Círculo de Estudos Libertários de Florianópolis Secretaria de Formação da FAG Curso de Formação Política do FAO Secretaria de Formação do CABN Teoria da organização política libertária “Possuir a capacidade política é ter consciência de si como membro de uma coletividade, afirmar a idéia que daí resulta e perseguir sua realização.” P.-J. Proudhon “O anarquismo é o viajante que toma as ruas da história e luta com os homens tais como são e constrói com as pedras que lhe proporciona sua época.” Camillo Berneri Prática política A teoria aponta para a elaboração de conceitos e um método para pensar e conhecer rigorosamente a realidade social e histórica. A análise profunda e rigorosa de uma situação concreta, será um trabalho teórico o mais científico possível. A ideologia é composta de elementos de natureza não científica, que contribuem para dinamizar a ação. A expressão de motivações, a proposta de objetivos, de aspirações, de metas ideais, isso pertence ao campo da ideologia. Uma prática política eficaz exige o conhecimento da realidade (teoria), a postulação harmônica a ela de valores objetivos de transformação (ideologia) e meios políticos concretos para conquistá-la (prática política). Organização Específica Anarquista Para distinguir seu programa e não diluir sua bandeira na massa das forças sociais os anarquistas formam uma organização 12 específica para a prática política. 10 Por suas finalidades revolucionárias a organização só reúne uma minoria ativa para poder atuar na luta pública e fora dela. 8 A organização é uma federação de militantes com unidade Coluna 1 Coluna 2 6 ideológica e estratégico-tática, com democracia interna e uma Coluna 3 disciplina consciente para suas realizações. 4 O anarquismo organizado não substitui nem representa as organizações sindicais e populares. Dentro dessa concepção, não 2 é um partido para tomar o poder, mas para ajudar a desenvolver capacidade política nas massas e a construção do poder popular. 0 Linha 1 Linha 2 Linha 3 Linha 4 Estratégia e tática A atividade de uma organização política supõe uma previsão do devir possível dos acontecimentos durante um período 12 mais ou menos prolongado, previsão que inclui a linha de ação a adotar pela organização frente a esses 10 acontecimentos de maneira a influir sobre eles do modo mais eficaz e adequado. 8 Uma linha estratégica é, habitualmente, válida enquanto Coluna 1 perdura a situação geral a qual corresponde (por ex.: a Coluna 2 6 criação das condições Coluna e 3 o desenvolvimento de ações armadas no marco de uma conjuntura ofensiva de lutas). 4 As opções táticas, na medida em que respondem a 2 problemas mais precisos, concretos e imediatos, podem ser mais variadas, mais flexíveis. Sem dúvida, não podem estar em 0 contradição com a estratégia. Linha 1 Linha 2 Linha 3 Linha 4 Ação de massas A organização das forças populares, dos movimentos e organizações das classes oprimidas é parte fundamental da estratégia anarquista. Estar organizado socialmente e inserido nas lutas é um critério para atuar como força política. A classe trabalhadora e os movimentos sociais devem se organizar com independência de governos, partidos e patrões. A luta de massas é um espaço para fazer unidade na defesa dos interesses de classe. O anarquismo deve atuar como fermento moral e intelectual, levando seus métodos de luta e organização como um anti-corpo de luta permanente contra a burocracia, o centralismo autoritário e a colaboracionismo de classes. O lugar das ideologias na frente social não é o de protagonismo imediato, de partidarização, mas de circulação de idéias, métodos e valores a partir das situações concretas que formam as experiências da luta. Luta avançada O problema da violência, como categoria da política, é fundamental num processo revolucionário que procure abater as estruturas de poder do capitalismo. A luta avançada é uma parte decisiva da prática política de uma organização revolucionária que atua, também, com uma estratégia articulada e global, no nível das lutas populares. A luta revolucionária por objetivos socialistas deve contar com o protagonismo de um setor importante das massas e por isso não dispensa o trabalho político e ideológico no interior dos seus movimentos. A organização de uma força militante como elemento de choque e recurso técnico prévio da radicalização das lutas contra o poder burguês é uma exigência para uma estratégia vitoriosa de revolução social. Via estratégica e poder popular O anarquismo postula, no processo de lutas, uma ruptura revolucionária com a ordem como condição para a construção final de uma sociedade socialista e libertária. O processo revolucionário, na mesma medida que desarticula as estruturas de dominação, abre caminhos para a construção do poder popular, concebido como o poder revolucionário protagonizado pelas organizações populares, em que o político e o social adquirem uma nova articulação que o assegura. Ruptura A viabilidade desta concepção do poder popular está vinculada com uma definição determinada da ruptura revolucionária. Dela dependem tanto o curso que possa seguir o processo revolucionário como as características concretas do confronto com as forças repressivas do Estado. Vamos conceber a ruptura nos termos de uma insurreição popular. Essa opção implica uma maior, mais ampla e mais decisiva participação das organizações populares. Protagonismo das organizações populares de base A construção do poder popular requer a preparação das organizações populares destinadas ao seu exercício. Não se trata de dar o nome de “poder popular” às velhas e conhecidas formas de ação política e representação que excluem o povo de toda instância de decisão fundamental. Criar ou recriar, fortalecer e consolidar as organizações operárias e populares e defender seu protagonismo é ir fecundando, passo a passo, um socialismo com liberdade. Importa muito como se orienta e concretiza o trabalho político e social permanentemente. Nova estrutura político-social É próprio da estrutura política especial do Estado a separação entre sociedade e poder, povo e política, sua reprodução institucional e o discurso de uma autoridade superior atribuída de impessoalidade que regula a vida social. Uma estratégia de poder popular deve levar em conta a necessidade uma nova estruturação político-social baseada no protagonismo das organizações populares e que articule o poder a partir da participação das bases nas decisões fundamentais do processo político da sociedade. Frente de classes oprimidas A revolução que queremos é uma revolução socialista e libertária. Portanto, se delimita desde o princípio aliados e inimigos. Uma revolução anticapitalista e antiautoritária aponta inconfundivelmente no desaparecimento das relações de dominação e, assim, contra a sobrevivência de todas as classes e camadas dominantes. É uma revolução que pretende o desaparecimento da burguesia como classe, o desaparecimento de latifundiários e capitalistas, castas militares e hierarquias estatais. A revolução socialista e libertária só pode encontrar combatentes nas classes oprimidas. A frente de classes oprimidas a que nos referimos se constitui como uma rede de relações permanente, ligada programaticamente, da multiplicidade de organizações de base capazes de expressar na luta os interesses imediatos destes setores sociais e de desenvolvê-los e aprofundá-los no sentido de metas e orientações do tipo transformador e socialista.