AS RELAÇÕES DE TRABALHO. ARANHA, Maria Lúcia A. Filosofia da Educação. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2000, pp. 22-28. Profº Marcelo Victor de S. Gomes Vamos discutir a epígrafe do capítulo? Como um professor que mal prepara as aulas, que não lê um livro por ano, que vive insatisfeito com seu trabalho e seu salário pode fazer desabrochar na criança o amor pela leitura, a paixão do saber, a ética do trabalho e o interesse pela política? (Barbara Freitag) O TRABALHO COMO PRÁXIS. O que é práxis? “Práxis”: palavra grega que significa ação. Mas, não qualquer ação, mas a ação que distingue o homem, a ação mediada pela teoria. Segundo o texto, a práxis é compreendida através de uma relação dialética (atuação recíproca) de teoria e prática. Marx define a Práxis como atividade prático-crítica, isto é, como atividade humana perceptível em que se resolve o real concebido subjetivamente. O conceito de Práxis exprime de modo preciso o poder que o homem tem de transformar o ambiente externo, tanto natural como social; é por isso que Marx concebe o real como atividade sensível subjetiva. Práxis também é vista por Marx como o conjunto de relações de produção e trabalho, que constituem a estrutura social, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações. Fonte: BOBBIO, N; MATTEUCCI, N; PASQUINO, Dicionário de Política. 11ª ed. Brasília: Editora UNB, 1998. G. TRABALHO Significado geral: Trabalho é uma marca distintiva entre o homem e o animal, entre cultura e natureza. Em cada ato do trabalho há uma atividade ideal prévia. Sentido negativo: trabalho como tortura, sofrimento, pena, labuta. Sentido positivo: O trabalho é condição de liberdade desde que o trabalhador não esteja submetido a constrangimentos externos, tais como a exploração. “Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano não se desfez ainda de sua primeira forma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente.” (MARX, Karl. O Capital. V. 1. Livro 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996, pp. 297-298) TRABALHO E ALIENAÇÃO. O que é alienação? O fundamento da alienação encontra-se na atividade humana prática: o trabalho. Três aspectos da alienação¹: O trabalhador relaciona-se com o produto de seu trabalho como algo alheio; A atividade do trabalhador é controlada por outra pessoa; A vida produtiva do ser humano é apenas meio de vida para o trabalhador, e não um meio de libertação (trata-se de uma obrigação). 1. Fonte: material didático do Prof. Paulo Massey. “Na determinação de que o trabalhador se relaciona com o produto de seu trabalho como [com] um objeto estranho estão todas estas conseqüências. Com efeito, segundo este pressuposto está claro: quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando (ausarbeitet), tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo, alheio (fremd) que ele cria diante de si, tanto mais pobre se torna ele mesmo, seu mundo interior, [e] tanto menos [o trabalhador] pertence a si mesmo, seu mundo interior, [e] tanto menos [o trabalhador] pertence a si próprio. É do mesmo modo na religião. Quanto mais o homem põe em Deus, tanto menos ele retém em si mesmo. O trabalhador encerra a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto. Por conseguinte, quão maior esta atividade, tanto mais sem-objeto é o trabalhador. Ele não é o que é o produto do seu trabalho. Portanto, quanto maior este produto, tanto menos ele mesmo é. A exteriorização (Entäusserung) do trabalhador em seu produto tem o significado não somente de que seu trabalho se torna um objeto, uma existência externa (äussern), mas, bem além disso, [que se torna uma existência] que existe fora dele (ausser ihm), independente dele e estranha a ele, tornando-se uma potência (Macht) autônoma diante dele, que a vida que ele concedeu ao objeto se lhe defronta hostil e estranha.” (MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 81.) A SOCIEDADE INDUSTRIAL. Qual a diferença entre trabalho manual e trabalho intelectual? O trabalho, em seu significado geral, une o intelecto à capacidade motora humana para modificar a natureza e a sociedade. Na diferença entre trabalho manual e trabalho intelectual, cada momento é separado e estabelecido para diferentes pessoas. Nessa divisão do trabalho, o homem perde a integralidade do trabalho. No entanto, através da divisão do trabalho há um aumento da produtividade do trabalho. As diversas divisões ocorridas na produção de um bem, oferecem uma maior quantidade desse bem produzida em um menor tempo. Por isso, a divisão do trabalho é tão importante para a sociedade industrial. Adam Smith explica a origem da riqueza a partir da divisão do trabalho. A fábrica de alfinetes é seu exemplo mais famoso: “Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, mas na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada: a fabricação de alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a divisão do trabalho transformou em uma indústria específica) nem familiarizado com a utilização das máquinas ali empregadas (cuja invenção provavelmente também se deveu à mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar um único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um ofício especial.” (SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996, pp. 64-65) “[...] o aprimoramento da destreza