Paulo Leminski, além de grande poeta, é bom lembrar que ele foi: um pensador de cultura, haikaista, tradutor, biógrafo, jornalista da imprensa escrita e televisionada, ensaísta, contista, romancista, autor de experimentações verbais e visuais, "polemista", roteirista de história em quadrinhos, judoca, professor, publicitário, letrista, compositor. POESIA FAZIA POESIA E A MAIORIA SAÍA TAL A POESIA QUE FAZIA FAZIA POESIA E A POESIA QUE FAZIA NÃO É ESSA QUE NOS FAZ ALMA VAZIA FAZIA POESIA E A POESIA QUE FAZIA ERA OUTRA FILOSOFIA FAZIA POESIA E A POESIA QUE FAZIA TINHA TAMANHO FAMÍLIA FAZIA POESIA E FEZ ALTO EM NOSSA FOLIA FAZIA TANTA POESIA AINDA VAI TER POESIA UM DIA POESIA Na poesia Leminski foi múltiplo, diverso, polivalente. A poesia comparecia no sangue da família: o pai e a tia, Maria Leminski, escreviam poemas caprichosamente caligrafados em cadernos escolares. Desde pequeno, o poeta praticou a disciplina e a liberdade do verso. É com essa palavra que define a poesia: “a liberdade da minha linguagem”. Passou a vida estudando, aperfeiçoando-se para ser o poeta mais bem preparado de sua geração – percorreu a poesia brasileira de Anchieta aos modernistas, e conviveu com os expoentes do Concretismo, o que havia de mais contemporâneo, mundialmente, em termos de evolução poética. - Quarenta clics em Curitiba Fotos de Jack Pires. Curitiba, Ed. Etecetera, 1976, Curitiba, Secretaria de Estado Cultura, 1990. - Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase Curitiba, Zap, 1980. -Polonaises Curitiba, edição do autor, 1980. - Distraídos venceremos São Paulo, Ed.Brasiliense, 1987. -La vie en close São Paulo, Ed. Brasiliense, 1991 - Winterverno Ilustração João Virmond. Fundação Cultural de Curitiba, 1994. São Paulo, Ed. Iluminuras, 2001 - Caprichos e relaxos São Paulo, Ed.Brasiliense, 1983. São Paulo, Círculo do Livro, 1987. -O ex-estranho São Paulo, Ed. Iluminuras, 1996. -Hai Tropikais Com Alice Ruiz. Ouro Preto, Tipografia do Fundo de Ouro Preto,1985. - Toda Poesia São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 2013. MÚSICA MÚSICA Paulo Leminski iniciou seus estudos musicais aos treze anos, quando ingressou no Mosteiro de São Bento e lá aprendeu o canto gregoriano. A imersão na música popular brasileira se deu através de sua companheira, também poeta e compositora, Alice Ruiz (parceira na composição "Nóis Fumo") que chamou a atenção dele para Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Na década de 70, Leminski passa a tocar violão, de modo autodidata. Com seu irmão Pedro Leminski começou a compor canções. Leminski trocou figurinhas com nomes do cenário musical de Curitiba, como a banda Blindagem, o grupo A Chave, Paulo Vítola, Marinho Galera, Celso Loch, e a dupla Belarmino e Gabriela, que fazia genuína música de raiz. MÚSICA A ascensão nacional começou no início dos anos 1980, quando suas composições foram gravadas por Caetano Veloso, o grupo A Cor do Som e Paulinho Boca de Cantor. Outro baiano, Moraes Moreira, teria papel ainda mais decisivo, compondo com Leminski um total de doze canções, dentre as quais o sucesso “Promessas Demais”, lançado por Ney Matogrosso em 1982. O amigo Itamar Assumpção musicou diversos poemas de Leminski. Entre eles, gravou em 1985, “Vamos Nessa”, no disco Sampa Midnight e “Filho de Santa Maria”, em 1988, no disco Intercontinental. A projeção de Leminski lhe valeu um convite de Guilherme Arantes, para juntos comporem as oito canções-temas de “Pirlimpimpim 2”, musical infantil produzido pela Globo. MÚSICA O poema “Dor Elegante” foi musicado por Itamar Assumpção. A gravação de Zélia Duncan, colocou Leminski novamente em tema de telenovela da Globo. Diversos parceiros foram surgindo: Arnaldo Antunes, José Miguel Wisnik, Carlos Careqa, Edvaldo Santana, Vítor Ramil, Zeca Baleiro, Fortuna, entre outros. Em 2014 uma parte significativa da produção musical de Paulo Leminski veio a público no songbook e no CD duplo Leminskanções, interpretado por sua filha Estrela, disponível para download no site www.leminski.com.br. ALGUMAS CANÇÕES (LETRA E MÚSICA) 1981 – Verdura. Caetano Veloso. 