O controle do solo sobre a estrutura da floresta e estoques de carbono na Amazônia Central Demétrius Martins Flávio Luizão Carlos Alberto Quesada “Let me bring you songs from the wood ” (Ian Anderson)) 1 Ted Feldpausch Introdução As florestas tropicais armazenam 40% do carbono estocado na biomassa terrestre (Dixon et al. 1994) Amazônia: ~ 80 Pg C (Malhi et al. 2006) Necromassa: ~ 10 Pg C (Chao et al. 2009) Representa de 6 a 25% do total de carbono acima do solo Introdução Amazônia possui grande variação: Dinâmica florestal Estrutura da floresta: Taxas de mortalidade Densidade da madeira Altura das árvores Taxas de natalidade Diâmetro das árvores Biomassa Necromassa diminui (Chao et al. 2009) NE NO Possíveis causas da variação: Distúrbio climáticos recentes Variações da dinâmica e estrutura florestal Introdução Quesada et al. 2012 Propriedades físicas do solo Vegetação Figura: Quesada et al. (2011) Grande variedade de condições químicas e físicas Introdução Poucos estudo mostram os controladores de necromassa no nível de paisagem Kissing & Powers (2010) Estádio sucessional X Necromassa Chao et al. (2009) Estrutura e dinâmica da floresta X Necromassa Biomassa acima do solo Densidade da madeira Mortalidade de massa Introdução Quesada et al. (2012) Profundidade efetiva do solo Estrutura do solo Dinâmica Estrutura da vegetação Densidade da madeira Biomassa Mortalidade de indivíduos Introdução Profundidade efetiva do solo Estrutura do solo ? Necromassa Introdução As florestas localizadas abaixo do Rio Amazonas na Amazônia Central representam uma parte significativa dessa região, no entanto são pouco conhecidas Solos hidromórficos X Solos bem drenados Métodos PDBFF Reserva Ducke " Manaus ± M1 M2 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 0 40 80 160 Kilometers Métodos Amostragem de madeira morta Protocolo (Baker e Chao 2009) Unidade amostral: parcelas de 250 x 20 (0,5 ha) 2 tipos de amostragem Madeira caída Árvores mortas em pé Métodos Classes de decomposição da madeira 3 classes de decomposição (Baker e Chao 2009): Classe 3 Classe 1 Foto: J. J. Toledo Classe 2 Foto: J. J. Toledo Métodos Estimativa de necromassa Volume MN = V × * ρ Densidade da madeira morta classe de *Cada decomposição Métodos Estrutura da vegetação Número de indivíduos por hectare Densidade da madeira (vivas) Diâmetro Biomassa Dados das parcelas permanentes em colaboração Susan Laurance (PDBFF) Iêda Amaral (TEAM) Carolina Castilho (PPBio) Juliana Schietti (PPBio/CENBAM) Métodos Propriedades físicas do solo Trincheiras 2 m de profundidade Densidade do solo Descrição da trincheira PDBFF: 3 Reserva Ducke: 3 BR-319: 6 (uma por módulo) Trado Para aumentar a cobertura espacial das propriedades do solo Dados de trado de todas as parcelas do interflúvio Métodos Propriedades físicas do solo Profundidade efetiva Nota (Quesada et al. 2010) Estrutura do solo Nota Raso (<20 cm ) 4 Muito denso, restrição para raiz 4 Menos raso (de 20 a 50 cm) 3 Denso, menor restrição para raiz 3 Profundidade entre 50 e 100cm 2 Duro, denso, estrutura em bloco 2 Horizonte C ( > 100 cm) 1 Solto, bem agregado 1 Profundo ( > 150 cm) 0 Boa agregação, friável 0 Topografia Nota Condições anóxicas Nota Muito inclinada > 45° 4 Água estagnada, saturado 4 Inclinada 20° a 44° 3 Baixa porosidade, sat. sazonal 3 Ondulação suave 8° a 19° 2 Saturação profunda (50cm de