Filosofias da história no
século XIX: Karl Marx
(O Materialismo Histórico)
Karina Anhezini
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Bibliografia indicada:
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.
O manifesto comunista. São
Paulo: Paz e Terra, 1997.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.
A ideologia alemã (Feuerbach).
10 ed. São Paulo: Hucitec,
1996, p. 11-77.
Bibliografia de apoio:
 BARROS, José D’ Assunção. Teoria da
História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, Vol.
III.
 KONDER, Leandro. A história em Marx. In:
MALERBA, Jurandir (org.). Lições de
história: o caminho da ciência no longo
século XIX. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2010, p. 173-189.
 GARDINER, Patrick. Teorias da História. 5ª
ed.
Lisboa:
Fundação
Calouste
Gulbenkian, 2004.
Materialismo Histórico –
um paradigma
 Thomas Kuhn (1922-1996) – ensaio de 1962 Estrutura das Revoluções Científicas
 “conjunto de crenças, valores e técnicas comuns a
um grupo que pratica um mesmo tipo de
conhecimento”
 Apresenta o interesse de criar e reproduzir
condições
para
ampliar
o
conhecimento,
respondendo aos problemas que são colocados
pela sua época.
 Ciências Humanas – “Paradigmas concorrentes” –
Positivismo e Historicismo
convivem com o
Materialismo Histórico.
Karl Marx (1818-1883)
 Responsável, juntamente com Engels, pela criação
de uma nova visão teórico-metodológica da
história: o Materialismo Histórico.
 “Aos dezessete anos era estudante de direito na
Universidade de Bona; no ano seguinte pediu a
transferência para Berlim, onde a filosofia
hegeliana dominante exerceu uma profunda
influência sobre o seu espírito, e, finalmente, o
levou a abandonar o direito pela
filosofia
(GARDINER, 2004, p. 153).
 Chegou em Berlim em 1836 (18 anos) – Hegel
tinha morrido havia 4 anos – “por isso o jovem
estudante não teve oportunidade de conhecer
pessoalmente seu mestre, porém entrou em
contato com os discípulos de Hegel, que eram
chamados de “a esquerda hegeliana” (KONDER,
2010, p. 174).
Marx e “a esquerda hegeliana”
 “Bruno Bauer, um dos integrantes do grupo, chegou a
ser considerado por Marx um “modelo”. Seguindo seu
exemplo, Marx fez um doutorado para torna-se professor
universitário”.
 “Inicialmente, Marx se aproximou de Feuerbach. Depois
decepcionou-se com esse filósofo. Com Hegel foi o
contrário: no começo Marx antipatizou com ele, porém
logo se deixou fascinar pela melodia “pedregosa” do
pensamento hegeliano. Afastou-se dos ex-amigos Bruno
Bauer (1809-1882), Edgar Bauer (1820-1886), Karl
Gruen (1817-1877), Max Stirner (1806-1856) e
Feuerbach (1804-1972). Desse período, a única amizade
que Marx preservou foi com friedrich Engels (18201895)” (KONDER, 2010, p. 174).
Marx/Engels
 Conheceram-se em Colônia. Engels era filho de um
industrial rico, que fez do filho um dirigente industrial, o
que lhe dava acesso aos recursos paternos. Os dois
amigos desistiram da carreira universitária.
 Escritos dessa fase: A crítica da Filosofia do Direito de
Hegel (1844); A questão judaica e um escrito que não
pretendia
ser
publicado
e,
posteriormente,
foi
reconhecido como origem de ideias geniais: os
Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 – publicados
em 1932.
Marx/Engels
 “Em 1843/1844, sempre com o apoio de Engels,
começou a elaborar uma concepção de homem e uma
concepção de história. sua visão da condição humana
levava-o a acreditar que os homens, contraditoriamente,
promoviam a dominação crescente da natureza e
tomavam iniciativas oportunistas e mal orientadas e
prejudicavam o sentimento de paridade entre indivíduos
e comunidades. O sujeito dominava o objeto, mas o
objeto se vingava dele, destruindo as bases de sua
autonomia”.
 Para os hegelianos (ditos de esquerda), “os indivíduos
tinham acesso à liberdade quando se transformavam em
autoconsciências e essas autoconsciências substituíam
os homens reais, de carne e osso” (KONDER, 2010, p.
174-175).
Marx/Engels
 Marx e Engels escreveram dois importantes livros (nessa
fase): o primeiro se intitulava A Sagrada Família, nome
que debochava do grupo berlinense dos “hegelianos de
esquerda”;
 O segundo, A ideologia alemã – “continuava a bater” no
grupo enfatizando o mal uso que faziam de conceitos
importantes mobilizados sem rigor.
 A ideologia alemã foi publicada apenas em 1932.
