MORTE ENCEFÁLICA e DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Priscila Mimary - R2CM [email protected] MORTE ENCEFÁLICA • Ocorre quando o dano encefálico é tão extenso que não há potencial para recuperação estrutural e funcional do encéfalo e o mesmo não pode manter a homeostase interna (funções cardiovasculares, respiratórias, gatrintestinais e o controle da temperatura corpórea). • O que separa o estado de coma do diagnóstico de ME é a irreversibilidade do último, com repercussões sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais. Andrade. Rev Med 2007, 123-131. A parada total e irreversível das funções encefálicas equivale à morte, conforme critérios já bem estabelecidos pela comunidade científica mundial Resolução CFM 1.480/97 MORTE ENCEFÁLICA COMUNICAÇÃO OBRIGATÓRIA Lei 9.434/97 Art. 13 É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde, notificar, às CNCDO’s da Unidade Federada onde ocorrer, o diagnóstico de ME feito em pacientes por eles atendidos. MORTE ENCEFÁLICA Resolução CFM 1.826/2007 • • • Dispõe sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando da determinação de morte encefálica de indivíduo não-doador. Art. 1º É legal e ética a suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando determinado a morte encefálica em não-doador de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto na Resolução CFM 1.480/97. Art. 2º A data e hora registradas na Declaração de Óbito serão as mesmas da determinação de morte encefálica. MORTE ENCEFÁLICA Resolução CFM 1.826/2007 • Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis (conforme faixas etárias) • Art. 3º. A morte encefálica deverá ser conseqüência de processo irreversível e de causa conhecida. • Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem observados para constatação de morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-espinal e apnéia. • Art. 5º. Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas necessárias para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária: 7d a 2m – 48h / 2m a 1a – 24h / 1 a 2a – 12h / >2a – 6h • • Art. 6º. Os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma inequívoca: – ausência de atividade elétrica OU metabólica OU de perfusão sangüínea cerebral. MORTE ENCEFÁLICA PRÉ - REQUISITOS PARA DIAGNÓSTICO MORTE ENCEFÁLICA (CFM) COMA DE ETIOLOGIA CONHECIDA: Trauma, AVC, neo (Pcte c/ TC crânio). COMA APERCEPTIVO: Sem resposta das funções cerebrais aos estímulos • dolorosos de caráter irreversível. COMA ARREATIVO: Sem qqr tipo de resposta motora ou neurovegetativa • aos estímulos dolorosos. MORTE ENCEFÁLICA SEMPRE DESCARTAR: Hipotermia corpórea leve a grave; Uso drogas depressoras do SNC: BZD, Bloqueadores neuromusculares, Hipnóticos, Barbitúricos, álcool, cocaína, crack.... MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Pressão: – – – nervo supra-orbital têmporo-mandibular Ungueal. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão nervo supra-orbital e região têmporomandibular e leito ungueal. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão no nervo supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médiofixas) • • • • • Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão no nervo supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS TESTE CALÓRICO Elevar cabeça 300 Irrigar tímpamo c/ 50ml água gelada OBS > 1 min Irrigar outro lado após 5 min Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão no nervo supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão no nervo supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos (normal : “olhar de boneca”) Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS Ausência de atividade motora supra-espinal: • Durante pressão no nervo supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. Ausência dos reflexos tronco cerebral: • • • • • • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) Reflexos córneo-palpebrais Reflexos vestíbulo-oculares Reflexos óculo-cefálicos Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível SEM ALTERAR FC (DESTRUIÇÃO PARASSIMPÁTICA) MORTE ENCEFÁLICA REFLEXOS