1 Conjuntura Econômica Atual Marcelo Mello Faculdades Ibmec/RJ 32º Edição do IMIL na Sala de Aula Universidade Federal Fluminense - UFF Rio de Janeiro, 7 de Novembro, 2013 2 2 Plano da Apresentação 1. O verdadeiro problema – Por que o Brasil não cresce? 2. A “flexibilização” do tripé e a questão Fiscal 3. O Cenário Externo 4. Perspectivas 2013-2014 5. Conclusão 3 3 1. Por que o Brasil não cresce? • Analisamos o crescimento econômico do Brasil no período 1950-2011. • Discutimos as perspectivas de crescimento de curto e longo prazo do Brasil à luz da atual política econômica. 4 4 Brasil 1950s 1960s 1970s 1980s 1990s 2000s 1950-11 1950-79 1980-11 EUA China Chile Esp. Coreia 6,86% 3,62% 7,42% 2,99% 5,57% 4,47% 7,15% 4,43% 1,94% 5,06% 8,50% 6,99% 8,80% 3,29% 6,60% 1,98% 3,80% 10,05% 2,93% 3,01% 9,69% 3,34% 2,78% 8,54% 1,65% 3,20% 9,96% 6,32% 2,67% 6,58% 3,30% 1,71% 10,28% 4,00% 2,58% 4,40% 5,05% 3,16% 7,69% 4,04% 4,27% 6,99% 7,62% 3,78% 5,06% 3,36% 5,95% 7,56% 2,78% 2,60% 9,96% 4,54% 2,68% 5 6,49% -2% 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Taxa de Crescimento do PIB, 1985-2011 10% 8% 6% 4% 2% 0% -4% -6% Tx Média de Cresc Tx de Cresc 6 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Crescimento – Brasil, China, e Índia 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% Brasil China India 7 Crescimento: Brasil vs. Mundo 5% 5% 4% 4% 3% 3% 2% 2% 1% 1% 0% 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Mundo Brasil 8 Tabela 1: PIB per capita relativo na America Latina, 1960-2011 País 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Brasil 0,13 0,15 0,20 0,17 0,19 0,21 China 0,06 0,05 0,05 0,07 0,09 0,18 Japão 0,26 0,56 0,68 0,77 0,73 0,73 Coreia do Sul 0,07 0,09 0,17 0,34 0,48 0,64 Hong kong 0,22 0,33 0,53 0,69 0,73 0,89 Irlanda 0,37 0,40 0,47 0,52 0,80 0,85 Itália 0,42 0,54 0,70 0,71 0,73 0,69 Espanha 0,33 0,47 0,52 0,50 0,60 0,69 Portugal 0,24 0,33 0,36 0,41 0,49 0,54 México 0,33 0,34 0,43 0,29 0,27 0,29 Venezuela 0,47 0,43 0,38 0,25 0,15 0,23 9 • Brasil cresceu rápido no período 1950-1980. • O problema é que o crescimento se deu via endividamento, barreiras comerciais, e inflação. • Esse modelo de crescimento resultou em hiperinflação e grande desigualdade de renda. • No período 1980-2011, houve forte desaceleração da economia (década perdida, hiperinflação, etc) 10 • Padrão de crescimento “boom-bust”; Não há crescimento sustentado. • Brasil depende do crescimento da economia mundial, em particular, do crescimento da China. • A desaceleração da economia mundial torna maior o desafio de gerar crescimento no país. • Por outro lado, crescimento via aumento da oferta de crédito já dá sinais de esgotamento, com endividamento das famílias. 11 • Nas últimas três décadas, o Brasil ficou estagnado em termos relativos. • Inúmeros outros países, com condição inicial similar a Brasileira, cresceram mais rápido e são ricos hoje. • Coreia do Sul poderia servir de exemplo, apesar das suas particularidades. 12 • Os EUA são 5 vezes mais ricos que o Brasil em termos per capita. • O que pode explicar uma diferença de PIB per capita de 5x? • Vale a pena explorar essa questão – será que a política econômica atual vai reduzir esse hiato de renda? 13 1.2 Decompondo o PIB per capita • PIB per capita pode ser decomposto em três componentes da seguinte forma: Y Y L n POP nL POP • Onde Y é o PIB, POP é a população, n é o número de horas trabalhadas, e L é o número de trabalhadores. 14 • O primeiro termo, Y/nL, é o PIB por horatrabalhada, o que é uma medida de produtividade do trabalho. • O segundo termo, L/POP, é a razão do número de trabalhadores sobre a população. • O terceiro termo, como mencionado acima, é o número de horas trabalhadas. 15 • Dessa forma o PIB per capita do Brasil relativo aos EUA é dado pela seguinte expressão: Y / POPBRA Y / nLBRA L / POPBRA nBRA Y / POPEUA Y / nLEUA L / POPEUA nEUA 16 Horas Trabalhadas - Brasil/EUA 1.2 1.15 1.1 1.05 1 0.95 Horas Trabalhadas - Brasil/EUA 17 Razão de Emprego Brasil/EUA 1.2 1.15 1.1 1.05 1 0.95 0.9 0.85 0.8 0.75 0.7 Razão de Emprego Brasil/EUA 18 PIB por hora-trabalhada, Brasil/EUA 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 PIB por hora-trabalhada, Brasil/EUA 19 1.3 Produtividade Total dos Fatores • Vamos nos abstrair do número de horastrabalhadas, e focar apenas no PIB por trabalhador, isto é, Y/L, usando a notação abaixo. • Economistas do Crescimento modelam o PIB por trabalhador assumindo uma função de produção: 1 Y AK L 20 • Podemos decompor o PIB por trabalhador da seguinte forma: 1 1 Y A L K Y 1 21 • A expressão acima nos diz que diferenças na produtividade do trabalho relativa se devem a dois fatores: –diferenças na produtividade total dos fatores –diferenças na relação capital-produto. • Vamos examinar inicialmente a relação capital-produto. 