O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?
DADOS BIBLIOGRÁFICOS
• Autor: Fernando Gabeira
• Escola Literária: Lit. Contemporânea
• Ano de Publicação: 1979
• Gênero: Texto memorialístico
• Narração: 1.ª pessoa
• Divisão da Obra: 16 capítulos
• Local: Rio de Janeiro/ São Paulo
O AUTOR
Fernando Gabeira (1941)
Fernando Paulo Nagle Gabeira nasceu em Juiz de
Fora - MG em 1941.
Escritor, jornalista e político. Muda-se para o Rio de
Janeiro em 1963 e no ano seguinte começa a
trabalhar como redator no Jornal do Brasil, onde
permanece até 1968. Nesse ano, entra para a
clandestinidade e ingressa na luta armada contra a
ditadura militar, como integrante do Movimento
Revolucionário 8 de Outubro - MR-8.
O AUTOR
• Em 1969, participa do sequestro do embaixador norte-americano
Charles Elbrick - na operação é baleado e preso, sendo mais tarde
exilado, numa troca de presos políticos pela liberdade do
embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, também sequestrado
pela guerrilha.
• Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e Itália. Com a Lei de
Anistia, volta ao Brasil, em 1979, e publica O que é isso,
Companheiro?, relato de seus anos de clandestinidade e guerrilha.
• Militando em causas ecológicas e pacifistas, funda, com artistas e
intelectuais, o Partido Verde - PV e candidata-se, sem sucesso, a
governador do Rio de Janeiro, em 1986, e àPresidência da
República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se deputado federal,
reeleito sucessivamente desde então. Sua obra, de engajamento
político, constrói as primeiras análises críticas da luta armada e
discute temas como as liberdades individuais e ecologia.
O AUTOR
• Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e
Itália. Com a Lei de Anistia, volta ao Brasil, em
1979, e publica O que é isso, Companheiro?,
relato de seus anos de clandestinidade e
guerrilha.
O AUTOR
• Militando em causas ecológicas e pacifistas,
funda, com artistas e intelectuais, o Partido Verde
- PV e candidata-se, sem sucesso, a governador
do Rio de Janeiro, em 1986, e à Presidência da
República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se
deputado federal, reeleito sucessivamente desde
então. Sua obra, de engajamento político,
constrói as primeiras análises críticas da luta
armada e discute temas como as liberdades
individuais e ecologia.
Bibliografia
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
O que é isso, companheiro? (1979);
O crepúsculo do macho (1980);
Entradas e bandeiras (1981);
Hóspede da Utopia (1981);
Sinais de Vida no Planeta Minas (1982);
Nós que amávamos tanto a Revolução (1985);
Vida Alternativa - Uma revolução do dia a dia (1985);
Diário da Salvação do Mundo (1987);
Goiânia, rua 57 - o nuclear na terra do sol (1987);
Crônicas de Fim de Século (1994); A Maconha (2000);
Navegação na Neblina (2006);
Está tudo aquilo agora (2012).
A ESCOLA LITERÁRIA: LITERATURA
CONTEMPORÂNEA
• (http://www.mundovestibular.com.br/articles/4452/1/LITERA
TURA-CONTEMPORANEA/Paacutegina1.html)
• Tratando-se especificamente da Literatura, o
Professor Proença aponta as seguintes
características dessa arte, neste período:
A ESCOLA LITERÁRIA
a) Ludismo na criação da obra, desembocando
frequentemente na paródia ou pastiche(cópia
ou colagem, montagem a partir de um original).
Ex: as sucessivas imitações do famoso poema de
Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra
tem palmeiras onde canta o sabiá...").
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60
b) Intertextualidade, característica da
qual os textos de Drummond como "A
um bruxo com amor" (retomando M.
de Assis); "Todo Mundo e Ninguém"
(retomando o auto da Lusitânia, de Gil
Vicente) são belos exemplos.
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60
c) Fragmentação textual: "associação
de fragmentos de textos colocados em
sequência, sem qualquer
relacionamento explícito entre a
significação de ambos", como em uma
montagem cinematográfica.
Literatura Contemporânea - a
partir da década de 60: POESIA
• Nesta há duas constantes:
a) Uma reflexão cada vez mais acurada e
crítica sobre a realidade e a busca de novas
formas de expressão; mantêm nomes
consagrados como João Cabral, Mário
Quintana, Drummond no painel da literatura.
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60: POESIA
• b) Afirmação de grupos que usavam técnicas
inovadoras como: sonoridade das palavras,
recursos gráficos, aproveitamento visual da
página em branco, recortes, montagens e
colagens.
• As principais vanguardas poéticas prendem-se
aos grupos: Concretismo, Poema-Processo,
Poesia-Social, Tropicalismo; Poesia-Social e
Poesia-Marginal.
Literatura Contemporânea - a partir da década
de 60: Romance urbano - social
• Documenta os grandes centros urbanos com seus
problemas específicos : a burguesia e o
proletariado em constante luta pela ascensão
social, luta de classes, violência urbana, solidão,
angústia e marginalização.
• Exs: José Condé (Um Ramo para Luísa),Carlos
Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira
(Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo
Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60: Romance político
• A censura calou, durante um tempo, as vozes
dos meios de comunicação de massa fazendo
com que o romance passasse a suprir essa
lacuna, registrando o dia-a-dia da história,
fazendo surgir novas modalidades de prosa:
• a) paródia histórica;
• b) o romance reportagem;
• c) o romance policial; e
• d) o romance histórico.
