PNE PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO O PL 8035/2010 • É o projeto de lei elaborado pelo MEC / Governo Lula/Dilma que propõe o novo PNE (2011-2020) • Ele possuí 10 diretrizes, 20 metas e várias estratégias para cada meta. • Não veio acompanhado de um diagnóstico • Não respeitou as decisões da Conferência Nacional de Educação de 2010 (CONAE) • Em muitos momentos apenas incorpora e formaliza projetos e programas que são deste governo, perdendo o caráter de plano de Estado. As diretrizes propostas no PL8035/10 Art. 2º São diretrizes do PNE - 2011/2020: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais; IV - melhoria da qualidade do ensino; V - formação para o trabalho; VI - promoção da sustentabilidade sócio-ambiental; VII - promoção humanística, científica e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto; IX - valorização dos profissionais da educação; e X - difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e a gestão democrática da educação Do que tratam as metas do PL 8035? • Universalização do acesso a pré-escola, ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio (Metas 1 ,2,3) • Atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades (Meta 4) • Alfabetização das crianças até 8 anos de idade (Meta 5) • Educação de tempo integral (Meta 6) • Alcançar resultados no IDEB e no PISA (Meta 7) • Elevação da taxa de escolaridade, da taxa de alfabetização, oferta de educação de jovens e adultos e combate ao analfabetismo (Metas 8, 9 e 10) • Educação profissional técnica e qualificação profissional (Meta 11) • Ensino Superior, graduação e pós-graduação (Metas 12, 13 e 14) • Formação dos profissionais da educação (Metas 15 e 16) • Valorização dos Profissionais da educação (Metas 17 e 18) • Gestão democrática da educação, gestão das escolas (Meta 19) • Financiamento da educação (Meta 20) Duas questões centrais • O financiamento da educação • A qualidade da educação Como é tratado o financiamento da educação no PL 8035? • Apenas a Meta 20 trata da questão, fixando que o Brasil gaste 7% do PIB em Educação, possivelmente em 2020. • Estabelece que recursos do Fundo Social (Présal) devem ser utilizados na Educação, mas não determina quanto, nem quando. • Fala do custo-aluno, mas não específica nada concretamente Quais os problemas na proposta de financiamento • • • • • • • O governo foi obrigado a fixar o percentual do PIB, mas ignorou completamente a questão do Custo-Aluno-Qualidade, que garante a ampliação dos gastos de forma objetiva. O governo aposta na ampliação do atendimento pelo ensino privado, com uso de dinheiro público, seguindo o modelo do PROUNI A terceirização de serviços e o atendimento por bolsas “barateia” o atendimento, pela perda de qualidade A exploração pelo setor privado atende uma demanda comercial, salva instituições de má-qualidade e isenta o governo de responsabilidade. Há uma clara valorização da educação a distância, por ser mais barata e ter um grande apelo comercial, desconsiderando os graves problemas de qualidade. A educação infantil (creche) e o Ensino Superior continuam não sendo obrigatórios, o que leva a metas que não visam assegurar o atendimento a todos . A valorização dos profissionais é tratada de forma confusa, baseada em propostas meritocráticas. Apresenta estratégias que aprofundam políticas de premiação por bônus e que vinculam a evolução profissional ao desempenho em exames. Percentual do Investimento Público Direto em Relação ao PIB Níveis de Ensino Ensino Fundamental Ano Total Educação Básica Educação Infantil De 1ª a 4ª De 5ª a 8ª Séries ou Anos Séries ou Anos Iniciais Finais Ensino Médio Educação Superior 2000 3,9 3,2 0,3 1,3 1,1 0,5 0,7 2001 4,0 3,3 0,3 1,3 1,1 0,6 0,7 2002 4,1 3,3 0,3 1,5 1,1 0,4 0,8 2003 3,9 3,2 0,3 1,3 1,0 0,5 0,7 2004 3,9 3,2 0,3 1,3 1,1 0,5 0,7 2005 3,9 3,2 0,3 1,4 1,1 0,4 0,7 2006 