HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO economia clássica David Ricardo A consolidação da análise clássica Dados biográficos Nasceu em Londres, 1772, morreu aos 51 anos, em 1823. Filho de judeus holandeses, não cursou o nível universitário Com 14 anos, iniciou carreira na Bolsa de Londres, ao lado do pai. Construiu grande reputação nos negócios. Aos 20, casou-se com uma quaker (cristã protestante). Desentendeu-se com o pai por isso e afastou-se dele. Prosseguiu suas atividades na Bolsa de Londres e rapidamente ficou rico o bastante para se aposentar aos 43 anos e se dedicar à literatura e à ciência, especialmente matemática, química e geologia. Seu interesse pela pesquisa em economia veio aos 30 anos, após ler A Riqueza das Nações de Adam Smith. A obra de Ricardo Ricardo interessou-se por estudar os efeitos da distribuição de renda entre as classes sociais para o crescimento econômico. Sua maior obra: Princípios de economia política e tributação, publicada em 1817. Destacou-se por seu estilo lógico, formal e a-histórico. Ao lado de Smith, é considerado um dos fundadores da Economia Política Clássica. Apesar do relativamente pequeno volume de obras, proporcionou os aperfeiçoou e fez amadurecer a metodologia analítica da EPC. Teorias de Ricardo Teoria do Valor-Trabalho Teoria da Distribuição/ Teoria da Renda Fundiária Teoria do Comércio Internacional (Teoria das Vantagens Comparativas) Economia Política PRODUTO Riqueza Social Latifundiários Renda Assalariados Salários Capitalistas Lucros • Para Ricardo, a economia política é a ciência da distribuição: O produto da terra – tudo que se obtém de sua superfície pela aplicação combinada de trabalho, maquinaria e capital – se divide entre as três classes da sociedade, a saber: o proprietário da terra, o dono do capital necessário para seu cultivo e os trabalhadores cujos esforços são empregados no seu cultivo (RICARDO, 1996). Economia Política • Acumulação: bastava manter as taxas de lucro de modo a garantir sua reinversão (reinvestimento). O ritmo de crescimento econômico depende da distribuição ou repartição da riqueza social: Em diferentes estágios da sociedade, no entanto, as proporções do produto total da terra destinadas a cada uma dessas classes, sob os nomes de renda, lucro e salário, serão essencialmente diferentes, o que dependerá principalmente da fertilidade do solo, da acumulação de capital, da população, e da habilidade, da engenhosidade e dos instrumentos empregados na agricultura (RICARDO, 1996). Teoria do Valor-Trabalho O que determina o valor (de troca) da mercadoria?) • Para David Ricardo, o valor de resultava da quantidade de trabalho incorporado à produção. A economia deveria ocupar-se do estudo dos bens de reprodução relativamente ilimitada. Sua teoria do valor: Considera apenas os bens que podem ser reproduzidos em escala. Ignora os bens de reprodução limitada (quadros raros, vinhos raros, diamantes, etc.), pois nesses casos o valor está diretamente ligado à escassez/raridade e não do trabalho. Preços em monopólio: quando o vendedor domina sozinho o mercado. Renda: resulta do cultivo de terras menos férteis devido à pressão demográfica (maior demanda por alimentos) e não do trabalho. Valor-Trabalho: Smith x Ricardo • Smith havia dito o seguinte sobre o valor: Numa sociedade primitiva: - Não havia capital nem propriedade privada: Valor = Trabalho Incorporado (= n° horas p/ obtenção da caça) Numa sociedade avançada: - Já há capital e propriedade privada Valor = Trabalho Incorporado + Capital + Terra Trabalho Comandado Ricardo queria apenas uma teoria do valor trabalho incorporado Teoria do Valor-Trabalho Então, segundo Ricardo, O capital (K) já existia numa sociedade primitiva, de caçadores Porque para ele, Capital = proporção da riqueza nacional destinada à produção. Mesmo numa sociedade primitiva Para o valor da mercadoria considera-se o seguinte: Arco-e-flecha = Capital => 10 h de trabalho passado + Mão-de-obra = Trabalho => 10 h de trabalho presente Valor = total de 20 h de trabalho Teoria do Valor-Trabalho Concepções sobre a composição do valor em Smith e Ricardo: Pensador Smith Ricardo Valor na Sociedade Primitiva Valor na Sociedade Avançada V = Tr V = Tr + K + RN V = Tr + K V = Tr + K Teoria do Valor-Trabalho Portanto, a teoria do trabalho incorporado, formulada por David Ricardo é válida para as duas sociedades (primitiva e avançada) Valor da Mercadoria = trabalho mediato ou passado custo contribuição máquinas e equipamentos + trabalho imediato ou presente custo