sat.) 2 Inclinação suave 1° a 8° 1 Saturação profunda (>100cm) 1 Plano 0 Condições de não saturação 0 Métodos Dados ambientais Pluviosidade WorldClim – Global Climate Data Precipitação total Precipitação nos três meses mais secos Métodos Dados ambientais Drenagem Imagens SRTM Cálculo de um índice topográfico 𝛼𝑖 𝑇 = 𝑙𝑜𝑔 𝑡𝑎𝑛𝛽𝑖 Área de contribuição Topographic Index Value Declividade da região High : 22.9931 Low : 5.87597 0 5 10 ± 20 Kilometers Resultados e discussão Variações das propriedades do solo Caracterização dos solos permitiu separar as parcelas em 3 grupos: Sem restrição - SR PDBFF e Ducke Anóxia = 0 Baixos níveis de restrição - BNR Altos níveis de restrição - ANR Interflúvio Interflúvio Anóxia < 1 Anóxia > 1 Anóxia 0 0-1 2-4 Profundidade efetiva 0 0-2 1-4 Estrutura 0-1 1-2 2-4 Topografia 0-2 0-1 0-1 Densidade (g cm-3) 0,8 – 1,2 1,0 – 1,6 1,2 – 1,7 Resultados e discussão Variações das propriedades do solo a a Solos sem restrições b b Solos restritivos 50 cm 50 cm 100 cm100 cm Baixa densidade e bem drenado Marcas de mosqueado apontando a flutuação do lençol 19 Resultados e discussão Volume e densidade de necromassa Volume de necromassa variou significativamente entre os diferentes ambientes SR 69,5 ± 11,1 m3 ha-1 BNR 69,5 ± 11,6 m3 ha-1 ANR 33,8 ± 2,0 m3 ha-1 A densidade da madeira morta não variou entre os diferentes ambientes, mas variou significativamente entre as classes de decomposição SR BNR ANR Classe 1 0,68 ± 0,02 0,67 ± 0,04 0,61 ± 0,02 Classe 2 0,55 ± 0,02 0,53 ± 0,03 0,48 ± 0,01 Classe 3 0,32 ± 0,01 0,34 ± 0,02 0,33 ± 0,02 Baixa fertilidade Resultados e discussão Estoques de necromassa SR PDBFF 33,1 ± 7,1 Mg ha-1 BNR 35,1 ± 7,2 Mg ha-1 Reserva Ducke Manaus M1 ANR 16,1 ± 2,6 Mg ha-1 M2 Necromassa Mg ha-1 6,7 – 13,1 M4 M5 M6 35,4.– 48,9 Sem restrição Baixo nível de restrição Alto nível de restrição M9 M11 0 40 80 25,2 – 35,0 53,3 – 73,0 M7 M8 M10 14,6 – 24,0 160 Kilometers Preditores de necromassa ao longo da paisagem 2.5 3.0 3.5 4.0 P<0,001 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 ln Necromassa (Mg ha-1) r2adj=0,20 2.0 ln Necromassa (Mg ha-1) 3 Alto nível de restrição 2 4.0 3.5 3.0 1 Baixo nível de restrição 1 Estrutura do solo Anóxia Sem restrição 0 4 r2adj=0,30 2.5 2 P<0,001 2.0 1 ln Necromassa (Mg ha-1) 0 ln Necromassa Mg ha ln Necromassa Mg ha 1 r2adj=0,35 P<0,001 0 1 2 3 Profundidade efetiva do solo 4 3 4 Preditores de necromassa ao longo da paisagem 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 2.5 3.0 3.5 1 ln Necromass (Mg Mg ha ha-1) ln Necromassa 4.0 r2adj=0,12 P=0,009 2.0 ln Necromassa (Mg ha-1) ln Necromass Mg ha 1 r2adj=0,10 P=0,017 0 1 2 7 8 9 10 11 12 Índice topografico Topografia Sem restrição Baixo nível de restrição Alto nível de restrição 13 14 Resultados e discussão Padrões gerais da paisagem Possíveis causas do menor estoque em ANR : Martius (1997) em áreas de Várzea e Chao et al. (2008) planícies alagáveis no Peru encontraram baixos estoques de necromassa Redistribuição da madeira morta pelas águas dos rios Das 79 parcelas apenas 9 estavam em áreas de alagamento Nenhuma próxima de grandes rios Maiores taxas de decomposição Taxas de decomposição não foram medidas Espera-se uma relação negativa entre densidade da madeira e taxas de decomposição (Chambers et al. 2000) Não encontramos diferença da densidade da madeira entre as áreas Resultados