Fernando Pessoa em seus heterônimos ( biografia e características)
ALBERTO CAEIRO
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa, a 16 de abril de 1889, e morreu em 1915, na mesma cidade,
tuberculoso. Órfão de pai e mãe, viveu com uma tia, no campo. Só teve instrução primária e, por isso mesmo,
escrevia mal o português.
Esses traços biográficos ajustam-se perfeitamente à sua poesia e principalmente, à sua visão de mundo. Poeta
que esta em contato direto com a Natureza, sua lógica é a mesma da ordem natural:
“ E ao lerem meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural.”
Para Caeiro as coisas são como são(...)Por isso mesmo, seu mundo é o mundo real – sensível ( ou real
objetivo), é tudo aquilo que existe e percebemos através dos sentidos. Daí vem uma das principais
características de Caeiro: ele “pensa” com os sentidos. Mas engana-se aquele que vê nessa postura de Caeiro
ausência de reflexão; pelo contrário, é apenas outra forma de pensar.
RICARDO REIS
Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, a 19 de setembro de 1887. Estudou em colégio de jesuítas, formandose em Medicina; politicamente, defendia a Monarquia; por não concordar com a República, auto-exilou-se no
Brasil. Era estudioso da cultura clássica ( o que equivale a dizer: de latim, grego, mitologia etc.).
Esses traços biográficos explicam perfeitamente as inquietações que marcam a sua poesia, resultando em um
escritor de inspiração neoclássica, horaciano na constante preocupação de “ gozar o momento” ( o que nos
remete ao carpe diem horaciano do século XVIII), já que a vida se resume a esses breves momentos:
“ Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.”
A poesia de Ricardo Reis é marcada por um paganismo preocupado em mostrar que:
“ Não matou outros deuses
O triste deus cristão.
Cristo é um deus a mais,
Talvez o que faltava.”
ALVARO DE CAMPOS
Álvaro de Campos nasceu em Tavira ( extremo sul de Portugal), a 15 de outubro de 1890. Engenheiro naval
formado na Escócia, vive em inatividade. ( não confundir com desempregado, aquele que quer trabalhar mas
não encontra emprego, inativo não trabalha por outras razões. Álvaro de Campos, no caso, jamais se sujeitaria a
ficar confinado num escritório, debruçado sobre uma prancheta, manipulando régua de cálculo, batendo ponto,
etc)
Campos é um poeta futurista, um homem do século XX, das fábricas, da energia elétrica, das máquinas, da
velocidade; é um inadaptado, vive à margem de qualquer conduta social. Daí ser o poeta do não ,
“histericamente histérico” no dizer de Fernando Pessoa, que ainda acrescenta: “ pus em Álvaro de Campos toda
a emoção”. Mas engana-se quem pensar que Campos é só emoção, sistema nervoso, febre; ele é
principalmente lucidez.
Transcreve-se, a seguir, um fragmento de poema no qual Álvaro de Campos fala de si mesmo:
“Coitado do Álvaro de Campos , com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa humana: sou lúcido.
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.”
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