A experiência portuguesa com a adopção do euro A experiência portuguesa com o euro 1) Desenvolvimentos económicos antes e após a adopção do euro 2) O Impacto da união monetária na economia portuguesa 3) O impacto da crise financeira internacional 1. Performance económica antes e após o euro Antes da adopção do euro - crescimento económico; - inflação baixa; - redução défices orçamentais; - aumento défices correntes Indicadores económicos (variações percentuais) PIB real Procura interna Consumo privado FBCF Exportações Importações (em % do PIB) saldo conta corrente Saldo orçamental Saldo estrutural Taxa de desemprego Taxa de inflação Depois da adopção do euro - baixo crescimento - défices orçamentais elevados - défice corrente elevado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 4.3 4.1 0.6 6.6 8.8 7.4 3.6 3.5 3.3 5.6 5.8 5.1 4.2 5.5 3.6 14.3 6.2 9.8 4.7 7.0 5.3 11.7 8.5 14.2 3.9 5.8 5.2 6.2 3.0 8.6 3.9 3.3 3.7 3.5 8.4 5.3 2.0 1.7 1.3 1.0 1.8 0.9 0.8 0.1 1.3 -3.5 1.4 -0.7 -0.8 -2.0 -0.2 -7.4 3.9 -0.9 1.5 2.5 2.5 0.2 4.0 6.7 0.9 1.5 1.9 -0.9 2.1 3.5 -3.5 -5.5 -4.2 -4.8 -5.9 -4.0 -2.4 -7.0 -3.2 -2.7 -8.5 -10.2 -2.7 -3.2 -2.9 -4.1 -9.9 -4.3 -5.4 -8.1 -4.2 -5.2 -6.1 -5.2 -5.1 -7.6 -5.4 -5.1 -9.5 -10.1 -6.1 -3.9 -5.5 -3.8 -9.9 -12.1 -2.6 -2.7 -3.2 -2.8 -9.4 -9.3 -8.1 -8.8 -8.6 -- 7.3 4.1 7.3 3.1 6.8 2.2 4.9 2.2 4.4 2.2 4.0 4.4 5.0 3.7 6.3 3.3 6.7 2.5 7.6 2.1 8.0 2.4 9.5 -0.9 10.4 1.4 3.9 2.8 1.4 0.8 1.9 -0.7 8.7 5.2 7.7 3.0 1.8 1.5 1.6 2.8 7.5 5.6 0.0 -2.7 0.9 -2.5 1.7 -0.8 -1.7 -11.1 -0.4 -11.6 2.1 -9.2 7.6 2.7 1.3 0.5 1.8 -5.0 9.0 5.0 O que explica estes desenvolvimentos? • Reformas e políticas de estabilização (desde adesão à CEE) e perspectivas de adopção do euro âncora para as expectativas Redução da inflação e das taxas de juro Nominal long term interest rates 8 12 10 8 Real short-term interest rates* Portugal France Germany 6 Portugal France 4 Germany 6 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 2 Source: EU Commission 2 0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 4 -2 Source: EU Commission; * Nominal interest rates minus inflation rate Maior acesso a financiamento contribuiu para o crescimento do crédito Household Debt 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % of disposable income 2005 2006 2007 2008 % of GDP Source: IMF • taxas de juro baixas & maior acesso a financiamento (liberalização financeira e maior concorrência entre bancos) crescimento do crédito Procura impulsionada pela condições de financiamento melhoria das • + Consumo: consumidores ajustaram-se à descida das taxas de juro; • + Investimento: reflectindo expectativas e condições de financiamento favoráveis; • + Emprego: dinamismo da actividade económica (contractos a prazo); • - Desemprego: 7% em 1995 to 4% em 2000; • + salários: reflectindo as condições do mercado de trabalho => => contribuindo também para o aumento da procura doméstica • + Convergência real: PIB em PPC: 57% da média da UE em 1986 e 75% em 1999 … acompanhada por desequilíbrios e políticas pouco restritivas • Défice orçamental: 5.5 % do PIB em 1995 - 2.7% em 1999. Efeito do dinamismo da actividade económica e da descida dos custos com o serviço da dívida: não reflecte um esforço de consolidação orçamental. • Défice conta corrente: 3% do PIB em 1995 -10% em 2000. Em parte consequência do processo de convergência (maior I, integração financeira e condições de financiamento). Outros factores: políticas expansionistas; aumentos salariais (acima de ganhos de produtividade), diferenciais de inflação persistentes face à área do euro, perda de