O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? DADOS BIBLIOGRÁFICOS • Autor: Fernando Gabeira • Escola Literária: Lit. Contemporânea • Ano de Publicação: 1979 • Gênero: Texto memorialístico • Narração: 1.ª pessoa • Divisão da Obra: 16 capítulos • Local: Rio de Janeiro/ São Paulo O AUTOR Fernando Gabeira (1941) Fernando Paulo Nagle Gabeira nasceu em Juiz de Fora - MG em 1941. Escritor, jornalista e político. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1963 e no ano seguinte começa a trabalhar como redator no Jornal do Brasil, onde permanece até 1968. Nesse ano, entra para a clandestinidade e ingressa na luta armada contra a ditadura militar, como integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8. O AUTOR • Em 1969, participa do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick - na operação é baleado e preso, sendo mais tarde exilado, numa troca de presos políticos pela liberdade do embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, também sequestrado pela guerrilha. • Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e Itália. Com a Lei de Anistia, volta ao Brasil, em 1979, e publica O que é isso, Companheiro?, relato de seus anos de clandestinidade e guerrilha. • Militando em causas ecológicas e pacifistas, funda, com artistas e intelectuais, o Partido Verde - PV e candidata-se, sem sucesso, a governador do Rio de Janeiro, em 1986, e àPresidência da República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se deputado federal, reeleito sucessivamente desde então. Sua obra, de engajamento político, constrói as primeiras análises críticas da luta armada e discute temas como as liberdades individuais e ecologia. O AUTOR • Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e Itália. Com a Lei de Anistia, volta ao Brasil, em 1979, e publica O que é isso, Companheiro?, relato de seus anos de clandestinidade e guerrilha. O AUTOR • Militando em causas ecológicas e pacifistas, funda, com artistas e intelectuais, o Partido Verde - PV e candidata-se, sem sucesso, a governador do Rio de Janeiro, em 1986, e à Presidência da República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se deputado federal, reeleito sucessivamente desde então. Sua obra, de engajamento político, constrói as primeiras análises críticas da luta armada e discute temas como as liberdades individuais e ecologia. Bibliografia • • • • • • • • • • • • O que é isso, companheiro? (1979); O crepúsculo do macho (1980); Entradas e bandeiras (1981); Hóspede da Utopia (1981); Sinais de Vida no Planeta Minas (1982); Nós que amávamos tanto a Revolução (1985); Vida Alternativa - Uma revolução do dia a dia (1985); Diário da Salvação do Mundo (1987); Goiânia, rua 57 - o nuclear na terra do sol (1987); Crônicas de Fim de Século (1994); A Maconha (2000); Navegação na Neblina (2006); Está tudo aquilo agora (2012). A ESCOLA LITERÁRIA: LITERATURA CONTEMPORÂNEA • (http://www.mundovestibular.com.br/articles/4452/1/LITERA TURA-CONTEMPORANEA/Paacutegina1.html) • Tratando-se especificamente da Literatura, o Professor Proença aponta as seguintes características dessa arte, neste período: A ESCOLA LITERÁRIA a) Ludismo na criação da obra, desembocando frequentemente na paródia ou pastiche(cópia ou colagem, montagem a partir de um original). Ex: as sucessivas imitações do famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá..."). Literatura Contemporânea - a partir da década de 60 b) Intertextualidade, característica da qual os textos de Drummond como "A um bruxo com amor" (retomando M. de Assis); "Todo Mundo e Ninguém" (retomando o auto da Lusitânia, de Gil Vicente) são belos exemplos. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60 c) Fragmentação textual: "associação de fragmentos de textos colocados em sequência, sem qualquer relacionamento explícito entre a significação de ambos", como em uma montagem cinematográfica. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: POESIA • Nesta há duas constantes: a) Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão; mantêm nomes consagrados como João Cabral, Mário Quintana, Drummond no painel da literatura. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: POESIA • b) Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como: sonoridade das palavras, recursos gráficos, aproveitamento visual da página em branco, recortes, montagens e colagens. • As principais vanguardas poéticas prendem-se aos grupos: Concretismo, Poema-Processo, Poesia-Social, Tropicalismo; Poesia-Social e Poesia-Marginal. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance urbano - social • Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos : a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização. • Exs: José Condé (Um Ramo para Luísa),Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo surgir novas modalidades de prosa: • a) paródia histórica; • b) o romance reportagem; • c) o romance policial; e • d) o romance histórico. