O caminho para a felicidade. O budismo é uma doutrina filosófica e religiosa derivada do hinduísmo. Provém do sânscrito “Buddh”, que significa “acordar das trevas da ignorância para entrar na luz do conhecimento”. Surgiu dos ensinamentos de Siddharta Gautama, posteriormente conhecido como Buda “O Iluminado”, que nasceu na Índia no século VI a. C. (aproximadamente no ano 563 a. C.). A “Iluminação” é a essência do ensinamento budista. Todas as suas doutrinas e práticas servem para ajudar o ser humano, homem ou mulher, a alcançar o seu próprio potencial de Iluminação, o Nirvana. O budismo tem cerca de 300 milhões de seguidores e praticantes. Porém não existindo igreja ou autoridade que possa dar conta da quantidade de praticantes e considerando as numerosas correntes budistas, provavelmente este valor pode ser duas vezes maior. A vida de Buda. Siddartha Gautama nasceu em Lumbini, no reino de Kapilavastu, no norte da Índia Antiga (agora Nepal), na dinastia dos Sakhyas. Sítio arqueológico em Lumbini, onde nasceu Sidharta Gautama. Era filho do rei Sudodhama e da rainha Maya Devi. Segundo o costume, Suddhodana chamou um sábio para ver seu filho. “Signos supernaturais indicam que este recém nascido será um grande asceta ou se converterá num grande Rei”, lhe disse o vidente. Escutando estas palavras, Suddhodana decidiu proteger o seu filho do mundo exterior e o confinou ao palácio, onde o rodeou de prazeres e riquezas. Então aconteceu o inevitável. Apesar dos esforços de seu pai, Gautama um dia saiu do palácio. Viu quatro coisas que mudaram a sua vida para sempre: um ancião, um doente, um morto e um renunciante. Quando soube que as primeiras três não eram visões estranhas e sim o destino inevitável de todos os seres humanos, Siddartha se comoveu profundamente. Aos trinta anos de idade, decidiu renunciar ao luxo da vida no palácio para procurar a resposta ao problema da dor e do sofrimento humano. Aproximou-se da sua esposa e do seu filho que estavam dormindo e se despediu deles em silêncio. Posteriormente, os dois virariam seus discípulos. Siddartha levou a cabo várias práticas espirituais para realizar o seu verdadeiro Ser. Nenhuma delas o convenceu de ser o caminho correto. Logo concluiu que uma existência com severas práticas ascéticas não conduziria à paz e à auto-realização, e sim que simplesmente debilitariam corpo e mente. Daqui surge outro dos pontos centrais dos ensinamentos do budismo: o caminho do meio. Pela sua experiência no palácio e nos bosques, Buda concluiu que o caminho não está nem no extremo dos prazeres sensuais nem nas austeridades e penitências. Depois de sete anos de busca, decide sentar-se em meditação com a inquebrantável determinação de não mover-se até compreender e realizar a verdadeira natureza do Ser. Enquanto estava em meditação profunda debaixo de uma figueira conhecida como a árvore de Bodhi (árvore da sabedoria), Gautama experimentou o grau mais elevado de consciência chamado Nirvana. Disse ele: “A realidade que veio para mim é profunda e difícil de ver ou entender, porque está além do pensamento”. A partir da sua iluminação, Siddartha Gautama ficou conhecido como Buda, "o Iluminado". No começo Buda procurava não falar da sua experiência e quando falou sobre ela, disse: “Se tentar ensinar esta realidade, ninguém me entenderia, pensei. Todo o trabalho e esforço não serviria de nada. Porém, logo compreendi que devia ensinar esta realidade, porque também é felicidade. Tem pessoas cuja visão está levemente nublada, e sofrem por nunca ter ouvido falar da realidade. Eles estão prontos para conhecer a verdade. Foi assim que decidi propagá-la”. Buda