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60: Romance político
• a) paródia histórica.
• Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre),
Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo
Ribeiro (Sargento Getúlio).
• b) o romance reportagem, com emprego de linguagem
jornalística e enredos com relatos de torturas, como
veículo de denúncia e protesto contra a opressão.
Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País
Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile),
Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem
Fonseca (O Caso Morel).
Literatura Contemporânea - a partir da década
de 60: Romance político
• c) o romance policial, com aspectos
urbanos e políticos aparece na ficção de
Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e
de Rubem Fonseca. Este último,
considerado o melhor nesse gênero,
escreveu "A Grande Arte", "Bufo &
Spallanzani" ,"Vastas Emoções e
Pensamentos Imperfeitos“ dentre outros.
Literatura Contemporânea - a partir da década
de 60: Romance político
• d) o romance histórico, que consegue fundir
narrativa policial, fatos políticos e abordagem
histórica tem grandes representantes como a obra
"Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os
acontecimento políticos que levaram Getúlio Vargas
ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que
retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos
políticos e amorosos de Gregório de Matos;
Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga",
a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue
aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio.
Literatura Contemporânea - a partir da
década de 60:
• No Realismo Fantástico e no Surrealismo
alguns escritores constroem metáforas que
representam a situação do Brasil utilizando
situações absurdas e assustadoras.
O que é isso, companheiro?
OS PERSONAGENS
 Gabeira - Militante do Movimento Revolucionário 08
de Outubro (MR-8), o qual buscava instaurar o
socialismo no Brasil.
 Trabalhava no Jornal do Brasil e em outro jornal
clandestino, denominado Panfleto.
 Participa do sequestro do embaixador estadunidense,
Charles Elbrick, em 1969.
 É preso, torturado e exilado.
 Em 1970, é libertado, junto com 39 presos políticos
(fora trocado pela libertação do embaixador alemão
Ehrenfried von Hoileben, sequestrado pelos militantes)
e é exilado na Argélia.
CICLOS POLÍTICOS DO REGIME
DITATORIAL-MILITARhttp://br.monografias.com/trabalhos914/golpe-regime-variaveis/golpe-regime-variaveis2.shtml
Ciclos de "repressão"
1) 1964-1965: eliminação dos atores
políticos ligados ao populismo (líderes
partidários, sindicais) e a posições de
"esquerda" em geral (AI-2);
2) 1966-1967: consumação dos expurgos
políticos após a edição do Ato Institucional
n. 2 em outubro de 1965;
3) 1969-1973: enfrentamentos com a luta
armada e constituição de um aparelho
repressivo-militar;
4) 1975-1976: concentração da repressão
em São Paulo a fim de enfrentar a
emergência de uma grande frente de
oposição;
5) 1979-1984: repressão aos movimentos
sociais de trabalhadores rurais e urbanos,
principalmente o novo movimento sindical.
Ciclos de "liberalização"
1) 1965: adoção de uma "política de
retorno à normalidade" pelo governo
Castello Branco, a fim de
"constitucionalizar" o regime (AI-4);
2) 1967-1968: adoção da "política de alívio"
pelo governo de Costa e Silva, que envolvia
tentativas de negociação com a oposição;
3) 1974-1976: "política de distensão",
adotada no início do governo Geisel;
4) 1977-1979: retomada da "distensão"
pelo governo Geisel após o "pacote de
abril" de 1977, tendo como objetivo final a
revogação do Ato Institucional n. 5;
5) 1979-1984: conti
 Vários são os nomes citados pelo narrador,
dentre eles, podemos lembrar:
 Dominguinho (militante com
menos de 16 anos de idade);
 Zé Roberto,
 Vera (tornou-se sua
companheira);
 Edson Luiz;
 Marighela;
 Márcia, a loura dos assaltos;
 Elias;
 dona Luíza (empregada de
Gabeira);
 Toledo;
 Helena (moça que servira de
avalista);
 Ana (dona da casa em que
Gabeira ficara após o
sequestro do embaixador dos
EUA);
 Paulo;
 frei Tito;
 Mário Alves e tantos outros
militantes;
 Capitão Albernaz;
 Cabo Mariani; e
 Charles Burke Elbrick
(embaixador dos EUA).
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?,
Fernando Gabeira
• Em 1979, Fernando Gabeira lançou o livro O que é isso,
companheiro?, em que buscou compreender o sentido de suas
experiências - a luta armada, a militância numa organização
clandestina, a prisão, a tortura, o exílio - e no qual elaborou, para a
sua e para as gerações seguintes, um retrato autêntico e vertiginoso
do Brasil dos anos 60 e 70.
• Como um relato lúcido, irônico, comovente, o livro se transformou
num verdadeiro clássico do romance-depoimento brasileiro e foi
filmado pelo diretor Bruno Barreto.
• A obra é a versão de Fernando Gabeira sobre o sequestro do
embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 4 de setembro de
1969, alguns meses após a declaração do Ato Institucional nº 5, que
suspendeu todos os direitos civis dos brasileiros em 1968, em uma
época em que o país se encontrava governado por militares.
OBRA
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_que_e_isso_companheiro
• O texto é narrado em primeira pessoa para explicitar que aquelas
vivências pertenciam a um eu real, sendo que a elaboração do eu
discursivo permaneceu bastante rasa.
