Da publicação científica ao acesso aberto na saúde
pública
Curso de formação de formadores. Braga, 15 a 17 de Junho de 2011
Acesso Aberto: uma introdução
Eloy Rodrigues (Universidade do Minho) – [email protected]
 Acesso
Aberto
 Definições e âmbito
 As origens
As razões
 As duas vias para o Acesso Aberto
 Evolução e situação actual do Acesso Aberto
Evolução e marcos Open Acess
Introdução
«uma velha tradição e uma nova tecnologia convergiram para
tornar possível o aparecimento de um bem público sem
precedentes. A velha tradição é a boa-vontade de investigadores
e cientistas publicarem os resultados da sua investigação em
revistas científicas, sem qualquer remuneração, apenas em prol
da investigação e difusão do conhecimento. A nova tecnologia é a
Internet. O benefício público que as duas possibilitam é a
distribuição electrónica, a uma escala mundial, da literatura
científica com revisão pelos pares, de forma gratuita e sem
restrições de acesso a investigadores, docentes, alunos e outros
indivíduos interessados. A eliminação de barreiras de acesso à
literatura científica ajudará a acelerar a investigação, a enriquecer
a educação (...)».
Tradução de BUDAPEST OPEN ACCESS INITIATIVE [em linha].
2002. [Consultado em 21 Nov. 2006]. Disponível em <URL:
http://www.soros.org/openaccess/read.shtml>
A utopia de Budapeste
A distribuição mundial da literatura publicada em
revistas com peer-review e o acesso completamente
livre e irrestrito a essa literatura por todos os cientistas,
académicos, professores, estudantes e outras mentes
curiosas. A remoção das barreiras a esta literatura
acelerará a investigação, enriquecerá a educação, (...), e
estabelecerá as fundações para unir a humanidade num
comum diálogo intelectual e procura de conhecimento.”
Tradução da Budapest Open Access Initiative
As Declarações OA – os 3 B’s
 Budapest Open Access Initiative – Dezembro 2001
 Bethesda Statement on Open Access Publishing –
Junho 2003
 Declaração de Berlim sobre o Acesso Livre ao
Conhecimento nas Ciências e Humanidades– Outubro
2003
Acesso Livre – O que é?
• Uma definição simples:
“Acesso livre” significa a disponibilização livre
na Internet de literatura de carácter
académico ou científico, permitindo a
qualquer utilizador ler, descarregar, copiar,
distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar
o texto integral dos documentos.
Acesso Aberto - o que é?






Online
Immediate
Free (non-restricted)
Free (gratis)
To the scholarly literature that authors give away
Permanent
(Definição de Stevan Harnad)
Acesso Aberto - o que é?
“Open-access (OA) literature is digital,
online, free of charge, and free of most
copyright and licensing restrictions”
Definição de Peter Suber, 2006
Acesso Livre a quê?
Essencial:
Aos cerca de 2.5 milhões de artigos publicados por ano, a
nível mundial, em cerca de 25,000 revistas com peer-review
em todas as disciplinas académicas e cientificas.
Opcional:
A comunicações, teses e dissertações, relatórios, working
papers, artigos não revistos (preprints); monografias;
dados científicos; etc.
Não Aplicável:
O Acesso Livre não se aplica a livros sobre os quais os
autores pretendam obter receitas ou textos não
académicos, como notícias ou ficção.
Duas vias para o Acesso Aberto

Óptima (dourada): Publicar os artigos em revistas de
acesso livre sempre que existam revistas adequadas para
o efeito (presentemente mais de 6500, ≃ 26% - ver
www.doaj.org)

Boa (verde): Publicar os restantes artigos nas revistas
comerciais habituais (presentemente cerca de 19000, ≃
74%) e auto-arquivá-los em repositórios da própria
instituição (actualmente mais de 1900 – ver
www.opendoar.org e http://roar.eprints.org/).
Acesso Aberto - Grátis e Livre
 GRÁTIS
 Eliminam-se as barreiras económicas. O acesso é realizado
sem custos para o utilizador
 LIVRE
 Eliminam-se as barreiras económicas e pelo menos
algumas relacionadas com o copyright (facilitando a reutilização por humanos e “máquinas”)
http://www.earlham.edu/~peters/fos/newsletter/08-02-08.htm
Tipos de Acesso Aberto
 Acesso Aberto Verde/Dourado
 Refere-se à forma/local do acesso aberto (repositórios e
revistas)
 Acesso Aberto pela via verde é geralmente do tipo “Grátis”
mas pode ser “Livre”.
