OBJETIVOS DO CURSO: - Compreender a Educação Física na escola como uma disciplina responsável pela leitura do mundo - - - Identificar maneiras de trabalhar os conteúdos da EF na escola a partir de um viés mais “crítico” e emancipador Refletir, em conjunto, sobre alguns modos de planejar as aulas Vivenciar alguns exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física numa escola de tempo integral EDUCAÇÃO FÍSICA = MOVIMENTO Mas como pensar o movimento do ponto de vista específico da EF? Quando as crianças chegam na escola elas andam, correm, saltam, etc., pois estes são traços da cultura que já se inscreveram em seus corpos. O que importa, no entanto, é que estes atos (gestos) diários foram codificados ao longo da história e se tornaram um universo a parte do saber (um saber que tornou-se técnico e científico). É justamente esta codificação que se torna objeto de ensino da EF escolar. ATO - ISOLADO GESTO - CODIFICADO ANDAR PASSO CRUZADO, VALSA CORRER ATLETISMO (CORRIDA DOS 100 METROS, REVEZAMENTO), COOPER SALTAR SALTO GRUPADO, CARPADO, BLOQUEIO E CORTADA NO VOLEIBOL ARREMESSAR ARREMESSO DE DISCO, DE DARDO, HANDEBOL, BASQUETEBOL Atos, que antes eram de pura sobrevivência, vão sendo mantidos, desenvolvidos e incrementados, tornando-se o que chamamos hoje, na EF, de Práticas Corporais. O famoso Coletivo de Autores (1992), que elaborou a abordagem conhecida como Critico-Superadora, afirma que: o objeto da EF é a cultura corporal concretizada em seus diversos temas (esportes, lutas, ginásticas, danças e jogos) Daolio (2004) afirma que o principal conceito para a EF é o de CULTURA, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural. Esta afirmação nos alerta para o fato e de que o corpo e o movimento não podem ser vistos apenas nas dimensões biológicas ou mecânicas, mas como fenômenos históricoculturais. Isto amplia sobremaneira a responsabilidade da EF na escola, que passa de uma disciplina que era tradicionalmente responsável pelo ensino das técnicas esportivas para uma disciplina responsável pelo trato pedagógico das práticas corporais. Ex: futebol A aula de EF não pode ser usada como tempo e espaço de treinamento, mas como tempo e espaço de ampliar o conhecimento em relação as coisas do mundo. A aula é, ou deveria ser, PARA TODOS. Ela deve ser capaz de abarcar as diversas culturas, classes sociais, etnias, religiões e gêneros. Deve ser includente e não excludente. Mas o que vemos? Refletir sobre o exemplo da pirâmide esportiva (Bracht, 1994) George Snyders (2006) – defende a ideia da escola como o espaço de ampliação da “cultura”! Que outra chance algumas crianças e jovens teriam de conhecer determinadas coisas se não fosse pela escola? Ex: Beethoven e Mozart Ex: Ballet e Esgrima A escola não precisa e não deve especializar, mas permitir o ENCONTRO! • Ex: • funk • Futebol X X ballet rugby OBS: Não basta apresentar às crianças. É preciso que elas compreendam as relações cotidianas que dizem respeito a tal prática. Elas precisam saber, inclusive, porque elas não tem acesso a elas (relações com a hierarquia social, classe econômica, etc). Além da responsabilidade com conhecimento do maior número possível de práticas corporais, a EF também precisa ensinar os alunos a refletirem sobre elas na dinâmica cotidiana. Voltemos ao exemplo do futebol e do rugby: Elementos a serem refletidos em aula: - Porque conhecemos tanto futebol e tão pouco o rugby? - Porque na TV só vemos jogos masculinos? - Rugby é violento? Futebol não é? E as torcidas? - Por que o futebol gera tanta briga nos estádios e fora deles? - Como o futebol movimenta a economia? Para além destes exemplos: Os esportes, as danças, as artes marciais/lutas, as ginásticas e os exercícios físicos tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo (mesmo que apenas como imagens) e objetos de informações amplamente divulgadas ao grande público. Jornais, revistas, rádio, televisão e internet difundem informações sobre atividades físicas e esportivas, relações destas com a saúde etc., vinculando-as a determinados significados/sentidos. Particularmente os adolescentes e jovens são atingidos por um bombardeio de imagens e enunciados que propõem um padrão de beleza corporal a ser alcançado por todos. A despeito disso, pequena proporção da população pratica esportes e exercícios físicos de modo sistemático. O estilo de vida gerado pelas novas condições socioeconômicas (urbanização, consumismo, informatização, deterioração dos espaços públicos de lazer, violência, poluição) favorece o sedentarismo e o recolhimento aos espaços privados (doméstico, por exemplo) ou semiprivados (shopping centers, por exemplo). Mas o que a escola tem feito? Conformado os alunos ou sendo instrumento de transformação? O que deveria ser aprendido/apreendido por parte dos alunos da Educação Física são as manifestações, os significados/sentidos, os fundamentos e critérios da cultura de movimento de nossos dias – ou seja, sua apropriação crítica. Educação Física no Fundamental I e II e no Ensino Médio: Espera-se que até a 4ª série do Ensino Fundamental os alunos tenham vivenciado um amplo conjunto de experiências de Se Movimentar, e possuam várias conhecimentos sobre jogo, esporte, ginástica, luta e atividade rítmica, exercício físico etc., decorrentes não só da participação nas aulas de Educação Física, mas do