competitividade. Abrandamento da actividade económica Inicio sec. XXI: Crescimento impulsionado pela procura insustentável quando a economia atinge o pleno emprego. Choques externos adversos (fraca procura externa, fraca procura externa e maior concorrência no comércio internacional) • • Em resultado: Consumo abranda – ajustamento dos consumidores a níveis elevados de endividamento Investimento reduz-se – redução da procura e lucros baixos Crescimento fraco a partir de 2001 – 2003 crescimento negativo. Fraco crescimento e continuação de défice externo • Défice corrente reflecte principalmente a redução das poupança 30 Diferencial poupança - investimento 25 20 15 10 5 0 Saldo corrente (%PIB) Taxa de poupança (% PIB) FBCF (% PIB) -5 -10 -15 Fonte: EU Commission Perda de competitividade… Unit Labour Costs (index: base 1995) 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 160 150 140 130 120 110 100 90 Portugal Greece Spain Euro area Source: IMF, Eurostat Labour Productivity 5 4 3 2 1 0 -1 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Source: IMF Portugal Greece Spain Euro area • Fraca produtividade substitui os aumentos salariais como principal causa para o aumento dos custos de trabalho por unidade produzida. … apreciação da taxa de câmbio real • Diferenciais de inflação persistentes • Apreciação do nominal do euro a partir de 2002 também contribuiu para a apreciação da TCRE. Taxas de inflação Exchange rates Portugal 5 area do euro 4 120 115 110 105 100 95 90 85 80 diferencial 3 2 1 0 -1 1996 1998 2000 -2 Fonte: Banco de Portugal, FMI 2002 2004 2006 2008 2010 Source: IMF REER NEER Poderiam políticas adequadas ter evitado os resultados? Conclusão: • • • • Fraco crescimento reverteu processo inicial de convergência. Inflação superior à da área do euro Perda de competitividade Deterioração da situação orçamental (2005 procedimento défice excessivo). De certo modo a situação reflecte: • Ajustamento de agentes económicos sobreendividados, no seguimento de crescimento da procura e expansão do crédito. • E o efeito de choques externos. Poderiam políticas adequadas ter evitado os resultados? No entanto: • Políticas orçamentais e de rendimentos menos expansionistas e reformas estruturais com vista a melhorar a produtividade e aumentar o produto potencial poderiam ter contribuído: Minimizar desequilíbrios domésticos e externos Proporcionar maior resistência face a choques externos . 2. O impacto da adopção do euro Ganhos: Perdas: • redução de custos e risco cambial relacinados com trocas comerciais •Política cambial • Maior credibilidade da política monetária •Autonomia da política monetária Como minimizar as perdas? Perdas minimizadas com a flexibilidade de salários e preços criação de outros mecanismos mobilidade do trabalho de ajustamento: flexibilidade política orçamental Reformas estruturais • A perda de autonomia da política monetária => necessidade de melhorar a flexibilidade de outros mecanismos de ajustamento. Reformas: 1980’s Início 90’s Liberalização dos movimentos de capitais Privatizações Melhoria dos instrumentos de gestão da política monetária Desde meados anos 90 Infra-estruturas: estradas e auto-estradas O que falta? Medidas para melhorar competitividade no mercado de bens e trabalho, eficiência na administração pública, educação, sistema de justiça O impacto da adopção do euro • As perspectivas de adopção do euro, a descida das taxas de juro (estímulo monetário), expectativas optimistas quanto à continuação convergência económica. isto explica o comportamento dos consumidores, das empresas, a expansão