Hanseníase tuberculóide (HTT)
na vigência de tratamento
antirretroviral (TARV)
Gisele Cerutti, Luiza Bertolace Marques, Danielle Carvalho Quintella,
Maria Leide Wand Del Rey de Oliveira, Tullia Cuzzi
Serviço de Dermatologia, Curso de Graduação e Pós-Graduação HUCFF-UFRJ,
Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ausência de conflito de interesse
Hanseníase tuberculóide (HTT) na vigência de tratamento antirretroviral (TARV)
INTRODUÇÃO
• Entre 1986 e 2007 foram registrados 1367 casos de co-infecção
hanseníase-HIV no Brasil. Porém, ao contrário do que ocorreu com
outras micobacteriores, a incidência de hanseníase não foi influenciada
por essa co-infecção e, paradoxalmente, a maioria dos pacientes coinfectados apresenta formas paucibacilares
• Sabe-se que a terapia antirretroviral leva a reconstituição imunológica
(SRI) e altera a apresentação clínica de algumas co-morbidades,
inclusive a hanseníase, resultante do estímulo da imunidade celular
• O caso em questão tem apresentação clínica incomum e ilustra mais
uma situação da referida associação infecciosa
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RELATO DE CASO
• Paciente masculino, 68 anos, branco, natural do Maranhão e residente
no Rio de Janeiro
• Diagnóstico de SIDA desde 2004 em uso de TARV (AZT + 3TC + EFV).
Carga viral indetectável e último CD4 de 328 (janeiro/2014). VDRL
negativa
• Iniciou há 2 anos mácula eritematosa, assintomática, de
aproximadamente 3 cm na fronte à direita (Figura 1)
• Ausência de rede pigmentar e vasos arboriformes em toda lesão na
dermatoscopia (Figura 2)
Figura 1:
Mácula
eritematosa na
fronte à direita
Figura 2: Vasos arboriformes à dermatoscopia
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RELATO DE CASO
• Com a hipótese clínica de carcinoma basocelular realizou-se biópsia
incisional
• A histopatologia mostrou processo inflamatório crônico granulomatoso
perivascular e perineural, sem alterações nas colorações pelo PAS,
Zhiehl-Neelsen e pela prata, compatível com hanseníase tuberculóide
(Figuras 3 e 4)
• Apesar da procedência de região endêmica, o paciente nega contato
com hanseníase
Figura 3:
Processo inflamatório
granulomatoso perivascular e
perineural, superficial e profundo,
ao pequeno aumento (x4)
Figura 4:
Granulomas e perineurite,
ao médio aumento (x10)
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DISCUSSÃO
• São descritas quatro situações de ocorrência da SRI em hanseníase,
sempre observando o critério de quadro reacional do tipo I ou reação
reversa, relacionada ao período inicial da TARV e, o diagnóstico anterior
ou posterior de hanseníase (Deps & Lockwood, 2008)
• No presente relato, a lesão de hanseníase aparece anos após o início da
TARV e não apresenta características de reação reversa
• Inicialmente pensou-se ser um caso de carcinoma basocelular e o
diagnóstico de HTT foi mesmo histopatológico
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DISCUSSÃO
•
A discussão da resposta paradoxal nesta co-infecção é controversa.
Sampaio e cols., demonstraram que, apesar da contagem de células CD4 no
sangue periférico estar baixa, biópsias de lesões cutâneas apresentavam
granulomas contendo números normais de CD4, em casuística de 11
pacientes HIV positivos portadores de hanseníase bordeline tuberculóide.
Em contrapartida, Massone e cols. relataram a predominância quase
exclusiva de linfócitos CD8 citotóxicos no infiltrado de pacientes coinfectados
•
Sabe-se que o HIV não muda o curso da hanseníase, mas no contexto de
TARV ainda há dúvidas. O caso apresentado foge aos critérios de SRI,
enquadra-se no diagnóstico precoce de hanseníase do polo TT, sem dano
neural. Caso não estivesse em uso de TARV, apresentaria uma resposta
imune celular tão efetiva? Ou talvez, nem mesmo apresentasse doença. São
necessários estudos multicêntricos que esclareçam melhor a interação entre
o HIV e o Micobacterium leprae
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Deps PD, Lockwood DN. Leprosy occurring as immune reconstitution syndrome. Trans R Soc Trop Med
Hyg. 2008;102:966-8.
2. Sampaio EP, Caneshi JR, Nery JA et al. Cellular immune response to Mycobacterium leprae infection in
human immunodeficiency vius-infected individuals. Infect Immun. 1995;63:1848-54.
3. Massone C, Talhari C, Talhari S et al. Imunophenotype of skin lymphocytic infiltrate in patients co-infected
with Mycobacterium leprae and human immmunodeficiency virus: a scenario dependent on CD8+ and/or
CD20+ cells. British Association of Dermatologists. 2011;165:321-8.
4. Trope MB, Lenzi MER, Maceira JP, Barroso PF, Oliveira MLW. Reação hansênica e síndrome de
reconstituição imunológica na aids. Hansen Int. 2008;33:25-33.
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