1981 – Mudança de estação. A Cor do Som. 1981 – Valeu. Paulinho Boca de Cantor. 1982 – Razão. A Cor do Som. 1988 – Filho de Santa Maria. Itamar Assumpção. 1996 – Filho de Santa Maria, Zizi Possi. 1990 – Se houver céu. Blindagem. 1993 – Mãos ao alto. Edvaldo Santana. 2004 – Luzes. Arnaldo Antunes. 2004 – Flôr de cheiro, Quem faz amor faz barulho e Caixa furada. Marinho Gallera, 2006 – Não Mexa Comigo. Estrela Ruiz Leminski. ALGUMAS PA RCER I A S 1976 – Festa Feira. Celso Loch. 1977 – Buraco no coração. Me provoque pra ver . Carlos Gaertner Ivo Rodrigues Jr. Orlando Azevedo e Paulo Teixeira. Banda A Chave. 1982 – Promessas demais. Moraes Moreira e Zeca Barreto. 1982 – Decote Pronunciado. Moraes Moreira e Pepeu Gomes. 1982 – Baile no meu coração e Pernambuco Meu. Moraes Moreira. 1985 – Vamos Nessa. Itamar Assumpção. 1986 – Desejos Manifestos. Moraes Moreira e Zeca Barreto. 1988 – UTI. Arnaldo Antunes. 1990 – Palavras, Hoje, Marinheiro, Quanto tempo mais, Legião de anjos. Ivo Rodrigues. 1991 – Lêda. Morena Absoluta. Moraes Moreira. 1992 – Polonaise. José Miguel Wisnik. 1993 – Alles Plastik. Carlos Careqa. 1993 – Custa nada sonhar. Itamar Assumpção. 1998 – Legião de Anjos. Rapidamente. Ivo Rodrigues. 1998 – Além Alma. Arnaldo Antunes. 1998 – Dor Elegante. Itamar Assumpção. 2005 – Dor Elegante. Zélia Duncan, 2000 – Reza. Zeca Baleiro. . 2002 – Oxalá (Cesta Cheia De Sexta). Moraes Moreira. 2006 – Ímpar ou Ímpar. Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz, PROSA Catatau Curitiba, edição do autor, 1975. Porto Alegre, Ed. Sulina, 1989. Curitiba, Ed. Travessa dos Editores, 2004. São Paulo, Ed. Iluminuras, 2010. Agora é que são elas São Paulo, Ed. Brasiliense, 1984. Curitiba, Ed. Brasiliense/Fundação Cultural de Curitiba, 1999. São Paulo, Ed. Iluminuras, 2011. Descartes com lentes Curitiba, Col. Buquinista, Fundação Cultural de Curitiba, 1993. Metaformose, uma viagem pelo imaginário grego São Paulo, Ed.Iluminuras, 1994. (Prêmio Jabuti de Poesia, 1995) Gozo Fabuloso São Paulo, Ed. DBA, 2004 PROSA DESCARTES COM LENTES A ideia para a obra, segundo o próprio autor, surgiu enquanto ele dava uma aula de história. Falando sobre a invasão holandesa no século XVII, Leminski imaginou que o filósofo Renê Descartes poderia ter vindo ao Brasil. Parou a aula e anotou a ideia. A seguir, escreveu o conto “Descartes com Lentes”, que funcionou como embrião para o Catatau. O conto foi inscrito num concurso nacional em 1968, mas não foi premiado, por um erro da comissão julgadora. PROSA DESCARTES COM LENTES “Uma cabeçada no pé, uma mamada na palma da mão, uma cotovelada virando o coxo do cachorro magro, uma olhada atravessada, uma pedagógica no meio do pontapeito, amanhã, ao cantar o galo, sem saber de que lado, venham! Me arrependiam os cabelos, perde o pêlo no medo onde se pela, interpelanca: lã costeando, lá se dói tosqueado!” PROSA CATATAU Leminski passou a acrescentar mais e mais ao texto, e após oito anos completou o Catatau, um livro de duzentas páginas num só bloco de texto, sem parágrafos, mas com abundante pontuação – esta primeira edição foi publicada em Curitiba, em 1975. Definido pelo autor como “um romanceideia”, é uma obra de ficção, mas não tem propriamente uma trama linear ou diálogos