• A opção pelo uso do "eu" garantiu uma visão mais pessoal dos
fatos, mas limitou a narrativa politicamente engajada às aventuras
de um indivíduo politicamente engajado.
• A obra é centrada na figura do próprio Gabeira, que optou por uma
perspectiva mais próxima da experiência do narrador, ainda que
pensasse que essa experiência fora comum a um grupo de pessoas.
• A partir da visão de um personagem, o livro se propôs a informar
sobre o golpe e os anos de ditadura.
• A subjetividade do narrador foi posta em destaque e relativiza os
fatos, deixando claro que essa era sua visão e não uma visão
absoluta.
OBRA
• O livro conta como o Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)
conseguiu realizar talvez a maior façanha de
uma organização tida como de esquerda, para
se contrapor ao período militar vigente.
• O sequestro, segundo o MR-8, foi a saída
encontrada pelos guerrilheiros para pressionar
o governo a liberar 15 esquerdistas que
estavam presos por motivos políticos.
OBRA
• Não é uma obra que defende irrestritamente
as ações tomadas pelo MR-8 e, sim, uma
profunda reflexão não apenas sobre o regime
militar, mas também os movimentos sociais
que existiam, e a postura da população
perante as denúncias de tortura, perseguição
política e a censura dos meios de
comunicação.
OBRA
• No livro, Fernando Gabeira está sempre
questionando sua ação dentro do movimento, ele
fez críticas e mostrou clareza ao questionar o que
estava errado no movimento de esquerda
brasileira.
• Isso não ocorreu porque ele apresentou
superioridade em relação aos outros , mas
porque o livro foi escrito dez anos depois dos
acontecimentos narrados. Nos anos de chumbo,
Gabeira pensava igual aos outros companheiros,
que desejavam fazer a sonhada “Revolução”.
OBRA
• A anistia do Governo do General João Baptista de Figueiredo,
trouxera muitos ex-guerrilheiros de volta ao país, entre eles, o
escritor Fernando Gabeira.
• Com a anistia, os exilados em outro país: jornalistas, ex-militantes
de esquerda, escritores, tiveram a chance de fazer com que suas
vozes, silenciadas por um longo período, fossem ouvidas
novamente.
• Com a liberdade de expressão, produzindo literatura, o escritor
Fernando Gabeira deu evidentes sinais de resistência ao regime
militar implantado na época em que foi obrigado a se exilar em
outro país.
• As imposições políticas, os desagrados de como esse regime
impunha a cultura brasileira à censura; a violência contra o povo
que se manifestava nas ruas contra toda uma sociedade desigual,
tudo isso é relatado na obra.
Trecho:
“No instante em que Aragão saía no seu carro
preto, possivelmente Gregório Bezerra, o líder
camponês pernambucano estava sendo atado
ao jipe do coronel Ibiapina e seria arrastado
pelas ruas. O sapateiro Chicão estava tentando
escapar, às pressas, de Governador Valadares,
onde os fazendeiros fuzilavam sem vacilar.”
(p.23).
OBRA
• Não trecho anterior, pode-se perceber que o escritor
optou por traduzir os problemas da sociedade,
substituiu a voz do sujeito (ele, o escritor e jornalista),
pela do oprimido (o líder camponês e o sapateiro), o
povo, a massa que sempre esteve em desvantagem,
excluído pela sociedade dominante.
• Nessa perspectiva, a literatura produzida por Fernando
Gabeira alia-se aos sujeitos (ele, o escritor e o povo)
que manifestavam suas inquietações e necessidade de
ganhar visibilidade numa sociedade que lhes era
injusta.
Trecho:
• Numa outra passagem do texto, transcrita abaixo, é
possível detectar a subjetividade do escritor:
“Tudo era mágoa de quem não se conformava com o
desfecho. O melhor talvez fosse tentar o que se passava.
Goulart compreendeu que estava perdido e resolveu ir
para o Uruguai, certo de que o golpe era temporário, que
mais tarde, seria chamado para ocupar seu papel na vida
política do país. Quem era eu para entender as coisas
profundamente? Estava desarmado teoricamente,
ressentido, e não outro caminho na nossa frente, exceto
prosperar e esquecer o baque que o país estava
sofrendo.” (p.27)
OBRA
• Na passagem anterior, o escritor relativizou os
fatos, ele expressou a sua visão, não passou
para o leitor que é uma visão absoluta quando
diz “Quem era eu...”. A linguagem do escritor
costurou todo um tecido que nos levou a
refletir sobre os caminhos e descaminhos da
história recente do país.
Trecho:
• O escritor optou em fazer sua narrativa em
primeira pessoa, para ir reconstituindo a
memória daquilo que experimentou, que viveu
dentro da história política do país até 1968.
“(...) As pessoas estão seguras de si, estão
tranquilas, mas quando partem para o exílio estão
tristes também. Bastava surpreender qualquer um
deles distraídos para captar um olhar vazio, uma
cabeça que se abaixa... Mas aquilo era o Brasil, eu
não era um personagem e havia muito o que fazer
para estar à altura dos amigos que partiam.” (p.39)
OBRA
• Na afirmativa anterior, temos a recordação individual
do escritor. Um homem narrando sua história, a
história de um grupo em que também ele se inscrevia
na grande história dos exilados, por causa do
autoritarismo da época.