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • a) paródia histórica. • Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio). • b) o romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas, como veículo de denúncia e protesto contra a opressão. Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel). Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e de Rubem Fonseca. Este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande Arte", "Bufo & Spallanzani" ,"Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos“ dentre outros. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica tem grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimento políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio. Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: • No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras. O que é isso, companheiro? OS PERSONAGENS Gabeira - Militante do Movimento Revolucionário 08 de Outubro (MR-8), o qual buscava instaurar o socialismo no Brasil. Trabalhava no Jornal do Brasil e em outro jornal clandestino, denominado Panfleto. Participa do sequestro do embaixador estadunidense, Charles Elbrick, em 1969. É preso, torturado e exilado. Em 1970, é libertado, junto com 39 presos políticos (fora trocado pela libertação do embaixador alemão Ehrenfried von Hoileben, sequestrado pelos militantes) e é exilado na Argélia. CICLOS POLÍTICOS DO REGIME DITATORIAL-MILITARhttp://br.monografias.com/trabalhos914/golpe-regime-variaveis/golpe-regime-variaveis2.shtml Ciclos de "repressão" 1) 1964-1965: eliminação dos atores políticos ligados ao populismo (líderes partidários, sindicais) e a posições de "esquerda" em geral (AI-2); 2) 1966-1967: consumação dos expurgos políticos após a edição do Ato Institucional n. 2 em outubro de 1965; 3) 1969-1973: enfrentamentos com a luta armada e constituição de um aparelho repressivo-militar; 4) 1975-1976: concentração da repressão em São Paulo a fim de enfrentar a emergência de uma grande frente de oposição; 5) 1979-1984: repressão aos movimentos sociais de trabalhadores rurais e urbanos, principalmente o novo movimento sindical. Ciclos de "liberalização" 1) 1965: adoção de uma "política de retorno à normalidade" pelo governo Castello Branco, a fim de "constitucionalizar" o regime (AI-4); 2) 1967-1968: adoção da "política de alívio" pelo governo de Costa e Silva, que envolvia tentativas de negociação com a oposição; 3) 1974-1976: "política de distensão", adotada no início do governo Geisel; 4) 1977-1979: retomada da "distensão" pelo governo Geisel após o "pacote de abril" de 1977, tendo como objetivo final a revogação do Ato Institucional n. 5; 5) 1979-1984: conti Vários são os nomes citados pelo narrador, dentre eles, podemos lembrar: Dominguinho (militante com menos de 16 anos de idade); Zé Roberto, Vera (tornou-se sua companheira); Edson Luiz; Marighela; Márcia, a loura dos assaltos; Elias; dona Luíza (empregada de Gabeira); Toledo; Helena (moça que servira de avalista); Ana (dona da casa em que Gabeira ficara após o sequestro do embaixador dos EUA); Paulo; frei Tito; Mário Alves e tantos outros militantes; Capitão Albernaz; Cabo Mariani; e Charles Burke Elbrick (embaixador dos EUA). O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?, Fernando Gabeira • Em 1979, Fernando Gabeira lançou o livro O que é isso, companheiro?, em que buscou compreender o sentido de suas experiências - a luta armada, a militância numa organização clandestina, a prisão, a tortura, o exílio - e no qual elaborou, para a sua e para as gerações seguintes, um retrato autêntico e vertiginoso do Brasil dos anos 60 e 70. • Como um relato lúcido, irônico, comovente, o livro se transformou num verdadeiro clássico do romance-depoimento brasileiro e foi filmado pelo diretor Bruno Barreto. • A obra é a versão de Fernando Gabeira sobre o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 4 de setembro de 1969, alguns meses após a declaração do Ato Institucional nº 5, que suspendeu todos os direitos civis dos brasileiros em 1968, em uma época em que o país se encontrava governado por militares. OBRA http://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_que_e_isso_companheiro • O texto é narrado em primeira pessoa para explicitar que aquelas vivências pertenciam a um eu real, sendo que a elaboração do eu discursivo permaneceu bastante rasa. • A opção pelo uso do "eu" garantiu uma visão mais pessoal dos fatos, mas limitou a narrativa politicamente engajada às aventuras de um indivíduo politicamente engajado. • A obra é centrada na figura do próprio Gabeira, que optou por uma perspectiva mais próxima da experiência do narrador, ainda que pensasse que essa experiência fora comum a um grupo de pessoas. • A partir da visão de um personagem, o livro se propôs a informar sobre o golpe e os anos de ditadura. • A subjetividade do narrador foi posta em destaque e relativiza os fatos, deixando claro que essa era sua visão e não uma visão absoluta. OBRA • O livro conta como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) conseguiu realizar talvez a maior façanha de uma organização tida como de esquerda, para se contrapor ao período militar vigente. • O sequestro, segundo o MR-8, foi a saída encontrada pelos guerrilheiros para pressionar o governo a liberar 15 esquerdistas que estavam presos por motivos políticos. OBRA • Não é uma obra que defende irrestritamente as ações tomadas pelo MR-8 e, sim, uma profunda reflexão não apenas sobre o regime militar, mas também os movimentos sociais que existiam, e a postura da população perante as denúncias de tortura, perseguição política e a censura dos meios de comunicação. OBRA • No livro, Fernando Gabeira está sempre questionando sua ação dentro do movimento, ele fez críticas e mostrou clareza ao questionar o que estava errado no movimento de esquerda brasileira. • Isso não ocorreu porque ele apresentou superioridade em relação aos outros , mas porque o livro foi escrito dez anos depois dos acontecimentos narrados. Nos anos de chumbo, Gabeira pensava igual aos outros companheiros, que desejavam fazer a sonhada “Revolução”. OBRA • A anistia do Governo do General João Baptista de Figueiredo, trouxera muitos ex-guerrilheiros de volta ao país, entre eles, o escritor Fernando Gabeira. • Com a anistia, os exilados em outro país: jornalistas, ex-militantes de esquerda, escritores, tiveram a chance de fazer com que suas vozes, silenciadas por um longo período, fossem ouvidas novamente. • Com a liberdade de expressão, produzindo literatura, o escritor Fernando Gabeira deu evidentes sinais de resistência ao regime militar implantado na época em que foi obrigado a se exilar em outro país. • As imposições políticas, os desagrados de como esse regime impunha a cultura brasileira à censura; a violência contra o povo que se manifestava nas ruas contra toda uma sociedade desigual, tudo isso é relatado na obra. Trecho: “No instante em que Aragão saía no seu carro preto, possivelmente Gregório Bezerra, o líder camponês pernambucano estava sendo atado ao jipe do coronel Ibiapina e seria arrastado pelas ruas. O sapateiro Chicão estava tentando escapar, às pressas, de Governador Valadares, onde os fazendeiros fuzilavam sem vacilar.” (p.23). OBRA • Não trecho anterior, pode-se perceber que o escritor optou por traduzir os problemas da sociedade, substituiu a voz do sujeito (ele, o escritor e jornalista), pela do oprimido (o líder camponês e o sapateiro), o povo, a massa que sempre esteve em desvantagem, excluído pela sociedade dominante. • Nessa perspectiva, a literatura produzida por Fernando Gabeira alia-se aos sujeitos (ele, o escritor e o povo) que manifestavam suas inquietações e necessidade de ganhar visibilidade numa sociedade que lhes era injusta. Trecho: • Numa outra passagem do texto, transcrita abaixo, é possível detectar a subjetividade do escritor: “Tudo era mágoa de quem não se conformava com o desfecho. O melhor talvez fosse tentar o que se passava. Goulart compreendeu que estava perdido e resolveu ir para o Uruguai, certo de que o golpe era temporário, que mais tarde, seria chamado para ocupar seu papel na vida política do país. Quem era eu para entender as coisas profundamente? Estava desarmado teoricamente, ressentido, e não outro caminho na nossa frente, exceto prosperar e esquecer o baque que o país estava sofrendo.” (p.27) OBRA • Na passagem anterior, o escritor relativizou os fatos, ele expressou a sua visão, não passou para o leitor que é uma visão absoluta quando diz “Quem era eu...”. A linguagem do escritor costurou todo um tecido que nos levou a refletir sobre os caminhos e descaminhos da história recente do país. Trecho: • O escritor optou em fazer sua narrativa em primeira pessoa, para ir reconstituindo a memória daquilo que experimentou, que viveu dentro da história política do país até 1968. “(...) As pessoas estão seguras de si, estão tranquilas, mas quando partem para o exílio estão tristes também. Bastava surpreender qualquer um deles distraídos para captar um olhar vazio, uma cabeça que se abaixa... Mas aquilo era o Brasil, eu não era um personagem e havia muito o que fazer para estar à altura dos amigos que partiam.” (p.39) OBRA • Na afirmativa anterior, temos a recordação individual do escritor. Um homem narrando sua história, a história de um grupo em que também ele se inscrevia na grande história dos exilados, por causa do autoritarismo da época. • Com o passar dos anos, foi possível detectar a experiência pela qual havia passado o escritor, que foi nos situando em suas lembranças dentro do movimento histórico. Era o indivíduo que constatou naquele momento que na pirâmide social daquele período, estava em posição inferior e que acabou sendo “expulso” de seu próprio país. OBRA • Ao fazer a leitura da obra ‘O que é isso, companheiro?’ é possível compreender alguns aspectos da constituição da memória coletiva de um grupo e de do indivíduo. • Trata-se de uma narrativa de cunho memorialista, realista de uma história recente do país. • A escrita de Fernando Gabeira permitiu a ocupação de vários lugares – ‘auto’, protagonista, narrador – o escritor dentro da obra objetiva traçar relações entre memória, narração e escritura/literatura. Ao mesmo tempo em que narra, o narrador se dobra sobre o ato de recordar, enquanto recorda e escreve, vai passando a limpo os fatos que viveu. OBRA • Na obra destaca-se o uso abundante do condicional. Minimizando assim o caráter fatual do texto e jogando com o potencial, com aquilo que poderia acontecer. • Nas cenas de tortura para não descrevê-las diretamente, evita o excesso de minúcia que nos romances-reportagem promovem uma verdadeira retórica do horror. • Outra característica do estilo de Gabeira são as frases curtas e o tom informal, que devem muito ao discurso jornalístico, além do uso frequente da segunda pessoa para aproximar o leitor. Essa última opção está relacionada à necessidade didática de informar uma geração que não vivenciou a ditadura. Trecho: • No seguinte trecho, Gabeira dirige-se a seu provável leitor: “O amigo (a) talvez fosse muito jovem em 64. Eu mesmo achei a morte de Getúlio um barato só porque nos deram um dia livre na escola. Um golpe de Estado, entretanto, mexe com a vida de milhares de pessoas. Gente sendo presa, gente fugindo, gente perdendo o emprego, gente aparecendo para ajudar, novas amizades, ressentimentos...” OBRA • O relato de Gabeira dá margem a que tomemos o personagem-narrador como herói, uma vez que a história gira sobre um acontecimento real. O heroísmo só foi amenizado, porque a narrativa contou o fracasso de uma empreitada política e tendeu a relativizar as convicções que guiavam o narrador naquela época. • Evidenciou-se com frequência as fraquezas do projeto, ‘as rachaduras’ nos grupos, a ingenuidade dos militantes. Em ‘O que é isso, companheiro?’, a perspectiva do narrador é a de um indivíduo com vivências, ideias, sentimentos particulares e, principalmente, com críticas a respeito de seu papel na história. Trecho: “Como é que um intelectual pode se negar tão profundamente? Passava os dias lendo jornais, fazendo planos para matar Eduardo e limpando ad nauseam meu revólver Taurus 38 que jamais disparei contra ninguém, mas que mantinha em um estado impecável, como se me esperassem, a cada manhã, fantásticas batalhas campais, ali naquele apartamento de Ana, onde o único vestígio de luta eram as camas desarrumadas com a agitação dos nossos sonhos.” • A prosa de Gabeira distancia-se do neonaturalismo dos romancesreportagem por não aderir a uma versão unificada da situação política dos anos 70. • O livro não segue a tendência principal do romance-reportagem que seria o de produzir ficcionalmente identidades lá onde dominavam as divisões, criando uma utopia de nação e outra de sujeito, capazes de atenuar a experiência cotidiana da contradição. Por sua vez, o risco de uma visão mais centrada no personagem-narrador era o de que se anulasse a pluralidade de vozes, reduzindo tudo à perspectiva de um único indivíduo. OBRA • O livro de Gabeira não é uma exceção no que diz respeito ao caráter monológico dos textos autobiográficos de ex-exilados ou militantes políticos, em que se destaca, por exemplo, o fato de que os outros personagens não terem nenhuma profundidade subjetiva, nenhuma independência em relação à figura central do narrador. • A própria subjetividade do narrador não é explorada muito além de suas implicações referenciais. OBRA • O narrador autobiográfico centrou seu relato nas experiências vividas por ele próprio em um período do passado que a distância temporal lhe permitiu abordar com olhar crítico, mas não colocou em questão a possibilidade de narrar tais experiências. • Se, por um lado, a narrativa autobiográfica ao estilo de ‘O que é isso, companheiro?’ consegue expor o caráter contraditório dos acontecimentos, por outro, evita o problema de como representar, nos limites da linguagem, uma experiência traumática. • Diante de determinadas situações traumáticas – como foram as grandes guerras ou as ditaduras nos países latino-americanos – é comum os escritores se confrontarem com o silêncio, desconfiados da linguagem como meio de comunicar a experiência. • O narrador autobiográfico, pelo contrário, acredita na possibilidade de comunicar uma experiência que sirva de lição para gerações futuras, mas seu relato acaba transmitindo ao leitor uma redução do trauma à vivência privada do narrador. ANÁLISE DA OBRA • O livro ‘O que é isso, companheiro?’ é considerado um livro de memórias e foi escrito quando seu autor, Fernando Gabeira, ainda estava no exílio, em 1979. • O livro venceu o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria biografia/memórias em 1980 e, mais tarde, em 1997, foi transformado em filme pelo cineasta Bruno Barreto. • A obra relata a história do próprio autor e de outras pessoas que estiveram envolvidas em movimentos contra a ditadura durante o Regime Militar por que passou o Brasil. • Gabeira narra suas experiências com a luta armada, a prisão, a tortura, o exílio e a militância em uma organização clandestina denominada MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro). ANÁLISE DA OBRA • A história tem início quando ele está correndo da polícia após o golpe de estado de Pinochet, no Chile. • É nesse momento que ele decide escrever um livro relatando suas experiências. No começo de sua trajetória como militante, participou do movimento estudantil e filiou-se à Dissidência Comunista da Guanabara (uma espécie de "racha" do Partido Comunista Brasileiro) que, posteriormente viria se constituir o MR-8. • O autor contextualiza, ainda, o golpe de 64 e narra a repressão sofrida por aqueles que faziam oposição ao governo. ANÁLISE DA OBRA • Gabeira trabalhava como repórter em um jornal conservador, o JB (Jornal do Brasil), e isso cerceava muito suas ideias (nem sempre conseguia escrever aquilo que queria). • Mesmo assim, junto a outros colegas, organizou a Passeata dos Cem Mil e seu grande feito, que foi o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em troca da libertação de 15 presos políticos. • O sequestro ocorre como um desafio ao regime militar, na semana da Pátria (04 de setembro de 1969), meses depois do Ato Institucional n° 5 (Al-5), o qual suspendia todos os direitos civis dos brasileiros em 1968. ANÁLISE DA OBRA • Percebe-se que Gabeira tinha uma postura libertária (movimento que se iniciava no Brasil) e fazia críticas e reflexões tanto ao regime militar, com sua repressão e violência, como também aos movimentos de esquerda e às suas próprias ações. • O livro foi escrito dez anos depois do ocorrido, portanto, por um Gabeira mais experiente e capaz de enxergar com serenidade os fatos - se o livro tivesse sido escrito no momento dos acontecimentos, ou, "nos anos de chumbo", a história seria bem diferente, pois ele partilhava com outros companheiros o desejo da "Revolução“, isto é, apenas uma perspectiva dos fatos. ANÁLISE DA OBRA • O narrador deixa muito claro que o relato dos acontecimentos se dá por meio da visão pessoal, não há absolutismo da verdade. • Esse confronto entre o que aconteceu no passado e o que se diz no presente é o que caracteriza o texto memorialístico. • ‘O que é isso, companheiro?’ foi criado de acordo com a tendência da escrita dos anos 70: uma representação verossímil da realidade histórica que alguém viveu, uma espécie de realismo crítico que não se volta apenas para a descrição fotográfica, mas para a construção do real estabelecendo mediações entre o particular e o universal. A estrutura da obra • A obra apresenta-se dividida em 16 partes, todas elas com títulos que remetem à história narrada por Gabeira. A temática • A temática principal da obra refere-se à ditadura e a seus reflexos na sociedade (consequentemente, fala-se de tortura, regime militar, prisão, ignorância, política etc.). O tempo e o espaço • O tempo que compreende a narrativa dá-se entre o período de 1964 e meados da década de 1970 e ocorre, principalmente, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O título • O título, ‘O que é isso, companheiro?’ é uma pergunta repleta de indignação. • Na realidade, é um questionamento que reprova atitudes antirevolucionárias. • Esse questionamento do título nos remete a duas situações em que a frase é repetida: na primeira delas, o narrador, impressionado com a pouca idade de Dominguinho, pergunta-lhe por que não coleciona figurinhas e não arranja uma namorada para acariciá-la num banco de jardim. Ele recebe como resposta a frase do título (num misto de indignação e até mesmo de inocência); a segunda situação remete ao momento em que o narrador, ao distribuir o jornal clandestino, sente-se atraído por uma mulher que passa por ali e lhe propõe uma carona. Ouve de um deles a pergunta repleta de incredulidade: o que é isso, companheiro? A narração • A narração é feita em primeira pessoa pelo narradorpersonagem, que em um romance memorialista, geralmente, é o próprio autor. A linguagem Traços da coloquialidade: observa-se muita gíria e palavrões em muitas partes do texto: "0 chefe da operação apontava o revólver para mim e dizia: "Não se mova, filho da puta." Uso do condicional (com aquilo que poderia ser ou acontecer): "Se alguém atirasse, poderia, naquele instante, matar o próprio companheiro." Presença de frases curtas e o tom informal - possivelmente um costume da linguagem jornalística: "Os médicos tinham sido superados pela equipe da Operação Bandeirantes. Nenhum deles autorizaria um interrogatório àquela altura. Tudo o quê? Quem é João? Quem é esse cara na beira da cama querendo que eu abra?" Diálogo com o leitor (segundo o próprio Gabeira, isso era feito para adquirir um tom mais didático; a necessidade de trazer informações às gerações que não fizeram parte daqueles tempos): "Foi assim também com muita gente no Chile. Você diz que vai resistir; você parte para resistir mas o que você vai fazer; de verdade, é fugir." 