PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES
COMO CUIDADO EMANCIPADOR
Objetivo
Apresentar a relação entre cuidado, clínica e cuidado
Emancipador.
Apresentar as PICs como modelo de cuidado emancipador.
Primeiro Pressuposto
A CIÊNCIA MODERNA construiu-se negando o SENSO COMUM,
considerado superficial, ilusório e falso, por meio de uma RUPTURA
EPISTEMOLÓGICA. (SANTOS, 1989)
Primeiro Pressuposto
Senso
Comum
Ruptura
Conhecimento
Epistemológica
Científico
Segundo Pressuposto
A CIÊNCIA PÓS-MODERNA procura reabilitar o SENSO COMUM
tornando-o emancipatório, por meio de uma SEGUNDA RUPTURA
EPISTEMOLÓGICA (SANTOS, 1989).
Segundo Pressuposto
I Ruptura
Epistemológica
II Ruptura
Epistemológica
Terceiro Pressuposto
Os princípios da primeira e segunda rupturas científicas, da
modernidade e pós-modernidade, podem ser transpostos para as
análises do campo da saúde.
Terceiro Pressuposto
CUIDADO
CLÍNICA
CUIDADO
EMANCIPADOR
Terceiro Pressuposto
CUIDADO
CLÍNICA
CUIDADO
EMANCIPADOR
SOCIALIZACÃO
COISIFICACÃO
HUMANIZACÃO
CUIDADO
CONHECIMENTO CONHECIMENTO EMANCIPADOR
(conhecimento
TÁCITO (atributo
FOCAL ou
da espécie com TÉCNICO (tradição tácito-técnico com
regras legítimas e
regras)
artesanal com
legais)
normas)
Cuidado como Conhecimento Tácito
- Cuidado equivale ao “conhecimento tácito usado como uma
ferramenta para manipular ou melhorar o que está em
foco”(Polanyi, 1966).
-
Cuidado é uma prática pessoal, embora seja coletivamente
construída (atributo da espécie) e difícil de ser codificado, ou
seja, expresso por palavras.
-
Cuidado é geralmente fruto de uma longa experiência, de uma
convivência. Sua transmissão é complexa, pois necessita
interações prolongadas em uma cultura ou tradição, por isso é
resultante de uma SOCIALIZAÇÃO.
Cuidado como Conhecimento Tácito
-
Cuidado é socializador, pois está relacionado aos símbolos,
valores, práticas e regras de uma cultura, que se desenvolve
em permanente mudança.
-
No cuidado desenvolve-se uma habilidade de agir de acordo
com regras (que podem variar) e o ator mesmo é capaz de
julgar se a ação foi bem sucedida ou não. (Bertil Rolf, 1991)
Clínica como Conhecimento Focal ou Técnico
Clínica equivale ao “conhecimento focal sobre o objeto ou fenômeno que
está em foco”. (Polanyi, 1966)
Clínica é uma prática mais associada ao artesanato que à arte, pois:
– tem um agente coletivo;
– não se desenvolve de maneira súbita, mas lenta no interior de uma
tradição/cultura;
– resulta da institucionalização do cuidado, como forma de tornar
explícito o tácito;
– desenvolve-se no conflito entre a autonomia e a autoridade, intuição
e protocolo. (Sennett, 2012)
Clínica como Conhecimento Focal ou Técnico
- Clínica é reificadora (“coisificadora”), pois está relacionado aos
símbolos, valores, práticas e regras da ciência ocidental moderna,
cujo método preconiza a desumanização/objetivação.
- “Reificação é a apreensão dos fenômenos humanos como se fossem
coisas, isto é, em termos não humanos ou possivelmente superhumanos. (...) A reificação implica que o homem é capaz de
esquecer sua própria autoria do mundo humano, e mais, que a
dialética entre o homem, o produtor, e seus produtos é perdida de
vista pela consciência. O mundo reificado é por definição um
mundo desumanizado”. (Berger e Luckmann, 1985)
Clínica como Conhecimento Focal ou Técnico
- Na clínica desenvolve-se o conhecimento técnico ou Know-how, que
é a capacidade de agir em contextos sociais, em que outros atores
estabelecem as regras.
- Clínica, como saber-fazer, implica em resolver o problema, porém a
capacidade de reflexão sobre as normas (protocolos) é de uma ordem
superior e não deve ser uma parte deste know-how. (Bertil Rolf,
1991)
Cuidado Emancipador como Humanizador
Conhecimento emancipador:
-
equivale ao
reificador);
-
com regras legítimas (construídas na interação social) e legais
(instituídas e protocoladas);
-
sem sobreposição de um conhecimento sobre o outro (princípio da
aprendizagem mútua da interculturalidade).
conhecimento
tácito-técnico
(socializador
e
Cuidado Emancipador como Humanizador
-
No cuidado emancipador desenvolve-se uma competência, que é
know-how + a capacidade de reflexão (know-why).