e discussão Dados de vegetação a 800 750 700 220 240 No de indivíduos ha ab a b 650 -1 b b 600 200 Biomassa (Mg ha-1) 260 Pontos = média Barras = intervalo de confiança n=33 ANR n=16 BNR Solos n=30 SR n=33 ANR n=16 BNR Solos n=30 SR 15.2 15.4 15.6 15.8 16.0 0.25 16.2 Altura média (m) 16.4 20 a ANR a BNR b SR Solos Solos c 0.30 0.35 0.40 Biomassa por árvore (Mg) 16.6 21 22 DAP médio (cm) 23 Dados de vegetação Pontos = média Barras = intervalo de confiança b b c b a ANR BNR Solos SR Resultados e discussão Preditores de necromassa ao longo da paisagem Alto nível de restrição r2adj=0,20 P<0,001 Baixo nível de restrição 3.5 2.5 3.0 O parâmetro da vegetação que melhor explicou a variação de necromassa 2.0 ln Necromassa Mg ha 1 4.0 Sem restrição 0.2 0.3 0.4 Biomassapor árvore Mg 0.5 Resultados e discussão Preditores de necromassa ao longo da paisagem Alto nível de restrição Baixo nível de restrição r2adj=0,10 P=0,01 3.5 3.0 2.5 2.0 2.0 2.5 3.0 3.5 ln Necromassa Mg ha 1 1 4.0 4.0 r2adj=0,13 P=0,008 ln Necromassa Mg ha Sem restrição 14 15 16 17 Altura média (m) 18 18 20 22 24 DAP médio (cm) 26 Vegetação e necromassa Parâmetro da vegetação tiveram relação fracas com necromassa Necromassa ~ Biomassa (r2adj=0,12) Similar à Chao et al. (2009) Necromassa ~ Biomassapor árvore (r2adj=0,20) Diferentes níveis de restrição nos solos parecem afetar significativamente a estrutura da floresta influenciando temporalmente e estruturalmente o armazenamento da biomassa Maiores restrições físicas suportam florestas mais dinâmicas com baixa densidade da madeira e baixa biomassa (Jirka et al. 2007 e Quesada et al. 2012) Restrições no solo podem dificultar o estabelecimento das árvores restringindo o crescimento de raízes profundas e a sobrevivência das árvores afetando a estrutura da vegetação Resultados e discussão Principais causas da variação Se características limitantes do solo afetam positivamente a mortalidade de árvores, como o aumento das restrições físicas (anóxia) podem causar a diminuição dos estoques de necromassa? Resultados e discussão Vegetação e necromassa 31 Resultados e discussão Vegetação e necromassa Biomassa por árvore: SR BNR > > ANR ANR 1,6 vezes 1,3 vezes A mortalidade de massa deve ser maior o que resulta em um estoque duas vezes maior em SR e BNR SR e BNR possuem maiores diâmetros e consequentemente devem possuir menores taxas de decomposição (van Geffen et al. 2010) Apesar da biomassa por árvore ser menor em BNR estoques são similares do que em SR os BNR deve ter maiores taxas de mortalidade pois as condições do solo são piores Conclusão Importante constituinte dos ecossistemas pois contribui com: SR 13% BNR 17% ANR 8% Variações nos estoques de necromassa: Níveis de restrições dos solos afetam a estrutura e dinâmica das florestas que, por sua vez, afetam a necromassa Necromassa esta positivamente relacionada com biomassapor árvore e apresenta relação negativa indireta com anóxia do solo altura Restrições edáficas atuam na estrutura e dinâmica da floresta: diâmetro biomassapor árvore Solos restritivos devem aumentar as taxas de mortalidade de indivíduos (decomposição), mas devem diminuir as taxas de mortalidade de massa Importância das propriedades do solo e sua capacidade de controlar a estrutura da floresta influenciando gradientes de necromassa na escala da paisagem Obrigado! Foto: J. Purri