1964 • O contexto histórico que serve como pano de fundo do livro de Fernando Gabeira ‘O que é isso, companheiro?’ foi gerado pelo golpe militar que introduziu a ditadura no Brasil a partir de 1964 e que durou até 1985. • Para a compreensão do livro, é fundamental conhecer a História. • O início: 13 de março de 1964, no comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, organizado por Leonel Brizola e João Goulart, serve como estopim para o golpe. Neste comício, eram anunciadas as reformas que mudariam o Brasil, tais como, um plebiscito pela convocação de uma nova constituinte, reforma agrária e a nacionalização de refinarias estrangeiras. 1964 • O contexto político e econômico no Brasil era conturbado. • Depois de um encontro com trabalhadores, em 1964, João Goulart (eleito à época, democraticamente, pelo Partido Trabalhista Brasileiro - PTB) foi deposto e teve de fugir para o Rio Grande do Sul e, em seguida, para o Uruguai. • O Chefe Maior do Exército, o General Humberto Castelo Branco, tornou-se presidente do Brasil. • Os militares armados tomaram as principais cidades brasileiras com tanques, jipes entre outros aparatos militares. Os soldados incendiaram a Sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). • As associações que apoiavam João Goulart foram tomadas pelos soldados: sedes de partidos políticos e sindicatos de diversas categorias. 1964 • O golpe militar de 1964 foi amplamente apoiado por alguns setores da mídia, na época e um pouco antes, por meio de jornais, revistas, rádios e empresas de comunicação. • Um dos motivos que conduziram ao golpe foi uma campanha, organizada pelos meios de comunicação, para convencer as pessoas de que Jango levaria o Brasil a um tipo de governo semelhante ao adotado por países como China e Cuba, ou seja, comunista, algo inadmissível naquele tempo, quando se dizia que o que era bom para os Estados Unidos, era bom para o Brasil. • A partir de 1965, as liberdades civis foram reduzidas, o poder do governo aumentou e foi concedida ao Congresso a tarefa de designar o presidente e o vice-presidente da república. Termos Políticos do livro a) Al-5 (Ato Institucional Número 5) O Al-5 (Ato Institucional número 5) foi o quinto decreto emitido pelo governo militar brasileiro (1964-1985). • É considerado o mais duro golpe na democracia e deu poderes quase absolutos ao regime militar. • Redigido pelo ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva, o Al-5 entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do então presidente Artur da Costa e Silva. Termos Políticos do livro • O AI-5 foi uma represália ao discurso do deputado Márcio Moreira Alves, que pediu ao povo brasileiro que boicotasse as festividades de 7 de setembro de 1968, protestando assim contra o governo militar. Determinações mais importantes do Ato Institucional Número 5: Concedia poder ao Presidente da República para dar recesso a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas (estaduais) e Câmara de vereadores (Municipais). No período de recesso, o poder executivo federal assumiria as funções desses poderes legislativos; Concedia poder ao Presidente da República para intervir nos estados e municípios, sem respeitar as limitações constitucionais; Determinações mais importantes do Ato Institucional Número 5: Concedia poder ao Presidente da República para suspender os direitos políticos de qualquer cidadão brasileiro pelo período de 10 anos; Concedia poder ao Presidente da República para cassar mandatos de deputados federais, estaduais e vereadores; Proibia manifestações populares de caráter político; Suspendia o direito de habeas corpus (em casos de crime político, crimes contra ordem econômica, segurança nacional e economia popular). Impunha a censura prévia para jornais, revistas, livros, peças de teatro e músicas. Fim do AI-5 • No ano de 1978, no governo Ernesto Geisel, o AI-5 foi extinto e o habeas corpus restaurado. • Habeas corpus significa "que tenhas o teu corpo", e é uma expressão originária do latim. Habeas corpus é uma medida jurídica para proteger indivíduos que estão tendo sua liberdade infringida, é um direito do cidadão, e está na Constituição brasileira. Termos Políticos do livro b) Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)4 O Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) foi uma organização brasileira de orientação marxista-leninista que promoveu combate armado contra a ditadura militar, tendo como objetivo a instalação de um Estado socialista no Brasil. Seu nome é inspirado no dia em que Ernesto "Che" Guevara foi preso na Bolívia. O grupo revolucionário de esquerda nasceu no estado da Guanabara, no Rio de Janeiro, a partir do golpe militar promovido no país em 1964. Inicialmente, foi formado um grupo de ativistas resultantes de uma dissidência ocorrida no meio universitário do PCB, o grupo ficou conhecido como Dl-GB, Dissidentes da