um empecilho à internacionalização da empresa e sendo assim funcionariam como fatores externos de pré-condição para análise do fenômeno. Estes fatores estão destacados a seguir: • O crescimento dos mercados de nicho através da demanda por produtos mais especializados foram favoráveis a pequenas e médias empresas, 37 mais ágeis em atender demandas de pequenos mercados emergentes (RENNIE, 1993). Ao mesmo tempo, os mercados se tornaram mais homogêneos ao redor do mundo, com estes nichos existindo através das fronteiras nacionais (MADSEN e SERVAIS, 1997). • Ciclo de vida de produtos cada vez menor, com maiores de possibilidades de adaptação para empresas menores, usualmente mais ágeis, frente às alterações nos desejos do consumidor. (RENNIE, 1993) • O crescimento da importância de networks no exterior, maiores possibilidades de financiamento estrangeiro e de modelos de negócio de global sourcing mesmo para pequenas empresas (MADSEN e SERVAIS, 1997) • Libertação das empresas do paradigma da economia de escala, vigente até os anos 60. Empresas pequenas agora podem competir contra grandes companhias através de processos eletrônicos em custo e qualidade. (RENNIE, 1993) • Desenvolvimento e melhora de telecomunicações, destruindo a vantagem competitiva que empresas grandes tinham quando fluxos de informações eram caros e lentos e caros. (RENNIE, 1993) • Evolução da área de operações, logística e infra-estrutura barateando e tornando mais confiável o transporte de bens e pessoas. (MADSEN e SERVAIS, 1997) • Maior capacidade internacional, de devido exploração ao de gigantesco oportunidades crescimento na no campo experiência internacional dos gestores. (MADSEN e SERVAIS, 1997) • Desenvolvimento de competências para lidar com culturas estrangeiras. (MADSEN e SERVAIS, 1997) 38 Embora Zuchella (2002) tenha apontado que as mudanças no ambiente de negócios não tenham ocorrido de forma igual em todas as indústrias e mercados, sugerindo assim que a localização e/ou a indústria podem funcionar também como um fator externo de pré-condições, pode-se verificar a existência de estudos de casos de empresas Born Globals em diferentes indústrias em países dos cinco continentes (cf., por exemplo, Dib e Rocha (2008), Wickramasekera e Bamberry (2003), Elliot (2010)) Uma vez colocadas as pré-condições para o aparecimento do fenômeno, partiremos agora para os fatores internos da organização que definem a empresa como uma Born Global. 2.2.2 FATORES INTERNOS DAS BORN GLOBALS (DEFINIÇÕES) Embora nas últimas duas décadas se estudem as empresas Born Globals, não se conseguiu chegar a uma definição única do que são as empresas e quais principais fatores as compõem (RIALP-CRIADO, RIALP-CRIADO, KNIGHT, 2002).Madsen e Servais (1997) relataram que alguns momentos os conceitos de até então de Born Globals estão em acordo, mas em outros momentos são conflitantes. Havia um consenso sobre o fato de a internacionalização ser rápida e com um padrão definido de internacionalização e crescimento, e de alguma forma sobre o tipo de estrutura de governança utilizado. Rennie (1993), no artigo que introduziu o termo Born Globals definiu estas organizações da seguinte maneira: “(Empresas que) começaram a exportar, em média, apenas dois anos após a sua fundação e atingiram 76% de suas vendas totais através de exportação.” (p. 46) Como demonstrado anteriormente, para definir uma empresa como uma Born Global, Rennie (1993) se baseou na idade da empresa quando do seu primeiro movimento de internacionalização e na relevância dos negócios internacionais 39 dentro do faturamento da firma. Oviatt e McDougall (1994) corroboraram desta mesma ao tratarem não o tamanho da empresa, mas da idade como principal objeto de estudo. Knight (1997) apud Moen (2002) avançou no conceito proposto por Rennie (1993) ao incluir não apenas a exportação, mas todos os movimentos de vendas no exterior, mantendo a o percentual das receitas advindas com exterior como uma importante parte na definição. “Uma companhia que, desde a sua fundação, ou logo após esta, busca obter, nos mercados internacionais, uma parte substancial de sua receita de venda de produtos” (p.1) Madsen e Servais (1997) sugeriram que o relacionamento com outras empresas por meio de cooperação e competências também deveria ser um fator a ser analisado nas empresas e propuseram um framework que contemplava a propensão de uma firma a ser uma Born Global, baseado em três atores: o empreendedor, a organização e o meio-ambiente. Moen (2002), em seu estudo de caso sobre a nova geração de exportadores europeus ressaltou a importância da data de nascimento da empresa, considerando Born Globals apenas as empresas nascidas a partir de 1990, assim como Dib (2008), que avaliou que deveriam ser chamadas de Born Globals apenas as empresas criadas após os aparecimentos dos fatores de précondição citados no item anterior, excluindo assim empresas oriundas de períodos anteriores. Gabrielsson et al (2008) apresentaram uma nova variável ao destacarem a importância do mercado global para os produtos da empresa e definiram as Born Globals como: “(…) nós definimos uma empresa Born Global como aquela que tem produtos com potencial de mercado global. Esta precisa combinar este potencial com capacidade 40 empreendedora para buscar métodos de internacionalização acelerada. Além disso, precisa ter uma visão global desde a sua concepção.” (p. 388) Knight e Cavusgil (1996) utilizaram como fator de definição o escopo de atuação das empresas Born Globals, gerando produtos de qualidade e design melhores que a concorrência e que conseqüentemente, dificilmente operam em mercados de commodities. Luostarinen e Gabrielsson (2002) diferenciaram os termos “Global” e “Internacional” ao considerarem Born Globals apenas empresas com 50% do seu faturamento proveniente de operações fora de seus continentes de origem. Já Sui (2010) também utilizou como parâmetro a distância do país de origem com os locais de atuação da empresa. Estudando empresas canadenses, a autora definiu como Born Regionals as empresas que exportavam apenas para o mercado norte-americano, e como Born Globals, empresas que mantinham negócios em países de outros continentes. Bell, McNaughton e Young (2001), no entanto, trouxeram um novo elemento para discussão ao descreverem casos de empresas que, embora já com certo tempo de operação, passavam por algum acontecimento específico e a partir deste momento internacionalizavam-se de forma rápida. A estas empresas deram o nome de Born-Again Global firms. Gabrielsson et al.(2008) utilizaram este mesmo termo para empresas que passaram por uma tentativa mal sucedida de internacionalização inicial, mas após certo período adquiriam características das Born Globals e obtinham sucesso em seus processos de internacionalização. No Quadro 2 estão apresentadas as principais definições citadas neste estudo. 41 QUADRO2 – DIFERENTES DEFINIÇÕES DE BORN GLOBALS Definição Autores Idade no início das atividades internacionais da RENNIE (1993); OVIATT e McDOUGALL empresa (1994);MADSEN E SERVAIS (1997); MOEN (2002);DIB (2008); Acontecimento no ambiente interno e/ou BELL, MCNAUGHTON E YOUNG (2001) externo da empresa GABRIELSSON ET AL. (2008) Relevância dos negócios internacionais dentro RENNIE da receita da empresa (2002) Modo de Entrada, escopo das atividades da KNIGHT e CAVUSGIL (1996); SUI (2010) (1993); KNIGHT (1997); MOEN empresa, área de atuação Data de Nascimento da Empresa MOEN (2002); DIB (2008) Como pudemos observar no quadro acima, existem diversas formas de caracterizar uma empresa Born Global, segundo a literatura consultada. Todavia, Dib, Rocha e Silva (2010) fizeram uma intercessão entre as diversas proposições, apresentando três quesitos principais para este entendimento: o início das atividades internacionais da empresa, a relevância da receita internacional dentro da receita da empresa e o modo de entrada e escopo das atividades da empresa. Apresentaremos a seguir, resumidamente o que a literatura apresenta sobre os três quesitos, suas concordâncias e divergências. 42 INÍCIO DAS ATIVIDADES INTERNACIONAIS DA EMPRESA Conforme exibido no item anterior, existe certo consenso de que a idade da firma ao início das atividades internacionais seja um fator de definição de uma empresa Born Global. Entretanto, a tentativa de quantificar qual idade é a mais apropriada para um ponto de corte observa grande variedade de opiniões (DIB, 2008). Um primeiro ponto a ser discutido é o conceito de data de nascimento da empresa. Embora diversos estudos (por exemplo Rennie, 1993) entendam o nascimento da empresa como o momento de sua concepção – aí incluído todo o tempo gasto com o planejamento – Oviatt e McDougall (1994), por sua vez, na tentativa de aumentar a precisão da data de nascimento definiram esta como o momento em que esta começa a operar excluindo todo o processo de planejamento prévio. Em relação à idade, Rennie (1993) defendeu que esta não deveria passar de dois anos para a primeira internacionalização, assim como Moen (2002) e Moen e Servais (2002). Já para Madsen et al. (2000) Knight e Cavusgil (1996), Suy e Zu (2009) o início da internacionalização antes que a empresa completasse três anos seria suficiente para que a empresa fosse classificada como uma Born Global. Outros autores, no entanto, como Zucchella (2002), Dib (2008), Dib, Rocha e Silva (2010) defenderam uma visão mais ampla do processo, entendendo que com até cinco anos de existência a firma seria considerada integrante do fenômeno das Born Globals. RELEVÂNCIA DAS ATIVIDADES INTERNACIONAIS DENTRO DO NEGÓCIO A relevância das atividades internacionais dentro do negócio é uma variável relevante dentro dos estudos sobre empresas Born Globals uma vez que difere empresas com atuação relevante no exterior de outras que promovem atividades esporádicas, não tendo uma estratégia realmente internacionalizada. 43 Rennie (1993), tratando das empresas exportadoras australianas, definiu em 76% a porcentagem mínima de participação das vendas para fora do país dentro do negócio da firma. Knight e Cavusgil (1996) sugeriram o percentual de 25% das vendas para o mercado externo assim como Madsen et al. (2000)e Sui e Yu (2009). Moen (2002)seguiu a mesma medida, adicionando que empresas que não chegassem a este valor deveriam ser denominadas Born Locals. Já Chetty e Campbell-Hunt (2004), estudando o mercado neozelandês, afirmaram que em mercados domésticos limitados este número deveria ser de 75% de participação das vendas externas dentro do faturamento da empresa. Dib (2008) ressaltou que empresas que têm parte da sua cadeia de valor no exterior, mas toda a sua venda concentrada no mercado doméstico tem sido foco de raros estudos, levantando a hipótese de haver mais interesse na geração de riqueza para o país de origem. MODO DE ENTRADA E ESCOPO DAS ATIVIDADES DA EMPRESA O último ponto de definição a ser explorado nesta revisão de literatura é o modo de entrada e o escopo das atividades da empresa. Grande parte dos autores estude especificamente a exportação das empresas, talvez pelo estudo seminal do fenômeno de Rennie (1993) ter tratado especificamente deste modo de entrada. Dib (2008) afirmou que uma vez que a alocação de recursos é menor, seria uma conseqüência natural a maior atenção sobre as exportações. Melén e Nordman (2009) estudaram quais modos de internacionalização as empresas Born Globals utilizavam durante seu movimento inicial e os seguintes em direção ao exterior. Os autores dividiram as empresas Born Globals em três grupos: as de comprometimento baixo, as de comprometimento incremental e as de comprometimento alto. 44 Segundo os autores, as empresas de comprometimento baixo utilizavam modos de entrada como o de exportação direta. Mesmo que estas empresas tenham aumentado o empenho de recursos em mercados estrangeiros, estas não migraram e nem pretendem migrar para modos de entrada de maior comprometimento (Figura 8). FIGURA8 – OS TRÊS GRUPOS DE BORN GLOBALS EM SUA CONTÍNUA INTERNACIONALIZAÇÃO Modos de Entrada de Baixo Comprometimento Exportação Distribuidores / Agentes Modos de Entrada de Alto Comprometimento AliançasEstratégicas / Joint Ventures Fabricação Subsidiárias de Vendas Comprometimento Baixo. Comprometimento Incremental. Comprometimento Alto. FONTE: MELÉN E NORDMAN (2009) As empresas de comprometimento incremental, embora tenham iniciado seu processo de internacionalização a partir de modos de entrada de baixo comprometimento, em alguns dos mercados aumentaram seu relacionamento com parceiros de negócios no exterior, através de alianças estratégicas e joint ventures. Estes movimentos causaram um aumento do comprometimento da empresa com os mercados internacionais. As empresas de comprometimento alto são aquelas que iniciaram sua internacionalização em modelos de alto comprometimento (como a instalação de 45 plantas e escritórios) em países mais relevantes para a empresa e atuando com modelos de baixo comprometimento em países menos relevantes. Estas empresas têm duas alternativas para continuar seu crescimento: a primeira é um contínuo aumento de recursos e de comprometimento no exterior. A segunda é um decréscimo do comprometimento através da liquidação de subsidiárias no exterior. Uma vez verificados os fatores externos de pré-condição e as principais definições do fenômeno, nos debruçaremos sobre os modelos de análise das Born Global se as variáveis específicas do fenômeno, da empresa, do empreendedor e das networks, que interferem na possibilidade de a empresa apresentar comportamento compatível com as definições citadas anteriormente. 2.2.3 MODELOS DE ANÁLISE Embora não se possa afirmar que existe um modelo de análise único para o fenômeno das Born Globals, diversos frameworks já foram desenvolvidos como forma de entender porque as empresas se tornam Born Globals. Rialp, Rialp e Knight (2005), frente à escassez de estudos mais teóricos sobre firmas internacionalizadas rapidamente, afirmaram que, a partir daquele momento, era necessário maior foco no desenvolvimento de teorias, construtos e frameworks teóricos. A primeira tentativa de se desenhar um framework teórico especificamente para analisar o fenômeno das Born Globals partiu de Madsen e Servais (1997). Os autores propuseram que a interferência de três fatores interferiria positiva ou negativamente na possibilidade de uma empresa assumir comportamentos compatíveis com os previstos para empresas Born Globals – O empreendedor, a organização e o ambiente de negócios. Madsen e Servais (1997) defenderam que a análise de uma Born Global deve remeter mesmo a antes do início da empresa com um estudo cuidadoso do empreendedor. Para os autores, o criador da empresa deve ser ou um 46 empreendedor genuíno ou um profissional de grande experiência. Os autores propuseram também que a experiência internacional é um elemento essencial para a expansão internacional, uma vez que o empreendedor não percebe seu país como o centro de sua vida e altera a percepção de distância psíquica. Em relação à organização, os autores concluíram que as empresas Born Globals têm maior especialização em comparação a outras empresas exportadoras. Sendo assim, tem maior capacidade de atender nichos devido à sua facilidade de personalização. Em relação às características do ambiente de negócios, o tamanho do mercado interno foi tratado por Madsen e Servais (1997) como importante para as Born Globals, uma vez que empresas com mercados domésticos menores demonstram maior propensão a se tornarem Born Globals do que empresas com mercados domésticos maiores.Comportamento parecido apresenta o grau de internacionalização de mercado, uma vez que empresas em mercados mais internacionalizados apresentam maior possibilidade de se tornarem Born Globals do que empresas em mercados menos internacionalizados. Outro ponto levantado por Madsen e Servais (1997) é a maior utilização das competências de parceiros, especialmente em seus canais de distribuição. Por último, para os autores, a organização deve ter alta capacidade de inovação e acesso à Pesquisa e Desenvolvimento (Figura 9). 47 FIGURA9 – MODELO DE PESQUISA DE BORN GLOBALS Empreendedor: Experiência Passada Nível de Ambição Motivação Organização: Competências Rotinas Estruturas de governança corporativa Ambiente: Internacionalização do mercado Alta / Baixa Tecnologia Especialização Born Global: Propensão e desenvolvimento futuro FONTE: MADSEN E SERVAIS (1997) Andersson e Wictor (2003) avançaram na tentativa de estabelecer um framework comum e definiram as maiores influências na criação de uma Born Global: Empreendedor, Networks, Globalização e Indústria. Embora o desenho do modelo seja diferente, o quadro de Andersson e Wictor (2003) é bastante parecido com o de Madsen e Servais (1997). A figura do empreendedor está mantida como uma força de influência. No entanto, para Andersson e Wictor (2003), empreendedor não é apenas aquele que inicia a empresa, mas todos que tomam atitudes empreendedoras dentro da organização. Sendo assim, os gerentes da empresa seriam os maiores responsáveis pelo processo de internacionalização. O conceito de Ambiente de Madsen e Servais (1997), para Andersson e Wictor (2003) se dividiu em dois grupos: a globalização, que se por um lado sozinha não explica o aparecimento das Born Globals, por outro criou pré-condições para que estas existissem; e a Indústria, não apenas as condições de crescimento e internacionalização da indústria a qual a empresa pertence – elemento de extrema importância –, mas também as condições das indústrias às quais os principais clientes estão inseridos. 