 Acesso Aberto pela via Dourada é geralmente “Livre” mas
pode ser “Grátis”
 Acesso Aberto Grátis/Livre
 Refere-se às barreiras/restrições que são eliminadas
 Como existem diversas barreiras de copyright, podem
existir diversos tipos/graus de AA Livre
Acesso Aberto – Porquê?
 Aumentar a visibilidade, o acesso, a
utilização e o impacto dos resultados de
investigação.
 Acelerar e tornar mais eficiente o
progresso da ciência.
 Melhorar a monitorização, avaliação e
gestão da actividade científica.
Acesso Aberto – Porquê?
 Aumentar Ao contrário de outros autores, os
investigadores e académicos publicam os resultados do
seu trabalho não para obterem rendimentos (direitos
de autor, royalties, etc.), mas para obterem outro tipo
de recompensa: impacto da publicação.
 Os investigadores são recompensados (progressão na
carreira, financiamento dos seus projectos, prémios
científicos, etc.), pela sua produtividade científica, que
é avaliada não apenas pela sua dimensão (quantidade),
mas sobretudo pelo seu impacto (qualidade).
Acesso Aberto – Porquê?
Por isso, tornar o trabalho científico publicamente
acessível é o principal interesse do investigador.
“From the authors viewpoint, toll-gating access to
their findings is as counterproductive as toll-gating
access to commercial advertisements.” - Steven
Harnad (2001)
Acesso Aberto – Porquê?
% aumento citações com Acesso Livre
Física
Sociologia
Psicologia
Direito
Gestão
Educação
Ciên. da Saúde
Ciências Políticas
Econom ia
Biologia
0
50
Amplitude = 36%-250%
(Fonte: Stevan Harnad e colaboradores)
100
150
200
250
Componentes da vantagem OA
EA: Early Advantage >> Vantagem da Antecipação
QA: Quality Advantage (Seglen 80/20 effect) >> Vantagem da Qualidade
UA: Usage Advantage >> Vantagem do Uso
(CA: Competitive Advantage) >> Vantagem Competitiva
(QB: Quality Bias) >> Propensão para a Qualidade
Um exemplo recente…
Gargouri Y, Hajjem C, Larivière V, Gingras Y, Carr L, et al. 2010 Self-Selected or Mandated, Open Access Increases
Citation Impact for Higher Quality Research. PLoS ONE 5(10): e13636. doi:10.1371/journal.pone.0013636
Gargouri Y, Hajjem C, Larivière V, Gingras Y, Carr L, et al. 2010 Self-Selected or Mandated, Open Access Increases
Citation Impact for Higher Quality Research. PLoS ONE 5(10): e13636. doi:10.1371/journal.pone.0013636
Estudos sobre o impacto do
Acesso Aberto
 Já existe uma bibliografia sobre este assunto:
The effect of open access and downloads ('hits')
on citation impact: a bibliography of studies
http://opcit.eprints.org/oacitation–biblio.html
Acelerar e tornar mais eficiente o progresso
da ciência
Time taken to be cited for articles in the arXiv database
10000
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Months from publication
93
84
75
66
57
48
39
30
21
12
3
0
-6
Number of articles
9000
Courtesy Alma Swan
– Key Perspectives
Acelerar e tornar mais eficiente o
progresso da ciência
Uma pausa para um comercial…
Melhorar a monitorização, avaliação e gestão da
actividade científica
 Avaliação de investigadores, grupos e centros de
investigação baseada na análise de citações de artigos
individuais (e não no factor de impacto de revistas);
 Registo e acompanhamento dos downloads, citações e
padrões de uso;
 Detecção de tendencias: previsão de impacto, uso,
trajectória e influências da investigação;
 Desenvolvimento de um “CitationRank” semelhante ao
algoritmo “PageRank” do Google;
 Latência e longevidade da investigação
 Avaliação do grau de endogamia/exogamia dos
investigadores e unidades de investigação
 Detecção de autores/trabalhos não citados/ignorados e
detecção de plágio por análise semântica
Origens do Acesso Aberto
Há dezasseis anos atrás... Uma proposta subversiva!
"If every esoteric [read: refereed-journal-article] author in the world this very day
established a globally accessible local ftp archive for every piece of esoteric [read: author
give-away] writing from this day forward... [and hence] "If all scholars' preprints were
universally available to all scholars by anonymous ftp (and gopher, and World-Wide
Web, and the search/retrieval wonders of the future), NO scholar would ever consent to
WITHDRAW any preprint of his from the public eye after the refereed version was
accepted for paper "PUBLICation." Instead, everyone would, quite naturally, substitute
the refereed, published reprint for the unrefereed preprint."