convencionais. PROSA CATATAU “Na arte, detalhe é tudo, todo cuidado é pouco em se tratando dos mínimos detalhes que lhe derem na telha. Veja um mestre, por exemplo; como se move, como se levanta, como sabe fazer bem as coisas que todo mundo sabe. Mas há mestres e mestres. Nem todo mestre é próspero. Alguns cultivam artes sutilíssimas. Esses, às vezes, não têm apóstolos. São os últimos pioneiros. Livro não adianta. O dedo do mestre é sempre mais que o centro aonde aponta, ou não então?” PROSA AGORA É QUE SÃO ELAS O romance Agora é que são elas, segundo sua primeira editora, Brasiliense: “Ficção, re-ficção, uma historia que desvenda o processo de todas as histórias, Agora é que são Elas, uma novela com começo, meio e fim (não necessariamente nessa ordem, é claro). Um romance pra tocar no rádio” PROSA AGORA É QUE SÃO ELAS “Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está afim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta,a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo do 14-bis, cheguei e não perdoei: –Tem fogo?” PROSA MATAFORMOSE Metaformose, escrito em 1986 e publicado postumamente em 1994, se divide em duas partes: a primeira, em prosa extremamente poética, reconta os principais mitos gregos a partir da personagem de Narciso. A segunda parte é um texto de prosa crítica, subdividido em cinco partes, explicando os mitos e a mitologia. Na definição de Leminski: “o mito é uma leitura absoluta das essências”. A palavra é uma metamorfose da própria palavra metamorfose, que fica assim mais formosa: METAFORMOSE. PROSA MATAFORMOSE “Toda fonte é uma moça bonita que foi amada por um deus, que disse não a um rio, que fugiu de um sátiro, nada é real, nada é apenas isso, tudo é transformação, tudo vibra de significar. Heródoto buscou, entre as miríades de povos, uma fábula que, como o ímã, fosse o centro e a raiz de todas. Mas as fábulas não têm centro....” PROSA GOZO FABULOSO O livro de contos Gozo Fabuloso, publicação póstuma, Joca Reiners Terron escreve: “Nos contos e crônicas de Gozo Fabuloso há aquela mesma brilhante erudição dos romances anteriores, porém neles nada soa pretensioso ou chato, e mesmo os andaimes que Leminski deixa à mostra em alguns textos mais metalinguísticos, sempre trabalham em prol do humor e da diversão por ele prometidos a você, leitor.” PROSA GOZO FABULOSO “Óbvio o título desta legião de enredos. Gozo fabuloso só pode ser o delírio combinatório de extrair do restrito infinito dos entrechos possíveis uma história sem par, delícia só comparável à de cantar uma canção bonita. Fábulas, canções, que seria de nós sem essas misteriosas entidades? Textos que se proclamam contos e não contam nada, abo-miná-los. Quem canta, tem que cantar. Quem conta, tem que contar. Fantasia fabular, isso parece ser fundamental. Vanguardas e outras subversões à parte, nunca vai faltar amor para uma canção bonita, aquela história redonda, o retra-to da pessoa amada.” PROFISSÕES BIÓGRAFO, TRADUTOR, ENSAÍSTA, JORNALISTA e PUBLICITÁRIO a máquina engole página cospe poema engole página cospe propaganda MAIÚSCULAS minúsculas a máquina engole carbono cospe cópia cospe cópia engole poeta cospe prosa MINÚSCULAS maiúsculas PROFISSÕES BIÓGRAFO Cruz e Souza: o negro branco, Matsuó Bashô: a lágrima do peixe, Jesus a.C. e Trótski: a paixão segundo a revolução. Cumprindo um plano de Leminski, as quatro biografias foram reunidas, postumamente, numa edição intitulada VIDA. PROFISSÕES TRADUTOR Na sua obra original como poeta, além do português brasileiro, aparecem mais pelo menos cinco línguas: há poemas integralmente em inglês (sete), em latim (dois), em francês (dois) e em espanhol (um), além de