-
Competência é a capacidade não só de se submeter às regras, mas
também, pela reflexão, influenciar as regras de domínio ou a
tradição. (Bertil Rolf, 1991)
-
Cuidado emancipador é, portanto, uma relação entre atores
individuais cuidadores e um sistema social de regras de cuidado,
como da biomedicina.
Cuidado, Clínica e Cuidado Emancipador
CUIDADO
CLÍNICA
CUIDADO
EMANCIPADOR
SOCIALIZACÃO
COISIFICACÃO
HUMANIZACÃO
HABILIDADE
KNOW-HOW
COMPETÊNCIA
RESTAURAR
RETIFICAR
RECONFIGURAR
Cuidado, Clínica e Cuidado Emancipador
CUIDADO é socializador, por desenvolver uma habilidade
restauradora, com vistas ao retorno ao estado original.
CLÍNICA é reificadora, por desenvolver um saber-fazer retificador,
que procura manter formas antigas e substituir partes ou modos
de funcionamento.
CUIDADO EMANCIPADOR é humanizador, por desenvolver uma
competência reconfiguradora, que “re-cria” a forma, o
funcionamento e suas interações, a partir do processo
experienciado.
CUIDADO
CLÍNICA
CUIDADO
EMANCIPADOR
SOCIALIZACÃO
COISIFICACÃO
HUMANIZACÃO
HABILIDADE
KNOW-HOW
COMPETÊNCIA
RESTAURAR
RETIFICAR
RECONFIGURAR
CUIDADO
INFORMAL E
POPULAR
CLÍNICA BIOMÉDICA
PRÁTICAS
INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES
CUIDADO
SOCIALIZACÃO
CONHECIMENTO
TÁCITO
HABILIDADE
RESTAURAÇÃO
PRÁTICAS TRADICIONAIS
Práticas
Tradicionais como
Cuidado
CLÍNICA
COISIFICACÃO
CONHECIMENTO TÉCNICO
SABER-FAZER
RETIFICAÇÃO
CLÍNICA BIOMÉDICA
Práticas
Convencionais
como Clínica
CUIDADO EMANCIPADOR
HUMANIZACÃO
CONHECIMENTO TÁCITOTÉCNICO
COMPETÊNCIA
RECONFIGURAÇÃO
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES
Práticas
Integrativas e
Complementares
como Cuidado
Emancipador
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES COMO
CUIDADO EMANCIPADOR
Cuidado emancipador é o princípio fundador da maior parte das PICs,
que humanizam por “re-criar”, a partir da produção de
AUTOCONHECIMENTO, AUTONOMIA e AUTOCUIDADO.
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES COMO
CUIDADO EMANCIPADOR
As PIC são CUIDADO EMANCIPADOR que PRODUZEM AUTONOMIA
“[Tomam] o respeito à autonomia e à dignidade de cada um [como] um
imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos
outros”. (Freire, 1996)
“[Responsabiliza-se pela] difícil passagem da heteronomia para a autonomia, (...)
que tanto pode ser auxiliadora como perturbadora. (Freire, 1996)
“[Compromete-se] a "expulsar“ o opressor de "dentro" do oprimido, enquanto
sombra invasora, que expulsa precisa ser substituída por autonomia e
responsabilidade”. (Freire, 1996)
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES COMO
CUIDADO EMANCIPADOR
As PIC são CUIDADO EMANCIPADOR que PRODUZEM AUTOCUIDADO
“[Com a construção da] autonomia vai preenchendo o espaço
antes habitado [pela] dependência”. (Freire, 1996)
“[Reconhece que] ninguém é autônomo primeiro para depois
decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de
várias e inúmeras decisões que vão sendo tomadas”. (Freire, 1996)
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES COMO
CUIDADO EMANCIPADOR
As PIC são CUIDADO EMANCIPADOR que PRODUZEM
AUTOCONHECIMENTO
“[Assumem que] ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por
outro lado, ninguém amadurece de repente. A gente vai
amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é processo, é vir a
ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma
pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em
experiências respeitosas da liberdade [e autoconhecimento]”.
(Freire, 1996)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barros, NF. A Construção da Medicina Integrativa: um desafio para o campo da saúde. São Paulo: Hucitec
2008.
Berger, P; Luckmann, T. A construção social da realidade. Petropólis: Vozes, 1995
Freire P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
Santos, B de S. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro. Graal. 1989.
Sennett. Richard. Juntos - os rituais, os prazeres e a política da cooperação. 1 Ed. Rio de Janeiro - São
Paulo: Record. 2012.
Polanyi, M. The Tacit Dimension. London: Routledge And Kegan Paul, 1966.
Rolf, Bertil. Profession, tradition och tyst kunskap: en studie i Michael Polanyis teori om den professionella
kunskapens tysta dimension. Nora: Nya Doxa (1991).
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