Introdução ao romance brasileiro •Nacionalismo literário • sociedade pouco urbanizada • Início em fins do decênio de 30 • O Filho do pescador, de Teixeira e Sousa e A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo (1844). • Enredos e tipos: ora o enredo é soberano, ora predominam os tipos. • Importância do espaço geográfico e do meio social . • Caráter regionalista e de costumes . • Três instâncias na matéria romanesca, determinadas pelo espaço narrativo: cidade: vida urbana campo: vida rural selva: vida primitiva * Idealismo romântico: estilo e composição dos romances (trama; personagens; espaços) abrem-se para o fantástico, o maravilhoso e o mítico. Os romances românticos em Folhetim Os romances de folhetins, originados na França, no século XIX, eram publicados em capítulos semanais ou diários, cuja duração, indeterminada, poderia ser de semanas ou anos; poderiam ser textos em tom de crônica, não necessariamente ficcional, que abordavam assuntos diversos e não continuavam necessariamente no número seguinte; era uma seção mais ou menos ‘independente’ em relação ao jornal; Características na relação entre autores e leitores no período: Febre dos leitores do século XIX; Considerável venda de jornais; Geravam lucros para os escritores; Histórias de amor; com suspense; mistério e aventura; Enredo melodramático e repleto de reviravoltas; Agradavam a burguesia ascendente; publico restrito; moços e moças das classes altas abastadas e profissionais da corte; busca de entretenimento; Leitores dos folhetins Franceses dos anos 30 e 40; Facilidade da linguagem e das referências; culturais da época; teatro e espaço conhecido pelos burgueses; Triângulos amorosos; amores impossíveis; encontros e desencontros e reencontros; maniqueísmo; construção da figura do heroi; No final de cada capítulo, o autor introduz um elemento surpresa ou complicação que se revelaria, ou continuaria, no número seguinte... Tradução francesa de Mil e uma Noites... Para Álvares de Azevedo, “a nuvem de ignorância é parceira do despotismo” (1850). Segundo Manuel Antonio de Almeida: “a nossa literatura é filha da política” (1856) Principais romances publicados em folhetim Publicado em 1844 O Guarani, publicado em"folhetim", de fevereiro a abril de 1857 As Minas de Prata, publicado em folhetim em 1865 Cinco Minutos e Viuvinha, publicados em folhetim entre 1856-1857 Realismo e Naturalismo “ novo século das luzes”” Contexto sócio-histórico: •Segunda metade do século XIX (1850 - ) •2ª Revolução Industrial (aumento das fábricas, proletariado, petróleo, eletricidade, aço, ferrovias, etc.) • crescimento acelerado da classe média • Nobreza e Clero sofrem abalos estruturais • Pensamento científico-filosófico • Avanço da ciência e da consciência • Análise de comportamentos • Teorias e pensamentos modernos. No Brasil: •Extinção do tráfico negreiro • Decadência da economia açucareira • eixo de prestígio desloca-se para o sul • classes médias urbanas abolicionistas, liberais e republicanas • permeabilidade ao pensamento filosófico europeu do período • Substituição do trabalhador escravo pelo trabalhador livre imigrante Teoria da evolução: “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin EVOLUCIONISMO X CRIACIONISMO POSITIVISMO: Augusto Comte Níveis de evolução do espírito humano (sociedade e cultura): 1º nível: teológico 2º nível: metafísico 3º nível: positivista (científico-empíricoexperimental) Socialismo: As teorias de Karl Marx materialismo histórico “Vou demonstrar que todos os da economia, da legislação, da moral e do governo são essencialmente contraditórios: contraditórios, digo eu, não somente entre si, mas também em si, e, entretanto, todos necessários e irrefutáveis. (...) É o trabalho, somente o trabalho, que produz todos os elementos da riqueza e que os combina até em suas últimas moléculas, segundo uma lei de proporcionalidade variável porém certa. (...) Com a ideia de valor constituído, de valor ‘como representação do trabalho’ e ‘princípio de comparação dos produtos entre si’, temos portanto a síntese, ‘a ideia positiva e completa que resolve a contradição econômica fundamental.” o homem, pela divisão do trabalho e pelas máquinas , devia elevar-se gradualmente para a ciência e a liberdade; e pela divisão, pela máquina, ele se embrutece e torna-se escravo. O imposto, afirma a teoria, deve ser em proporção à fortuna; e, contrariamente, o imposto está em proporção com a miséria. O improdutivo deve obedecer, e por uma amarga derrisão o improdutivo comanda Honore Daumier O Vagão da Terceira Classe. 