outros misturando línguas – parcialmente em inglês, latim, francês, espanhol, italiano, alemão, japonês. Leminski verteu ao português 124 textos, a partir de 14 línguas e 56 autores diferentes (contando com alguns textos de autoria desconhecida ou atribuída – e textos sagrados). PROFISSÕES HQ’S ROTEIRISTA A produção de Leminski como roteirista de quadrinhos, junto com suas incursões no graffiti, ajuda a compor a personalidade do curitibano como um sujeito extremamente curioso e interessado em tudo que diz respeito ao ser humano como um ser dotado de linguagem. Leminski também deixou um argumento para peça de teatro, um roteiro para documentário sobre o Museu David Carneiro, e até mesmo um argumento para uma telenovela. Coisas de quem foi simultaneamente múltiplo e único. PROFISSÕES ENSAÍSTA, JORNALISTA E PUBLICITÁRIO Leminski também foi publicitário, professor e jornalista. Parte de suas publicações na imprensa foi reunida no livro Ensaios e Anseios Crípticos, livro onde seu pensamento livre do compromisso da ficção, mas não com menos brilho, se expressa sobre os mais variados temas. ORIENTAL lua crescente o escuro cresce a estrela sente acabou a farra formigas mascam restos da cigarra tarde de vento até as árvores querem vir para dentro ORIENTAL Haicai é o nosso tempo, baby. Um tempo compacto, um tempo “clip”, um tempo “bip”, um tempo “chips”. Essas brevidades lembram aquelas árvores japonesas, as árvores “bonsai”, carvalhos criados dentro de vasos minúsculos, signos e seres vivos, produtos da arte e da paciência. ORIENTAL O haicai valoriza o fragmentário e o insignificante, o aparentemente banal e o casual, sempre tentando extrair o máximo de significado do mínimo de material, em ultrassegundos de hiperinformação. LITERATURA INFANTO-JUVENIL Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança: estar sempre alegre, nunca ficar inativo e chorar com força por tudo o que se quer. LITERATURA INFANTO-JUVENIL A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado, a história de uma estrela que não tinha namorado. Não tinha porque era apenas uma estrela bem pequena, dessas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena! Era uma estrela sozinha, ninguém olhava para ela, e toda a luz que ela tinha cabia numa janela. A lua ficou tão triste com aquela história de amor, que até hoje a lua insiste: – Amanheça, por favor! LITERATURA INFANTO-JUVENIL "Guerra dentro da gente“ é um livro conta a história de Baita, um garoto que sai de casa e passa por várias aventuras . Ele é um menino pobre, filho de lenhadores. Um dia ele encontra um velho, que se oferece para ensinar-lhe a arte da guerra. Entusiasmado e sem saber o que o aguarda, o menino resolve acompanhá-lo em uma viagem, que o ajudará a compreender melhor a vida e descobrir o que há no coração do homem. LITERATURA INFANTO-JUVENIL LIVROS: Guerra dentro da gente São Paulo, Ed. Scipione, 1986. A lua no cinema Ilustração Alonso Alvarez. São Paulo, Ed. Pau Brasil, 1989. O bicho alfabeto Ilustração Ziraldo. São Paulo, Ed. Companhia das Letrinhas, 2014. MÚSICA: “Pirlimpimpim 2”, com Guilherme Arantes, 1984 Músicas “Milongueira da Serra Pelada”, “O Prazer do Poder”, “Circo Pirado”, “Xixi nas estrelas”, “Cadê Vocês?”, “Coração de Vidro. Frevo Palhaço” e “Viva a Vitamina”. quando eu tiver setenta anos então vai acabar esta adolescência vou largar da vida louca e terminar minha livre docência vou fazer o que meu pai quer começar a vida com passo perfeito vou fazer o que minha mãe deseja aproveitar as oportunidades de virar um pilar da sociedade e terminar meu curso de direito então ver tudo em sã consciência quando acabar esta adolescência. Paulo Leminski