• Com o passar dos anos, foi possível detectar a
experiência pela qual havia passado o escritor, que foi
nos situando em suas lembranças dentro do
movimento histórico. Era o indivíduo que constatou
naquele momento que na pirâmide social daquele
período, estava em posição inferior e que acabou
sendo “expulso” de seu próprio país.
OBRA
• Ao fazer a leitura da obra ‘O que é isso, companheiro?’ é
possível compreender alguns aspectos da constituição da
memória coletiva de um grupo e de do indivíduo.
• Trata-se de uma narrativa de cunho memorialista, realista
de uma história recente do país.
• A escrita de Fernando Gabeira permitiu a ocupação de
vários lugares – ‘auto’, protagonista, narrador – o escritor
dentro da obra objetiva traçar relações entre memória,
narração e escritura/literatura. Ao mesmo tempo em que
narra, o narrador se dobra sobre o ato de recordar,
enquanto recorda e escreve, vai passando a limpo os fatos
que viveu.
OBRA
• Na obra destaca-se o uso abundante do condicional.
Minimizando assim o caráter fatual do texto e jogando com
o potencial, com aquilo que poderia acontecer.
• Nas cenas de tortura para não descrevê-las diretamente,
evita o excesso de minúcia que nos romances-reportagem
promovem uma verdadeira retórica do horror.
• Outra característica do estilo de Gabeira são as frases
curtas e o tom informal, que devem muito ao discurso
jornalístico, além do uso frequente da segunda pessoa para
aproximar o leitor. Essa última opção está relacionada à
necessidade didática de informar uma geração que não
vivenciou a ditadura.
Trecho:
• No seguinte trecho, Gabeira dirige-se a seu
provável leitor:
“O amigo (a) talvez fosse muito jovem em 64. Eu
mesmo achei a morte de Getúlio um barato só
porque nos deram um dia livre na escola. Um golpe
de Estado, entretanto, mexe com a vida de milhares
de pessoas. Gente sendo presa, gente fugindo,
gente perdendo o emprego, gente aparecendo para
ajudar, novas amizades, ressentimentos...”
OBRA
• O relato de Gabeira dá margem a que tomemos o
personagem-narrador como herói, uma vez que a
história gira sobre um acontecimento real. O heroísmo
só foi amenizado, porque a narrativa contou o fracasso
de uma empreitada política e tendeu a relativizar as
convicções que guiavam o narrador naquela época.
• Evidenciou-se com frequência as fraquezas do projeto,
‘as rachaduras’ nos grupos, a ingenuidade dos
militantes. Em ‘O que é isso, companheiro?’, a
perspectiva do narrador é a de um indivíduo com
vivências, ideias, sentimentos particulares e,
principalmente, com críticas a respeito de seu papel na
história.
Trecho:
“Como é que um intelectual pode se negar tão profundamente? Passava os
dias lendo jornais, fazendo planos para matar Eduardo e limpando ad
nauseam meu revólver Taurus 38 que jamais disparei contra ninguém, mas
que mantinha em um estado impecável, como se me esperassem, a cada
manhã, fantásticas batalhas campais, ali naquele apartamento de Ana, onde
o único vestígio de luta eram as camas desarrumadas com a agitação dos
nossos sonhos.”
• A prosa de Gabeira distancia-se do neonaturalismo dos romancesreportagem por não aderir a uma versão unificada da situação política dos
anos 70.
• O livro não segue a tendência principal do romance-reportagem que seria
o de produzir ficcionalmente identidades lá onde dominavam as divisões,
criando uma utopia de nação e outra de sujeito, capazes de atenuar a
experiência cotidiana da contradição. Por sua vez, o risco de uma visão
mais centrada no personagem-narrador era o de que se anulasse a
pluralidade de vozes, reduzindo tudo à perspectiva de um único indivíduo.
OBRA
• O livro de Gabeira não é uma exceção no que diz
respeito ao caráter monológico dos textos
autobiográficos de ex-exilados ou militantes
políticos, em que se destaca, por exemplo, o fato
de que os outros personagens não terem
nenhuma profundidade subjetiva, nenhuma
independência em relação à figura central do
narrador.
• A própria subjetividade do narrador não é
explorada muito além de suas implicações
referenciais.
OBRA
• O narrador autobiográfico centrou seu relato nas experiências vividas
por ele próprio em um período do passado que a distância temporal lhe
permitiu abordar com olhar crítico, mas não colocou em questão a
possibilidade de narrar tais experiências.
• Se, por um lado, a narrativa autobiográfica ao estilo de ‘O que é isso,
companheiro?’ consegue expor o caráter contraditório dos
acontecimentos, por outro, evita o problema de como representar, nos
limites da linguagem, uma experiência traumática.
• Diante de determinadas situações traumáticas – como foram as grandes
guerras ou as ditaduras nos países latino-americanos – é comum os
escritores se confrontarem com o silêncio, desconfiados da linguagem
como meio de comunicar a experiência.
• O narrador autobiográfico, pelo contrário, acredita na possibilidade de
comunicar uma experiência que sirva de lição para gerações futuras, mas
seu relato acaba transmitindo ao leitor uma redução do trauma à
vivência privada do narrador.
ANÁLISE DA OBRA
• O livro ‘O que é isso, companheiro?’ é considerado um livro
de memórias e foi escrito quando seu autor, Fernando
Gabeira, ainda estava no exílio, em 1979.