1860-63. Honore Daumier. Teatro Francês. c. 1857-60. Determinismo Hippolyte Taine •Negação do livre-arbítrio • universo é fruto da necessidade e não da vontade – previsibilidade. • determinação do homem em três instâncias: raça; meio e o momento. “o homem é um resultado, uma conclusão e um procedimento das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis!” (Eça de Queirós). Pessimismo Arthur Schopenhauer A filosofia de Schopenhauer aponta para certa visão negativa das coisas. A realidade não pode ser modificada, é sempre adversa. O mundo é vontade e representação. Para Schopenhauer, “a primeira e mais importante característica do homem é um colossal egoísmo, pronto e ansioso para infringir os limites da justiça. Seu pior traço é ter prazer com o infortúnio alheio.” No plano da invenção ficcional e poética, o primeiro reflexo sensível é a descida de tom no modo do escritor relacionar-se com a matéria de sua obra. O liame que se estabelecia entre o autor romântico e o mundo estava afetado de uma série de mitos idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amorfatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na aura que cingia alguns ídolos como a "Nação", a "Pátria", a "Tradição" etc. O romântico não teme as demasias do sentimento nem os riscos da ênfase patriótica; nem falseia de propósito a realidade, como anacrônicamente se poderia hoje inferir: é a sua forma mental que está saturada de projeções e identificações violentas, resultando-lhe natural a mitificação dos temas que escolhe. Ora, é este complexo ideo-afetivo que vai cedendo a um processo de crítica na literatura dita "realista". Há um esfôrço, por parte do escritor anti-romântico de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sêde de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas do século. ROMANTISMO X REALISMO •Sonho, fantasia, exaltação •Factual, verídico • Crises do coração • Análise do comportamento • Realidade idealizada • Realidade documental • Subjetividade • Objetividade • Fabulação (imaginário) • Causalidade (cientificismo) Victor Jorgensen, “time square, 14 de agosto de 1945” Ah! Vem, pálida virgem, se tens pena De quem morre por ti, e morre amando, Da vida em teu alento à minha vida, Une nos lábios meus minh’alma à tua! Odeio as virgens pálidas, anêmicas, Belezas de missal que o romantismo Hidrófobo apregoa em peças góticas, Escritas nuns acessos de histerismo. Na tu’alma infantil, na tua fronte Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros Sentir as vibrações do paraíso; A teus pés, de joelhos, crer ainda Que não mente o amor que um anjo inspira; Que eu passo na tu’ alma ser ditoso, Beijar-te nos cabelos soluçando E no teu seio ser feliz morrendo! Sofismas de mulher, ilusões óticas, Raquíticos abortos do lirismo, Sonhos de carne, complexões exóticas, Desfazem-se perante o realismo. (Álvares de Azevedo) Prefiro a exuberância dos contornos, As belezas da forma, seus adornos, A saúde, a matéria, a vida enfim. Não me servem esses vagos ideais Da fina transparência dos cristais; Almas de santa e corpos de alfenim (Carvalho Júnior) Realismo privilegia a análise dos fatos narrativos. Esta estética está preocupada com a descrição fiel dos fatos da realidade que pode não ser a desejada. “...a tendência agora é manter-se dentro do campo dos fatos e de nada mais do que fatos”. Gustave Flaubert O escritor romântico, Camilo Castelo Branco, demonstra sua oposição ao movimento realista, julgando-o de forma imoral e criticando-o por retratar pessoas fúteis que premeditam crimes, que desorganizam famílias, padres que rompem o celibato, e – alterações sexuais. Assim dizia o ilustre escritor português ao movimento literário que surgia: "... Quero escrever romances para as pessoas lerem na sala, não nos quartos de banho. Quero escrever romances para que todas as pessoas da família possam ler: as moças mais jovens, as senhoras..." . Características do Realismo • • • • • • • • • • Objetivismo Imparcialidade Impessoalismo Universalismo Personagens mais complexas e dinâmicas, que evoluem psicologicamente ao longo