I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” A Constituição Pastoral Gaudium et Spes representa, no conjunto do fantástico evento que foi o Concílio Vaticano II, um enorme avanço no que tange a concepção da Igreja sobre o mundo moderno e suas principais configurações politicas, econômicosociais, culturais e antropológicas. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • Não é por menos que este Documento teve uma difícil tramitação, no conjunto das sessões conciliares, dado a sua concepção revolucionaria sobre diversos aspectos do mundo secular, diante dos quais a Igreja tinha pouca experiência nos séculos antecedentes, pois se voltava quase exclusivamente para questões eclesiais e espirituais. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • A ideia de um Documento sobre o mundo moderno surge no final da 1° sessão conciliar, em 1962, por iniciativa do Cardeal belga Joseph Suenens, num célebre discurso pronunciado em 4 de dezembro, na Aula conciliar. Na verdade, somente em 1963 a comissão teológica e a comissão sobre os leigos produziram, conjuntamente, um texto sobre a presença da Igreja no mundo. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • Este primeiro texto foi totalmente rejeitado pelos Padres conciliares, cabendo ao Cardeal Suenens, com apoio dos teólogos da Universidade de Louvaina, redigir um novo texto, que serviu de base para a discussão dos bispos, em 1964, na 3° sessão do Concílio, merecendo mais de uma centena de intervenções discursivas e inúmeras sugestões por escrito. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • Somente em 1965, um novo texto revisado foi entregue aos Bispos na 4° sessão conciliar, sendo ainda muito discutido com inúmeras intervenções e sugestões. Finalmente, o texto foi então votado, capítulo por capítulo, em 4 de dezembro de 1965 e, enfim votado in totum em 7 de dezembro, véspera do encerramento do Concílio Vaticano II, obtendo 2.309 votos favoráveis, 75 votos negativos e 07 votos nulos dos Padres conciliares. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • Como se vê, o processo de elaboração e discussão desse Documento foi muito difícil para uma Igreja secularmente voltada para questões espirituais e pastorais, equidistante dos problemas concretos do mundo. I – INTRODUÇÃO À CONST. PASTORAL “GS” • A Constituição Pastoral Gaudium et Spes está estruturada num proêmio e introdução sobre a condição do homem no mundo moderno. Seguese uma 1ª parte que enfoca a Igreja e a vocação do homem na caminhada histórica sob o impulso do Espírito. ENFOQUES DA PRIMEIRA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O 1° capítulo dessa primeira parte é inteiramente dedicado à dignidade da pessoa humana, destacando a consciência moral e a grandeza da liberdade humana. Conclui o capítulo abordando a questão do mistério da morte e o problema do ateísmo moderno. ENFOQUES DA PRIMEIRA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O 2° capítulo aborda o tema da comunidade humana, destacando o significado do bem comum, da igualdade social e da justiça social, bem como a necessidade de superação da ética individualista. • O 3º capítulo se volta para a riqueza da atividade humana contingenciada pelos seus limites, pecados, mas também pelos seus valores. ENFOQUES DA PRIMEIRA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O 4º capítulo Apresenta o documento que contempla a relação mútua entre a Igreja e o mundo em favor da sociedade humana. • Prossegue o Documento com uma segunda parte onde são privilegiados alguns dos desafios do mundo moderno. ENFOQUES DA SEGUNDA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O 1° capítulo da segunda parte valoriza a dignidade do matrimônio e da família, máxime da santidade da família e do amor conjugal como fonte da vida humana. • O 2° capítulo enfoca o desafio da cultura e sua relação com a fé e os valores evangélicos, salientando o significado da educação cristã e as tensões entre fé e civilização. ENFOQUES DA SEGUNDA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O 3º capítulo aborda a questão econômico-social na ótica do desenvolvimento a serviço do homem e problematiza as acentuadas diferenças entre nações pobres a ricas, os conflitos do trabalho e da propriedade privada. ENFOQUES DA SEGUNDA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • No 4° capítulo o Documento se volta para a questão da paz e da solidariedade internacional, criticando a desumanidade das guerras e a corrida armamentista. Valoriza a cooperação econômica entre as nações e o papel dos organismos internacionais. Finalmente, revela sua preocupação com a explosão demográfica e o papel dos cristãos na construção da comunidade internacional. ENFOQUES DA SEGUNDA PARTE DA GAUDIUM ET SPES • O Documento conclui com uma exortação final, conclamando todos os homens para a construção de um mundo mais humano e justo, em sintonia com a vontade de Deus. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje enfoca, como o próprio titulo alude, as relações da Igreja com o mundo de hoje, na perspectiva de alguns parâmetros essenciais: família, trabalho, cultura, economia, política, comunidade internacional, analisados na ótica da dignidade da pessoa humana (GS 200). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A Gaudium et Spes (GS) consta de duas partes essenciais: a Igreja e a vocação do homem, alguns problemas mais urgentes. As duas constituem um todo doutrinário e pastoral, que busca iluminar a trajetória humana no século XX (GS 201/202). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A abertura da Constituição é antológica, dando o tom de toda a teologia subjacente no documento: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. Assume-se que nada há de verdadeiramente humano que não seja do interesse e da preocupação da Igreja. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com a humanidade e a sua historia (GS 203). Essa profunda identidade com a caminhada de toda humanidade, cristãos e não cristãos, perpassa a linha dorsal da Constituição, buscando no mistério de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado, a libertação da servidão do pecado e a transformação da pessoa humana e do mundo. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • O Concílio Vaticano II deseja dialogar com todas as realidades humanas à luz do Evangelho, guiado pelo Espírito Santo, buscando salvar a pessoa humana e renovar a sociedade moderna. Eis a colaboração sincera da Igreja para edificar a fraternidade universal, no espírito de servir e não ser servido (GS 205). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • No exercício de sua missão, a Igreja tem o dever perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de modo particular as mudanças profundas e rápidas que atingem a humanidade. Se, de um lado, as sociedades dispõem de tantas riquezas e possibilidades de poder econômico, de outro lado, ainda padecem de fome, miséria e analfabetismo. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • Nunca se exaltou tanto a liberdade humana, mas, ao mesmo tempo, se constata um processo tão vasto de escravidão social e psicológica. De um lado se verifica um sonho de unidade e comunhão e, de outra parte, observamos profundas divisões políticas, sociais, econômicas e ideológicas. Enfim, o mundo experimenta tanto progresso material sem o correspondente crescimento espiritual (GS 206/208). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A evolução do pensamento cientifico e tecnológico gerou um sistema cultural com uma matriz de pensamento diverso dos séculos precedentes. A técnica transforma a face da terra e o espaço interplanetário. A inteligência humana tem novas concepções sobre o tempo e a historia, as ciências biológicas, psicológicas e sociais, prevendo e regulando o próprio crescimento demográfico. Supera-se, assim, uma visão mais estática em prol de uma concepção mais dinâmica da historia (GS 210/212). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A consequência de todo esse processo histórico da modernidade foram profundas mudanças sociais, psicológicas, morais e religiosas, que resultaram nos desequilíbrios do mundo moderno. A sociedade industrial gerou a civilização urbana, multiplicando cidades, concentrando populações, com vários fatores consequentes: êxodo rural e migração, comunicação social, autonomia humana e social. Este conjunto de mudanças tem seus reflexos maiores entres os jovens, que desafiam o processo educacional dos pais e da sociedade. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • concentrando populações, com vários fatores consequentes: êxodo rural e migração, comunicação social, autonomia humana e social. Este conjunto de mudanças tem seus reflexos maiores entres os jovens, que desafiam o processo educacional dos pais e da sociedade. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • O valor das instituições, as leis, os valores éticos e filosóficos é questionado, advindo dai consequências graves no comportamento social. O espírito critico do homem moderno atingiu a religião exigindo uma fé mais pessoal, esclarecida e comprometida. A secularização parece revelar um humanismo sem Deus com consequências profundas na cultura (GS 213/220). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • A consciência critica das discrepâncias da realidade produz contradições e desequilíbrios que atingem a essência da pessoa humana. Há uma dicotomia entre a inteligência prática e o pensamento teórico e filosófico; um distanciamento entre eficácia e consciência ética; uma crise entre os imperativos da vida coletiva II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • e o valor da pessoa humana; um fosso entre ação e contemplação; egoísmos coletivos de nações ao lado de programas de solidariedade e desenvolvimento. Enfim, nesse processo histórico, o homem é ao mesmo tempo causa e vitima (GS 221/225). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • É neste cenário que o gênero humano explicita suas aspirações mais legitimas e universais na defesa, afirmação e cultivo da própria dignidade. Daí a reivindicação de justiça social e participação nos bens da civilização, levando os povos mais oprimidos pela fome a interpelarem os povos mais ricos. Nesta mesma perspectiva, as mulheres pleiteiam a paridade dos direitos com os homens; os operários e lavradores desejam melhor qualidade de vida e participação na gestão da sociedade (GS 226/229). II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • Face às ambiguidades do mundo moderno, surgem as interrogações mais profundas da humanidade, que encontra no coração do próprio ser humano as contradições mais significativas que o induzem a fazer o que não deseja e a não construir o que sonha (RM 7,14). Decorre daí o materialismo prático, fonte de opulência para uns e miséria absoluta para outros; alguns apostando no reino de todos os desejos deste mundo, e outros vivendo o desespero da falta de sentido de vida. II – PROÊMIO E INTRODUÇÃO • Em suma, questiona-se o homem moderno: qual o sentido da dor, da morte, do mal, de tanto progresso e miséria? Só Jesus Cristo, morto e ressuscitado, pode responder as angústias do ser humano! Ele é a chave de toda a historia! (GS 230/231). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • A Constituição pastoral Gaudium et Spes – GS, logo no 1º capítulo assume seu posicionamento em defesa da dignidade da pessoa humana. Movido pela fé e pelas moções do Espírito Santo, o Povo de Deus esforça-se em fazer III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • o discernimento dos acontecimentos históricos, bem como das aspirações e necessidades humanas, perscrutando os verdadeiros desígnios de Deus. A fé e o Espírito manifestam a vocação integral do ser humano (GS 232). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • O Concílio deseja identificar os valores humanos de maior significado para a realização da pessoa humana, em consonância com os valores da fonte evangélica. III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Os valores humanos, decorrentes da inteligência humana, são intrinsecamente bons, mas, sujeitos à corrupção do pecado, precisam de uma evangélica purificação. Deste modo, o Povo de Deus e a humanidade inteira prestam-se serviços mútuos (GS 233/234). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Toda realidade terrestre está ordenada ao homem como centro e ponto culminante. A Igreja, instruída pela revelação divina, pode oferecer à humanidade o verdadeiro sentido da condição humana, capaz de responder às expectativas e angústias, fraquezas e valores do ser humano, que busca discernir sua autêntica vocação (GS 235/236). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • As Sagradas Escrituras ensinam que o ser humano, criado à imagem de Deus, constituise em senhor da criação, não para destruí-la, mas para preservá-la em favor do homem e da glória de Deus. Igualmente, Deus criou a pessoa humana não para a solidão, mas para a comunhão. Por isso, homem e mulher os criou, decorrendo daí a natureza social da condição humana (GS 237/238). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Criado em seu estado de perfeição, o ser humano extrapolou sua própria liberdade, negando Deus como ser supremo, invertendo a relação criador/criatura. Essa fragmentação original tornou-se oriunda das falhas e limites que marcam a natureza humana, inclinada para o mal, comprometendo o fim último da humanidade e a relação harmônica com Deus, consigo mesma e com a natureza (GS 239). III – A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Decorre daí a luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e trevas, que comprometem o posicionamento humano e a verdadeira liberdade. Deste modo, o pecado impede o ser humano de atingir sua plenitude. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Por isso, Deus vem em socorro para libertar o homem pela graça salvífica de Jesus Cristo. Eis a razão última da vida humana que encontra, na revelação, sua vocação mais sublime e, ao mesmo tempo, a consciência de sua profunda fragilidade (GS 240). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Constituído de corpo e alma indissolúveis, o ser humano é chamado a defender radicalmente o valor da vida, material e espiritual, e como tal os valores do corpo e do espírito. Afinal, o ser humano é destinado à ressurreição final no último dia. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Decorre daí que a pessoa humana deve superar as más inclinações do coração e as revoltas do corpo para atingir a verdadeira harmonia de corpo e alma. Por sua espiritualidade o ser humano aperfeiçoa o seu espírito e dignifica o seu corpo, templo vivo do Espírito Santo. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Nesta intimidade profunda entre Deus e o homem se dá o discernimento humano sobre a vida e a história. O homem não é fruto de uma criação imaginária, mas sonho de Deus, que o plasmou para a imortalidade (GS 242/243). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • De fato, pela inteligência humana, o homem se manifesta como ser superior a todas as coisas criadas, revelando nas ciências e nas artes a riqueza de sua criação e a verdade mais profunda de sua existência. É verdade que, em consequência do pecado, o saber humano é limitado e por vezes equivocado, mas sempre superado pela sabedoria do Espírito. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Quanto mais sábios forem os seres humanos, mais profundamente humanos serão os destinos da humanidade, num rico intercâmbio entre as nações mais ricas economicamente e outras nações pobres na economia e ricas nos bens culturais (GS 244/247). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Neste prisma conceitual, a Constituição Pastoral Gaudium et Spes situa a importância capital da consciência moral da pessoa humana. Na verdade, o ser humano tem uma lei gravada em seu coração, que é constituinte de sua própria dignidade, levando-o a amar e fazer o bem e evitando o mal. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do ser humano onde ele está sozinho diante de Deus. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • A consciência moral se manifesta no exercício do amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Na fidelidade da consciência, cristãos e não cristãos hão de encontrar as soluções para os inúmeros problemas da humanidade, em nível pessoal e social (GS 248). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • É pela consciência moral que o homem será julgado pelo Juiz divino quando se torna prisioneiro da consciência errônea ou quando se busca ardorosamente a verdade e a justiça. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • A reta consciência moral é sempre uma busca difícil, mas que assegura a verdadeira dignidade humana, na medida em que investiga sempre mais o sentido do bem e da verdade, na busca de soluções justas para o convívio humano (GS 248). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • A liberdade essencial da condição humana é o fundamento da dignidade humana. A liberdade, todavia, não é a exaltação do livre fazer, seja do bem ou do mal, mas. Antes, o direito de decidir segundo sua consciência moral, orientada pelos DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • valores da fé cristã ou os valores mais nobres das expressões culturais e religiosas dos povos. Quando a liberdade humana está em sintonia com o desígnio divino, a pessoa humana experimenta a perfeição plena e feliz. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • A liberdade verdadeira é um antídoto ao impulso interno cego, ou à severa coação externa, libertando homens e mulheres do cativeiro das paixões e das dominações históricas. Com o auxílio da graça de Deus, pelo impulso do Espírito Santo, seremos verdadeiramente livres para o bem e a verdade (GS 249). DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Diante da dignidade humana, a morte se revela um enigma acompanhado de dor e esperança. Dor pela dissolução do corpo, e esperança pela certeza da vida eterna. A imortalidade é o sentido maior da dignidade humana, revelando-se resposta definitiva à angústia do homem. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Por maior que seja o progresso científico e tecnológico, o ser humano tem sede de imortalidade pois, por natureza é semente de eternidade. A ressurreição é o desejo mais profundo que, vencendo os limites do pecado, restitui a plenitude de vida, pela graça e misericórdia de Deus salvador (GS 250). V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • A razão principal da dignidade humana é a comunhão com Deus! Afinal, homem e mulher são frutos do amor de Deus! V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • A Verdade e o Amor são dois anseios antropológicos perenes e universais. Todavia, muitos seres humanos não têm essa concepção teísta e até rejeitam, explicitamente, a possibilidade da existência de Deus, ao menos do Deus revelado no cristianismo ou no judaísmo. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • O mesmo se diga das divindades manifestas por inspiração e cultuados nas grandes expressões religiosas. Esse fenômeno merece um exame mais diligente da Igreja (GS 252). V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÌSMO • O ateísmo é um fenômeno diversificado envolvendo não só os que negam expressamente a Deus, como também os que pensam que sobre Deus nada podemos declarar. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÌSMO • Alguns negam claramente todo o pensamento filosófico metafísico e afirmam apenas o reinado das ciências positivas que tudo explicam. Não haveria, portanto, verdades absolutas, mas apenas saber científico relativo. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Neste processo histórico, geralmente, há uma exaltação do homem e uma negação de Deus. Alguns reduzem a concepção de Deus a uma fantasia; não chegam a compreender o Deus revelado nos Evangelhos (GS 253). • Na verdade, num mundo secularizado, sequer o problema de Deus causa inquietação e, o fenômeno religioso, não merece atenção ou investigação. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Todavia, há de se reconhecer que, muitas vezes, o ateísmo se origina da indignação diante do mal no mundo e de expressões religiosas alienantes e repressoras, ou da absolutização de bens humanos atribuídos a Deus. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • É preciso considerar que, os que negam a Deus e a religião, nem sempre seguem os ditames de sua consciência e, por isso, não são isentos de culpa moral. Portanto, o ateísmo não é algo inato à consciência humana, mas tem origem em causas diversas, entre estas a crítica da religião em diversas perspectivas e até mesmo movimentos contra a religião católica. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Nesta gênese do ateísmo, os crentes que negligenciam a educação da fé promovendo a distorção doutrinal, ou vivendo uma heresia vital no campo espiritual, moral e social têm grande responsabilidade porque obscurecem a genuína face de Deus e da religião (GS 254). V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • O ateísmo sistemático moderno busca uma autonomia radical do homem sem Deus. Nesta ótica, a liberdade é o próprio fim do ser humano, único artífice e demiurgo da própria história. Com isto afirmam que sua posição existencial não reconhece V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • um Senhor, autor e fim de todas as coisas. Prefere-se confiar na potência do progresso científico e tecnológico. A tendência, nesse caso, é de um reducionismo da libertação humana à libertação econômico-social e políticocultural. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • A religião, nessa ótica, é vista com restrição e rechaço, como um impeditivo que aposta apenas numa libertação futura e quimérica, sem compromisso com a construção da cidade terrestre. Não raro os governos que assumiram esta concepção perseguem a experiência religiosa autêntica e apostam na educação ateia da juventude. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • A Igreja busca simultaneamente ser fiel a Deus e aos seres humanos e, por isso mesmo, reprova dolorosamente tudo o que impede a experiência universal de transcendência, pois isso contradiz a razão histórica e priva a pessoa humana de sua grandeza inata. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Descobrindo nas raízes do pensamento ateu as motivações mais profundas da negação de Deus, a Igreja reconhece a gravidade destas questões e deseja, com extrema caridade, examinar seriamente os argumentos do ateísmo. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Não há, na verdade, nenhuma incongruência entre a emancipação humana e o reconhecimento de Deus, pois decorrem daí exatamente a liberdade e a inteligência dos seres humanos como partícipes da felicidade e da comunhão divina. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • De outro lado, a esperança escatológica em nada diminui o sentido humano da vida e dos valores imanentes, antes, apoia e fornece motivos novos. Sem essa dimensão metahistórica o problema humano da dor e da morte se torna insolúvel, a dignidade humana é prejudicada e o desespero redunda em solução final. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Só Deus dá uma resposta plena e total aos enigmas da vida das pessoas, também dos ateus, nos quais a graça opera de modo invisível (Lumen Gentium II, l6). V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Os Padres Conciliares afirmam que o remédio para o ateísmo está não só na clareza da doutrina cristã, mas também na autenticidade e pureza da Igreja e de seus membros como testemunhas vivas e visíveis do Pai, do Filho encarnado e das moções do Espírito Santo. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Esta é a fé testemunhada pelos mártires e pelos confessores na prática do amor radical e no compromisso pela justiça, que tornam presentes no mundo profano a fé do Evangelho. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Embora a Igreja rejeite o ateísmo, acolhe com sinceridade todos os nãos crentes como protagonistas da construção de um mundo justo e fraterno. V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • Um diálogo sincero e prudente contribui para a superação de toda a forma de discriminação entre crentes e não crentes. A Igreja denuncia governantes que não respeitam a liberdade essencial das pessoas V – A GAUDIUM ET SPES E O ATEÍSMO • no campo da fé e conclama os não crentes a refletirem com objetividade sobre o Evangelho de Jesus Cristo, que responde às aspirações mais profundas do coração humano: “Fizeste-nos para vós, Senhor, e o nosso coração permanece inquieto enquanto em vós não descansar!” (Agostinho de Hipona – Confissões l, 1).