• O livro venceu o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria
biografia/memórias em 1980 e, mais tarde, em 1997, foi
transformado em filme pelo cineasta Bruno Barreto.
• A obra relata a história do próprio autor e de outras
pessoas que estiveram envolvidas em movimentos contra a
ditadura durante o Regime Militar por que passou o Brasil.
• Gabeira narra suas experiências com a luta armada, a
prisão, a tortura, o exílio e a militância em uma organização
clandestina denominada MR-8 (Movimento Revolucionário
8 de outubro).
ANÁLISE DA OBRA
• A história tem início quando ele está correndo da
polícia após o golpe de estado de Pinochet, no Chile.
• É nesse momento que ele decide escrever um livro
relatando suas experiências. No começo de sua
trajetória como militante, participou do movimento
estudantil e filiou-se à Dissidência Comunista da
Guanabara (uma espécie de "racha" do Partido
Comunista Brasileiro) que, posteriormente viria se
constituir o MR-8.
• O autor contextualiza, ainda, o golpe de 64 e narra a
repressão sofrida por aqueles que faziam oposição ao
governo.
ANÁLISE DA OBRA
• Gabeira trabalhava como repórter em um jornal
conservador, o JB (Jornal do Brasil), e isso cerceava muito
suas ideias (nem sempre conseguia escrever aquilo que
queria).
• Mesmo assim, junto a outros colegas, organizou a Passeata
dos Cem Mil e seu grande feito, que foi o sequestro do
embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke
Elbrick, em troca da libertação de 15 presos políticos.
• O sequestro ocorre como um desafio ao regime militar, na
semana da Pátria (04 de setembro de 1969), meses depois
do Ato Institucional n° 5 (Al-5), o qual suspendia todos os
direitos civis dos brasileiros em 1968.
ANÁLISE DA OBRA
• Percebe-se que Gabeira tinha uma postura libertária
(movimento que se iniciava no Brasil) e fazia críticas e
reflexões tanto ao regime militar, com sua repressão e
violência, como também aos movimentos de esquerda
e às suas próprias ações.
• O livro foi escrito dez anos depois do ocorrido,
portanto, por um Gabeira mais experiente e capaz de
enxergar com serenidade os fatos - se o livro tivesse
sido escrito no momento dos acontecimentos, ou, "nos
anos de chumbo", a história seria bem diferente, pois
ele partilhava com outros companheiros o desejo da
"Revolução“, isto é, apenas uma perspectiva dos fatos.
ANÁLISE DA OBRA
• O narrador deixa muito claro que o relato dos
acontecimentos se dá por meio da visão pessoal, não há
absolutismo da verdade.
• Esse confronto entre o que aconteceu no passado e o que
se diz no presente é o que caracteriza o texto
memorialístico.
• ‘O que é isso, companheiro?’ foi criado de acordo com a
tendência da escrita dos anos 70: uma representação
verossímil da realidade histórica que alguém viveu, uma
espécie de realismo crítico que não se volta apenas para a
descrição fotográfica, mas para a construção do real
estabelecendo mediações entre o particular e o universal.
A estrutura da obra
• A obra apresenta-se dividida em 16 partes,
todas elas com títulos que remetem à história
narrada por Gabeira.
A temática
• A temática principal da obra
refere-se à ditadura e a seus
reflexos na sociedade
(consequentemente, fala-se de
tortura, regime militar, prisão,
ignorância, política etc.).
O tempo e o espaço
• O tempo que compreende a
narrativa dá-se entre o
período de 1964 e meados da
década de 1970 e ocorre,
principalmente, em São Paulo
e no Rio de Janeiro.
O título
• O título, ‘O que é isso, companheiro?’ é uma pergunta repleta de
indignação.
• Na realidade, é um questionamento que reprova atitudes antirevolucionárias.
• Esse questionamento do título nos remete a duas situações em
que a frase é repetida:
 na primeira delas, o narrador, impressionado com a pouca idade
de Dominguinho, pergunta-lhe por que não coleciona figurinhas e
não arranja uma namorada para acariciá-la num banco de jardim.
Ele recebe como resposta a frase do título (num misto de
indignação e até mesmo de inocência);
 a segunda situação remete ao momento em que o narrador, ao
distribuir o jornal clandestino, sente-se atraído por uma mulher
que passa por ali e lhe propõe uma carona. Ouve de um deles a
pergunta repleta de incredulidade: o que é isso, companheiro?
A narração
• A narração é feita em primeira
pessoa pelo narradorpersonagem, que em um
romance memorialista,
geralmente, é o próprio autor.
A linguagem
 Traços da coloquialidade: observa-se muita gíria e palavrões em muitas
partes do texto: "0 chefe da operação apontava o revólver para mim e
dizia: "Não se mova, filho da puta."
 Uso do condicional (com aquilo que poderia ser ou acontecer): "Se alguém
atirasse, poderia, naquele instante, matar o próprio companheiro."
 Presença de frases curtas e o tom informal - possivelmente um costume
da linguagem jornalística: "Os médicos tinham sido superados pela equipe
da Operação Bandeirantes. Nenhum deles autorizaria um interrogatório
àquela altura. Tudo o quê? Quem é João? Quem é esse cara na beira da
cama querendo que eu abra?"