da narrativa Contemporaneidade Detalhismo a anatomia do caráter a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade." Eça de Queirós Naturalismo Vertente do Realismo pautada principalmente no determinismo e no cientificismo. Para o autor naturalista, o Ser Humano era determinado por três fatos: • O Meio • A Raça • O momento histórico A obra naturalista apresenta as psicopatologia humanas (vícios, taras, manias, etc.) • Privilégio da visão científica; • O naturalista não seleciona o que vai falar; • A causa dos problemas são fatores naturais (meio – raça – momento); • Enfoca a classe miserável; • Possui a intenção de analisar; • Visão científica, patológica e critica; • Narrativa lenta e minuciosa; • narrador é um intérprete de casos patológicos; • Tem a função de denunciar a degradação humana; • Analisar a patologia social; • Gira em torno da relação instintiva homem – mulher; • Linguagem vulgar, grotesca e repugnante, com valorização de expressões sensoriais; • Personagens anti-heróis, indivíduo cujo comportamento é dominado por forças incontroláveis; • Espaço e tempo, contemporâneos do autor; • Ponto de vista impessoal e objetivo; • Crítica ao Romantismo. REALISMO X NATURALISMO •ROMANCE DOCUMENTAL •ROMANCE EXPERIMENTAL • ANÁLISE EXTERIOR E INTERIOR • ANÁLISE EXTERIOR •ÊNFASE PSICOLÓGICA •ÊNFASE FISIOLÓGICA • CLASSES SOCIAIS DOMINANTES • CLASSES SOCIAIS DOMINADAS Características Gerais do Naturalismo: -Exposição objetiva, fotográfica, das circunstâncias da realidade. - a ciência é a explicação lógica de todo comportamento humano. - Predominância de personagens-tipo - denúncia antiburguêsa, anticlerical e antimonárquico - Observação, empirísmo - Aplicados os princípios do determinismo, do evolucionismo e do socialismo, intimamente ligados. - Temática pautada nas mazelas sociais: incestos, prostituição, imoralidade, miséria, promiscuidade, entre outros. - O Ser humano é visto como ser passivo, resultante das leis biológicas e sociais. - Exploração das camadas menos favorecidas, em crítica à burguesia. - Personagens com instinto animalesco. - sexualismo (sexualização dos enredos) - Preocupação com a coletividade (Eus) Aluisio Azevedo (1857-1913) Aluisio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão em 1857.Sabia pintar, principalmente fazer caricaturas. Após concluir os estudos primários passa a trabalhar no comércio. Em 1881, transfere-se para o Rio de Janeiro e dedica-se ao jornalismo (faz caricaturas para o jornal) e à literatura. Em seguida a carreira diplomática. Falece em Buenos Aires em 1913. Suas principais obras: O Mulato (1881), Casa de Pensão (1884), A Coruja (1885), O Cortiço (1890) “... Uma só palavra boiava a superfície dos seus pensamentos: ‘Mulato’. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. _ Mulato! Esta só palavra explica-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele”. “O Mulato”, de Aluisio Azevedo “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio da água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas. (...).E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multiplicar-se como larvas no esterco.” (O Cortiço, de Aluísio Azevedo, Cap. III) -É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. – Prendam-na! É escrava minha! A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tampando o rosto com as mãos. Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. (“O Cortiço”, de Aluisio Azevedo) Realismo e Naturalismo em Portugal: Questão Coimbrã (1865): marco inicial Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense Escritores românticos Antonio Feliciano de Castilho Escritores realistas Antero de Quental A Poesia Realista Ao contrário do Parnasianismo, que repudiava toda e qualquer atitude que fugisse à impassibilidade e à doutrina da ‘arte pela arte’, a poesia realista é francamente pragmática, servindo o verso de arma de combate, de reforma social e política. “A poesia moderna deve ter um caráter científico. A poesia é a verdade transformada em sentimento” – Guerra Junqueiro “A lei descoberta por Newton tanto pode ser explicada num livro de Física, como cantada num livro de versos. O sábio analisa –a, demonstrase, e o poeta, partindo dessa demonstração, tira do fato todas as consequências morais, sociais, e religiosas, traduzindo-as numa forma sentimental. A