 Segundo Konder, com essas publicações tardias, Marx
ficou sujeito a julgamentos teóricos arbitrários e
precipitados.
 Em 1847 escreveram, Marx e Engels, O Manifesto
Comunista.
A Ideologia Alemã segundo Florestan
Fernandes (1920-1995)
 “obra clássica na história do marxismo e das ciências
sociais. Como permaneceu inédita por longos anos (a
primeira edição é de 1932, em alemão, e de 1933, em
russo), tornou-se frequente omitir-se o significado
clássico dessa obra. Nela se acha a única sistematização
que empreenderam em comum da história como ciência.
E nela se encontra, também, o esboço de uma teoria
geral da sociedade, o núcleo de uma fecunda teoria das
classes sociais e da ideologia, focalizadas na perspectiva
da revolução burguesa em processo, e a inclusão
explícita do comunismo no ponto de vista científico”
(FERNANDES, 1989, p. 21).
As Teses sobre Feuerbach e A
Ideologia Alemã
diálogo crítico de Marx e
Engels com A FILOSOFIA DA
HISTÓRIA DE HEGEL;
As Teses sobre Feuerbach e A
Ideologia Alemã
 “Nenhuma diferença específica distingue o idealismo
alemão da ideologia dos outros povos. Esta última
também considera que o mundo está dominado pelas
ideias [...]” (p. 18).
 “Hegel completou o idealismo positivo. Para ele, não
apenas todo o mundo material tinha se transformado
num mundo dos pensamentos e toda a história numa
história dos pensamentos. [...] que os homens reais têm
sido até aqui dominados e determinados por ideias,
representações e conceitos, que o mundo real é um
produto do mundo ideal. [...] No sistema de Hegel, as
ideias, os pensamentos e os conceitos produzem,
determinam, dominam a vida real dos homens, seu
mundo material, suas relações reais. Seus rebeldes
discípulos tomam-lhe isso de empréstimo [...]” (p. 1819).
MARX INVERTE A DIALÉTICA
HEGELIANA
 A Dialética Hegeliana – ponto de partida é o Espírito (o
mundo das ideias) – teria sido um movimento do
Espírito o que colocou o universo em movimento e é
ainda o Espírito que está à partida de cada pequena
transformação que se dá neste mesmo universo ou de
cada círculo dialético que se produz no incessante
movimento de todas as coisas – o mundo humano,
histórico por excelência, é o melhor exemplo desse devir
dialético que se dá a partir dos movimentos do Espírito;
(BARROS, 2011, v. III)
 Marx localiza o ponto de partida do processo dialético na
MATÉRIA.
Movimento histórico é dialético e
dependente das condições objetivas e
materiais
 O movimento histórico de transformação da realidade parte de
uma realidade concreta , das condições materiais objetivas que se
apresentam aos homens organizados em sociedade;
 A História se dá em duas dimensões distintas, mas interligadas,
pois ela é: História da Luta de Classes e “História da sucessão de
Modos de Produção”.
 “Só este duplo enunciado, o primeiro bem apresentado no
Manifesto Comunista (1848), o segundo cuidadosamente discutido
em A ideologia alemã (1846), já seria suficiente para alçar Karl
Marx e Engels como instituidores de um modo de ver a História
radicalmente novo [...]” (BARROS, 2011, p. 43-44).
Teses dirigidas a Feuerbach: ainda
um idealista
 Marx sofreu uma forte influência do filósofo, discípulo de
Hegel, Ludwig Feuerbach (1804-1872).
 O erro que incidiu o pensamento de Feuerbach, segundo
Marx, foi ter priorizado a dimensão teórica do homem. O
caráter objetivo do homem se dissimula nessa ênfase ao
teórico que, no fundo, ainda representa uma postura
filosófica, ou seja, especulativa.
 Marx insiste: Feuerbach permanece na especulação, que
empreende um materialismo teórico, contemplativo.
Superar o idealismo: o materialismo
histórico
 Para Marx, o homem possui uma determinação social:
o homem é o conjunto das relações sociais; daí
porque a transformação e emancipação do homem
exigem, necessariamente, uma transformação do
meio social.
 “Os pressupostos de que partimos não são
arbitrários, não são dogmas. São pressupostos reais
de que não se pode fazer abstração a não ser na
imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas
condições materiais de vida, tanto aquelas por eles
encontradas, como as produzidas por sua própria
ação. Estes pressupostos são, pois, verificáveis por
via puramente empírica.” (p. 26-27)
Teses VI e VII
 “Feuerbach dissolve a essência religiosa na
essência humana. Mas a essência humana não é
uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em
sua realidade, é o conjunto das relações sociais”
(p. 13).
