Profa. Angela C. L. B. Trindade Disciplina: Química Medicinal Farmacêutica Código: MB064 Departamento: Departamento de Farmácia Setor: Ciências da Saúde Natureza: OBRIGATÓRIA ( x ) SEMESTRAL ( x ) Créditos: 3 CHS: 4 h (Teóricas: 2 h + Prática: 2 h) Total: 60 h Pré-Requisitos: CQ-094 (Química Orgânica Fundamental) CQ-110 (Princípios de Físico-Química) CQ-111 (Físico-Química Experimental) Site: www.ufpr.br/~qmf Informações sobre a disciplina Cronograma prático e teórico (Resolução n° 57/14 -CEPE) Material adicional de estudo Ensalamento e horários: Aulas teóricas: Sala 08 - Segunda-feira, 14:30-16:30 Aulas práticas: Laboratório de Química Medicinal Farmacêutica – Prédio da Farmácia Laboratório de Informática do Setor de Ciências da Saúde – Sede Botânico Quarta-feira, 13:30-15:30 (Turma C) Quarta-feira, 15:30-17:30 (Turma E) Quinta-feira, 09:30-11:30 (Turma B) Quinta-feira, 15:30-17:30 (Turma A) Bibliografia: BARREIRO, E. J.; FRAGA, C. A. M. Química medicinal: as bases moleculares da ação dos fármacos. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. BEALE JR., J. M.; BLOCK, J. H. (ed.) Wilson and Gisvold’s textbook of organic medicinal and pharmaceutical chemistry. 12th ed. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins, 2011. 1010 p. LEMKE, T. L; WILLIAMS, D. A. et al (ed). Foye’s Principles of medicinal chemistry. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams e Wilkins, 2011. 1520 p. KOROLKOVAS, A.; BURCKHALTER, J. H. Química Farmacêutica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. 783 p. THOMAS, G. Química Medicinal: uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 413 p. ANDREI, C. C.; FERREIRA, D. T.; FACCIONE, M.; FARIA, T. J. Da química medicinal à química combinatória e modelagem molecular: um curso prático. Barueri: Editora Manole, 2a ed. 2012. 168 p. Frequência: CHT: 60 h – 30 aulas (teoria + prática). Máximo de faltas: 25% - 15 h - 8 aulas Acima de 8 faltas: REPROVADO POR FREQUÊNCIA Segunda chamada de avaliações: “Caso tenha faltado a uma avaliação, você tem a oportunidade de fazer outra. No entanto, você precisa de um motivo relevante que justifique nova avaliação (motivos que a UFPR considera relevantes: ver no Manual do Aluno 2014). É fundamental encaminhar sua solicitação em até cinco dias úteis, contados a partir do dia da avaliação perdida, ao departamento ou ao professor ao qual pertence a disciplina. Deve anexar documentos comprobatórios para justificar a solicitação de segunda chamada”. Nota semestral: Teórica: 1ª avaliação teórica: 23/03 - 15,0 pts 2ª avaliação teórica: 11/05 - 25,0 pts 3ª avaliação teórica: 22/06 - 25,0 pts Total = 65,0 pts Prática: 1ª avaliação teórico-prática: 01 e 02/04 - 10,0 pts 2ª avaliação teórico-prática: 17 e 18/06 - 10,0 pts Exercícios/EDs : Cada aula, todo o semestre - 15,0 pts Total = 35,0 pts Nota semestral: Nota Teórica + Nota Prática Exame final: 06/07 Química Medicinal • Química Medicinal + Química Farmacêutica “Química Medicinal Farmacêutica” = • Conceito (IUPAC): “é uma disciplina baseada na química, também envolvendo aspectos de ciências biológicas, médicas e farmacêuticas. Preocupa-se com a invenção, descobrimento, planejamento, identificação e preparação de compostos biologicamente ativos, a interpretação de seu modo de interação ao nível molecular, a construção das relações estrutura-atividade e o estudo de seu metabolismo.” (1996) É o campo das ciências farmacêuticas que aplica os princípios da química e da biologia à criação do conhecimento que conduz à introdução de novos agentes terapêuticos. Objetivo principal: descoberta de novos compostos que sejam adequados ao uso como fármacos. Interdisciplinar: Trabalho em equipe, envolvendo farmacêuticos, químicos, biólogos, farmacologistas, matemáticos, médicos, especialistas em informática dentre outros. Descoberta e uso de fármacos: Histórico • Antiguidade: uso de produtos naturais com objetivos medicinais, a partir de fontes animais, vegetais e minerais. Algumas vezes usados com propósitos religiosos, venenos de flechas ou cosméticos. Exemplos: ópio, beladona, curare, dedaleira etc. (pharmakon: venenos ou