FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS
O Acompanhamento Terapêutico Individual e
Grupal como dispositivo: deslocamento de circuitos.
André Y. C. Silvério, Carlos A. C. da Rocha, Carolina A. C. Pimentel, Conrado do M. C. M.
Pereire, Felipe P. Caseri, Francis V. P. Virginio, Higor N. F. Filho, Humberto de C. Leal,
Leanndru G. P. R. Sussmann, Livia de F. Bello, Maria C. M. Meirelles, Pamela Ariadna Botelho
Ireno, Tayane S. Weinert, Thamiris F. Rosa, Thiago R. de Paula, Valquíria C. Camargo, Vanessa
N. Volpatti, Kauana B. A. Arrigo, Marília A. Muylaert.
O Acompanhamento Terapêutico (AT) é um Dispositivo Clínico que problematiza o campo social-existencial e sua relação de
transversalidade com a exterioridade dos corpos, seus impedimentos e potências. Os princípios que sustentam esta prática estão em
consonância com a Filosofia da Diferença e a Análise Institucional, além de produzir saberes singulares a este Dispositivo.
Consideramos o paradigma Ético-Estético-Político e os fazeres e modos que problematiza. Neste movimento, instalam-se processos,
muitos territórios existenciais são postos em movimento, abrindo-se um campo de produção de novos modos de existir, sempre
provisórios. Como efeito das diferenças produzidas nos encontros, temos a afirmação do traçado de outros contornos, modos e valores
na experiência do viver. A experimentação acompanhada de modo qualificado, singular e inventivo e, ao mesmo tempo, social,
coletivo, político. A intervenção do AT inscreve-se no campo vivencial do(s) terapeuta(s), do(s) cliente(s), da cidade, dos modos de
subjetivação, buscando desenhar uma intervenção singular, descaracterizando as angústias humanas como um (...) afazer psíquico
que deve ser eliminado, como uma normatização das sensibilidades, modos e costumes. O vetor social que captura, acelera, globaliza
e capitaliza os campos inventivos e de produção, visa controlar e capitalizar pensamentos e modos, vivências e aparências, políticas e
processos: as vivências sem nome, os afectos estranhos, a vontade incomum, os territórios auto-organizados e geridos, as hierarquias
transversais. Seu investimento neste controle e captura é maciço e se apresenta a cada vez que nos deparamos com inúmero
protocolos de controle social, com as etiquetas, super-especialistas. Então, a vivência aqui visa transversalizar sentidos, construindo elos
parciais de redes sociais, permitindo a travessia destes aparatos, também como parciais. A sensibilidade à demanda aqui é tomada
como um analisador e vetor de indicação de ações a partir da perspectiva que avalia também as demandas por diferenciação,
modulações produzidas a partir de encontros solidários, a afirmação de valores que sinalizam relações solidárias. O
Acompanhamento Terapêutico funcionando como dispositivo constitui-se em seus fazeres, no acompanhamento qualificado, na
realização de atividades cotidianas, dentro ou fora de casa: consultas médicas e psiquiátricas, internação, verificação da medicação,
cuidados pessoais e de higiene, alimentação, leitura de peças teatrais, atividades artísticas, tarefas domésticas, passeios e visitas,
acordos em bancos, aulas e cursos... espaços alternativos nas intervenções favoráveis ao investimento na expressão do desejo. A cada
momento tudo o que for material disponível torna-se dispositivo de Intervenção Clínica, numa multiplicidade de idéias e vivências
que provocam outros encontros e criam novas formas de relação. E dispositivo (no sentido deleuziano), numa invenção do novo
radial, (...) uma montagem de elementos extraordinariamente heterogêneos, que podem incluir “pedaços” sociais, naturais,
tecnológicos e até subjetivos. (...) se caracteriza pelo seu funcionamento, sempre simultâneo a sua formação e sempre a serviço da
produção, do desejo, da vida, do novo (Baremblitt, 2002:66). Nesta Clínica processual, a singularidade cartografa afetos nômades e
configura formas que possibilitem a potencialização de todos os envolvidos. Um trabalho que exige um desinvestimento de uma
clínica curativa e adaptativa, com um "setting" demarcado espacialmente e lugares determinados. Um trabalho, desde onde esteja
possibilitado, cada vez mais, o desenho de uma intervenção que se dê a partir das criações produzidas nos encontros, nas vivências
partilhadas do sem garantias. Clinica significando Cliname, um relacionar-se na busca de um desvio para a diferença, numa relação
de parceria onde se opera a disponibilidade para o encontro - constituinte de sua própria natureza. Tomando o paradigma éticoestético-político, investimos em produções singulares de modos de vida singulares, a partir da auto-análise e buscando a autogestão.
Neste sentido, atua em consonância com as diretrizes da Atenção Psicossocial prevista pelo SUS, ou seja, investe em processualidades
vitais que produzem, num mesmo movimento, lugares de subjetivação autogestiva - onde a produção de sentidos se dá de modo
rizomático - e transversal aos corpos, implicados num mesmo movimento. O AT toma a perspectiva de corpos de passagem, sem a
estetização da indiferença, em qualquer aspecto que possa ser produzida no campo social, que afasta o desejo dos corpos da
potência de produção de realidade que nos habita nos encontros.
Bibliografia:
MUYLAERT, M. A.: Intermezzo: mestiçagens nos encontros Clínicos (2000:15) - Tese de Doutorado – PUC/SP.
DELEUZE, Gilles - O que é um Dispositivo? - Tradução de Ruy de Souza Dias - com agradecimentos a Fernando Cazarini e Helio Rebello (revisão
técnica), a partir do texto: DELEUZE, Gilles. Qu'est-ce qu'un disposif? IN Michel Foucault philosophe. Rencontre internationale. Paris 9, 10, 11 janvier
1988. Paris, Seuil. 1989.
SANT’ANNA, D.B. – Corpos de passagem – Estação Liberdade – São Paulo/SP 2001
Avenida Dom Antônio, 2100 - CEP 19806-173 - Assis - SP – Brasil
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clínica escola e saúde coletiva: produzindo dispositivos de