 “Por isso, Feuerbach não vê que o próprio
“sentimento religioso” é um produto social e que
o indivíduo abstrato por ele analisado pertence a
uma forma determinada de sociedade” (p. 14).
Tese XI - “Os filósofos se
limitaram a interpretar o mundo
de diferentes maneiras; o que
importa é transformá-lo” (p. 14).
 Ao interpretar o mundo estes filósofos e, principalmente,
Hegel e seus discípulos, produziram IDEOLOGIA ( A
ideologia alemã);
 Produziram uma concepção distorcida da história, uma
visão invertida do real. Quando Marx afirma que eles
produziram uma visão distorcida da história ele está
necessariamente afirmando que há uma visão verdadeira
da história. Esta visão é o materialismo histórico.
Determinismo
 “Determinismo diacrônico” – determinada estrutura
social fatalmente resultará em outra (por exemplo,
o “modo de produção feudal” necessariamente
conduz ao “modo de produção capitalista” e este
necessariamente conduz ao “modo de produção
socialista, sem reversões ou variações).
 “Determinismo sincrônico” – certa “base” (bases
materiais e econômico-sociais) ” condiciona ou
determina certa “superestrutura” (todas as
maneiras de pensar e formas de expressão
cultural) – questão controversa dentre os
marxistas – (BARROS, 2011, p. 67-101).
Manifesto Comunista (1848)
 “A história de todas as sociedades, até hoje, tem
sido a história da luta de classes. Homem livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro
especializado das corporações e aprendiz, em
suma: opressores e oprimidos estiveram em
permanente oposição; travaram uma luta sem
trégua, ora disfarçada, ora aberta, que terminou
sempre com a transformação revolucionária da
sociedade inteira ou com o declínio conjunto das
classes em conflito” (MARX & ENGELS, Manifesto
Comunista, 1848, p. 9)
História: Sucessão dos Modos de
Produção e da Luta de Classes
 Uma “classe social” ocupa sempre uma posição
específica no “modo de produção” e é essa posição
relativa ao modo de produção que define a classe;
 A posição das classes no modo de produção implica
não apenas que aquelas terão cada qual seus
interesses específicos, mas também que tais
interesses
estarão
necessariamente
em
contradição em relação a outros interesses;
 O modo de produção é estrutura e cenário para a
atuação das classes sociais, verdadeiros sujeitos
da história. (BARROS,2011, p. 101-130)
Luta de classe: “classe-em-si” e
“classe-para-si”
 Classe-em-si: se forma porque um conjunto grande de
pessoas está submetida às mesmas condições sociais,
ao mesmo regime de trabalho, aos mesmos modos de
viver e de se expressar culturalmente, sendo também
necessário que esse grupo possa ser percebido em
oposição a outros grupos sociais; (BARROS, p. 118)
 Classe-para-si: apenas se desenvolve quando a classeem-si desenvolve a “consciência de classe”/ quando
começa a perceber sua posição em uma “luta de
classes”, e a fazer valer seus direitos, de se representar
nas instâncias sociais e políticas socialmente disponíveis.
- torna-se importante entender a práxis
Práxis: Theoria e Poiesis
O Materialismo Histórico
necessariamente incorpora
Theoria, Poiesis e Práxis
 Theoria – atividade contemplativa (para Marx, alienados
os homens que se isolam na Theoria);
 Poiesis – atividade que convergia para a produção/
fazer/ TRABALHO – Engels chegará a afirmar que o
“Trabalho criou o Homem”;
 Práxis – Ação
 “O ‘agir’ da práxis deve dissolver a mera “contemplação”
para a qual pode deslizar a teoria e ao mesmo tempo
tem por tarefa despertar a poiesis da ‘alienação’ que lhe
é imposta”. (BARROS, 2011, p. 141-142)
A inevitável vitória do
proletariado
 “A condição essencial para a existência e para o
poder da classe burguesa é a formação e o
crescimento de capital. A condição para o capital é
o trabalho assalariado. O trabalho assalariado
fundamenta-se exclusivamente na competição dos
trabalhadores. O avanço da indústria, cujo
promotor é a burguesia, substitui o isolamento dos
trabalhadores,
devido
à
competição,
pela
combinação revolucionária, devido à associação.
Com o desenvolvimento da grande indústria, a
burguesia é privada, portanto, das próprias bases
em que produz e dos produtos de que se apropria.
Ela produz sobretudo aqueles que irão cavar o seu
próprio túmulo. A sua queda e a vitória do
proletariado são igualmente inevitáveis” [...]
Trabalhadores de todos os países, uni-vos! (MARX;
ENGELS, O Manifesto Comunista, 1848, [1997], p.
28-29).
Não esquecer!
Mudança do cronograma
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