 Diálogo com o leitor (segundo o próprio Gabeira, isso era feito para
adquirir um tom mais didático; a necessidade de trazer informações às
gerações que não fizeram parte daqueles tempos): "Foi assim também
com muita gente no Chile. Você diz que vai resistir; você parte para resistir
mas o que você vai fazer; de verdade, é fugir."
1964
• O contexto histórico que serve como pano de fundo do
livro de Fernando Gabeira ‘O que é isso, companheiro?’ foi
gerado pelo golpe militar que introduziu a ditadura no
Brasil a partir de 1964 e que durou até 1985.
• Para a compreensão do livro, é fundamental conhecer a
História.
• O início: 13 de março de 1964, no comício da Central do
Brasil, no Rio de Janeiro, organizado por Leonel Brizola e
João Goulart, serve como estopim para o golpe. Neste
comício, eram anunciadas as reformas que mudariam o
Brasil, tais como, um plebiscito pela convocação de uma
nova constituinte, reforma agrária e a nacionalização de
refinarias estrangeiras.
1964
• O contexto político e econômico no Brasil era conturbado.
• Depois de um encontro com trabalhadores, em 1964, João
Goulart (eleito à época, democraticamente, pelo Partido
Trabalhista Brasileiro - PTB) foi deposto e teve de fugir para o
Rio Grande do Sul e, em seguida, para o Uruguai.
• O Chefe Maior do Exército, o General Humberto Castelo
Branco, tornou-se presidente do Brasil.
• Os militares armados tomaram as principais cidades
brasileiras com tanques, jipes entre outros aparatos militares.
Os soldados incendiaram a Sede da União Nacional dos
Estudantes (UNE).
• As associações que apoiavam João Goulart foram tomadas
pelos soldados: sedes de partidos políticos e sindicatos de
diversas categorias.
1964
• O golpe militar de 1964 foi amplamente apoiado por alguns
setores da mídia, na época e um pouco antes, por meio de
jornais, revistas, rádios e empresas de comunicação.
• Um dos motivos que conduziram ao golpe foi uma
campanha, organizada pelos meios de comunicação, para
convencer as pessoas de que Jango levaria o Brasil a um
tipo de governo semelhante ao adotado por países como
China e Cuba, ou seja, comunista, algo inadmissível naquele
tempo, quando se dizia que o que era bom para os Estados
Unidos, era bom para o Brasil.
• A partir de 1965, as liberdades civis foram reduzidas, o
poder do governo aumentou e foi concedida ao Congresso
a tarefa de designar o presidente e o vice-presidente da
república.
Termos Políticos do livro
a) Al-5 (Ato Institucional Número 5)
O Al-5 (Ato Institucional número 5) foi o quinto
decreto emitido pelo governo militar brasileiro
(1964-1985).
• É considerado o mais duro golpe na democracia e
deu poderes quase absolutos ao regime militar.
• Redigido pelo ministro da Justiça Luís Antônio da
Gama e Silva, o Al-5 entrou em vigor em 13 de
dezembro de 1968, durante o governo do então
presidente Artur da Costa e Silva.
Termos Políticos do livro
• O AI-5 foi uma represália ao discurso
do deputado Márcio Moreira Alves,
que pediu ao povo brasileiro que
boicotasse as festividades de 7 de
setembro de 1968, protestando
assim contra o governo militar.
Determinações mais importantes do
Ato Institucional Número 5:
Concedia poder ao Presidente da República
para dar recesso a Câmara dos Deputados,
Assembleias Legislativas (estaduais) e Câmara
de vereadores (Municipais). No período de
recesso, o poder executivo federal assumiria
as funções desses poderes legislativos;
 Concedia poder ao Presidente da República
para intervir nos estados e municípios, sem
respeitar as limitações constitucionais;
Determinações mais importantes do
Ato Institucional Número 5:
 Concedia poder ao Presidente da República para
suspender os direitos políticos de qualquer cidadão
brasileiro pelo período de 10 anos;
 Concedia poder ao Presidente da República para cassar
mandatos de deputados federais, estaduais e
vereadores;
 Proibia manifestações populares de caráter político;
 Suspendia o direito de habeas corpus (em casos de
crime político, crimes contra ordem econômica,
segurança nacional e economia popular).
 Impunha a censura prévia para jornais, revistas, livros,
peças de teatro e músicas.
Fim do AI-5
• No ano de 1978, no governo Ernesto Geisel,
o AI-5 foi extinto e o habeas corpus
restaurado.
• Habeas corpus significa "que tenhas o teu
corpo", e é uma expressão originária do
latim. Habeas corpus é uma medida
jurídica para proteger indivíduos que estão
tendo sua liberdade infringida, é um
direito do cidadão, e está na Constituição
brasileira.
Termos Políticos do livro
b) Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)4
 O Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) foi uma
organização brasileira de orientação marxista-leninista que
promoveu combate armado contra a ditadura militar, tendo como
objetivo a instalação de um Estado socialista no Brasil. Seu nome é
inspirado no dia em que Ernesto "Che" Guevara foi preso na Bolívia.
 O grupo revolucionário de esquerda nasceu no estado da
Guanabara, no Rio de Janeiro, a partir do golpe militar promovido
no país em 1964. Inicialmente, foi formado um grupo de ativistas
resultantes de uma dissidência ocorrida no meio universitário do
PCB, o grupo ficou conhecido como Dl-GB, Dissidentes da
Guanabara. No ano de 1966, ocorreu a total separação do Dl-GB
com o PCB, pois os revolucionários defendiam nas eleições
legislativas daquele ano o voto nulo, contrariando as propostas do
partido.