48 Por último, Andersson e Wictor (2003) inseriram as networks não como atores secundários, mas como um dos principais fatores de influência para uma empresa se tornar ou não uma Born Global. Os autores afirmaram que não apenas as networks internacionais são importantes para uma empresa, mas também as locais, e não são vistas apenas como estruturas para novas estratégias e sim como oportunidades que podem ser utilizadas para a implantação de suas visões (Figura 10). FIGURA 10 - FRAMEWORK CONCEITUAL DE ANDERSSON E WICTOR Empreendedores Born Globals Networks Indústria Globalização FONTE: ANDERSSON E WICTOR (2003) Dib (2008) organizou de maneira mais detalhada que os anteriores, em uma ordenação hierárquica, os fatores ligados ao surgimento de empresas Born Globals. Em primeiro lugar, tendências globais exemplificadas pela homogeneização dos mercados e avanços nas áreas de comunicações e transportes. Em seguida, é ressaltada a importância dos fatores ambientais do país, a partir de políticas públicas de incentivo à internacionalização e a saturação do mercado doméstico. Em terceiro lugar, o autor colocou os fatores específicos da indústria, como a existência de cadeias de suprimento ou o surgimento de mercados de nicho, ambos, no âmbito global. Em quarto lugar, Dib (2008) esmiuçou os fatores específicos da empresa, como a posse de ativos únicos, o pertencimento a uma network internacional ou a capacidade de inovação da empresa. Por último, o autor descreveu os fatores individuais do 49 empreendedor como a experiência de trabalho ou educação no exterior ou o conhecimento técnico deste. Concentrando o esforço de sua pesquisa nos dois últimos fatores, Dib (2008) esquematizou da seguinte maneira sua pesquisa: os já citados fatores específicos da empresa e individuais do empreendedor, além de um novo bloco ligado às relações de networks, criado pelo autor a fim de agrupar características que ora eram ligadas à empresa e ora eram ligados ao empreendedor (Figura 11). FIGURA 11 - HIERARQUIA DOS FATORES QUE AFETAM O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO Fonte: DIB (2008) Após estudar as pré-condições que possibilitaram a aparição de empresas Born Globals, as definições do fenômeno e os modelos de análise, torna-se importante um levantamento das principais pesquisas executadas na América Latina, origem da empresa estudada nesta dissertação. 50 2.2.4 PESQUISAS SOBRE BORN GLOBALS NA AMÉRICA LATINA Diversos estudos de caso sobre Born Globals vêm sendo executados nos últimos anos na América Latina (por exemplo: KANTIS, FEDERICO e MARTINEZ, 2004; LOZANO, MORGAN e ROBSON, 2007; DIB 2008; MELLO, 2009; DIB, ROCHA e SILVA, 2010;), especialmente no Brasil, embora possam ser encontradas pesquisas na Argentina e México sobre o assunto. No entanto, pôde-se perceber a pequena participação destes estudos em journals de primeira linha de negócios internacionais. A maior parte das pesquisas foi encontrada em teses, dissertações e/ou em revistas locais, e consiste, em sua maioria, em pesquisas qualitativas de estudo de caso, exceto Dib (2008) e Kantis, Federico e Martinez (2004) que efetuaram uma pesquisa quantitativa com um grupo de empresas locais. Segundo Ropelato et al (2009), os estudos sobre Born Globals executados no Brasil apresentam concordâncias frente às definições do fenômeno, em relação ao tempo decorrido entre o nascimento da empresa e a posterior internacionalização e a participação das vendas internacionais frente à receita da empresa. Os estudos brasileiros concentram-se basicamente em estudos sobre empresas pertencentes ao setor de software (DIB, 2008; MELLO, 2009; DIB, ROCHA e SILVA, 2010; SILVA, 2010), o que vai ao encontro dos estudos internacionais sobre Born Globals, predominantemente focados no setor de tecnologia (RIALP-CRIADO ET AL, 2002). Para Dib (2008), a possibilidade de empresas de software enfrentarem as desvantagens de localização através de uso de tecnologia e estratégias de distribuição, além da explosão de empresas do setor nos últimos 15 anos, tornava o setor relevante para pesquisas na área. Dentre as pesquisas argentinas encontradas, Kantis, Federico e Martinez (2004) executaram uma pesquisa quantitativa com 181 empresas exportadoras do país. Segundo os autores, as empresas exportadoras argentinas são mais dinâmicas e de maior complexidade organizacional, embora apenas uma em cada três tivesse iniciado seu movimento de internacionalização aos três anos de idade ou menos. Erbes, Robert e Yoguel (2006), em estudo sobre a indústria de software 51 argentina,perceberam o grande número de empresas que se internacionalizavam de forma acelerada (embora não tenham quantificado um prazo em sua pesquisa). Os autores concluíram que este ritmo acelerado estaria associado a uma percepção de um mercado local insuficiente por parte dos empreendedores argentinos deste setor. A pesquisa de Lozano, Morgan e Robson (2007) sobre as Born Globals mexicanas analisou o ambiente do país, as mudanças de seu cenário econômico nas décadas de 1990 e 2000, como a abertura do mercado e a entrada no NAFTA, transformando o país, de um importador para um exportador de tecnologias. Os autores montaram uma survey com mais de 700 startups de tecnologia locais, propondo um framework que sugere a orientação empreendedora, a orientação de mercado, a estratégia de inovação, a turbulência competitiva do mercado de exportação e as características da empresa exportadora como fatores de definição do desempenho de um novo empreendimento baseado em exportações. Os autores defenderam que aquela havia sido a primeira pesquisa sobre Born Globals do país. Embora tenham sido encontradas evidências de estudos em outros países da América Latina (como a participação em congressos e pesquisas em curso) não foi possível localizar publicações de artigos abordando os demais países da região. 3. DISCUSSÃO DO MÉTODO Neste capítulo será apresentada a metodologia de pesquisa utilizada nesta dissertação. Esta discussão será iniciada a partir da definição das perguntas de pesquisa, em seguida justificando os procedimentos metodológicos somados ao método utilizado, e por fim serão analisadas as limitações do método selecionado. 52 3.1.DEFINIÇÃO DAS PERGUNTAS DE PESQUISA A definição das perguntas de pesquisa é um passo essencial para a escolha do método e dos procedimentos metodológicos a serem adotados. Esta dissertação apresenta a seguinte pergunta-chave: Como as abordagens comportamentais das teorias de internacionalização de empresas ajudam a explicar os movimentos de internacionalização do MercadoLibre e do eBay ao longo da existência das empresas, entre 1995 e 2012? Somadas a esta pergunta principal, foram feitas outras perguntas a fim de orientar a pesquisa e a coleta de dados: • Quais foram as motivações para estes movimentos de internacionalização das empresas? • Quais fatores influenciaram a escolha dos momentos de internacionalização e os modos de entrada nos diferentes mercados para as empresas? • Quais são as conseqüências para as empresas mais de uma década após o primeiro movimento de internacionalização? 3.2. NATUREZA DO ESTUDO Os métodos científicos se dividem em dois grandes grupos – quantitativos e qualitativos – considerados os objetivos de pesquisa. Enquanto os métodos quantitativos visam à mensuração de forma direta e quantificação dos efeitos (GODOY, 1995), os métodos qualitativos buscam percepções a cerca dos objetos de estudo, através de análises em profundidade (CAMPOMAR, 1991). 53 Os estudos qualitativos podem ser divididos em cinco grandes grupos (CRESWELL, 2006): a biografia, focada na exploração da vida de um indivíduo; a fenomenologia, que busca entender a essência das experiências sobre um fenômeno; a grounded theory, disposta ao desenvolvimento de uma teoria baseada nos dados obtidos em campo; a etnografia, que tem por objetivo a interpretação de um grupo social específico e por último; o Estudo de caso, que através de fontes múltiplas busca desenvolver uma análise em profundidade de um ou múltiplos casos. O Quadro 3 apresenta uma síntese dos diversos estudos qualitativos e suas características. 54 QUADRO3 – DIMENSÕES PARA COMPARAR AS CINCO TRADIÇÕES EM PESQUISA QUALITATIVA Dimensão Biografia Fenomenologia GroundedTheory Etnografia Estudo de Caso Foco Explorar a vida de um indivíduo. Entender a essência de experiências de um fenômeno. Desenvolver uma teoria baseada em dados de campo. Descrever e interpretarum grupo cultural e social. Desenvolver uma análise em profundidade de um caso simples ou de múltiplos casso. Origem da Disciplina Antropologia, Literatura, História Psicologia e Sociologia. Filosofia, Sociologia e Psicologia. Sociologia. Antropologia Cultural, Sociologia. Ciências Políticas, Sociologia, Avaliação, Estudos Urbanos, Outras Ciências Sociais Coleta de Dados Primariamente entrevistas e documentos. Entrevistas extensas com até 10 pessoas. Entrevistas com 20 a 30 indivíduos a fim de “saturar” categorias e detalhar uma teoria. Primariamente observações e entrevistas com artefatos adicionais durante tempo extenso no campo (6 meses a um ano). Fontes Múltiplas: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observações, artefatos físicos. Análise de Dados Histórias, epifanias e conteúdo histórico. Declarações, significados, temas de significados, descrição geral da experiência. Codificação aberta, codificação axial, condificação seletiva e matriz condicional. Descrição, análise e interpretação. Descrição, temas e afirmações Forma Narrativa Descrição detalhada da vida de um indivíduo. Descrição da essência de uma experiência. Modelo Teórico Descrição do comportamento cultural de um grupo ou de um indivíduo. Estudo em profundidade de um casoou múltiplos casos Fonte: CRESWELL (2006) traduzido por YUAN (2010) 55 Nesta dissertação, fez-se a opção por um método qualitativo, mais especificamente o de estudo de caso, método indicado quando não se podem isolar do ambiente, os acontecimentos e características do objeto de estudos e sobre os quais o pesquisador tem pouco controle (YIN, 1988). Somado a este ponto, o método de estudo de casos é o método mais apropriado para responder questões do tipo ‘como’ e ‘por que’ (YIN, 1988), conforme as apresentadas anteriormente nesta dissertação. QUADRO 4– SITUAÇÕES RELEVANTES PARA ESTRATÉGIAS DE PESQUISAS Controle Sobre Questões Eventos Comportamentais Como, Por Que Sim Sim Survey Quem, Qual, Onde Não Sim Archival Analysis Quem, Qual, Onde Não Sim/Não Análise Histórica Como, Por Que Não Não Estudo de Caso Como, Por Que Não Sim Estratégia Tipo de Pergunta Experimento Fonte: YIN (1988) Sellitz et al (1975) dividiu os objetivos de uma pesquisa em três grupos: exploratórios (a familiarização com um fenômeno), descritivos (sobre as características de uma situação ou um estudo de assiduidade da ocorrência de 56 um fenômeno) e os explanatórios (que pesquisam hipóteses de relação entre variáveis). Em relação à tipologia proposta por Sellitz et al (1975), optou-se por um estudo do tipo exploratório, uma vez que, como demonstrado no referencial teórico desta dissertação, não há unidade nas diversas abordagens comportamentais de internacionalização de empresas, o que dificulta a formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis acerca do assunto. Sendo assim, a natureza do estudo escolhido foi uma pesquisa qualitativa de estudo de múltiplos casos do tipo exploratória. A seguir serão esclarecidos os motivos pelos quais os casos MercadoLibre e eBay foram escolhidos para esta pesquisa. 3.3. OS CASOS ESCOLHIDOS A fim de entender melhor como as abordagens comportamentais das teorias de internacionalização de empresas explicam o caso de empresas latinoamericanas, foram escolhidos os casos MercadoLibre e eBay. A escolha do MercadoLibre se deu por quatro principais motivos: em primeiro lugar, pelo local de nascimento da firma, na Argentina – área de interesse do autor desta dissertação e alvo de poucos estudos na área de internet –; em segundo lugar, por ser uma empresa presente em mais de uma dezena de países, com mais de uma década decorrida desde o seu primeiro movimento de internacionalização; em terceiro por ser uma organização que continuou se internacionalizando, com seu último movimento acontecendo no momento em que esta pesquisa foi efetuada; e, por fim, por ser uma empresa da área de internet, indústria de particular interesse do autor desta pesquisa. A escolha do caso eBay foi feita para ser apresentada como um contraponto, de como uma empresa da mesma indústria, mas nascida em um mercado maior e mais desenvolvido, como o norte-americano, se comportou em seus processos de internacionalização e, a partir deste ponto, traçar um paralelo entre suas ações e as ações do MercadoLibre. 57 3.4. COLETA DE DADOS Para desenvolvimento dos casos MercadoLibre e eBay foi realizada uma longa pesquisa de dados secundários, uma vez que são empresas com alta exposição em publicações noticiosas. Foram utilizadas: notícias retiradas do site do jornal argentino El Clarín; dos sites brasileiros Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e O Globo; dos sites das revistas Fortune, BusinessWeek, Forbes, Exame, Info, Veja, Época (todas do Brasil) e Mercado (argentina); de relatórios sobre a internet na América Latina de organizações como Morgan Stanley e Ebit; de uma longa entrevista do empreendedor Marcos Galperín em 2007; e em teses e casos acadêmicos sobre o mercado argentino de internet na virada do milênio. Outras fontes de informação foram conversas informais com ex-funcionários do MercadoLibre e com outros agentes do mercado de internet brasileiro. 3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO DE ESTUDO DE CASO Os fenômenos observados em uma ou mais organizações em um estudo de caso não podem ser generalizados para o universo, exceto em condições de restrição e especificidade. Apesar disso, pode ser bastante útil na expansão e generalização de proposições teóricas (YIN, 1988). O Método de caso tem restrições ainda devido a possibilidade de menor precisão e objetividade (YIN, 1988), além disso, pode ser visto como um método muito focado na intuição, e suscetível a possíveis vícios de visões pessoais do pesquisador (GOODE e HATT, 1975). Deve-se lembrar também que as entrevistas são calcadas nas opiniões dos respondentes, e sendo assim não necessariamente representam fielmente a realidade (SNOW e THOMAS, 1994). Barretto e Rocha (2003) sugeriram que o tempo decorrido entre o momento de tomada de decisão e a entrevista pode funcionar como um modificador, seja 58 através de racionalizações ou repressões, da percepção sobre as motivações humanas. Para Dib (2010), um meio eficaz de mitigar estes riscos é através da triangulação dos dados através de entrevistas com mais de um funcionário da organização além da comparação entre as entrevistas e os dados obtidos em fontes secundárias, conforme foi feito nesta pesquisa. 3.6. LIMITAÇÕES DA PESQUISA Além das restrições e limitações do método escolhido, a pesquisa sobre os dois casos ofereceu algumas restrições em particular. No caso do eBay, a principal dificuldade foi a distância, uma vez que a empresa não opera com o marketplace no Brasil, apenas com o PayPal, e não houve a disponibilidade de tempo e financeira para que a pesquisa fosse feita in loco na sede da empresa, nos Estados Unidos. No caso MercadoLibre, houve a restrição de informações, uma vez que o autor desta dissertação foi convidado para assumir um cargo de gestão em um outro marketplace brasileiro no decorrer do processo de pesquisa. Sendo assim, mesmo com a possibilidade de entrevistas presenciais, por motivos éticos optouse por declinar destas e trabalhar apenas com dados secundários. 3.7.DEFINIÇÃO OPERACIONAL DE BORN GLOBAL Um primeiro passo para a análise do caso foi definir frente à grande diversidade de opiniões encontradas na literatura que valores dentro dos parâmetros préestabelecidos seriam utilizados para definir o que é uma Born Global. Nesta pesquisa optou-se por utilizar a definição de Dib (2008), que afirmou que empresas Born Globals eram aquelas que, fundadas após 1989, se 59 internacionalizavam em até cinco anos após seu nascimento e que tinham ao menos 25% de seu faturamento concentrado nas operações internacionais. A opção pela não-restrição do modo de entrada se deveu ao trabalho de Melén e Nordman (2009), mostrando que existem empresas Born Globals de variados graus de comprometimento, não sendo necessária a opção de um modo específico. A opção pela utilização desta definição mais ampla se deve à localização do objeto estudado, em países com grande extensão territorial, mercado consumidor em larga expansão e entraves burocráticos, que poderiam agir como redutores da velocidade de um processo de internacionalização, fazendo com que este se manifestasse de forma diversa em ambientes de negócios diferentes (ZUCHELLA, 2002). 