Narrativa da Presença
Grupo “presença”: características gerais
 revista:
1927 – 1940, Coimbra (José Régio, João Gaspar Simões,
Branquinho da Fonseca, a partir de 1931 Adolfo Casais Monteiro director)
 “segundo modernismo” (Eugénio Lisboa) x “contra-revolução” (Eduardo
Lourenço)
 defesa dos valores estéticos , crítica da literatura empenhada
 influências:
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mestre do século XIX: Dostoievski
Freud, Bergson: introspecção, subjectivismo, intuicionismo (primazia à intuição sobre a
razão), psicanálise (Ego, Superego, Id - eu convencional x eu profundo)
Nouvelle Revue Française (André Gide, Paul Valéry, Jean Cocteau, Marcel Proust, Paul
Claudel etc. ) – entendida por presença como um livre agrupamento de amigos sem nada
de doutrinário – analogia
 contribuição da presença:
 reconhecimento e consolidação do grupo Orpheu – actividade crítica e pedagógica
 inclusão de um vasto espectro de preocupações e realizações (poesia, narrativa, teatro,
crítica literária, artigos sobre cinema, artes plásticas, música, filosofia), intervenção
cultural (exposições, concertos, conferências etc.)
J. Régio: Literatura Viva (1927)
 indicação das linhas orientadoras da revista:
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“Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte
mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística.
A primeira condição duma obra viva é pois ter uma personalidade e obedecer-lhe.
Ora como o que personaliza um artista é, ao menos superficialmente, o que o
diferencia dos mais, (artistas ou não) certa sinonímia nasceu entre o adjectivo
original e muitos outros, ao menos superficialmente aparentados, por exemplo: o
adjectivo excêntrico, estranho, extravagante, bizarro... Eis como é falsa toda a
originalidade calculada e astuciosa. Eis como também pertence à literatura morta
aquela em que um autor pretende ser original sem personalidade própria.”
ligação de dois conceitos: originalidade e sinceridade, recusa da retórica (do fazer
literatura, do estilo em vez da personalidade), uma obra é um documento humano
J. Régio: Literatura Livresca e Literatura Viva (1928)
 complementação do ideário presencista:
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“As obras de Arte mais completas podem ser, mesmo, aquelas em que mais
complexamente se agitam todas as preocupações de que o homem é vítima...E a
paixão política, a paixão patriótica, a paixão religiosa, como a paixão por uma
ideia ou por um ser humano – podem inspirar grandes e puras Obras de Arte. Mas
... entendamo-nos: O que então inspira a Obra de Arte – é a paixão, e uma paixão
considerada infamante ou uma paixão considerada nobre – podem da mesma
forma inspirar Obras elevadas sob o ponto de vista que nos interessa: estético. O
ideal do Artista nada tem com o do moralista, do patriota, do crente, ou do
cidadão”.
uma literatura viva nada exclui do que ao homem diz respeito: visa a
complexidade infinita do homem, apelo à independência da arte: ausência de
fronteiras
presença x neo-realismo (polémica 1937-1939)
 1937 (Sol Nascente): primeiro ataque à poesia de J. Régio acusada de um
mero onanismo psíquico (“as baixezas e heroísmos banais do seu eu
enorme”) – Régio defende-se: não pretende sujeitar-se a preconceitos,
dogmatismos e fanatismos
 1938 Régio: António Botto e o Amor (o 1º cap. Arte pura e arte social) –
reacção: o erro é considerar a distinção entre “artistas” e “sociólogos”
 1939
A. Cunhal: Numa Encruzilhada dos Homens (teoria do
“umbilicalismo”: a partir de um verso de Régio “concentro os olhos sobre o
umbigo”, tomada como uma posição política e social da presença:
apoliticismo, conservadorismo, horror pelas transformações sociais, crença
na reforma moral do Homem desde dentro
representantes da narrativa
 José Régio, Branquinho da Fonseca (dissidente), Miguel
Torga (dissidente)
 João Gaspar Simões: crítico e romancista (Elói ou Romance numa
Cabeça, 1932: romance introspectivo – 24 horas na vida de um
homem ciumento
 José Marmelo e Silva: romancista, dedicado à problemática da
adolescência com profundidade psicológica (Sedução, 1937 – sobre
um jovem livre de preconceitos no que respeita à vida sexual)
José Régio (1901 – 1969)
pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira
 Coimbra: curso de letras, grupo Presença, professor liceal em Portalegre
 poesia (Poemas de Deus e do Diabo, 1925, Biografia, 1929, Encruzilhadas de Deus, 1936
etc.)
 teatro (Benilde ou a Virgem-Mãe, 1947 etc.)

narrativa:
 O Jogo da Cabra-Cega (1934) – romance confessional (de aprendizagem, de formação de
artista) em que se projectam várias obsessões detectadas também na poesia: o conflito
interior entre o humano e o divino, o bem e o mal, a carne e o espírito. Neste
romance situado numa cidade de província, de atmosfera nocturna (infl. Brandão), o
protagonista Pedro Serra desdobra a sua personalidade num alter ego, Jaime Franco,
espelho demoníaco de si mesmo (exploração do tema “programático”: a “terrível face” do
eu como “expressão do humano”). O elemento de ligação de dois homens é assegurado
por uma mulher (uma prostituta – amante de Franco ou seu desdobramento?). Comp.
Confissão de Lúcio.

Histórias de Mulheres (1946)
 A Velha Casa (1945 – 1966) – ciclo romanesco

Branquinho da Fonseca (1905 – 1974)
licenciado em Direito (Coimbra – círculo dos presencistas, juntamento com Régio e
Gaspar Simões fundou, editou e dirigiu a revista Presença, da qual se desliga em
1930)
 inicialmente utilizou o pseudónimo de António Madeira
 poesia, drama, ficção


O Barão (1942) – novela, herdeira da melhor prosa de Raul Brandão, confronto do
sonho e realidade, atmosfera de mistério, alcance do mito

Rio Turvo (1945)
Miguel Torga (1907 – 1995)
 pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha
 nascido em Trás-os-Montes (região muitas vezes aludida ou directamente

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referida ana sua obra), algum tempo passado no Brasil, após o regresso
formado em Medicina
inserido no meio literário de Coimbra (Presença - desliga-se em 1930)
poesia (p.ex. Orfeu Rebelde, 1958, Poemas Ibéricos, 1965), temas: polémica
com a religião, humanismo e telurismo, reflexão sobre o acto criativo,
intervenção cívica – luta contra a repressão)
diários (16 vol, editados a partir de 1941-1994, tipo de memorialismo que
inclui outros géneros – poesia, narrativa, reflexão: mais subjectivo e
pessoal, melhor trabalho com as imagens e o ritmo)
narrativa:
Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), Novos Contos da
Montanha (1944), A Criação do Mundo (6 vol., 1931 – 1981)
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