do operário necessariamente aumenta a quantidade de serviço que ele pode realizar; a divisão do trabalho, reduzindo a atividade de cada pessoa a alguma operação simples e fazendo dela o único emprego de sua vida, necessariamente aumenta muito a destreza do operário. [...] Um ferreiro que está acostumado a fazer pregos, mas cuja única ou principal atividade não tem sido esta, raramente conseguirá, mesmo com o esforço máximo, fazer mais do que 800 ou 1 000 pregos por dia. Tenho visto, porém, vários rapazes abaixo dos vinte anos que nunca fizeram outra coisa senão fabricar pregos e que, quando se empenhavam a fundo, conseguiam fazer, cada um deles, mais de 2 300 pregos por dia. [...] As diferentes operações em que se subdivide a fabricação de um alfinete ou de um botão metálico são todas elas muito mais simples, sendo geralmente muito maior a destreza da pessoa que sempre fez isso na vida. A rapidez com a qual são executadas algumas das operações dessas manufaturas supera o que uma pessoa que nunca o presenciou acreditaria possível de ser conseguido pelo trabalho manual.” (SMITH, op. cit., p. 68) TAYLORISMO: "RACIONALIZAÇÃO" DO TRABALHO? Em 1911, o engenheiro norte-americano Frederick W. Taylor publicou “Os princípios da administração científica”, ele propunha uma intensificação da divisão do trabalho, ou seja, fracionar as etapas do processo produtivo de modo que o trabalhador desenvolvesse tarefas ultra-especializadas e repetitivas. Diferenciando o trabalho intelectual do trabalho manual. Fazendo um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforço de racionalização, para que a tarefa seja executada num prazo mínimo. Portanto, o trabalhador que produzisse mais em menos tempo receberia prêmios como incentivos. FORDISMO O norte-americano Henry Ford foi o primeiro a pôr em prática, na sua empresa “Ford Motor Company”, o taylorismo. Posteriormente, ele inovou com o processo do fordismo, que, absorveu aspectos do taylorismo. Consistia em organizar a linha de montagem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia, os transportes, a formação da mão-de-obra. Ele adotou três princípios básicos; 1) Princípio de Intensificação: Diminuir o tempo de duração com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado. 2) Princípio de Economia: Consiste em reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação. 3) Princípio de Produtividade: Aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio da especialização e da linha de montagem. O operário ganha mais e o empresário tem maior produção. Burocratização. A burocratização se deu devida a uma necessidade maior de planejamento oriunda do fordismotaylorismo. A ênfase na objetividade e racionalidade produziram a ilusão de que esse sistema oferece simplesmente neutralidade e eficácia da organização. A burocratização é uma técnica de dominação. Uma forma mais sutil de controlar outras pessoas, por meio do trabalho. Os trabalhadores se vêem como competidores entre si e têm dificultada a possibilidade de uma solidariedade entre eles. Solidariedade possível posto que estariam em condições semelhantes. Solidariedade impossibilitada, já que há uma competição dentro do mercado de trabalho por postos de emprego. O trabalhador se sente supérfluo, porque cada um pode ser facilmente substituído. Qual a estrutura argumentativa do texto? Qual ordem de razões o texto oferece? O capítulo parte da compreensão da práxis como uma unidade de causa recíproca de teoria e prática. A práxis humana tem o trabalho como seu modelo elementar: a busca dos meios de ação é antecedida por uma ideia prévia do resultado. Com isso, critica-se o trabalho que aliena (separa, alheia) o momento prático do momento ideal. Um trabalho meramente manual não é digno do homem, e o rebaixa à condição de um animal de carga ou de uma máquina. A separação entre trabalho manual e trabalho intelectual é uma primeira expressão da divisão do trabalho. A divisão do trabalho parcela as ações dentro de um processo produtivo, ou seja, um único homem não é mais responsável por todo o trabalho e cada homem faz uma parte do trabalho. A divisão do trabalho é positiva porque aumenta a produtividade do trabalho, ou seja, torna os homens capazes de produzir mais em menos tempo. A divisão do trabalho tem um aspecto negativo, porque aliena o trabalhador da compreensão da totalidade do processo, ao mesmo tempo que o aliena do produto do trabalho, que não é mais reconhecido por ele como obra sua. A divisão do trabalho é potencialmente aumentada com a introdução do sistema científico de produção (o taylorismo) na produção industrial em escala (fordismo). O fordismotaylorismo produziu uma maior divisão de trabalho, assim como um maior controle e manipulação do trabalhador. Qual o lugar da educação nesse movimento progressivo de alienação da atividade humana ? A educação corre o risco de reproduzir e favorecer a alienação. Isso se dá quando se produz uma escola puramente profissionalizante (tecnicista), que ensina apenas para a inserção no mercado, sem oferecer uma educação mais ampla, crítica e reflexiva. E quando produzimos escolas teoricistas, que ensinam apartadas das demandas práticas. Nosso papel enquanto educadores é formar integralmente, unindo teoria e prática. E agora, vamos pensar a respeito? Profº Marcelo Victor de Souza Gomes