3.8. MODELO DE ANÁLISE ADOTADO O modelo de análise adotado para este estudo de caso utilizará como base o modelo de Dib (2008) que observa uma visão bastante ampla do fenômeno ao considerar as variáveis de tendências globais, os fatores ambientais do país, os fatores específicos da indústria, os fatores específicos da empresa, das suas networks e dos empreendedores, conforme apontado na Figura 12. FIGURA12– MODELO DE ANÁLISE ADOTADO 60 FONTE: DIB, 2008 A partir de cada uma destas unidades a serem analisadas, será executado um estudo longitudinal, buscando entender durante a existência da empresa, os pontos de encontro comportamentais de e divergências internacionalização com de as diversas empresas abordagens encontradas no referencial teórico. 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS 4.1 MERCADOLIBRE 4.1.1 BREVE HISTÓRICO O estudante argentino de pós-graduação na Stanford University, Marcos Galperín, então com 28 anos, tinha intenções corporativas ao oferecer uma carona até o aeroporto a John Muse, um dos fundadores do fundo de private equity Hicks, Muse, Tate and Furst, que havia ministrado uma palestra em sua aula de Finanças. No caminho da universidade até o aeroporto, Marcos conseguiu convencer Muse a investir em um plano de negócios que havia desenvolvido durante sua estada em Stanford: um site de leilões, aos moldes do bem-sucedido eBay, voltado para América Latina, uma região com ainda baixa penetração de usuários de internet, mas de grande crescimento em que o original norte-americano ainda não havia investido. Era março de 1999 e a febre das empresas ponto com estava em seu auge. Embora Galperín afirme que nesta carona nasceu o MercadoLibre, a operação da empresa começou de fato no fim do primeiro semestre de 1999, em Buenos Aires, na Argentina, com a compra de um sistema de leilão por U$15.000,00. A empresa de garagem recebeu mais quatro sócios minoritários, entre eles o brasileiro Ademar Larine, e sua primeira grande injeção de investimentos (U$2,5 milhões) que permitiu que, em paralelo à primeira estruturação da empresa, já se desenvolvesse o site e um sistema próprio de 61 leilões personalizado, que tivesse suporte multi-línguas, para possíveis expansões do grupo. A empresa ainda captaria até o fim de 1999 mais uma injeção vultosa de investimento no valor de U$7,6 milhões. A estréia do site ocorreu em agosto com números impressionantes: em apenas dois meses já havia mais 13.000 usuários cadastrados e 4.400 objetos já negociados, numa média de mais de 70 leilões por dia, totalizando U$1,4mi negociado. O faturamento esperado para o ano seguinte era de U$3 milhões, com previsão de break-even até o ano de 2002. Para atingir tais metas, o MercadoLibre deveria fazer o que estava em seu DNA desde o plano de negócios entregue a John Muse: se expandir regionalmente pela América Latina, e o primeiro alvo deveria ser o maior mercado do continente – o Brasil. 4.1.2 O AMBIENTE DE NEGÓCIOS No ano de 1999, a internet ainda dava seus primeiros passos na América Latina. Brasil e Argentina, embora fossem os países mais desenvolvidos da região, tinham um índice de penetração de usuários baixíssimo. Marcos Galperín, em entrevista a Sramana Mitra deu um panorama desta situação: “O mercado era muito pequeno. Mal eram 3% de penetração. Destes 3%, os usuários de e-commerce eram 10% ou menos. Hoje (em 2007) este número de penetração de usuários é de 20%, mas ainda pode crescer muito mais.”(MITRA, Os mercados brasileiros e argentinos 2007) apresentavam semelhanças, principalmente quanto à rápida expansão, o potencial de vantagens competitivas como first-mover e a abundância de venture capital na América Latina no período. Havia algumas diferenças, sobretudo em relação a fatores culturais e demográficos, conforme descrição a seguir: 62 O MERCADO ARGENTINO DE INTERNET Com 600.000 usuários de internet dentro de uma população de 37 milhões de pessoas, renda per capita de U$7.856,00, a mais alta taxa de penetração de computadores da América Latina (6,1%) e previsão de quintuplicar o número de usuários até 2003 (MORGAN STANLEY, 2000), o mercado argentino de internet era uma área atrativa para empreendedores locais e estrangeiros. 58% das eventures da América Latina tinham sua origem no país. (FINANCIAL TIMES, 2000) A baixa taxa de analfabetismo da população (2%) e alta taxa de cientistas e pesquisadores por milhão de pessoas – 660, contra 150 do Brasil (IBRD, 2000) – complementavam este quadro favorável. No entanto, alguns pontos devem ser observados: o índice de penetração de internet por computador ainda era, naquele momento, um dos mais baixos da América Latina, com apenas 31%, menos da metade do Brasil, com 67%. Do ponto de vista regulatório, buscou-se um desenvolvimento acelerado do ebusiness através de decretos como a redução do custo dos provedores e a criação de uma linha especial para o acesso à internet por um valor menor do que o habitual. No entanto, a questão econômica já era uma preocupação, com altas taxas de desemprego e grande déficit, empréstimo de U$40 bilhões solicitado ao FMI e as sucessivas trocas de Ministros da Economia. Estes pontos, somados à instabilidade econômica do país, levariam o presidente Fernando De La Rúa à renúncia em Dezembro de 2001. No que se refere especificamente a empresas, o mercado argentino de internet apresentava crescimento exponencial em número de provedores (de 0,05 por 10.000 habitantes em 1993 para 39 por 10.000 habitantes em 1999), segundo dados do ITU. (MARCUM, 2001) 63 Segundo Marcum (2001), uma característica importante do mercado argentino de internet, naquele momento,era a predominância da imitação do modelo de negócios importados dos Estados Unidos por grande parte das start-ups. Um exemplo disso é o El Sítio, que funcionava à semelhança do site de buscas norte-americano Yahoo!. Outro exemplo é a empresa estudada neste caso, o MercadoLibre, que funcionava em um modelo parecido ao site de leilões EBay. Ainda segundo o autor, a grande quantidade de start-ups (por exemplo, com o lançamento de um portal vendas verticais a cada três dias) provocou saturação do mercado, uma vez que a ainda baixa penetração da conexão de internet dificultava o ganho da massa crítica necessária. A conseqüência deste fato foi que cerca de 80% das start-ups passaram por severas dificuldades financeiras e metade dos 8000 empregos gerados no ano anterior foi perdida no primeiro trimestre do ano 2000. O MERCADO BRASILEIRO DE INTERNET Embora tivesse renda per capita menor que Argentina, Chile e México (U$3.170,00), e uma penetração de PCs por usuário abaixo da média da América Latina (3,7% x 4,1%), o Brasil detinha naquele momento quatro milhões de usuários de internet, dentro de uma população de cerca de 172 milhões de pessoas. Estes dados do país são expressivos principalmente devido às suas dimensões e população continentais e ao alto índice de penetração de internet x usuários de PCs (MORGAN STANLEY, 1999). Estes números se mostraram ainda mais importantes quando analisamos as estimativas para ano de 2003 do mesmo relatório, que previa uma base de 13,9 milhões de usuários de internet, número que superava a soma dos usuários de Argentina, Chile e México e representava 40% dos usuários da América Latina. Os homens, que já eram maioria no acesso à internet (60% x 40%), aumentavam esta diferença quando se tratava de comércio eletrônico (66% x 34%). Outro ponto destacado era a rápida expansão do tráfego do varejo eletrônico, que aumentara quase quatro vezes (de 500.000 visitantes únicos para 2.000.000) em apenas quatro meses, entre dezembro e março de 2001. 64 Um ponto de atenção é que este crescimento ocorreu contra a sazonalidade do comércio e que, sendo assim, era ainda mais expressivo. (EBIT E IBOPE ERATINGS, 2002) O mercado de comércio eletrônico no Brasil movimentou no ano de 2001 R$549 milhões. Não havia números confiáveis apenas sobre o mercado de leilões no país. (EBIT E IBOPE E-RATINGS, 2002) No ambiente político/regulatório, a situação era mais estável do que na Argentina. Embora tivesse passado por duas crises econômicas entre 1997 e 1999 e a desvalorização da moeda, o país apresentava aparente estabilidade econômica e política, embora ainda não houvesse legislação específica para o mercado online e pouca interferência do governo brasileiro no setor. 4.1.3 OS PRINCIPAIS CONCORRENTES Uma característica específica do mercado via internet é a de que a rivalidade entre os concorrentes deixa de acontecer necessariamente no mesmo espaço físico e adquire comportamentos impensáveis nos mercados convencionais. No caso do MercadoLibre, podemos destacar três principais concorrentes de origens e atuações bastante diferentes entre si: o DeRemate.com, com origem e comportamento bastante parecido com o MercadoLibre; o EBay, que embora não atuasse fisicamente no mercado latinoamericano deixava aberta a possibilidade de compras diretamente desta região; e o Lokau, principal site de leilões brasileiro à época. DEREMATE.COM Fundado na Argentina em 31 de agosto de 1999 por alunos latinoamericanos da Universidade de Harvard, o DeRemate.com atuava nos mesmos moldes do MercadoLibre e apresentava estratégia de expansão internacional bastante parecida naquele momento. 65 Inicialmente, o DeRemate.com contou com U$50.000,00 de investimento de cada um de seus 11 fundadores e em seu primeiro mês de existência da empresa já haviam fechado uma parceria com o site Aucland.com. Esta empresa francesa detinha um site de leilões eletrônicos em seu país de origem, já preparado para o suporte para múltiplos idiomas e moedas, em um modelo que previa transferência de tecnologia e injeção de recursos pelos quinze anos posteriores da empresa em troca de 10% da participação dos sócios argentinos. O site foi construído em apenas seis semanas e lançado em uma grande festa no Planet Hollywood de Buenos Aires, com a presença de políticos e das maiores redes de televisão locais. Apenas duas semanas após o lançamento do site, o DeRemate.com voltou seus olhos para a sua primeira expansão internacional, com a aquisição do site brasileiro E-Bazar por U$50.000 e 2,4% de participação acionária na empresa argentina. Foi adaptado o nome do site (Arremate.com) e todo o seu conteúdo traduzido em apenas duas semanas, com o lançamento ocorrendo rapidamente. Pesquisa contratada pela empresa em julho de 2000, apontava o DeRemate.com como líder em marketshare e awareness no Brasil e na Argentina, com larga escala de vantagem em relação ao seu concorrente principal, o MercadoLibre (somente na Argentina, o índice de awareness era de 64% do DeRemate contra 10% do MercadoLibre. No Brasil este índice era de 30% contra 3%, respectivamente). LOKAU Fundado pelo ex-diretor das Lojas Americanas, Paulo Humberg, em junho de 1999, sob o nome de Freelance, com investimento inicial de R$400 mil, o Lokau.com.br recebeu uma injeção de U$11 milhões da GP Investimentos apenas dois meses depois. O site era o maior concorrente oriundo do mercado brasileiro e detinha, em Abril de 2000, cerca de 280.000 usuários, com aproximadamente 40% do marketshare de leilões pela internet no país. 66 Neste mesmo mês assinou uma parceria com o Universo Online, então o maior provedor de internet do país e um dos maiores portais, na qual pagava R$20 milhões pela exclusividade de leilões eletrônicos para os usuários do portal. 4.1.4 O MOVIMENTO DE INTERNACIONALIZAÇÃO PARA O BRASIL Em outubro de 1999, menos de dois meses após o lançamento do site argentino, o MercadoLibre apontou suas baterias para o Brasil, num movimento de expansão rápida, através de seu co-fundador Ademar Larine, colocado como presidente da filial brasileira. As intenções da empresa ao se internacionalizar eram latentes. Por um lado, adquirir a vantagem de first-mover na entrada no país, por outro, tornar a empresa atrativa para a captação de novos investimentos. Larine explicou assim as motivações para a entrada no país: “Na época, a idéia era clara: ganharia o jogo quem investisse o mais rápido possível, e com mais inteligência. Quando os recursos acabassem, bastava fazer uma nova rodada de captação”(EXAME.COM, 2000). Através de uma estratégia de investimento direto do tipo greenfield, o MercadoLibre.com.br se internacionalizou de maneira contrária a de seus concorrentes, que promoveram a entrada no Brasil a partir de aquisições (ainda em 1999, o Arremate.com comprou o E-Bazar, já em 2001 o eBay comprou o IBazar). Com sede em São Paulo, a filial brasileira do MercadoLibre teve inicialmente investimento de U$2,5 milhões, divididos em U$1 milhão para tecnologia e infraestrutura e U$1,5 milhão para o lançamento do site em campanha publicitária assinada pela agência ADD . O site foi desenvolvido em paralelo ao site argentino num tempo total de desenvolvimento de 120 dias. A equipe comercial da empresa fez grande esforço a fim de promover a estréia do site com 2.700 leilões ativos (GAZETA MERCANTIL, 1999). 67 Com o objetivo de atingir 50.000 usuários nos primeiros 30 dias, o MercadoLibre investiu em comerciais na TV Aberta (fato só retomado dez anos depois), a cabo e em mídia online. Até o fim do ano de 1999, o objetivo era alcançar a marca de 150.000 usuários. O sentimento de corrida do ouro pelo nascente mercado brasileiro como principal âncora da liderança na América Latina foi descrito por Larine, conforme a seguir: "Nosso objetivo primário é ser o maior site de produtos da América Latina"(M&M ONLINE, 1999). Para atingir tal objetivo, Larine contava com U$10 milhões captados de entidades privadas norte-americanas. O desejo da empresa foi reafirmado em outubro de 1999: “Esse montante será aplicado gradualmente e fará com que nossa estratégia seja viável. Não temos problemas de capital e iremos investir o que for necessário para ocupar a liderança do mercado brasileiro e latinoamericano”. (GAZETA MERCANTIL, 1999) Tanto no Brasil quanto na Argentina, o MercadoLibre decidiu trabalhar de forma bem similar seu composto de marketing. A parte visual do site era idêntica nos dois países, mudando apenas o idioma e o sistema de cores. O posicionamento da marca também era o mesmo. As propagandas eram simplesmente dubladas e as imagens do site alteradas, geralmente no fim da propaganda. As peças publicitárias eram elaboradas e produzidas no país de origem da empresa. Essa prática, que permitia economia de escala, se manteve posteriormente. Quanto a preços e tarifas, no inicio das operações do site, em 1999, não era cobrada nenhuma comissão pelas transações, pois o site buscava estimular o uso e romper a “barreira inercial”. No ano seguinte, o MercadoLibre iniciou o processo de cobrar tanto um percentual pelas transações, quanto uma taxa para a publicação dos produtos. 68 As tarifas eram pagas somente pelos vendedores, sendo totalmente gratuitas para os compradores. Para facilitar o processo de cobrança, nos primeiros meses, o pagamento era feito após a conta do vendedor ultrapassar R$ 20,00 no Brasil ou 10 Pesos na Argentina. TABELA 3 -TARIFA POR PUBLICAÇÃO: ERA COBRADA UMA PORCENTAGEM NO PREÇO FINAL DE VENDA (Valores convertidos para a cotação do Real de 1/8/1999 (1 Peso= R$1,81) PreçoInicial da Negociação TarifaporPublicação Argentina Brasil Argentina Brasil Menor que R$18,10 Menor que R$20,00 R$ 0,45 R$ 0,50 Entre R$18,10 e 36,20 Entre R$20,00 e 40,00 R$ 0,91 R$ 1,00 Entre R$36,20 e 90,50 Entre R$40,00 e 100,00 R$ 2,73 R$ 3,00 Maior que R$90,50 Maior que R$100,00 R$ 3,64 R$ 4,00 Além da tarifa por publicação, o site instituiu também a tarifa por venda fechada, que funcionava como uma porcentagem do preço total: esta porcentagem variava de acordo com o preço de venda. À medida que os preços de venda aumentassem, a porcentagem a pagar como tarifa por venda fechada seria menor. TABELA 4 – TARIFA POR VENDA FECHADA (Valores convertidos para a cotação do Real de 1/8/1999 (1 Peso= R$1,81) Preço de Encerramento da negociação Tarifaporvenda Argentina Brasil Menor que R$905,00 Menor que R$1000,00 4% Entre R$905,00 e 4.525,00 Entre R$1000 e 5000,00 3% Entre R$4.525,00 e R$18.100,00 Entre R$5.000,00 e 20.000,00 2% Maior que R$18.100,00 Maior que R$20.000,00 1% 69 4.1.5 RESULTADOS E CONSEQÜÊNCIAS Após quase um ano do processo de internacionalização para o Brasil, os números de marketshare e awareness no país não se mostravam animadores, com apenas 3% de awareness e 14% de marketshare. Este resultado era compreensível a partir da estratégia de comunicação montada a partir de janeiro de 2000 pela empresa, de anunciar apenas em canais a cabo e em mídia online. Galperín explicou assim o planejamento de comunicação do MercadoLibre: “Havia 40 empresas fazendo exatamente o que fazíamos – algumas delas levantaram mais fundos do que nós. Você pode contar nos dedos das mãos as que foram capazes de levantar duas rodadas de financiamento. Esta era uma forma de nos diferenciarmos das outras empresas. Todas as outras gastaram seu dinheiro em marketing de massa, reproduzindo a estratégia do Pets.com. Nós economizamos e desenvolvemos nossos produtos. Desde o começo, focamos na construção de um bom produto e de uma boa infra-estrutura de TI. Esta é uma grande diferença entre nós e todo o resto na região. Eles focaram mais em marketing do que no produto, nós focamos mais no produto e menos em marketing.”