do crédito, (em parte) os desequilíbrios externos e (em parte) o abrandamento económico que se seguiu • … no entanto: • A adopção do euro não impediu que este estímulo monetário fosse compensado por maior consolidação orçamental • ou que tivessem sido implementadas reformas para melhorar a capacidade de resposta da economia face a choques externos. O impacto da adopção do euro Euro também não implicou: • Choques externos negativos). • … No entanto a união monetária implica que o ajustamento a choques externos tenha que ocorrer via depreciação real: redução salarial aumento da produtividade O facto da sustentabilidade da Balança Corrente ser menos preocupante atrasa medidas necessárias. A maior transparência e concorrência da união monetária expõe mais claramente rigidez e vulnerabilidades na economia. O papel da política orçamental está condicionado (pacto de estabilidade e crescimento). 1. Efeitos da crise financeira internacional 1. Dimensão: Produção industrial mundial Comércio mundial Fonte: Eichengreen and Rourke, ‘The Tale of two depressions’ Efeitos da crise internacional World Stock markets Source: Eichengreen and Rourke, Source: IMF WEO Efeitos da crise internacional 2. Intervenção política: Central bank discount rates Source: Eichengreen and Rourke Money supply (average 19 countries) Effects of international financial crisis Government Budget Surpluses Source: Eichengreen and Rourke Efeitos da crise internacional 3. Recuperação: possível devido a intervenção política sem precedentes No entanto, ainda grande incerteza quanto à sustentabilidade da retoma A reposição dos níveis de riqueza implica aumento de poupanças; Sector financeiro fragilizado. Restrições ao crédito. Desemprego Necessidade de um novo paradigm relativamente a supervisão bancária e política macroeconómica. Efeitos da crise internacional em Portugal Efeitos comuns (Portugal menos exposto a activos tóxicos). No entanto, Portugal já estava vulneravel antes da crise 1) 2) Custos de financiamento mais elevados. 3) Maior probabilidade de serem adiadas reformas necessárias Menor margem de actuação da política orçamental e dos estabilizadores automáticos). Custos financeiros: … os mercados começaram a diferenciar os países em função do risco do país Custos financeiros: Budget Public Government Bond Diff. With Germany Deficit Debt Yield basis points 2009 2009 Jan-07 Feb-10 Jan-07 Feb-10 4.02 3.17 Germany -3.4 73.1 0 0 4.07 3.50 France -8.3 76.1 5 33 4.07 3.98 Spain -11.2 54.3 5 81 4.26 4.05 Italy -5.3 114.6 24 88 4.18 4.56 Portugal -9.3 77.2 16 139 4.04 4.73 Ireland -12.5 65.8 2 156 4.28 6.46 Greece -12.7 112.6 26 329 Dados Fevereiro 2011 Diferencial face à Alemanha (pontos base) Portugal 7.34 414 Grécia 11.4 720 Irlanda 9.1 590 Espanha 5.26 206 • Taxas de juro Dívida pública (10 anos) Custos de adiar reformas: Irlanda e a Grécia não têm os problemas de falta de crescimento e competitividade. Portugal Greece Ireland Spain Source: IMF GDP growth 2007 2008 1.8 0 4 2.9 6 -2.3 3.7 1.2 2009 -2.7 -1.7 -8.5 -1.7 Current account balance 2007 2008 2009 -9.9 -12.1 -9.4 -14.1 -14.4 -10.9 -5.4 -4.5 -1.1 -10.1 -9.7 -5.5 Conclusões A perda de autonomia da política monetária deveria ter sido compensada com a maior flexibilização de outros mecanismos de ajustamento Reformas foram constantemente adiadas A crise actual torna mais urgente a redução do défice orçamental. Economia perde competitividade e acumula desequilibrios Esforços de consolidação orçamental insuficientes Estas medidas teriam sido mais faceis de implementar em períodos de crescimento económico.