4,3 3,6 0,3 1,4 1,3 0,6 0,7 2007 4,5 3,8 0,4 1,5 1,4 0,6 0,7 2008 4,7 4,0 0,4 1,5 1,5 0,7 0,7 2009 5,0 4,2 0,4 1,6 1,6 0,7 0,7 Percentual do Investimento Público Direto em Relação ao PIB Esfera de Governo Ano Total União Estados e Distrito Federal Municípios 2000 3,9 0,74 1,66 1,55 2001 4,0 0,76 1,68 1,61 2002 4,1 0,72 1,77 1,60 2003 3,9 0,66 1,62 1,59 2004 3,9 0,62 1,62 1,63 2005 3,9 0,65 1,56 1,68 2006 4,3 0,73 1,84 1,73 2007 4,5 0,80 1,86 1,78 2008 4,7 0,85 2,01 1,87 2009 5,0 0,98 2,05 1,95 7% do PIB são suficiente para o novo PNE? • • • • • • • • Hoje o Brasil investe menos de 5% do PIB em educação e durante os últimos dez anos investiu, em média, menos de 4%. Os países desenvolvidos, com sistemas educacionais já estruturados, gastam em média mais de 7% do PIB. Em 2001 eram pouco mais de 3%, portanto os gastos com educação cresceram 2% em dez anos, 0,2% ao ano Esse é um crescimento quase “vegetativo” em função do desenvolvimento econômico do pais, lembrando que foi “impulsionado” pelo FUNDEF/FUNDEB A proposta do Governo, segundo o ministro, é de crescer mais 2% em 10 anos, o que significa um crescimento de R$ 80bilhões no total. 0,2% ao ano, R$ 8 bilhões por ano. Nas notas técnicas do MEC o montante só chega R$ 61bilhões. É uma proposta que não aponta para novos recursos, trabalha com a idéia de incorporar apenas o que vem de resultados da economia. Os cálculos do governo tomaram como base o padrão de gastos atual Só para universalizar o atendimento do Ensino Fundamental e Médio seriam precisos 7,1% do PIB, considerando outro padrão de qualidade (o atual). Por que 10% do PIB? • Estudos feitos durante a elaboração do primeiro PNE e recalculados agora mostram que seria necessário investir 10% do PIB por alguns anos, permitindo a estruturação das redes e ampliação do atendimento. • É preciso investir na construção de escolas, creches, universidades, melhorar muito os salários dos profissionais da educação, boas condições de atendimento, materiais, livros e equipamentos. • Isso permitiria ao Brasil realizar o salto que já foi dado em países que hoje investem em média 7% • O modelo a ser seguido deve ser pautado pela garantia do direito a educação pública, gratuita e de qualidade. • É possível ampliar os gastos, pois existem recursos. Mas é necessária uma mudança de prioridades na política econômica. De onde viriam os novos recursos? • Fundo Social (lei 12351/10): os recursos que virão do pré-sal ainda são desconhecidos, e não serão utilizados diretamente, só os lucros das aplicações, e serão destinados a várias áreas. Art. 50. A política de investimentos do FS tem por objetivo buscar a rentabilidade, a segurança e a liquidez de suas aplicações e assegurar sua sustentabilidade econômica e financeira para o cumprimento das finalidades definidas nos arts. 47 e 48. Parágrafo único. Os investimentos e aplicações do FS serão destinados preferencialmente a ativos no exterior, com a finalidade de mitigar a volatilidade de renda e de preços na economia nacional. Art. 51. Os recursos do FS para aplicação nos programas e projetos a que se refere o art. 47 deverão ser os resultantes do retorno sobre o capital. De onde viriam os novos recursos? • Auditoria da dívida pública: – O Brasil pagou só em agosto cerca de R$21,6 bilhões de juros da dívida pública, a estimativa para 2011 é superar os R$200bilhões – O governo gasta mais de 45% do orçamento com pagamento de juros da dívida pública e pouco mais de 2% com educação De onde viriam os novos recursos? A CPI da Dívida Pública apontou: • Juros sobre juros (anatocismo) Todo ano, o governo federal paga a maior parte dos juros da dívida com recursos obtidos por meio da emissão de novos títulos, o que acarreta a sistemática capitalização de juros, o que é considerado ilegal, conforme a Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal. • Acumulação de