(MITRA, 2007) Para exemplificar Galperín podemos citar o Lokau, que iniciou um programa diário de duas horas de duração na então recém-nascida Rede TV, ou os comerciais de TV e anúncios impressos veiculados de forma intensiva feitos pelo IBazar e Arremate.com na Rede Globo de TV ou na Revista Veja. No dia 10 de Março de 2000, o índice da bolsa americana NASDAQ, que concentrava a maioria das ações das empresas de tecnologia atingiu seu ápice histórico chegando aos 5.048,62 pontos. Com temor de crescimento inflacionário o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) promoveu uma escalada de juros, o que tornou os empréstimos muito mais caros e difíceis de serem obtidos. As empresas de internet, com valores de mercado artificialmente inflados, e que estavam mais preocupadas com burnrate (tempo em que o investimento seria utilizado) do que com o conceito de break-even, tiveram 70 problemas para se adaptar a esta nova realidade. O resultado foi uma série de redução em investimentos e em muitos casos falência de empresas que valiam milhões de dólares dois meses antes. A estratégia de contenção de custos do MercadoLibre começou a dar resultado neste momento. Por causa de sua eficiência operacional a empresa conseguiu em maio de 2000 levantar mais uma rodada de financiamentos no valor de U$46 milhões. Galperín completou: “Nós economizamos a maior parte daquele dinheiro, estava difícil conseguir novos investimentos, e esta foi uma das razões pelas quais nós sobrevivemos.” (Mitra,2007) Esta nova rodada de investimentos permitiu que a empresa mantivesse o seu ritmo de internacionalização pela América Latina, com expansões para México e Uruguai ainda no ano de 1999 e para Colômbia, Venezuela, Chile e Equador no de 2000, todas com características bastante parecidas com o caso brasileiro, através de investimentos diretos do tipo greenfield com alto grau de padronização com as operações da matriz. Esta eficiência operacional permitiu ainda que a empresa suportasse um caso de fracasso em sua internacionalização sem maiores conseqüências: a Espanha. Seguindo o modelo argentino e brasileiro, não eram cobradas tarifas sobre venda nos primeiros meses de operação. A receita do MercadoLibre vinha da operacionalização de leilões para sites menores, entre eles o seu maior cliente, o SubastasPC, especializado em leilões de produtos de informática. Em meados do ano de 2001 (um ano após iniciar suas operações em solo espanhol) no entanto, o gigante americano eBay promoveu sua entrada na Europa através da compra do maior player local, o francês IBazar. Entendendo a ameaça a seus negócios na Espanha, o MercadoLibre vendeu suas operações para o SubastasPC e deixou o mercado espanhol, sem que este fato tivesse grande impacto sobre as operações da empresa. 71 Com o ritmo de crescimento mantido e atividades promocionais mantidos, o MercadoLibre se tornou rapidamente líder de mercado frente a outros players que, sem a facilidade de financiamento, tiveram que enxugar suas operações ou até mesmo mudar radicalmente o seu escopo de atuação. O eBay não esqueceria do mercado latinoamericano de internet que já crescia com grande velocidade. Só que desta vez, o maior player local era o próprio MercadoLibre. No fim de 2001, as duas empresas assinaram um contrato de parceria, no qual o eBay receberia 19,5% das ações da matriz argentina em troca das operações do recém-adquirido IBazar no Brasil em uma parceria de 5 anos, encerrada em 2006. Esta parceria deu a robustez necessária ao MercadoLibre para cada vez um maior crescimento e a aquisição de seus maiores rivais. Em dezembro de 2002 a empresa assumiu a administração do site Lokau.com.br, de propriedade do portal iBest. Embora fosse negada a aquisição, como sendo apenas um contrato de administração, pouco tempo depois, empresa fechou a compra total do seu concorrente. No ano de 2004, o MercadoLibre inaugurou sua sede no Uruguai após cinco anos de operação remota no país. Restavam apenas dois grandes sites de leilão na América Latina, o MercadoLibre e o Derremate.com, mas esta situação seria alterada em 11 de novembro de 2005. Nesta data o MercadoLibre adquiriu as operações do Derremate.com em 8 países (Brasil, Colômbia, Equador, México, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela). Restavam ao seu concorrente apenas as operações na Argentina e Chile. Estas operações foram adquiridas em agosto de 2008, tornando o MercadoLibre o único player de grande porte de leilões na América Latina. Em agosto de 2007, a empresa realizou o seu IPO na bolsa americana NASDAQ, com a expectativa de captar U$289 milhões com a abertura de 72 capital, com as ações valoradas em U$18. A abertura foi muito mais bemsucedida que o esperado ao encerrar o dia com o valor de U$27. Em dezembro de 2010, as ações da empresa já valiam U$68 e apresentava lucro líquido de U$40 milhões nos 3 primeiros trimestres do ano, com crescimento de quase 100% sobre o mesmo período do ano anterior. As operações internacionais respondiam por mais de 80% das receitas líquidas da empresa no mesmo período. Ainda no ano de 2010, o MercadoLibre voltou ao mercado europeu ao abrir um site de leilões em Portugal, totalmente controlado do Brasil. O país foi escolhido por não abrigar nenhum grande site de leilões como o eBay, ter 46% da sua população com acesso à banda larga e ter registrado aumento de 20% na base de clientes de comércio eletrônico no ano de 2009. 4.2 EBAY 4.2.1 CRIAÇÃO DO EBAY Pierre Omidyar, um francês filho de iranianos, vivia nos Estados Unidos desde os seis anos de idade, em 1948, onde se graduou em Ciência da Computação pela Tufts University. A partir de então, teve uma trajetória discreta na área de engenharia de software até 1995, quando uma coleção de embalagens de doces alterou o seu destino. A então noiva de Omidyar, hoje sua esposa, colecionava pequenas embalagens de doces, conhecidas nos Estados Unidos como “Pez”, e sentia dificuldade para trocar, comprar e vender elementos novos para sua coleção. A percepção desta necessidade fez nascer em Omidyar a idéia de que era preciso um espaço onde as pessoas tivessem acesso umas às outras, conforme ele mesmo explicou em entrevista ao Academy of Achievement no ano de 2000: 73 “Eu queria criar um mercado eficiente onde os indivíduos poderiam se beneficiar desta eficiência em todos os níveis. Logo após, pensei que a internet, a web era perfeita para isso!” (ACADEMY OF ACHIEVEMENT, 2000) Começou então em seu tempo livre, a criação de um site que pudesse oferecer a seus visitantes o acesso de vendedores a compradores e vice-versa, o AuctionWeb. A primeira versão do website foi desenvolvida no feriado do dia do trabalho de 1995. O vendedor inseriria o produto no site e o ofereceria por meio de leilão a seus compradores, de forma a tentar aproveitar a eficiência do mercado, o que era desejado por Pierre. A receita do site vinha de um pequeno percentual retido em cada transação que era destinado ao site. 4.2.2 CRESCIMENTO Em apenas seis meses, a receita do hobby de Omidyar já pagava todas as contas de sua casa, e três meses depois já rendia a seu criador mais do que este ganhava em seu emprego diurno. Segundo o empreendedor, apenas neste momento ele percebeu que tinha um negócio em mãos, e que deveria olhar o AuctionWeb de forma mais profissional. Nos dois primeiros anos de sua história, o Auction Web cresceu entre 20% a 30% ao mês, um número impressionante, mesmo para startups de tecnologia. Frente a este comportamento incomum, Omidyar buscou a ajuda de profissionais de negócios para buscar que este crescimento se sustentasse pelo maior período de tempo possível. “Todo negócio na fase startup apresenta um crescimento acelerado, mas nunca por um período tão longo de tempo. E estávamos fazendo projeções em cima apenas do que tínhamos visto no passado. Contratei então pessoas de negócios que pudessem olhar cuidadosamente esta área, já que muitos diziam que era impossível continuar crescendo a esta velocidade.”(ACADEMY OF ACHIEVEMENT, 2000) 74 O comentário anterior de Omidyar remete ao ano de 1997, em que a empresa sofreu grande revolução em todas as suas áreas. Lewis e Skoll (2004) consideram este período como o ano em que o site de leilões evoluiu para uma companhia, de fato. A primeira mudança e talvez a mais visível foi a troca do nome do site de AuctionWeb para eBay, que deixava as possibilidades de atuação do site mais amplas. Ainda neste ano, com o crescimento de anúncios de1100% em relação ao ano anterior, o site passou por graves problemas tecnológicos, tanto em seu software, quanto em sua infraestrutura de servidores, ambos despreparados para o volume de visitas, anúncios e transações ocorridos no período. Assim, no último trimestre do ano, foi lançada uma nova plataforma, mais robusta para que pudesse suportar o rápido crescimento dos anos seguintes sem maiores sobressaltos. Por fim, 1997 viu o primeiro plano de negócios do eBay, e a busca por parceiros e investidores. Embora já fossem lucrativos, era importante que tivessem fôlego para expandir os negócios, antes que grandes corporações já estabelecidas – como a então gigante AmericaOnLine – criassem seus próprios marketplaces. A contratação de uma equipe de marketing saída do MBA de Stanford foi outro passo importante para a transformação da empresa de garagem na mega corporação de vendas pela internet hoje conhecida. No ano seguinte, em 1998, mais mudanças na empresa. No começo do ano, Meg Whitman, executiva com passagens pela Walt Disney Company, Dreamworks, Procter & Gamble e Hasbro foi contratada como CEO do grupo. Embora o eBay já fosse um fenômeno da internet, era pouco conhecido fora deste ambiente. A própria executiva apontou este fato como um ponto negativo no processo de tomada de decisão para o aceite do cargo: 75 “Ninguém nunca tinha ouvido falar deles (eBay), e deixei um emprego incrível em uma companhia conhecida, viajando com a minha família mais de 3000 milhas para aceitar o cargo.” (NBC NEWS, 2000) Em 24 de setembro deste ano, o site promoveu sua abertura de capital, levantando 63 milhões de dólares. As ações subiram 163.2% apenas neste dia, fechando o dia em U$47,37, 29 dólares acima do preço-alvo de U$18,00, um número alto, mesmo para empresas “ponto com” da época. Para efeito de comparação, o Geocities, comunidade de hospedagem gratuita de sites, poucos meses antes, teve uma valorização de 94% em sua estréia na bolsa de valores. (CNET,1998) 4.2.3 COMEÇO DA INTERNACIONALIZAÇÃO Ainda no fim de 1998, o eBay promoveu seu primeiro movimento de internacionalização, montando páginas personalizadas para o Canadá e Reino Unido. Enquanto no Canadá a expansão ocorria apenas com a criação do site no país, no Reino Unido o lançamento foi acompanhado da contratação de equipe local e participação em eventos. (MAHNKE e VENZIN, 2002) Em menos de um ano já havia tomado a liderança de seu principal competidor local, o QXL.com PLC. Em 25 de fevereiro de 1999, o eBay, em parceria com o site australiano PBL Online anunciou que lançaria versões locais do site de leilões na Austrália e Nova Zelândia. O site passou por adaptações mínimas, como a inclusão de salas de chat especificas daqueles países, mas em grande parte era o mesmo modelo norte-americano replicado para os países da Oceania. 4.2.4 INTERNACIONALIZAÇÃO PARA A EUROPA Em junho do mesmo ano, o eBay adquiriu o Alando.de, então o maior marketplace alemão por U$22 milhões. O mercado alemão de internet, àquela altura, tinha 10 milhões de usuários, um mercado grande demais para ser 76 ignorado, segundo Pierre Omidyar (CNN, 1999). Aproveitando a estrutura recém-adquirida, a empresa disponibilizou um site específico para o mercado austríaco, operado diretamente da filial alemã. Em 2000, o eBay lançou seu marketplace francês, com o foco voltado para o principal player local: o Ibazar. Segundo Matthew J. Bannick, vice-presidente de negócios internacionais da companhia, o objetivo era destronar a concorrência entre 12 e 18 meses (Businessweek, 2000). O Ibazar, àquela altura detinha mais 300.000 leilões por mês. Um ponto de atenção para a empresa foi a diferença dos hábitos de consumo dos franceses, que passavam muito menos tempo conectados à internet, pela cobrança por minuto, o que não acontecia nos Estados Unidos, já em processo de expansão de conexões de banda larga. Outra dificuldade encontrada pelos norte-americanos no mercado europeu foi o grande número de gateways de pagamento e a diversidade de leis entre os países – apesar da entrada do Euro, países como a Alemanha ainda exigiam que para uma transação bancária ser confirmada, deveria-se ter uma assinatura física do comprador (MAHNKE e VENZIN, 2002). Embora tenha atingido um rápido crescimento no país, a posição do eBay na França se solidificou em 2001, com a aquisição de seu principal concorrente, o Ibazar, que àquela altura já detinha mais de 2,4 milhões de usuários cadastrados e mais de 3,1 milhões de anúncios. O valor da compra, realizada logo após o estouro da bolha e a queda acelerada do índice NASDAQ, foi de U$125 milhões (Businessweek, 2008). A compra do iBazar acelerou a internacionalização do eBay, uma vez que a empresa fancesa já tinha filiais em sete outros países: Itália, Espanha, Portugal, Brasil, Bélgica, Holanda e Suécia. Naquele momento, o eBay se tornou uma empresa presente em 16 países. Em junho de 2005, contrariando o seu passado de aquisições, o eBay inaugurou seu site irlandês, aproveitando a base instalada de 200.000 clientes que já utilizavam o eBay do vizinho Reino Unido. (RTE, 2005). 77 No ano seguinte, em abril de 2006, o eBay adquiriu o líder do mercado sueco de marketplaces, o Tradera.com, nascido em 1999. Embora o site americano já operasse em solo sueco desde a aquisição do Ibazar, apenas com esta aquisição passou ter o predomínio do mercado local. Em outubro de 2008, os dois líderes do mercado dinamarquês de classificados, DenBla Avis e BilBasen foram incorporados pelo eBay em uma transação de aproximadamente U$390 milhões. Este foi visto como um movimento estratégico para dominação do e-commerce local, uma vez que os sites de classificados e marketplaces são as opções preferidas de compras via internet no país. (EBAY, 2008). 4.2.5 INTERNACIONALIZAÇÃO PARA A AMÉRICA LATINA No caso latinoamericano, como pudemos ver no caso MercadoLibre, o Ibazar era um dos principais players do mercado, que se organizava à época após o estouro da bolha da internet, com corte de funcionários (no caso do Arremate.com) ou em revisões estratégicas (no caso do Lokau.com) (ISTO É Dinheiro, 2001). Ao contrário do que se previa, a marca IBazar foi mantida após a operação, não havendo assim a entrada da marca eBay no Brasil. Em outubro do mesmo ano, o MercadoLibre comprou o IBazar brasileiro, e por meio de troca de ações, os norte-americanos do eBay passaram a ter uma participação de 19,5% na empresa argentina (ComputerWorld, 2001). Até o ano de 2012, o eBay não operava com marca própria no Brasil, atuando apenas em sua participação dentro do MercadoLibre. O mercado latinoamericano foi descrito com mais detalhes no caso anterior. 4.2.6 O FRACASSO JAPONÊS Em Fevereiro de 2000, o eBay anunciou uma joint-venture com a gigante dos eletrônicos e computação japonesa NEC, para a instalação de uma filial do marketplace americano no país. O site seria todo em japonês, comercializável 78 em ienes e com categorias específicas para o consumidor japonês. (CNET, 2000) O mercado japonês já contava com um concorrente de peso, o Yahoo! Auctions, já estabelecido alguns meses antes, e que contava com rápida expansão, através de uma estratégia de anúncios gratuitos. Com pouco mais de um ano de atuação, o Yahoo! Auctions já contava com 2,2 milhões de usuários no país. A questão da vantagem do first-mover, foi assim abordada por Massashiro Inoue, CEO da filial japonesa do Yahoo!: “Jerry Yang – co-fundador do Yahoo! Nos EUA – percebeu que era crítico que fôssemos os primeiros, (...) correr atrás de um líder é difícil, uma vez que no mercado de leilões, mais compradores trazem mais vendedores, e assim por diante.” (BusinessWeek, 2001) A escolha da CEO também se revelou um erro. Merle Okawara, que havia feito carreira na indústria alimentícia norte-americana, transformando uma pequena empresa em um gigante dos produtos congelados de U$100 milhões, Okawara tinha o dobro da idade de seus funcionários epouco ou nenhum contato com empresas de internet (BusinessWeek, 2001). A lentidão em adaptar o site para os gostos dos japoneses, através de sessões como horóscopos e resenhas, também foi apontada como problemática para o sucesso do eBay no Japão. Àquela altura, o eBay não conseguia alcançar o Yahoo! Auctions. Frente a este quadro, Meg Whitman declarou: “Estamos em uma maratona, não em um sprint!” (BusinessWeek, 2001). No entanto, no dia 31 de março de 2002, a filial japonesa da empresa fechou as portas, cortando 17 vagas de trabalho. Embora tenha sido descrita pela empresa como um processo de reorganização para uma melhor expansão para o resto da Ásia, sobretudo o mercado chinês, analistas de mercado relacionaram o encerramento da operação nipônica à perda definitiva de espaço no mercado frente ao Yahoo! Auctions. 