contato com as mídias e com a cultura de movimento dos grupos socioculturais a que se vinculam (família, amigos, comunidade local etc.). Entre a 5ª e a 8ª séries, trata-se de evidenciar os significados/sentidos e intencionalidades presentes em tais experiências, cotejando-os com os significados/sentidos e intencionalidades presentes nas codificações das culturas esportiva, lúdica, gímnica, das lutas e rítmica. No Ensino Médio deve ser ressaltada a possibilidade do Se Movimentar no âmbito da cultura de movimento juvenil ser cotejada com outras dimensões do mundo contemporâneo, gerando conteúdos mais próximos da vida cotidiana dos alunos. Assim, a Educação Física pode auxiliá-los na compreensão do mundo de forma mais crítica, possibilitando-lhes intervir nesse mundo e em suas próprias vidas de forma mais autônoma Tendo isto em vista, podemos pensar na EF escolar a partir de algumas coisas: EIXOS DE CONTEÚDOS EIXOS TEMÁTICOS JOGOS ESPORTES LUTAS DANÇAS GINÁSTICAS CORPO, SAÚDE E BELEZA CONTEMPORANEIDADE MÍDIAS LAZER E TRABALHO GÊNERO Esses eixos temáticos permitem, por exemplo, o tratamento dos seguintes temas: preconceito racial nos esportes, discriminação contra pessoas com deficiências em atividades esportivas, o papel das mídias na construção de padrões de beleza corporal, os vários significados atribuídos ao corpo, relações entre exercício físico e saúde, o lazer na vida cotidiana e muitos outros. CORPO, SAÚDE E BELEZA ESPORTES X LUTAS GINÁSTICAS CONTEPORANEIDADE MÍDIAS LAZER E TRABALHO X X GÊNERO X X X X X DANÇAS X X JOGOS X X COMO MONTAR MINHA AULA : • Para quem? Do que eles precisam e onde eles são capazes de “chegar”? • O que? Escolho o conteúdo • Para que? Expectativas de aprendizagem • Como? Atividades, práticas formativas, problematizações Exemplo 1: Para quem: 1º ano do Fundamental O que: jogos (jogos cooperativos) Para que: - Identificar semelhanças e diferenças entre o jogo competitivo e o jogo cooperativo; - perceber os jogos como possibilidade de Se-movimentar; - Identificar o papel da regra em ambos os tipos de jogos. Como (atividades): 1) Realização de um jogo esportivo/competitivo (pode ser sugerido pelos próprios alunos); 2) Realização de um jogo cooperativo; 3) Discussão sobre as diferenças e semelhanças, sobre os objetivos de cada jogo, sobre como as regras funcionam em cada jogo, etc. Exemplo 2: Para quem: 5º ano do Fundamental O que: jogos (jogos pré-desportivos) Para que: - Identificar elementos das modalidades esportivas competitivas; - Reconhecer o uso do espaço (saber se posicionar, sair da fase anárquica); - compreender elementos comuns dos jogos coletivos (regras, possuem duas equipes, uma contra a outra, possui um alvo, uma forma de pontuar, táticas específicas) Como: 1) realizar um jogo pré-desportivos (queimada) 2) realizar um jogo com variações (muda o pique, a quantidade de bolas, diminuir o espaço, incluir um jogador que deve ser protegido, etc) 3) Conversar sobre as dificuldades encontradas no primeiro e no segundo jogo (no primeiro foi mais fácil? Por que? Se posicionar ficou mais difícil no segundo? Por que? 4) Elencar com eles os elementos que possuem nestes jogos e que são encontrados nas modalidades esportivas (linhas, alvo, ponto, competição, visão de jogo, posicionamento, ataque, defesa) 5) realizar um jogo esportivo (handebol) ATENÇÃO: Neste ciclo já aparece de maneira mais significativa a necessidade dos eixos temáticos. Por exemplo, para os papéis mais importantes os meninos são mais escolhidos que as meninas (gênero). No momento de escolher as equipes há uma exclusão por habilidades e ainda uma ênfase na coisa do mais gordinho, do desengonçado (corpo, saúde e beleza). Exemplo 3: Para quem: 1º ano do Ensino Médio O que: esportes coletivos (handebol) Para que: - Conhecer a história da modalidade; - identificar o handebol no contexto da mídia; - Ampliar os conhecimentos sobre os princípios técnicos e táticos; - Compreender o funcionamento do organismo humano (as capacidades físicas necessárias para o jogo como, por exemplo, agilidade, velocidade, resistência e força Como: 1) Em sala falar um pouco sobre o jogo, sua história, suas características 2)Passar um vídeo com um jogo de alto rendimento 3) Questionar os alunos sobre quantas vezes eles assistiram um jogo de handebol na TV aberta? Fazer com que falem o porquê. 4) Realizar um jogo de handebol masculino 5) Realizar um jogo de handebol feminino 6) Realizar um jogo misto 7) Discutir sobre as diferenças e semelhanças dos dois jogos 8) Identificar questões postas por eles mesmo sobre gênero 9) Em sala: estudar sobre as as capacidades físicas necessárias para jogar e seus processos anatomofisiológicos 10) Estudar sobre o organismo humano em movimento/atividade física e em repouso 11) refletir sobre a construção cultural dos corpos femininos e masculinos e refletir, do ponto de vista histórico porque consideramos os homens mais fortes do que as mulheres? INDO ALÉM... É possível complexificar ainda mais, cruzando os eixos entre si: O que problematizar com os alunos? Ex. 1: Articulando o eixo temático mídia com o eixo gênero - aula sobre as transformações dos papéis masculinos e femininos ao longo da história Exemplos de recursos didáticos para as aulas: - Quadrinhos - propagandas OBRIGADA PELA ATENÇÃO! 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