No coma, o nível sensorial de estímulo para a respiração é alto, necessita da Ausência de atividade motora supra-espinal: pCO2 de até pressão 55 mmHg, vários minutos) • Durante no(pode nervo levar supra-orbital e compressa têmporo-mandibular. A prova da apnéia é realizada de acordo com o seguinte protocolo: Ausência dos reflexos tronco cerebral: - Ventilar o paciente com 02 de 100% por 10 min. • Resposta a luz e tamanho das pupilas (midríase fixa ou médio-fixas) - Desconectar o ventilador. • Reflexos córneo-palpebrais - Instalar catéter traqueal de O2 com fluxo de 6L/min. • Reflexos vestíbulo-oculares - Observar se aparecem movimentos por 10 minutos ou até quando pCO2 =55 • Reflexos óculo-cefálicos mmHg. • • Reflexos tosse e nauseoso Ausência respiração espontânea: apnéia irreversível – Sinal clínico e mais constante, importante e significativo, no diagnóstico encefálica. de morte MORTE ENCEFÁLICA REATIVIDADE INFRAESPINAL X FAMÍLIA “SINAIS DE LÁZARO” Morte Encefálica arreatividade supraespinal. Não afasta este diagnóstico a presença de sinais de reatividade infraespinal (atividade reflexa medular) reflexos osteotendinosos ("reflexos profundos"), Cutâneo-abdominais, cutâneo-plantar em flexão ou extensão, cremastérico superficial ou profundo, ereção peniana reflexa, arrepio, reflexos flexores de retirada dos membros inferiores ou superiores, reflexo tônico cervical. MORTE ENCEFÁLICA EXAMES COMPLEMENTARES EEG: • Ausência de atividade elétrica cerebral; POTENCIAL EVOCADO MULTIMODAL (Os potenciais evocados são obtidos através do registro e promediação das respostas aos estímulos sensoriais captados na superfície do crânio): • Ausência de atividade elétrica no tronco cerebral; TC COM EMISSÃO FÓTON (SPECT – calcula conc de radio-nuclídeos introduzidos): • Ausência de atividade metabólica encefálica; CINTILOGRAFIA RADIOISOTÓPICA, DOPPLER TRANSCRANIANO, ANGIOGRAFIA DO SISTEMA CAROTÍDEO E VÉRTEBRO-BASILAR: • Ausência de perfusão sanguínea encefálica; DOAÇÃO DE ÓRGÃOS DOAÇÃO DE ÓRGÃOS LEGISLAÇÕES DOAÇÃO PRESUMIDA 1997 1997 Lei 9.434 - Remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento Decreto 2.268 - Cria o SNT e CNCDO Resolução CFM 1.480 - Define ME DOAÇÃO CONSENTIDA 1994 2001 Lei Municipal 11.479 – Isenção do funeral Lei 10.211 – A Doação é Responsabilidade da Família DOAÇÃO DE ÓRGÃOS PRINCIPAIS MOTIVOS DE RECUSA FAMILIAR • Não compreensão do diagn e crença na reversão do quadro Espera um milagre • Desconfiança na assistência e medo do comércio de órgãos • O desejo do paciente em vida, de não ser um doador • A crença religiosa • O medo da reação da família • A não aceitação da manipulação do corpo • O medo da perda do ente querido DOAÇÃO DE ÓRGÃOS RELIGIÃO E TRANSPLANTE • Todas as religiões encorajam preservação da vida e ato caridoso de amor ao próximo. • É uma decisão individual. • Testemunhas de Jeová, doação de órgãos e tecidos "limpas" de sangue é permitida. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS -Tipos Doadores vivos – Órgãos duplos: rim, pulmão, fígado e MO – Toda pessoa que tiver parentesco consangüíneo de até 3º grau (pais, irmãos, filhos, avós e tios – Pessoas não parentes, porém com ordem judicial – Cônjuge: comprovar relação. – Pessoas compatíveis com boas condições de saúde Doadores não-vivos – Após constatação de morte encefálica – Rins, Pulmões, Coração, Válvulas cardíacas, Fígado, Pâncreas, Córneas, Ossos, Cartilagem, Tendão, Veias, Pele DOAÇÃO DE ÓRGÃOS CONTRA-INDICAÇÕES ABSOLUTAS Infecção não controlada. Anti - HIV (+). HTLV 1 e 2 (+). Neoplasia maligna, exceto: tumor primitivo do SNC cacinoma basocelular carcinoma “in situ”do útero Doenças que comprometeram o órgão Pessoas sem documento de identidade e < 21 anos sem a expressa autorização dos responsáveis Dano estrutural irreversível de algum órgão, não contra-indica a doação dos demais órgãos. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Organização do sistema de captação de órgãos Sistema Nacional de Transplante (SNT) ↓ Central de notificação, captação e distribuição de órgãos (CNCDO) ↓ Organização de procura de órgãos (OPO) ↓ Hospitais notificadores Divisão das Organizações de Procura de Órgãos (O.P.O) SANTA HC CASA Regional I Capital São Paulo DANTE ABTO HSP DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Lista Única de Espera • Portaria N.