79 4.2.7 EXPANSÃO PARA A ÁSIA E PROBLEMAS CULTURAIS Mesmo com o fracasso japonês, o eBay manteve as baterias de seu processo de internacionalização voltadas para a Ásia, ao comprar, em fevereiro de 2002, por cerca de U$10 milhões o maior site de leilões de Taiwan chamado ubid.com.tw da Neocom Technology, entrando no mercado taiwanês em posição de liderança. Este movimento, na época, foi visto como um passo intermediário para a entrada na China. O próprio porta-voz da empresa à época, Kevin Pursglove, declarou: “O eBay tem a forte intenção de adentrar o continente, especialmente China e Hong Kong”(FORBES, 2002). Àquela altura, o eBay já operava na região, na Coréia do Sul e Cingapura. Ainda em março de 2002, o eBay começou a confirmar sua intenção de entrada no mercado chinês ao adquirir 33% da EachNet, então o maior marketplace do país, posição que foi consolidada em julho do ano seguinte, com a compra dos 67% restantes. Um ponto de atenção é que a marca EachNet foi mantida. O site eBay.cn seria lançado apenas um ano depois, com alto investimento de mídia, sobretudo com publicidade nos maiores portais chineses. No ano de 2004, um de seus concorrentes, voltado para empresas médias e pequenas, o Alibaba, em um movimento defensivo frente ao iminente crescimento do site eBay no mercado chinês lançou o Taobao.cn, um marketplace C2C com um modelo de negócio idêntico ao da firma norteamericana. A estratégia do Taobao.cn era oferecer os anúncios de forma gratuita, com a navegação focada no usuário e mais flexibilidade na postagem de ofertas, mas adequados ao consumidor chinês médio, recém-apresentado à internet. O eBay, assim como no Japão, teve dificuldade para se adaptar e mudar rapidamente frente a um mercado com grande diferença cultural e em 2006 foi ultrapassado por seu concorrente, apresentando apenas 29% de marketshare frente a 67% do Taobao.cn. (FORBES, 2010) 80 Em junho de 2004, observando o crescente mercado indiano, o eBay fez um investimento de £27 milhões no Baazee.com, um marketplace sediado em Bombaim, com uma base de clientes de mais de um milhão de registros. A expectativa pelo desenvolvimento do mercado era latente, conforme declarou Meg Whitman, CEO da empresa: “Embora ainda sejam os primeiros passos do comércio eletrônico na Índia, acreditamos nas oportunidades de longo prazo”. (BBC, 2004) Embora tenha experimentado um rápido crescimento em visitas, clientes e número de ofertas, o eBay enfrentou logo em seu primeiro ano de atuação, um grave problema com as leis indianas. No fim do mês de novembro, foram vendidas pelo site diversas cópias de um vídeo amador que mostrava dois adolescentes de uma exclusiva escola de Nova Déli praticando atos sexuais. Embora a empresa tenha colaborado com as investigações da polícia, no fim do mês de dezembro, o presidente da filial local da empresa, Avnish Bajaj, foi preso, sob a acusação de divulgar pornografia em seu site. Quatro dias depois, foi liberado, sob a alegação de que o vídeo não foi exibido em seu site e sim apenas uma breve descrição deste. No entanto, o processo judicial correu até o ano de 2008, quando enfim, o processo criminal contra o executivo foi formalmente retirado. Em novembro de 2004, o eBay lançou seu site nas Filipinas com uma estratégia diferente das utilizadas anteriormente. Uma vez que o mercado filipino operava com anúncios grátis, o eBay seguiu esta tendência ao não cobrar a taxa de inserção de anúncios no país. Este site seria gerenciado inteiramente do escritório da empresa em Cingapura, com planos de abrir um escritório local em Manila tão logo a operação ganhasse corpo. (The Sunday Morning Herald, 2004) 4.2.8 O MERCADO DE PAGAMENTOS Embora dominasse em boa parte dos países em que atuava o mercado de marketplaces, o eBay tinha pouca ou nenhuma atuação no passo seguinte, que 81 era o pagamento destas ofertas, normalmente feito diretamente através de transferência bancária ou de operadoras especializadas em pagamento, nas quais podiam-se utilizar outros meios para pagar como débito automático e cartão de crédito. Visando este mercado, o eBay comprou ainda em 2000, uma startup especializada em pagamento chamada Billpoint e utilizando parcerias com Visa e Wells Fargo começou a oferecer a seus vendedores a possibilidade de que todo o processo de venda fosse efetuado dentro do próprio site. Àquela altura, o principal concorrente do produto da Billpoint era o PayPal, uma empresa de pagamentos já bem estabelecida que, de forma análoga ao eBay se aproveitava do benefício de first-mover em seu respectivo mercado. Apesar dos esforços através de descontos e créditos em anúncios para os vendedores, a estratégia de eBay e Billpoint fracassou, uma vez que embora houvesse incentivo para o uso de seu produto, os compradores e vendedores já detinham contas e confiança no PayPal, com pouca disposição de mudança para a plataforma proposta pelo marketplace. Naquele momento, o PayPal se utilizou do efeito de rede, e incentivando o processo de feedback positivo através de uma campanha de member-get-a-member, onde cada cliente que trouxesse um novo cliente ganhava créditos de U$5,00. Uma estimativa do PayPal no começo de 2002, dava conta que 70% das ofertas anunciadas no eBay aceitavam PayPal enquanto apenas 27% aceitavam o sistema de pagamento nativo Billpoint. (CNET, 2002) Assim, em 8 de julho de 2002, por meio de trocas de ações, em uma operação avaliada em U$1,5 Bilhões (CNN, 2002), o eBay adquiriu o PayPal, descontinuando assim o seu produto de pagamentos Billpoint. Pelo acordo O PayPal continuaria a operar de forma independente, porém complementar ao eBay. Nos movimentos de internacionalização seguintes do eBay, o PayPal seria incluído e em alguns momentos até chegando antes do marketplace, estando, no ano de 2012, em 190 mercados e operando com 25 moedas diferentes. 82 4.2.9 EBAY INTERNATIONAL MARKET Em março de 2010, o eBay lançou o programa “eBay International Market” que possibilitava que, a partir de um site em um país, adaptado para o idioma local e com as categorias de produtos mais adequadas para a região, os compradores pudessem ter acesso a ofertas de diversos outros países, desde que os vendedores destas ofertas aceitassem fazer a entrega para o país do comprador. Especialmente dentro das áreas de livre comércio, a utilização de diversas bases de produto aumentava exponencialmente o sortimento oferecido aos compradores. Em seu lançamento, este mercado ficou disponível para Dinamarca, Grécia, República Tcheca, Noruega, Russia e Suécia. Em seis meses, o volume de produtos vendidos cresceu em 40%, e o número de novos usuários cresceu em mais de 50%, abrindo as portas para que outros países participassem deste novo modelo (COMPUTERWORLD, 2010). Este modelo poderia contar, ou não com uma operação local do eBay no país de atuação. Em maio de 2012, o número de países participantes deste programa já chegava a 37, com a inclusão de Argentina, Austrália, Austria, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Finlândia, França, Alemanha, Hong Kong, Hungria, Índia, Irlanda, Itália, Coréia do Sula, Malásia, México, Holanda, Nova Zelândia, Filipinas, Polônia, Portugal, Cingapura, Espanha, Suíça, Taiwan, Tailândia, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e Vietnã. 5. ANÁLISE DOS CASOS Neste capítulo, serão analisados os casos MercadoLibre e eBay à luz das teorias apresentadas na revisão de literatura. A fim de responder da melhor forma possível à pergunta-chave da pesquisa, o capítulo está sub-dividido de acordo com o modelo de análise proposto por Dib (2008): 1) Tendências globais; 2) Fatores Ambientais do País; 3) Fatores Específicos da Indústria; 4) Fatores 83 Específicos da Empresa; 5) Fatores Individuais do Empreendedor. Dentro destes tópicos abordaremos também os modos de entrada nos diferentes países do caso e os paralelos entre os processos de internacionalização dos dois marketplaces. Inicialmente, no entanto, se faz necessária uma comparação para que possamos ter a dimensão das diferenças e semelhanças entre as duas empresas estudadas (Quadro 4 e Figuras 13, 14 e 15). QUADRO 4 – EVOLUÇÃO NÚMEROS EBAY E MERCADOLIBRE Receita Líquida (U$MM) Ano MercadoLibre eBay Crescimento Anual MercadoLibre eBay Numero de Países MercadoLibre eBay 1996 ND ND ND ND ND 1 1997 ND 41 ND ND ND 1 1998 ND 86 ND 108,2% ND 3 1999 ND 225 ND 160,9% 4 8 2000 ND 431 ND 92,0% 8 9 2001 ND 749 ND 73,6% 9 17 2002 ND 1214 ND 62,1% 8 20 2003 6 2165 ND 78,3% 8 20 2004 13 3271 126,8% 51,1% 9 21 2005 28 4552 122,0% 39,2% 9 22 2006 52 5970 84,8% 31,1% 12 22 2007 85 7672 63,3% 28,5% 12 22 2008 137 8541 61,0% 11,3% 12 22 2009 173 8727 26,1% 2,2% 12 22 2010 217 9156 25,4% 4,9% 13 22 2011 299 11652 37,9% 27,3% 13 22 FONTES:EBAY, 2006; EBAY, 2009; EBAY; 2011; MERCADOLIBRE, 2008; MERCADOLIBRE, 2011; MERCADOLIBRE, 2012 84 FIGURA 13 – GRÁFICO COMPARATIVO DE RECEITA LÍQUIDA ENTRE EBAY E MERCADOLIBRE (em milhões de dólares) 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 eBay MercadoLibre Como podemos ver na figura, que, embora, como vimos nos casos, ocupem posições de liderança nos mercados onde atuam, as duas empresas estudadas têm grande diferença de tamanho. Tal discrepância pode ser explicada pelos mercados onde cada uma atua. No caso do eBay, no mercado norte-americano, asiático e europeu, enquanto o MercadoLibre atua apenas na América Latina e Península Ibérica, como mostra a Figura 14(no caso do eBay só estão relacionados onde o marketplace tem sites, excetuando-se assim a área do PayPal e do International Market). 85 FIGURA 14 – COMPARAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAL ENTRE EBAY E MERCADOLIBRE Pela Figura 15, pode-se perceber que, embora tenham tamanhos muito diferentes e operem em mercados diversos, o eBay e o MercadoLibre apresentam curvas de crescimento bastante similares, com um crescimento acentuado nos primeiros anos de vida (os dados oficiais de faturamento anual do MercadoLibre só estão disponíveis desde 2005), passando por um momento de baixo crescimento em 2009 e 2010, período em que várias das principais economias mundiais apresentaram baixo crescimento ou recessão, recuperando velocidade em seu crescimento no ano de 2011. As taxas de crescimento acima de 20% sugerem que o mercado onde operam ainda não atingiu a maturidade. 86 FIGURA 15 – GRÁFICO COMPARATIVO DE CRESCIMENTO PERCENTUAL DE RECEITA LÍQUIDA ENTRE EBAY E MERCADOLIBRE 180,00% 160,00% 140,00% 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 eBay MercadoLibre Feitas as comparações, podemos partir então para cada uma das 5 dimensões propostas por DIB (2008), começando por Tendências globais. 5.1 TENDÊNCIAS GLOBAIS No período a ser analisado, o crescimento dos mercados de nicho, os avanços na tecnologia e telecomunicações e a evolução nas áreas de logística e distribuição previstas por Rennie (1993) apresentam particular relevância dentro do modelo de negócios virtual das duas empresas estudadas. Os sites possibilitavam o anúncio de um número praticamente infinito de produtos para atender um mercado cada vez mais estratificado, ao mesmo tempo os avanços na área de tecnologia e telecomunicações, somadas às evoluções nas áreas de logística e distribuição, além de pré-requisitos para o funcionamento do negócio facilitavam possíveis contatos entre a matriz e as subsidiárias em países estrangeiros, além da transferência de recursos (fossem eles financeiros, humanos ou tecnológicos) entre os dois pólos. A expansão da internet no mundo possibilitava um maior relacionamento entre concorrentes, clientes, fornecedores, complementares ou organizações de 87 serviço, provocando o crescimento e o fortalecimento das networks, de acordo com o conceito formatado por Cuningham (1985). As tendências descritas no caso atuam no conceito proposto pelo Empreendedorismo Internacional (Oviatt e McDougall, 2005), como alguns dos principais fatores de viabilidade, isto é, aquelas que tornaram este fenômeno da internacionalização rápida possível. 5.2FATORES AMBIENTAIS DOS PAÍSES Em relação aos fatores ambientais do país, o caso da internacionalização do MercadoLibre encontra respaldo no modelo desenvolvido por Dib (2008) em relação aos fatores do mercado argentino da virada do último milênio. O pequeno mercado de então (cerca de 600.000 usuários) e a saturação do mercado (com um grande número de novos empreendimentos) influenciaram positivamente na velocidade de internacionalização da firma, diferentemente do Brasil, que possuía um mercado consumidor maior e com maior possibilidade de expansão que o mercado argentino, em linha com as diferenças nacionais do fenômeno propostas por Zuchella (2002). O mercado norte-americano, no entanto, apresentava já um mercado bastante mais desenvolvido, com mais de 20 milhões de usuários quando da criação da empresa e mais de 80 milhões de usuários no momento de sua primeira internacionalização. Esta diferença de porte entre os dois mercados pode ajudar a explicar a distância no tempo entre o começo do processo de internacionalização das duas empresas – um mês no caso do MercadoLibre e três anos no caso do eBay. Outro ponto que pode ser relevante na diferença de velocidade entre as empresas é o tamanho dos mercados a serem explorados em relação ao tamanho do mercado local, uma vez que para os norteamericanos qualquer mercado exterior ao seu era menos relevante, ao contrário do MercadoLibre que tinha um vizinho com melhor oportunidade de crescimento, fosse pelo tamanho da população ou evolução da economia. As diferenças entre os dois mercados são coerentes com as afirmações de Knight e Cavusgil (1996) sobre a viabilidade do aparecimento de empresas Born 88 Global sem mercados desenvolvidos ou não seja no campo econômico e/ou no campo tecnológico. Por outro lado, o grande número de empreendimentos virtuais no país possibilitava a criação de networks com outros players da mesma indústria, fossem sites de busca e grandes portais já com presença em países estrangeiros, o que facilitaria o desenvolvimento de posições em países estrangeiros, em adição às networks locais, corroborando Johanson e Mattson (1988) e a abordagem de networks. Brasil e Argentina viviam realidade macroeconômica parecida após as políticas de estabilização das moedas no começo da década de 1990. Assim como os EUA em relação ao Canadá e países anglo-saxões na Europa.O momento de calmaria financeira e crescimento econômico para os países desenvolvidos, por um lado e estabilização dos países em desenvolvimento na virada do milênio por outro, segundo Hagen e Hennart (2004), críticos do Modelo de Uppsala, funcionariam como um redutor da já baixa distância psíquica entre os dois países. Por último, embora os objetos deste estudo fossem empreendimentos que não eram focados em apenas um nicho, a maior homogeneização dos mercados ajudou a tornar os serviços prestados pelas empresas em seus países mais relevantes também em outros mercados, corroborando uma das condições externas propostas por Madsen e Servais, (1997). Outro ponto que se alinha a este pensamento é o de que as empresas foram bem-sucedidas em outros mercados com pouquíssimas alterações no produto – exceto nos casos chineses e japoneses do eBay. 89 5.3 FATORES AMBIENTAIS DA INDÚSTRIA A análise dos fatores específicos da indústria de empresas de internet na virada entre as décadas de 1990 e 2000 encontrou aderência nas críticas de Forsgren e Hagstron (2007) ao Modelo de Uppsala, uma vez que tanto o eBay, quanto o MercadoLibre privilegiaram a obtenção de vantagens de first mover frente à obtenção do conhecimento gradual do mercado e considerou que o custo de uma não-internacionalização era maior do que os riscos assumidos em um movimento acelerado. A importância das vantagens de first movers foi explorada fortemente nas duas empresas estudadas nesta pesquisa. No MercadoLibre, Galperín deixa claro que não podia atrasar mais a sua ida ao Brasil e em sua fala, demonstra o tempo todo a visão de “corrida do ouro”. O caso eBay mostrou quando a lentidão na entrada em um país se tornou uma desvantagem, com o crescimento do Yahoo! Auctions no Japão, e as dificuldades criadas para a versão nipônica do eBay. Além disso, a globalização da indústria de empresas de internet torna cada vez mais irrelevante o Modelo de Uppsala, de acordo com Oviatt e McDougall (1994), pela cada vez maior dependência dos fatores externos. A concorrência (DeRemate.com no caso MercadoLibre e o Yahoo! Auctions no caso eBay), como sugerida por Oviatt e McDougall (2005), age como fator de motivação, uma vez que incentivou a internacionalização da empresa, fosse através da maior concorrência no mercado interno ou mesmo pelo efeito manada da ida desta para o exterior. A abundância de capital disponível para empresas “ponto com” naquele momento também agiu como um fator relevante neste movimento internacionalização. No entanto, o estouro da bolha da internet na bolsa americana NASDAQ atuou como um gerador de vantagem competitiva para o MercadoLibre, que estava mais estruturado para enfrentar possíveis adversidades e para o eBay, que já era grande o bastante para absorver o impacto e manteve sua expansão internacional como será visto no item a seguir. 