HARNAD, Stevan - Universal FTP Archives for Esoteric Science and Scholarship: A Subversive
Proposal. In: Ann Okerson & James O'Donnell (Eds.) Scholarly Journals at the Crossroads; A Subversive
Proposal for Electronic Publishing. Washington, DC., Association of Research Libraries, June 1995.
http://www.arl.org/scomm/subversive/sub01.html
Origens do Acesso Aberto
O Movimento de Acesso Aberto
Causas:
consciência das limitações e contradições do actual sistema
de comunicação científica
possibilidades tecnológicas
Objectivos
Maximizar o impacto da investigação, maximizando o
acesso aos seus resultados
Reassumir o controlo do sistema de comunicação da
ciência
Problemas e contradições no sistema de
comunicação da ciência
Segunda metade do século XX:
Crescimento acentuado do volume da
literatura científica;
“Comercialização” e perda de controlo
académico do sistema de comunicação da
ciência;
A função essencial das revistas – divulgação
dos resultados da investigação – foi
obscurecida e prejudicada por esta
“comercialização”
Problemas e contradições no sistema de
comunicação da ciência
O mundo académico perdeu o controlo sobre o
sistema de comunicação da ciência.
Aumento constante dos preços dos periódicos
(custo médio das assinaturas cresceu 215% entre
1986 e 2003, nos EUA, contra 68% de inflação
nesse período), acompanha um movimento de
grande concentração (quase monopolista) na
indústria da informação de Ciência e Tecnologia.
Problemas e contradições no sistema de
comunicação da ciência
As barreiras ao acesso traduzem-se numa
perda de eficiência do sistema de comunicação
da ciência, e em limitações ao impacto e
reconhecimento dos resultados alcançados
pelos investigadores e as instituições onde
trabalham.
Problemas e contradições no sistema de
comunicação da ciência
Panorama actual:
Cerca de 175.000 publicações periódicas, das
quais cerca de 25.000 são revistas com
“refereeing”.
Fonte: Ulrich/Bowkers Serials listing
Em média cada Universidade dos EUA e Canadá
assina 28.454 títulos (do total de 175.000)
Fonte: ARL Statistics
Em Portugal, este número é substancialmente
inferior (mesmo com a B-on...)
“O longo caminho para a liberdade...”
A partir de meados dos anos 90, várias iniciativas,
movimentos e atitudes expressam uma insatisfação
crescente com a situação do sistema de comunicação
da ciência:
Demissões de editores e comités editoriais de
revistas comerciais, em protesto contra as políticas
de preços e condições de licenciamento, e
lançamento de revistas em Acesso Livre
“O longo caminho para a liberdade...”
1998 –
Criação da Scholarly Publishing and Academic
Resources Coalition (SPARC) pela Association of
Research Libraries (ARL). SPARC Europa criada em 2002
Criação do Fórum da American Scientist, também
designado September98-Forum. É o mais antigo fórum
de discussão sobre Acesso Livre, moderado por um dos
principais impulsionadores do movimento, Stevan
Harnad.
“O longo caminho para a liberdade...”
1999 –
Criação da Open Archives Initiative (OAI), com o objectivo de criar
uma plataforma simples, para a interoperabilidade e a pesquisa de
publicações científicas de diversas disciplinas.
Surgida no seio da comunidade dos “eprints”, de forma
independente do movimento de Acesso Livre, a abordagem do OAI
foi essencialmente técnica. A sua principal realização é o Open
Archives Metadata Harvesting Protocol (OAI-PMH).
O protocolo OAI-PMH foi decisivo para o desenvolvimento do
movimento de Acesso Livre, constituindo a sua base técnica. O
número crescente de servidores OAI contribuiu também para dar
maior visibilidade e encorajamento ao movimento de Acesso Livre.
“O longo caminho para a liberdade...”
2000 –
Lançamento da PubMed Central, que disponibiliza
gratuitamente artigos em texto completo em
complemento da base de dados bibliográficos PubMed,
e início da publicação de artigos e revistas de acesso
livre pela Biomed Central.
2001 –
Reunião em Budapeste, promovida pelo Open Society
Institute (OSI), da qual resultou um dos mais
importantes documentos e iniciativas do movimento do
Acesso Livre, conhecida como Budapest Open Access
Initiative (BOAI).
Cronologia do OA
Timeline-Open access directory.http://oad.simmons.edu/oadwiki/Timeline
37
“O longo caminho para a liberdade...”
2000 –
Lançamento da PubMed Central, que disponibiliza
gratuitamente artigos em texto completo em
complemento da base de dados bibliográficos PubMed,
e início da publicação de artigos e revistas de acesso
livre pela Biomed Central.
2001 –
Reunião em Budapeste, promovida pelo Open Society
Institute (OSI), da qual resultou um dos mais
importantes documentos e iniciativas do movimento do
Acesso Livre, conhecida como Budapest Open Access
Initiative (BOAI).
