Máquinas Síncronas Prof. Samuel Bettoni Máquinas Elétricas I – Aula 22 Relembrando... Em um gerador síncrono, uma corrente contínua é aplicada ao enrolamento do rotor, o qual produz um campo magnético; Como o rotor é girado por uma força mecânica, se produz um campo magnético rotacional dentro da máquina; Este campo magnético rotacional enrolamentos do estator; induz tensões nos Tensão Induzida Um campo magnético girante pode ser criado pela rotação de um par magnético. O campo girante induzirá tensões nos enrolamentos do estator. Máquinas Elétricas I Centro de Ensino Superior – Conselheiro Lafaiete Tensão Induzida O fluxo no entreferro da máquina é dado por: /2 /2 BdA B max /2 cosrldA /2 /2 Bmaxrl cosdA Bmaxrlsen /2 / 2 / 2 2 Bmaxrl r: é o raio do rotor; l: é o comprimento axial do estator/rotor Tensão Induzida Como o rotor gira a uma velocidade wm, o fluxo concatenado da fase a será: cos(t ) Se considerarmos que o enrolamento da fase a possui N espiras, temos que: a N cos(t ) Tensão Induzida Assim, pela Lei de Faraday, uma variação no fluxo concatenado, induz uma tensão: d e dt Ou seja, a tensão induzida é dada por: da ea Nsen (t ) Emax sen (t ) dt Tensão Induzida As tensões induzidas nos três enrolamentos do estator são então dadas por: ea Nsen(t ) V eb Nsen(t 120) V ec Nsen(t 240) V Tensão Induzida O valor RMS dessas tensões é: ERMS Emax N 2fN 4,44 fN 2 2 2 Se considerarmos que o enrolamento é distribuído, a equação acima tem mais um termo, que é o fator de redução: ERMS 4,44 fNkenr Fator de redução varia de 0,85 a 0,95 Tensão Induzida Pela equação do valor RMS da tensão induzida, ERMS 4,44 fN podemos deduzir que a tensão induzida é proporcional a velocidade da máquina e do fluxo de excitação, o qual depende da corrente If, isto é: ERMS n Sendo que o fluxo If Tensão Induzida A tensão RMS nos terminais do gerador irá depender de como o enrolamento do estator está conectado, isto é, se é uma conexão Y ou ∆. Considere a tensão induzida na fase a como sendo EA, e o gerador ideal (sem resistência e sem indutância): Se a máquina está conectada emY, a tensão terminal será igual a VT 3EA Se a máquina estiver conectada em ∆, a tensão terminal será igual a EA. VT EA Tensão Induzida A curva abaixo representa a curva de magnetização da máquina síncrona. Inicialmente, a tensão induzida Ef cresce linearmente com o aumento da corrente de campo, porém para altos valores de If ocorre a saturação do núcleo, e a relação tensão induzida versus corrente de campo deixa de ser linear; Tensão Induzida Se os terminais do circuito de armadura estão em aberto, a tensão induzida Ef é igual a tensão terminal, e, portanto, pode ser medida através de um voltímetro. Essa curva é denominada “característica de circuito aberto” (OCC, open-circuit characteristic) ou “característica de magnetização” da máquina síncrona. Circuito Equivalente – Gerador Síncrono A tensão EA (fase a) induzida no gerador, geralmente não é igual a tensão que aparece nos terminais do gerador. Essa tensão EA só será igual a tensão terminal do gerador, se não houver corrente fluindo no enrolamento de armadura da máquina. Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Existem vários fatores para que EA não seja igual a tensão terminal: Distorção do campo magnético no entreferro devido a corrente de armadura, denominado de reação de armadura; Indutância própria do enrolamento da armadura; Resistência do enrolamento da armadura; Efeito da forma do rotor de pólos salientes. Iremos estudar os três primeiros fatores e derivar um modelo de circuito da máquina. Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Rotor girando induz tensão nos enrolamentos da armadura; Carga acoplada ao gerador começará a fluir corrente nos enrolamentos da armadura; Corrente fluindo na armadura produz campo magnético; Campo magnético produzido na armadura distorcer o campo magnético original do rotor, mudando a tensão resultante. Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Com as duas tensões presentes no estator, a tensão de fase será a soma dessas: V EA Eestator onde Eestator representará a tensão de reação de armadura. Como será modelado o efeito dessa tensão de reação de armadura na equação da tensão terminal? Pela figura anterior observamos que a tensão Eestator atrasa 90º da corrente IA, e que Eestator é diretamente proporcional a corrente IA. Assim, se X é uma constante de proporcionalidade, temos que a tensão da reação de armadura pode ser expressa: Eestator jXI A Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Assim, a tensão de fase (até o momento) pode ser dada por: V EA jXI A Onde observamos que a reação de armadura pode ser modelada como um indutor em série com a tensão gerada interna. Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Em adição ao efeito da reação de armadura, o enrolamento de estator tem uma indutância própria e uma resistência; Indutância própria LA correspondendo a uma reatância XA; Resistência do estator igual a RA; Assim, a tensão de fase pode ser dada por completo: V EA jXIA jX A I A RA I A Ou V EA jX S I A RA I A Onde XS = X + XA; XS reatância síncrona Circuito Equivalente – Gerador Síncrono Circuito Equivalente – Gerador Síncrono As três fases do gerador podem ser conectadas em Y ou em ∆, com mostrado abaixo. Assim, a tensão terminal será dada por: VT 3V VT V Diagrama Fasorial do Gerador Síncrono Como as tensões nas máquinas síncronas são tensões AC, geralmente utilizamos fasores para expressá-las. Considere o caso quando um gerador está alimentando uma carga puramente resistiva (fator de potência unitário): EA jXSIA IA V IARA Diagrama Fasorial do Gerador Síncrono Gerador está alimentando uma carga predominantemente indutiva (fator de potência atrasado): EA jXSIA V RAIA IA Carga predominantemente capacitiva (fator de potência adiantado): EA IA V jXSIA RAIA Diagrama Fasorial do Gerador Síncrono Observações Para uma dada tensão terminal e uma corrente de armadura, a tensão gerada interna (EA) é maior para cargas indutivas do que para cargas capacitivas; Geralmente, em máquinas síncronas reais, a resistência de armadura, RA, é muito menor do que a reatância síncrona da máquina, XS, e por isso, em alguns casos desprezamos RA. EA V RAIA IA EA IA jXSIA jXSIA V RAIA Potência e Torque em Geradores Síncronos Para a conversão da energia mecânica para a elétrica, os geradores síncronos podem utilizar como potência mecânica um motor diesel, uma turbina a vapor, uma turbina d’água, ou algo similar; Não importa qual a fonte mecânica, ela deve fornecer uma velocidade praticamente constante a despeito da demanda de potência ; Se a velocidade da fonte primária não for constante, a frequência do sistema de potência resultante do gerador irá oscilar. Potência e Torque em Geradores Síncronos Nem toda potência mecânica que entra em um gerador se transforma em potência elétrica; A essa diferença chamamos de perdas. Considere o seguinte diagrama de fluxo de potência abaixo: Psaída Pentrada Pinterna Perdas mecânicas; Perdas no núcleo, e Perdas dispersas Perdas no cobre (I2R) Potência e Torque em Geradores Síncronos Psaída Pentrada Pinterna Perdas mecânicas; Perdas no núcleo, e Perdas dispersas Perdas no cobre (I2R) Pentrada Taplicado m Pinterna Tinterno m 3E A I A cos Psaída _ 3 3VT I L cos Psaída _ 3V I A cos ou Qsaída _ 3 3VT I L sen ou Qsaída _ 3V I A sen Potência e Torque em Geradores Síncronos – RA desprezada Se a resistência de armadura é desprezada ( XS >> RA), então a potência de saída pode ser aproximada. Considere o diagrama de fasores a seguir: O segmento b-c pode ser dado por: X S I A cosθ ou EA sen Assim, X S I A cos E A sen E A sen I A cos XS Substituindo a equações (1) na equação da potência de saída: 3V E A sen Psaída _ 3V I A cos Psaída _ XS (1) Potência e Torque em Geradores Síncronos – RA desprezada Para obter a equação anterior, consideramos que não havia resistências no modelo da máquina. Assim, não existirá perdas elétricas no gerador, logo: Pinterna Psaída _ 3V E A sen XS A equação acima mostra que a potência desenvolvida por um gerador síncrono depende do ângulo entre V e E A . Esse ângulo é conhecido como ângulo de torque da máquina. Potência e Torque em Geradores Síncronos – RA desprezada Note que a máxima potência que o gerador pode fornecer ocorre quando o ângulo de torque é igual a 90º, ou seja, 90 sen(90) 1 Pmáx _ saída _ Psaída _ 3V E A sen XS 3V E A XS A potência máxima dada acima é chamada de limite de estabilidade estática do gerador. Normalmente, geradores reais não chegam nem perto desse limite. Potência e Torque em Geradores Síncronos – RA desprezada Com base na consideração anterior (RA desprezada), podemos obter uma equação para o torque interno (ou torque induzido) no gerador síncrono. Como, Pinterna Psaída _ temos: e sabendo que Pinterna Tinterno m , Tinterno 3V E A sen m X S Parâmetros do Gerador Síncrono No circuito equivalente do gerador síncrono, observa-se que existem três quantidades que precisam ser determinadas: Relação IF e EA; Reatância Síncrona, XS; Resistência de armadura, RA. Para determinar esses parâmetros é necessário aplicar certos testes ao