Guanabara. No ano de 1966, ocorreu a total separação do Dl-GB com o PCB, pois os revolucionários defendiam nas eleições legislativas daquele ano o voto nulo, contrariando as propostas do partido. Termos Políticos do livro No mês de setembro de 1969 a Dl-GB juntamente com a Ação Libertadora Nacional elaboraram e promoveram um dos mais famosos sequestros ocorridos durante a ditadura militar no Brasil. Através de uma audaciosa ação conjunta, o embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, tornou-se o primeiro diplomata dos Estados Unidos a ser sequestrado. Termos Políticos do livro Foi, no decorrer da ação do sequestro do embaixador, que a organização DI-GB achou conveniente mudar o nome. Houve um grupo anterior com o nome de Movimento Revolucionário Oito de Outubro que havia sido totalmente capturado pelo regime militar, para confundir e também desmoralizar a ditadura, que havia anunciado anteriormente vitória sobre a organização, os militantes entenderam como vantajoso assumir então o mesmo nome, Movimento Revolucionário Oito d Outubro (MR-8). Termos Políticos do livro • O sequestro, que teve como um de seus promotores Fernando Gabeira, resultou em vitória para o movimento revolucionário. • O MR-8 conseguiu negociar a liberdade do embaixador em troca de 15 prisioneiros políticos, que embarcaram no dia 6 de setembro para o México. • O movimento foi decisivo para que promovessem ampla divulgação em rádios e jornais do país a insatisfação contra a ditadura, permitindo que muitos tomassem conhecimento do que vinha acontecendo no país e chamando a atenção em âmbito nacional e internacional contra o regime militar. Termos Políticos do livro • O governo passou a perseguir o MR-8 e reprimir seus militantes duramente, mas as ações de roubos e assaltos por parte dos rebeldes para garantir os recursos necessários para as manifestações continuavam. • No ano de 1970 as ações se expandiram e a organização passou a ter contatos em fábricas e áreas rurais. • Alguns textos em 1971 mostravam uma organização aparentemente sólida. Termos Políticos do livro • Ainda em 1971 a repressão do regime militar aumentou muito e o MR-8 quase chegou ao fim em 1972. • A maioria dos militantes se refugiou no Chile neste ano. • Assim a direção teve que se reestruturar, tomando outras orientações. • A partir de então, a luta armada deu lugar ao jogo político e o MR-8 aproximou-se do MDB, tendo Orestes Quércia como principal liderança, ao editar o periódico "Hora do Povo". • Até hoje o MR-8 continua atuando como uma corrente dentro do PMDB, aparecendo em movimentos sindicais e nas diretorias da União Nacional dos Estudantes (UNE). Termos Políticos do livro • Veja o Manifesto da ALN (Ação Libertadora Nacional )e do MR-85 referente ao sequestro do embaixador americano no Brasil - 4 de setembro de 1969: “Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado.” Manifesto da ALN e do MR-85 “Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.” Manifesto da ALN e do MR-85 “Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural. Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a certeza de vitória para o meio dos explorados. O sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do imperialismo, que, aliado aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de opressão e exploração.” Manifesto da ALN e do MR-85 “Os interesses desses consórcios, de se enriquecerem cada vez mais, criaram e mantêm o arrocho salarial, a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta. Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, que não termina com a troca de um ou outro general no poder, mas que só acaba com o fim do regime dos grandes exploradores e com a constituição de um governo que liberte os trabalhadores de todo o país da situação em que se encontram.” Manifesto da ALN e do MR-85 “Estamos na Semana da Independência. O povo e a ditadura comemoram de maneiras diferentes. A ditadura promove festas, paradas e desfiles, solta fogos de artifício e prega cartazes. Com isso ela não quer comemorar coisa nenhuma; quer jogar areia nos olhos dos explorados, instalando uma falsa alegria com o objetivo de esconder a vida de miséria, exploração e repressão que vivemos. Pode-se tapar o sol com a peneira? Pode-se esconder do povo a sua miséria, quando ele a sente na carne? Na Semana da Independência, há duas comemorações: a da elite e a do povo, a dos que promovem paradas e a dos que raptam, o embaixador, símbolo da exploração.” Manifesto da ALN e do MR-85 “A vida e a morte do sr. Embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ele atender a duas exigências, o sr. Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências são: a) A libertação de 15 prisioneiros políticos. São 15 revolucionários entre milhares que sofrem torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses 15 homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.” Manifesto da ALN (Ação Libertadora Nacional )e do MR-85 “b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país. Os 15 prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado - Argélia, Chile ou México -, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação. A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos 15 líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os 15 companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma "situação excepcional". Nas "situações excepcionais", os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da Junta militar.” Manifesto da ALN e do MR-85 “A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos 15 líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os 15 companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma "situação excepcional". Nas "situações excepcionais", os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da Junta militar. As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.” Manifesto da ALN e do MR-85 “As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências. O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte. Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas. Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente. Ação Libertadora Nacional (ALN) Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)” Termos Políticos do livro c) PARA SAR O EAS - Esquadrão Aero-terrestre de Salvamento, mais conhecido como PARA-SAR ('PARA' de paraquedistas, 'SAR' do inglês Search and Rescue, "Busca e Salvamento"), é um esquadrão Paraquedista de Operações Especiais e Busca e Resgate da Força Aérea Brasileira. SAR é uma doutrina utilizada mundialmente pelas Forças Armadas e diversas unidades especiais. Caso Para-Sar, também conhecido como Atentado ao Gasômetro, diz respeito a um plano terrorista de extrema-direita arquitetado em 1968 pelo brigadeiro João Paulo Burnier para desacreditar e reprimir os oposicionistas ao regime militar que então governava o Brasil. Consistia em empregar o esquadrão de resgate Para-Sar na detonação de explosivos em diversas vias públicas do Rio de Janeiro, atentados esses com potencial para provocar milhares de mortes e que seriam atribuídos a movimentos de esquerda. Termos Políticos do livro Na fase secundária da missão, o clima de caos proporcionado pelas tragédias seria usado para encobrir o sequestro e assassinato de quarenta figurões da política brasileira, entre eles Carlos Lacerda, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek. O plano acabou abortado após a denúncia do oficial do ParaSar Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, que se recusou a cumprir as ordens de Burnier e levou o caso a seus superiores. Na sindicância resultante aberta pelo brigadeiro Itamar Rocha, 37 testemunhas comprovam a acusação. Burnier, no entanto, negou ter planejado o crime, sendo absolvido após o processo chegar aos gabinetes do ministério da Aeronáutica e da presidência da República. Itamar e Sérgio, por sua vez, acabaram afastados dos quadros da Aeronáutica. Termos Políticos do livro d) CENIMAR • O CENIMAR é um órgão da Marinha do Brasil que tinha o objetivo de obter informações de interesse para o Estado durante a Ditadura Militar. • A atividade do CENIMAR ganhou repercussão histórica especialmente por causa de sua investigação de movimentos subversivos durante a Ditadura Militar. • A partir de 1968, o CENIMAR passou a exercer tal função e a ser empregado diretamente na repressão à luta armada exercida por organizações de extrema esquerda que tentavam derrubar o regime militar vigente no país. Termos Políticos do livro • A atuação do CENIMAR, durante o governo militar, fez mudar sua estrutura organizacional. • O órgão passou a ser subordinado ao Ministro da Marinha. Sua nova função tornou-o o órgão militar mais eficiente na obtenção de informações. • Trabalhou juntamente com o famoso e temido DOI-CODI, controlado pelo exército, e do CISA, administrado pela Aeronáutica. • As atividades do CENIMAR iam muito além das informações, o órgão desenvolvia investigações seguidas de prisões e torturas. • Sua sede localizava-se na Ilha das Flores, na cidade do Rio de Janeiro, um dos mais famosos pontos de partida das ações repressivas durante a Ditadura Militar. Termos Políticos do livro e) DOPS • O termo "DOPS" significa Departamento de Ordem Política e Social e foi criado em 1924 para controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. • O DOPS perseguia, acima de tudo, as atividades intelectuais, sociais, políticas e partidárias de cunho comunista. • Durante o regime militar, em São Paulo, o seu delegado mais conhecido foi Sérgio Paranhos Fleury, devido às acusações de "linha dura" feitas pelos presos. • Havia muitas dificuldades para quem fosse fichado no DOPS. O candidato a um emprego, por exemplo, em um período da ditadura militar, precisava apresentar um "Atestado de Antecedentes Políticos e Sociais" mais conhecido como "Atestado Ideológico", que era fornecido pelo DOPS a quem não tinha ficha no órgão.