nossa época é uma época de análise, de crítica, de observação, e a poesia, como todas as artes, há de infalivelmente obedecer a essa tendência irresistível.” Antero de Quental (1842-1891) Nasceu na Ilha de Açores. Foi líder da mocidade acadêmica na Faculdade de Direito de Coimbra. Sua vida transcorreu num clima de febre, de intensa agitação interior, próprio de um visionário, num permanente digladiar-se daquilo que a educação religiosa familiar sedimentara e os novos valores que a filosofia e as ciências modernas lhe revelaram no curso universitário. Sem convicção ou fé absolutas, quem sabe de ambas as coisas, procura conciliar as duas forças antagônicas numa síntese harmoniosa, interior. Nessa obstinada procura de unidade, caminhava inexoravelmente para uma autodestruição espiritual, e depois física, suicidando-se. “Partindo deste principio – a Poesia é a confissão sincera do pensamento mais intimo de uma idade – o autor, na retidão imparcial da sua lógica, havia de necessariamente, concluir com esta outra afirmação – a Poesia moderna é a voz da revolução - porque Revolução é o nome que o sacerdote da história, o tempo, deixou cair sobre a fronte fatídica do nosso século.” (Antero de Quental) Amém a noite os magros crapulosos, E os que sonham com virgens impossíveis, E os que se inclinam, mudos e impassíveis, À borda dos abismos silenciosos... Tu, Lua, com teus raios vaporosos, Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis, Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis, Como aos longos cuidados dolorosos! Eu amarei a santa madrugada, E o meio dia, em vida refervendo, E a tarde rumorosa e repousada. Viva e trabalhe em plena luz: depois, Seja-me dado ainda ver, morrendo, O claro Sol, amigos dos herois! (Mais Luz! – In: Odes Modernas, de Antero de Quental) Razão, irmã do Amor e da Justiça, Mais uma vez escuta a minha prece. É a voz dum coração que te apetece, Duma alma livre só a ti submissa. Por ti é que a poeira movediça De astros, sóis e mundos permanece; E é por ti que a virtude prevalece, E a flor do heroísmo medra e viça. Por ti, na arena trágica, as nações Buscam a liberdade entre clarões; E os que olham o futuro e cismam, mudos. Por ti, podem sofrer e não se abatem, Mãe de filhos robustos que combatem Tendo o teu nome escrito em seus escudos! (Hino à Razão, de Antero de Quental) Entre os filhos dum século maldito Tomei também lugar na ímpia mesa, Onde, sob o folgar, geme a tristeza Duma ânsia impotente de infinito. Como os outros, cuspi no altar avito Um rir feito de fel e de impureza... Mas um dia abalou-se-me a firmeza, Deu-me um rebate o coração contrito! Erma, cheia de tédio e de quebranto, Rompendo os diques ao represo pranto, Virou-se para Deus minha alma triste! Amortalhei na Fé o pensamento, E achei a paz na inércia e esquecimento... Só me falta saber se Deus existe! O Convertido, de Antero de Quental Guerra Junqueiro (1850-1923) Abílio Manuel de Guerra Junqueiro formou-se em direito pela faculdade de Coimbra. Participou ativamente da vida literária e política. Foi deputado, secretário do Governo, propagandista da República e ministro. Foi a mais perfeita encarnação do poeta panfletário na fase do realismo ortodoxo, servindo-se do verso como arma de combate, de ataque à mentalidade burguesa. Com a publicação de A Morte de D. João e de A Velhice do Padre Eterno, mostra-se o realismo radical do autor revolucionário. Sua linguagem é, então, grandiloquente, agressiva, não raro grosseira, descambando muitas vezes num prosaísmo puramente retórico. “O assunto do meu poema é a corrupção e libertinagem duma parte da sociedade, corrupção manifestada na literatura desde o idealismo ingênuo e dissoluto do Rafael de Lamartine, até ao realismo descarado e vil dos escritores do segundo império.” No meio duma feira, uns poucos de palhaços Andavam a mostrar, em cima dum jumento Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços, Aborto que lhes dava um grande rendimento. Os magros histriões, hipócritas, devassos, Exploravam assim a flor do sentimento, E o monstro arregalava os grandes olhos baços, Uns olhos sem calor e sem entendimento. E toda a gente deu esmola aos tais ciganos: Deram esmola até mendigos quase nus. E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos, Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da