remédios). • Séc. XV: invenção da imprensa - permitiu a ampla publicação e circulação de herbários e farmacopéias, levando a um rápido aumento do conhecimento e uso (e abuso) das ervas e de outros remédios. • Séc. XIX: extração de substâncias puras de plantas. Final do séc. XIX: a busca por medicamentos menos tóxicos que aqueles de fontes naturais resultou na introdução de substâncias sintéticas como fármacos. Séc. XX: uso disseminado de substâncias sintéticas, análogas ou não de produtos naturais. Maior compreensão da química dos estados patológicos, das estruturas biológicas e dos processos: receptor, sítio ativo, ácidos nucléicos etc. Desenvolvimento de novas metodologias de descoberta de fármacos: modelagem molecular, química combinatória. Por que temos necessidade de descobrir novos fármacos? ◦ Para aperfeiçoar o tratamento de doenças existentes; ◦ Para tratamento de doenças recém-identificadas; ◦ Para combater resistência ao fármaco; ◦ Para produzir fármacos mais seguros: Redução ou eliminação dos efeitos colaterais indesejados. Etapas do desenvolvimento de um fármaco: 1 – Etapa do descobrimento: identificação e produção de novas substâncias bioativas, chamadas de precursores ou protótipos (lead compounds). 2 – Etapa de otimização: modificação sintética da estrutura do precursor para aumentar a potência, a seletividade e diminuir a toxicidade. 3 – Etapa de desenvolvimento: otimização da rota de síntese para produção em larga escala e modificação das propriedades farmacocinéticas e farmacêuticas das substâncias para resultar no seu adequado uso clínico. 4 – Etapa de testes pré-clínicos e clínicos: testes realizados com as preparações das substâncias para determinar o efeito farmacológico, a eficácia, a segurança, os efeitos colaterais e reações adversas, determinar a dosagem, aprovação dos órgãos competentes e monitoramento do fármaco a longo prazo. Triagem Clínica (1) Testes pré-clínicos Anos 3,5 População testada Estudos em laboratório e em animais Objetivo Verificar segurança e atividade biológica Quantidade de substâncias 5.000 compostos avaliados Triagem Clínica (2) Anos Fase I Fase II Fase III FDA 1 2 3 2,5 Popula- 20 a 80 100 a 300 1000 a 3000 ção voluntários pacientes pacientes testada sadios voluntários voluntários Verificar Avaliar a eficácia e Determinar eficácia e monitorar reações Objetivo segurança verificar efeitos adversas e dosagem colaterais devido a uso prolongado Quantidade de substâncias 5 Fase IV Total: 12 Revisão do processo Aprovação 1 aprov. Testes adicionais pós-comercialização, requeridos pelo FDA ◦ 1958: 310 substâncias sintetizadas e testadas → 1 em uso clínico (0,32%). ◦ Hoje: 5.000 substâncias sintetizadas e testadas → 1 novo fármaco no mercado (0,02%). ◦ Introduzir um fármaco novo no mercado é extremamente caro (~ 359 milhões de dólares para cada fármaco novo nos EUA). ◦ Duração (descoberta à produção industrial): 7 a 15 anos. Fontes de fármacos Principais fontes de fármacos ◦ 1. Fontes naturais (vegetais, animais, marinhas, microorganismos) ◦ Triagem aleatória ou empírica (sorte ou azar) ◦ Triagem direcionada ou de medicamentos caseiros regionais ◦ 2. Síntese química ◦ Síntese de moléculas novas ◦ Síntese de análogos de moléculas naturais ◦ Síntese de análogos de moléculas endógenas (transmissores fisiológicos) ◦ Modificações químicas de fármacos pré-existentes (semissíntese) 1. Fontes naturais ◦ A mais antiga fonte de medicamentos. ◦ Triagem aleatória ou empírica (sorte ou azar): Testa-se qualquer produto natural contra qualquer doença. ◦ Triagem direcionada de medicamentos caseiros regionais: uso de uma fonte natural usada como remédio popular ou observação de uma característica bioativa de uma determinada fonte. ◦ As substâncias isoladas de fontes naturais são usadas como protótipos para o desenvolvimento de novos fármacos. ◦ Quinina: antimalárico, isolado da casca de Cinchona officinalis H2C=HC N HO H3CO N Quinina ◦ Reserpina: serpentina antidepressivo, isolado da Rauwolfia ◦ Penicilina G: antibiótico, isolado de culturas de Penicillium notatum H N S O N O Penicilina COOH ◦ Micro-organismos: fonte de inúmeras substâncias