compreendeu que para alcançar o estado do Nirvana era fundamental fazer o uso correto e sagrado dos cinco sentidos. Deu o seu primeiro sermão em Sarnath (perto da atual Benares, Índia) onde falou pela primeira vez das Quatro Nobres Verdades e da Nobre Caminho Óctuplo. Buda proclamou a sua mensagem durante 45 anos e estabeleceu a sua comunidade de discípulos: o Sangha. Morreu com oitenta anos de idade na lua cheia de maio. Este dia de maio é o mais sagrado para os budistas, já que nele não só Buda nasceu e morreu, mas obteve também a sua iluminação. Na época da sua morte, o budismo havia se convertido numa força importante na Índia. Três séculos mais tarde havia se estendido por toda a Ásia. Buda jamais disse ser uma divindade e sim um guia ou "indicador do caminho". A mensagem central do Buda é que todos podemos nos libertar do sofrimento, produto da servidão aos desejos e anseios ilusórios. Buda ensinou que a causa de todo sofrimento, físico, emocional ou existencial, incluindo o da morte, é a ignorância, o esquecimento de nossa verdadeira natureza. Buda nos convida a não crer em nada que a gente não possa experimentar pessoalmente. O fundamento dos ensinamentos é que todos os seres têm a mesma natureza de Verdade, Amor e Beleza, e não é possível que existam alguns que estejam mais perto desta Realidade que outros. Só há uns que se dão conta e outros que não. Assim, o objetivo de toda a prática dos ensinamentos é o despertar para a nossa verdadeira realidade, para o Ser, chamada de Iluminação. As Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo. Este despertar não é possível sem antes desarraigar a ignorância, fonte de todo sofrimento. Logo após ter alcançado a iluminação, Buda aconselhou à compreender as Quatro Nobres Verdades, caminhar pelo Nobre Caminho Óctuplo e completar a prática das Seis Perfeições (paramitas). A primeira Nobre Verdade: A natureza da vida é sofrimento (dukkha). “Esta, oh monges, é a Nobre Verdade do Sofrimento: O nascimento é sofrimento, a velhice é sofrimento, a doença é sofrimento, a morte é sofrimento, associar-se com o indesejável é sofrimento, separar-se do desejável é sofrimento, não obter o que se deseja é sofrimento. Resumindo, os cinco agregados do apego são sofrimentos”. A segunda Nobre Verdade: A Origem do sofrimento. “Esta, oh monges, é a Nobre Verdade da Origem do Sofrimento: É o desejo que produz novos renascimentos, que acompanhado por prazer e paixão encontra sempre novo deleite, agora aqui, agora aí. Quer dizer, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo pela existência e o desejo pela não existência”. A terceira Nobre Verdade: A cessação do sofrimento. “Esta, oh monges, é a Nobre Verdade da Cessação do Sofrimento. É a total extinção e cessação desse mesmo desejo, seu abandono, seu descarte, livrar-se do mesmo, da sua não dependência”. A Quarta Nobre Verdade: O caminho que leva à cessação do sofrimento. “Esta, oh monges, é a Nobre Verdade do Sendero que conduz à Cessação do Sofrimento. O Nobre Caminho Óctuplo simplesmente quer dizer: Reto Entendimento, Reto Pensamento, Reta Linguagem, Reta Ação, Reta Vida, Reto Esforço, Reta Atenção e Reta Concentração”. O Nobre Caminho Óctuplo. O Caminho Óctuplo compreendido na quarta Nobre Verdade também é conhecido como o Sendero do Meio, pois evita dois extremos, tanto a busca da felicidade através dos prazeres sensuais, como a mortificação de nós mesmos. Estes oito fatores ou retidões devem ser desenvolvidos simultaneamente, já que estão estreitamente relacionados entre si e cada um contribui para o cultivo dos outros. 