90 5.4 FATORES ESPECÍFICOS DAS EMPRESAS Em relação aos fatores específicos das empresas, No caso do MercadoLibre, a compra de um sistema de leilões pronto até que fosse desenvolvido o seu próprio pode ser compreendido como uma forma de acelerar a obtenção de conhecimento tecnológico da empresa, burlando de certa forma o ciclo de aspectos de estado x aspectos de mudança, previsto por Johanson e Vahlne (1977). Já o eBay, promoveu esta aceleração em outra esfera, uma vez que era pioneiro neste mercado. A opção da empresa norte-americana foi pela contratação de executivos vindos do mercado – MBAs de Stanford inicialmente, e mais à frente, Meg Whitman, executiva de mercado. Neste ponto, podemos traçar um paralelo entre as duas empresas: enquanto o eBay, que foi fundado por um empreendedor da área técnica foi buscar profissionais da área de negócios, o MercadoLibre que fora fundado por um profissional de negócios, conseguiu reduzir seu gap tecnológico a partir da contratação de uma plataforma pronta no mercado, novamente alinhados com Johanson e Vahlne (1977). Por outro lado, a expansão internacional do MercadoLibre basicamente através de investimentos do tipo greenfield, mostra que a empresa acreditava que não seria vantajosa a tentativa de acelerar os processos de conhecimento de mercado previstos no Modelo de Uppsala (ao contrário de concorrentes como o DeRemate.com, por exemplo). Por sua vez, o eBay investiu fortemente em aquisições e joint-ventures com os líderes de mercado locais, como nos casos do Alando.de, Ibazar e PBL Online. Tal movimento pode ser explicado porque os mercados de internet nos quais o eBay focou já seriam mais desenvolvidos, reduzindo a vantagem de first-mover. É importante perceber que o MercadoLibre e o eBay apresentaram características de um modelo de internacionalização acelerada, especialmente a respeito dos seus movimentos para Alemanha e França (eBay) e Brasil e México (MercadoLibre). Em linha com as definições de Moen (2002) e Dib (2008), os primeiros movimentos de internacionalização ocorreram dentro de cinco anos da 91 fundação da empresa – no caso do eBay, 2 anos a partir da estabilização como empresa e no caso do MercadoLibre, apenas um mês. Todavia, não se pode afirmar que o eBay esteja alinhado com a definição de Oviatt e McDougall (1994) de que a empresa desde a sua concepção visa obter vantagens em múltiplos países, o que aconteceu apenas após a estabilização e profissionalização da empresa. O MercadoLibre, por outro lado, já tinha desde a sua concepção a visão de obter estas vantagens através de movimentos internacionais, sendo assim, alinhados com a definição dos autores. Como afirmaram Knight e Cavusgil (1996), eram empresas que atuavam em ramos específicos, tinham diferenciais em seus produtos, e sendo assim, estavam longe do que poderia ser tratado como commodity. Em relação ao percentual de participação das operações internacionais, o MercadoLibre se portou como um caso mais latente ao possuir no fim do período de cinco anos, mais de 50% de sua receita oriunda do exterior. O eBay, no entanto, atingiu ao final de cinco anos de vida 20% de receita vinda das operações internacionais do grupo, atingindo os 25% apenas em seu sexto ano de existência, o que, pela definição escolhida nesta pesquisa, tornaria a empresa americana inadequada ao conceito de Born Global. Os movimentos de internacionalização para o Canadá, Reino Unido, e posteriormente o International Market (eBay); e para Uruguai, Panamá, Venezuela, Portugal (MercadoLibre), no modelo de operação remota, isto é, operando sem um escritório local, não encontraram respaldo na literatura pesquisada. No entanto, consideramos este modelo de operação muito próximo ao da exportação de produtos, já que se presta um serviço estando sediado no país de origem e não no local de consumo. Sendo assim, de acordo com Melén e Nordman (2009), a empresa optou por modelos de operações de baixo comprometimento. A divisão dos movimentos em dois grupos (alto e baixo comprometimento), nos dois casos, de acordo com os empreendedores pode ser explicado a partir das 92 declarações de Ademar Larine no caso MercadoLibre, que definia a conquista do mercado brasileiro como um caminho para a conquista do mercado latinoamericano e de Pierre Omidyar no caso eBay, que declarou que o mercado alemão era grande demais para ser ignorado. Sendo assim, podemos entender que a importância estratégica dos países foi um fator importante para a definição do modo de entrada nos países. Outro ponto de atenção é que em alguns dos movimentos de internacionalização das empresas estudadas – Reino Unido e Canadá, no caso eBay e o Uruguai, no caso MercadoLibre – tiveram suas operações iniciadas via operação remota, diretamente dos países de origem e, com o crescimento das empresas, observaram então a inauguração de escritórios próprios em seus países, sugerindo um modelo de estágios, em linha com Johanson e Wiedersheim-Paul (1975). A inauguração destes escritórios possibilitou a criação de serviços mais complexos e personalizados o que vai ao encontro das afirmações de Johanson e Vahlne (2009). A posse de ativos únicos do MercadoLibre, através do desenvolvimento de tecnologia própria de leilões multi-linguas e multi-moedas própria e da estratégia de menor investimento em comunicação de massa tornaram a empresa mais robusta para suportar alterações no ambiente de negócios e para manter sua estratégia de expansão internacional, em linha com o conceito de recursos exclusivos de Oviatt e McDougall (1994). No caso do eBay, a posse de ativos únicos pode ser exemplificada pelo tamanho obtido rapidamente e sua escala, o que gerou uma possibilidade maior de financiamento e sendo assim importante vantagem competitiva sobre os competidores locais – levando em parte dos casos, inclusive à sua aquisição. Outro ativo único a ser relembrado no caso norte-americano é a força de sua marca, que mesmo hoje ainda é sinônimo de leilões online. A alta capacidade de inovação das empresas neste ponto encontra respaldo em Chetty e Stangl (2010), como um fator importante para a definição da velocidade dos movimentos internacionais da firma, especialmente para o eBay, que criou um novo mercado e se aproveitou dele para promover sua internacionalização. 93 O MercadoLibre se internacionalizou somente para empresas da América Latina e Península Ibérica, locais de menor distância psíquica, seja pela distância física, pelo idioma ou por ambos, o que encontra respaldo nas proposições de Johanson e Vahlne (1977), enquanto o eBay seguiu estas mesmas proposições em seus primeiros movimentos para países desenvolvidos anglo-saxões – mais especificamente Canadá, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Austrália e Nova Zelândia – e em seguida, partindo para países com distâncias psíquicas maiores, mas que representavam oportunidades de mercado, como China e Japão. No cruzamento entre os dois casos, com acriação de uma network internacional como o acordo internacional entre o MercadoLibre e o eBay, embora tenha provocado restrições ao crescimento de ambos, uma vez que limitou o primeiro ao mercado latinoamericano e o segundo a evitar este mercado, foi um importante fator para que a expansão internacional do MercadoLibre já efetuada não sofresse retração, como a que ocorreu no caso espanhol, o que corrobora a visão de Johanson e Mattis (1988). Por outro lado, este acordo possibilitou que o eBay mantivesse presença no mercado latinoamericano, sem que tivesse que despender energia neste, podendo focar em mercados mais desenvolvidos à época. O alto grau de padronização do seu negócio permitiu que a empresa se internacionalizasse com pouca necessidade de capital, com menor disponibilidade após o estouro da bolha da internet. Por último, a observação de ambos os casos estudados está em desacordo com a definição de Petersen e Tobiassen (2010) de que o sucesso em uma região específica age como um fator importante de sucesso em uma outra região. Como foi demonstrado na experiência espanhola – MercadoLibre – e Japão e China – eBay – o sucesso em uma região não é uma prerrogativa de sucesso em outra. No caso japonês, inclusive, a pouca adaptação ao mercado local foi um importante componente da empreitada do eBay. 94 5.5 FATORES INDIVIDUAIS DOS EMPREENDEDORES Os fatores específicos do empreendedor são bastante visíveis nas figuras de Marcos Galperín e Pierre Omydiar. Em acordo com Madsen e Servais (1997) que defendiam que a educação internacional do empreendedor era um importante fator na visão internacional da empresa, a estada de Galperín em Stanford (EUA), leva a um segundo ponto que é a utilização da network pessoal do empreendedor a fim de conseguir financiamento com o fundo Hicks, Muse, Tate andFirst para o desenvolvimento de um novo negócio e uma tecnologia única, conforme previstos por Petersen e Tobiassen (2010). Por sua vez, Pierre Omidyar, vivenciou o multiculturalismo dentro de casa, uma vez que nascera na França onde vivera até os seis anos até se mudar para os EUA, em uma família iraniana. No entanto, não conseguimos encontrar evidência de que as networks pessoais do empreendedor do eBay tenham sido exatamente relevantes para a criação do negócio, como no caso do MercadoLibre. Por já estar inserido no mercado norte-americano e pela velocidade em que fez sua abertura de capital, estas networks de financiamento podem ter sido menos relevantes. De outra forma, a vivência internacional de Galperín possibilitou a criação de uma network internacional em relação à Muse, o que para Johanson e Mattis (1988) é o próprio movimento de internacionalização. Outro ponto que corrobora os autores acima é a participação de empreendedores de outras nacionalidades, como Ademar Larine na criação da empresa, o que pode ser visto como uma forma de a empresa adquirir o conhecimento sobre o mercado, outra forma de burlar a lentidão e a gradualidade previstas por Johansson e Vahlne (1977). Já Pierre Omidyar, se utilizou de joint-ventures para criar suas networks internacionais. Como vimos no caso, a maior parte dos seus movimentos internacionais resultou da compra e/ou parceria com empreendedores locais. Embora Omidyar tenha dado ao eBay a trilha de ser uma “Early Starter” e em seguida uma “LonelyInternational” segundo os conceitos de Johanson e Mattis (1988), o uso extensivo de parcerias e joint-ventures poderia sugerir, segundo os 95 mesmos autores, um comportamento de “Late Starter”, o que não foi o caso da empresa. No entanto, a nomenclatura dos autores não foi particularmente útil, uma vez que o caso das empresas se tratava de uma indústria totalmente nova com grande mercado para expansão tanto dentro dos países como no exterior e com ainda poucas empresas atuando. Galperín e Omidyar ainda se enquadram em dois dos principais fatores determinantes da velocidade de internacionalização previstos por Oviatt e McDougall (2005): mediação e moderação. A força de mediação fica bastante clara nas declarações de Galperín, que demonstram a percepção do empreendedor de que a expansão inicial para a América Latina permitiria a empresa aproveitar uma oportunidade não vislumbrada por sua maior ameaça e benchmark: o eBay. Omidyar, por sua vez, tinha a preocupação com mercados que cresciam fora dos EUA, o que pode ser exemplificado por sua declaração acerca da relevância do mercado alemão. A força de moderação no caso de Galperín é mais latente na face que trata das características das redes de relacionamento do empreendedor, descritas acima, mas também age no conhecimento disponível acerca do movimento de internacionalização através da maior visão internacional do empreendedor e da utilização de sócios dos países-destino da expansão, conforme demonstrado tanto neste item quanto nos fatores específicos da empresa. No caso de Omidyar, a força de moderação se deu a partir da contratação de profissionais de negócios (curiosamente do MBA de Stanford, o mesmo curso que fazia qGalperín) e da já citada anteriormente política de aquisições e parcerias do eBay em seus movimentos internacionais. 96 QUADRO 5 – COMPARATIVO ENTRE AS DIFERENTES DIMENSÕES DE ANÁLISE E AS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS UTILIZADAS Dimensão De Análise MercadoLibre eBay Tendências Globais Crescimento dos Mercados de Nicho, Avanços nas telecomunicações e logística, surgimento da internet comercial possibilita maior facilidade de criação de Networks Fatores Ambientais Dos Mercado Países Argentino bastante reduzido (600.000 usuários de internet), porém em crescimento. Mercado norteamericano desenvolvido (20 milhões de usuários de internet) com alto Estabilidade econômica recente e grande número de startups de internet. potencial de crescimento. Crescimento econômico em alta. Fatores Ambientais Da Grande importância das de first-mover, Grande importância das vantagens de first-mover, Criador Presença de uma massa de concorrentes, como o DeRemate.com. Abundância de capital de risco para investimentos. do mercado de marketplaces, o maior concorrente é o Yahoo! Auctions, que mesmo assim ameaça apenas em alguns mercados externos. Fatores Específicos Das Internacionalização para países Internacionalização para países da América Latina e Península Ibérica. Modelo de investimentos greenfield nos países de maior importância estratégica na reunião e operação remota nos demais. Primeiro movimento de da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Operação remota em poucos mercados e compra ou parceria com líderes de mercados nos demais. Primeiro movimento de internacionalização após 2 meses de operação. Pequena escala, mas investimentos em tecnologia e maior racionalidade nos investimentos em publicidade. As atividades internacionais representam mais da metade da receita da empresa. internacionalização após 2 anos. Larga escala atingida rapidamente como ativo único. Após 5 anos de internacionalização a receita das operações internacionais representava 20% da receita total da empresa. Indústria Empresas vantagens Fatores Individuais Dos Empreendedor com educação Empreendedor Empreendedores internacional. Utilização da network pessoal de Galperín para obtenção de Participação financiamento. decisiva do empreendedor na área de negócios e estratégia de internacionalização da empresa. com vivência internacional familiar. Desenvolvimento do produto como um hobby. Decisão de internacionalização apenas a partir da profissionalização da empresa. 97 O Quadro 4 sintetiza as principais diferenças encontradas na análise do caso e mostra que, apesar de apresentarem trajetórias parecidas, as duas empresas demonstravam grande diferença, especialmente nos fatores ambientais dos países – pelas diferenças no tamanho das economias e no desenvolvimento da internet entre Argentina e Estados Unidos – e nos fatores individuais dos empreendedores – Enquanto Galperín era visivelmente um homem de negócios, Omidyar iniciou o eBay muito mais como um profissional de produto. . O Quadro 5 apresenta um resumo das relações entre as abordagens comportamentais de internacionalização de empresas e os casos analisados neste capítulo, apresentando uma visão geral das concordâncias e discordâncias em relação às teorias estudadas. Como pode-se ver, todas as abordagens comportamentais obtiveram pontos de acordo e de desacordo com os casos escolhidos. 