cruz, Que andais pelo universo, há mil e tantos anos, Exibindo, explorando o corpo de Jesus. (Parasitas, in: A Velhice do Padre Eterno, de Guerra Junqueiro) Cesário Verde (1855-1888) José Joaquim Cesário Verde, nasceu em Lisboa, e durante sua vida, não obteve a consagração merecida. Seu prestígio firmase notadamente durante o Modernismo, cujos adeptos viram nele um dos mais ousados renovadores da poesia portuguesa. Postumamente foi lançada a coleção de seus poemas intitulada Livro de Cesário Verde. Possuidor de um penetrante senso do real, do concreto, do quotidiano chão e prosaico, e repudiando tudo que lhe cheirava a convenção, pose, artifício, Cesário Verde revelou para o lirismo português o belo arrancado do dia-a-dia rotineiro e aparentemente inadequado como matéria-prima poética. O Sentimento dum Ocidental Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de [sofrer. Semelham-se a gaiola, com viveiros, As edificações somente emadeiradas: Como morcegos, ao cair das badaladas, Saltam de viga em viga, os mestres [carpinteiros. O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba: E os edifícios, com as chaminés, e a turba Toldam-se duma cor monótona e londrina E evoco, então, as crônicas navais: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado Luta Camões no Sul, salvando um livro a [nado! Singram soberbas naus que eu não verei [jamais! Batem os carros de aluguer, ao fundo, Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! Ocorrem-me em revista exposições, países: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o [mundo! Eça de Queirós (1845-1900) José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim. Em Coimbra, onde fez o curso de Direito, foi contemporâneo de Antero de Quental. Em 1871 tomou parte nas ‘conferências do Cassino Lisbonense”, discorrendo sobre o tema ‘O Realismo como nova expressão da Arte”. Foi jornalista. Em 1872 ingressou na carreira diplomática. Faleceu em Paris. Revelou em suas obras a hipocrisia e a moral decadente da sociedade do século XIX por meio de uma análise psicológica. Eça se preocupou em criar uma literatura de caráter ideológico, logo, sua descrição tornase precisa e atenta aos detalhes. Sua produção é dividida em 3 fases: 1ª fase: publicação de romances em periódicos; palestras e artigos de reflexão publicadas também em periódicos. 2ª fase: Com a publicação de O Crime do Padre Amaro, em 1875, Eça de Queirós inaugura o romance realista em Portugal. Preso aos preceitos da escola realista, adota atitudes polêmicas na amostragem da decadência da sociedade burguesa, parcial e caricatural às vezes. Acentuada crítica ao clero e à burguesia. 3ª fase: Superada a fase de sátira mordaz, caricaturesca, dirigida principalmente contra os ‘responsáveis’ pela dissolução dos valores burgueses (tradicionais), valorização da vida campestre; a visão de realidade da obra querosiana tornase mais imparcial, mais humana (existencialista), a linguagem depura-se. Sua produção é dividida em 3 fases: Principais obras 1ª fase: “O mistério da estrada de sintra”, em parceria com Ramalho Urtigão 2ª fase: Trilogia – Cenas Portuguesas * “O Crime do Padre Amaro” * “O Primo Basílio” * “Os Maias” 3ª fase: “A ilustre casa de ramires” “A cidade e as serras” “A reliquia” “Era este um dos grandes gozos de Amaro – ouvir gabar aos colegas a beleza de Amélia, que era chamada entre o clero “a flor das devotas”. Todos lhe invejavam aquela confessada. Por isso insistia muito com ela em que se ajanotasse aos domingos, à missa; zangara-se mesmo ultimamente de a ver quase sempre entrouxada num vestido de merino escuro, que lhe dava um ar de velha penitente. (...) Cessaria as suas relações com Amaro, se o ousasse: mas receava quase tanto a sua cólera como a de Deus. Que seria dela se tivesse contra si Nossa Senhora e o senhor Pároco? Além disso, amava-o. Nos seus braços, todo o terror do céu, a mesma ideia do céu desapareceria; refugiada ali, contra o seu peito, não tinha medo das iras divinas; o desejo, o furor da carne, como vinho muito alcoólico, davam-lhe uma coragem colérica; era como um brutal desafio ao céu que se enroscava furiosamente ao seu corpo.” (O Crime do Padre Amaro) “ _ Seiscentos mil-réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil réis? – Ao inferno! – gritou Juliana. – Ou me dá