MODERNISMO EM PORTUGAL Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa Material de Literatura Prof. HIDER OLIVEIRA MÁRIO DE SÁ CARNEIRO • Por mais que fosse modernista, graças à temática, à linguagem e à visão de mundo, há, em sua poesia, um caráter romântico; • Isso se dá por meio do individualismo e da transparência com que trata sua problemática pessoal; • Entre suas temáticas, estão a confusão que lhe ia pelo íntimo, a falta de horizontes e a descida inexorável para o derradeiro e solitário encontro consigo mesmo; • É possível que o processo que o tenha levado ao suicídio ainda jovem tenha começado a partir desse encontro. A QUEDA (Mário de Sá Carneiro) E eu que sou o rei de toda esta incoerência, Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la E giro até partir... Mas tudo me resvala Em bruma e sonolência. Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro, Volve-se logo falso... ao longe o arremesso... Eu morro de desdém em frente dum tesouro, Morro á mingua, de excesso. Alteio-me na côr à fôrça de quebranto, Estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!... Peneiro-me na sombra - em nada me condenso... Agonias de luz eu vibro ainda entanto. Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, - Vencer ás vezes é o mesmo que tombar E como inda sou luz, num grande retrocesso, Em raivas ideais, ascendo até ao fim: Olho do alto o gêlo, ao gêlo me arremesso... ............... Tombei... E fico só esmagado sobre mim!... FERNANDO PESSOA Escreveu como si mesmo e ainda criou outros três heterônimos: • RICARDO REIS • ALBERTO CAEIRO • ÁLVARO DE CAMPOS RICARDO REIS FERNANDO PESSOA ALBERTO CAEIRO ÁLVARO DE CAMPOS FERNANDO PESSOA (ortônimo) • Sua poesia era sentimental e intimista, mas intelectualizada; • Temática variada, por meio da qual interroga o sentido da existência; • Saudosismo, às vezes misturado com um sentimento de perda; • Cultua a pátria, mas com racionalidade e senso crítico; • Expressa a solidão e tematiza a própria poesia; • Em qualquer um dos temas, é constante o tom de tristeza e desconsolo; • Opta por uma poesia metrificada, com presença de redondilhas (5 ou 7 sílabas poéticas) ou outras métricas curtas; • Seus poemas têm uma musicalidade suave. O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. AUTOPSICOGRAFIA (Fernando Pessoa) 1º heterônimo: RICARDO REIS • Atitude vagamente moralista e didática; • Gosto pelo paganismo (mitologia); • Erudição do vocabulário (tendendo ao latim); • Admiração pelos clássicos (especialmente Horácio); • Preocupação com a métrica; • Carpe diem epicurista (mansidão da alma, quietude do corpo, mansidão da alma, autodomínio); • Sua musa inspiradora atende pelo nome de LÍDIA. Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros LÍDIA (Ricardo Reis) Onde que quer que estejamos. Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros Onde quer que moremos, Tudo é alheio Nem fala língua nossa. Façamos de nós mesmos o retiro Onde esconder-nos, tímidos do insulto Do tumulto do mundo. Que quer o amor mais que não ser dos outros? Como um segredo dito nos mistérios, Seja sacro por nosso. 2º heterônimo: ALBERTO CAEIRO • Criado em contato com o campo; • A natureza ocupa grande espaço na sua poesia; • O campo é usada para modelar uma vida digna e sóbria; • Recusa-se a pensar e a filosofar, pois acha que saber viver é apenas ver e sentir e o mais é complicado e inútil; • Prega a simplicidade natural e material da vida, pois crê que a interferência de Deus e da alma complicam em demasia a existência pela necessidade de serem explicados; • Não apresenta inquietação intelectual; • Chega a ser primário e ingênuo nas ideias. Eu nunca guardei rebanhos, O GUARDADOR DE REBANHO Mas é como se os guardasse. (Alberto Caeiro) Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. 3º heterônimo: ÁLVARO DE CAMPOS • Obra complexa pela oscilação de sentimentos e visão de mundo; • Às vezes, faz apologia do progresso e da máquina (atitudes futuristas); • Por vezes, questiona a própria máquina por vê-la como veículo de massificação do cotidiano; • Chega a ser agressivo na sua volúpia de se soltar das amarras sociais; • É a manifestação mais moderna de Fernando Pessoa; • Isso se dá não só pelo por ser um típico cidadão de uma sociedade tão complexa, mas também pela irreverência da linguagem e pelas ideias metrificação. OPIÁRIO (Álvaro de Campos) É antes do ópio que a minh'alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola E eu vou buscar ao ópio que consola Um Oriente ao oriente do Oriente. Esta vida de bordo há-de matar-me. São dias só de febre na cabeça E, por mais que procure até que adoeça, já não encontro a mola pra adaptar-me. Em paradoxo e incompetência astral Eu vivo a vincos de ouro a minha vida, Onda onde o pundonor é uma descida E os próprios gozos gânglios do meu mal [... ]