UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Departamento de Pediatria – Faculdade de Medicina Unidade de Nefrologia Pediátrica Tubulopatias Ana Cristina Simões e Silva Profa Titular do Departamento de Pediatria 2011 Tubulopatias INTRODUÇÃO Doenças crônicas de incidência não definida com impacto no crescimento e qualidade de vida Alterações metabólicas secundárias a defeitos na reabsorção tubular renal e/ou na excreção urinária Inicialmente a função minimamente afetada glomerular é nada ou Diagnóstico difícil, pois as queixas são inespecíficas: hipodesenvolvimento físico, baixa estatura, poliúria, polidipsia e hidrolabilidade Tubulopatias PRINCIPAIS FENÓTIPOS Acidose tubular renal Síndrome de Bartter Acidose tubular renal DEFINIÇÃO acidose metabólica secundária a um defeito na reabsorção tubular renal de HCO3− e/ou na excreção urinária de H+ função glomerular é nada ou minimamente afetada acidose metabólica hiperclorêmica com anion gap plasmático normal quadro clínico muito variável – diagnóstico diferencial importância do diagnóstico e tratamento precoces Acidose tubular renal ETIOLOGIA Primária - defeitos genéticos nos mecanismos de transporte dos túbulos renais Secundária a doenças sistêmicas e ao efeito adverso de medicamentos Acidose tubular renal CLASSIFICAÇÃO (Rodríguez-Soriano, 2002) ATR distal ou tipo 1 ATR proximal ou tipo 2 ATR hipercalêmica ou tipo 4 ATR mista ou tipo 3: características dos tipos 1 e 2 Acidose tubular renal distal Características gerais inabilidade dos túbulos distal e coletor em promover uma adequada acidificação urinária urina com pH elevado, mesmo em presença de acidose metabólica Acidose tubular renal distal Apresentação Clínica Déficit de crescimento Vômitos Poliúria com ou sem polidipsia Anorexia Nefrocalcinose Litíase Acidose tubular renal distal Fisiopatologia diminuição da atividade da H+ATPase aumento da permeabilidade da membrana luminal diminuição da reabsorção distal de Na+ Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Etiologia e Genética ATR distal primária ATR distal secundária Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Etiologia e Genética – ATR distal primária autossômica dominante autossômica recessiva (com ou sem surdez) • manifestações clínicas mais acentuadas (Zelikovic, 2001) • sem surdez: mais comum (Rodríguez-Soriano, 2002) Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Tabela 1- Alterações genéticas na ATR distal ATR distal herança Gene Locus Proteína codificada Autossômica dominante SLC4A1 17q21-q22 trocador AE1 Autossômica recessiva (com surdez) ATP6V1B1 2q13 subunidade B1 da H+ATPase Autossômica recessiva (sem surdez) ATP6V0A4 7q33-q34 subunidade da isoforma a4 da H+ATPase Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Etiologia e Genética – ATR distal secundária doenças auto-imunes uso de medicamentos exposição a substâncias doenças túbulo-intersticiais doenças genéticas Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Acidose tubular renal distal Diagnóstico acidose metabólica hiperclorêmica anion gap urinário positivo pH urinário elevado hipercalciúria / hipocitratúria Simões e Silva AC et al. J Bras Nefrol 2007; 29(1): 38-47 Acidose tubular renal distal Tratamento Objetivos: correção das alterações bioquímicas retomada do crescimento prevenção da nefrocalcinose e da DRC Medicação: uso contínuo de álcalis doses individualizadas tratamento prolongado Pacientes tratados: assintomáticos boa qualidade de vida Simões e Silva AC et al. J Bras Nefrol 2007; 29(1): 38-47 Acidose tubular renal distal Prognóstico em geral é muito bom tratamento precoce restabelece o crescimento e previne a progressão para nefrocalcinose Simões e Silva AC et al. J Bras Nefrol 2007; 29(1): 38-47 Acidose tubular renal proximal defeito na reabsorção tubular proximal de HCO3− acidose metabólica hiperclorêmica / tende a ser mais acentuada e de difícil controle desordem isolada (rara) / distúrbio transitório Síndrome de Fanconi – tubulopatia generalizada, primária ou secundária, de difícil controle e acometimento acentuado do crescimento e da estrutura óssea. Mecanismos de transporte no túbulo proximal Causas primárias e secundárias de acidose tubular renal proximal Pereira et al, Current Genomics 2009; 10 (1): 51-59 Acidose tubular renal ACIDOSE TUBULAR MISTA - ATR TIPO 3 apresenta características do tipos 1 e 2 ACIDOSE TUBULAR HIPERCALÊMICA - ATR TIPO 4 defeito tubular complexo principal causa: deficiência e/ou resistência periférica à aldosterona Síndrome de Bartter doença autossômica recessiva, descrita por Frederic Bartter em 1962 incidência de 1/ 100.000 na população árabe e 1/1.000.000 habitantes na população sueca causada por mutações em diversos genes que tem como denominador comum o comprometimento da reabsorção de sódio e cloro na porção espessa ascendente da Alça de Henle. Mecanismos de transporte na alça de Henle Síndrome de Bartter CLASSIFICAÇÃO e GENÉTICA Bartter tipo 1 – gene SLC12A1 que codifica o canal NKCC2, responsável pelo co-transporte de sódiopotássio-2-cloros Bartter tipo 2 - gene KCNJ1 gene que codifica o canal de potássio ROMK Bartter tipo 3 - gene de transporte de cloro ClC-Kb Bartter tipo 4 - afeta a “Bartina”, que é a subunidade acessória do ClC-Kb Bartter tipo 5 - mutação de ganho de função do gene do receptor sensível ao ion Cálcio (CaSR) extracelular. Síndrome de Bartter Características clínicas Déficit de crescimento Vômitos Poliúria com ou sem polidipsia Níveis pressóricos reduzidos ou normais Polihidrâmnio no período pré-natal (Bartter tipo I) Nefrocalcinose (Bartter tipo 1) Surdez (Bartter tipo IV – Bartina) Fisiopatologia da Síndrome de Bartter Excreção renal de NaCl Renina VEC RFG Prostaglandinas Hipocalemia Perda de H+ e K+ Alcalose metabólica Ang II Aldosterona Síndrome de Bartter Diagnóstico Alcalose metabólica hipoclorêmica Perda urinária de NaCl Hipopotassemia variável Aumento sérico de renina e aldosterona Hipercalciúria e aumento dos níveis de prostaglandina E em sangue e urina (Bartter tipo I) Síndrome de Bartter Tratamento Objetivos: correção das alterações bioquímicas retomada do crescimento prevenção da nefrocalcinose e da DRC Medicação: reposição contínua de NaCl e KCl uso de inibidores da COX uso de inibidores do SRA doses individualizadas, tratamento prolongado Pacientes tratados: assintomáticos boa qualidade de vida Conclusão dificuldade diagnóstica extenso número de patologias que podem cursar com sinais e sintomas semelhantes grande impacto sobre o crescimento pônderoestatural das crianças acometidas detecção precoce – pode modificar completamente o futuro da criança