seiscentos mil-réis , ou tão certo como eu estar aqui, o seu marido há de ler as cartas! Luísa deixou-se cair numa cadeira, aniquilada. – Que fiz eu para isto, meu Deus? Que fiz para isto? Juliana plantou-se diante, muito insolente. (O Primo Basílio) Pode-se afirmar que a obra de Eça de Queirós está voltada prioritariamente para a defesa dos pobres e oprimidos? “A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam – eles e elas. É o meu fim nas Cenas Portuguesas. É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso – e, com todo o respeito pelas instituições de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre. Não lhe parece você que um tal trabalho é justo? (Eça de Queirós) REALISMO BRASILEIRO Início 1881 JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS (1839-1908) Nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro. Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira açoriana. Órfão de ambos muito cedo, foi criado pela madrasta, Maria Inês. Já na infância apareceram sintomas de sua frágil constituição nervosa: a epilepsia e a gaguez, que o acometeriam durante toda a vida e lhe deram um feitio de ser reservado e tímido. Aprendidas as primeiras letras numa escola pública, recebeu aulas de francês e de latim de um padre amigo, mas foi como autodidata que construiu sua vasta cultura literária que incluía autores menos lidos no seu tempo. Aos dezesseis anos, entrou na Imprensa Nacional como tipógrafo aprendiz; aos dezoito, trabalhou na editôra de Paula Brito para cuja revistinha, A Marmola, escreveu seus primeiros versos. Pouco depois, é admitido à redação do Correio Mercantil. Trava conhecimento com alguns escritores românticos: Casimiro de Abreu, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Pedro Luís e Quintino Bocaiúva. Aos trinta anos de idade casa-se com uma senhora portuguesa de boa cultura, Carolina Xavier de Novais, sua companheira afetuosa até à morte e que lhe iria inspirar a bela figura de Dona Carmo do Memorial de Aires. Já amparado por uma carreira burocrática, primeiro no Diário Oficial ( 1867-73 ) e, a partir de 74, na Secretaria da Agricultura, o escritor pôde entregar-se livremente à sua vocação de ficcionista. Machado de Assis morreu vitimado por uma úlcera cancerosa, aos sessenta e nove anos de idade Suave Mari Magno Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de verão, Envenenado morria um pobre cão. Arfava, espumava e ria, De um riso espúrio e bufão, Ventre e pernas sacudia na convulsão. Nenhum, nenhum curioso Passava sem se deter, silencioso, Junto ao cão que ia morrer, Como se lhe desse gozo ver padecer. Vocabulário: Espúrio: ilegítimo Bufão: ridículo, jocoso, fanfarrão (Anos 1870-1880) Primeira fase de Machado de Assis: compromisso, “adequando-se” às convenções literárias da época: Contos Fluminenses ( 70 ), Ressurreição ( 72 ) Histórias da Meia-Noite ( 73 ), A Mão e a Luva ( 74 ), Helena ( 76 ), Iaiá Garcia (76) (A partir dos anos 1880) Segunda fase, plena maturidade do seu realismo de sondagem moral: Memórias Póstumas de Brás Cubas ( 1881 ), Histórias sem Data (84) Quincas Borba (92) Várias Histórias (96) Páginas Recolhidas ( 99 ) Dom Casmurro ( 1900 ) Esaú e Jacó ( 1904 ), Relíquias da Casa Velha (1906). Memorial de Aires ( 1908 ), último romance. Características Machadianas • A ruptura com a narrativa linear • A organização metalinguística do discurso narrativo • O universalismo • As influências • O pessimismo • A ironia e o humor negro • Realismo psicológico e densidade narrativa • Estilo “enxuto” Memórias Póstumas de Brás Cubas • • • • • Traço psicológico do autor Deficiência narrativa Superioridade de espírito Metalinguagem Prosa detalhista ao extremo onde todas as frases têm segunda intenção ou propósito espirituoso. • Intimidade com que o leitor é provocado • Afrontas: o narrador invade e perturba o curso do romance A fisionomia de Brás Cubas • Hesita sobre a melhor maneira de compor • Promete esclarecimento sobre a própria morte • Providência para se distanciar do vulgo • Prosa culta (pose) empresta verniz de respeitabilidade às ações do narrador, o que disfarça o lado gritante da desfaçatez, aprofunda o tipo social, além de causar uma desproporção cômica. A verdade sobre Brás Cubas • A situação narrativa – o defunto autor – embaralha as coordenadas da realidade ficcional • Falta credibilidade ao narrador • Terreno movediço em que cabe ao leitor orientar-se, desamparado de referências consentidas, frente a um narrador que tem indisfarçada intenção de confundir. • A volubilidade é o principio formal do livro AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez.. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas minimamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. CAPÍTULO 1 Óbito do Autor Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” CAPÍTULO 11 O menino é pai do homem Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente,como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino. Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. (...) Não digo nada de minha tia materna, Dona Emerenciana, e aliás era a pessoa que mais autoridade tinha sobre mim; essa diferençiava-se grandemente dos outros; mas viveu pouco tempo em nossa companhia, uns dois anos. Outros parentes e alguns íntimos não merecem a pena de ser citados; não tivemos uma vida comum, mas intermitente, com grandes claros de separação. O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, — vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor. CAPÍTULO 138 Aum crítico Meu caro crítico, Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinqüenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias.” Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo-se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! é preciso explicar tudo. CAPÍTULO 160 Das negativas Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. DOM CASMURRO • Narrado em primeira pessoa (pessoalidade e parcialidade) • Capitu é apresentada através dos olhos de Bentinho (ciumento e inseguro) • Memória e invenção se misturam no imaginário do narrador • Tentativa de expurgar uma culpa e expor o caráter oportunista de uma sociedade de aparências; • Referência à tragédia Otelo, identificação com a personagem justificaria a falta; •Machado procura “descascar” as camadas de aparências que recobrem o eu, deixando transparecer o vazio que há por trás delas. • Ser x Parecer: sujeito à combinação do desejo, do interesse e do valor social; exterior social da personagem projetado no interior psicológico; Capitu, apesar daqueles olhos que o Diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.” CAPÍTULO II DO LIVRO O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros; vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde, mas falta eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. _ Pronto! _ Estará bom? _ Veja no espelho. Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu. _ Levanta, Capitu! Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, e eu desci os meus, e... Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até a parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os seus no chão. 1.(UEL) O texto abaixo é o último capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é esse propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A Terra lhes seja leve! Vamos à História dos subúrbios. Pela leitura do texto, é correto afirmar que, depois de contar a história da sua vida e do seu amor por Capitu, Bentinho, o narrador: (A) Conclui que Capitu não o traiu. (B) Buscando conforto na Bíblia, chega à conclusão de que, apesar de Capitu o ter traído, ele deveria perdoar-lhe e não sentir ciúmes dela. (C) Não tem certeza de que Capitu o traiu, embora acredite que ela tenha se transformado muito desde a adolescência, aparecendo quando adulta como uma cigana traiçoeira e dissimulada. (D) Chega à conclusão de que Capitu já possuía, quando menina, os traços psicológicos que a caracterizariam na fase adulta. (E) Constata que Capitu e seu amigo José Dias mantinham um romance desde a adolescência. Pela leitura do texto, é correto afirmar que, depois de contar a história da sua vida e do seu amor por Capitu, Bentinho, o narrador: (A) Conclui que Capitu não o traiu. (B) Buscando conforto na Bíblia, chega à conclusão de que, apesar de Capitu o ter traído, ele deveria perdoar-lhe e não sentir ciúmes dela. (C) Não tem certeza de que Capitu o traiu, embora acredite que ela tenha se transformado muito desde a adolescência, aparecendo quando adulta como uma cigana traiçoeira e dissimulada. (D) Chega à conclusão de que Capitu já possuía, quando