Profa. Aline Alves de Andrade Disciplina: é o conjunto de conhecimentos específicos que têm as suas características próprias no terreno de ensino, da formação, dos mecanismos, dos métodos e dos materiais. As relações entre as disciplinas podem se dar em quatro níveis: Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade. É justaposição de disciplinas diversas, ás vezes sem aparente relação entre elas. A multidisciplinaridade ocorre quando a solução de um problema requer a obtenção de informações de uma ou mais ciências ou setores do conhecimento, sem que as disciplinas que são convocadas por aqueles que as utilizam sejam alteradas ou enriquecidas por isso. Trata-se de um modelo fragmentado em que há justaposição de disciplinas diversas, sem relação aparente entre si. Ocorre quando se justapõem disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento, formando-se áreas de estudo com conteúdos afins ou coordenação de área, com menor fragmentação. Por exemplo: Anatomia, fisiologia. É a interação que existe entre duas ou mais disciplinas, podendo integrar mútuos conceitos diretivos até a uma simples comunicação das idéias. Interdisciplinaridade é o intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências, tendo com o resultado um enriquecimento recíproco. Há uma nova concepção de divisão do saber, frisando a interdependência, a interação, a comunicação existentes entre as disciplinas e buscando a integração do conhecimento num todo harmônico e significativo. Figura 01: Esquema ilustrando o sentido de interdisciplinaridade. Fonte:www.educador.brasilescola.com Transferência de métodos de uma disciplina à outra em 03 graus de interdisciplinaridade: Grau de aplicação Quando os métodos da física nuclear são transferidos para a medicina, resultam no aparecimento de novos tratamentos de câncer. Grau epistemológico Quando os métodos da lógica formal são transferidos para a área do direito geral, geram análises interessantes de epistemologia do direito. Grau de geração de novas disciplinas Quando métodos da matemática foram transferidos para a física e geraram a física matemática e, quando transferidos para os fenômenos meteorológicos ou para os processos do mercado de ações, geraram a teoria do caos, mas seu objetivo permanece dentro do mesmo quadro de referência da pesquisa disciplinar. É uma etapa superior a interdisciplinaridade que não só atinge as interações ou reciprocidades, mas situa essas relações no interior de um sistema total. É a interação global das várias ciências. É um horizonte inalcançável. É única forma válida de interação superando os limites da interdisciplinaridade. Há coordenação de todas as disciplinas num sistema lógico de conhecimentos, com livre trânsito de um campo de saber para outro. A transdisciplinaridade é uma abordagem mais complexa, em que a divisão por disciplinas, hoje implantada nas escolas, deixa de existir. Essa prática somente será viável quando não houver mais a fragmentação do conhecimento. Diz respeito ao que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas. Objetivo: compreensão do mundo atual pela unidade do conhecimento; Complementar à pesquisa disciplinar e não antagônica; Níveis de realidade inseparáveis dos níveis de percepção; Caminho de auto-transformação. As várias disciplinas são colocadas lado a lado, sem o estabelecimento de relações entre os profissionais representantes de cada área. PLURI Há uma espécie de ligação entre os domínios disciplinares indicando a existência de alguma cooperação e ênfase à relação entre tais conhecimentos. Não há uma simples justaposição ou complementaridade entre os elementos disciplinares (Furtado). Etapa avançada relativamente á interdisciplinaridade. Grau maior de interação e troca. Relatório da UNESCO (Comissão internacional sobre a educação para o vigésimo primeiro século), enfatiza 4 pilares de um novo tipo de educação: 1) 2) 3) 4) Aprendendo a Aprendendo a Aprendendo a Aprendendo a conhecer, fazer, viver em conjunto e ser. Consiste no treino nos métodos que podem ajudar-nos a distinguir o que é real do que é ilusório e a ter acesso inteligente ao fabuloso conhecimento de nossos tempos; O espírito científico é indispensável; Implica em uma flexibilidade permanente sempre orientada na direção da atualização de suas potencialidades interiores. Significa a aquisição de uma profissão; Criação de um núcleo interior flexível; "aprendendo a fazer" é um aprendizado em criatividade . "Fazer" também significa descobrir novidades, trazendo à luz nossas potencialidades criativas; Hierarquia social substituída pela cooperação de níveis estruturais; Em vez de níveis impostos pela competição, haveria níveis de ser;. Fazer em vez de se submeter. Ultrapassa o princípio de tolerância às diferenças; Para que as normas da coletividade sejam respeitadas, precisam ser validadas pela experiência interior de cada ser; Compreensão da nossa própria cultura pela atitude transcultural, transreligiosa, transpolítica e transnacional; A unidade aberta e a pluralidade complexa não são antagônicas. Existência como descoberta dos nossos condicionamentos, da harmonia e desarmonia entre nossa vida individual e social, por meio do questionamento e do espírito científico; Permanente