98 QUADRO 4 – QUADRO-RESUMO DA RELAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS E OS CASOS ESTUDADOS. MercadoLibre eBay Principais Características Apresentou? Detalhes Modelo de Uppsala Internacionalização Estágios (Aumento Comprometimento). em de O Mecanismo básico de internacionalização resulta da relação entre aspectos de estado e mudança. Empresas se internacionalizam inicialmente para destinos de baixa distância psíquica Perspectiva Networks Em parte Na maior parte dos primeiros processos de internacionalização não se observou a utilização de estágios, uma vez que se partiu para modelos de alto comprometimento. No entanto em casos como o uruguaio, a empresa operou em um modelo de baixo comprometimento (operação remota) antes de abrir um escritório no local. Não A empresa apresentou movimentos de grande comprometimento (por exemplo, os casos brasileiro e mexicano), onde não apresentava nenhuma atividade e sendo assim não detinha um grande conhecimento das operações. Sim O MercadoLibre buscou sua internacionalização por países com baixa distância física em relação à sua sede (países latinoamericanos), ou com baixa distância cultural (Espanha e Portugal). Em parte No caso MercadoLibre, nos movimentos de internacionalização de maior comprometimento com a abertura de escritórios no exterior, contratando profissionais dos países e sendo assim desenvolvendo relacionamentos. No caso dos países com modelo de operação remota, o único relacionamento que existia era o dos anunciantes e compradores no site, mas de forma passiva em relação à empresa MercadoLibre. das Internacionalização é o processo de criação de novos relacionamentos no exterior. Apresentou? Detalhes Em parte Não Sim Sim Embora em seus primeiros movimentos de internacionalização, o eBay tenha buscado modos de entrada de menor comprometimento, nos movimentos seguintes a empresa já se utilizou de modos de entrada de maior comprometimento, especialmente através de aquisições e joint ventures Foram observados movimentos de grande comprometimento mesmo em mercados sem atuação anterior e sendo assim com pouco conhecimento. Os primeiros destinos de internacionalização do eBay foram os países de língua inglesa (Canadá, Reino Unido) e posteriormente os de língua alemã (Alemanha e Áustria). A maior parte dos movimentos de internacionalização do eBay foi através de aquisições e joint ventures, como no caso do Alando.de (Alemanha) e do próprio MercadoLibre (América do Sul). 99 Grau de Internacionalização da Empresa e do Mercado influenciam o processo de internacionalização de empresas. O Sucesso de uma empresa em uma região age de forma positiva em relação ao sucesso desta mesma empresa em outra região. Quantidade e propensão à utilização de parcerias impactam na velocidade do processo de internacionalização Empreendedorismo Internacional Organizações que desde o seu nascimento buscam obter vantagens em múltiplos países. O empreendedor é importante agente processo internacionalização empresas um no de de Além do empreendedor, as condições do mercado são determinantes no processo de internacionalização de empresas. Não Não Não se obteve evidências durante o estudo de caso que o grau de internacionalização do mercado tenha influenciado o processo de internacionalização. A empresa se enquadraria como Early Starter pelo baixo grau de internacionalização do mercado de internet, no entanto, apresentou características diversas desta classificação, como a menor cautela no seu processo de internacionalização. O fracasso da expansão para a Espanha apesar do bom desempenho da empresa na América do Sul está em desacordo com esta característica da Perspectiva das Networks. Sim Foi observado que Networks internacionais tiveram influência na velocidade de internacionalização do MercadoLibre através de financiadores externos e da contratação de profissionais do destino de internacionalização. Sim O prazo de dois meses entre a concepção da empresa e seu primeiro momento de internacionalização demonstra que a empresa desde o seu nascimento já demonstrava a visão de obter vantagens em outros países. Sim Sim A figura de Marcos Galperín é central no processo de internacionalização de empresas do MercadoLibre o que corrobora a visão do Empreendedorismo Internacional. O aspecto de corrida do ouro das empresas de internet na América Latina foi um importante motivador para o MercadoLibre. Não Não se pode afirmar que o grau de internacionalização do mercado tenha influenciado os movimentos internacionais do eBay, até porque a indústria de empresas de internet em 1998 ainda era muito incipiente e com um grande mercado local a ser desbravado. Apesar disso a empresa apresentou comportamentos de uma Early Starter em um primeiro momento e uma Lonely International no momento posterior. Não Apesar do sucesso do eBay nos mercados norteamericano e europeu, a empresa colheu fracassos em dois grandes mercados asiáticos (China e Japão), justamente por problemas de adaptação do seu modelo de negócio àquelas regiões. Sim A grande quantidade de joint ventures e aquisições da empresa reforçam a influência de associações externas nos movimentos internacionais Não O eBay em seu nascimento estava muito mais focado para o crescimento no mercado norteamericano, apenas após a profissionalização da gestão começaram a ocorrer os movimentos de internacionalização da empresa. Em parte A atuação de Omidyar teve relevância na criação da empresa. No entanto, apenas a contratação de gestores profissionais pelo empreendedor é que pode se afirmar que a empresa constituiu sua estratégia de internacionalização. Sim Assim como no MercadoLibre, o aspecto de corrida do ouro também foi determinante para o eBay em sua estratégia de internacionalização. O que mudou, no caso da firma norte-americana foi a região de atuação, muito mais voltada para Europa e grandes mercados asiáticos. 100 A velocidade de internacionalização é determinada por quatro forças: viabilidade, motivação, mediação e moderação Born Globals Organizações que se internacionalizam poucos anos após a sua concepção. Grande relevância das atividades internacionais dentro do negócio. Empresas Born Globals podem apresentar modelos de entrada e baixo, médio e alto comprometimento Sim Das quatro forças, ficaram bastante claras a viabilidade, através do desenvolvimento tecnológico, a motivação, pela questão da corrida do ouro e a moderação através das redes de relacionamento do empreendedor. Sim O fato de o MercadoLibre ter se internacionalizado apenas dois meses após sua concepção é adequado à esta característica do fenômeno das Born Globals. Sim Rapidamente o faturamento da subsidiária brasileira se tornou a maior fonte de receitas da empresa, atendendo à grande relevância prevista para que a empresa seja considerada uma Born Global. Sim No caso MercadoLibre a empresa apresentou modelos de baixo e alto comprometimento, nos casos de operação remota e subsidiária respectivamente. Sim Sim Entre as quatro forças, pôde se perceber a viabilidade, através da evolução da tecnologia, a motivação, pela questão da corrida do ouro nos mercados em crescimento e a moderação através de movimentos de aquisição e joint ventures. O eBay iniciou sua internacionalização menos de 3 anos após sua concepção com os movimentos para o Canadá e Reino Unido. Não O mercado local do eBay (EUA) demonstrou maior relevância sobre os mercados internacionais, que demoraram seis anos para atingir a marca de 26% de participação nas atividades da empresa. Sim O eBay apresentou modelos de operação remota (no caso do Canadá e mais recentemente em países do sudeste asiático), médio comprometimento (através de joint ventures, como no caso japonês) e grande comprometimento através das diversas aquisições feitas pela empresa. 101 6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES A pesquisa apresentada nesta dissertação buscou compreender o processo de internacionalização de empresas de comércio eletrônico da segunda metade da década de 1990 até o ano de 2012. A seguir serão apresentadas as conclusões retiradas a partir desta pesquisa e suas implicações gerenciais. Neste ponto, é importante relembrar, que, uma vez que a metodologia escolhida se tratou de um estudo de caso, essas não devem ser generalizadas para todo o universo de empresas. Por último, serão sugeridos novos estudos acerca da empresas de internet, pelos seus modos peculiares de operação e de lidar com questões internacionais, preenchendo lacunas observadas durante a produção desta pesquisa. 6.1. CONCLUSÃO Estudando os casos do MercadoLibre e eBay, à luz das teorias de internacionalização de empresas, foi perceptível que as diferentes abordagens comportamentais individualmente não são bem sucedidas ao explicar todo o processo de internacionalização das empresas. No entanto, a combinação destas abordagens apresentou alto potencial explicativo acerca dos movimentos internacionais das firmas estudadas. Em ambos os casos, a abordagem de Born Globals foi útil para o entendimentodas pré-condições definidas nas tendências globais, uma vez que as inovações tecnológicas, ocorridas nas décadas anteriores ao período estudado, especialmente nas áreas de tecnologia da informação, logística e distribuição, foram essenciais para que os fenômenos observados pudessem ter ocorrido. De forma similar também foi utilizado o conceito de fatores de viabilidade do empreendedorismo internacional, para adicionar às pré-condições sugeridas por Rennie (1993) no estudo seminal sobre as Born Globals, os conceitos de Networks, especialmente no aumento da relevância destas no 102 período estudado no caso, com a explosão de usuários de internet em todo o Mundo. Ainda a respeito das tendências globais, pôde se perceber também que o panorama econômico mundial teve forte influência sobre o processo de internacionalização e solidificação do MercadoLibre, à época do estouro da bolha da internet, tendo pouca influência sobre o eBay, já uma empresa de maior porte em março de 2000. A respeito dos movimentos de internacionalização das firmas, foi observado que em ambos os casos, as empresas apresentaram comportamentos dúbios, se levarmos em conta apenas uma abordagem comportamental. No caso do eBay, os processos de internacionalização para a Alemanha, França e Reino Unido apresentaram características alinhadas com a perspectiva de Born Globals, como o curto período entre a criação da empresa e o movimento internacional, a escolha de modos de maior comprometimento de forma imediata, além da relevância imediata destes negócios na estratégia da empresa. O mesmo pôde ser observado no MercadoLibre e sua internacionalização para Brasil e México, inclusive com maior intensidade, uma vez que o período entre a concepção da empresa e o começo das operações internacionais foi de menos de um ano e as operações estrangeiras da empresa já desde o princípio responderam por maior parte de suas visitas e faturamento. No entanto, em outros movimentos destas duas empresas, no caso do eBay no Canadá e Áustria e no caso do MercadoLibre, no Uruguai, Peru e países da América Central, ficou clara a opção por modos de entrada de menor comprometimento, como a operação remota.Em alguns destes países, com o crescimento do produto, verificou-se a opção por modelos de maior comprometimento, nos casos do Canadá (eBay) e Uruguai (MercadoLibre), onde um período após o início de suas atividades via operação remota, foram inaugurados escritórios locais. Estes movimentos citados estão alinhados com o Modelo de Uppsala. 103 O que diferenciou os dois grupos (os de modos de internacionalização de alto e baixo comprometimento) foi a importância estratégica entre eles, a citação dos empreendedores acerca de Alemanha e Brasil explicitam esta visão. A questão de efeito manada e vantagem de first-mover representaram questões centrais na estratégia das empresas citadas, em linha com as afirmações de Forsgren e Hagstron (2007). A partir das conclusões citadas, pode ser inferido o seguinte modelo acerca das duas empresas estudadas, conforme indicado na Figura 16. FIGURA 16 – MODELO DE DEFINIÇÃO DE MODOS DE ENTRADA DO EBAY E MERCADOLIBRE Apesar de ser verificada a ocorrência de registros sobre a exportação, mais notadamente no Modelo de Uppsala e na abordagem de Born Globals, a inexistência de um produto específico a ser vendido e entregue para o cliente, torna as características deste modelo de operação internacional únicas. O empreendedorismo internacional e a abordagem de networks foram especialmente úteis para a importância da figura do empreendedor nos casos fosse melhor compreendida. O Multiculturalismo e a busca por criação de Networks de Galperín e Omidyar exerceram forte influência na vocação global das empresas. As forças de mediação e moderação também estiveram presentes no caso, sobretudo no entendimento sobre a importância estratégica de cada país e sendo assim, na definição do modo de entrada, como vimos no modelo citado anteriormente. No Quadro 6, pode-se observar uma síntese de 104 como as diversas abordagens comportamentais interagiram para uma melhor explicação dos fenômenos observados nos dois casos estudados. QUADRO 6 – COMPARATIVO ENTRE AS DIFERENTES DIMENSÕES DE ANÁLISE E AS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS UTILIZADAS Dimensão De Análise Autores citados Abordagens Utilizadas Tendências Globais Cuningham (1985), Born Globals Rennie (1993), Networks Oviatt e McDougall (2005). Empreendedorismo Internacional Fatores Ambientais Dos Johanson e Mattson (1988), Knight e Cavusgil (1996), Países Born Globals Networks Madsen e Servais(1997), Zuchella (2002), Dib (2008). Fatores Ambientais Da Oviatt e McDougall (1994), Oviatt e McDougall (2005), Indústria Empreendedorismo Internacional Modelo de Uppsala Forsgren e Hagstron (2007). Fatores Específicos Das Johanson e Wiedersheim-Paul Empresas Modelo de Upalla (1975), Born Globals Johanson e Vahlne (1977), Empreendedorismo Internacional Johanson e Mattis (1988), Networks Oviatt e McDougall (1994), Knight e Cavusgil (1996), Johanson e Vahlne (2009), Chetty e Stangl (2010). Fatores Individuais Dos Johanson e Mattis (1988), Empreendedores Born Globals Madsen e Servais (1997), Empreendedorismo Internacional Oviatt e McDougall (2005), Networks Petersen e Tobiassen (2010). Sendo assim, pode-se concluir que, embora operando em mercados completamente diferentes, e com porte e faturamento bastante desiguais, é possível traçar um paralelo e encontrar semelhanças nos processos de internacionalização do eBay e MercadoLibre, especialmente no que tocam a escolha dos modelos de entrada e a importância dada às vantagens de firstmover, e na importância do empreendedor como definidor da estratégia e visão internacional das firmas. 105 6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS A presente pesquisa não teve por intenção esgotar a explicação do processo de internacionalização das empresas de internet, entendendo que ainda existe um grande campo para estudo dentro do campo das abordagens comportamentais da internacionalização de empresas. Portanto, por se tratar de um estudo de caso, não podemos extrapolar as conclusões aqui sugeridas para todo o universo de empresas. Uma primeira sugestão de pesquisa seria a realização desta mesma pesquisa em empresas de internet nascidas nos últimos cinco anos, período de maior consolidação da internet, para entender as mudanças no comportamento das firmas atuais frente àquelas do fim da década de 1990. Em seguida, sugiro um estudo mais aprofundado sobre o modo de operação remota de empresas de internet, que prestam o serviço desejado sem que estejam presentes no país onde este serviço é consumido, especialmente utilizando a abordagem das teorias de internacionalização de empresas. Ainda nesta linha, buscar mercados que tenham características de expansão acelerada mais recentemente (o mercado de compras coletivas, por exemplo) e compreender se as características observadas nesta pesquisa se confirmam em outro mercado de crescimento acelerado. A seguir, proponho que seja feita uma pesquisa utilizando duas empresas totalmente independentes, uma vez que a associação dos dois casos estudados - primeiro sendo o eBay um benchmark para o MercadoLibre, e em seguida com a participação da primeira empresa nas ações da segunda – pode ter provocado um viés de unidirecional nos processos de internacionalização destas. Por último, sugiro que seja desenvolvido um estudo de maior amplitude e natureza quantitativa a fim de entender se o modelo proposto de fato tem 106 aderência para um número maior de empresas, seja no mercado de internet ou não. 107 7. BIBLIOGRAFIA ANDERSEN, O. On the Internationalization process of firms: a Critical Analysis. Journal of International Business Studies, v. 24, n. 2, p. 209-231, 1993. ANDERSSON, S.; WICTOR, I. Innovative internationalization in new firms: Born Globals – the Swedish case. Journal of International Entrepreneurship, p. 249-276, 2003. AUTIO, E. Creative tension: the significance of Ben Oviatt's and Patricia McDougall's article 'toward a theory of international new ventures'. Journal of International Business Studies , v. 36, p. 9-19, Jan 2005. BARRETTO, A.; ROCHA, A. D. A expansão das fronteiras: brasileiros no exterior. In: ROCHA, Â. D. [. ]. As Novas Fronteiras: a multinacionalização das empresas brasileiras. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. p. 29-76. CAMPOMAR, M. C. Do uso de "Estudo de Caso" em Pesquisas para Dissertações e Teses em Administração. Revista de Administração (USP), São Paulo, v. 26, p. 95-97, 1991. CARNEIRO, J.; ROCHA, A.; SILVA, J. F. Challenging the Uppsala Internationalization Model: a Contingent Approach to the Internationalization of Services. BAR, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 85-103, Abr/Jun 2008. CHETTY, S. K.; STANGL, L. M. Internationalization and innovation in a network relationship context. European Journal of Marketing, v. 44, n. 11/12, p. 1725 a 1743, 2010. CHETTY, S.; CAMPBELL-HUNT, C. A Strategic Approach to Internationalization: A Traditional Versus a “Born-Global” Approach. Journal of International Marketing, p. 57-81, 2004. 