Situação actual
Crescimento do número de repositórios, e do
número de documentos neles depositados
Crescimento do número de revistas em
acesso livre
Criação de “opções” de Acesso Livre por
vários editores comerciais (com custos
significativos)
Políticas e mandatos de Open Access de
universidades e organismos financiadores
Mundialmente, já foram implementados um total de 272 mandatos
OA.
ROARMAP (Registry of OA Repository Mandates):
http://www.eprints.org/openaccess/policysignup/
Políticas e mandatos OA em Portugal
Ano
Instituição
Universidade do Minho
2005
ISCTE
2007
Universidade do Porto
2008
Universidade Aberta
2010
Instituto Politécnico de Bragança
2010
Universidade de Coimbra
2010
Hospitais da Universidade de Coimbra
2011
Instituto Politécnico de Leiria
2011
As políticas europeias
 A Comissão Europeia e o Conselho Europeu de Investigação (European Research Council)
pretendem proporcionar uma ampla difusão e acessibilidade aos resultados publicados da
investigação por si financiada.
As políticas europeias de Open Access
Em Dezembro de 2007
 O Conselho Europeu de Investigação requer aos investigadores o depósito de todas as publicações,
resultantes dos projectos de investigação financiados e com revisão por pares (peer-review) num
repositório institucional ou disciplinar adequado e, posteriormente, disponibilizá-las em acesso livre
num prazo de 6 meses a contar da data de publicação.
As políticas europeias de Open Access
Em Agosto de 2008
 O Projecto-piloto Open Access do 7º Programa Quadro
Projecto-piloto Open
Access exige aos investigadores o
depósito das publicações num repositório
institucional
ou disciplinar.
 Aplica-se a qualquer artigo que:
 possua revisão por pares (peer-review) e tenha sido aceite para publicação;
 resulte de investigação financiada numa das sete áreas temáticas designadas: energia, ambiente
(incluindo alterações climáticas), saúde, tecnologias da informação e comunicação (sistemas
cognitivos, interacção, robótica), infra-estruturas de investigação (e-infraestruturas), ciências na
sociedade, ciências socioeconómicas e humanidades;
 tenha um acordo de concessão assinado depois de 2008 (cláusula especial 39).
Mais informação em:
www.openaire.eu
Em 2010…
Dezembro 2010
2 de Dezembro de 2010
OpenAIRE Public Event
Seg.
Ter. Qua. Qui. Sex. Sáb. Dom.
O OpenAIRE Public Event realizou-se a 2 de Dezembro em Ghent, integrado no programa
oficial da presidência belga da União Europeia, visando apresentar os primeiros
resultados da infra-estrutura OpenAIRE, que suporta o Projecto-Piloto Open Access do
7.ºPQ da Comissão Europeia (CE). Este evento contou com a presença, da vice-presidente
da CE, Neelie Kroes.
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“Scientific information has the power to
transform our lives for the better - it is
too valuable to be locked away.”
Neelie Kroes
Vice-President of the European Commission, responsible for the Digital Agenda
Situação actual
Apesar desta evolução muito positiva, calculase que apenas pouco mais de 20% da produção
científica mundial está disponível em Acesso
Livre;
Vivemos ainda um período de transição…
Bjork B-C, Welling P, Laakso M, Majlender P, Hedlund T, et al. (2010) Open Access to the Scientific
Journal Literature: Situation 2009. PLoS ONE 5(6)
Incertezas e tuburlências do período de
transição
Como se atingirá de forma mais rápida e segura os 100%
Open Access?
Via Dourada – Revistas OA
Via Verde – Repositórios
Qual o futuro das revistas científicas?
Modelo económico
Revistas “tradicionais” ou “virtuais”/”federadas”
Peer-review “tradicional” ou novas formas (póspublicação, pelos leitores,etc.)
As revistas estão mortas!..
Vivam as revistas?
Novos modelos de publicação científica
PLoS ONE é uma revista “diferente”, em Acesso
Aberto, que se publica desde 2006.
Publica qualquer artigo de qualquer área científica que seja julgado
tecnicamente válido e original (um revisor interno e um externo), sem ter
em conta a sua “importância”.
Em 2010 tornou-se na maior revista do mundo, publicando 6749 artigos
Em Janeiro de 2011 a Nature Publishing Group
anunciou uma revista concorrente, com o mesmo tipo
de publicação, chamada Scientific Reports
Mas o Open Access fará certamente parte do futuro
da comunicação científica…
Open access is a legal and technical
reality today. The question is no longer
„if‟ we should have open access. The
question is about „how‟ we should
develop it further and promote it.
Neelie Kroes
Vice-President of the European Commission, responsible for the Digital Agenda
Download

Eloy Rodrigues: Acesso Aberto: uma introdução