º 3.407 de 05 de agosto de 1998, o sistema de lista única é constituído por um conjunto de critérios específicos de distribuição para cada tipo de órgão ou tecido, selecionando, assim, o receptor adequado. • Criada pelo Sistema Nacional de Transplantes supervisionado pelo Ministério da Saúde. (SNT) e é DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Lista Única de Espera São Paulo (50% dos Tx do Brasil) Nº pessoas Espera Rim 9.162 31m Córneas 2.585 9m Fígado 3.655 22m Pâncreas/rim 337 2m Coração 104 4m Pâncreas 37 12m Pulmão 58 6m TOTAL 15.938 FONTE: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos de São Paulo - 2007 DOAÇÃO DE ÓRGÃOS 1. DETECÇÃO POTENCIAL DOADOR 2. AVALIAÇÃO 3. MANUTENÇÃO 4. DIAGNÓSTICO MORTE ENCEFÁLICA 5. CONSENTIMENTO FAMILIAR 6. DOCUMENTAÇÃO MORTE ENCEFÁLICA 7. REMOÇÃO ÓRGÃOS E TECIDOS 8. DISTRIBUIÇÃO 9. TX 10. ACOMPANHAMENTO DOAÇÃO DE ÓRGÃOS AVALIAÇÃO LABORATORIAL • • • • • • • • Estudo hematológico Estudo da coagulação Perfil renal Perfil hepático Perfil pancreático Perfil cardíaco Perfil pulmonar Estudo sorológico: HIV, Hep Be C HTLV 1 e 2, CMV, Chagas, Toxo e Lues DOAÇÃO DE ÓRGÃOS MANUTENÇÃO NA UTI • • • • • • • • • Acesso venoso central para infusão de drogas e líquidos, além de mensuração da pressão venosa central (PVC), para manutenção hemodinâmica; Monitorização contínua da freqüência cardíaca, oximetria de pulso, pressão arterial não-invasiva, para manutenção hemodinâmica e suporte ventilatório; Sondagem vesical de demora para o controle da diurese; Sondagem gástrica com manutenção da dieta enteral, suspender e abrir para transporte e horas antes da cirurgia para retirada dos órgãos; Controle da temperatura; Higiene corporal; Aspiração do tubo endotraqueal e das vias aéreas superiores, para suporte ventilatório; Manter olhos fechados com gaze umedecida trocada a cada 2 horas, para viabilização da doação de córneas; Monitorização da gasometria, sódio, potássio e glicose a intervalos de 4 a 12 horas para correção dos distúrbios ácido-básicos, hidro-eletrolíticos e metabólicos, além de adequar o suporte ventilatório. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS MANUTENÇÃO NA UTI Objetivo: conservar a função dos órgãos para transplante • Ventilação mecânica; – – – – – – – • Controle choque / hipovolemia – – – • Volume corrente entre 8 e 12 ml/kg de peso; FiO2 < 50%, maior se necessário; PaO2 >ou igual 80 mmHg; SatO2 > 95%; PaCO2 entre 35 e 45 mmHg, PEEP só se necessário ou até 5 cm H2O pH de 7,35 a 7,45 PAM > 80mmHg ou PAS>100 Causas: Hemorragia pós-trauma, poliúria decorrente do diabetes insipidus, efeito residual de diuréticos e diurese osmótica secundária a hiperglicemia TTO: hidratação (PVC), s/n drogas de preferência dopamina, ou s/n noradrenalina Controle da hipotermia (aquecedor e fluidos); – Alteração hipotalâmica – Vasoconstrição arterial, arritmias cardíacas, diminuição da ligação do oxigênio com a hemoglobina DOAÇÃO DE ÓRGÃOS MANUTENÇÃO NA UTI Objetivo: conservar a função dos órgãos para transplante • Correção de desequilíbrio eletrolítico e ácido-básico (Na ↑, K↓, hiperglicemia) – – – • Glicemia entre 100-200 mg/dL Se entre 80-120mg/dL, associar soro glicosado e Manter nutrição por dieta enteral Diabetes insipidus – Densidade urinária <1005 e diurese > 300 ml/h ou 4 ml/kg/h (em adulto e criança) e Na elevado: • • Reposição com solução de cloreto de sódio a 0,45%, soro glicosado a 5% e água livre via SNG em igual volume de urina perdido por hora Tratamento de infecções – – – infecção no doador não representa uma contra-indicação antibióticos de largo espectro Na ausência de infecções, é recomendável o uso de antibióticos profiláticos, como cefalosporinas, • Coagulopatia • Edema pulmonar neurogênico • SIADH DOAÇÃO DE ÓRGÃOS MANUTENÇÃO – REGRA DOS 100 • • • • PAM > 100mmHg PaO2 > 100mmHg Glicemia > 100g/l Diurese > 100ml/h DOAÇÃO DE ÓRGÃOS