HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS PARTE IV HISTÓRIA DO COMBATE A INCÊNDIOS NO BRASIL CAPÍTULO IX HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS Fatos que antecederam a criação do CBMMG Inauguração da cidade em 1897 Em 1894: início das obras. MG é o estado mais rico da república; Finalidade: transferir a Capital de Ouro Preto para Belo Horizonte. Deslocamento do eixo político e ativação econômica dessa região. É a primeira cidade planejada do Brasil; No local, existia o Curral D’El Rey. A cidade, que visa atender ao Estado, é planejada em três zonas, as quais são a urbana, a suburbana e a rural. Na zona urbana, observamos até hoje os Elementos chaves do seu traçado: uma malha perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal e uma avenida em torno de seu perímetro, a Avenida do Contorno. As regiões receberiam as diferentes camadas sociais. A ordem foi cumprida e vários destes profissionais foram dispensados e se apresentaram em órgãos federais para prestarem serviço; Nos órgãos reinava a desordem, a freqüência nem sempre era cobrada, não se cuidava da organização. Os mais responsáveis se ressentiam de um apoio efetivo por parte de uma administração central, agora inexistente. Houve movimentos e reuniões. A situação se tornava insustentável, quando foi feito um estudo, sob a direção do Coronel BM Osmar Alves Pinheiro, visando que os bombeiros fossem reintegrados ao serviço efetivo no âmbito federal, ou seja, trabalhassem em sua função específica. É nesse contexto que o 1º Sgt. Ubirajara Borges Torres idealizou a marcha Rio-Brasília: Inspiração: marcha de trinta dias dos Fuzileiros Navais em 1960 no mesmo trajeto. Planta de 1895 Contexto de modernidade: Na época a indústria criara o automóvel em 1885 e iniciara o modo de produção industrial em série. Tendência à industrialização. A cidade não prevê um serviço de prevenção a sinistros, mas sabe-se dos riscos: Na Praça da Liberdade, centro administrativo da capital, havia um cômodo destinado a duas bombas de combate a incêndio. Não há registro de pessoal treinado para manuseá-las; O jornal oficial do Estado à época da construção destaca os riscos de incêndios: O pinho sueco, westerwich, de Riga ou congêneres será exclusivamente empregado nas construções de nova capital de Minas; que, com ele, ficará muito sólida e economicamente construída; mas devemo-nos, desde já, prevenir contra um perigo que apresenta este sistema de construção: - o do incêndio! (Minas Gerais: 1894, pág 3) Na mesma reportagem o autor cita duas cidades que conhecem bem as bombas de incêndio e dá informações técnicas sobre elas: Há dois tipos de bombas, que já são muito conhecidas no Rio de Janeiro e que a cidade de Paris adotou para o seu corpo de bombeiros. Refiro-me às bombas de Merryeather e às de Shand e Mason.(Minas Gerais: 1894, pág 3) Ambos estes tipos são admiráveis, pela rapidez com que fazem vapor, por lançarem cerca de setecentos litros de água por minuto e por levarem o seu jato de água até a distância de 34 metros, distância a que não tinha chegado, antes, nenhuma outra bomba. (Minas Gerais: 1894, pág 3)” Não foram tomadas as medidas e a recém-criada capital foi palco de alguns sinistros entre os anos de 1898 e 1910. Curiosidade: A primeira notícia de incêndio que se teve foi no Quartel do Primeiro Batalhão da Força Pública, no dia seis de abril de 1898. Foi registrado pela imprensa que duas bombas fora utilizadas, mas, aparentemente sem sucesso, pois o prejuízo calculado foi de 40 contos, o dobro do usado para construção. O Livro do Centenário registra: Esse acontecimento deu origem a primeira menção, que teve certa publicidade, no sentido de se criar uma corporação de bombeiros. Sabemos que o dr. Chefe de Polícia representou ao governo e este cogita de ser, com a máxima urgência ouvidos o mesmo Chefe, e o dr. Prefeito, montado um serviço para extincção de incêndios. (Minas Gerais: 1894, pág 3)” Apesar deste sinistro e vários outros, não só incêndios, ainda levariam doze anos para o poder público criar o serviço do Corpo de Bombeiros. O maior incêndio registrado ocorreu no Grande Hotel. Em 06 de novembro de 1908, o hotel, bem localizado e luxuoso, foi destruído pelas chamas. Não houve vítimas. Influenciada pela bela Paris, Belo Horizonte começa a seguir a tendência de se verticalizar, mas ainda se descuida. A criação da Seção de Bombeiros e as primeiras duas décadas (1911 a 1929) Contexto político: O Estado de Minas Gerais estava alinhado com a República Brasileira e não desejava o retorno da monarquia, mas havia instabilidade política. O governo da República, por meio da Primeira Constituição da República de 1891, deu grande autonomia aos Estados. Eles modificam