gerador, denominados: Teste de circuito aberto (open-circuit test); Teste de curto-circuito (short-circuit test). Parâmetros do Gerador Síncrono Teste de Circuito Aberto Para desenvolver esse teste, colocamos o gerador na sua velocidade nominal, desconectamos todas as cargas do terminal do gerador e a corrente de campo é “definida” como zero. Então, aumenta-se gradualmente a corrente de campo em passos, medindo a tensão terminal a cada passo. Com os terminais da máquina em aberto, I A 0 EA V É possível construir um gráfico de EA (ou VT) x IF, denominado de curva característica de circuito aberto Parâmetros do Gerador Síncrono Teste de Curto-circuito Para o desenvolvimento deste teste, ajustamos a corrente de campo para zero e curto-circuitamos os terminais do gerador com um conjunto de amperímetros. Então, a corrente de armadura (ou corrente de linha) é medida enquanto aumentamos a corrente de campo. Parâmetros do Gerador Síncrono Para entender qual informação essas duas curvas características fornecem, note que com V 0 na figura abaixo, a impedância interna da máquina é: EA ZS R X IA 2 A 2 S Considerando que XS >> RA, a equação acima pode ser reduzida. E A V ,OC XS IA IA Parâmetros do Gerador Síncrono Portanto, uma aproximação da reatância síncrona pode ser obtida para uma determinada corrente de campo. Conforme os testes de circuito aberto e de curto-circuito, a determinação dessa aproximação da reatância síncrona é: Obter a tensão gerada EA a partir da curva característica de circuito aberto, para determinada corrente de campo; Obter a corrente de curto circuito IA a partir da curva característica de curto-circuito, para a determinada corrente de campo; Encontrar XS a partir da equação: E A V ,OC XS IA IA Parâmetros do Gerador Síncrono Curva característica: Reatância síncrona x Corrente de campo Parâmetros do Gerador Síncrono A resistência do enrolamento de armadura também pode ser determinada a partir de teste feito sobre a máquina. Para isso aplicamos uma tensão CC ao enrolamento, enquanto deixamos a máquina estacionária. O intuito de aplicarmos uma tensão CC é que ao fazermos isso estamos garantindo que a reatância, durante esse teste, seja igual a zero. Essa técnica não é muito precisa, visto que uma resistência CA será um pouco maior do que uma resistência CC (efeito skin ou efeito pelicular). Geradores Síncronos Interligados Geradores síncronos são raramente conectados a cargas individuais. Esses são conectados a uma rede interligada, a qual contém vários geradores operando em paralelo. Vantagens da operação em paralelo: Vários geradores podem atender a uma grande carga; Aumento da confiabilidade; Geradores podem ser desligados para manutenção sem causar interrupção da demanda de carga; Maior eficiência; Etc.. Geradores Síncronos Interligados Geradores Síncronos Interligados A operação, na qual os geradores são conectados a rede é chamada sincronização. Para que o gerador síncrono possa ser conectado a rede, deve atender os seguintes itens: A mesma magnitude de tensão rms; A mesma frequência; A mesma sequência de fases; A mesma fase. Exemplos Exemplo – Tensão Induzida Uma máquina síncrona de 2 pólos foi projetada para ser um gerador. O pico da densidade de fluxo do campo magnético do rotor é 0,2 T. Esse rotor é acionado mecanicamente a uma velocidade de 3600 rpm. As características construtivas da máquina são: diâmetro do rotor igual a 0,5m; comprimento da espira é 0,3m; enrolamento do estator constituido por 15 espiras. a) Determine as tensões trifásicas, como função do tempo, induzidas no gerador. b) Qual é a tensão RMS induzida no gerador? ea Nsen(t ) V eb Nsen(t 120) V ec Nsen(t 240) V Exemplos Um gerador síncrono, 200 KVA, 480 V, 50 Hz, com os enrolamentos conectados em Y foi submetido a um teste com uma corrente de campo nominal igual a 5 A. Os dados do teste foram: 1. Tensão terminal de circuito aberto (VT,OC) igual a 540 V, para a corrente nominal de campo. 2. Corrente de curto-circuito (IL,SC) igual a 300 A, para a corrente nominal de campo. 3. Quando uma tensão CC de 10 V foi aplicado a dois terminais, uma corrente de 25 A foi medida. Calcule o valor da resistência de armadura e o valor aproximado da reatância síncrona. Esboce o circuito equivalente da máquina. Referências 1. Fitzgerald, A. E.; Kingsley Jr., C.; Umans, S. D.; “Máquinas Elétricas”, 6ª ed., Bookman, 2006. 2. P. C. Sen; “Principles of Electric Machines and Power Electronics”, 2ª ed., John Wiley & Sons, 1997. 3. S. J. Chapman; “Eletric Machinery Fundamentals”, 2ª ed., McGraw-Hill International Edition, 1991.