antibióticas (penicilinas, cefalosporinas, cloranfenicol, tetraciclinas), antineoplásicas, imunossupressoras (ciclosporina A), antifúngicos (griseofulvina). ◦ Vantagem de serem facilmente coletados, transportados e cultivados. ◦ Fontes marinhas: importantes substâncias bioativas. fontes COOH OHO Me Me + N Ácido domóico Esponja Disidea avara Inibidor do HIV O H2N COOH Avarol de COOH N NH H HO O OH Tetrodotoxina H Alga Chondria armata Peixes da ordem Anti-helmíntico Tetraodontiformis Anestésico local CH2OH OH • Ex: plantas africanas resistentes ao ataque de fungos foram estudadas e levaram a novos compostos bioativos (paclitaxel: antitumoral). ◦ Pode levar a desequilibrio ecológico, se for feito de maneira extrativista, sem replantio. Paclitaxel (taxol) Taxus brevifolia Fármaco Planta, animal, microorganismo Isolado por Ano Morfina Papaver somniferum Sertürner 1805 Emetina Cephaelis ipecacuanha Pelletier e Magendie 1817 Quinina Cinchona pubescens Pelletier e Caventou 1820 Atropina Atropa belladonna Mein 1831 Papaverina Papaver somniferum Merck 1848 Cocaína Erytroxylum coca Wöhler 1859 Fisostigmina Physostigma venenosum Jobst e Hesse 1864 Pilocarpina Pilocarpus microphyllus Gerrard 1875 Escopolamina Hyoscyamus niger Ladenburg 1881 Efedrina Ephedra sp. Nagai 1885 Tubocurarina Chondrodendro tomentosum e Boehm Strychnos toxifera 1895 Epinefrina Glândulas suprarrenais 1901 Takamine Fármaco Planta, animal, microorganismo Isolado por Ano Ergotamina Claviceps purpurea Stoll 1918 Insulina Pâncreas Abel 1926 Penicilina Penicillium Fleming 1929 Ergometrina Claviceps Stoll e Burckhardt 1935 Link et al. 1941 Waksman et al. 1943 Dicumarol Estreptomicina Streptomyces griseus Cloranfenicol Streptomyces venezuelae Burkholder 1947 Reserpina Cinchona officinalis Müller et al. 1952 Prostaglandinas sêmen Bergström et al. 1962 Paclitaxel Taxus brevifolia Wall et al. 1967 Fosfomicina Streptomyces fradie Hendlin et al. 1969 Encefalinas cérebro Hughes et al. 1975 2. Síntese de fármacos ◦ Necessidade de fármacos menos tóxicos e/ou mais ativos do que os que ocorrem na natureza. CH3 N NH2 CO2CH3 O O Benzocaína O H O Cocaína NH2 O (C2H5)2N Procaína O ◦ Síntese de substâncias diversas para posterior teste de atividade biológica, sem se basear em produtos naturais. NH 2 Corantes azóicos diversos O N H2N S N O Prontosil Rubrum O H2N S O Sulfanilamida NH2 NH2 Fármacos semissintéticos ◦ Modificação química dos produtos vegetais, animais ou microbianos. H2N S H N N S O O COOH N ácido 6-aminopenicilânico O penicilina G COOH NH2 H N S O N O ampicilina COOH Contribuição das diversas fontes de fármacos no arsenal terapêutico nos anos de 1982 e 1990 Fontes 1982 1990 Naturais e semissintéticos 46% 21,5% Sintéticos 50% 78,5% Soros e vacinas 4% Conceitos básicos para o entendimento da Química Medicinal Farmacêutica Fases de ação dos fármacos DOSE ORAL FASE FARMACÊUTICA FASE FARMACOCINÉTICA Desintegração da forma farmacêutica Dissolução da substância ativa Absorção Distribuição Metabolismo Excreção FASE FARMACODINÂMICA Interação fármacoreceptor no tecido alvo EFEITO Fase Farmacêutica • Relacionada com a forma como o medicamento é administrado: formulação ou apresentação • Formulações: – Líquidas: soluções, suspensões e emulsões – Sólidas: comprimidos, pastilhas, cápsulas, supositórios, drágeas – Semissólidas: cremes, pomadas, géis • Formulações: princípio ativo + excipientes • As formulações podem influenciar a biodisponibilidade do princípio ativo • Biodisponibilidade: É a fração da dose do fármaco que é encontrada na circulação geral. É influenciada por fatores farmacêuticos e farmacocinéticos (ADME). • Fatores farmacêuticos que afetam a biodisponibilidade: – Relacionados ao princípio ativo: estrutura cristalina, presença ou não de água de cristalização, – Relacionados ao excipiente: interação do excipiente com o princípio ativo, retardando ou acelerando sua dissolução, – Relacionados ao processo de fabricação: pressão da máquina de comprimir, etc • Existência de métodos oficiais (farmacopéias) que auxiliam na fase farmacêutica: teste de desintegração, teste de dissolução • Fenitoína (anticonvulsivante) H