Termos Políticos do livro
 No mês de setembro de 1969 a Dl-GB juntamente
com a Ação Libertadora Nacional elaboraram e
promoveram um dos mais famosos sequestros
ocorridos durante a ditadura militar no Brasil.
 Através de uma audaciosa ação conjunta, o
embaixador norte-americano no Brasil, Charles
Burke Elbrick, tornou-se o primeiro diplomata
dos Estados Unidos a ser sequestrado.
Termos Políticos do livro
 Foi, no decorrer da ação do sequestro do embaixador,
que a organização DI-GB achou conveniente mudar o
nome.
 Houve um grupo anterior com o nome de Movimento
Revolucionário Oito de Outubro que havia sido
totalmente capturado pelo regime militar, para
confundir e também desmoralizar a ditadura, que havia
anunciado anteriormente vitória sobre a organização,
os militantes entenderam como vantajoso assumir
então o mesmo nome, Movimento Revolucionário Oito
d Outubro (MR-8).
Termos Políticos do livro
• O sequestro, que teve como um de seus promotores
Fernando Gabeira, resultou em vitória para o
movimento revolucionário.
• O MR-8 conseguiu negociar a liberdade do embaixador
em troca de 15 prisioneiros políticos, que embarcaram
no dia 6 de setembro para o México.
• O movimento foi decisivo para que promovessem
ampla divulgação em rádios e jornais do país a
insatisfação contra a ditadura, permitindo que muitos
tomassem conhecimento do que vinha acontecendo no
país e chamando a atenção em âmbito nacional e
internacional contra o regime militar.
Termos Políticos do livro
• O governo passou a perseguir o MR-8 e reprimir
seus militantes duramente, mas as ações de
roubos e assaltos por parte dos rebeldes para
garantir os recursos necessários para as
manifestações continuavam.
• No ano de 1970 as ações se expandiram e a
organização passou a ter contatos em fábricas e
áreas rurais.
• Alguns textos em 1971 mostravam uma
organização aparentemente sólida.
Termos Políticos do livro
• Ainda em 1971 a repressão do regime militar aumentou
muito e o MR-8 quase chegou ao fim em 1972.
• A maioria dos militantes se refugiou no Chile neste ano.
• Assim a direção teve que se reestruturar, tomando outras
orientações.
• A partir de então, a luta armada deu lugar ao jogo político e
o MR-8 aproximou-se do MDB, tendo Orestes Quércia
como principal liderança, ao editar o periódico "Hora do
Povo".
• Até hoje o MR-8 continua atuando como uma corrente
dentro do PMDB, aparecendo em movimentos sindicais e
nas diretorias da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Termos Políticos do livro
• Veja o Manifesto da ALN (Ação Libertadora
Nacional )e do MR-85 referente ao sequestro
do embaixador americano no Brasil - 4 de
setembro de 1969:
“Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr.
Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados
Unidos, levando-o para algum lugar do país,
onde o mantêm preso. Este ato não é um
episódio isolado.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já
levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se
arrecadam fundos para a revolução, tomando de
volta o que os banqueiros tomam do povo e de
seus empregados; ocupação de quartéis
delegacias, onde se conseguem armas e munições
para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de
presídios, quando se libertam revolucionários, para
devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios
que simbolizam a opressão; e o justiçamento de
carrascos e torturadores.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da
guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este
ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.
Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível
vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos
organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos
espera e desapareceremos em seguida, desgastando a
ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a
esperança e a certeza de vitória para o meio dos explorados.
O sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do
imperialismo, que, aliado aos grandes patrões, aos grandes
fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o
regime de opressão e exploração.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“Os interesses desses consórcios, de se enriquecerem
cada vez mais, criaram e mantêm o arrocho salarial, a
estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada.
Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara
de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo
momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta.
Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta
longa e dura, que não termina com a troca de um ou
outro general no poder, mas que só acaba com o fim do
regime dos grandes exploradores e com a constituição de
um governo que liberte os trabalhadores de todo o país
da situação em que se encontram.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“Estamos na Semana da Independência. O povo e a
ditadura comemoram de maneiras diferentes. A ditadura
promove festas, paradas e desfiles, solta fogos de artifício
e prega cartazes. Com isso ela não quer comemorar coisa
nenhuma; quer jogar areia nos olhos dos explorados,
instalando uma falsa alegria com o objetivo de esconder a
vida de miséria, exploração e repressão que vivemos.
Pode-se tapar o sol com a peneira? Pode-se esconder do
povo a sua miséria, quando ele a sente na carne?
Na Semana da Independência, há duas comemorações: a
da elite e a do povo, a dos que promovem paradas e a
dos que raptam, o embaixador, símbolo da exploração.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“A vida e a morte do sr. Embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ele
atender a duas exigências, o sr. Elbrick será libertado. Caso contrário,
seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas
exigências são:
 a) A libertação de 15 prisioneiros políticos. São 15 revolucionários
entre milhares que sofrem torturas nas prisões-quartéis de todo o
país, que são espancados, seviciados, e que amargam as
humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o
impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros
combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados,
é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação
desses 15 homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles
vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um
embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de
vista da ditadura e da exploração.”