suas forças policias as quais foram militarizadas, formando pequenos exércitos (Brigadas, Regimentos ou Força Pública, no caso de MG), os quais seria empregados em revoluções e insurgências político-nacionais. Em MG, o Presidente do Estado, Júlio Bueno Brandão, assinou a Lei 557 de 31 de agosto de 1911: dá nova denominação à Brigada Policial, fixando a Força Pública e também criou a Seção de Bombeiros. Trecho da lei: Na lei 577 de 31 de agosto de 1911 Fixa a Força Pública para o ano de 1912 e consigna outras providências Art12. Fica egualmente o governo auctorizado a despender até vinte contos de réis com a organização de uma Seção de bombeiros, aproveitando para esse fim o pessoal necessário da guarda civil. (grifo nosso) A implantação do serviço de bombeiros no ano de 1911 acabou não se concretizando e somente em 1912 é que, por meio da Lei 584, será criada a Companhia de Bombeiros da Força Pública. Suspeita-se que designara-se Guardas Civis porque o Estado não queria correr o risco de onerar as fileiras Força Pública pelo contexto da época. Além disso a Guarda Civil existia há dois anos fazendo o serviço de policiamento ostensivo sob o comando da chefia de polícia e era comum serem chamados para casos de incêndio: À uma e meia da madrugada, manifestou-se violento incêndio na alfaiataria S.Paulo em Minas, propagando-se a casa Fidelidade, ambas citas a ruas da Bahia. Presentindo o fogo pelos guardas ns. 186 e 243, estes deram o alarme e procuraram accordar as pessoas que dormiam nas mesmas casa, e, como estas não attendessem ao chamado, por não estarem alli ou qualquer outra circiunstancia, arrombaram portas da frente das casas, dando começo ao serviço de salvamento, ajudados por outros guardas que atenderam ao signal de alarme (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912a, p. 1). Conforme previsto na Lei, ocorreu a seleção e deslocamento de onze guardas civis para o Corpo de Bombeiros da Capital Federal, para receberem instrução, sendo eles: José Ignácio Marins; José Ferreira Guimarães; Antonio Camal Vidigal; Lauro dos santos; José de Freitas Dungas; Antonio Amâncio Fernandes; Rodolfo Antonio da Silva; Antonio Alexandre da Conceição; Silvestre de Paula Silva; Rodrigo José Murta; Omar de Lima. Após cerca de três meses eles voltaram, mas sem completarem o treinamento previsto. Não sendo aproveitados para o combate a incêndios e a história registra porque: O Corpo de Bombeiros da Capital Federal era uma instituição militar, baseada no respeito à hierarquia e na disciplina militar, já os guardas enviados eram civis e não estavam acostumados com a rotina militar. Ocorreu um atrito entre o guarda Rodrigo Jose Murta e o 1° Sgt Guimarães do Corpo de Bombeiros da Capital. O guarda discutiu com o Sargento ao observar que ele reprimia o guarda Jose de Freitas Dungas, e chamava toda a turma de guardas civis de ´´indisciplinados``. O fato foi reportado ao Comandante do Batalhão de Bombeiros que mandou prender o guarda Rodrigo por dez dias, o qual não aceitava se sujeitar a tal pena, posto que não era militar. Eis um trecho do relatório escrito pelo guarda José Ignácio de Marins, endereçado ao Chefe de Policia de Minas transcrito no Livro do Centenário: (...) Ao saber dessa pena, do guarda o fes sciente, o qual respondeu-me, que absolutamente não se, a sujeitava prizão e se fosse uns 10, dias de impedimento, elle sujeitava-se. O mesmo guarda disse mais, que ele não havia, de ir para o xadrez com seus próprios pez e so ia depois de machucado;(...) pedindo que fizesse sciente a V Excia, dizendo que elle sujeitavase qualquer pena por voz imposta de accordo com o nosso regulamento, porque elle era civil e não militar (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912c). Diante disso, foi enviada, em outubro do mesmo ano de 1912, nova turma com 15 homens, desta vez todos oriundos da Força Pública, conforme arquivo público mineiro: Comunico-vos que, fica auctorizado a pedir a etapa de 1.400 para os 15 soldados do 1° Batalhão da Força Pública que seguiram para a Capital Federal e que se acham praticando no Corpo de Bombeiros, a partir de 24 de outubro findo (ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 1912d). Os quinze soldados completaram a instrução na Capital Federal retornando e compondo a Companhia de Bombeiros da Força Pública. A Cia, de acordo com a Lei 548, deveria ser composta por 54 homens, sendo um capitão, um tenente, dois alferes, um primeiro sargento, quatros segundos sargentos, um furriel, seis cabos de esquadra, um cabo clarim, seis anspeçadas, vinte e sete soldados e quatro clarins; Porém, foram somente os quinze militares que compuseram a unidade de bombeiros. O primeiro registro da atuação foi feito