N O N H O – Lactose usada como espessante: aumento rápido da absorção, atingindo doses tóxicas – Sulfato de cálcio como espessante: taxa de absorção baixa, não atingindo a dose terapêutica Vias de administração dos fármacos: • Fármacos de uso tópico • Fármacos de uso sistêmico: – Via entérica: oral, retal e sublingual – Via parenteral: intramuscular, intravenosa, subcutânea, sistemas de liberação transdérmicos, aerossóis nasais, inaladores VIA PARENTERAL Atividade biológica desejada Sítio receptor alvo VIA ENTÉRICA Absorção Distribuição Metabolismo Excreção Rim (urina) Intestino (fezes) Depósitos teciduais Pulmões (gases exalados) Sítio receptor não-alvo Efeitos colaterais indesejáveis Principais vias de administração de fármacos no corpo. Fase farmacocinética ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, METABOLISMO, EXCREÇÃO • Absorção: Passagem do fármaco do seu sítio de administração até o plasma. Envolve passagem através de membranas. • Membrana celular: bicamada lipídica que apresenta proteínas inseridas por toda as sua extensão. • Locais de passagem através de membranas: – – – – Trato gastrointestinal (principal) Trato respiratório Paredes vasculares Barreira hematoencefálica ◦ Trato gastrointestinal: esôfago estômago intestino delgado intestino grosso • Tipos de transporte de fármacos através de membranas – 1 - Transporte ativo ou mediado: • Membranas têm papel especializado, transportando a substância com gasto de energia. • Semelhanças estruturais entre o fármaco e o substrato normalmente transportado através da membrana. • O transporte do fármaco pode ocorrer contra um gradiente de concentração. • O mecanismo de transporte pode tornar-se saturado em altas concentrações do fármaco. Vel. absorção Conc. no sítio de ação • Um aumento da concentração não irá resultar necessariamente em aumento da velocidade de absorção. • Podem ocorrer competições na presença de compostos estruturalmente similares. • Ex: aminoácidos (fenilalanina, tirosina), metildopa, 5fluorouracila, penicilina G e levodopa – 2 – Difusão passiva: • É determinada pela tendência das moléculas se moverem de um compartimento de maior concentração para outro de menor concentração para que se atinja um equilíbrio. • Neste caso, o aumento da absorção é proporcional ao aumento da dose. Vel. absorção Conc. no sítio de ação • Não existe um transportador específico. • Fatores relacionados ao fármaco que afetam o transporte passivo: – lipofilia da molécula, dada pela seu coeficiente de partição o/a. – grau de ionização. Compostos menos ionizados são mais absorvidos. Transporte passivo: – 3 – Outros tipos: • Absorção convectiva: compostos extremamente pequenos, menores que 4 Å de raio, passando pelos poros de água • Absorção por par iônico: sais de amônio quaternário • Endocitose: moléculas grandes • Distribuição: É o transporte do fármaco de seu ponto inicial de administração ou de absorção até seu local de ação. – Principal via de distribuição: sistema circulatório. – Fármaco na forma livre ou ligados a proteínas plasmáticas (geralmente reversível) – Fatores importantes: solubilidade do fármaco no sangue e estabilidade frente ao ambiente biológico sanguíneo (presença de enzimas) • Metabolismo: É a biotransformação do fármaco em outros compostos (metabólitos). – Metabólitos mais hidrossolúveis, visando excreção urinária. – Locais de metabolismo: • Fígado, sangue, cérebro, rins, pulmões • Eliminação: É a remoção irreversível da forma ativa do fármaco do corpo por meio da degradação metabólica e de todas as formas de excreção. – Vias de excreção: • Rins (urina), intestino (fezes), exalação, sudorese, aleitamento Fase farmacodinâmica • É a maneira pela qual acontece a interação fármaco-sítio alvo (receptor, enzima) e o resultado da interação, como o fármaco influencia o corpo, o efeito biológico esperado. • Está relacionado com a estrutura química e aspectos eletrônicos do fármaco, devendo estes serem complementares à estrutura do sítio alvo. Interação entre bloqueadores beta-adrenérgicos e receptor beta no miocárdio Interação entre receptor adrenérgico e epinefrina (adrenalina)