1. O Reto Entendimento: É a compreensão das quatro Nobres Verdades. Também é o entendimento da lei do karma ou causalidade: as más ações trazem más consequências e as boas ações, boas consequências. Assim também é a compreensão da impermanência das coisas. 2. O Reto Pensamento: É pensar com desapego, amor, espírito de renúncia e nãoviolência. É a ausência de má vontade e de crueldade no pensamento. 3. A Reta Palavra: Dizer a verdade de forma amável. Cultivar palavras amistosas, benévolas, agradáveis, verdadeiras, doces, significativas e úteis. Absterse de empregar formas de linguagem errôneas e perniciosas, de falar negligentemente, de mentir, difamar, caluniar ou prejudicar os outros. 4. A Reta Ação: É cultivar uma conduta correta e pacífica. Abster-se de matar, roubar, de levar a cabo condutas sexuais impróprias e tratos desonestos. 5. Os Retos Meios de Vida: É ganhar-se a vida de forma honesta, irrepreensível e inofensiva, evitando qualquer ocupação que possa ser nociva para outros seres viventes. 6. O Reto Esforço: Implica nos quatro seguintes esforços: • Impedir o surgimento de pensamentos maus. • Apartar os pensamentos maus já surgidos na mente. • Cultivar surgimento dos bons pensamentos. • Manter os bons pensamentos já surgidos. 7. A Reta Atenção: • Prestar diligente atenção ao corpo. • Prestar diligente atenção às sensações e às emoções. • Prestar diligente atenção às atividades da mente. • Prestar diligente atenção às idéias, pensamentos, concepções e coisas. 8. A Reta Concentração: É a disciplina que nos conduz às quatro etapas de meditação ou absorção: • Na primeira etapa se abandonam os desejos e pensamentos apaixonados e impuros, • Na segunda, já estão desaparecidas as atividades mentais, se desenvolve a tranquilidade e a "fixação unificadora da mente", • Na terceira surge a equanimidade consciente, • Na quarta desaparecem todas as sensações, tanto de felicidade como de tristeza, de alegria e de pesar, permanecendo num estado de equanimidade e lucidez mental. Este Nobre Caminho Óctuplo pode ser praticado e desenvolvido por cada indivíduo, homem ou mulher. É uma disciplina corporal, verbal e mental. Tratase de um caminho que conduz à compreensão da Realidade Última, à liberação, à felicidade e à paz mediante um caminho ético, espiritual e intelectual. Nobre Caminho Óctuplo. SABEDORIA 1 - Reto Entendimento 2 - Reto Pensamento 6 - Reto Esforço 7 - Reto Atenção 8 - Reta Concentração DISCIPLINA 3 - Reta Palavra 4 - Reta Ação 5 - Retos Meios de Vida ÉTICA As Seis Perfeições (paramitas). São as práticas que devem ser desenvolvidas junto com a caminhada pelo Nobre Óctuplo Sendero. As seis perfeições consistem em: 1 – Doação. Inclui todas as formas de dar e ajudar. 2- Pureza: Destrói as más paixões através da observação dos seguintes preceitos: Abster-se de matar, abster-se de roubar, abster-se de ter uma conduta sexual imprópria, abster-se de mentir, abster-se de consumir intoxicantes, abster-se da fala grosseira e difamatória, abster-se de cobiçar, abster-se de odiar e abster-se de ter crenças errôneas. 3- Paciência: Trata-se de praticar a tolerância para prevenir a raiva diante de atos realizados por pessoas ignorantes. 4- Perseverança: Refere-se à realização de esforços vigorosos e enérgicos na prática do Dharma (do ensinamento, ação correta). 5- Meditação: Reduz o diálogo interno, a confusão mental e conduz à paz e à felicidade. 