pelos jornais num incêndio em um prédio na rua Curitiba. Trecho do arquivo público mineiro: (...)foi chamado logo o corpo de bombeiros que compareceu promptamente, com o automóvel de irrigação, nada podendo, porem, fazer para extinguir o fogo, devido á intensidade com que este se extendeu a todo o edifício, destruindo-o, bem como toda a mercadoria alli existente (MINAS GERAIS: 1913, p. 4) Apesar de não ter sido possível a extinção das chamas naquele incêndio, relatou-se o uso efetivo de um automóvel de combate a incêndio em outra ocorrência: Com pleno êxito realizou-se hontem, às 7 horas da noite, uma experiência da Bomba automóvel para o serviço de incêndios. Dado o alarma, partiu o vehiculo do quartel do 1° batalhão e 5 minutos depois chegava ao local previamente escolhido à rua do Espirito Santo, esquina da dos Tamoyos, onde em 6 minutos se extenderam as mangueiras e começou a funcionar a bomba(... ) (MINAS GERAIS: 1914, p. X). Apesar de possuírem um automóvel, haviam inúmeras dificuldades: - falta de mangueiras e mangotes; -A pior delas, a falta de um sistema de hidrantes eficiente; -Em 1914 a prefeitura entregou ao Chefe de Polícia a planta contendo todos os “registros” da cidade. Rebaixamento e apoio à instrução e aparelhamento pela Capital Em 1915 a Companhia é rebaixada à Seção e recebe o 1° Sgt João de Azevedo Teixeira, proveniente do Corpo de Bombeiros da capital federal. Instrutor e consultor. Foi promovido pelo governo de MG à Alferes. No mesmo ano o Sargento confeccionou o relatório expondo as deficiências e dificuldades dos bombeiros de Minas, e as sugestões para melhoria do serviço: - Transferência da seção para um local com alojamento, saída apropriada para a bomba de incêndio e acomodação de viaturas e pátio para treinamento: almoxarifado da Secretaria de Agricultura. - Aumento do efetivo para 30 homens de modo a permitir dois turnos de 24 horas - a aquisição de um automóvel leve para o chefe do serviço de bombeiros: chegar à ocorrências maiores e percorrer a cidade para reconhecimento de local de hidrantes e sua fiscalização. -cita a carência de hidrantes, o mau funcionamento e distância excessiva entre eles. - a aquisição de equipamentos usados, porém conservados, do Corpo de Bombeiros da Capital Federal por um preço menor. No arquivo público registra-se uma movimentação para aquisição desses materiais através de ofícios: Tendo o Exm° Sr. Ministro da justiça e negócios Interiores autorisado, em aviso n° 353 de 29 do mez de fevereiro findo, a fornecer a esse governo os artigos constantes da relação que acompanhou o vosso oficio n° 22 de 12 de janeiro, comunico-vos que o referido material se acha desde já à vossa disposição, no Quartel central deste corpo(...) O 1° sargento João de Azevedo Teixeira foi dispensado pelo governador em 1917 e sua presença foi de suma importância para a seção de bombeiros Participação na Revolução de 1924 Entre os anos de 1917 até 1927 a Seção de Bombeiros ganha importância diante do crescimento da cidade e a necessidade de segurança. Durante esse período ocorrerá a Revolução de 1924, movimento liderado por oficiais do exército. O movimento insurgia-se contra o Governo Federal e o estado de Minas Gerais manteve-se do lado do Governo atuando no conflito mobilizando toda a Força Pública e outros órgãos e até criando o 6° Batalhão Provisório no qual atuou o tenente João José Evangelista, que já fora comandante da seção de Bombeiros. Trecho do livro do centenário que registra a atuação dos bombeiros dentre outros: (...) aos 5° e 6° batalhões ou á ´´coluna Amaral``, é de inteira justiça esclarecer e deixar bem claro e compreendido que todos os demais batalhões, bem como o esquadro de cavalaria, a seção de Sapadores Bombeiros e o serviço de saúde, estiveram presentes em todas as peripécias da luta (ANDRADE, 1976, p. 59) Os bombeiros, treinados não só em combate a incêndio, mas como militares, atuaram também no combate. Elevação à Companhia Com maior importância no cenário da capital mineira e observando-se o crescimento demográfico da cidade, a seção de bombeiros é elevada à companhia pelo Decreto 7297 em 1926 e ganha um efetivo de 100 homens. Decreto 7297 de xx de xxxxx de 1926 Art 4° O 6° batalhão será constituído das quartas companhias de 2°,3° e 4° batalhões e terá a organização definitiva quando for designada a sua sede, que será provisoriamente na capital. A companhia de Bombeiros será organizada com a quarta do 1° batalhão e com a actual seção de bombeiros. A companhia escola será... Com esse efetivo e o aumento demográfico, o número de ocorrências de incêndio certamente aumentaria e também se desencadearia a diversificação das atividades para as quais os bombeiros eram acionados.