contribuição da mão-de-obra atual A teoria da renda fundiária • Corn Laws (Leis dos Cereais): foram uma legislação que estabeleceu elevadas tarifas à importação de cereais, protegendo os produtores domésticos britânicos frente aos concorrentes estrangeiros. As Corn Laws favoreciam os ganhos dos proprietários de terras (renda fundiária) e o poder político dessa classe social, em detrimento dos industriais. Falta de concorrência externa: a elevação dos preços dos alimentos parecia um benefício (aparente) aos produtores internos. Renda fundiária em elevação e salários mais altos: a valorização da terra e o aumento do custo de vida (terras menos férteis rendem menos, custam mais para ser cultivadas, aumentam os preços dos alimentos e os salários precisam subir). Os lucros do capital, por isso, reduzem-se, dificultando o crescimento econômico pela queda da capacidade de investimento do capitalista. Restabelecimento do comércio exterior: queda das Corn Laws e consequente liberação das importações de cereais era necessária para os capitalistas industriais. A teoria da renda fundiária • Estabeleceu-se um impasse sobre as Corn Laws, que opunha: Arrendatários capitalistas: defendiam as medidas protecionistas. Industriais: desaprovavam o protecionismo. • A posição de David Ricardo: Ricardo defendia o fim das Corn Laws, em apoio aos industriais. Aos industriais estava claro que perdiam, mas os arrendatários capitalistas não percebiam que no longo prazo também perderiam. Por isso, defendiam o protecionismo. Os verdadeiros beneficiados das Corn Laws eram os proprietários de terras, que recebiam um aluguel (renda da terra) pela cessão do uso “dos poderes originais e indestrutíveis do solo”. A teoria da renda fundiária As razões econômicas para revogar as Corn Laws. A teoria da renda da terra, de David Ricardo O resultado das Corn Laws no longo prazo: O protecionismo aos cereais domésticos acarretaria a progressiva transferência de riqueza social (produto da economia) aos proprietários de terras, que não costumavam investir e gastavam o que ganhavam em bens de luxo e outras mordomias. Desperdício: Esse aumento da fatia no produto dos proprietários de terras significava um perigoso desperdício dos recursos fundamentais à acumulação de capital e, por conseguinte, reduziria progressivamente a intensidade do crescimento econômico britânico. A teoria da renda fundiária Pressuposto básico da Teoria da Renda Fundiária: • Na ausência ou restrição significativa de importação, à medida que aumenta a área de terras cultivadas de um país, a produtividade da terra diminui marginalmente. Isso faz com que mais capital e mais trabalho sejam exigidos para retirar do solo o mesmo produto das terras mais férteis. Isso faz com que o custo de produção, que cresce a taxas marginais superiores reduza os rendimentos marginais auferidos, tornando cada unidade adicional da produção agrícola mais dispendiosa e menos lucrativa. • A oferta de terras mais férteis vai se esgotando e terras menos férteis vão sendo ocupadas na medida do crescimento demográfico, que exerce uma pressão crescente sobre a oferta de alimentos. A teoria da renda fundiária Tempo 1: Uma nação jovem e pouco populosa Não há pressões sobre a oferta de alimentos. Terras férteis são abundantes. Não há remuneração aos proprietários de terras (não há renda fundiária). Lucros dos industriais: parte considerável do preço do produto. Terra A Custo em A Produto A = $ 110 Salários = $ 40 Lucros = $ 70 (63,6%) Renda = Ø A teoria da renda fundiária Tempo 2: Uma outra com população maior e em expansão Há pressões sobre a oferta de alimentos e recursos naturais. Todas as terras férteis já foram ocupadas e muitas faixas de terras menos férteis também. Surge a Renda: latifundiários alugam suas terras para uso em troca de uma remuneração sobre o produto. Lucros dos capitalistas são menores e caem conforme novas faixas de terras menos férteis vão sendo ocupadas, pois: 1. Pagam mais renda – mais renda para os latifundiários. 