6- Sabedoria: Desenvolve o poder de discernir a realidade. Porquê aplicar as Seis Perfeições? A prática destas virtudes ajuda a eliminar a avareza, a raiva e o ódio, a vida imoral, a confusão mental, a estupidez e as crenças errôneas. Junto com o Nobre Óctuplo Sendero ensinam a alcançar o estado no qual se destroem as ilusões para conseguir a paz e a felicidade permanentes. Buda e o ego. Tudo aquilo que tem princípio tem fim. Toda preocupação pelo eu é vã, o ego é como uma miragem, e todos os problemas que o tocam têm um final. Desaparecerão como um pesadelo quando o sonhador acordar. O eu é um erro, uma ilusão, um sonho. Abram seus olhos e acordem. Vejam a realidade tal como é e obterão alívio. Aquele que está acordado nunca mais terá medo dos pesadelos. Aquele que reconhece a natureza da corda que aparecia como serpente, deixa de tremer. Aquele que descobriu que não há um “eu”, abandonará todo desejo. Renuncie à disposição cobiçosa do egoísmo e lograrás esse estado de mente pura que transmite perfeita paz, bondade e sabedoria. Buda e a verdade. “A verdade é nobre e doce, a verdade pode livrar-te do mal. Não há outro salvador no mundo que a verdade. Tenham confiança na verdade, mesmo que de entrada possam não compreendê-la, mesmo que suponham que a sua doçura é amarga, mesmo que no começo retrocedam diante dela. Confiem na verdade. Feliz é aquele que superou todo egoísmo, feliz é aquele que logrou paz e feliz é aquele que encontrou a verdade. O eu é uma febre, uma visão transitória, um sonho. Porém a verdade é completa, sublime, eterna. Não há imortalidade fora da verdade. Porque só ela é para sempre”. Buda e a paz. “A pessoa deve buscar a paz dentro de si mesma sem depender de nenhuma outra coisa. Porque, a gente estando no silêncio interior, o “eu” desaparece. Não há ondas no fundo do mar. Está quieto e imperturbável. O mesmo acontece com uma pessoa pacífica. Ao deixar as raízes do eu, já não constrói orgulho nem desejo. Um monge pode ser muito gentil e pacífico enquanto ninguém o ataque com duras palavras. Mas é quando é atacado que deve ser realmente gentil e pacífico. Não te ergas como juiz de outros nem creias conhecer os seus motivos. Podes destruir-te a ti mesmo se insistir em manter teus juízos sobre os demais. Se queres livrar-te de teu inimigo, a verdadeira forma de fazer isso é dar-te conta de que teu inimigo é uma ilusão”. Buda e o desapego. “Esvazie o teu bote, buscador, e viajarás mais leve. Reduz a tua carga de desejos e opiniões, e chegarás ao Nirvana mais rápido.” Buda e o amor. “ De todos os caminhos que possas pensar, nenhum tem nem a décima-sexta parte do valor da amabilidade. A amabilidade é a liberdade do coração que abrange tudo. É luminosa, brilhante e incandescente. Acaba com todas as barreiras e deixa que o teu ser se encha de amor. Deixa que o amor impregne todas as fronteiras do mundo de tal forma que o mundo inteiro, acima, abaixo e ao redor, estará embebido de amor. Deixa que seja sublime além de toda medida, de tal maneira que se expanda por todos os lados. Aquele que pratica a amabilidade dorme e acorda em paz e não tem pesadelos. È querido por humanos e criaturas, perigo nenhum o pode atingir. Sua mente pode concentrar-se facilmente e a sua expressão é feliz e serena”. Para os praticantes de todo o planeta, Buda é considerado não só como a Luz da Ásia, mas a Luz do mundo. A sua contribuição para a evolução espiritual da humanidade é incomensurável e os seus ensinamentos tem influído nas vidas de milhões de pessoas. Tanto a cultura oriental como a ocidental ficaram atraídas pela sabedoria, a tolerância, a igualdade e o pacifismo promovidos pelo budismo. Que por esta senda os caminhantes, amantes da verdade, encontrem a paz, a sabedoria e a equanimidade entre todas as manifestações da Natureza. Créditos: Elaborado por: Enilson Cruz – 14/ago/2011. Fontes: Livros budistas e enciclopédias várias. NAMASTÊ !