menina, os traços psicológicos que a caracterizariam na fase adulta. (E) Constata que Capitu e seu amigo José Dias mantinham um romance desde a adolescência. OLHOS DE RESSACA Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas... As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto, nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã. A narração do momento em que Capitu fixa o olhar no cadáver de Escobar efetiva-se: A) Muitos anos após a morte de Escobar, tendo por objetivo mostrar ao leitor a percepção do narrador da dissimulação de sua esposa, Capitu. B) Logo após o enterro de Escobar, mostrando-se o narrador solidário com a dor da viúva, Sancha, personagem caracterizada pela dissimulação. C) Através das palavras de Bento Santiago, melhor amigo de Escobar, tendo por objetivo registrar a dor dos amigos no momento do enterro. D) Logo após o enterro de Escobar, tendo por objetivo registrar o forte vínculo que unia sua família à do negociante e ex-seminarista. E) Muitos anos após o enterro de Escobar, tendo por objetivo ressaltar o transtorno ocasionado pela imprudência do ex-seminarista. A narração do momento em que Capitu fixa o olhar no cadáver de Escobar efetiva-se: A) Muitos anos após a morte de Escobar, tendo por objetivo mostrar ao leitor a percepção do narrador da dissimulação de sua esposa, Capitu. B) Logo após o enterro de Escobar, mostrando-se o narrador solidário com a dor da viúva, Sancha, personagem caracterizada pela dissimulação. C) Através das palavras de Bento Santiago, melhor amigo de Escobar, tendo por objetivo registrar a dor dos amigos no momento do enterro. D) Logo após o enterro de Escobar, tendo por objetivo registrar o forte vínculo que unia sua família à do negociante e ex-seminarista. E) Muitos anos após o enterro de Escobar, tendo por objetivo ressaltar o transtorno ocasionado pela imprudência do ex-seminarista. 3. De acordo com o texto, é correto afirmar: A) Diante do trecho acima transcrito, compete ao leitor acreditar ou não nas palavras do narrador uma vez que apenas suas palavras fazem-se presentes. B) Capitu, embora seja vista apenas pelo narrador, apresenta um comportamento ambíguo, pois não quer que as pessoas notem seu amor por Escobar. C) O comportamento dissimulado caracteriza Capitu, como deixam claras as palavras do narrador, seu marido, efetivadas logo após o enterro do amigo. D) Diante das palavras seguras do narrador, ex-seminarista e advogado, resta ao leitor a segurança de que Capitu era uma mulher adúltera. E) As palavras do ex-seminarista e advogado competente são a garantia da veracidade da cena descrita na qual Capitu fixa apaixonadamente o cadáver do amigo. 3. De acordo com o texto, é correto afirmar: A) Diante do trecho acima transcrito, compete ao leitor acreditar ou não nas palavras do narrador uma vez que apenas suas palavras fazem-se presentes. B) Capitu, embora seja vista apenas pelo narrador, apresenta um comportamento ambíguo, pois não quer que as pessoas notem seu amor por Escobar. C) O comportamento dissimulado caracteriza Capitu, como deixam claras as palavras do narrador, seu marido, efetivadas logo após o enterro do amigo. D) Diante das palavras seguras do narrador, ex-seminarista e advogado, resta ao leitor a segurança de que Capitu era uma mulher adúltera. E) As palavras do ex-seminarista e advogado competente são a garantia da veracidade da cena descrita na qual Capitu fixa apaixonadamente o cadáver do amigo. 4. A denominação do capítulo, “Olhos de ressaca”, é resultante da leitura que o narrador faz: A) Do mal-estar de Sancha diante do corpo inerte do marido. B) Da agressividade incontida do olhar de Bentinho em direção a Capitu. C) Do desejo detectado no olhar de Capitu de apossar-se de Escobar. D) Da força e do ímpeto presentes nos olhos de Capitu dirigidos ao marido. E) Do mal-estar de Capitu provocado pela noite passada em claro. 4. A denominação do capítulo, “Olhos de ressaca”, é resultante da leitura que o narrador faz: A) Do mal-estar de Sancha diante do corpo inerte do marido. B) Da agressividade incontida do olhar de Bentinho em direção a Capitu. C) Do desejo detectado no olhar de Capitu de apossar-se de Escobar. D) Da força e do ímpeto presentes nos olhos de Capitu dirigidos ao marido. E) Do mal-estar de Capitu provocado pela noite passada em claro.