2. Salários aumentam – cesta de subsistência encarece. A teoria da renda fundiária Renda Custo em A PA = $ 120 Salários = $ 40 Lucros = $ 40 (TL 33,3%) Renda = $ 40 Terras de um país: diferentes níveis de fertilidade Faixa E Faixa D Renda Custo em B PB = $ 90 Salários = $ 40 Lucros = $ 30 (TL 33,3%) Renda = $ 20 Faixa C Faixa B Faixa A Custo em C PC = $ 60 Salários = $ 40 Lucros = $ 20 (TL 33,3%) Renda = Ø A teoria da renda fundiária Conclusões: Taxa de lucro da terra menos fértil determina a das demais; Taxa de lucro cai com cultivo de mais terras; No longo prazo, salário real não cai pois é de subsistência (lei férrea dos salários); A renda fundiária é determinada pelo preço de mercado dos produtos agrícolas; Preço de mercado é determinado pela produção em C. A teoria da renda fundiária • PRODUTO = Riqueza Social = Resultado da produção ao longo de um ano, utilizando Terra (recursos naturais) + Trabalho + Capital • Distribuição: repartição do produto entre as classes sociais PRODUTO divide-se pelas 3 classes da sociedade: Latifundiários (Renda) Assalariados (Salários) Capitalistas (Lucros) A teoria da renda fundiária Mudança na distribuição de renda vs. Estado Estacionário: • Com as Corn Laws e a progressiva expansão populacional, o lucro por unidade de capital tenderia a zero; • A queda na taxa de lucro agrícola determina taxa de lucro geral: a taxa de lucro industrial, portanto, também tende à queda; • Devido à utilização de terras menos férteis: a) crescem os preços, salários monetários e renda da terra; b) decrescem o rendimento físico da produção por área cultivada, os lucros e, por tabela, o investimento. Teoria da renda fundiária Mudança na distribuição da riqueza vs. Estado Estacionário: • Em progressão, esse processo leva ao estado estacionário, quando a margem de cultivo estende-se às terras menos férteis de todas (tipo F, na figura 1) e o lucro atinge a nulidade e a renda da terra alcança seu valor máximo e, assim, a economia deixa de crescer. • Visão pessimista de Ricardo: o Estado Estacionário é inevitável, mas pode ser adiado pelas inovações tecnológicas e a abertura ao comércio internacional. Teoria das vantagens comparativas • Procura demonstrar os benefícios advindos da especialização internacional. • Lei das vantagens comparativas: o comércio exterior pode trazer vantagens mútuas para os envolvidos. Mesmo países que possuam vantagens absolutas na produção de todos os bens devem especializar-se na produção daquele que tenha vantagem relativa maior. • Cada país deve se especializar na fabricação dos produtos nos quais tem vantagem comparativa. Um país tem vantagem em importar certos produtos, mesmo que possa produzi-los por custos mais baixos, se tiver vantagem ainda maior em comparação com outros produtos, internamente. Teoria das vantagens comparativas • Dois países (Inglaterra e Portugal), produzem dois bens (vinho e tecido) com apenas um fator de produção (trabalho). Unidades de tecido e vinho produzidas por hora de trabalho Tecidos (m) t/v Vinho (l) v/t Inglaterra 100 0,88 120 1,20 Portugal 90 1,12 80 0,83 • Veja que em termos absolutos (unid./h trab.), Portugal é mais eficiente em ambas as mercadorias. Mas em termos relativos, o custo da produção do vinho em Portugal é menor do que o do tecido; na Inglaterra, por outro lado, o custo da produção de tecido é menor que o da produção de vinho. • Portugal tem vantagem relativa na produção de vinho, enquanto a Inglaterra, tem na produção de tecidos. Portugal deve produzir apenas vinho, e a Inglaterra, apenas tecido, e ambos trocarem seus excedentes. Teoria das vantagens comparativas Os benefícios do comércio e as Relações de Troca entre Portugal e Inglaterra: Vinho 0,83 Termo de Troca 1,01 Portugal Exporta vinho Tecido 0,88 Inglaterra Exporta tecido 1,20 Inglaterra Importa vinho Termo de Troca 1,00 1,12 Portugal Importa tecido Teoria das vantagens comparativas • O progresso técnico e o comércio exterior poderiam deter, embora apenas temporariamente, a tendência ao estágio estacionário. • Assim, Ricardo coloca-se em defesa do livre comércio e contrário às Corn Laws. Bibliografia ARAÚJO, C. R. V. História do pensamento econômico: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas, 1988. BARBER. Uma história do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao-Tsé a Robert Lucas. São Paulo: Atlas, 2001. FUSFELD, D. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2000. HUNT, E.K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. MALTHUS, T. Princípios de economia política. Ensaio sobre a população. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Col. Os Economistas). NAPOLEONE, C. Smith, Ricardo, Marx. 3ª. ed. R. Janeiro: Graal.1983. OLIVEIRA, R.; GENNARI, A. História do pensamento econômico. São Paulo: Saraiva, 2009. RICARDO, D. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Col. Os Economistas). SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Col. Os Economistas). SILVA, T. S. Notas sobre a economia ricardiana. Revista Pensamento & Realidade. São Paulo, Ano VI, nº 13, out/2003.