Manifesto da ALN (Ação Libertadora
Nacional )e do MR-85
 “b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos
principais jornais, rádios e televisões de todo o país.
Os 15 prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial
até um país determinado - Argélia, Chile ou México -, onde lhes seja
concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer
represálias, sob pena de retaliação.
A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou
rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista
dos 15 líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu
transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não
houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os 15
companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta
é uma "situação excepcional". Nas "situações excepcionais", os juristas
da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas,
como se viu recentemente, na subida da Junta militar.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se
aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva,
divulgaremos a lista dos 15 líderes revolucionários e
esperaremos 24 horas por seu transporte para um país
seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta
nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os 15
companheiros devem ser libertados, estejam ou não
condenados: esta é uma "situação excepcional". Nas
"situações excepcionais", os juristas da ditadura sempre
arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu
recentemente, na subida da Junta militar.
As conversações só serão iniciadas a partir de declarações
públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.”
Manifesto da ALN e do MR-85
“As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e
oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.
O método será sempre público por parte das autoridades e sempre
imprevisto por nossa parte. Queremos lembrar que os prazos são
improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.
Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e
matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa
prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir
torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora
é olho por olho, dente por dente.
Ação Libertadora Nacional (ALN)
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)”
Termos Políticos do livro
 c) PARA SAR
O EAS - Esquadrão Aero-terrestre de Salvamento, mais conhecido
como PARA-SAR ('PARA' de paraquedistas, 'SAR' do inglês Search and
Rescue, "Busca e Salvamento"), é um esquadrão Paraquedista de
Operações Especiais e Busca e Resgate da Força Aérea Brasileira. SAR é
uma doutrina utilizada mundialmente pelas Forças Armadas e diversas
unidades especiais.
 Caso Para-Sar, também conhecido como Atentado ao Gasômetro,
diz respeito a um plano terrorista de extrema-direita arquitetado
em 1968 pelo brigadeiro João Paulo Burnier para desacreditar e
reprimir os oposicionistas ao regime militar que então governava o
Brasil. Consistia em empregar o esquadrão de resgate Para-Sar na
detonação de explosivos em diversas vias públicas do Rio de
Janeiro, atentados esses com potencial para provocar milhares de
mortes e que seriam atribuídos a movimentos de esquerda.
Termos Políticos do livro
 Na fase secundária da missão, o clima de caos proporcionado
pelas tragédias seria usado para encobrir o sequestro e
assassinato de quarenta figurões da política brasileira, entre
eles Carlos Lacerda, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek.
 O plano acabou abortado após a denúncia do oficial do ParaSar Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, que se recusou a
cumprir as ordens de Burnier e levou o caso a seus superiores.
Na sindicância resultante aberta pelo brigadeiro Itamar Rocha,
37 testemunhas comprovam a acusação. Burnier, no entanto,
negou ter planejado o crime, sendo absolvido após o processo
chegar aos gabinetes do ministério da Aeronáutica e da
presidência da República. Itamar e Sérgio, por sua vez,
acabaram afastados dos quadros da Aeronáutica.
Termos Políticos do livro
 d) CENIMAR
• O CENIMAR é um órgão da Marinha do Brasil que tinha
o objetivo de obter informações de interesse para o
Estado durante a Ditadura Militar.
• A atividade do CENIMAR ganhou repercussão histórica
especialmente por causa de sua investigação de
movimentos subversivos durante a Ditadura Militar.
• A partir de 1968, o CENIMAR passou a exercer tal
função e a ser empregado diretamente na repressão à
luta armada exercida por organizações de extrema
esquerda que tentavam derrubar o regime militar
vigente no país.
Termos Políticos do livro
• A atuação do CENIMAR, durante o governo militar, fez mudar
sua estrutura organizacional.
• O órgão passou a ser subordinado ao Ministro da Marinha.
Sua nova função tornou-o o órgão militar mais eficiente na
obtenção de informações.
• Trabalhou juntamente com o famoso e temido DOI-CODI,
controlado pelo exército, e do CISA, administrado pela
Aeronáutica.
• As atividades do CENIMAR iam muito além das informações, o
órgão desenvolvia investigações seguidas de prisões e
torturas.
• Sua sede localizava-se na Ilha das Flores, na cidade do Rio de
Janeiro, um dos mais famosos pontos de partida das ações
repressivas durante a Ditadura Militar.
Termos Políticos do livro
 e) DOPS
• O termo "DOPS" significa Departamento de Ordem Política e Social
e foi criado em 1924 para controlar e reprimir movimentos políticos
e sociais contrários ao regime no poder.
• O DOPS perseguia, acima de tudo, as atividades intelectuais, sociais,
políticas e partidárias de cunho comunista.
• Durante o regime militar, em São Paulo, o seu delegado mais
conhecido foi Sérgio Paranhos Fleury, devido às acusações de "linha
dura" feitas pelos presos.
• Havia muitas dificuldades para quem fosse fichado no DOPS. O
candidato a um emprego, por exemplo, em um período da ditadura
militar, precisava apresentar um "Atestado de Antecedentes
Políticos e Sociais" mais conhecido como "Atestado Ideológico",
que era fornecido pelo DOPS a quem não tinha ficha no órgão.
Download

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?, Fernando Gabeira