3. / 4. / 5. [Comparação ente Heterónimos] - Página 1 de 1 Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos Comparação entre Alberto Caeiro e Ricardo Reis: A nível de conteúdo estes dois heterónimos aproximam-se principalmente pelo modo como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, além de considerarem que a felicidade só se alcança através de uma vida serena e em comunhão com a natureza, defendem a vivência plena do presente, sem preocupação nem com o passado nem com o futuro (carpe diem, desfrutar de cada momento). No entanto, pode verificar-se que são grandes as diferenças entre eles. Enquanto que Ricardo Reis é caracterizado pela intelectualização das emoções e pelo medo perante a morte, Alberto Caeiro é exactamente o poeta das sensações, considerando o pensamento como um entrave à observação da natureza, e é o poeta que não se preocupa com a passagem do tempo. Outra grande diferença é que Alberto Caeiro acredita (num só) Deus enquanto elemento da natureza (tudo é divino), ao passo que Ricardo Reis crê em vários deuses pois identifica-se com a civilização grega. A nível formal estes dois heterónimos são o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua linguagem simples e familiar, a sua despreocupação a nível fónico, a sua irregularidade estrófica, métrica e rítmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro, temos Ricardo Reis com toda a sua complexidade – estrofes e métrica regulares, predomínio da subordinação e linguagem erudita, cheia de simbolismos clássicos. Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos: Não é de estranhar que estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez que um é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, têm alguns factores em comum, considerando a 2ªfase de Álvaro de Campos: ambos são poetas solitários, rejeitam a subjectividade da lírica tradicional, tentando ser objectivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores divergências, a nível temático, verificam-se na concepção do tempo (para Caeiro só existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no objecto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase, exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto que Caeiro é feliz, Campos – na 3ªfase – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom). A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica e rítmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo (que tornam a compreensão da mensagem mais difícil) e, por isso mesmo, por uma exuberância que choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre Caeiro. Comparação entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis: Álvaro de Campos foi um poeta que, pelo seu estilo eufórico e, mais tarde, disfórico, se afastou dos outros heterónimos, já que estes procuravam a serenidade, que Campos também procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, são poucas as semelhanças entre Ricardo Reis e Campos: tanto Campos (na 3ªfase) como Reis se angustiam perante a efemeridade da vida, consideram a infância como momento de maior felicidade e aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste último ponto, os motivos para essa aceitação são diferentes: enquanto que Reis o aceita pois considera que essa é a melhor forma de ser feliz, Campos fá-lo numa atitude de resignação perante a vida, não deixando de se sentir infeliz por aquilo que ela lhe reservou. Aquilo que mais os distancia é a sua relação com a realidade – Campos vive em eterno conflito com a humanidade e Reis “dá-lhe conselhos” (através da 1ªpessoa do plural no imperativo) – e a solidão que caracteriza Campos na 3ªfase. A nível formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja regular a nível estrófico e métrico. Pode verificar-se que Álvaro de Campos, na 2ªfase, utiliza a ode como forma de expressão, tal como Ricardo Reis. Nestes dos heterónimos pode encontrar-se grande riqueza a nível estilístico, nomeadamente no que respeita `assonância e aliteração, e uma utilização frequente do modo imperativo. No entanto, enquanto que Ricardo Reis submete a expressão ao conteúdo, Campos valoriza mais a expressividade dos seus poemas, sendo que esta acaba por se sobrepor ao seu conteúdo – ou acabar por resumir o último. Características comuns aos três: encontram-se, nos heterónimos, dois factores comuns a todos eles. Primeiro, a descoberta de um equilíbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se através da natureza; Reis encontra-se através do equilíbrio entre a dor e o prazer; e Campos não se encontra. Em segundo lugar, verifica-se que todos associam à infância o momento em que foram verdadeiramente felizes – porque ingénuos e inocentes. No entanto, enquanto que Reis e Caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criança, Campos considera essa felicidade perdida, pois só é feliz se for inconsciente, o que só aconteceu na sua infância, na pré consciência.