reservas internacionais: imenso prejuízo às contas públicas Investidores nacionais e estrangeiros têm trazido centenas de bilhões de dólares ao Brasil para vendê-los ao Banco Central, que dá em troca títulos da dívida interna, que pagam as maiores taxas de juros do mundo. O BC se endivida a taxas altíssimas para comprar dólares e aplicálos nas chamadas “reservas internacionais”, constituídas principalmente de títulos do Tesouro dos EUA, que não rendem quase nada, e ainda têm desvalorizado frente ao real.Os prejuízos chegaram a R$ 147 bilhões em 2009 e cerca de R$ 50 bilhões em 2010. • Pagamento antecipado de dívida externa com ágio Apenas no período de 2006 a 2008, o governo federal pagou um ágio de R$ 5,3 bilhões para comprar antecipadamente R$ 25 bilhões em títulos da dívida externa De onde viriam os novos recursos? Tributação extra sobre os pagamentos de juros e amortizações da dívida Em 2010, o governo federal pagou R$ 635 bilhões de juros e amortizações da dívida federal. Se fosse aplicada uma alíquota de 10% sobre este valor, seriam obtidos R$ 63,5 bilhões anuais. Tributação extra do lucro dos bancos Em 2010, os bancos brasileiros tiveram um lucro líquido de R$ 67 bilhões, principalmente devido ao recebimento dos generosos pagamentos da dívida pública. Caso fosse instituído um tributo de 20% sobre este lucro líquido, seriam obtidos R$ 13,4 bilhões anuais. 4 – Imposto sobre Grandes Fortunas A proposta seria tributar progressivamente o patrimônio acima de R$ 2,3 milhões, chegando à alíquota anual de 5% para patrimônios acima de R$ 57,5 milhões. Apenas as 5 mil famílias mais ricas do país têm patrimônio correspondente a 42% do PIB (R$ 1,5 trilhão em 2010), seria possível arrecadar, apenas com esse seleto grupo, a quantia aproximada de R$ 75 bilhões anuais. Somente estes 3 tributos acima poderiam gerar receitas anuais da ordem de R$ 151 bilhões, ou seja, nada menos que 83% dos R$ 183 bilhões necessários para se atingir os 10% do PIB para a educação. Tributação do lucro dos bancos: o lucro líquido dos bancos foi, em 2010, de R$67bilhões, eles não pagam tributos sobre essa “renda”. Uma taxação de 20% garantiria R$13,4bilhões anuais para a educação. Como é tratada a questão da qualidade no PL 8035? • O governo trata a Meta 7 como uma meta de qualidade. • Nela são estipulada metas de resultados para o IDEB, a serem alcançadas pelas escolas/alunos • Também apresenta metas para resultados no PISA, um exame internacional O que significa o IDEB como sinônimo de qualidade? • O IDEB é um indicador que foca em duas coisas: o desempenho dos alunos na Prova Brasil (um exame) e o resultado anual da escola (aprovação, reprovação e abandono) • Normalmente só se divulga o resultado numérico do IDEB, valorizando apenas a comparação entre as escolas • Ele não abrange aspectos importantes que afetam a qualidade do ensino • Ele olha apenas para o aluno, jogando toda a responsabilidade nele e no professor • É um instrumento único, aplicado de norte a sul, que não considera questões regionais ou locais • Essa é a visão neoliberal sobre a educação: o esforço (dos alunos, dos professores, das escolas) estimulado pela competição vai garantir qualidade. Aprofundamento da visão neoliberal no PL 8035/10 • São propostos inúmeros instrumentos como o IDEB: exames para a alfabetização, para os professores, para o ensino técnico, para a educação infantil, “aperfeiçoamento” do ENEM e do ENADE... • Não há qualquer preocupação com a idoneidade dos resultados • Não são apresentados instrumentos que abordem outras dimensões e outros aspectos da questão da qualidade na educação • São feitas propostas que vinculam recursos financeiros aos resultados no IDEB • Não é proposta qualquer ação ou assumida qualquer responsabilidade dos governantes diante dos resultados, a responsabilidade é apenas da escola, dos professores e dos alunos