VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Profª Valéria Variação Linguística Língua é a linguagem verbal (oral/escrita) utilizada por um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade. • Ela é uma construção humana e histórica; • É organizada da identidade dos seus usuários; • Ela também dá unidade a uma cultura, a uma nação; • Uma língua viva é dinâmica e, por isso, está sujeita a variações. Variação Linguística Variações linguísticas são diferenças que uma mesma língua apresenta quando é utilizada, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas. Unidade X Diversidade Tipos de Variação Linguística • Variação histórica • Variação geográfica • Variação social • Variação situacional Variação Histórica Refere-se aos estágios de desenvolvimento de uma língua ao longo da História. Exemplo: o português arcaico X o português contemporâneo. Variação Histórica: exemplos Texto 1 – Língua portuguesa arcaica, trecho de um poema do século XII: “No mundo nom me sei parelha, Mentre me for’ como me vai, Ca já moiro por vós – a ai! Mia senhor branca e vermelha, Queredes que vos retraia Quando vos eu vi em sala! Mao dia me levantei, Que vos enton non vi fea! Variação Geográfica Variedade que a língua portuguesa assume nos diferentes lugares onde é falada. Variação Geográfica O português é a língua oficial em oito países de quatro continentes: Angola (10,9 milhões de hab.) Brasil (185 milhões de hab.) Cabo Verde (415 mil hab.) Guiné Bissau(1,4 milhões de hab.) Moçambique (18,8 milhões de hab.) Portugal (10,5 milhões de hab.) São Tomé e Príncipe (182 mil hab.) Timor Leste (800 mil hab.) Variação Geográfica: exemplos Variação Social Refere-se às formas da língua empregadas pelas classes ou grupos sociais. Tem gente que nasce com coração maior Ou menor, com vários defeitos. Essas são As cardiopatias congênitas, o coração pode Nascer com inúmeros defeitos. – Jargão médico. Oi rapeize do surf brigadão pela moral que Vcs tão me dando, pow ta muito bom Quando ta batendo aquelas ondas na Prainha. Ta show, valeu brigadão. Tanto Backsidefloaterdroptubão... Variação Social • Norma culta: variedade de prestígio, que deve ser adquirida na vida escolar e cujo domínio é solicitado como forma de ascensão social e profissional. • Linguagem técnica: usada no exercício de certas atividades profissionais. • Modos de falar masculino e feminino: marcas na língua que expressam modos próprios da fala masculina ou feminina, como as marcas de gênero, o uso de adjetivos e diminutivos etc. • Gíria: formas de língua que certos grupos desenvolvem entre si e para evitar a compreensão por parte daqueles que não pertencem ao grupo. Variação Situacional É a capacidade que tem um mesmo indivíduo de empregar as diferentes formas da língua em situações comunicativas diversas, procurando adequar a forma e o vocabulário em cada situação. No trabalho Na escola Com os amigos Com a família Em solenidades No mundo virtual etc Considerações importantes sobre as variações linguísticas: • Todas as variações estão presentes tanto na língua falada quanto na língua escrita. Podemos, inclusive, encontrar (e usar) as variações linguísticas em diferentes contextos de produção escrita. • Existe uma variedade de língua padrão, que é a variedade linguística de maior prestígio social. Aprendemos a valorizar a variedade padrão porque socialmente ela representa o poder econômico e simbólico dos grupos sociais que a elegeram como padrão. • É importante compreender as variações linguísticas para melhor usar em diferentes situações. Utilizar a língua como meio de expressão, informação e comunicação requer, também, o domínio dos diferentes contextos de aplicação da língua. • O idioma pode ser um instrumento de dominação e discriminação social. Devemos, por isso, respeitar as linguagens utilizadas pelos diferentes grupos sociais. História da língua portuguesa • O latim era a língua falada na região do Lácio (atual Roma). • Os romanos ao conquistarem as regiões vizinhas levaram sua cultura e sua língua – o latim. • Invasão da Península Ibérica – onde se localizam Portugal e Espanha. • Assimilação da língua dos dominadores, dando origem ao português, francês, provençal, romeno, espanhol etc. • As língua derivadas do latim são chamadas neolatinas ou românicas. São elas: galego, romeno, francês, espanhol, italiano, português, catalão, provençal, francoprovençal e rético. Formação da Língua Portuguesa • Português deriva do latim vulgar, e não do latim clássico. • Queda do Império Romano – invasões provocaram o surgimento das variações linguísticas, dentre elas o galego-português. • Séc. XII – nasce o português como língua (indepen• dente do galego), graças à independência do país e ao seu emprego como língua literária. • Séc. XIV – diferenciação cada vez maior entre o galego e o português. Expansão do Português • Com a constituição do Império Romano os romanos espalharam o latim pelo mundo conhecido. • Os portugueses a partir das Grandes Navegações espalharam a língua portuguesa pelas regiões mais distantes. • A língua portuguesa é falada nas seguintes regiões: Europa: Portugal, Ilha da Madeira, Açores. América: Brasil. África: Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique, Zanzibar, Mombaça. Ásia: Goa, Ceilão, Macau, Java e Cingapura Oceania: Timor. O português no Brasil • Os lusitanos trouxeram a língua portuguesa para o Brasil. Aqui encontraram o idioma indígena – o tupi. • Miscigenação das raças: mulheres índias casaram-se com portugueses. • A partir do séc. XVII, com a chegada de númerosas famílias lusitanas o idioma indígena foi enfraquecendo em relação ao português. Entretanto grande número de palavras tupis permanecem em nosso léxico. • O tráfico de negros enriqueceu a nossa língua com muitas palavras e expressões de origem africanas. • Foram incorporadas ao português do Brasil palavras de outros países da América, de origem indígena. • Todas essas influências restringiram-se apenas ao léxico, não interferiram no modo de falar de nosso povo. • Existem entre o português do Brasil e o de Portugal algumas variações linguísticas dignas de serem mencionadas. Unificação lingüística, que clareza! Tem aí meia dúzia de urnigos*, na calada da noite, arquitetando um plano para a “unificação” da língua portuguesa. Escrevi o trecho abaixo em português de Portugal para vocês verem como será fácil essa unificação. Estava a conduzir meu automóvel numa azinhaga com um borracho muito gira ao lado, quando dei com uma bossa na estrada de circunvalação que um bera teve a lata de deixar. Ecapei de me espalhar à justa. Em havendo um bufete à frente convidei a chavala a um copo. Botei o chiante na berma e ornamos ao criado de mesa, uma sande de fiambre em carcaça eu, e ela um miau. O panasqueiro, com jeito de marialva paneleiro, um chalado de pinha, embora nos tratando nas palminhas, trouxe-nos a sande com a carcaça esturrada (e sem caganitas!) e, faltando-lhe o miau,deu-nos um prego duro. Como talvez vocês não tenham entendido alguma coisa, traduzo em brasileiro, também conhecido como português do Brasil. Eu dirigia meu carro por um caminho de pedras tendo ao lado uma gata espetacular, quando vi um lombo na estrada de contorno que um escroto teve o descaramento de fazer. Por pouco não bati nele. Como havia em frente uma lanchonete, convidei a mina a tomar um drinque. Coloquei o carro no acostamento e pedimos ao garçom sanduíche de presunto com pão de forma eu, e ela sanduíche de lombinho. O gozador, com jeito de don Juan bicha, muito louco, embora nos tratando muito bem, trouxe o sanduíche com o pão queimado (e sem azeitonas!) e, não tendo sanduíche de lombinho, trouxe um de churrasquinho duro. Millôr Fernandes.