aprendizado; A formação de uma pessoa passa inevitavelmente por uma dimensão transpessoal. Há uma inter-relação entre os quatro pilares do novo sistema de educação: Como aprender a fazer enquanto aprendendo a conhecer? Como aprender a ser enquanto aprendendo a viver em conjunto? Uma educação viável só pode ser uma educação integral do ser humano; A desorientação da Universidade tornou-se mundial; A Universidade é o lugar privilegiado para uma educação dirigida às exigências de nossos tempos. Artigo 1 Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio de estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar. Artigo 2 O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes, é inerente à atitude transdisciplinar. Artigo 3 A transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; ela faz emergir novos dados a partir da confrontação das disciplinas que os articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza da realidade. Artigo 4 A pedra angular da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas Artigo 5 A visão transdisciplinar é completamente aberta, pois, ela ultrapassa o domínio das ciências exatas pelo seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas, mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência interior. Artigo 6 Em relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multir-referencial e multidimensional. Artigo 7 A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência da ciência. Artigo 8 A dignidade do ser humano também é de ordem cósmica e planetária Artigo 9 A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta em relação aos mitos, às religiões e temas afins, num espírito transdisciplinar. Artigo 10 Inexiste laço cultural privilegiado a partir do qual se possam julgar as outras culturas. Artigo 11 Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Artigo 12 A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundamentada no postulado segundo o qual a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso. Artigo 13 A ética transdisciplinar recusa toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão, qualquer que seja a sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica. Artigo 14 Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da visão transdisciplinar. O rigor da argumentação que leva em conta todos os dados é o agente protetor contra todos os possíveis desvios. ARTIGO FINAL A presente Carta da Transdisciplinaridade está sendo adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, não se reclamando a nenhuma outra autoridade a não ser a da sua obra e da sua atividade. Uma prática escolar interdisciplinar tem algumas características que podem ser apontadas como fundamentos ou “pistas” para uma transformação curricular e que exigem mudanças de atitude, procedimento, postura por parte dos educadores: perceber-se interdisciplinar, sentir-se “parte do universo e um universo à parte” (Fazenda 1991)- (resgatar sua própria inteireza, sua unidade); historicizar e contextualizar os conteúdos (resgatar a memória dos acontecimentos, interessando-se por suas origens, causas, conseqüências e significações; aprender a ler jornal e a discutir as notícias); valorizar o trabalho em parceria, em equipe interdisciplinar, integrada (tanto o corpo docente como o corpo discente), estabelecendo pontos de contato entre as diversas disciplinas e atividades do currículo; desenvolver atitude de busca, de pesquisa, de transformação, construção, investigação e descoberta; definir uma base teórica única como eixo norteador de todo o trabalho escolar, seja ideológica (que tipo de homem queremos formar), psicopedagógica (que teoria de aprendizagem fundamenta o projeto escolar), ou relacional (como são as relações interpessoais, a questão do poder, da autonomia e da centralização decisória na escola); dinamizar a coordenação de área (trabalho integrado com conteúdos afins, evitando repetições inúteis e cansativas), começando pelo confronto dos planos de curso das diversas disciplinas, analisando e refazendo os programas, em conjunto, atualizando-os, enriquecendo-os ou “enxugandoos”, iniciando-se, assim, uma real revisão curricular; resgatar o sentido do humano, o mais profundo e significativo eixo da interdisciplinaridade, perguntando-se a todo momento: - “o que há de profundamente humano neste novo conteúdo?” ou - “em que este conteúdo contribui para que os alunos se tornem mais humanos?” trabalhar com a pedagogia de projetos, que elimina a artificialidade da escola, aproximando-a da vida real e estimula a iniciativa, a criatividade, a cooperação e a coresponsabilidade. Desenvolver projetos na escola é, seguramente, a melhor maneira de garantir a integração de conteúdos pretendida pelo currículo interdisciplinar. Um projeto surge de uma situação, de uma necessidade sentida pela própria turma e consta de um conjunto de tarefas planejadas e empreendidas espontaneamente pelo grupo, em torno de um objetivo comum. Para Jolibert (1994), “a pedagogia de projetos permite viver numa escola alicerçada no real, aberta a múltiplas relações com o exterior: nela a criança trabalha “pra valer” e dispõe dos meios para afirmar-se como agente de seus aprendizados, produzindo algo que tem sentido e unidade.”