SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
Jurema Werneck
Mobilização pela saúde: quando começa?
Oliveira Martins, 1845 - 1894
Um navio de escravos era
espetáculo asqueroso e
lancinante. Amontoados no porão,
quando o navio jogava batido pelo
temporal, a massa de corpos
negros agitava-se como um
formigueiro de homens, para
beber avidamente um pouco
desse ar lúgubre que se escoava
pela escotilha gradada de ferro.
Havia, lá no seio do navio
balançando pelo mar, ferozes
lutas, gritos, uivos de cólera e
desespero. Os que a sorte
favorecia, nesse ondear de carne
viva e negra, aferravam-se à luz e
rolhavam a estreita nesga do céu.
Na obscuridade do antro, os
infelizes, promiscuamente
arrumados a monte, ou caíam
inânimes num torpor letal, ou
mordiam-se desesperados e
cheios de fúria.
Estrangulavam-se, esmagavamse: a uns saiam-lhes do ventre as
entranhas, a outros quebravamse-lhe os membros nos choques
dessa obscura batalha. E a
massa humana, cujo rumor
selvagem saía pela escotilha
aberta, revolvia-se no seu antro,
afogava em lágrimas e em
imundície. Despejada a carga na
praia, entregues os
conhecimentos das peças-daÍndia ao caixeiro do negreiro, a
fúnebre procissão partia e
internava-se nas moitas da costa,
para dali começarem as
peregrinações sertanejas; e o
capitão voltava a bordo, a limpar o
porão, achava os restos, a
quebra, da carga que trouxera:
havia por vezes cinqüenta e mais
cadáveres sobre quatrocentos
escravos.
ANTES DO NAVIO NEGREIRO
Diferentes povos elaboravam conceitos, filosofias,
sistemas de promoção e proteção à saúde.
Sistemas complexos e holísticos
Preservação da memória
cultural;
Adaptação e (re) criação de
técnicas de alívio e cura:
– Uso de plantas,
animais e minerais;
– Modelos de
diagnósticos:
consultas a búzios,
cartas, santos e
orixás;
– Rezas, cânticos,
danças, culinária;
Comunidade e existência:
axé, ntu
Tradições que mantém seu vigor no século XXI
A mobilização pela derrota do regime de escravidão – e sua vitória –
estabelece novos patamares de luta para a população negra e suas
organizações.
A principal bandeira republicana passa a ser a criação de um Estado
de Inclusão Social
É o momento de lutar por
sistemas de saúde
inclusivos
Diferentes respostas do Estado brasileiro,
inadequadas, excludentes
Enfrentar o
racismo e seus
impactos na saúde.
PROPOR NOVOS
CONCEITOS:
VER A REALIDADE!
CONCEITOS
TRATAMENTO
DESIGUAL;
VULNERABILIDADE;
DESIGUALDADE;
DISPARIDADES
RACIAIS;
RACISMO
INSTITUCIONAL;
INIQÜIDADE;
DELCARAÇÃO DO
MINISTRO DA SAÚDE EM 26
DE OUTUBRO DE 2006 NO
RIO DE JANEIRO
MINISTRO ADMITE RACISMO NO
ATENDIMENTO DO SUS
"Esse racismo cria condições muito
perversas que temos de combater
fortemente. Queremos construir uma nova
cultura e criar valores de solidariedade e
tolerância em relação à população negra",
- O Globo, 26 de outubro de 2006
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO
NEGRA
APROVAÇÃO
• Conselho Nacional de Saúde/ CNS
• Novembro de 2006
PACTUAÇÃO
• Comissão Intergestores Tripartite/ CIT
• Abril de 2008
PUBLICAÇÃO
• Diário Oficial – Portaria 992
• 14 de maio de 2009
LEGISLAÇÃO
• Estatuto da Igualdade Racial:
• Lei 12.288 de 20 de julho de 2010
Passos da criação da nova cultura e de novos valores
Quais as razões que exigem esta mudança?
TAXAS DE MORTALIDADE NAS 10 PRINCIPAIS CAUSAS NA
POPULAÇÃO NEGRA NA FAIXA ETÁRIA DE 10 A 29 ANOS,
BRASIL, 2008
Fonte: SIM/SVS/MS
TAXAS DE MORTALIDADE NAS 10 PRINCIPAIS CAUSAS NA
POPULAÇÃO BRANCA NA FAIXA ETÁRIA DE 10 A 29 ANOS,
BRASIL, 2008
Fonte: SIM/SVS/MS
TAXA DE HOMICÍDIOS NA FAIXA ETÁRIA DE 10 A 29 ANOS E
RISCO RELATIVO, SEGUNDO RAÇA/COR, BRASIL, 2000 A 2008
60
3,0
55
2,8
50
2,6
2,4
45
2,2
40
2,0
35
1,8
30
1,6
25
1,4
20
1,2
15
1,0
2000
2001
2002
2003
2004
branca
Fonte: SIM/SVS/MS
2005
2006
negra
2007
2008
TAXA DE HOMICÍDIOS NA FAIXA ETÁRIA DE 10 A 29 ANOS E RISCO
RELATIVO NO SEXO MASCULINO, SEGUNDO RAÇA/COR, BRASIL,
2000 A 2008
110
3,0
100
2,8
2,6
90
2,4
80
2,2
70
2,0
60
1,8
1,6
50
1,4
40
1,2
30
1,0
2000
2001
2002
2003
2004
branca
Fonte: SIM/SVS/MS
2005
2006
negra
2007
2008
TAXA DE HOMICÍDIOS NA FAIXA ETÁRIA DE 10 A 29 ANOS E
RISCO RELATIVO NO SEXO FEMININO, SEGUNDO RAÇA/COR,
BRASIL, 2000 A 2008
8,0
2,0
7,0
1,8
6,0
5,0
1,6
4,0
1,4
3,0
1,2
2,0
1,0
1,0
2000
2001
2002
2003
2004
branca
Fonte: SIM/SVS/MS
2005
2006
negra
2007
2008
Somos a
herança que
deixamos!
OBRIGADA!
Avenida Presidente Vargas nº 482,
sobreloja 203.
Centro. Rio de Janeiro.
20270-000
[email protected]
[email protected]
www.criola.org.br
Download

Saúde da População Negra