Cultura escrita impressa e cultura escrita digital: a perspectiva de crianças de camadas médias Mônica Daisy Vieira Araújo Isabel Cristina Alves da Silva Frade Disciplina: Linguagem e Tecnologia Professora: Carla Viana Coscarelli I. Dados da pesquisa A pesquisa foi realizada com crianças do Ensino Fundamental – 2º ao 5º ano, estudantes de uma escola privada da cidade de Belo Horizonte, situada em bairro da Zona Sul. A clientela é da camada média. Os alunos têm aula de informática na estrutura curricular. Participaram da pesquisa 2 alunos de cada série/ano. Os procedimentos utilizados na pesquisa – observação, anotação no caderno de campo, entrevistas com crianças, suas mães e professoras. 2. Mudanças na cultura escrita: uma perspectiva histórica Invenção do alfabeto grego – letras que representam sons Maiores possibilidades de aprender e acesso a textos que eram difundidos oralmente Cultura do manuscrito Documentação dos textos – custo elevado para fazer cópias Invenção da imprensa – Século XV Revolução na cultura escrita - ampliação do contato da população com o texto impresso, alterações significativas no modo de leitura Século XXI – mídias digitais Novo suporte de leitura – animações, imagens estáticas e em movimento, ícones, hiperlinks, barras de rolamento, sons, gráficos, etc. Novas práticas de leitura, novos gestos, novos hábitos incorporados à vida cotidiana Hipertexto digital x texto impresso • dificuldade de leitura x facilidade de leitura • leitura linear ou leitura não-linear Para Soares (2002, p.150), “o texto no papel é escrito e é lido linearmente, sequencialmente – da esquerda para a direita, de cima para baixo, uma página após a outra; o texto na tela – o hipertexto – é escrito e lido de forma multilinear, multisequencial acionando-se links ou nós que vão trazendo telas numa multiplicidade de possibilidades sem que haja uma ordem pré-definida.”. Chartier (2002, p.31) define o texto eletrônico, conforme termo usado pelo autor, como um texto móvel, aberto e maleável que possibilita “uma leitura descontínua, segmentada, fragmentada [...]”. Coscarelli (2004, p.1) defende que “a idéia de que não há muita novidade na leitura de hipertextos digitais se sustenta em dois pilares: um deles é o de que não há textos lineares; o outro é o de que não há leitura linear” Gestos e comportamentos de leitura e escrita Do livro à tela • Escrever enquanto se lê • Folhear uma obra • Encontrar um dado trecho Do rolo ao livro • mover a barra de rolagem • ligar e desligar o computador para acessar o texto que se deseja ler • escrever digitando no teclado • cortar um trecho que não deseja mais e colar um outro Ribeiro (2003, p.7) afirma que “um novo suporte de escrita e leitura surge com a leitura em tela e o leitor se vê, novamente, às voltas com a construção da história de uma nova prática de leitura e com uma nova relação entre o corpo e o objeto” Frade (2005, p.67) afirma que “[...] para cada alteração nas tecnologias de escrita, deveríamos pensar em novos gestos e possibilidades cognitivas [...]”. 3. Alfabetização e Letramento Digital • Alfabetização digital – aprendizagem relacionadas ao uso do artefato (manuseio do mouse, funcionamento do teclado, códigos para inicialização, gravação e término da tarefa, ligar a máquina, dentre outros. • Analfabetismo digital - [...] o termo analfabetismo digital, poderia ser utilizado para já alfabetizados que não alcançaram o domínio dos códigos que permitem acessar a máquina, manuseá-la e que, portanto, não podem utilizar seus comandos para práticas efetivas de digitação de texto, leitura e produção de mensagens para efeitos de interação à distância ou para uma leitura de informação ou mesmo de leitura e escrita de outras linguagens (visuais, por exemplo). Frade (2005, p.74) 3. Alfabetização e Letramento Digital Soares (2002, p.151) afirma que “as mudanças referentes aos processos cognitivos envolvidos na escrita e na leitura de hipertextos configuram um letramento digital, isto é, um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e escrita na tela diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel” 4. Resultados da pesquisa • o processo de apropriação da cultura escrita digital pelas crianças pesquisadas ocorreu de modo paralelo à alfabetização no impresso; • a alfabetização audiovisual é condição importante para alfabetização digital das crianças; • vivências familiares com outras linguagens contribuíram para a inserção no mundo das tecnologias digitais - vídeo games, brinquedos eletrônicos, play station, CD Rom de jogos e outros artefatos. • o modo de leitura na tela ou no impresso depende mais do gênero e dos propósitos do leitor do que do suporte. • a leitura como fonte de informação é mais frequentemente realizada no computador enquanto a leitura literária é realizada nos livros. • a leitura de hipertextos digitais pode ser feita de forma não linear, pulando parágrafos, páginas, capítulos enquanto a leitura no impresso é feita na íntegra e de forma linear. • diferentes contratos de leitura na tela e no impresso. • escolarização da leitura – ensina-se um único modo de ler (linearidade) • a grande maioria das crianças não gosta de fazer leitura na Internet, preferindo os livros e os suportes impressos. 4. Resultados da pesquisa • mudanças nos gestos e comportamentos do leitor – fechar o livro x desligar o computador; levar o livro para qualquer lugar x ler na máquina; passar muitas páginas para encontrar o que procura x usar a barra de rolagem; ler em qualquer posição sentado ou deitado x ler de frente pra tela. • tanto as apropriações da cultura escrita impressa, quanto as da cultura digital ocorrem de forma complexa. • as práticas domésticas e escolares podem ser bem distintas: é que são dois espaços regulados por funções educativas que se entrecruzam, mas que mantêm, ao mesmo tempo, um nível de diferenciação que permite leituras e escritas diversas.