22 • A produtividade relativa do país i é dada pela seguinte expressão: Y / Li Ai Y / LEUA AEUA 1 1 K / Y i K / Y EUA 1 23 Relação capital-produto: Brasil vs. EUA 1.8 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 24 PTF relativa - Brasil vs. EUA 0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 25 1.4 Capital Humano • O modelo acima pode ser ampliado para incluir o capital humano: 1 1 Y A L K Y 1 h • Onde h é o nível de capital humano por trabalhador. 26 • Analisamos dados sobre a escolaridade no Brasil usando o banco de dados de Barro-Lee. • Escolaridade é medida pelo número médio de anos de estudo na população com mais de 25 anos de idade. • Note que estamos olhando para a quantidade de capital humano, sem correção para a qualidade do mesmo. 27 1950 1952 1954 1956 1958 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Número de anos na escola – Arg, Bra, Mex, e Chl 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Argentina Brazil Mexico Chile 28 China India Brazil 29 2010 2007 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 1950 Número de anos na Escola - Brasil, China, e India 8 7 6 5 4 3 2 1 0 SGP TWN HK KOR BRA 30 2010 2007 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 1950 Número de anos na Escola - Tigres Asiáticos e Brasil 13 11 9 7 5 3 1 1.5 Por que o Brasil não cresce? • Como vimos acima, o nível do PIB per capita no Brasil é baixo porque a produtividade por homem-hora é baixa. • E, a produtividade no Brasil é baixa porque a PTF é baixa. • Por que a PTF no Brasil é baixa? 31 • O que caracteriza uma economia com PTF alta? – Ambiente de negócios “amigável” – Mercados competitivos – Carga tributária eficiente – Legislação trabalhista eficiente – Barreiras tarifárias baixas; Abertura Comercial – Ausência de Monopólios – Infraestrutura eficiente, Capital Humano, etc 32 • Pela lista acima vemos porque o Brasil tem uma PTF baixa. • Isso explica também o baixo nível do PIB per capita. • Para gerar crescimento sustentado é preciso aumentar a PTF. • Como aumentar a PTF? 33 • • • • • • • • • Através de reformas estruturais: Quebra de monopólios Privatização Recuperação das agências regulatórias Redução da burocracia Melhoria nas práticas de mercado Liberalização comercial Reforma da legislação trabalhista Ampla Reforma Fiscal, incluindo Tributária, etc. 34 • Investimento em infraestrutura e capital humano também são essenciais, em particular, porque interagem com a PTF. • No centro das reformas deveria estar uma reforma do setor público, em particular, uma ampla reforma de Estado, e uma reforma Política. • Qualquer governo com pretensões de gerar crescimento sustentado terá que fazer reformas estruturais. 35 • Qual é o problema da atual política econômica? • A atual política econômica é intervencionista demais, ideológica demais, e não transmite confiança para os agentes de mercado. • Exemplo: Concessão vs. Partilha, Leilão do campo de Libra 36 • No momento, não há indicação alguma que o governo vá fazer alguma reforma estrutural. • Em particular, tendo um ano eleitoral pela frente. • Na verdade, o pesado intervencionismo do governo está causando fortes distorções na economia que reduzem a PTF, contribuindo para um maior distanciamento do Brasil da fronteira da riqueza. 37 2. A “flexibilização” do tripé e a questão fiscal • A crise do Subprime de 2007-2008 foi o “passe-livre” do governo para abrir as torneiras fiscais. • Desde então a política fiscal tornou-se francamente expansionista. • E, para disfarçar o viés expansionista da política fiscal o governo recorreu a contabilidade criativa. 38 • Emissão de dívida para financiar os repasses billionários do BNDES para o setor privado. • A escolha de campeões nacionais. • No passado, essa política resultou em desequilíbrio fiscal, hiperinflação, e desigualdade de renda. 39 • O governo Brasileiro taxa muito para financiar seus altos gastos. • Gasta com o que? –Com o sustento de uma enorme máquina pública (gastos com o funcionalismo) –Pensões, seguridade social –Juros da dívida pública. 40 3. O Cenário Externo • O cenário externo que tanto ajudou o Brasil no período 2003-2008 mudou radicalmente. • O mundo pós-crise do Subprime é diferente com a Europa mergulhada em crise, a economia Norte-Americana batalhando políticos disfuncionais, e o motor econômico voltado para a Ásia. • A potencial desaceleração da China afeta a economia Brasileira negativamente. 41 4. Perspectivas 2013-2014 • O ano de 2013 foi fraco para a economia e já estamos no final do ano, sem muito mais o que acontecer. • O ano de 2014 promete ser um ano “interessante”. • A política econômica é refém da reeleição presidencial. • A estratégia é pau na máquina! 42 • Em 2014, além da reeleição, temos a Copa do Mundo. • Será que a Copa do Mundo servirá de palco para novas manifestações sociais? • Implicações políticas? 43 5. Conclusão • No momento, o Brasil está na contramão das reformas pró-crescimento. • Não há nada que indique que a PTF brasileira vá aumentar num futuro próximo. • A julgar pela atual política econômica do governo a PTF brasileira deve se reduzir nos próximos anos. • Mantendo a situação corrente, o atraso do Brasil em relação à fronteira do crescimento continuará. 44