108 CRESWELL, J. W. Qualitative Inquiry and Research Design: choosing among five approaches. 2ª Edição. ed. [S.l.]: SAGE Publications, 2006. CUNNINGHAM, M. Interaction and Networks: a review of the evolution and development of the IMP group´s research activities from 1976-1985. 2nd Open International I.M.P Research Seminar on International Marketing. Uppsala: [s.n.]. 1985. DIB, L. A. O Processo de Internacionalização de Pequenas e Médias Empresas e o Fenômeno Born Global: Estudo Sobre o Setor de Software no Brasil. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2008. DIB, L. A.; ROCHA, A. D. Internacionalização Precoce versus Internacionalização Gradual: um Estudo sobre Born Globals na Indústria Brasileira de Software. XXXII Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, p. 1-16, 2008. DIB, L. A.; ROCHA, A. D.; SILVA, J. F. D. The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entreupreunership, 2010. ISSN DOI 10.1007/s10843-010-0044-z. DUNNING, J. H. Trade, Location of Economic Activity and the Multinational Enterprise: A Search for an Ecclectic approach. In: DUNNING, J. H. The Theory of Transnational Corporations. [S.l.]: Routledge, v. I, 1997. Cap. 9, p. 183-218. FROSGREN, M. The concept of learning in the Uppsala internationalization process model : a critical review. Företagsekonomiska institutionen. Uppsala, p. 27. 2001. FROSGREN, M.; HAGSTRÖM, P. Ignorant Internationalization ? The Uppsala Model and Internationalization Patterns for Internet-Related Firms. critical perspectives on international business, v. 3, n. 4, p. 291-305, 2007. 109 GABRIELSSON, M. et al. Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, n. 17, p. 385-401, 2008. GODOY, A. S. A Pesquisa Qualitativa e sua Utilização em Administração de Empresas. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 65-71, Jul/Ago 1995. GOODE, W.; HATT, P. K. Métodos em Pesquisa Social. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975. HADJIKHANI, A. A note on the criticisms against the internationalization process model. Working Paper, Department of Business Studies - Uppsala University, v. 2, 1997. HAGEN, J. M.; HENNART, J.-F. Foreign production: the weak link in tests of the internationalization process model. Working Paper, Department of Applied Economics and Management. Cornell University, Junho 2004. HYMER, S. The International Operations of National Firms: A Study of Direct Foreign Investments. Cambridge: MIT Press, 1960. IMP PROJECT GROUP. International Marketing and Purchasing of Industrial Goods: An Interaction Approach. Uppsala: JOHN WILEY & SONS, 1982. J.JOHANSON; VAHLNE, J. Knowledge Foreign and Increasing Market Commitments. Journal of International Business Studies, 1977. 23-32. J.JOHANSON; VAHLNE, J. The Uppsala internationalization process model revisited: From liability of foreignness to liability of outsidership. Journal of International Business Studies, 2009. 1411-1431. 110 JOHANSON, J.; WIEDERSHEIM-PAUL, F. The internationalization of the firm: Four Swedish cases”. Journal of Management Studies, v. 12, p. 305-322, 1975. KANTIS, H.; FEDERICO, J.; MARTÍNEZ, G. ¿”Born Globals” en Argentina?: El caso de las nuevas empesas exportadoras. Working Paper. [S.l.]: [s.n.]. 2004. KNIGHT, G. A. Emerging paradigm for international marketing: The Born Global firm. PhD thesis, Michigan State University. Michigan. 1997. KNIGHT, G.; CAVUSGIL, S. The Born Global Firm: a challenge to traditional internationalization theories. In: K., C. S. E. M. Export internationalizing research – enrichment and challenges (Advances in International Marketing). [S.l.]: JAI Press, v. 8, 1996. p. 11-26. LOZANO, S.; MORGAN, R. E.; ROBSON, M. The Born Global Phenomenon in Mexico: A Bright Start for Technology Intensive Start-Ups. Revista del Centro de Investigación. Universidad La Salle, v. 07, n. 028, p. 111-122, 2007. LUOSTARINEN, R.; GABRIELSSON, M. Globalization and Global Marketing Strategies of Born Globals in SMOPECs. Annual Conference of the European International Business Academy, Atenas, Dezembro 2002. MADSEN, T. K.; RASMUSSEN, E.; SERVAIS, P. Differences and similarities between born globals and other types of exporters. Advances in International Marketing, v. 10, p. 247-265, 2000. ISSN 0-7623-0669-6. MADSEN, T. K.; SERVAIS, P. The internationalization of born globals: an evolutionary process? International Business Review, Amsterdam, v. 6, n. 6, p. 561-583, 1997. 111 MELÉN, S.; NORDMAN, E. The internationalisation modes of Born Globals: A longitudinal study. European Management Journal, v. 27, n. 4, p. 243-254, 2009. MELLO, R. C. D. O Processo de Internacionalização de Empresas Brasileiras de Software: Reconciliando Correntes Teóricas. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia. Rio de Janeiro, p. 275. 2009. MOEN, O. The Born Globals: A new generation of small European exporters. International Marketing Review, v. 19, n. 2, p. 156-175, 2002. MOEN, O.; SERVAIS, P. Born Gradual or Gradual Global? Examining the Export Behavior of Small and Medium-Sized Enterprises. Journal of International Marketing v.10, p. 49-72, 2002. OVIATT, B.; MCDOUGALL, P. P. Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, Washington, v. 25, n. 1, p. 45-65, First Quarter 1994. OVIATT, B.; MCDOUGALL, P. P. A framework for understanding accelerated international entrepreneurship. In: RUGMAN, A. M. &. W. R. W. Research in Global Strategic Management: International Entrepreneurship. Stanford: JAI Press, 1999. p. 23-40. OVIATT, B.; MCDOUGALL, P. P. Defining International Entrepreneurship and Modeling the Speed of Internationalization. Entrepreneurship Theory & Practice, p. 537-554, Set. 2005. PETTERSEN, I. B.; TOBIASSEN, A. E. Internationalization processes of technology oriented SMEs: the role of regional, national and global networks. CiMAR 2010 - Consortium for International Marketing Research. Oslo: [s.n.]. 2010. p. 1-31. 112 RENNIE, M. W. Born global A new breed of Australian firm shows that it is possible to succeed in world markets without an established domestic base. McKinsey Quarterly, v. Issue 4, p. 45-52, 1993. RIALP-CRIADO, A.; RIALP-CRIADO, J.; KNIGHT, G. A. The Phenomenon Of International New Ventures, Global Start-Ups, And Born-Globals: What Do We Know After A Decade (1993-2002) Of Exhaustive Scientific Inquiry? Documento de Trabalho. Barcelona: [s.n.]. 2002. RUKSTAD, M.; COLLIS, D. DeRemate.com: Building a Latin American Internet Auction Site. Harvard Business School, 24 fev. 2002. 26. SELITZ, C. et al. Métodos de Pesquisa nas Relações Sociais. 5ª Reimpressão. ed. São Paulo: Ed. da Universidade de Sâo Paulo, 1975. SNOW; C., C.; THOMAS, J. B. Field Research Methods in Strategic Management: Contributions to Theory Building and Testing. The Pennsylvania State University Journal of Management Studies, Julho 1994. SUI, S. Empirical Investigation of the Foreign Market Expansion and Survival of Canadian Exporters, Phd Thesis. Ryerson University. Toronto. 2010. TURNBULL, P.; FORD, D.; CUNNINGHAM, M. Interaction, relationships and networks in business markets: an evolving perspective. Journal of Business & Industrial Marketing, v. 3/4, n. 11, p. 44-62, 1996. VERNON, R. International Investments and International Trade in The Product Cycle. Quaterly Journal of Economics, v. 80, n. 2, 1966. 113 WICKRAMASEKERA, R.; BAMBERRY, G. Exploration of Born Globals/ International New Ventures: Some Evidence from the Australian Wine Industry. Australasian Journal of Regional Studies, v. 9, n. 2, 2003. YIN, R. K. Case Study Research. [S.l.]: California: Sage Publications, 1988. ZUCHELLA, A. Born global versus gradually internationalizing firms: an analysis based on the Italian case. 28th EUROPEAN INTERNATIONAL BUSINESS ACADEMY CONFERENCE. Athens: EIBA. 2002. 8. BIBLIOGRAFIA DOS CASOS A Look at eBay CEO and President Meg Whitman. Intérpretes: NBC NEWS. [S.l.]: [s.n.]. 2000. ACADEMY OF ACHIEVEMENT. Pierre Omidyar Interview. Academy of Achievment, 2000. Disponivel em: <http://www.achievement.com/autodoc/page/omi0int-1>. Acesso em: 02 abr. 2012. AMAZON.COM. Amazon.com Annual Report. Amazon.com. Seattle, p. 1-88. 2012. BBC. EBay pulls out of Japan. BBC News, 2002. Disponivel em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/1844458.stm>. Acesso em: 10 jun. 2012. BBC. eBay buys Indian auction site. BBC, 2004. Disponivel em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/3832405.stm>. Acesso em: 25 abr. 2012. BELL, J.; MCNAUGHTON, R.; YOUNG, S. ‘Born-again global’ firms An extension to the ‘born global’ phenomenon. Journal of International Management, n. 7, p. 173-189, 2001. 114 BILLPOINT failure a lesson for eBay? CNet News, 2002. Disponivel em: <http://news.cnet.com/2100-1017-942231.html>. Acesso em: 10 jun. 2012. BLOOMBERG. Rakuten Weighs Europe Deals To Challenge EBay With Japan Recipe. Bloomberg, 2011. Disponivel em: <http://www.bloomberg.com/news/2011-04-26/rakuten-weighs-europe-deals-tochallenge-ebay-with-japan-recipe.html>. Acesso em: 10 jun. 2012. BUSINESSWEEK. eBay Steams into Europe (int'l edition). BusinessWeek Online, 2000. Disponivel em: <http://www.businessweek.com/2000/00_42/b3703183.htm>. Acesso em: 08 jun. 2012. BUSINESSWEEK. How Yahoo! Japan Beat eBay at Its Own Game. Bloomberg Businessweek, 2001. Disponivel em: <http://www.businessweek.com/magazine/content/01_23/b3735139.htm>. Acesso em: 10 jun. 2012. BUSINESSWEEK. EBay on the Prowl. Bloomberg BusinessWeek, 2008. Disponivel em: <http://www.businessweek.com/technology/content/mar2008/tc20080325_13764 0.htm>. Acesso em: 09 jun. 2012. CNET. eBay roars into public trading. CNET, 1998. Disponivel em: <http://news.cnet.com/eBay-roars-into-public-trading/2100-1001_3215908.html>. Acesso em: 02 abr. 2012. CNET. eBay, NEC team on Japanese auction site. CNET, 2000. Disponivel em: <http://news.cnet.com/eBay,-NEC-team-on-Japanese-auction-site/2100-1017_3237037.html>. Acesso em: 10 jun. 2012. CNET. Pets.com latest high-profile dot-com disaster. CNET, 2000. Disponivel em: <http://news.cnet.com/2100-1017-248230.html>. Acesso em: 17 jun. 2012. 115 CNET. The greatest defunct Web sites and dotcom disasters. CNET.co.uk, 2008. Disponivel em: <http://web.archive.org/web/20080607211851/http://crave.cnet.co.uk/0,39029477 ,49296926-8,00.htm>. Acesso em: 11 dez. 2010. CNN. eBay wins German bid. CNN, 1999. Disponivel em: <http://money.cnn.com/1999/06/22/technology/ebay/>. Acesso em: 05 abr. 2012. CNN. eBay buys PayPal for $1.5 billion. CNN.com Europe, 2002. Disponivel em: <http://archives.cnn.com/2002/BUSINESS/07/08/ebay.paypal/>. Acesso em: 10 jun. 2012. COMPUTERWORLD. MercadoLivre associa-se ao eBay na América Latina. ComputerWorld, 2001. Disponivel em: <http://computerworld.uol.com.br/negocios/2001/10/01/idgnoticia.2006-0515.5483789914/>. Acesso em: 10 jun. 2002. COMPUTERWORLD. International Market da eBay Disponível em Português. Computer World, 2010. Disponivel em: <http://www.computerworld.com.pt/2010/11/11/internacional-market-da-ebaydisponivel-em-portugues/>. Acesso em: 05 maio 2012. EBAY. FORM 10-K. eBay. Seattle, p. 1-79. 1999. EBAY. FORM 10-K. eBay. Seattle, p. 1-101. 2002. EBAY. eBay Acquires Sweden's Tradera.com. eBay, 2006. Disponivel em: <http://investor.ebay.com/ReleaseDetail.cfm?releaseid=193649>. Acesso em: 05 maio 2012. EBAY. eBay Annual Report. eBay. Seattle, p. 1-123. 2006. 116 EBAY. eBay Acquires Leading Classifieds Sites in Denmark. eBay, 2008. Disponivel em: <http://investor.ebay.com/releasedetail.cfm?releaseid=338504>. Acesso em: 04 maio 2012. EBAY. eBay Annual Report. eBay. Seattle, p. 1-124. 2009. EBAY. History. eBay, 2010. Disponivel em: <http://www.ebayinc.com/history>. Acesso em: 08 dez. 2010. EBAY. eBay Annual Report. eBay. Seattle, p. 1-140. 2011. EBAY. Unaudited Summary of Consolidated Net Revenues by Type. eBay. Seattle, p. 1-2. 2012. EBIT E IBOPE E-RATINGS. Relatório WebShoppers 2.0. São Paulo. 2001. EBIT E IBOPE E-RATINGS. Relatório WebShoppers 6.0. São Paulo. 2002. E-COMMERCE TIMES. EBay Makes Bid for Chinese Market Power. Ecommerce Tmes, 2002. Disponivel em: <http://www.ecommercetimes.com/story/16506.html?wlc=1284883378>. Acesso em: 10 jun. 2012. ELLIOTT, L. E. Born global in Africa - Traditional wisdom tells companies to gradually enter international markets, but a new breed of company goes global out the gate. Brinstorm, 2010. Disponivel em: <http://217.26.211.140/index.php?option=com_content&view=article&id=4093>. Acesso em: 19 jan. 2011. ESTADO DE SÃO PAULO. O que restou da bolha da internet. Estadao.com.br, 2010. Disponivel em: 117 <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100308/not_imp520978,0.php>. Acesso em: 11 dez. 2010. EXAME.COM. Choque de Realidade na Internet. EXAME.com, 2000. Disponivel em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0719/noticias/choque-de- realidade-na-internet-m0053409>. Acesso em: 8 dez. 2010. FINANCIAL TIMES. Internet Euphoria in Argentina. Financial Times, Survey FT-IT, 2000. FOLHA DE SÃO PAULO. Especial Folha de São Paulo - Crise Argentina. Folha.com, 2001. Disponivel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/inde21122001.htm>. Acesso em: 6 dez. 2010. FORBES. EBay Collects Taiwan Site. Forbes.com, 2002. Disponivel em: <http://www.forbes.com/2002/03/01/0228ebay.html>. Acesso em: 10 jun. 2012. FORBES. How EBay Failed In China. Forbes.com, 2010. Disponivel em: <http://www.forbes.com/sites/china/2010/09/12/how-ebay-failed-in-china/>. Acesso em: 10 jun. 2012. GAZETA MERCANTIL. MERCADOLIVRE.COM: Investimento no Brasil deve atingir US$ 10 mi. Investimentos e Notícias, 1999. Disponivel em: <http://indexet.investimentosenoticias.com.br/arquivo/1999/10/19/218/MERCAD OLIVRE-COM-Investimento-no-Brasil-deve-atingir-US-10-mi.html>. Acesso em: 08 dez. 2010. INFO.COM.BR. Disponivel MercadoLivre em: compra Arremate.com. Info.com.br, 2005. <http://info.abril.com.br/aberto/infonews/112005/11112005- 5.shl>. Acesso em: 11 dez. 2010. 118 INFO.COM.BR. MercadoLivre estreia operação em Portugal. Info.com.br, 2010. Disponivel em: <http://info.abril.com.br/noticias/mercado/mercadolivre-chega-aportugal-24032010-22.shl>. Acesso em: 11 dez. 2010. INTERNET WORLD STATS. Internet World Stats. Internet World Stats, 2012. Disponivel em: <http://www.internetworldstats.com/stats.htm>. Acesso em: 2012 jun. 17. ISTO É DINHEIRO. Ebay bate o martelo. Isto é Dinheiro, 2001. Disponivel em: <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/12425_EBAY+BATE+O+MARTELO>. Acesso em: 10 jun. 2012. JP MORGAN. Nothing But Net: 2011 Internet Investment Guide. JP Morgan. [S.l.], p. 1-416. 2011. M&M ONLINE. M&M online, 1999. Disponivel em: <http://www.mmonline.com.br/noticias.mm?url=Mercado_livre_lanca_site_de_co mpra_e_venda_no_Brasil>. Acesso em: 8 dez. 2010. MARCUM, E. Argentina-punto-com: An Analysis of the Development of the Dot-com Sector in Argentina. The Lauder Institute - University of Pennsylvania. Pennsylvania, EUA, p. 60. 2001. MERCADOLIBRE. Form 10-K. MercadoLibre. Buenos Aires, p. 1-66. 2008. MERCADOLIBRE. MercadoLibre, Inc. Reports Financial Results for Fourth Quarter and Full Year 2010. MercadoLibre, 2011. Disponivel <http://investor.mercadolibre.com/releasedetail.cfm?ReleaseID=552187>. Acesso em: 17 jun. 2012. MERCADOLIBRE. FORM 10-K. MercadoLibre. Buenos Aires, p. 1-80. 2012. em: 119 MERCADOLIBRE. MercadoLibre, Inc. Reports Financial Results for Fourth Quarter and Full Year 2011. MercadoLibre, 2012. Disponivel em: <http://investor.mercadolibre.com/releasedetail.cfm?ReleaseID=651168>. Acesso em: 17 jun. 2012. MITRA, S. eBay of Latin America: MercadoLibre CEO Marcos Galperin. Sramana Mitra, 2007. Disponivel em: <http://www.sramanamitra.com/2007/12/10/ebay-of-latin-america-mercado-libreceo-marcos-galperin-part-3>. Acesso em: 24 nov. 2010. MORGAN STANLEY. The Latin America Internet Report. [S.l.]. 2000. PAYPAL. Q1 2012 Fast Facts. PayPal. San Jose, p. 1. 2012. PRAGUE POST. eBay launches Czech domain. Prague Post, 2010. Disponivel em: <http://www.praguepost.com/business/3760-ebay-launches-czech- domain.html>. Acesso em: 05 maio 2012. RTE. eBay launches Irish site. RTE, 2005. Disponivel em: <http://www.rte.ie/news/2005/0613/ebay.html>. Acesso em: 01 maio 2012. SUNDAY MORNING HERALD. eBay launches Philippine operations. Sunday Morning Herald, 2004. Disponivel em: <http://www.smh.com.au/news/Breaking/eBay-launches-Philippineoperations/2004/11/18/1100718132360.html>. Acesso em: 05 maio 2012. TEHAN, R. E-Commerce Statistics: Explanation and Sources. Congressional Research Service The Library of Congress. Washington D.C., p. 1-9. 2002. THE NEW YORK TIMES. EBay Fights India Arrest Over Sale of Sex Video. The New York Times, 2004. Disponivel em: 120 <http://www.nytimes.com/2004/12/21/technology/21ebay.html?_r=1>. Acesso em: 02 maio 2012. VEJA. Fiqueirico.com.br - Com boas idéias e dinheiro dos investidores de risco, a internet brasileira copia o modelo americano e produz seus milionários. Veja on-Line, 2000. Disponivel em: <http://veja.abril.com.br/230200/p_112.html>. Acesso em: 06 dez. 2010.